Mustafá Ali Kanso (André Carneiro: O Da Vinci Brasileiro)

Não existem muitos artistas como ele. Com 86 anos de idade André Carneiro parece ter a energia de uma criança de dois anos. Depois de Leonardo Da Vinci´, André é o artista mais prolífico do qual você já teve notícia. Espere aí, Da Vinci fez cinema?

André foi escritor da primeira geração de ficção científica do Brasil. Ele criou a primeira publicação da América do Sul de ficção científica chamada de Introdução ao Estudo da Science Fiction.

A prosa e a abordagem literária de André Carneiro apelam simultaneamente aos sentidos e ao intelecto, nas 27 narrativas deste livro. São contos e novelas que vão da ficção científica ao horror e ao suspense literário, todos narrando a intrusão do inusitado no cotidiano.

A prosa e a abordagem literária de André Carneiro apelam simultaneamente aos sentidos e ao intelecto, nas 27 narrativas deste livro. São contos e novelas que vão da ficção científica ao horror e ao suspense literário, todos narrando a intrusão do inusitado no cotidiano.

É considerado um dos precursores do modernismo na fotografia, destacando-se entre outras obras sua célebre foto “Trilhos” tirada em São Paulo na década de 40 caracterizando, pela robustez da abordagem, a independência do motivo. Sendo uma obra quase abstrata pontua a fotografia como suporte da arte em si mesma.

A foto foi exposta em diversas bienais e o direto de reprodução tem sido vendido por um Merchant no Brasil e nos EUA por U$ 500,00, passando a compor em 2007 o acervo fotográfico da renomada Tate Gallery, em Londres.

André foi escultor, hipnólogo, pintor, fotógrafo, cineasta, diretor de propaganda, comerciante, etc. Nem ele lembra todas as suas profissões. Foi o criador da pintura dinâmica e um dos primeiros fotógrafos artísticos do modernismo brasileiro.

André tem 17 livros publicados versados nos gêneros poesia, conto e romance, além de dois livros técnicos sobre hipnose. Embora seja mais conhecido no Brasil como escritor de ficção científica, André considera a poesia a sua principal atividade literária.

Um de seus contos mais famosos, “Darkness”, a “A escuridão”, publicado em 12 países diferentes, e atualmente está sendo adaptado para o cinema na Espanha.

    “‘Darkness’ não só é um dos maiores trabalhos escritos na ficção científica, mas também da literatura mundial. Não é apenas ficção científica de ação superficial, mas literatura no seu melhor sentido. André Carneiro merece a mesma audiência de um Kafka ou Albert Camus.” A.E. Van Vogt (EUA)

Como romancista, sua arte centra-se em um enfoque psicossocial, em que a crítica à estrutura vigente mostra-se sempre aguda e sutil.

Em 1949 André decidiu publicar um jornal literário na cidade de Atibaia-SP, sua terra natal. Seu pequeno jornal literário teve a apresentação de nada menos que Oswald de Andrade e, por este motivo começou em grande estilo.

Sabe a ingenuidade do jogador que não sabe jogar poker e ganha?”, ele disse. “Como eu não conhecia, naquela época, a complexidade de se fazer um jornal literário no Brasil, eu fiz um e fui entrevistando todo mundo e, de repente, eu tinha colaboradores como o Graciliano Ramos e Vinícius de Moraes. O primeiro time escrevia no meu jornal!

Ele conta que em 2006 o seu jornal foi reeditado em fac-símile numa ação conjunta da prefeitura de Atibaia e do Arquivo Público do Estado de São Paulo, compondo o livro “A Geração 45 através do jornal Tentativa”, contendo as principais edições impressas na época.

Existem muitos estudos e teses sobre a sua obra destacando-se a dissertação de mestrado do especialista em literatura Ramiro Giroldo, sobre o romance Amorquia (A ditadura do prazer – Ficção científica e literatura utópica em Amorquia, de André Carneiro – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Brasil), e a dissertação de mestrado de Oswaldo Duarte sobre sua obra poética (O Estilo de André Carneiro: sua expressão, temas recorrentes e aproximações com a geração de 45 – Unesp – Universidade Estadual Paulista – Assis).

André possui vários contos publicados em livros do pelo mundo todo junto com autores como Arthur C. Clarke, H. G. Wells, Isaac Asimov.

Você poderá encontrar nas livrarias seu livro de contos “Confições do Inexplicável (Editora Devir, 2007) e duas antologias “Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Editora Devir, 2007) e “Histórias de Ficção Científica” (Editora Ática, 2005).

