Arquivo do mês: janeiro 2010

Constelação de Trovas

Constelação de Trovas

É primavera, querida!
Deixemos para depois
as nossas rusgas da vida…
que a vida somos nós dois…
(Alfredo Brasílio de Araújo – Baependi/MG)

Não sei de outro documento
que contenha, em seu teor,
mais vida e mais sentimento
do que uma carta de amor!
(A. A. de Assis – Maringá/PR)

Num enterro de segunda,
houve tanta confusão
que um pedaço da Raimunda
foi por fora do caixão!
(Antonio Carlos Teixeira Pinto – DF)

É verdade, neste inverno,
vou dar tudo a quem não tem,
porque sei que para o inferno
nunca vai quem faz o bem.
(Cecim Calixto – Tomazina/PR)

“Não há bem que sempre dure,
nem mal que nunca se acabe…”
– Por mais que um ser nos perfure,
que nossa alma não desabe!
(Cidinha Frigeri – Londrina/PR)

Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto…
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
(Cyro Armando Catta Preta – Orlândia/SP)

Toda união é perfeita
se, congregando emoções,
além das mãos que ela estreita,
unir também corações…
(Ercy Maria Marques de Faria – Bauru/SP)

Vendo a perua chegar,
pergunta logo a vizinha:
– Querida, que vai tomar?
– Seu marido, queridinha…
(Istela Marina Gotelipe Lima (Bandeirantes/PR)

Toda vez que a sogra inventa
de minha bóia filar,
eu capricho na pimenta
pra ver a velha chorar.
(João Costa – Saquarema/RJ)

O piolho, por capricho,
por incrível que pareça,
não há no jogo do bicho,
mas sempre dá na cabeça.
(José Antônio de Freitas – Pitangui/MG)

Coração desconsolado,
não podeis esmorecer,
se viver é complicado,
muito mais é não viver.
(Luiz Antonio Cardoso – Tremembé/SP)

Entre os véus da noite, imerso,
insone, em meu travesseiro,
escrevo apenas um verso
e a saudade…um livro inteiro!
(Maria Lucia Daloce Castanho – Bandeirantes/PR)

Quando a foto iam bater,
meu patrício se escondia,
pois…queria aparecer…
…”de surpresa” … pra Maria!!!
(Maria Madalena Ferreira – Magé/RJ)

No momento em que partiste
pranteei minha viuvez…
Foi o trajeto mais triste
que uma lágrima já fez!…
(Maria Nascimento Santos Carvalho – Rio de Janeiro/RJ)

Diz o cinquentão vaidoso:
“Eu sou madeira de lei!”
E a mulher, em tom jocoso:
“Então deu cupim…que eu sei!”
(Martha Maria O. Paes de Barros – São Paulo/SP)

Na trova e no Trovador,
é que se encontram, suponho,
Criatura e Criador
unidos no mesmo sonho!
(Nádia Huguenin – Nova Friburgo/RJ)

Ao chegar em Portugal,
depois da grande conquista,
vendo a sogra em seu quintal,
diz Cabral: “Encrenca à vista!”
(Renata Paccola – São Paulo/SP)
____________________

Fontes:
Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores
2007 – setembro; outubro
2008 – maio; julho
2009 – maio, junho; julho; agosto; novembro
2010 – janeiro

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Paulo Nunes Batista (Goiás Poético)

LIÇÃO DA PEDRA

Não basta olhar a pedra.
O importante é saber
que ela também nos vê
com seus mil e um olhinhos de pedra.
Já pensaste em sentir a alma de cada pedra?
Já buscaste saber – antes de usá-la –
se ela quer ser só pedra de alicerce
ou se prefere ser estátua?
João Cabral nos falou sobre a Educação pela pedra.
É que a pedra tem vida e sabe muitas coisas
quer da Esfinge, das Pirâmides do Egito,
das ruínas de Machu Picchu, de Stonehenge,
dos Himalaias com seu Pico do Everest,
das estátuas da Ilha da Páscoa e da Muralha da China
e dos tempos que vêm desd a Idade da Pedra
e antes, do muito antes, quando neste planeta
só ela – a pedra – águas e areias havia…
Não. Não basta ver a pedra.
É preciso aprender cada Lição da Pedra.

MINHA FILHA

Em memória de minha querida
neta Euliana

Darei a minha filha
o nome de Poesia
É incrível, mas não conheço
ninguém com esse nome
Um nome tão humano
tão cheio de sonho e sugestões.
E minha filha será
bela como a Verdade
e equânime como a Justiça.
Outro nome que nunca
vi aplicado a ninguém.

Ensinarei a minha filha
a deitar-se com o Amor
e a erguer-se com a Harmonia.
E lhe darei as ferramentas
para lapidar seus desejos
os brutos diamantes do instinto
para que brilhantes sejam
entre as mais límpidas estrelas.

Seus seios verterão flores
e sua boca música
e ela perfumará com seus dedos
o que quer que alcancebr> com seu manso toque mágico.
Dos olhos de minha filha nascerão auroras
A Noite dormirá em seu sexo
e anjos bailarão ao ritmo de seus passos.

Seus beijos serão vôos místicos
beija-florindo as manhãs
abrindo asas na tarde
antes que o sol se despeça.
Farei de minha filha o meu melhor poema.
E quando eu me mudar de mim
nas inexoráveis ondas do tempo
ainda ficarei por muito espaço
dançando nas esquinas da vida
porque minha filha se chamará
POESIA.

CANTO DOS CRISTOS DA TERRA
OU
COMO NASCE UM CANGACEIRO

A Maria do Socorro C. Xavier

Cristos da terra, nascidos
na Manjedoura do NÃO:
não têm terra nem saúde,
justiça nem instrução.
Só conhecem 3 reis magos
– que sempre lhes causam estragos – :
Polícia, Imposto e Patrão.

São filhos de Zé Ninguém
e de Maria Qualquer…
Naturais de algum ‘Belém’
que não se sabe onde é
e onde, entre espinhos e grota,
‘o Judas perdeu as botas’
jogando mais Lucifer…

Frutos do chão duro e seco
como um rio que já foi…
Vidas de pedras agudas…
Terras de ‘Deus me perdoe!’…
Essa terra, aquela vida
têm a tristeza doída
de uma caveira de boi…

Irriga as maçãs do rosto
com o chuvisco da Esperança:
luta e sofre! Sofre e espera
na Fome que a dor amansa…
Num prato – pesa a Pobreza;
no outro – o peso é da Tristeza
que sua vida balança…

Pega um fiapo de Sonho
e tece a própria mortalha.
Toca o carro… mas, encalha
nas Pedras da Solidão…
seu canto traz a Amargura
dos lamentos de um Aboio…
da cicatriz de um arroio
na Face da Sequidão!

Planta um Pé de Sacrifício
– nasce uma Flor de Saúva!
Estende a Mão para a Chuva
– e alcança o Olho do Sol…
Só lhe dão, como presente:
Pobreza… falta de escola…
Leva mais chute que bola
em campo de futebol…

Mora num rancho de palha,
dorme num jirau de vara.deixa, um dia, o ‘seu’ Sertão…
Seu, uma vírgula, que, dele,
não possui nem mesmo os Braços
que são, apenas, pedaços
das posses de algum Patrão…

O Patrão manda no velho,
manda na velha, na filha.
E na quadra. E na quadrilha…
na quadrinha… no quadrão…
Entonce, o Cristo da Enxada,
cansado do mandonismo,
muda o nome de batismo
pra Silvino ou Lampião…

Cristo da terra, pregado
na cruz de um cabo de Enxada,
sua alma está calejada
pelos séculos de Dor…
Traz dois olhos bem abertos
– mas anda cego de tudo:
cego, cabisbaixo e mudo
pelas terras do Senhor!

Belo dia, um desses cristos
humilhados, oprimidos,
forma no rol dos Bandidos
contra a Opressão Social…
E – é Jesuíno Brilhante,
Corisco, Antônio Silvino
ou o ‘Capitão Virgulino’
– ‘Justiça’ escrita a Punhal!

É – Liberato, Jurema,
Moita Braba, Pitombeira,
Zé Sereno, Mão Foveira
ou ‘Quelé do Pajeú’…
É – abareda – vingando
a honra da irmã sertaneja
que ficou nos ‘Ora, veja’
de um ‘cabo’ de instinto cru…

Vai acender as fogueiras
da rebeldia matuta
– contra a força absoluta
dos senhores ‘coronéis’.
É – mais um, que troca a Enxada
pela ‘lei’ de um pau-de-fogo,
onde a Morte ganha o Jogo
cheio de lances cruéis!

Seu ‘coroné’ manda-chuva
manda na vida e na morte,
no Sul, no Centro, no Norte,
no litoral, no Sertão…
Manda – porque tem dinheiro,
tem nome, poder e terra:
promove a Injustiça e a Guerra
e até ‘Deus’ lhe dá razão!…

Almas de lama e de aço
vivem no chão Nordestino
tentando o nó do destino
de algum modo desatar. . .
Muitos escravos da gleba,
num passado ainda recente,
tinham dois rumos, somente:
um – morrer. . . o outro – matar. . .

Com Corisco terminou
o tempo dos cangaceiros.
Mas agora os pistoleiros
fazem o que manda o patrão.
Quantas vidas são ceifadas
na base da morte paga
motivado a dura saga
do sangue ensopando o chão.

Acabou-se Lampião –
entrou em campo outro time:
o Sindicato do Crime
tomou conta do País.
No Nordeste, Norte ou Centro
cangaceiro de gravata
pra ganhar dinheiro – mata,
no seu ofício infeliz.

Quando a JUSTIÇA mandar
no Seu Coroné Mandão
– nesse Dia há de acabar
a Desgraça do Sertão:
nunca mais o brasileiro
terá outro Cangaceiro
Virgulino Lampião!

Na Injustiça Social
repousa a causa do mal.

SÊ COMO O LÓTUS

Ao amigo Paulo Jaime

Sê como o lótus, que, a raiz, afunda,
lá, na abjeta escuridão do lodo
e, ao contato da luz, abre-se todo,
só fragrância e pureza, em flor jucunda.

A flor do lótus, na matéria imunda,
no milagre da flor, põe luz a rodo.
Transmuta, pois, a escuridão do engodo,
na Verdade — que é Deus e a tudo inunda.

Às trevas, como o lótus, não maldigas.
Acende a tua humílima velinha
e aguarda a ajuda de outras mãos amigas.

Em vez de blasfemares, vai, caminha.
Ama e serve, que lótus, na alma abrigas
e o Amor de Deus não deixa a alma sozinha…

VELHAS PRAIAS

A Francisco Miguel de Moura

Ó minhas alvas praias nordestinas,
enfeitadas com velas de jangadas,
que, sobre o mar, vão leves, enfunadas
ao vento bom das ilusões meninas.

Praias perdidas na longínqua infância,
mas que retornam na sutil fragrância,
no adeus dos coqueirais, que o ser me invade…

Praias de brisas mansas soluçando…
Os olhos do Menino marejando…
E o coração chorando de saudade…

A ASA DA NOITE

A asa da noite vem, devagarinho,
adormecendo os seres, no abandono
desse torpor onírico do sono,
que deixa o ser humano mais sozinho;

e traz, no manto, a embriaguez do vinho;
da música do sonho, traz o abono.
O seu poder, de nós, se faz o dono
e abre caminhos para o descaminho.

A asa da noite, ungida de segredo,
se, às vezes, traz a sensação de medo,
é dádiva dos céus, óbolo santo:

— Ao vir da sombra, o corpo se enlanguece,
mas a alma sai de nós tal como prece,
agradecendo a Deus por todo canto.

MEU DIA

Meu dia, às vezes, passa tão de manso,
que nem lhe noto os fatos e acidentes.
Comparo esses meus dias a repentes,
que vou compondo e de que não me canso.

É como água de rio sem remanso,
que desliza no leito suavemente.
Borboletas pousando docemente
ou valsa lenta que sonhando danço.

De repente, lá surge a tempestade.
E o dia, que era calmo, então se agita
em cachoeiras de intranqüilidade.

Mas, depois disso, volta a santa calma.
E vou rolando assim, face bendita,
a refletir a paz que sinto na alma.
—————–

Fontes:
Poetas del Mundo.
Antonio Miranda.

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Paulo Nunes Batista (1924)

Paulo Nunes Batista [João Pessoa-PB, 2/8/1924], poeta e escritor paraibano radicado em Anápolis-GO, é autor, entre outros, dos livros: Canto Presente [1969], Cantigas da Paz [1971], A Caminho do Azul [1979], De Mãos Acesas [1981], ABC de Carlos Drummond de Andrade e Outros abecês [1986], O Sal do Tempo [1996], O Vôo inVerso [2001], Alguns Poemas/Algemas [2003] e Sonetos Seletos [2005] – poesia -; Anápolis em Tempo de Música [parceria com Jarbas de Oliveira, 1993] – ensaio; e Chamego, o urubu [1997] – contos.

Bacharel em Direito, repentista, cronista e jornalista, escreve na imprensa do Brasil e Portugal desde 1940.

Em 1994 representou o Brasil nos Encontros de Improviso em Lisboa.

Membro da Academia Goiana de Letras [Cadeira nº 8] e de várias entidades culturais.

Consta de antologias e é citado por diversos autores.

Fonte:
Poetas del Mundo. http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?

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José Faria Nunes (Goiás Poético)

QUERO INDIGNAR-ME

Quero indignar-me
com a mãe que se submete
ao aborto de uma vida.
Mas como indignar-me
se a própria vida dessa mãe
já foi abortada?
Quero indignar-me
com uma criança que na rua
assalta à mão armada.
Mas como indignar-me
se essa criança jamais
conheceu o afago da mãe
ou o valor de ser gente?
Quero indignar-me
com a fome
a miséria
a deseducação.
Mas como indignar-me
se me falta tempo
até de ver como gente?
Quero indignar-me
com o desamparo de crianças e idosos
de filhos sem pais e de pais sem filhos.
Mas como indignar-me
se a vida neste mundo global
colocou uma cifra
no lugar do meu coração

* * * * * * * * *

O SONHO DE UM POVO

Um dia um povo sonhou com a liberdade
e esse povo acreditou no sonho e lutou por ele.
Houve até quem por ele morresse.
O sonho deste povo foi objeto do sonho
de tantos outros.
Mas o sonho deste povo foi um sonho
diferente dos outros sonhos.
Enquanto o sonho de além-mar
era um sonho de ambição e dominação
o sonho deste povo era de libertação.
O sonho deste povo era sonho de amor à terra;
terra já irrigada pelo suor
até de sangue de filhos deste povo.
O sonho deste povo foi um sonho de amor
e no ato de amar até parceiros de além-mar
a este sonho vieram se somar.
E no somar dos sonhos eis que ecoou o grito
de independência deste povo. E aquele grito
do sonho deste povo ainda ecoa no ar.
Ecoa aos ouvidos de geração a geração
que ainda insiste em sonhar.

* * * * * * * * *

POESIA E LIBERDADE

A caneta do poeta
rebela-se
ante a injustiça
do poder.
E faz-se podr
na liberdade
do ato de pensar.
Quando o poder
em seu império de força
impõe-se
sobre a caneta do poeta
então este carece
de ser mais que poeta:
dele se exige
a engenharia dos deuses
na construção mágica
do amor.

* * * * * * * *

TRANSCENDÊNCIA

Qual bisturi a extrair o cisto
arranco minhas angústias
e as deposito, amorfas,
em um tubo de ensaio
como um troféu de batalha.
Agora quero rir da tristeza
e dizer que o amor pode mais
que a mágoa secular
cristalizada no peito.
A partir desta hora
a poesia transcenda os limites
da cibernética
seja esta humanitária
e se dilua etérea sobre seres mal-nascidos.
Mesmo que a vida tenha sido negada
e o futuro um sonho precocemente abortado
não maldigo o poema: com meus sentidos despertos
faço caminho no espaço
enlaço o céu num abraço
arranco os olhos do sol
e faço meu firmamento.

* * * * * * * *

ORAÇÃO DO EDUCADOR

Inspirai-me
oh! Mestre dos Mestres
para que o mister a que me proponho
ilumine as mentes a mim confiadas
nessa jornada. Daí-me sabedoria
Oh mestre, para que mais que professor
seja eu educador, condutor de esperanças
para um novo amanhã. Tenha eu
complacência para com aqueles
que de mim mais necessitam. Como orientador
de vidas jamais a intolerância consiga
meu domínio e me force a trilhar
o cômodo caminho do descompromisso.
Esteja eu mais para Apóstolos que para Pilatos
com um assumir constante da Divina
Missão de educar, criar vidas, reinventar mundos.
Possa eu educar para a vida
longe da discriminação sem marginalizar ninguém,
pois todos da luz são herdeiros e merecedores.
Tenha eu sempre na alma a imagem,
a lembrança do Mestre-Amor, Mestre-Perdão
e jamais expulse meu aluno
que merece ser mais gente,
jamais um desviado na marginalidade da vida.
Jamais me deixe esquecer
de que a palavra orienta, mas o amor
e o exemplo constroem, dignificam para a vida
para o mundo
e para Deus.

* * * * * * *

AUSENTE PRESENÇA

Presença ausente no universo
da saudade. Presença
etérea de alma anônima
mesmo sufocada pela multidão.
Solidão não ausência
do ponderável. É ausência
da alma gêmea.
De repente a solidão
esmaga-me na multidão
e se dilui no imponderável.
Ela esvai-se
de mim no instante
em que, mesmo só,
sacia-me o âmago
da alma na interação
de imaginada presença.
O poeta mesmo só
nunca fica á sós.
Acompanha-se-lhe
sempre a presença
do ente sonhado.
O poeta só está só
se perdido na multidão
do inimaginável.
O poeta só está só
se tiver a alma
vazia de sonhos para sonhar.

* * * * * * *

ESSÊNCIA

Toda criança tem, um dia,
a fantasia
de crescer logo, libertar.
Mas cedo, cedo ela constata
a sina ingrata
de vir pra vida pra lutar.
Se nasce pobre, é pior.
Mais dói a dor
de sempre ter que obedecer.
Por que uns nascem pra mandar,
para gozar,
e outros nascem pra sofrer?
Foi o que vi desde criança:
insegurança,
poucos motivos pra sonhar.
Orvalho, espinho, dura lida.
Mas vi na vida
maior motivo pra lutar.
Hoje aprendi que o futuro
é jogo duro,
sem muito tempo pra viver.
Cada momento que se vive,
como os que tive,
é o prêmio que se pode ter.
Importa menos a vitória.
A maior glória
é ter mais força pra lutar.
O que mais vale é a esperança,
perseverança
em ter mais sonho pra sonhar.

* * * * * * * * *

A LINGUAGEM DO SILÊNCIO

No brincar com as palavras
Perco-me no exercício do discurso.
Saltitam-se-me à frente palavras e palavras
[palavras pequenas, palavrões].
De um salto caio sobre elas que, brincalhonas e lépidas,
fogem-se-me das mãos.
E eu, no desalento busco
no canto um encanto – desencanto.
Perco-me nos axiomas, nas polissemias
nos sintagmas e, na busca do assujeitamento
do sujeito, alternam-se-me possibilidades
na promessa de um encontro paradisíaco.
O pretendido torna-se invisível. Descubro
que a vida é um ensaio, o primeiro ensaio
o rascunho sem tempo de se passar a limpo.
A memória do futuro se constrói agora
com o desejo do sonhado.
O futuro se constrói no sonho do poeta
sonho que não se tem.
Dos versos escolhidos vários se me desenharam proibidos
para uma comunhão de linguagens
na universalidade das mensagens.
O superego submete o ID – paradoxo –
discurso do candidato e do eleito,
do religioso-cético-pecador-herege-santo.
Eis que soa a trombeta e o mundo
do poeta se desperta. Só então percebo
que a verbalização de meu discurso
não se encontra nas palavras
mas no silêncio existente entre elas.

* * * * * * *

DESAMOR

Análoga lâmina
Fina
Frio corte
Silente ação
No profundo do aço.

Navalha
Valha noite
Lâmina ferina
Felina
De sequioso corte

Sangra a alma
Cota o sono
O sonho
Assanha
A sanha de fria lápide
Em profundo talho.

Tangidos cartilagem e osso
Dilacerado universo
Entalhe
Do profundo corte.

Detalhe
Negada premissa.

O certo
Prova-se no contexto
Pretexto.
Arrimado parasito
Antítese do amor.

* * * * * * * *

SONHO E VIDA

Brilhe o sol ou caia a chuva, seja inverno ou primavera
Hei de levar meu canto por onde quer que caminhe.
É um canto de vida que sonhei ‘inda criança
Talvez de quando nasci naquele sete de dezembro.
Meu canto é alegre como um riso de criança
Na festa de aniversario – mas por vezes meu canto
É triste – triste como uma flor esmagada sob pés indiferentes
Ingratos – mas eu canto, canto a dor de uma criança
que um dia conheci…
A criança que vivi o desalento da dor
tocou-me forte na infância
Ao quebrar-me o antebraço na brincadeira de pique
em uma noite qualquer.
Com meus pais aprendi que a crueza da vida
e pode romper com luta
Mais amor e trabalho.
Este exemplo segui: Inobstante a dor,
dos pés no quente da areia
Em diuturnas caminhadas para a roça eu ia.
Boné na cabeça, aos ombros o bornal com garrafa de café
O caldeirão de almoço que minha mãe
preparava para a fome de meu pai.
Comida gostosa aquela: Arroz, feijão e farinha,
outra vez frango, verdura
Mandioca, batata frita… Banana madura.
Criança franzina, deficiência no braço,
mesmo assim eu seguia.
Sob o sol escaldante capinava a erva daninha
da roça ou do quintal
Ajudava no plantio e na colheita do arroz.
Eis que um dia o sonho explodiu forte na mente
E em tempo descobri não bastar-me o limite
Da produção de alimento para o corpo vegetar.
Um passo, outro passo, busquei
uma seara de alimento pra alma.
Na escola busquei alimentar-me o bastante, beber sabedoria
Na fonte da experiência dos produtores da história.

A escolinha de meu tio, depois o grupo escolar.
Nem a chuva ou o sol, nem orvalho das manhãs
Nada fez-me recuar das primeiras lições.
Chegou o fim do primário, não mais pude estudar
E no recesso da escola fui viver outras histórias:
A do servente de pedreiro, do balconista de bar,
Do vendedor de verduras, do lenhador com meu pai
Mas também a do garoto que nadava na barrinha
Ou no campinho aos domingos com os companheiros jogava.
Outra fase do sonho amanheceu em meu ser:
Na fazenda soledade vi-me, súbito, professor.
O tempo – ah! O tempo!
Jamais faz concessões e em suas ondas voltei.
Minha cidade, cidades outras, cheguei até à capital.
O admissão ao ginásio, a madureza, o supletivo
Vestibulares, faculdades de Jornalismo, Direito
Licenciatura plena em Economia e Legislação
Aplicada e cursos de extensão,
especialização em psicopedagopgia.
Neste caminhar vivi o bibliotecário publico,
o auxiliar de escritório
Correspondente de jornal, locutor de rádio, repórter…
Assessor de imprensa de secretaria de Estado.
Fiz poemas, contos, artigos…
publiquei-os em livros, jornais e revistas.
Tive a ventura de ser divulgador de minha terra
por onde quer que passasse:
nas faculdades, nos clubes, nas entidades culturais,
jamais neguei as raízes do campônio que sou.

O sonho não findou: Eis-me de volta às raízes
onde a vida me espera.
Quero a união dos amigos, dos inimigos
a paz para um mundo fraterno
Podermos, juntos, buscar.
De minha vida faço lema a educação, cultura, a justiça social
O progresso do homem em dimensão integral.
Busco o futuro – conquista e tempos de liberdade,
de amor e de paz.

* * * * *

NOS CAMPOS DE PARNASO

Ser livre, leve, solto
o que sempre sonhei
no caminhar pela vida.

O cupido, em seu capricho
aproveitou-se do instante
de uma incauta distração
e sorrateiro, pertinaz
fisgou-me fundo no peito
latejante e ardente o amor.

Em sonho transportar-me-ei
até os campos de Parnaso
onde as musas me habitarão e amar-te-ei como Eros.

Em sonho hei de cravar
minha lança na gruta doce
de teu triângulo de Vênus.

Amar-te-ei com tal arte
que só um Deus Faria
e em teu triângulo de Vênus
cravarei minha lança.

Até o âmago de teu ser
hei de levar meu amor
faze-la Deusa da Vida
e eu da vida Senhor.
———

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Arquivado em Goiás, O poeta no papel

José Faria Nunes (1948)

José Faria Nunes é natural de Caçu-GO, onde nasceu aos 7/12/1948.

É Licenciado em Direito e Legislação, em Legislação Aplicada e em Economia e Mercados, pelo CEFETE de Belo Horizonte, Pós-graduado em psicopedagogia pela UEMG, Bacharel em Direito, pela UFG, e Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, Rádio e TV, pela UFG.

Homenageado pelo Ministério Público do Estado de Goiás, pelo Conselho Estadual de Cultura de Goiás, pela Associação Goiana de Imprensa, Diretoria Regional dos Correios Goiás e Tocantins e pela União Brasileira dos Escritores de Goiás.

Diretor e Editor do Jornal da Terra.

Atual presidente da ALESG-Academia de Letras e rtes do Extremo Sudoeste de Goiás, mandato 2005/2006;

Membro do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, e da Academia Mineirense de Letras.

Livros publicados, entre outros: Plantio, poemas, Editora Kelps, Goiânia, 1992; Água Fria do Rio Claro, ensaio, Editora de O Popular, Goiânia, 2001; A Reprise, romance, Litteris Editora, Rio, 2003.

Este último participou, em outubro de 2004, da Feira Internacional de Livros de Frankfurt, na Alemanha.

Fonte:
Poetas del Mundo.

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Arquivado em Biografia, Goiás

Safia dos Pireneus de Goiás ( Goiás Poético)

Alguma poesia oral de Safia

NASCI NOS PIRENEUS

Nasci nos Pireneus
junto com meu pai eterno
numa campina tão bonita
no meio de muitas emas
num ranchinho na beira-córrego
rebuçado de sapé,
cobertinha de algodão
tomando chazinho de mé,
num colchãozinho pequeno
num caquinho de buriti,
parecendo ninho de rolinha
ninho de juriti.

Um dia de garoa
já tava pra dar o inverno
eu tava perdida
no meio de muitas emas.

Minha mãe deu um grito
eu respondi.
Ela me encontrou
e me deu um tapa.
Meu pai também xingou.
Eu então respondi:
mas eu não gosto de vocês!
só das ema e do meu avô!

Depois, papai teve idéia de mudar,
nós se mandou.
Eu fiquei apaixonada,
porque as ema ficou.

MALEITA

É terreno do sertão
nem dado não aceita,
a gente compra um sítio
fica alegre e satisfeita.
Espera boa colheita
pode dar bom mantimento.
Mas bem pouco aproveita.
Quando a febre vem
o caboclo deita
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
o caboclo purga preto
eu falo porque sei
porque passei
por este aperto

Quem sofreu maleita
não tem mais conserto
ainda que cura de um
o peito.

VOZ DE PÁSSARO

Macuã e anúm preto
dizem que cantam assim:

“Minha mulher não presta
– não presta por que?
é com um e com outro
é com um e com outro”

“Finca, finca, eu ranço
pinico, pinico, jogo fora
primo com prima
se casá fazerá má.
Quá, pode casá!
Chica, cê vai, eu fico
cê fica, eu vou.
Fico, ficô”
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Safia dos Pireneus de Goiás (1929)

SAFIA nasceu Celestina Teixeira Siqueira, a 8 de junho de 1929, no Morro do Pireneus, em Goiás, onde desliza o córrego chamado Gostoso. Habitava a vizinhança da família uma tribo de emas, entre as quais a menina cresceu brincando e correndo pelo cenário deslumbrante da Serra que volteia Pirenópolis.Tinha sete anos, quando os pais camponeses Anjo Teixeira Martins e Leduvina Rosa Venucci decidiram descer o morro com os três filhos pra viver na cidade.

Lá, Celestina continuaria a dar sinais do futuro que a aguardava. Arteira, independente e sabedora do que queria de seu caminho, enveredava os brejos à cata de argila, matéria-prima de suas primeiras criações em forma de potes, bichos e bonecas. Volta e meia se queixavam ao pai: sua fia é danada de levada… sua fia fez isto… sa fia fez aquilo…. sua fia… safia… E assim consagrou-se o nome com que passaria a se distinguir no universo da arte popular brasileira.

No entanto, escola só freqüentou quando foi trabalhar em casa de família. Casou-se com um boiadeiro, voltou a morar na roça e o estudo virou matéria encerrada. Mas nem por falta de lápis, livros e professores sua genialidade de artista engaiolou-se. Ao contrário, o sobrevôo livre da menina entre as emas nos Pireneus de Goiás assentou-se em múltiplas expressões. Esculturas e telas em poética de cândida sensualidade, além de um manancial de poesias, histórias, canções e anedotas cultuadas oralmente, Safia cria com desmesurado talento.

Gênio e origem somados explicam a qualidade que sua obra alcançou. Safia herdou dos dois lados da família o gosto pela arte, trazendo no inconsciente o classicismo da estética européia. Bruno Teixeira, seu avô paterno, era tecelão, filho de portugueses; a avó, Escolasta Tavares, fazedora de panelas, potes, jarros, candeeiros, ensinou a arte da panelagem à sua mãe, cujo pai, descendente de italianos, era pintor de quadros.

Matriarca respeitada e admirada pelos seis filhos que criou sozinha (dos quais, três são também artistas populares), e pelos 14 netos e sete bisnetos, Safia não pratica arte sacra embora sua religiosidade seja visceral, e ao modo dela. “Não rezo, mas gosto de me sentar na Igreja e ficar lá”.

Segreda que talvez aceitasse se convidada a pintar um mural, ou o que fosse, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico da colonial Pirenópolis. “Mas”, reconsidera com humor, “gosto mesmo é de pintar moça dançando, menino pelado… eu ia ofender os santos”.

Artista reverenciada por quem quer que conheça seu trabalho, ela, no entanto, permanece em anonimato, vivendo sozinha numa casa humilde, em Pirenópolis. Ao completar 80 anos em junho de 2009, lá, um grupo de admiradores de suas artes prepara-lhe grande celebração. Querem que em sua terra natal, sobretudo, Safia mereça reconhecimento e assuma o seu lugar na trindade goiana, ao lado de Cora Coralina e de Antonio Poteiro.

FORTUNA CRÍTICA

João Evangelista, especialista em história da arte, ex-diretor dos museus de Arte de Brasília e de Santa Catarina: “Safia é um gênio da arte. Eu colocaria sua obra no capitulo do classicismo, mas teria uma certa dificuldade nisso, porque a arte de Safia é complexa”.

Ziraldo Alves Pinto conceitua Safia como a maior escultora de arte popular do Brasil, e aponta para o que ele chama de “o gesto culto” na poesia dos seus personagens de cenas rurais e urbanas, como cavalheiro e dama, casais em pista de dança, madonas com crianças à volta e no colo, jovens mulheres em lânguidas posições. “Ela é o máximo, é a maior”, vibra o multi-Ziraldo.

José Mindlin, ao visitar uma mostra de arte popular brasileira no MAB, onde estavam expostas peças de Safia, classificou: “Esta peça é a Vênus De Milo brasileira”

NT.: Material de pesquisa e fotos do arquivo pessoal do advogado Eduardo Nogueira da Gama, colecionador, amigo e divulgador do trabalho de Safia. Texto de abertura escrito originalmente para documentário do cineasta Armando Lacerda sobre a artista.

Fonte:
Antonio Miranda

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Nilto Maciel (Sobre o Inconsciente)

Cornélio Basso fez uma pausa. Agarrou o copo e o levou aos lábios. Na platéia houve inquietação. Alguém tossiu. Da primeira fila de cadeiras pareceu sair um homem agachado, ou pequeno. Uma criança, talvez. Pôs-se de quatro, de costas para o orador, no início do corredor atapetado. Cornélio voltou a falar. Os desejos recalcados não deixam de ter uma existência no inconsciente. No entanto, a platéia se mostrava inquieta. Ouviram-se sussurros. O homem agachado pôs-se a andar pelo carpete vermelho, rumo à saída. Subiu o primeiro degrau, caminhou, subiu o segundo. No inconsciente os desejos inconciliáveis podem coexistir. Na primeira fila uma cabeça olhou para trás. O fugitivo já ia quase ao meio do corredor, a passos lentos e cadenciados. Os desejos inconscientes não são modificados nem pela realidade exterior nem no decorrer do tempo.

À saída, uma hora depois do início destes acontecimentos, Terêncio Floro perguntou a Helvídio Lucano se vira um vulto deixar a sala. Não, não vira nada, a não ser Cornélio. Vira e ouvira. Pois fora ali para ver e ouvir Cornélio Basso. Por acaso esse vulto tinha alguma importância? Terêncio desculpou-se.

Pensou tratar-se do vulto de Torquato Gélio. Porém Torquato jamais faria aquilo. Nunca se retiraria de uma conferência. Ainda mais se o conferencista fosse Cornélio Basso. A não ser que tivesse sentido algum mal-estar.

Lélio Silvano chegou à calçada, olhou para os grupinhos formados aqui e ali, e optou por Terêncio e Helvídio. Deram-se palmadinhas nas costas. Cornélio estivera magnífico. Sim, o inconsciente só obedece ao princípio do prazer. Ele disse isso? Não lembro de ter ouvido isso. Provavelmente falou isso no exato momento em que acontecia aquilo. Lélio sorriu, ensaiou uma risada, conteve-se.

Referia-se Terêncio ao cachorro? Helvídio olhou, espantado, para Lélio e, em seguida, para o chão.

Cachorro? Que cachorro? Ora, não entendia como haviam deixado um animal entrar no anfiteatro.

Desleixo total dos diretores. Descuido gravíssimo. E se se tratasse de um cão raivoso? Terêncio tomou a palavra: Esse animal não era um homem? Lélio sorriu. Estando na primeira fila, podia esclarecer o fato. O cão dormia recostado ao estrado. Ao ouvir a voz de Cornélio, acordou. Helvídio não gostou da frase. Se o cão dormia, não podia ouvir a voz de Cornélio. Seja como for — continuou Lélio — , olhou para a platéia, teve medo e meteu o rabo entre as pernas.

Terêncio levou as mãos aos olhos: estou ficando cego.

Muito sério, Lélio imitou o cão. Saiu pé ante pé pelo corredor e mansamente desapareceu.

Lívio e Júlia retiravam-se, saídos de outro grupinho. Passaram por Terêncio, Helvídio e Lélio, deram boa-noite e pararam. Lívio se voltou para os três amigos. Vocês viram o vexame desta noite?

Lamentável, horrível, inexplicável. Como trazer uma criança para a palestra de Cornélio Basso?!

Nervosa, Júlia arrastou Lívio para o grupo. De quem será filho esse pobre menino? Helvídio parecia horrorizado, embora sorrisse. Afinal, o vulto visto por todos mudava de figura a cada momento.

Aproximou-se deles um rapaz. Disse chamar-se Torquato Basso. Lívida, Júlia recuou. O moço gargalhou. Se quisessem, chamassem-no Cornélio Gélio. Ou Terêncio Lucano. Ou Lélio Floro. Ou Helvídio Silvano. Afinal, o inconsciente só obedece ao princípio da dor. Os desejos inconscientes são modificados a cada momento e de acordo com a realidade exterior.

Pôs-se a gritar o estranho. Aterrorizados, os espectadores saíram em disparada pela rua.

Um cão pôs-se a latir diante do anfiteatro.

Fonte:
http://www.revistabula.com/posts/contos/sobre-o-inconsciente
Imagem = Econimics’s Blog

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Trova 113 – Campos Sales (São Paulo)

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30 de janeiro de 2010 · 19:04

Concurso Cultural (Ganhe o Livro Mercado Editorial – Guia para Autores)

Mercado Editorial – Guia Para Autores
Editora Ciência Moderna
Autor: Andrey do Amaral

Depois de terminar o original é que o escritor se dá conta das dificuldades da publicação. Entrar no mercado editorial é possível! Basta conhecer os segredos deste universo. Neste livro, o escritor diminuirá os caminhos da tão sonhada publicação. Você conhecerá os erros mais comuns e a forma correta de enviar sua obra para a editora certa. Há ainda os endereços das principais agências literárias do Brasil e do exterior, além das melhores editoras com a linha editorial definida. Facilitar é a proposta de Andrey do Amaral. Este manual é bastante eficaz para quem deseja se destacar no concorrido mundo dos livros.

No livro MERCADO EDITORIAL – GUIA PARA AUTORES o escritor Andrey do Amaral dá o passo a passo para se ter êxito com uma editora comercial; indica onde, como e para quem vender seu original; nomeia quem são os principais agentes; quais as melhores editoras para seu livro etc.

Site do Escritor: http://www.andreydoamaral.com/
LivroClip: http://www.youtube.com/watch?v=tkbM3AultXc

CONCURSO CULTURAL – ORIENTAÇÕES

1- Para participar do Concurso Cultural é necessário morar ou fornecer um endereço no Brasil e responder a pergunta que está no item nº 3. A melhor resposta será premiada com um exemplar do livro Mercado Editorial – Guia para Autores, o qual será encaminhado pelo autor via Correios.

2- O Concurso Cultural terá início em 25/01/10 e terminará em 28/02/10.

3- Responda a seguinte pergunta:

Você escreve ou já pensou em escrever um livro?

Atenção: Leia todas as orientações acima!

Coloque sua resposta em comentários do site em http://livrosliteratura.blogspot.com/2010/01/concurso-cultural.html
.
Participe e ganhe livros!

Fonte:
http://livrosliteratura.blogspot.com/

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Everardo Norões (Jangada de Poesias)

CORPO

Teu corpo
se enxuga em minha água:
calafeta,
enxágua.
Completa
o que não vem de mim.
E por ser água e calma,
sonâmbula
como a
distraída voz do lume,
lembra um vago perfume
de jasmim.

CAFÉ

Desencarno arábias
de uma xícara morna
de café.
E um fio negro
me assedia a boca.

(Através da janela
o galho de pitanga
ostenta seu adorno
encarnado).

Viajo
pelo negror do pó:
Dar-El-Salam,
Bombaim,
Áden
(sem Nizan, sem Rimbaud):
as colinas ocres,
a poeira dos dias.

De onde vem o grão
dessa saudade?

Desentranho arábias
dessa xícara fria.
Enquanto aguardo o dia
que não chega.

Desacordo e sorvo
a sombra morna
do que sou
na borra
do café.

OS ENCOURADOS

A tarde chega.
A luz se dispersa:
quem anunciará a morte,
soltará o chicote,
abrirá a fresta?

Quem domará o espaço
entre o gume e a alma,
entre a cerca e a palma,
entre o assombro e a calma?

E dormirá no cio
de árvores cativas
ao solstício das pedras,
no despencar das sombras?
A tarde chega,
a luz se dispersa.
É uma luz de sede
do sol dos Inhamuns:
branca e calada.

Os encourados se miram
num horizonte de varas.
A copa é pequena:
na redondez dos cabos,
lâminas severas.

Nem palavras:
o vento soletra a mata,
converte-se em faca.
Sumida nos esteiros,
detida nas vazantes,
segue,
na garupa,
a sina dos instantes.

Adonde vosmecê,
alumia o sobrosso,
desmazelo do corpo?

A alma se estropia
nesses retirados
dentro dos Teus lustres…
A tarde chega.
A luz se dispersa.

E uma luz de sede
do sol dos Inhamuns:
branca e calada.

Ponto de cruz ou estrela:
uma rede bordada.

De Retábulo de Jerônimo Bosch (2009)

A MÚSICA

Para Isaac Duarte

Sem pedir licença,
insinua-se pelos cômodos,
invade os espelhos,
derrama suas jarras de luz.
Vejo-a
pelos canteiros da casa,
na nitidez dos bordados
de minha mãe,
no brilhar de tua íris
quando os deuses descem
para beber a insensatez
das águas.
Depois,
ela se transforma em seios,
goiabas,
espigas.
E nua, adormece,
enquanto a lua brinca
entre meus dedos
e lagartixas
passeiam pelas pedras do pátio…

A RUA DO PADRE INGLÊS

Na rua do Padre Inglês
um louco joga xadrez.

Joga o xadrez da desgraça:
uma sombra na vidraça
é o seu parceiro demente.

(Entre a dama e o cavalo,
corre um rio de afogados).

De sua cama, ainda quente,
um bafo de nicotina.
Vem um cheiro de latrina
da cela defronte à sua.