Sobre sua vocação como escritor, André disse:

    “Eu comecei a escrever com 17 ou 18 anos porque eu tinha uma paixão ligada à importância do escritor, algo ligado à vaidade. Eu lembro que achava que ser escritor seria uma coisa extraordinária. Naturalmente que eu era um leitor e desde muito menino eu li bastante. Eu comecei a escrever em um jornal de Atibaia que critiquei falando que o jornal estava sem graça e que eu podia fazer melhor. Alguém da equipe do jornal disse ‘Faz, faz então, por favor’. Eu fiz umas piadinhas melhor do que aquelas lá, porque aquelas estavam muito ruins. Então o dono de outro jornal de uma cidade próxima, que dava notícias de Atibaia, pediu um artigo para mim e eu disse ‘Eu tenho um artigo’. Eu tinha três ou quatro artigos escritos a troco de nada e dei um para ele. Eu comentei isso com o editor de outro jornal e ele reclamou ‘Pô, você deu para o jornal de Bragança, porque não deu para mim?’. eu disse ‘Não é por isso, eu tenho outro aqui’, e dei para ele uma cópia. Saí com dois artigos no mesmo dia em dois jornais diferentes.

    “Isso seguiu na minha vida. Eu nunca busquei editor, os editores sempre me buscaram. Por coincidência, eu não considero que foi porque eu seja muito importante.

Atualmente André está com um novo livro de contos pronto, esperando, como de costume, que uma editora bata na sua porta.

Ele conta que recentemente um editor insistiu que ele escrevesse um romance, e ele respondeu:

    “Ah! Romance não. Eu tenho contos. E ele os levou para a editora e logo aprovaram o livro.

    De último momento eu escrevei mais um conto que gostei muito e chama-se ‘O Mapa da Estrada’. [O problema é que] na última hora o editor que estava lá saiu da editora e outro camarada ficou lá tomando conta da edição mas mesmo assim eu mandei mais esse outro conto de 40 páginas. É uma loucura! Um livro de contos de 600 páginas, mas o dono da editora gostou e publicou.”

O próprio André ilustrou os originais com colagens. Todas foram publicadas no livro que é o maior livro de contos já publicado no Brasil.

    “Eu fiz muitas capas de livros de outros autores. Depois que saiu a notícia de que eu era um dos pioneiros do modernismo na fotografia, um editor me escreveu encomendando várias capas abstratas, eu peguei aquele quadro ali e tchín, tchín, tchín. Em 10 minutos tirei 20 fotografias, mandei e ele publicou meia dúzia de livros com essas capas.”
O quadro ao qual o André se refere é uma pintura dinâmica no qual camadas de vários líquidos imiscíveis de diferentes cores se sobrepõem dentro de lâminas de vidro. O resultado é uma obra que permite a interação do público e que se transforma a cada segundo.

Dentro do apartamento do André qualquer um se sente na casa do Professor Pardal. Para todo o lado que você olha tem uma peça de arte que é um misto de tecnologia steampunk com todo o tipo de esculturas feitas com sucata mecânico-eletrônicas formando máquinas extremamente malucas, algumas até com aparência sinistra, que têm a simples função de deleitar os viciados em tecnologia.
 

Em Amorquia, um de seus mais inquientantes romances, é questionado o papel dos sexos na sociedade humana. Uma sociedade onde o amor exclusivo é uma doença. O tempo não existe e a maternidade é um detalhe irrelevante. O sexo é ensinado praticamente nas escolas. A fidelidade é o primeiro indício de insanidade.

André foi diretor de propaganda da Cacique Alimentos e muitas personalidades de destaque, como Emerson Fitipaldi e Pelé, só para citar alguns exemplos, estrelaram em suas peças publicitárias. Ele também contribui, nessa época, na criação e divulgação de famosa marca “Café Pelé”.

Em 1969, quando foi presidente do maior Simpósio Internacional de Ficção Científica, chegou a assistir o filme ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’ ao lado do próprio Arthur C. Clarke, no Rio de Janeiro e também, no mesmo simpósio, assistiu um outro cult do gênero – o filme Metrópolis – ao lado de Fritz Lang.

Mas seu trabalho nunca se limitou à sua produção artística. Vários escritores muito respeitados foram gestados em suas oficinas de literatura em São Paulo. Hoje ele realiza essas oficinas em Curitiba, onde reside atualmente. 

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