Na rua do Padre Inglês
um louco fala francês
com acentos de Baudelaire…

(O flamboyant encarnado
se mistura ao espetáculo
da esquizofrênica rua).

O bispo toma o cavalo
das mãos da dama de preto.
(São cinco horas da tarde:
as luzes se apagam cedo.)

Batente do meio-fio:
vem vindo a sombra da noiva,
sozinha, morta de medo.

(O louco avista das grades
as andorinhas azuis
que voam feito morcegos.)

Na rua do Padre Inglês,
um cheiro de gasolina.

{O louco engendra seu mate
contra a sombra na vidraça.}

São cinco em ponto da tarde
(cinco de Ignacio Mejías,
pensa o louco em sua cela)
— dos girassóis de Van Gogh
à solidão amarela…

O cavalo solta as crinas,
a noiva voa na rua
e nas vozes de um menino
acordes de um violino.

O louco sabe que o tempo
de dormir já vem chegando…

(Corujas soltas na cela
bicam as flores de papel
e uma boneca de pano).

Corre, corre, vem depressa,
Que a noite já vem chegando!

Na rua do Padre Inglês
um louco joga xadrez…

TRISTÃO

Em pé, ao sol e ao vento do sertão,
ele não se decompôs.
Pedro Nava (Baú de Ossos)

As palavras no alforje. E o rosário,
a escorrer das penas e dos dias.
O azul da barba lembra uma paisagem
onde campeiam cabras. E ramagens
desatam-se em sombras nas janelas.
A morrinha dos bichos. O mormaço,
trazendo o desespero, em vez de março:
um luto atravancando as taramelas.
A sela desapeada. E na garupa
do cavalo, a sentença das esporas.
Pendentes dos estribos, estão as horas,
relampejos de facas. E o sono da jurema.
O braço descarnado, o giz dos dentes,
e o olho além do corpo do poema.
No chão do meu degredo, sempre chão,
sete frases do ofício e um bordão.

SONETO I

Agonizavam os rastros de novembro.
E os meus ossos, cansados das neblinas,
doíam, no concerto das esquinas
da cidade, onde um dia, ainda me lembro,

penetrou-se de escuro a minha alma,
quando um cão, a ladrar contra o sol-posto,
mordeu o lado oculto do meu rosto
e deixou seus sinais à minha palma.

Lembro-me que era de tarde. Ainda chovia.
O eco dos espelhos conduzia
meus passos que jaziam pelas ruas.

Havia o som da água que caía.
E no horizonte, além da agonia,
um cemitério de meninas nuas.

TUA FALA

Tua fala parecia
uma rede de varandas,
branca,
no meio da sala.

(Uma coisa que envolve
e, ao mesmo tempo, se esquiva):
gesto seco de uma chama,
morrendo,
e sempre mais viva.

Era assim, tua palavra:
escorreita, sem medida.
Falas como pés descalços,
presos à relva macia.
Ou um cheiro de curral
quando a manhã principia.

(Tua fala parecia
a rede, toda bordada,
onde a noite amanhecia).

De A Rua do Padre Inglês (2006)
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Fontes:
Everardo Norões
• “Café”, “Corpo”, “Os Encourados”
Retábulo de Jerônimo Bosch 7Letras, Rio de Janeiro, 2009
• “A Música”, “A Rua do Padre Inglês”, “Tristão”, “Soneto I”, “Tua Fala”
A Rua do Padre Inglês 7Letras, Rio de Janeiro, 2006
Carlos Machado poesia.net

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Everardo Norões (1944)

Natural de Crato, Ceará, o economista, poeta e crítico literário Everardo Norões (1944-) é um homem do mundo: viveu na França, Argélia e Moçambique e hoje está radicado em Recife. Estreou com o volume Poemas Argelinos, de 1981. Depois, publicou Poemas (2000); Nas Entrelinhas do Mundo (2002); A Rua do Padre Inglês (2006); e Retábulo de Jerônimo Bosch (2009). Norões escreve artigos e crônicas para jornais e também se exercita na criação teatral. É co-autor das peças Auto das Portas do Céu e Nascimento da Bandeira, de Ronaldo Correia de Brito.

Everardo Norões tem também seu nome ligado ao do poeta e engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo (1897-1978). Ele organizou a obra completa de Cardozo, que acaba de sair pela editora Nova Aguilar.

Norões é um poeta de dicção marcante. Não é possível passar impune pelos seus livros. Ora, ele nos captura atenção e emoção com o agreste de versos desabridamente nordestinos: “E na garupa / do cavalo, a sentença das esporas. / Pendentes dos estribos, estão as horas, / relampejos de facas. E o sono da jurema” (“Tristão”). Esses versos têm a mesma pisada seca que se ouve em “Os Encourados”: A tarde chega, / a luz se dispersa. / É uma luz de sede / do sol dos Inhamuns: / branca e calada”.

Mas, afinado em outro diapasão, o lirismo de Everardo Norões também nos aparece cantante e melodioso, como no breve poema “Corpo” ou em “Tua Fala”: “Tua fala parecia / a rede, toda bordada, / onde a noite amanhecia”. Obviamente, o ritmo aí é ainda bem nordestino, porém marcado por um recorte íntimo, que passa longe da secura dos agrestes.

Há ainda uma terceira face do poeta cratense, que é aquela bafejada pelos ventos do mundo. Entre os poemas mostrados aqui, ela se manifesta especificamente em “Café”. Ali se percebe o cruzamento das experiências pessoais e leituras do poeta com a sua sensibilidade lírica. Como um Proust, ele extrai de uma xícara de café (menos do aroma que da cor) um conjunto de sensações e divagações nostálgicas. “De onde vem o grão / dessa saudade?”

Fonte:
Artigo de Carlos Machado poesia.net

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Nilto Maciel (Caderno de Poesias)

Dor

Não tenho mal nenhum, senhora minha,
como se fosse puro, imaculado,
como se fosse um anjo, um serafim,
como se fosse deus, imune à dor.

Eu nada sinto, dor nenhuma tenho,
quer na cabeça, quer no amargo peito.
Não tenho mal nenhum, senhora minha,
perfeitamente são me sinto e puro.

Se existe mal em mim, se existe dor,
é a de morrer tão cedo, a pleno sol,
envelhecer como qualquer mortal.

E a dor maior, minha senhora bela,
é dentro d’alma, bem profunda e aguda,
a dor chamada angústia, a dor de ser.

Possessão

Nada é meu,
nem a vida,
que é minha.

SÍSIFO

Para Cátia Silva

O meu destino é semelhante àquele
imposto ao legendário rei coríntio,
que carregava ao ombro para o monte
pedra que despencava em avalancha.

Buscava novamente a rocha bruta,
subia o monte e, mal chegava ao cimo,
de suas mãos sangradas escapava
o mineral, que ao solo retornava.

E assim jamais o seu suplício ao fim
chegava, mesmo exausto, quase morto.

O meu suplício é semelhante ao dele
– a cada “não” que tu me dizes, subo
minha montanha, carregando pedras,
que se desprendem de meus ombros, rolam
ladeira abaixo, e volto a ti, pedinte.

E tu de novo dizes “não”, sorrindo.

Apanho minha rocha, subo o monte.
Se conseguir chegar ao cimo e lá
deitar a pedra, ao chão fincá-la, o “sim”
de ti terei; porém fui condenado
a carregar meu fardo vida afora
e vê-lo escorregar pelas escarpas.

E quando quase morto me encontrar,
sabendo, embora, que somente “não”
a mim dirás, ainda assim direi:
“Melhor este suplício, a ser feliz
longe dos olhos teus, vizinho à morte”.

SONETO CREPUSCULAR

Para Francisco Carvalho

Nos campos de meu pai antigamente
as chuvas inundavam meus pensares
e do pomar do céu pingavam frutos.

Ventos ninavam aves repousadas
nas árvores vigias de seu sono,
sentinelas da luz crepuscular.

As ovelhas baliam suas crias,
os vaga-lumes alumbravam tudo
e a solidão das vacas nos currais.

Duendes se assustavam co’os trovões.
Na escuridão dos quartos o perfume
do amor gemente à sombra dos lençóis.

Invernos que de mim se evaporaram
nos campos de meu pai antigamente.
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Fonte:
Jornal de Poesia.

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Nilto Maciel (O Ouro de um Pobre-Diabo)

Passei toda minha longa vida imaginando riquezas, sonhando tesouros e prêmios lotéricos. Vivia numa pobreza de causar dó. Trabalhava feito um desgraçado. Cometi mil pequenos erros, de tanto querer escapar à má sorte. Embriagava-me, jogava dados, batia na mulher e nos filhos. Terminei por abandoná-los. Vagueei pelas ruas, por vilas e cidades, sempre em busca de dinheiro, muito dinheiro, fortuna.

Já velho, cansado, doente, resolvi parar. O destino não me queria rico. Restava trabalhar, pedir, roubar migalhas. E esperar a morte. A mais miserável morte.

Uma noite, deitado numa esteira, eu fazia um balanço de minha vida. E olhava para um buraco no teto. Talvez visse estrelas e seu brilho distante, infinito.

Absorto, senti cair sobre meu peito um pequeno objeto. Assustado, ergui-me. A coisa rolou para um lado. E tiniu. Parecia uma moeda. Dei um bote, agarrei-a. Trêmulo, aproximei dos olhos o brilho encantador do ouro. Sim, era moeda de ouro.

Ainda encantado, ouvi outro tinido no quarto. Arregalei os olhos, para não perder de vista um só instante do trajeto daquele maná. A rodinha rodopiou no chão e parou junto à parede. Ia eu apanhá-la, quando novo baque sucedeu. Olhei para o teto. Não vi mais estrelas. Em compensação, o buraco parecia entupido de moedas, que caíam lentamente, uma a uma.

Primeiro enchi os bolsos, a seguir sacos e sacolas. Cheguei a esvaziar a mala de roupas e pequenos objetos de uso pessoal. Imaginava fugir dali, tão logo caíssem todas as moedas. Com certeza haviam sido roubadas e escondidas no telhado da casa.

Porém não consegui fugir. Pois, abarrotados bolsos, sacos e mala, continuaram a cair moedas. E cada vez com mais intensidade. Decidi, então, sentar-me a um canto e simplesmente observar o espetáculo.

Acumulavam-se moedas no chão. E eu maravilhado, sem mais nenhum pensamento, a não ser o de estar finalmente rico.

No meio da noite, já todo o chão se cobrira de moedas. E eu passeava, sonolento, de um lado para outro, a pisar, orgulhoso, minha incalculável riqueza. Olhava de vez em quando para cima. O buraco expelia ouro, sem parar.

Pela madrugada, senti sono e cansaço, e recostei-me à porta. Acordei já de manhã. Um peso enorme parecia me sufocar. Eu devia estar sentado. As moedas chegavam à altura do pescoço e todo o quarto cheirava a ouro e brilhava como um sol.

Tentei desenterrar-me. Nem sequer consegui arrancar as mãos do monte de moedas. E do teto mais e mais ouro escorria.

Apavorei-me. Se aquilo não parasse logo, eu poderia morrer sufocado. Pus-me a gritar, ao mesmo tempo que fazia força para me soerguer.

Quando conseguiram entrar no quarto, minha alma já havia sumido.

Fontes:
Jornal de Poesia.
Imagem = Montagem sobre desenho (mendigo) de Souzacampos

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Charles Bukowski (Conversa às 3h30 da madrugada)

às 3h30 da madrugada
uma porta se abre
e há passos na entrada
movendo um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e responde.

com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?

e ela entra
com rolos no cabelo
e num robe de seda
estampado de coelhos e passarinhos

e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem estado procurando emprego
nos últimos 32 dias.

você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e de canções românticas,
e depois de alguns copos
ela não se preocupa em cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.

não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolos,

e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.

e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.

(Tradução de Roberto Schmitt-Prym)
__________________________

Charles Bukowski nasceu na Alemanha, filho de um soldado americano, ainda criança foi para os EUA. Teve problemas com alcoolismo e, apesar de ter realizado estudos superiores em literatura e jornalismo, trabalhou como frentista, ascensorista e motorista de caminhão. Começou a escrever poesias aos 15 anos, em 1935, mas seu primeiro livro saiu apenas 20 anos depois. Em 1962, estreou na prosa, caracterizada pela mistura de vida pessoal na literatura. Apenas em 1970 Bukowski deixou seu último emprego “comum”, o de funcionário do correio, para se dedicar exclusivamente à escrita. Moreu em 1994 aos 73 anos.
________________________

Fontes:
Máquina do Mundo – Revista de Poesia.
Imagem = http://www.simplesmentepoeta.hpg.ig.com.br/

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Andrey do Amaral (Cuidado eu te amo! Desauto-ajuda do amor)

“… o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.”
(Bernardo Guimarães. A escrava Isaura)

Com o surgimento do homem na Terra, as relações humanas e emocionais começaram a se desenvolver. Às vezes com muita harmonia, outras vezes com menos. Na época das cavernas, por exemplo, a violência amorosa prevalecia. A mulher era conquistada com uma porretada na cabeça. Hoje não mudou tanto assim. Os conceitos é que mudaram ou a mulher percebeu sua força (intelectual).

Homens e mulheres convivem entre si desde a sua origem. E vão ter que continuar convivendo – ou se aturando – até o seu fim. E veja que interessante: apesar de conviverem há bastante, bastante tempo mesmo (desde os primórdios), é incrível como ainda não se conhecem. Talvez, ainda será assim por séculos e séculos…

Os casais modernos pouco ou nada se diferem dos casais das cavernas. Estão sempre brigando, brigando… e nunca se entendem, embora achem que foram feitos um para o outro. Em tese, sim. Pelo menos, Deus assim o planejou.

Depois das cavernas ou de Adão e Eva (como queira), muita coisa aconteceu, porém é fácil notar que o nosso dia-a-dia não é tão diferente do cotidiano do primeiro casal, dos nossos antepassados. E acho, para ser bem sincero, que vai continuar da mesma maneira para todo o sempre.

As pessoas se conhecem e logo se enamoram. É a lei natural do ser humano. A partir daí, podem surgir os noivados e, conseqüentemente, os casamentos. Isso é inevitável, e maravilhoso também.

Mas, na vida, nem tudo são flores. Seja no namoro, no noivado, no casamento ou no tico-tico-no-fuba, existem e surgem as brigas, as discussões, o ciúme, as culpas e tudo o que vai contra ao maravilhoso das relações. E isso também é inevitável, e péssimo também.

Por Deus, alguns problemas são bem solucionáveis. Então, não se desespere! Há solução.

Em uma abordagem bem humorada, este livro pode não trazer de imediato a solução pela qual você procura. (se é que procura por alguma). Caso não seja o seu propósito, pelo menos poderá brincar com as grandes surpresas da vida que envolvem nossos relacionamentos humanos.

Em Cuidado: eu te amo!, as várias facetas das paixões do universo homem/mulher (e variáveis) estão distribuídas nos tantos estágios de nossas vidas, representados pelos capítulos aqui do livro. E cuidado sempre que, após três semanas de envolvimento emocional, com alguém você escutar “eu te amo!”.

Então, divirta-se, e cuidado!
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Contato com a editora: www.aolivrotecnicolivros.com.br
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Fonte:
– Folheto informativo enviado pelo autor
Andrey do Amaral.

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Emilia Barbès (Conversa)

A senhora já teve alguém da família preso? – ia perguntar, na primeira chance.

Podia ser quando ela entrasse na cozinha para pedir alguma coisa ou beber água e ficasse por ali puxando conversa, comentando alguma notícia. Às vezes dava para começar uma conversa assim comentando notícia, e eu contava tudo, se desse tempo.

Dizia primeiro que há uns seis meses tinha ido à cadeia pública. Um filho meu ficou preso vinte dias. Fui lá dois domingos para vê-lo e levar frutas. Não, não comprei frutas – levei biscoitos e cigarros e outras coisas. Não me lembro. Quando cheguei, vi logo que estava exasperado. Atirou num homem num baile; não matou, a bala passou de raspão. Nem sabia que ele tinha arma. Disse que em outro baile o sujeito tinha dado um tapa na cara dele e fugido na confusão. Que confusão? Um tapa na cara, ficou apanhado. Esse meu filho tem 23 anos.

Fui aqueles dois domingos para a fila. Tinha muitas mulheres, quase só mulheres. Jovens, velhas, meia-idade, tudo com sacola na mão, caladas, conversando, umas já conhecidas das outras, falando, falando. Nunca senti tanta vergonha de ser mulher, de ser mãe, de estar ali com aquelas outras todas, carregando coisas para amenizar o malfeito dos outros. E depois raiva, uma raiva que dava vontade de largar aquela sacola e ir andando sem rumo.

Pensava na distância grande até em casa, mas não podia me ver caminhando na cidade como num descampado, sem ponto final definido, sem parar para esperar os carros. Queria mesmo era andar sem rumo e sem paradas – num descampado – andar muito, até ficar meio grogue, sem sentir os pés, com uma moleza, sem saber de dia, de noite, do tempo desgraçado que fazia, ou muita chuva, ou pouca, sol fraco, sol escaldante, vento frio, mormaço, não consigo me lembrar. Como o tempo aqui é assim, talvez nem estivesse chovendo, não levava sombrinha, ou carreguei a minha pequena, por hábito, dentro de uma das sacolas. Tinha duas. Sacolas, quero dizer. Todas de plástico, do supermercado. Não, eram quatro, uma por dentro da outra, de reforço. Cheguei lá para entregar as coisas. Não teve muita conversa. Vi a vergonha dele. Vergonha da burrice, da cavilação. Comprou o revólver, ficou esperando o baile três semanas. Agora que está solto tem dificuldade de arranjar emprego por conta da ficha suja na polícia. Na época do tiro trabalhava, arrumou dinheiro, comprou arma, passou dias remoendo a raiva, fermentando. Gostaria de bater nele, dar uns tapas, sacudir pelos ombros, beliscar os braços, puxar os cabelos, torcer os dedos.

Vingança burra; se pegasse, miserável, quem perdia os melhores dias? Pro morto, nada mais conta: toda a merda ia ficar contigo mesmo. Essa sujeira. Não pelo resto da tua vida, mas bem pelo resto da minha, miserável. Não, queria que pelo resto da tua mesmo, o resto dos teus dias desgraçados, sem entendimento, remoídos, burros. Quem sabe aprendia alguma coisa nessa porcaria.

Se ela me perguntasse, sim, eu gostaria de ter dito. Não disse nada. Só as coisas habituais: “Oi, filho?”, eu disse. “Trouxe umas coisinhas aqui pra você”. Dei notícias de casa, as desculpas dos que não podiam visitá-lo, não permitiam a família toda – nem me lembro. Sei que não queriam, nenhum queria fazer visita em cadeia, o pai não quis, os irmãos não iam estragar a folga do domingo: vai você, mãe. Não disse. Dei as saudações, as lembranças, falei de um churrasco que o irmão mais velho queria dar quando ele saísse, seria logo sua saída. E ia sentindo minha falta de pena. Até enxergava a vergonha dele, exasperado, ignorante, o rosto mais fino, como se fosse magro e era forte. Mas pena, compaixão, dó de mãe, não consegui. Ali, durante a conversa, a raiva foi mudando, assentando. Eu olhava para ele, falava, agia tudo como mãe, mãe zelosa do filho; quero dizer, de sua maneira particular, levando coisas, falando, sem muitos afagos, mas com os cuidados, os cumprimentos etc. Mas de mim ele estava muito apartado. Depois, em casa, a distância foi diminuindo.

Penso agora que se dividiu pelos outros filhos. Toda vez que faço coisas por eles, um favor, uma atenção a mais, qualquer espécie de agrado, de ajuda, desconfio. Acho que é assim, um sujo num canto difícil de limpar, a gente olha aquele lugar, tenta, tenta, tenta, cansa, desiste, esquece. Depois vê de novo, tenta de novo, pensa até que melhorou e a sujeira acaba se entranhando, já faz parte daquele canto. Se der, falo. Será que falo mesmo? E ela escuta tudo ou me interrompe, faz perguntas? A senhora nunca vai conhecer meu filho, – podia começar.
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Emília Barbès nasceu em Belém do Pará em 1962. Formou-se em Química pela Usp em 1985 e pouco depois casou-se com um empresário canadense. No exterior, morou em Ottawa, Boston, Copenhagen e Vevey (Suíça). Divorciou-se e voltou para São Paulo, onde trabalha com educação infantil polilinguística. Começou a escrever recentemente.
———————
Fontes:
Cronopios – Literatura e Arte em Meio Digital.
Silvia Caroline.

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Trova 112 – Manoel Martins de Oliveira (Juiz de Fora/MG)

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28 de janeiro de 2010 · 14:00

Valdecy Alves (Canto ao Ceará)

Poesia selecionada para coletânea do XII Prêmio Ideal Clube de Literatura. Obra lançada no dia 21 de janeiro de 2010.

Não sou amigo de Homero
Nem sou parente de Dante
Licença, pois vou adiante
Com nada me desespero
Virgílio me inspira, eu quero
Apoio me dá Camões
Vieira com os seus sermões
E a força de Patativa
Vem Cego Aderaldo e ativa
Razão, sentir, emoções

Com todas as forças penso
Minha mente um reboliço
Protege-me Padim Ciço
Benção de Beato Lourenço
Meu pensar fica então denso
Avisto Frei Damião
Ibiapina dá-me a mão
Enfrento universo inteiro
Ao meu lado Conselheiro
Dos deuses a proteção

Das páginas da Iracema
As brisas da inspiração
E da Normalista, então
O real invade o tema
E de Galeno o Poema
De Raquel a força bruta
Do Quinze que o país enluta
Reforcem minha criação
Fogo à imaginação
Que brote poesia astuta

Paisagem bela e lunar
Na praia de Morro Branco
Vou-lhe confessar sou franco
Jericoacora não há
Igual éden, duna e mar
Serras de Baturité
E de Araripe da fé
Chapada da Ibiapaba
No alto o Ceará se acaba
Ao infinito onde der!

Corre o Rio Jaguaribe
Atravessando o sertão
Em tempos de sequidão
Artéria que não se inibe
Produz riqueza e PIB
Ao norte o Acaraú
Com o Rio Coreaú
São construtores da vida
Às suas margens o homem lida
Irrigando o solo nu

Tem a gruta de Ubajara
Os casarões de Icó
Crato, florestas que só
As dunas que o vento apara
Seco sim, mas não Saara
Lugares dos mais insólitos
Tem Quixadá dos monólitos
Tem mar, serra e sertão
Mulheres belas que são
Senhoras de homens acólitos

Ceará de sol intenso
Nas praias bronzeador
Carrasco no interior
Pai da seca e calor denso
Do sertão sem fim, imenso
Pátria do mandacaru
Banha-o a bica do Ipu
Tem único e ímpar luar
Carnaubais a dançar
Sob céu sem igual azul

Ceará doce Ceará
Do corajoso vaqueiro
Da praia do jangadeiro
Do artesão, renda e cantar
De repentistas a criar
De grandes compositores
Paraíso de escritores
Tapioca e rapadura
Que leva o turista à loucura
Com seu povo, o belo e cores…

Mesmo o cidadão que emigra
Pro Norte ou Sul do país
Kafka eterno infeliz
A distância causa intriga
Mesmo a miséria inimiga
Não o separa da terra
Que seu alicerce encerra
Sempre sonhando voltar
Com vida ou pra se enterrar
Nada atrapalha ou emperra

Tão grande amor instintivo
Não há maior sentimento
O voltar melhor momento
O partir fá-lo inativo
E da saudade cativo…
No Ceará o forasteiro
Seja rico ou sem dinheiro
Que resolve nele morar
Atesta no paraíso estar
O melhor do mundo inteiro!
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Valdecy Alves

Nascido na cidade de Senador Pompeu (CE), terra natal do grande escritor Moreira Campos, mora em Fortaleza, terra da luz.

É poeta, dramaturgo, cineasta e advogado especialista em Direito Constitucional..

Participou da fundação de inúmeros jornais e revistas literárias tanto no Ceará, como no Estado de São Paulo.

Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB Ceará durante 8 anos, foi advogado da Cáritas em Senador Pompeu (CE), advogando em várias áreas do direito.

Atualmente tem escritório em Fortaleza Ceará, assessorando vários sindicatos de servidores municipais tanto em Fortaleza, quanto no interior do Estado Ceará. Atuando como consultor e parecerista para todo o Brasil.

Livros

SEU SEVERINO (romance)
O MARITICÍDIO (romance)
ENCANTADO (romance)
O SONHO TEM ASAS PARA O INFINITO (romance)
O PODER, O IDEAL E A MISÉRIA (romance)
TRAVESSIA (romance)
EROSÃO (poesias)
A BESTA FERA DE 32 – Cordel
DIREITOS HUMANOS EM CORDEL – 2004
A DIVINA COMÉDIA EM CORDEL – 2004 Igualdade Mulheres e Homens – Cordel – 2005
EMBRIONÁRIA – 2006. HISTÓRIA, Lei Maria da Penha em Cordel, : ENCICLOPÉDIA DE SENADOR POMPEU.

FILMOGRAFIA:

São Paulo 2080 (Festival Guarnicê)
Senamorpoemeu
Um Grito No Caos
Orvalho Negro (premiado em São Paulo)
Infimus
Um Carrasco Deve Ser Coerente (festival mundial do minuto)
A Ponte
O Novo Deus
Albino Donat
Solidão
Guardiões do Tempo e da História
Etc.

Produziu, montou escreveu e dirigiu várias peças teatrais, uma delas “Ondas Secas” muito premiada no Estado do Ceará. De sua autoria foi montada em 2009 a Tragédia de 32, tratando do Campo de Concentração da Seca de 32 em Senador Pompeu – Ceará.

Fonte:
http://www.valdecyalves.blogspot.com/

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Frei Betto (Passeio Socrático)

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos, e em paz nos seus mantos cor de açafrão…

Em outro dia, eu observava o movimento do Aeroporto de São Paulo: a sala de espera estava cheia de Executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado o seu café da manhã em casa; mas, como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente.

Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos vistos por mim, até aqui, realmente produz felicidade?”.

Passados alguns dias, encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?”. E ela me respondeu: “Não. Eu só tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom! Isto significa, então, que, de manhã, você pode brincar, ou dormir até mais tarde!….”. “Não!”, retrucou-me ela, “tenho tanta coisa a fazer, de manhã…”. “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada…

Fiquei pensando: “Que pena! A Daniela não me disse: “Tenho aula de meditação”. Vê-se que estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas, emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo… Mas, preocupo-me com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos. Alguns perguntaram “Como estava o defunto?”. E outros responderão: “Olha…, uma maravilha, não tinha uma celulite!”…

Mas, como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação, porém, de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais…

A palavra hoje é “entretenimento”. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil, o apresentador; imbecil, quem vai lá e se apresenta no palco; imbecil, quem perde a tarde diante da telinha… E como a publicidade não consegue vender felicidade, ela nos passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro…, você chega lá!”.

O problema é que, em geral, “não se chega”! Pois, quem cede a tantas propagandas desenvolve, de tal maneira, o seu desejo, que acaba precisando de um analista, ou de remédios. E quem, ao contrário, resiste, aumenta a sua neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: a amizade, a autoestima e a ausência de estresse.

Mas há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings Centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de “missa de domingo”. E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, não há crianças de rua, não se vê sujeira pelas calçadas…

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno: aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se vários nichos: capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Mas, aquele que só pode comprar passando cheque pré-datado, ou a crédito, ou, ainda, entrando no “cheque especial”, se sente no purgatório. E pior: aquele que não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno…

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald…

Por tudo isto, costumo dizer aos balconistas que me cercam à porta das lojas, que estou, apenas, fazendo um “passeio socrático”.. E, diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou, apenas, observando quantas coisas existem e das quais não preciso para ser feliz!”.

Fontes:
Colaboração de Maria Inez (Mifori)
Imagem = http://gabiru.info/

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Clarice Lispector (A Hora da Estrela)

O romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, foi publicado pela Francisco Alves Editora,, da qual foram extraídas as citações utilizadas na análise. Rodrigo S.M., narrador onisciente, conta a história de Macabéa, personagem protagonista, vinda de Alagoas para o Rio de Janeiro, onde vivia com mais quatro colegas de quarto, além de trabalhar como datilógrafa (péssima, por sinal). Macabéa é uma mulher comum, para quem ninguém olharia, ou melhor, a quem qualquer um desprezaria: corpo franzino, doente, feia, maus hábitos de higiene. Além disso, era alvo fácil da propaganda e da indústria cultural (para exemplificar, seu desejo maior era ser igual a Marilyn Monroe, símbolo sexual da época).

Nossa personagem não sabe quem é, o que a torna incapaz de impor-se frente a qualquer um. Começa a namorar Olímpico de Jesus, nordestino ambicioso, que não vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória, colega de trabalho de Macabéa; afinal, o pai dela era açougueiro, o que lhe sugeria a possibilidade de melhora financeira. Triste, nossa personagem busca consolo na cartomante, que prevê que ela seria, finalmente, feliz… a felicidade viria do “estrangeiro”. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é atropelada por Hans, que dirigia um luxuoso Mercedes-Benz. Esta é a sua “hora da estrela”, momento de libertação para alguém que, afinal, “vivia numa cidade toda feita contra ela“.

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta, continuarei a escrever. (…) Pensar é um ato. Sentir é um fato.”

Existe a necessidade constante de descobrir-se o princípio, mas o homem, limitado que é, não conhece a resposta a todas as perguntas. A personagem narradora não é diferente dos outros homens, porém, mesmo sem saber tais respostas, de uma coisa ela tem certeza e, por isso, ela afirma: “Tudo no mundo começou com um sim.” É preciso dizer sim para que algo comece, por isso, ela diz “sim” a Macabéa. Alguém que forçou seud nascimento, sua saída de dentro do narrador, tornando-se a nordestina, personagem protagonista de seu romance.

É o grito do narrador que aparece no corpo de Macabéa:

Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás – descubro eu agora – também não faço a menor falta, e até o que eu escrevo um outro escreveria. Um outro escritor sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas.”

Assim, ela é uma entre tantas, pois quem olharia para alguém com “corpo cariado”, franzino, trajes sujos, ovários incapazes de reproduzir? Com ela o narrador identifica-se, pois ele também nada fez de especial (qualquer um escreveria o que ele escreve); teria de ser escritor, mas nunca escritora; por outro lado, não se pode esquecer de que quem escreve é Clarice Lispector, conforme se afirma na dedicatória. Dessa forma, desencadeia-se, na primeira parte do livro, todo um processo de metalinguagem, que entrecortará a narrativa até o seu desfecho. O narrador homem – Rodrigo S. M. – tecerá reflexões sobre a posição que o escritor ocupa na sociedade, seu papel diante dela e, principalmente, sobre o processo de elaboração da escritura de sua obra:

Escrevo neste instante com prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e coagular em cubos de geléia trêmula.

Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espíirito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que ouro – existe a quem falte o delicado essencial. Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora seja obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e ‘gran finale’ seguido de silêncio e chuva caindo.”

Ironizando, repetidas vezes, o desejo que os leitores têm da narrativa tradicional, Clarice Lispector (aqui transfigurada no narrador Rodrigo S. M.), em contrapartida, não abre mão de suas características mais marcantes, ou seja, a reflexão, o elemento acima do enredo, o “silêncio e a chuva caindo“, que marcarão a personagem protagonista.

Como contar a vida sem menti-la? Para isso, pondera o narrador, a narrativa há de ser simples, sem arte. O narrador está enjoado de literatura. Não usará “termos suculentos”, “adjetivos esplendorosos”, “carnudos substantivos“, verbos “esguios que atravessam agudos o ar em vias de ação”. A linguagem deve ser despojada para ser precisa e para poder alcançar o corpo inteiro e vivo da realidade. Como escreve o narrador?

“Verifico que escrevo de ouvido assim como aprendi inglês e francês de ouvido. Antecedentes meus do escrever? Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome, o que faz de mim de algum modo um desonesto. (…) Que mais? Sim, não tenho classe social, marginalizado que sou. A classe alta me tem como um monstro esquisito, a média com desconfiança de que eu possa desequilibrá-la, a classe baixa nunca vem a mim.”

Chegamos, aqui, ao ponto mais importante desse trabalho de metalinguagem: a consciência do escritor como um marginalizado.

É aqui que o narrador se funde com sua personagem: ambos são marginalizados, num espaço que não os aceita. Tal fusão se dá em todos os níveis – não apenas no desejo de simplicidade da linguagem despojada; para poder falar de Macabéa, o escritor torna-se um trabalhador braçal, faz-se pobre, dorme pouco, adquire olheiras fundas e escuras, deixa a barba por fazer, lidando com uma personagem que insiste, com seus dezenove anos, mesmo tendo “corpo cariado“, comparada a uma “cadela vadia”, “numa cidade toda feita contra ela“, em viver. Assim, personagem e narrador dão seu grito de resistência em busca da vida. A resistência de Macabéa pode ser representada, por exemplo, nos momentos em que sorri na rua para pessoas que sequer a vêem; a resistência do narrador, na busca da palavra, cheia de sentidos secretos… a “coisa”, que, quando não existe, deve ser inventada (o narrador escritor como senhor da criação). Tanto Macabéa como a palavra são pedras brutas a serem trabalhadas. A palavra será a mediadora entre o narrador e o leitor, e entre o leitor e Macabéa, pois é por meio dela que conheceremos a história da personagem, os fatos e, principalmente, o nascimento deles.

O narrador, ao contar Macabéa, conta a si mesmo, não só pelas sucessivas identificações com a personagem, mas porque ela sai de dentro de si, imanente que é a ele (“pois a datilógrafa não quer sair de meus ombros.”) . Dessa união, nasce uma nordestina vinda de Alagoas para o Rio de Janeiro. Datilógrafa, “o que lhe dava alguma dignidade“, fazendo-a acreditar que tal profissão indicava que “era alguém na vida” (aqui, não lhe passa pela cabeça que é uma péssima profissional, semi-analfabeta… ela não tem consciência de nada disso). Alguém com aparência bruta, capaz de enojar suas quatro companheiras de quarto (na pensão onde morava), trabalhadoras das Lojas Americanas:

“… dormia de combinação de brim, com manchas bastante suspeitas de sangue pálido (…) Dormia de boca aberta por causa do nariz entupido. Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou as manchas do rosto. Em Alagoas chamavam-se ‘panos’, diziam que vinham do fígado.

Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio. Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela.”

Sua falta de percepção física acompanha a psicológica. Começa com o fato de ela ser alvo fácil da sociedade consumista e da indústria cultural: gosta de colecionar anúncios; seus parcos conhecimentos são extraídos da Rádio Relógio (informações ouvidas, mas nunca entendidas); gosta de cachorro-quente e coca-cola. Aceita tudo isso sem questionar, pois teme as conclusões a que pode chegar (arrepende-se em Cristo por tudo, mesmo não entendendo o que isso significa; não se vingava porque lhe disseram que isso é “coisa infernal“; apaixona-se pelo desconhecido, como no caso da palavra “efemérides”, mas nunca procurava, efetivamente, conhecer o incognoscível, pois era mais fácil aceitar aceitar-lhe a existência e admirá-lo a distância).

Conseqüentemente, torna-se personagem “torta”, de tanto encaixar-se num meio que tanto a repele. O próprio emprego de datilógrafa é revelador: ela o era por acreditar que este lhe dava alguma dignidade. Buscava a dignidade, como se não tivesse direito a ela. Outro dado revelador é seu relacionamento com Olímpico, desculpando-se com ele todo o tempo, chegando a dizer-lhe que não é muito gente, que só sabe ser impossível. Ela não se defende por seus próprios valores, mas tenta adaptar-se aos valores do namorado, nunca discutindo a validade deles. Olímpico representa o contraponto em relação a Macabéa. Seus valores em nada se relacionam aos dela: metalúrgico, quer ser deputado, afastar-se de Macabéa e ficar com Glória, a loira oxigenada, colega de trabalho de Macabéa; afinal, o pai dela era açougueiro, o que lhe dava maiores perspectivas de vida. E tudo isso é, literalmente, engolido, tão deglutido, que ela não admite a idéia de vomitar; afinal, isso seria um desperdício.

Ao mesmo tempo, é sensual em seus pensamentos, ou nos momentos de solidão, como quando viu o homem bonito no botequim, ou ainda quando ficou em casa – ao invés de ir trabalhar – vivendo a sensação de liberdade. O prazer em Macabéa é algo que sempre se alia à dor. Ao ver o homem, por exemplo, apesar do prazer que tal visão lhe dá, há o sofrimento por não o possuir e por ter a certeza de que alguém assim é mesmo só para ser visto. Macabéa já havia experimentado essas sensações contraditórias com outra pessoa, a tia, que, ao bater na menina, sentia prazer ao vê-la sofrer: “… e ela era só ela”, imune à vida, vida que era morte, por tanta aceitação. O instinto de vida, que está ligado ao prazer, vem sustenta-la. Diz o narrador: “Penso no sexo de Macabéa (…) seu sexo era a única marca veemente de sua existência.” E ainda, mais adiante, ligando o prazer à morte: “Ela nada podia mas seu sexo exigia, como um nascido girassol num túmulo.” De que “relação sexual” se pode falar no caso de Macabéa? Da relação com a própria vida, que ela insiste em manter, no seu conceito tão particular de beleza: usava batom vermelho, queria ser atriz de cinema com Marylin Monroe, apreciava os ruídos, pois eram vida.

Essas sensações se intensificam quando vai à cartomante Carlota (por recomendação de Glória), no momento em que esta lhe revela: a felicidade viria de fora, do estrangeiro. A cartomante mostra-lhe a tragédia que é sua vida (coisa de que, até o momento, não havia tomado consciência), mas, ao mesmo tempo, dá-lhe a esperança de acreditar que as coisas poderiam ser diferentes… a possível felicidade. Quando sai da casa da cartomante, é atropelada por Hans, que dirigia um automóvel Mercedes-Benz, momento em que a vida se torna “um soco no estômago”:

Por enquanto Macabéa não passava de um vago sentimento nos paralelepípedos sujos. (…) Tanto estava viva que se mexeu devagar e acomodou o corpo em posição fetal. Grotesca como sempre fora. Aquela relutância em ceder, mas aquela vontade do grande abraço. Ela se abraçava a si mesma com vontade do doce nada.

Era uma maldita e não sabia. (…)”

A morte dela é o momento em que Eros (Amor) se une a Tanatos (Morte), vida e morte, num momento doce, e sensual:

Então – ali deitada – teve uma úmida felicidade suprema, pois ela nascera para o abraço da morte. (…) E havia certa sensualidade no modo como se encolhera. Ou é como a pré-morte se parece com a intensa ânsia sensual? É que o rosto dela lembrava um esgar de desejo. (…) Se iria morrer, na morte passava de virgem a mulher. Não, não era morte pois não a quero para a moça: só um atropelamento que não significava sequer um desastre. Seu esforço de viver parecia uma coisa que se nunca experimentara, virgem que era , ao menos intuíra, pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher. Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor. Sim, doloroso reflorescimento tão difícil que ela empregava nele o corpo e a outra coisa que vós chamais de alma. (…) Nesta hora exata, Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.

O que é que eu estou vendo agora é e que me assusta? Vejo que ela vomitou um pouco de sangue, vasto espasmo, enfim o âmago tocando no âmago: vitória!” Sua boca, agora, vermelha como a de Marylin Monroe, no apogeu orgásmico da morte, grita, pela primeira vez, depois de vomitar, à vida:

“E então – então o súbito grito estertorado de uma gaivota, de repente a águia voraz erguendo para os altos ares a ovelha tenra, o macio gato estraçalhando um rato sujo e qualquer, a vida come a vida.”

Chegamos, afinal, ao momento da epifania do narrador fundido à Macabéa: é a vida que grita por si mesma, independente da opressão e da marginalização social.

O momento, entremeado com silêncio, da consciência a que se chega pelo ato de escrever:

“(…) O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de novo. Etc. , etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada. Eu vos pergunto: – Qual é o peso da luz? E agora – agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas – mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.”

Enfim, descobrimos, agora, que tudo começa e acaba com um sim. Também é preciso coragem para morrer, silêncio para ouvir o grito da vida.

Fonte:
Resumos de Livros

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Pedro Ornellas (O Ébrio)

Foto do filme “O Ébrio”
Curtindo o efeito da malvada pinga,
cantando vai pela deserta rua…
Do mundo mau que o desprezou se vinga
fazendo um show bizarro à luz da lua!

Um sonolento abre a janela e xinga,
menciona a mãe e ele responde: “É a tua!”
gargalha e chora… e grita… e dança… e ginga…
e deita e dorme na calçada nua…

Já foi homem de bens, hoje um mendigo
que teve um dia a lhe mudar a história
uma mulher traidora e um falso amigo…

Que força estranha encerra um desengano:
pode impulsar um homem à vitória
ou transformá-lo num farrapo humano!
———-

Fonte:
Colaboração do Autor.

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Denise Emmer (Caderno de Poesias)

O MEU ESTRANHO AMOR

Um espectro que passa enquanto chora
Por minha ausência ele se consome

E quando chega vem como quem some
E bate as asas universo afora

É o meu estranho amor que longe mora
E dorme no altar da cabeceira

Quando me ama arde sem fogueira
Para partir na arca da memória

Foge com o sol e leva nossa estória
Tão docemente me acena uma vertigem

Sequências de montanhas impossíveis
Escarpas adversas giratórias

Quando ele chega o mundo é uma sala acesa
O seu sorriso ofusca a cena da aurora

Não tarda ele se cala e vai embora
Para morar na plácida tristeza.

O BEIJO

Levou-me sem feitas frases
Somente passo e camisa
Roubou-me um beijo de brisa
Na quadratura da tarde

Jogou-me contra a parede
Rasgou-me a blusa de linho
Roubou-me um beijo de vinho
Diante das aves vesgas

Puxou-me para seu fundo
Rompeu a rosa pirâmide
Roubou-me um beijo de sangue
E bateu asas no mundo.

VIAS AVESSAS

Chegas por vias avessas escuto teus passos surdos
Deuses que movimentam a incoerência do mundo
Regem relógios quietos de horas que não existem
Feliz a insanidade das multidões irascíveis

Se há mares em teus abraços mergulho em sóis afundados
Decifro a nova linguagem que inutiliza tratados
E despedaça países fundidos em calmarias
O amor desgoverna os ventos assombros em abadia

Viajo os rumos trocados as ruas que se invertem
Distâncias que se encontram pernas que se perseguem
Olhos que confabulam dentro de rios quentes
Percebo outras cidades nos vãos de uma nova lente

O que me faz alcançar as caravelas aéreas
Andaimes velozes cumes a indizível matéria
São teus incêndios a luz que espalhas pelo Universo
E por meu corpo acendendo meus lampiões submersos.

À NOITE

A noite ela se embriaga
e vai bailar nos espaços
usando um traje de pássaros
viaja para o infinito

abro a janela do mundo
e já não vejo seu rastro
me leva lagoa lua
à grande festa das águas

em que outra madrugada
esconderás teu espelho

nas esquinas que não vejo
onde a noite vira asa?

OS ANIMAIS QUE MORREM

Os animais que morrem
viram luzes
assombros tão pequenos
entre escuros
espectro sereno
sobre muros

os animais que morrem
são futuros.

SINAL DE ALERTA

Faça a noite que faça
as fábricas soltam fumaça
e como avistar quem passa
através de um claro vidro?

Os operários levitam
seus espíritos vencidos
ao cume das chaminés;
que flutuam ente os telhados
marés de moços causados
qual uma cinza tristeza.

E esta pálida natureza
vai colorindo de morte
os jardins de nossos filhos
os fios de nossos pássaros.

E enquanto as mulheres abraçam
crianças de olhos fundos
vão se calando o mundo
como um velho homem com tosse.

Tão curvado e solitário
um moribundo canário
canta a manhã da cidade
que a todo dia reage.

AS GALÁXIAS

As galáxias
se expandem
e nem ouvimos
seus gritos

os labirintos
se aprofundam
sem que saibamos
seus números
esperamos
que um cão azul
decifre
o infinito

e que nos esclareça
a álgebra
do abismo

a lógica
do insondável

a física
do ilimitado.

Por que é tão dramática
a visão de um céu estrelado?

NOITE MAGA

Andei contigo nas dunas
Nas páginas das areias
Pensei avistar sereias
Mas eram sóbrias escunas

E ao perguntar quem eras
O mar moveu seus navios
Olharam-se as éguas no cio
Voaram fêmeas sem sela

Enquanto me assombravas
Os sais trocavam segredos
Abraçava-me com medo
Torpor, o que me falavas

Então comecei morrer
Por rua mão de veludo
Que me levava entre surdos
No tênue amanhecer

Desmanches de beijo e vício
Aroma de folha e chuva
Teu sorriso atrás da curva
Na ponta do precipício

Longe vai a noite maga
Em seu palácio estranho
Não te decifro és sonho
A povoar minhas águas.

DA MORTE

Os mortos não sobem aos céus
nem elevam-se abstratos
tornam-se apenas retratos
lado a lado nas paredes.

Retrato do avô imóvel
austero e silencioso
do tio tuberculoso
que esquivo me espia.

A avó já está fria
mas me olha com ternura
tece uma colcha escura
para as bodas da família,

Mortos não sobem trilhas
de inconsistentes arranjos
não viram anjos nem brisas
nem cristos nem assombrados.

Sequer passam dos telhados
sequer vão a outros mundos
quando morrem se enraízam
e se alastram é pelos fundos.

Não lhes peço algum milagre
também não lhes rogo bênçãos
de dentro de seus quadrados
não podem mover o Tempo.

Quadros em salas quietas
emoldurados cinzentos
memória em fragmentos
— as vezes nem lhes percebo.

TARDE NO MAR

Tarde e moleza marolas e mascavo
Nada suponho nada sei nada respondo
Não sei o nome do mundo
E seu patrono

Leio jornais em branco folhas velhas
Cartas passadas notícias reviradas
Do que me valem as novas utopias
Se o que me traz o mar
É uma garrafa vazia.

NAVIOS

Venho ao cais esperar navios
Sucedem-se as altas vagas
Aceno sinais de estio
Às vesperas adiadas

Te aguardo e quando te espreito
Arrastam-se os segundos
O vento esticou o mundo
Nos cárceres dos estaleiro

Passam veios, horas largas
Nenhum sinal de teu fardo
Busco-te a cada entrada
O que me passas – passado.
———————

Fontes:
Teatro dos elementos, 1993
Cantares de amor e abismo, 1995
Canções de acender a noite, 1982
O Inventor de enigmas, 1998
Lampadário, 2008

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Denise Emmer

Denise Emmer Dias Gomes Gerhardt (Rio de Janeiro,mais conhecida como Denise Emmer, é uma poeta, compositora, cantora, violoncelista e escritora brasileira.

Filha dos escritores Janete Clair e Dias Gomes, tornou-se primeiramente conhecida por temas musicais compostos para personagens das telenovelas,tais como “Pelas muralhas da adolescência”, Bandeira 2, e “Alouette”, Pai Herói, “Companheiros”,Sinhá Moça,entre outros, alcançando depois, reconhecimento pela sua vasta e premiada produção poética.

É violoncelista da Orquestra Rio Camerata.

Biografia

Denise começou a compor aos 10 anos, e ainda no colégio fazia composições em português arcaico, como Galvan el gran cavalero e Aquestas mañanas frias.

Estudou piano clássico e formou-se em física. É pós graduada em filosofia ( especialização-lato-sensu) pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Graduou-se também em violoncelo pelo Conservatório Brasileiro de Música(bacharelado), sob a orientação do violoncelista Paulo Santoro.

Carreira musical

Na década de 1970, compôs vários temas para telenovelas da Rede Globo, como “Pelas muralhas da adolescência” (para Bandeira 2); “Tema verde” (para Assim na Terra como no Céu); “O amor contra o tempo” e “Montanhês” (para Bravo!); “Pedra de ouro” (para O Pulo do Gato) e “Alouette” (para Pai Herói).

O compacto simples “Alouette”, lançado em 1980 (um ano depois da novela), vendeu mais de 300 mil cópias, o que rendeu a Denise o Disco de Ouro e o reconhecimento público, participando de vários programas de televisão, como o Fantástico. Essa canção seria incluída posteriormente na coletânea Belle France, da Globodisc, além de uma versão instrumental no compacto duplo que incluía “Chocolat”, “Jardineiro” e “Sândalus”, todas de Denise e com solo de flauta doce da própria compositora.

Na década de 1980, foi assistente de Waltel Blanco na produção de trilhas sonoras de novelas e seriados, como O Bem-Amado e Quarta nobre.

O primeiro long playing veio em 1980, Pelos Caminhos da América, que continha composições suas (“Lavadeiras”, “Boiadeiros do céu”, “Garganta”, etc.), de Milton Nascimento (“Minha cidade suja”, sobre poema de Ferreira Gullar) e outras. O disco tinha arranjos do Grupo Água, com quem Denise se apresentou em show no Parque Laje, no Rio de Janeiro.

Em 1981 veio o LP Toda Cidade É um Pássaro, em que atuou como cantora e instrumentista. As canções eram todas suas. Em 1983 gravou o LP Canto Lunar, também só com canções suas. A canção-título seria, anos depois, gravada pelo grupo Tarancón.

Ainda na década de 1980, participou da trilha sonora de outras telenovelas da Globo: “Lavadeiras” foi para Coração Alado, de Janete Clair; “Cavaleiro do Rio Seco” foi para Voltei pra Você, de Benedito Ruy Barbosa; e “Companheiro” foi para Sinhá Moça, também de Benedito.

O LP Cantiga do Verso Avesso veio em 1992 e também era todo de canções próprias, algumas sobre poemas conhecidos, como “Soneto do amor nascendo” (Pedro Lyra), “Canção” (Ivan Junqueira), “Poema do cego, da noite e do mar” (Moacyr Félix). A canção “Cavaleiro do Rio Seco” foi homenagem ao compositor Elomar. O disco teve participação de Jacques Morelenbaum.

Em 1994, criou o grupo Trovarte, em que cantava acompanhada pelo violão de Beto Resende, a viola de Ivan Sérgio Niremberg e o violino de Ludmila Plitek. O grupo se apresentou na Academia Brasileira de Letras e na Casa de Cultura Estácio de Sá, entre outros palcos.

O CD Cinco Movimentos e um Soneto (1995) foi todo com poemas de Ivan Junqueira musicados por Denise, também com participação de Jacques Morelembaum em algumas faixas.

Ainda musicando poemas consagrados, Denise gravou, em 2004, o CD Mapa das Horas, no qual cantou e tocou violoncelo. O repertório inclui poemas de João Ruiz de Castelo-Blanco (“Partindo-se”), do século 15, Diogo Brandão (“Pois tanto Gosto Levais”), do século 16, e de autor desconhecido do século 15 (“Cantiga da Ribeirinha”). Os arranjos, de estilo medieval, tinham instrumentos como viola de gamba, alaúde, oboé, organeto medieval, etc. O disco foi lançado em show na Academia Brasileira de Letras.

Desde 2001 faz parte da Orquestra Rio Camerata, como violoncelista.

Carreira Literária

O primeiro livro de poesia “Geração Estrela” publicou precocemente, na adolescência, pela Ed. Paz e Terra,(1975). Coletânea essa organizada pelo poeta Moacyr Félix. Mas, foi nos anos oitenta que sua produção se destacou, e seguiram-se as demais coletâneas de poesia : “Flor do Milênio “Ed.Civilização Brasileira, “Canções de Acender a Noite”, Ed Civilização Brasileira, “Equação da Noite” Ed Philobliblion, “Ponto Zero” Ed Globo, “O Inventor de Enigmas” Ed. José Olympio.

As excelentes críticas recebidas, tais como a do poeta, tradutor e acadêmico Ivan Junqueira (Folha de São Paulo) na qual afirma ser Denise “um dos maiores poetas de sua geração” e da romancista Rachel de Queiróz em prefácio de “Teatro dos Elementos”(1993), onde diz que “Ela pega das palavras seus elementos poéticos e faz deles um uso extremamente pessoal, inventa, recria, redistribui, suscita imagens absurdamente inesperadas e mágicas”…] e, sobretudo os prêmios recebidos de “Melhor Poeta Jovem” da UBE, e “José Marti”(Casa Cuba Brasil), deram a poeta incentivo para prosseguir sua fertil produção.

Na década de noventa publicou ” Invenção para uma Velha Musa” Ed. José Olympio ( Prêmio APCA e Prêmio Olavo Bilac da ABL), “Teatro dos Elementos & Outros Poemas” e “Cantares de Amor e Abismo” Ed 7letras. As críticas e prefácios de nomes de relevância intelectual como Olga Savary, Nelson Werneck Sodré, Pedro Lyra, Alexei Bueno, entre outros, foram de grande importância para a sua carreira, e Denise voltou-se então para o romance publicando então dois títulos : “O Insólito Festim” Ed. Nova Fronteira(Prêmio Nacional de Literatura do PEN Club do Brasil), e ” O Violoncelo Verde” Ed. Civilização Brasileira.

Após um hiato de mais de dez anos, quando dedicou-se ao estudo do violoncelo, publicou “Poesia Reunida” Ediouro,2002, “Memórias da Montanha”, Ediouro,2006 e recentemente “Lampadário”, Ed7Letras,2008, que recebeu o “Prêmio Cecília Meireles de Poesia” (da União Brasileira de Escritores). Além de participar de antologias poéticas como “41 Poetas do Rio”,(Ministério da Cultura – organização Moacyr Félix-1998),”Antologia da Nova Poesia Brasileira” (Ed.Hipocampo/Fundação Rio Arte/Prefeitura do Rio de Janeiro-1992) “POESIA SEMPRE” (-ano -I- NÚMERO 2 -Fundação Biblioteca Nacional – 1993) e periódicos tais como : “Jornal de Letras”, entre outros, teve recentemente seus poemas publicados na “Revista Brasileira” da Academia Brasileira de Letras n.56, em setembro de 2008.

Seu mais recente livro Lampadário acaba de obter o Prêmio ABL de Poesia 2009.

Prêmios

**Prêmio Guararapes de Poesia, UBE,1987.
**Prêmio União Brasileira de Escritores – melhor autor jovem – 1988
**Prêmio Nacional de Literatura do PEN CLUB do Brasil, poesia, (Prêmio Luiza Claudio de Souza) Poesia, 1990
**Prêmio APCA , poesia (Associação dos Críticos de Arte), 1990
**Prêmio Olavo Bilac, poesia( Academia Brasileiras de Letras), 1991
**Prêmio José Marti de Literatuira – Conjunto de Obra – Casa Cuba Brasil, 1995
**Prêmio Nacional de Literatura do PEN CLUB do Brasil, romance,(Prêmio Luiza Claudio de Souza), 1995
**Prêmio Alejandro José Cabassa (UBE) romance, 1995
**Prêmio Yeda Schmaltz (UBE) , poesia, 2002
**Prêmio José Picanço Siqueira(UBE) Memória Romanceada, 2007
**Prêmio Cecília Meireles de Poesia (UBE) , 2008
**Prêmio ABL de Poesia 2009 (Academia Brasileira de Letras)

BIBLIOGRAFIA

POESIA

*Geração Estrela- Rio de Janeiro, Ed Paz e Terra 1975 (orelha Moacyr Félix)
*Flor do Milênio – Rio de Janeiro, Ed Civilização Brasileira, 1981. (prefácio Moacyr Félix)
*Canções de Acender a Noite – Rio de Janeiro, Ed Civilização Brasileira, 1982. (Prefácio Paes Loureiro)
*A Equação da Noite – Rio de Janeiro, Ed Philobiblion, 1985. (Prefácio Pedro Lyra)
*Ponto Zero – Rio de Janeiro, Ed Globo, 1987. (Prefácio Antônio Houaiss e posfácio Olga Savary)
*O Inventor de Enigmas – Rio de Janeiro, Ed José Olympio, 1989. (Prefácio Ivan Junqueira)
*Invenção para uma Velha Musa – Rio de Janeiro, Ed José Olympio, 1990. (Prefácio Nelson Werneck Sodré)
*Teatro dos Elementos & Outros Poemas – Rio de Janeiro, Ed 7Letras, 1993. ( Prefácio Rachel de Queiroz) –
*Cantares de Amor e Abismo Rio de Janeiro, Ed 7Letras, 1995. (Prefácio Carlos Emílio Corrêa Lima)
*Poesia Reunida – Rio de Janeiro, Ediouro, 2002. (Organização Sérgio Fonta)
*Lampadário – Rio de Janeiro, Ed. 7Letras, 2008 (Prefácio Alexei Bueno)

ROMANCE

*O Insólito Festim – Rio de Janeiro, Ed Nova Fronteira, 1994. (Prefácio Rachel de Queiroz)
*O Violoncelo Verde – Rio de Janeiro, Ed Civilização Brasileira, 1997. (Prefácio Sérgio Viotti)
*Memórias da Montanha – Rio de Janeiro, Ediouro, 2006.

Participou de diversas antologias. Colaborações e colunas no Jornal de Letras ; Jornal O Dia ; Revista Itaú Personnalité ; Caderno Prosa &Verso ( O Globo) ; Revista Colóquio ( Portugal ) ; Revista RioArte ( Funarte)

Fontes:
Rede Brasileira de Escritoras (REBRA)
http://www.antoniomiranda.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

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Gizelda Morais (Baú de Textos)

POEMETO N°1
(verso / 1958)

Neste minuto agora
solitário
olho o começo de uma estrada
indecisa.
Mais indecisa fico
e o tempo passando
me arrasta com ele
por essa estrada assim
sem meta nem reta.

(reverso/ 2002)

houve sempre retas que não vi
metas que não cumpri
o tempo nunca passou
senão por mim
já não conto as horas
dos relógios
perdidos e quebrados
não restou nem um
do meu vocabulário
risquei rimas
sinas
risquei
do começo ao fim do meu caminho
um grande signo
a interrogação.

POEMETO N°2

(verso/ 1958)

Mais uma hora que passa.
Mais uma hora contada
no passado que o tempo já levou.
Mais uma hora vivida
em cada vida
mais uma hora de angústia
de dores
de risos
de sonhos.

(reverso/ 2002)

um diâmetro
uma corda
uma circunferência
geômetras do nada
reinventando o átomo
delimitando pontos
apreendendo a matéria
aprisionando o círculo
reformulando o quadrado
plasmando o paralelepípedo.

POEMETO N°3

(verso / 1958)

Petrificou-se o tempo
silenciaram-se os ares
silêncio de pedra
nas pedras
no vento
nas portas
nos corpos
e nos olhares.
Silêncio de ferro
nos lábios mudos
nas mãos sem gestos
nos pés sem passos.

(reverso/ 2002)

estas estátuas falam
com seus lábios mudos
suas mãos sem gestos
seus olhos cavos
estas estátuas andam
com seus pés sem passos
seus corpos de ferro
suas mãos de pedra
estas estátuas escutam
com seus ouvidos ocos
puxam os seres humanos
do passado
rondam este presente

POEMETO N°4

(verso/ 1958)

Escoam-se os minutos
e a agonia marcada nos ponteiros
aponta nos semblantes
uma expressão de angústia.
Mais um segundo.
E continua a marcha
dos minutos
olhados pelos olhos ansiosos
da humanidade inteira
que passa
que passou
que passará.

(reverso/ 2002)

partimos a existência
em milésimos de segundo
inventamos os ponteiros
criamos a paciência
para enfrentar o quê?
– a morte ou a resistência?

POEMETO N°5
(verso/ 1958)

Pensamentos de asas de vidro
vagando
e horas à frente
gemendo
as faces caídas
poemas repetidos
idéias repetidas
e vidas únicas
sós
irrepetidas.

(reverso/ 2002)

único é o fio da navalha
cortando o que não vemos
somos sínteses
amálgamas de eras
heras nas paredes
invisíveis
asas de vidro
vencendo
ventos

CARROSSEL
(verso/ 1958)

Carrossel foi fincado
na praça de Aracaju
cavalo colado
cadeira pregada
carrossel rodou cheio de crianças
carrossel girou, girou
foi pra dentro da gente
fez da gente pião
e lá fomos rodando
pelo mundo afora.
Carrossel fincado dentro da gente
carrossel fincado na praça de Aracaju.

(reverso/ 2002)

carrossel retirado
da praça de Aracaju
cavalo queimado
cadeira quebrada
carrossel despregado
do peito da criança
pinhão solto no mundo
atravessado
entalado na garganta
regurgitado
no sono
dos sobreviventes

BALADAS DO INÚTIL SILÊNCIO

I

se há por quês
é porque não se cansam
as andorinhas de voar
nem os mágicos
de tirarem coelhos da cartola
e o tempo é o gesto
e o espaço um pedaço de pão.
––––––––––––––––––-

PREPAREM OS AGOGÔS
( transcrição, início do primeiro capítulo).

SOAM GUIZOS
Volto ao hotel. Difícil adormecer. Sobe a temperatura. Febre, talvez uma gripe. Tomo uma aspirina, ligo a televisão. Os olhos esbugalhados de Vicent Price andando pelos corredores de um castelo mal assombrado. Um livro se desfazendo em suas mãos, comido pelas traças.

Espirros, pó, cal, poeira. – Quem disse, dr. Tomás, ser Gonzaga teu sobrenome? Por acaso atrás de tua pele branca não há um pouco mais de negritude?

O jantar na casa de meus anfitriões em Lagos se transformara num filme de horror. Histórias de séculos passados – na África a ganância, a escravidão, as lutas fratricidas. No Atlântico a travessia, os porões das galeras, bergantins, sumacas, faluchos, chalupas, brigues. No Brasil, as senzalas, os currais, os troncos, festas e quilombos. O retorno, o refluxo depois da abolição. A Nigéria dos ingleses.

Os fulas batendo os agogôs no ritmo dos pés, embaixo de grandes baobás. A boca abobalhada de Vicente Price na tela à luz de uma vela iluminando o longo corredor. Os hemisférios norte e sul se misturando num doido mapa astral. Música sacra, oitocentista, o Scala de Milão, vozes de Djavan, Milton Nascimento, Gilberto Gil. – Doutor, não te anunciaram o sucesso dos negros tanto quanto o dos brancos?

Eu, admirando minha pele clara se tornando intensamente negra, igual à das crianças sentadas em torno de um grande prato. Entôo, paparaô, papá oô, pápa oô oô, e avanço meu braço pra pegar um bocado. Recebo uma palmada. Uma menina recolhe o alimento e oferece. A mãe come diretamente nessa mão supina. A filha inclina a cabeça e recebe a sua parte. Todos podem comer, menos eu, um rejeitado. Meu braço continua suspenso. Com os olhos comprimidos observo, e choro. Então a mãe me oferece o peito e me vejo paparicando no seio dessa negra que se fartara na mão da filha adolescente.

O sono treme nas pálpebras de Vicent Price, tremem minhas pálpebras, as mãos deixam cair o castiçal, o lápis, a pena. Ça suffit! Ça suffit! Ah, ah, ah. O grito ecoando nas paredes do castelo, nas paredes do quarto do hotel.

Abro bem os olhos. Benzo-me três vezes. Medo? Do fundo da infância e da adolescência surge o gesto automático. O sinal da cruz, começando da testa até o tórax e de um ombro ao outro. Tento exorcizar os sonhos maus, afastar gnomos escondidos por detrás das portas, almas penadas, fantasmas reivindicando seus desejos.

De novo a sensação de desequilíbrio, a necessidade de apoio e segurança, intensamente ressentida em várias ocasiões, como no término do casamento.

Pego o telefone. Falar urgentemente com Marli. A chamada não se completa. Desço às pressas. O vigia dorme na portaria, ronca numa cadeira estreita, suas nádegas sobrando pelos lados livres das bordas. Sonha, na certa, e segura as chaves no bolso da calça. O aparelho na recepção, trancado com um cadeado, não envia mensagens.

Fontes:
Prof. Wagner Lemos
Rede de Escritoras Brasileiras

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Gizelda Morais (1939)

Nascimento em 30 de maio de 1939 na cidade de Campo do Brito – Sergipe.

Em razão de deslocamento de seus pais para Riachão do Dantas – SE, esse foi oficialmente anotado como seu local de nascimento.

Estudos primários no Grupo Escolar Tobias Barreto da cidade de Tobias Barreto (Sergipe) onde passou a infância e leu os primeiros livros na Biblioteca pública do mesmo nome.

Estudos ginasiais e secundários no Colégio N.S. de Lourdes e Ateneu Sergipense em Aracaju.

Desde adolescente declamava suas poesias em solenidades estudantis. Teve sua apresentação na imprensa feita por Epifânio Dória (13/01/ 1955 no Sergipe Jornal)e daí em diante publicou poemas, artigos e crônicas em diversos jornais de Sergipe.

Nos anos 50 e 60 participou de programas culturais de emissoras de rádio.

Membro da Arcádia Estudantil do Colégio Estadual de Sergipe (Atheneu), participou da fundação do Clube Sergipano de Poesia.

Seu primeiro livro de poesias, Rosa do Tempo), foi publicado em 1958, em Aracaju, pelo Movimento Cultural de Sergipe. No ano seguinte, iniciando seus estudos universitários em Belo Horizonte, ganhou ali o 1° prêmio no Concurso Universitário de Poesia, e em 1960 um prêmio com o ensaio, João Ribeiro e a História do Brasil, em concurso promovido pela Secretaria de Educação e Cultura de Sergipe. Transferindo-se para Salvador para continuar seus estudos, colaborou ali em revistas universitárias.

Graduada em Filosofia e em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, recebeu o grau de Doutora, em Psicologia, pela Universidade de Lyon (França), realizando, mais tarde, estágio pós-doutoral na Universidade de Paris XIII.

Na Universidade Federal da Bahia trabalhou no Departamento de Psicologia (do qual foi também chefe), e no Mestrado em Educação do qual foi Coordenadora e uma das fundadoras da ANPED.

Na Universidade Federal de Sergipe foi professora do Departamento de Psicologia e Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação. Professora visitante na Universidade de Nice (França). Prestou serviços a outras Universidades brasileiras e a instituições públicas nacionais como CFE, CNPq, CAPES e outras.

Foi a primeira Secretária Regional da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Sergipe (1981-86) e membro do Conselho Nacional dessa entidade científica (1986 a 91).

Além de sua tese de doutorado, L’Ecriture et la Lecture – (1969), defendida em 13 de janeiro de 1970, publicou trabalhos científicos em livros, revistas, anais, e Pesquisa e Realidade no Ensino de 1° Grau, org. (Cortez Editora, São Paulo, 1980). Entre os ensaios, Esboço para uma análise do significado da obra poética de Santo Souza (Aracaju, 1996).

Mais recentemente vem se dedicando ao romance e já publicou:

. Jane Brasil, 1986.
. Ibiradiô – as várias faces da moeda, 1990.
. Preparem os agogôs, (Menção Honrosa no Concurso Nacional de Romance, promovido pela SEC do Estado do Paraná – 1994). 1996.
. Absolvo e Condeno, 2000 (Menção Especial do Prêmio A.J.Cabassa, UBE, 2002)
– Feliz Aventureiro, 2001. (Prêmio A.J.Cabassa, Especial do Júri, UBE, 2002).

Poesia:
– Rosa do Tempo, Movimento Cultural de Sergipe, 1958.
– Baladas do inútil silêncio (com Núbia Marques e Carmelita Fontes), 1965.
– Acaso, 1975.
– Verdeoutono (com Núbia Marques e Carmelita Fontes), 1982.
– Cantos ao Parapitinga ou Louvações ao São Francisco,1992.

Participação em diversas coletâneas (também em jornais e revistas), entre as quais:
– Aperitivo Poético, Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Aracaju, SE. Edições de 1986/ 87/ 88/ 89.
– Palavra de Mulher, Maria de Lourdes HORTAS (org.), 1979.
– Nordestinos, Pedro Américo de FARIAS (org.), Portugal, 1994.

Prêmio: 1º lugar no Concurso Universitário de Poesia, Belo Horizonte, 1959.

Inéditos: Poemas de Amar (divulgação artesanal)

Sonatas da Quarta Dimensão

Crônicas e contos:
– Retalhos da Vida – coluna mantida na Gazeta de Sergipe -1960/61.

Participação em: Contos e Contistas Sergipanos, SEC, Aracaju, 1979.

Ensaios:
– João Ribeiro e a História do Brasil (prêmio em Concurso de Monografias sobre J. Ribeiro), em: Caderno de Cultura , nº 1, Edição da SEC. de Sergipe, 1960.
– Esboço para uma análise do significado da obra poética de Santo Souza, Gráfica J. Andrade, Aracaju, 1996.
– A Trajetória poética de Núbia Marques, em Caminhos e Atalhos, N. N. Marques, Segrase, Aracaju, 1997.

Fonte:
Prof. Wagner Lemos.

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Antonio Brás Constante (Viagem que se Faz Dentro da Viagem)

As viagens tendem a começar bem, pois se iniciam em nossa mente. Você ao pensar em férias de verdade já se imagina em alguma praia espetacular, ou em alguma ilha paradisíaca, dirigindo um belo conversível vermelho, cheio de dinheiro e de belas mulheres, loucamente apaixonadas por você.

Hospedagem nos melhores hotéis, banhos de piscina, baladas, refeições que custam mais do que um salário mínimo. Que delícia de férias. Tudo vai indo muito bem, até que você escuta os resmungos de sua esposa, mandando-o parar de sonhar acordado, sair do sofá, e ir colocando todas as sacolas de roupa e comida no carro.

Ao levantar-se do sofá, você ainda consegue sentir os últimos restos de nostalgia se esvaindo de suas lembranças, percebendo em uma última fagulha de pensamento, aquela loira que estava sentada ao seu lado no conversível, dando-lhe uma piscadela de olho. Mas antes que você tenha tempo de pedir o telefone dela, a imagem some por completo.

Passa então a assumir seu papel de burro de carga da família. Junta todas as sacolas e mochilas, levando-as até o seu possante, modelo 1983 (chamado de possante, pois em todo lugar que para, deixa uma poça de óleo).

Começa a partir daí o longo caminho para se chegar ao calvário… Digo a praia, que não é espetacular, mas é a mais próxima da sua cidade. Repleta de pedágios, acidentes, pedágios, engarrafamentos, pedágios, buracos, pedágios, pardais e mais pedágios.

As viagens (com ênfase no litoral) são divididas em três etapas de gastos. Na primeira, se gasta na compra de roupas para usar na praia, bronzeadores e se gasta também com a manutenção do carro.

Na segunda etapa, os gastos são com o pedágio, gasolina, outro pedágio, compra de lembrancinhas na estrada, mais pedágios (espero não ter me esquecido de nenhum pedágio).

Até este momento, todas as despesas foram cobertas graças as suas reservas financeiras, guardadas para custear as férias, porém, insuficientes. Tudo que é pago a partir da terceira e última etapa, são frutos de cheques pré-datados, empréstimos e do limite de seu cheque especial. As férias parecem verdadeiras ilhas, cercadas de dívidas por todos os lados.

Os valores do dispêndio da terceira etapa equivalem a mais de 50% de tudo que vai ser gasto durante a viagem. Neles está incluída a compra de picolés, milho cozido, carne, aluguel, multas, etc (você não achou que iria para praia com seu possante em estado crítico e não levaria multa, achou?).

Mas não desanime, tenha por consolo que o bom nas viagens é que enquanto toda família dorme nos bancos de carona, você pode voltar a sonhar acordado enquanto dirige. Com sorte ainda consegue achar a tal loira do conversível vermelho em suas lembranças, e curtir os prazeres de férias inesquecíveis… Em seus sonhos.

Fontes:
Colaboração do escritor.
Imagem = http://www.mulherdigital.com

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XVI Jogos Florais de Curitiba (Inscrições Abertas até 31 de Março)

Temas das Trovas:

1) Líricas/Filosóficas = “madrugada”- para o Brasil (exceto Paraná), demais países de língua portuguesa e concorrentes de língua espanhola.

2) Líricas/Filosóficas = “imagem” – estado do Paraná.

3) Líricas/Filosóficas = “água” – âmbito regional/estudantil.

4) Humorísticas = “pijama” – para o Brasil (inclusive Paraná) e demais países de língua portuguesa).

Obs: No máximo 3 trovas de cada tema. Até 31 de março – vale carimbo do correio.

Fonte:
Colaboração de Maria da Graça Stinglin

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2os. Jogos Florais do Século XXI

Estimado(a) autor (a),

Comunicamos que o Movimento Cultural aBrace organiza os 2º JOGOS FLORAIS DO SECULO XXI, que será apresentado de 7 a 9 de abril de 2010 como parte da programação do aBrace em MOVIMENTO. Conta com o apoio institucional do Ministério da Educação e Cultura, Ministério das Relações Exteriores, Intendência Municipal de Montevidéu e da Fundação Lolita Rubial – Uruguai.

Os três dias estarão dedicados à celebração das artes, com passeios turísticos, visitas a rádios, oficinas literárias e intercâmbios, almoços e jantares de confraternização, tardes e noites de autógrafos e a apresentação dos livros, 2ºS JOGOS FLORAIS DO SÉCULO XXI, Espelhos da palavra 2 – Espejos de la palabra 2; Rapsodias 2 – poesia; Tramas; Contos em 2 minutos, Cuentos en 2 minutos – contos; Curumi 5 – Infantil; e os livro individuais editados em 2009/2010.

Os livros, troféus e certificados serão entregues aos premiados e selecionados dos 2ºS JOGOS FLORAIS DO SÉCULO XXI, durante o evento.

Poderão participar poetas, artistas e ativistas culturais de todos os estados do país.

As inscrições deverão ser enviadas para: abracept@abracecultura.com

NÃO HAVERA COBRANÇA DE TAXA DE INSCRIÇÃO PARA NENHUMA ATIVIDADE CULTURAL PROMOVIDA PELO MOVIMENTO aBrace.

Meios próprios de divulgação: aBraceRevista INTERNACIONAL
e o sitio: http://www.abracecultura.com/

ENTRADA FRANCA

Maiores informações pelo telefone: (61)81387729
Nina Reis
Roberto Bianchi
Diretores do Movimento Cultural aBrace

Ficha de inscrição Individual

É necessário que os interessados em participar confirmem suas presenças e preencham a ficha de inscrição até 26 de março, envie por email e no campo assunto escreva:

INSCRIÇÃO- 2º JOGOS FLORAIS DO SECULO XXI.

Nome:
Data de nascimento:
Email:
Endereço:
Cidade:
Estado: CEP:
Telefone: Celular:
Breve currículo literário:

Posteriormente a direção dos Jogos Florais enviará confirmação e aceitação da inscrição.

CONSIDERAÇÕES GERAIS:

A direção do Movimento Cultural aBrace, não se responsabiliza por gastos de quaisquer espécies efetuados pelos participantes.

SERVIÇOS OFERECIDOS AOS PARTICIPANTES:

Os organizadores dos Jogos Florais procurarão e colocarão à disposição dos interessados listas de hotéis, transportes, restaurantes e outros serviços.

NÃO HAVERA COBRANÇA DE TAXA DE INSCRIÇÃO PARA NENHUMA ATIVIDADE CULTURAL PROMOVIDA PELO MOVIMENTO aBrace.

ENTRADA FRANCA
Realização:
MOVIMENTO CULTURAL aBrace
http://www.abracecultura.com/

Abrace Editora
CSA 03 lote 18 sala 202 – Tel. 0 (XX) 61 –81387729
Taguatinga – Brasília – DF – CEP 72.015.035

Fonte:
Colaboração de Poetas del Mundo

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2ª Etapa do "Projeto de Trovas para uma Vida Melhor” (Inscrições até 15 de Fevereiro)

Temas:

Diante da Consciência…

Vamos vivenciar esses princípios e valores universais:

1 – na conduta – SINCERIDADE; de 01/02 a 20/03 – resultado até 15/04/2009 – realizado e publicado
2 – na dor – PACIÊNCIA; de 01/04 a 20/05 – resultado até 15/06/2009 – realizado e publicado
3 – na afeição – EQUILÍBRIO; de 01/06 a 20/07 – resultado até 15/08/2009 – realizado e publicado
4 – na ofensa – PERDÃO; de 01/08 a 20/09 – resultado até 15/10/2009 – realizado e publicado
5 – no lar – DEVOTAMENTO; de 01/10 a 20/11 – resultado até 15/12/2009 – realizado e publicado

6 – na rua – GENTILEZA;

Inscrições de 05/01/2010 a 15/02/2010

Resultado até 15/03/2010

Como enviar:

A trova:
Tema – GENTILEZA
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————————-
Nome:
Cidade:
Estado:
País:
E-mail
(Rua,Av, nº – complementos)
Grupo:

Lembrem-se de colocar o grupo:

GR 1 – trovador consagrado(trova premiada – não contar Menção Honrosa nem M. especial)

GR 2 – trovador não consagrado (não premiado) e iniciante

GR 3 – Aluno da Educação Básica(ginásio e colégio; 1º e 2º grau) e Ensino Médio.

Enviar para mifori@terra.com.br

(abril/maio/junho ……………. – 2010 – publicações: de cirandas e Livros virtuais)

Fonte:
Colaboração de Maria das Graças Stinglin

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Rebra (Rede de Escritoras Brasileiras)

O que é a Rebra

Rede de Escritoras Brasileiras — REBRA — é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que pretende reunir em associação o maior número de escritoras de nosso país que tenham compromisso público com a literatura, a cultura e a justiça social, entendendo que as idéias exprimidas pela palavra escrita tem a força de modificar a sociedade humana. E é justamente esse o principal objetivo e a missão da REBRA: o aprimoramento da sociedade brasileira em particular e da humanidade em geral, por meio da divulgação da palavra da mulher.

Foi fundada em 8 de março de 1999, para tentar corrigir a grande injustiça que as mulheres escritoras brasileiras, em particular, e as mulheres brasileiras, em geral, sofreram e continuam sofrendo ao serem permanentemente excluídas dos registros históricos de nossa sociedade.

Trabalham em conjunto com a organização mundial Women’s WORLD – Women’s World Organization for Rights, Literature and Development, com sede nos Estados Unidos da América.

No âmbito Latino-Americano, funciona também em parceria com a RELAT — Red De Escritoras Latinoamericanas, sediada no Peru e atuante nos países da América do Sul e México.

FINALIDADES

1. Proporcionar mútuo conhecimento e rápida troca de informações entre as escritoras mulheres do Brasil.

2. Divulgar as obras de suas associadas – nacional e internacionalmente – por meios eletrônicos e convencionais.

3. Manter viva, na memória cultural brasileira, as obras de nossas escritoras já falecidas, divulgando a história da literatura feminina do Brasil.

4. Desenvolver projetos literários, tais como: cursos, encontros, simpósios, concursos e congressos, assim como promover publicações visando as finalidades acima descritas.

5. Criar, em parceria com a iniciativa privada ou com órgãos governamentais, no âmbito nacional ou internacional, mecanismos que estimulem o mercado da literatura feminina, em particular, e da literatura em geral.

6. Expor a literatura brasileira feita por mulheres para o mundo inteiro, com o objetivo de modernizar e globalizar sua divulgação para o mercado literário.

7. Fazer valer os direitos da mulher escritora a um tratamento justo e igual ao dos homens escritores.

8. Manifestar-se publicamente todas as vezes que seus princípios sejam feridos.

9. Manter e ampliar laços de solidariedade e amizade entre mulheres que se ocupam do mesmo ofício e alimentam os mesmo ideais.

PRINCÍPIOS

1. Defender permanentemente os direitos universais da mulher.

2. Defender permanentemente os direitos do ser humano à liberdade de expressão.

3. Propiciar o exercício da solidariedade e da fraternidade sem qualquer restrição.

4. Promover o respeito e a preservação do patrimônio cultural da humanidade e do Brasil.

5. Promover o respeito à preservação do planeta e do meio ambiente.

6. Repudiar qualquer forma de violência à vida humana.

7. Repudiar publicamente qualquer forma de preconceito, velada ou explícita, ao gênero feminino.

8. Repudiar qualquer forma de preconceito de cor, raça, credo e gênero.

9. Lutar por justiça e igualdade, visando o bem estar do ser humano.

SERVIÇOS DISPONÍVEIS

01. HOMEPAGE, A GRANDE VITRINE MUNDIAL:

Todas as associadas da REBRA ganham um site trilíngüe (português – inglês – espanhol) na Internet, contendo foto, biografia, bibliografia e um pequeno texto de sua autoria, no qual a escritora poderá alterar seus dados e o conteúdo de sua própria página, através da “Área da Escritora”. Esse site será conectado ao site geral da associação e exposto ao mundo inteiro. Servirá como referência para agentes literários, editores, professores, leitores, interessados em lusofonia em geral. Dessa forma, a literatura feminina do Brasil será universalizada.

02. APRESENTAÇÃO VIRTUAL:

Uma vez construída a homepage de cada associada, será apresentada virtualmente a todas colegas escritoras por esse Brasil afora, para que, assim, possamos nos conhecer e interagir umas com as outras. Da mesma forma, será apresentada também para uma lista de 30.000 e-mails, pertencentes a profissionais da área literária do país e do exterior. Além disso, a página pessoal de cada sócia aparecerá randomicamente, em destaque na nossa página frontal: http://www.rebra.org.

03. INFORMAÇÃO:

Todas as associadas receberão, por correio eletrônico, notícias interessantes da área literária, como por exemplo: notícias de concursos, seminários, congressos, encontros, agentes literários, editores, etc.,

SONHOS E PROJETOS

01. ASSESSORIA JURÍDICA:

A REBRA planeja oferecer orientação jurídica, indicando às suas associadas, escritórios de advocacia de alto nível, especializados em direitos autorais.

02. NÚCLEOS ESTADUAIS:

Dentro de suas metas principais, a REBRA pretende organizar núcleos de escritoras associadas em todos os estados do Brasil. Logicamente, isso não poderá ser feito do dia para a noite. No entanto, já temos em andamento os núcleos estaduais do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e do Paraná.

03. PATROCÍNIO:

Conseguir patrocínio para promover bolsas de trabalho e concursos literários para as associadas, junto ao governo e iniciativa privada usando as diversas leis de benefícios fiscais.

04. RESGATE HISTÓRIA DA LITERATURA FEMININA NO BRASIL:

Expor – pela Internet – biografias e obras das mais importantes escritoras brasileiras que já se foram, cujas presenças estão sendo esquecidas por falta de dedicação da própria sociedade ao nosso patrimônio imaterial.

05. FEIRA DE LIVROS FEMININOS – São Paulo

06. CONGRESSO LATINOAMERICANO DE ESCRITORAS.

DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente e Fundadora : Joyce Cavalccante
Romancista. Contista. Jornalista.

Secretária/Sócia Fundadora: Kátia Abud
Professora Doutora. Historiadora. Escritora.

Tesoureira / Sócia Fundadora : Sabine Cavalcante
Psicóloga. Contista.

SÓCIAS HONORÁRIAS

Lygia Fagundes Telles
Contista. Romancista.
Membro da Academia Brasileira de Letras

Nélida Piñon
Contista. Romancista.
Membro da Academia Brasileira de Letras
Ex-presidente dessa instituição

Nelly Novaes Coelho
Crítica Literária. Dicionarista.
Ex-presidente da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Kina De Oliveira
Jornalista, psicóloga e escritora.
Presidente Honorária da AJEB
Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil.

Isaura Fernandes
Escritora, jornalista, poeta e artista plástica.
Graduada em Comunicação e Semiótica

Ana Mae Barbosa
Doutora em Arte-Educação
Ex-diretora do Museu de Arte Contemporânea(MAC-USP)
Presidente da International Society of Education through Art (InSea).

Rosely Boschini
Editora e presidente da CBL-Câmara Brsileira do Livro

MEMBROS HONORÁRIOS

João Scortecci
Editor. Poeta.

Steve F. Butterman
PHD – University of Miami, Fl – USA

Lúcio Alcântara
Médico, político e poeta

Claudio Pereira
Produtor cultural

Francisco Souto
Jornalista

Humberto Cavalcante
Empresário, Presidente do Ideal Clube

Danilo Santos De Miranda
Diretor Geral do SESC

Celso De Alencar
Poeta

Sergio Braga
Livreiro

João Soares
Escritor e empresário

Ednilo Soarez
Professor,empresário e escritor

Inácio De Loyola Brandão
escritor e jornalista

José Neûmane Pinto
Escritor e jornalista

REPRESENTANTES INTERNACIONAIS

Maria De Lourdes Leite
Portugal

Isabel Ortega
Espanha

Verônica Cavalcanti Esaki
Estados Unidos

Elza Suguitame
Japão

Mariana Brasil
Itália

Claudia Pacce
Nova Zelândia

Mara Freitas Herrmann
Alemanha

Adalgisa Muniz
Holanda

Regina Von Arx
Suiça

Diva Pavesi
França

Jacilene Brataas
Noruega

REPRESENTANTES NACIONAIS

Alcinéa Cavalcante
Amapá

Nilze Costa E Silva
Ceará

Sylvia Pellegrino
Paraná

Neida Rocha
Santa Catarina

Regina Lyra
Paraiba

Célia Labanca
Pernambuco

Maria Abadia Silva
Goiás

Martha Serrano
Bahia

PARA SE ASSOCIAR

INSTRUÇÕES PARA ASSOCIAR-SE

Para associar-se à Rede de Escritoras Brasileiras, você precisa preencher as seguinte condições:

1) Ser do sexo feminino.

2) Concordar e praticar os princípios que regem a nossa organização.

3) Ser brasileira nascida ou naturalizada; ou estrangeira que conheça e trabalhe com a língua portuguesa, no que se refere aos assuntos da cultura feminina brasileira.

4) Ser escritora publicada ou ainda inédita, tanto faz, com textos produzidos nas diversas áreas do conhecimento .

5) Ou então ser uma mulher que tenha contribuído notoriamente para a cultura literária brasileira.

Se você satisfaz essas condições e gostaria de se inscrever como associada e colaboradora da REBRA, assim como gozar dos benefícios de seus serviços e participar de seus eventos, preencha online todas as linhas do formulário de inscrição e o envie para nossa apreciação, clicando no botão que está no inferior desta página.

CONTRIBUIÇÃO ANUAL

A REBRA é uma associação não governamental e sem fins lucrativos. Mantém-se com eventuais doações de pessoas físicas ou jurídicas e, principalmente, com a contribuição anual de suas associadas, que é de R$200,00 (duzentos reais) ao ano.

Essa quantia deverá ser paga até quinze dias após a associada ter recebido a carta de boas vindas, como resposta ao seu formulário de inscrição. Nessa carta estão todas as informações bancárias necessárias ao procedimento. Caso contrário, ela ainda não será uma associada, e portanto, não terá direito aos benefícios de nossos serviços. Seu e-mail, no entanto, passará a fazer parte de nossa lista de divulgação.

Os seguintes vencimentos dessa contribuição se farão na data exata (dia e mês) em que completar anos a inscrição de cada associada.

Antes da anuidade de cada associada vencer, ela receberá um lembrete com orientações para proceder ao próximo pagamento.

Após efetuado o pagamento, cópia do comprovante do depósito bancário deve ser enviado à REBRA, constando a identificação com nome e número de inscrição da associada, por e-mail, correio ou fax, para nosso controle contábil e para que lhe seja enviado um recibo dedutível do imposto de renda.

O valor da contribuição anual foi obtido em 25 de janeiro de 2010. Qualquer reajuste confirmar em contatos: http://rebra.org/index.php?pg=rebramail.php

Fonte:
http://rebra.org/

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José de Alencar (Ao Correr da Pena I)

A primavera – Eclipse de uma estrela – Espetáculo de graça – As três graças dos gregos e as des-graças de um diletante – Importe de um espetáculo gratuito – o baile do Cassino – A valsa – Nova pomba da arca.

17 de setembro

Estamos na primavera, dizem os folhetins dos jornais, e a folhinha de Laemmert, que é autoridade nesta matéria. Não se pode por conseguinte admitir a menor dúvida a respeito. A poeira, o calor, as trovoadas, os casamentos e as moléstias, tudo anuncia que entramos na quadra feiticeira dos brincos e dos amores.

Que importa que o sol esteja de icterícia, que a Charton enrouqueça, que as noites sejam frias e úmidas, que todo o mundo ande de pigarro? Isto não quer dizer nada. Estamos na primavera. Os deputados, aves de arribação do tempo do inverno, bateram a linda plumagem; a Sibéria fechou-se por este ano, os buquês de baile vão tomando proporções gigantescas, as grinaldas das moças do tom são perfeitas jardineiras, a Casaloni recebe uma dúzia de ramalhetes por noite, e finalmente os anúncios de salsaparrilha de Sands e de Bristol começam a reproduzir-se com um crescendo animador.

Come, gentil spring! Vem, gentil quadra dos prazeres! Vem encher-nos os olhos de pó! Vem amarrotar-nos os colarinhos da camisa, e reduzir-nos à agradável condição de um vaso de filtrar água. Tu és a estação das flores, o mimo da natureza! Vem perfumar-nos com as exalações tépidas e fragrantes da Rua do Rosário, da Praia de Santa Luzia, e de todas as praias em geral!

Doce alívio dos velhos reumáticos, esperança consoladora dos médicos e dos boticários, sonho dourado dos proprietários das casinhas dos arrabaldes! Os sorveteiros, os vendedores de limonadas e ventarolas, os donos dos hotéis de Petrópolis, os banhos, os ônibus, as gôndolas e as barracas, te esperam com a ansiedade, e de suspirar por ti quase estão ficando tísicos (da bolsa).

Esta semana já começamos a sentir os salutares efeitos de tua benéfica influência! Vimos uma estrela do belo céu da Itália eclipsada por uma moeda de dois vinténs, e tivemos a agradável surpresa de ouvir o 1º ato do Trovatore e um epeech da polícia, tudo de graça.

Alguns mal intencionados pretendem que a noite não foi tão gratuita como se diz; mas deixai-os falar; eu, que lá estive, posso afiançar-vos que o espetáculo foi todo de graça, como ides ver.

A autoridade policial depois de participar que ficava suspensa a representação e que os bilhetes estavam garantidos, sendo por conseguinte aquela noite de graça, como esta notícia excitasse algum rumor, declarou formalmente, e com toda a razão, que se acomodassem, porque a polícia, quando tratava de cumprir o seu dever, não era para graças.

Os namorados que tiveram duas noites de namoro pelo custo de uma, os donos de cocheira que ganharam o aluguel por metade do serviço, o boleeiro que empolgou a sua gorjeta sem contar as estrelas até a madrugada, aqueles que lá não foram, não só riram-se de graça, como acharam nisto uma graça extraordinária.


Muito olhar suplicante vi eu nos últimos momentos, humilhando-se diante de um rostozinho orgulhoso e ofendido, clamar com toda a eloqüência do silêncio: grazia! grazia! É preciso advertir que o olhar estava no Teatro Provisório, e por isso não se deve admirar que falasse italiano; além de que, o olhar é poliglota e sabe todas as línguas melhor do que qualquer diplomata.

Finalmente, para completar a graça deste divertimento, as graças com os seus alvos vestidinhos brancos se reclinavam sobre a balaustrada dos camarotes, cheias de curiosidade, para verem o desfecho da comédia. E a este respeito lembra-me uma reflexão que fiz a tempos, e da qual não vos quero privar, porque é curiosa.

Os gregos, como gente prudente e cautelosa, inventaram unicamente três graças, e consta que viveram sempre muito bem com elas. Nós, de mal avisados que somos, queremos ter em todos os divertimentos, nos bailes, nos teatros e nos passeios uma porção delas, sem refletir que, logo que se ajuntarem muitas, podem formar necessariamente um grupo de dez graças.

Maldito calembur! Não vão já pensar que pretendo que as graças tenham sido a causa de tudo isto, nem também que todo aquele desapontamento fosse produzido por alguma graça da Charton. A primadona estava realmente doente, e, aqui para nós, suspeito muito os meus colegas folhetinistas de serem a causa daquela súbita indisposição com o formidável terceto de elogios que entoaram domingo passado. Lembrem-se que os elogios e os aplausos comovem extraordinariamente um artista. Ainda ontem vi como ficaram fora de si as tímidas coristas, unicamente porque lhe deram duas ou três palmas!

Em toda esta noite, porém, o que houve de mais interessante foi o fato que vou contar-vos. Um velho dilettante do meu conhecimento, ainda do tempo do magister dixit, e para quem a palavra da autoridade é um evangelho, teve a infeliz lembrança de justamente nesta noite encomendar um magnífico buquê para oferecer à Charton no fim da representação. Apenas se declarou o relâche par indisposition, o homem perdeu a cabeça, e, o que foi pior, com os apertos da saída perdeu igualmente a bengala, que lá deixou ficar com os ares de novo um chapéu comprado pela Páscoa.

No outro dia, o homem, que tinha seus hábitos antigos de comércio, viu-se em sérias dificuldades. Não podia deixar de acreditar, à vista da declaração da polícia, que o espetáculo da noite antecedente fora de graça; mas, ao mesmo tempo, tinha de dar saída no livro de despesas ao dinheiro que gastara com o aluguel do carro, com a gorjeta do boleeiro, com o par de luvas, com o buquê da Charton, o custo da bengala e o estrago do chapéu. Coçou a cabeça, tomou a sua pitada, e afinal escreveu o seguinte assento: Importe de um espetáculo gratuito no Teatro Provisório – 26$000!

O meu dilettanti ainda não sabia que a palavra grátis é um anacronismo no século XIX, e, quando se fala em qualquer coisa de graça, é apenas uma graça, que muitas vezes torna-se bem pesada, como lhe sucedeu. Provavelmente, depois deste dia, o velho lhe aditou ao seu testamento um codicilo proibindo terminantemente ao seu herdeiro os espetáculos gratuitos.

Assim a crônica futura desta heróica cidade consignará nas suas páginas que, pelo começo da primavera do ano de 1854, tivemos um divertimento de graça. Os nossos bisnetos, não falo dos militares de boca aberta , hão de pasmar quando lerem um acontecimento tão extraordinário, e, se nesse tempo ainda estiver em uso o latim, clamarão com toda a força dos pulmões: Miserabile dictu!

Depois de uma semelhante noite, era natural que os dias da semana corressem, como correram, monótonos e insípidos, e que o baile do Cassino estivesse tão frio e pouco animado. Entretanto aproveitei muito em ir, pois consegui perder as minhas antipatias pela valsa, a dança da moda. É
verdade que não era uma mulher que valsava, mas um anjo. Um pezinho de Cendrillon, um corpinho de fada, uma boquinha de rosa, é sempre coisa de ver-se, ainda mesmo em corrupios.

Fiz a amende honorable de minhas opiniões antigas, e, vendo nos rápidos volteios da dança voluptuosa passar-me por momentos diante dos olhos aquele rostinho iluminado por um sorriso tão ingênuo, não pude deixar de fazer uma comparação meio sentimental e meio cosmogônica, que talvez classifiqueis de original, mas que em todo o caso é verdadeira. Quando o mar, que Shakespeare disse ser a imagem da inconstância, revolveu o globo num cataclisma e cobriu a terra com as águas do dilúvio, foi uma pomba o emblema da inocência, que anunciou aos homens a bonança, trazendo no bico um raminho de oliveira. Se algum dia uma paixão de loureira vos revolver a alma, e deixar-vos o desgosto e a desilusão, há de ser um anjinho inocente como aquele quem vos anunciará a paz do coração, trazendo nos lábios o sorriso do amor o mais casto e mais puro.

Fonte:
ALENCAR, José de. Ao correr da pena. SP: Martins Fontes, 2004.

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Hermes Fontes (Caderno de Poesias)

ROSA

Rosa do meu Jardim, que ardes na minha Jarra,
filha do meu afã, mártir do meu amor!
Minha grande paixão egoísta te desgarra
as pétalas, te aspira o segredo interior.

Pois que estamos a sós — eu volúvel cigarra,
tu, borboleta rubra estacionada em flor —
deveras ter comigo uma folha de parra,
a fim de preservar-te a beleza e o pudor…

Pois que! tão nua assim, tão fresca e tão punícea,
rosa da Tentação, rosa da Impudicícia,
és o próprio Pecado: e há virtude em pecar…

— Pecar morrendo em ti, sangrando em teus espinhos,
remindo num Desejo os desejos mesquinhos,
gozando pelo Olfato e amando pelo Olhar…

JOGOS DE SOMBRAS

Sempre que me procuro e não me encontro em mim,
pois há pedaços do meu ser que andam dispersos
nas sombras do jardim,
nos silêncios da noite,
nas músicas do mar,
e sinto os olhos, sob as pálpebras, imersos
nesta serena unção crepuscular
que lhes prolonga o trágico tresnoite
da vigília sem fim,
abro meu coração, como um jardim,
e desfolho a corola dos meus versos,
faz-me lembrar a alma que esteve em mim,
e que, um dia, perdi e vivo a procurar
nos silêncios da noite,
nas sombras do jardim,
na música do mar…

MESSIANEIDA

São Francisco de Assis pregou aos pássaros,
e Santo Antônio aos peixes.
Mais corajoso do que São Francisco
e do que Santo Antônio,
Jesus pregou aos homens e às mulheres…

Perderam, todos eles, o seu tempo
e o seu sermão:
O mais sábio por certo,
o mais sábio de todos foi São João,
que pregou no deserto…

POUCO ACIMA DAQUELA ALVÍSSIMA COLUNA

Pouco acima daquela alvíssima coluna
que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
que, vendo-a, ou, vendo-a, sem, na realidade, a ver,
de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
de beijos — uns, sutis, em diáfano cristal
lapidados na oficina do meu Ser;
outros — hóstias ideais dos meus anseios,
e t o d o s cheios, t o d o s cheios
do meu infinito amor . . .
Taça
que encerra
por
suma graça
tudo que a terra
de bom
produz!
Boca!
o dom
possuis
de pores
louca
a minha boca
Taça
de astros e flores,
na qual
esvoaça
meu ideal!
Taça cuja embriaguez
na via-láctea do Sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais… e, a mais e mais, me dês
o teu delírio… a tua chama… a tua luz…

A CIGARRA

Não, orgulhosa! não, alma nobre e vadia,
nunca foste pedir migalha ao formigueiro!
Dessedenta-te o sol e te nutre a alegria
De viver e morrer cantando, o dia inteiro…

Que infâmia ires ao vizinho celeiro
tu, que tens o celeiro universal do Dia,
e preferes morrer queimada em teu braseiro
íntimo a renunciar a tua fantasia!

Não! tu és superior ao código e ao compêndio,
à Economia, ou à Moral. — Aristocrata,
crês que prever miséria é já um vilipêndio.

Primadona pagã do Jardim e da Mata,
trazes dentro em ti mesma, em teu constante incêndio,
a luz, que te alimenta e o fogo, que te mata…

TODOS TÊM SUA GLÓRIA…

Ó glória, glória triste, excelsa glória,
irmã do amor e da felicidade!
Visão miraginal da trajectória
curta de nossa curta Mocidade!

Só se logra alcançar-te, à merencória
luz, quando a alma de ti se dissuade
e não és mais o que és, pois a memória
do que foste, é que é gloria, de verdade.

O glória que eu julgava inatingível,
se és apenas a fama, e o amor é apenas
a posse corporal de urna mulher…

Que vos valeu penar as grandes penas
de sonhar que eras quase um impossível,
se és um sonho ao alcance de qualquer?!

PERFEIÇÃO

Tanto esforço perdido em ser perfeito!
Em ser superno, tanto esforço vão!
Sonho efêmero; acordo e, junto ao leito,
a mesma inércia, a mesma escuridão.

Vejo, através das sombras, um defeito
em cada cousa, e as cousas todas são,
para os meus olhos rútilos de eleito,
prodígios de impureza e imperfeição!

Fico-me, noite a dentro, insone e mudo,
pensando em ti, que dormes, esquecida
do teu amargurado sonhador…

Ali, Mas, se ao menos, imperfeito é tudo
salve-se, as mil imperfeições da vida,
a humilde perfeição do meu amor!

SUAVE AMARGOR

Sofrer é o menos, minha suave Amiga;
todos têm sua cruz ou seu cajado
— cruz de dor, ou cajado de dever…

Este é sereno; aquele se afadiga:
um, só pelo desejo contrariado,
outro, por esperar, sem nunca obter.

Tudo muda, dirás… Mas, certamente,
não muda a luz: — vem sempre do Nascente
para o mesmo calvário de Sol-Pôr!

Sofrer é o menos… A dificuldade
é sofrer sem protesto e sem rancor;
é morrer sem tristeza e sem saudade:

Morrer, de olhos em Deus, devagarzinho,
ciciando uma palavra de carinho
aos que vivem sem fé e sem amor…
––––––––––––––––––-

Fontes:
LEMOS. Wagner (seleção). Antologia Poética da Literatura Brasileira.
MIRANDA, Antonio. Poesia dos Brasis: Sergipe.

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Hermes Fontes (1888 – 1930)

Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Buquim, Sergipe, 28 de agosto de 1888 – Rio de Janeiro, a 25 de dezembro de 1930) foi um compositor e poeta brasileiro.

Filho de Francisco Martins Fontes e de Maria José de Araújo Fontes, foi para o Rio de Janeiro em 1898 e bacharelou-se em Direito, em 1911, pela então Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Fundou o jornal Estréia, com Júlio Surkhow e Armando Mota, em 1904, no Rio de Janeiro. Formou-se bacharel em direito, mas não exerceu a profissão. De 1903 ao final da década de 1930 colaborou em periódicos como os jornais Fluminense, Rua do Ouvidor, Imparcial, Folha do Dia, Correio Paulistano, Diário de Notícias e as revistas Careta, Fon-Fon!, Tribuna, Tagarela, Atlântida, entre outras. Foi também caricaturista do jornal O Bibliógrafo. No período, trabalhou como funcionário dos Correios e oficial de gabinete do ministro da Viação. Em 1913 publicou seu primeiro livro de poesia, Gênese. Seguiram-se Ciclo da Perfeição (1914), Miragem do Deserto (1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada Velada (1922) e A Fonte da Mata… (1930), entre outros. A poesia de Hermes Fontes é de estética simbolista.

O êxito como escritor, alcançado muito cedo, não trouxe benefício pessoal ao poeta. “Cantou, constantemente em suas obras, o sentimento idealizado do amor, mas suas relações amorosas eram inconstantes e traziam-lhe sempre, como saldo, uma amarga sensação de enjeitado”, escreve Costa Almeida. Hermes Fontes tampouco conseguiu realizar o sonho de entrar para a Academia Brasileira de Letras. Ele tentou cinco vezes. “De acordo com alguns imortais, seu físico era impróprio para um acadêmico: pequeno, 1,54m, cabeça grande demais, meio surdo e gago, além de extremamente feio”. O poeta conseguiu, contudo, entrar para a Academia Sergipana de Letras.

Poética

Hermes Fontes estreou com o livro Apoteoses. Tinha 19 anos e obteve amplo reconhecimento do seu talento. Dele disse o poeta Olavo Bilac: “É Hermes Fontes um moço, quase um menino cujo livro Apoteoses é uma revelação de força lírica”. O livro influenciará a poesia brasileira no começo do século 20.

O poeta teve sua obra marcada por uma temática obsessiva, a equivalência entre a vida e a morte. “E o voluntário exílio me afigurara/Que ando seguindo o próprio enterramento/E abrindo, em vida, a própria sepultura…”, escreveu de forma premonitória.

“A vida definida por Hermes Fontes”, escreve Almeida Costa, “é o espaço de desagregação do ser; tem o sabor da existência em que os pesares apenas se alteram”.

Ao longo da sua obra, o poeta se dedicou a temas universais, inclusive política, revelando-se, em algum momento, seguidor de idéias anarquistas. “Mas Hermes Fontes se mostra melhor poeta quando trata de assuntos interiores, quando fala de amor e de desilusões pessoais”.

Suicidou-se no Rio de Janeiro, em 1930, aos 42 anos.

Fontes:
Wikipedia
http://www.webartigos.com/articles
http://www.sergipe.com.br/

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Lygia Fagundes Telles (A Caçada)

Tapeçaria (Companheiros de Caçada)
A Loja de antigüidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou vôo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.

– Bonita imagem- disse ele.

A velha tirou um grampo do coque e limpou a unha do polegar.

– É um São Francisco.

Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.

– Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso…Pena que esteja nesse estado.

O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.

– Parece que hoje está mais nítida…

– Nítida?- Repetiu a velha, pondo os óculos. Deslizou a mão pela superfície puída- Nítida, como?

– As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?

A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas.O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.

– Não passei nada, imagine…Por que o senhor pergunta?

– Notei uma diferença.

– Não, não passei nada, essa tapeçaria não aguenta a mais leve escova, o senhor não vê? Acho que é a poeira que está sustentando o tecido – acrescentou, tirando novamente o grampo da cabeça. Rodou-se entre os dedos com ar pensativo. Teve um muxoxo: – Foi um desconhecido que trouxe, precisava muito de dinheiro. Eu disse que o pano estava por demais estragado, que era difícil encontrar um comprador, mas ele insistiu tanto…Preguei aí na parede e aí ficou. Mas já faz anos isso. E o tal moço nunca mais me apareceu.

– Extraordinário…

A velha não sabia agora se o homem se referia à tapeçaria ou ao caso que acabara de lhe contar. Encolheu os ombros. Voltou a limpar as unhas com o grampo.

– Eu poderia vendê-la, mas quero ser franca, acho que não vale à pena. Na hora que se despregar, é capaz de cair em pedaços.

O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! Em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?…

Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontado para uma touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta, cujo rosto se reduzira a um esmaecido contorno. Poderoso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta.

O homem respirava com esforço. Vagou o olhar pela tapeçaria que tinha a cor esverdeada de um céu de tempestade. Envenenando o tom verde-musgo do tecido, destacavam-se manchas de um negro-violáceo e que pareciam escorrer da folhagem, deslizar pelas botas do caçador e espalhar-se pelo chão como um líquido maligno. A touceira na qual a caça estava escondida também tinha as mesmas manchas e que tanto podiam fazer parte do desenho como ser simples efeito do tempo devorando o pano.

– Parece que hoje tudo está mais próximo- disse o homem em voz baixa.- É como se… Mas não está diferente? A velha firmou mais o olhar. Tirou os óculos e voltou a pô-los.

– Não vejo diferença nenhuma. – Ontem não se podia ver se ele tinha ou não disparado a seta…

– Que seta? O senhor está vendo alguma seta?

– Aquele pontinho ali no arco…

A velha suspirou.

– Mas esse não é um buraco de traça? Olha aí, a parede já está aparecendo, essas traças dão cabo de tudo- lamentou disfarçando um bocejo. Afastou-se sem ruído, com suas chinelas de lã. Esboçou um gesto distraído: – Fique aí à vontade, vou fazer o meu chá.

O homem deixou cair o cigarro. Amassou-o devagarinho na sola do sapato. Apertou os maxilares numa contração dolorosa. Conhecia esse bosque, esse caçador, esse céu- conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada! Quando? Percorrera aquela mesma vereda, aspirara aquele mesmo vapor que baixava denso do céu verde…Ou subia do chão? O caçador de barba encaracolada parecia sorrir perversamente embuçado. Teria sido esse caçador? Ou o companheiro lá adiante, o homem sem cara espiando entre as árvores? Uma personagem de tapeçaria. Mas qual? Fixou a touceira onde a caça estava escondida. Só folhas, só silêncio e folhas empastadas na sombra. Mas, detrás das folhas, através das manchas pressentia o vulto arquejante da caça. Compadeceu-se daquele ser em pânico, à espera de uma oportunidade para prosseguir fugindo. Tão próxima a morte! O mais leve movimento que fizesse, e a seta… A velha não a distinguira, ninguém poderia percebê-la, reduzida como estava a um pontinho carcomido, mais pálido do que um grão de pó em suspensão no arco.

Enxugando o suor das mãos, o homem recuou alguns passos. Vinha-lhe agora uma certa paz, agora que sabia Ter feito parte da caçada. Mas essa era uma paz sem vida, impregnada dos mesmos coágulos traoçoeiros da folhagem. Cerrou os olhos. E se tivesse sido o pintor que fez o quadro? Quase todas as antigas tapeçarias eram reproduções de quadros, pois não eram? Pintara o quadro original e por isso podia reproduzir, de olhos fechados, toda a cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada, só músculos e nervos apontando para a touceira…”Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?”

Apertou o lenço contra a boca. A náusea. Ah, se pudesse explicar toda essa familiaridade medonha, se pudesse ao menos…E se fosse um simples espectador casual, desses que olham e passam? Não era uma hipótese? Podia ainda Ter visto o quadro no original, a caçada não passava de uma ficção. “Antes do aproveitamento da tapeçaria…”- murmurou, enxugando os vãos dos dedos no lenço.

Atirou a cabeça para trás como se o puxassem pelos cabelos, não, não ficara do lado de fora, mas lá dentro, encravado no cenário! E por que tudo parecia mais nítido do que na véspera, por que as cores estavam mais fortes apesar da penumbra? Por que o fascínio que se desprendia da paisagem vinha agora assim vigoroso, rejuvenescido?…

Saiu de cabeça baixa, as mãos cerradas no fundo dos bolsos. Parou meio ofegante na esquina. Sentiu o corpo moído, as pálpebras pesadas. E se fosse dormir? Mas sabia que não poderia dormir, desde já sentia a insônia a segui-lo na mesma marcação da sua sombra. Levantou a gola do paletó. Era real esse frio? Ou a lembrança do frio da tapeçaria? “Que loucura!… E não estou louco”, concluiu num sorriso desamparado. Seria uma solução fácil. “Mas não estou louco.”

Vagou pelas ruas, entrou num cinema, saiu em seguida e, quando deu acordo de si, estava diante da loja de antigüidades, o nariz achatado na vitrina, tentando vislumbrar a tapeçaria lá no fundo. Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos na escuridão. A voz tremida da velha parecia vir de dentro do travesseiro, uma voz sem corpo, metida em chinelas de lã: “Que seta? Não estou vendo nenhuma seta…”Misturando-se à voz, veio vindo o murmurejo das traças em meio das risadinhas. O algodão abafava as risadas que se entrelaçavam numa rede esverdinhada, compacta, apertando-se num tecido com manchas que escorreram até o limite da tarja. Viu-se enredado nos fios e quis fugir, mas a tarja o aprisionou nos seus braços. No fundo, lá no fundo do fosso podia distinguir as serpentes enleadas num nó verde-negro. Apalpou o queixo. “Sou o caçador?” Mas ao invés da barba encontrou a viscossidade do sangue.

Acordou com o próprio grito que se estendeu dentro da madrugada. Enxugou o rosto molhado de suor. Ah, aquele calor e aquele frio! Enrolou-se nos lençóis. E se fosse o artesão que trabalhou na tapeçaria? Podia revê-la, tão nítida, Tão próxima que, se estendesse a mão, despertaria a folhagem. Fechou os punhos. Haveria de destruí-la, não era verdade que além daquele trapo detestável havia alguma coisa mais, tudo não passava de um retângulo de pano sustentado pela poeira. Bastava soprá-la, soprá-la!

Encontrou a velha na porta da loja. Sorriu irônica:

– Hoje o senhor madrugou.

– A senhora deve estar estranhando, mas…

– Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, o senhor conhece o caminho…

“Conheço o caminho”- murmurou, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as narinas. E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E porque a loja foi ficando embaraçada, lá longe? Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto, engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas. Quis retroceder, agarrou-se a um armário, cambaleou resistindo ainda e estendeu os braços até a coluna. Seus dedos afundaram por entre galhos e resvalaram pelo tronco de uma árvore, não era uma coluna, era uma árvore! Lançou em volta um olhar esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de carvalho. Em redor, tudo parado.Estático. No silêncio da madrugada, nem o piar de um pássaro, nem o farfalhar de uma folha. Inclinou-se arquejante. Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?…Comprimiu as palmas das mãos contra cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o lábio gretado.

Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!

“Não…”- gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.

Fontes:
TELLES, Lygia Fagundes. Antes do Baile Verde.
Imagem = http:// www.dogtimes.com.br/idademedia.htm

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Antonio Brás Constante (Meu Vizinho Extraterrestre)

…A probabilidade de não estarmos sozinhos ganha força a cada dia, tanto que até o vaticano já anda admitindo esta possibilidade. Caso isto realmente venha a se comprovar, muitas coisas vão acabar mudando por aqui. A começar pela tecnologia, pois finalmente poderemos viajar pelo universo graças aos avanços tecnológicos recebidos de seres extraterrestres, ou pelo menos porque eles vão acabar concordando em colocar um ponto de ônibus ou de táxi espacial aqui no nosso orbe azul.

Nessas viagens interestelares, é sempre bom conferir se você terá como pagar pela corrida, pois em caso de calote o taxista poderá acabar comendo você (literalmente). Poderemos pressupor que o turismo será bem diversificado. Para os naturalistas, ao invés de se ir a uma praia de nudismo, haverá planetas de nudismo, com preços que deixarão qualquer vivente peladinho. Os aventureiros poderão ir fazer um safári em um sistema solar selvagem, onde primeiro se disputa no cara-e-coroa quem vai ser a caça e o caçador.

Vivemos em um cantinho isolado e pacato da galáxia, quase como se estivessemos em um ranchinho bem afastado das grandes metrópoles, e como possivelmente ainda não dispomos de algo que realmente desperte o interesse de qualquer civilização estelar a ponto de eles quererem puxar conversa conosco, o jeito é esperar. Ao menos até avançarmos o suficiente no ramo da genética para conseguir clonar a Gisele Bündchen, dispondo assim de uma inigualável moeda de troca com outros seres inteligentes (que mesmo se não for à moeda de maior valor no universo, ainda assim tenderá a ser a mais bonita).

Para as religiões, de um modo geral, um contato com novas civilizações será uma ótima chance de aumentar o número de fiéis. Por outro lado às inúmeras crenças que já não se entendem aqui terão de aprender a conviver com infinitas outras crenças de origem interplanetária. Em todo caso, é sempre bom e saudável pregar que é extremamente pecaminoso a qualquer raça alienígena o consumo de carne humana.

O sistema político também mudará, pois necessitaremos de um governante mundial para tratar dos assuntos em terras além-vácuo. Se os alienígenas forem realmente inteligentes, vão influenciar neste tipo de decisão, evitando que o eleito seja aquele que possuir a maior coleção de bombas, optando por alguém que se mostre disposto a pensar no bem-estar de todos.

Enfim, a confirmação de vida alienígena inteligente e avançada, com certeza trará muitas mudanças em nosso modo de agir, pensar e viver. Porém, na eventualidade de se ocorrer este contato, o mais importante agora é ficarmos na torcida para que ele aconteça de um jeito totalmente diferente daquele que ocorreu na própria história da humanidade, quando o homem então no papel de desbravador, trouxe junto com o descobrimento de novas terras, as doenças, a miséria, as guerras, e tantas outras desgraças para os povos nativos que tiveram a infelicidade de se deparar com eles. Pois tudo isto, infelizmente, nós já temos.

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

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Antonio Brás Constante (O Homem atrás do escritor. O escritor atrás do homem)

Em sua terceira entrevista da série O homem atrás do escritor, o escritor atrás do homem. A mulher atrás da escritora, a escritora atrás da mulher, o Singrando Horizontes entrevistou o escritor Antonio Brás Constante, natural de Porto Alegre. Residente em Canoas/RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas idéias, seus pontos-de-vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

A.B. Constante: Antes de iniciar, gostaria de frisar aos que forem continuar lendo esta singela entrevista, que sou um escritor meio fora dos padrões convencionais ao termo (por isso mesmo definido como eterno aprendiz de escritor), por isso lhes peço, não me desejem mal…

INFANCIA E PRIMEIROS LIVROS

Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.

Parafraseando o Analista de Bagé, posso dizer que minha infância foi normal, o que não aprendi no galpão, aprendi atrás do galpão. Nasci em Porto Alegre e me perdi por Canoas, onde cresci. Me formei em Ciência da Computação, mas daí me apaixonei perdidamente pela escrita, e passei a ser seu escravo, transcrevendo os delirios que esta Diva sussura em minha mente.

Como era a formação de um jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?

Não existiam computadores, algo que pode parecer meio pré-histórico para essa gurizada hi-tech, mas não vejo tanta diferença para os dias de hoje (também não sou tão velho assim), no fim tudo se resume a querer aprender, pois no nosso mundo ou você aprende enquanto é novo ou alguém te prende depois.

Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Sim, meu maior estímulo foi ser péssimo em futebol, algo que me deu bastante tempo livre para me dedicar aos livros.

Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever.

Foram muitos, mas a série “para gostar de ler” foi bem importante para mim nessa época.

Antonio Bras Constante, Escritor

Fale um pouco sobre sua trajetória literária. Como começou a vida de escritor?

Minha vida literária se dividiu em duas partes. Na primeira etapa (fase adolescente) escrevi alguns textos na época do segundo grau (era assim chamado naqueles tempos), buscando melhorar minhas notas nas aulas de português, acabei gostando muito de escrever, mas tão logo concluí os estudos parei, adormecendo o escritor que dentro de mim existia. Somente ao final da faculdade voltei a escrever (quase quinze anos depois), graças ao empurrão de um grande amigo chamado Zé Gadis, que era chargista. A coisa começou como uma brincadeira, ele desenhava caricaturas dos colegas de empresa e eu fazia as mensagens para os cartões de aniversário. Aos poucos fui me viciando no ato de escrever, e não parei mais.

Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Foi estranho, tanto que até hoje me defino como um eterno aprendiz de escritor. Não me intitulo como escritor profissional, porque acho que isso acarreta uma responsabilidade muito grande, e não gosto de sentir este tipo de obrigação nas costas, como um fardo. Por isso prefiro ser um aprendiz, poder ousar, errar, viajar, tratando a arte de escrever como uma deliciosa brincadeira.

Teve a influência de alguém para começar a escrever?

Além do meu amigo Gadis, do qual já citei antes, também tive as influências literárias de escritores como: L. V. Verissímo, Barão de Itararé e Douglas Adams.

Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?

Sim, todos os meus textos publicados estão disponíveis no site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Viver de literatura?? Rsrsrs… isso existe?? Rsrss. Falando sério, na verdade eu tento dar vida a literatura, mas não sobrevivo dela. Algo que me chama a atenção neste País é que muitos leitores tem preconceito com a literatura nacional. São pessoas que consomem tudo que vem de fora, mas torcem o nariz para o que é produzido aqui.

Como foi que você chegou à poesia?

Para mim a poesia é como um arrepio de frio, um bocejo, um tropeção em uma pedra, chega sem aviso e se vai sem explicação. Para não perder a viagem acabo escrevendo o que senti naquele momento, mas não sou exatamente um poeta.

SEUS LIVROS E PREMIOS

Como começou a tomar gosto pela escrita?

Quando comecei a rir do que escrevia, acho que o primeiro ponto para alguém se tornar escritor é gostar daquilo que escreve.

Em que você se inspirou em seus livros?

No cotidiano, temperando situações do dia-a-dia com pitadas de humor.

Como definiria seu estilo literário?

Posso dizer que meu estilo literário ainda encontra-se em construção…

Dentre os livros escritos por você, qual te chamou mais atenção? E por quê?

Foi o livro “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE” que por ter sido o único até o momento, me chamou a atenção por total falta de opções.

Que acha de sua obra?

Fiz um livro que eu gostaria de ler se fosse outra pessoa, e olhando a obra desta forma posso dizer que considero este livro, como um filho textual. É um livro que apesar de não seguir o mesmo estilo literário dos livros da Bruna Surfistinha, também é cheio de gozação.

Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Posso dizer sem sombra de dúvidas, que se não fosse a internet, meu trabalho como escritor praticamente não existiria.

Tem prêmios literários?

Sim, fui vencedor do oitavo concurso de poesias, contos e crônicas, na categoria crônicas. Prêmio oferecido pela fundação cultural de Canoas. Também ganhei uma mochila cheia de chocolates BIS em uma promoção de frases da Nestlé.

CRIAÇÃO LITERÁRIA

Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial ?

Na realidade, para me inspirar a situação ideal seria poder relaxar em uma sauna com aproximadamente umas cinco beldades seminuas ao meu redor, mas como minha esposa desencoraja este tipo de “ambiente” para mim, argumentando silenciosamente com seu rolo de macarrão em punho, venho me contentando com um tempinho livre em qualquer lugar mesmo, onde possa rabiscar ideias para depois colocá-las no micro.

Você projeta os seus livros? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema narrativo antes? Como é que você concebe os livros?

Não escrevo romances, mas as ideias sobre novos textos vem em golfadas dentro da minha cabeça, depois coloco tudo no papel (entenda-se “papel” o editor de texto) e vou aprimorando o texto até ficar de um jeito que acho interessante.

Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

Acho que sem vocação, não haveria prazer em escrever e consequentemente a pessoa não seguiria por este caminho, ou se seguisse, não seria por muito tempo.

Como surge o momento de escrever um livro?

O momento certo para se escrever um livro é quando uma editora cai do céu e se propõe a publica-lo. Se isto não acontecer, tente conseguir alguma verba para pagar a editora, e o resultado será o mesmo.

Quanto tempo você leva escrevendo um livro?

Deixe-me ver… Escrevo um novo texto a cada semana, meus livros tem em média 28 textos, ou seja, levo em torno de sete meses para ter material suficiente para um novo livro.

Como foi o processo de pesquisa para a escrita de seus livros?

Alguns textos realmente precisam de pesquisa, algo que poderia ser feito em várias bibliotecas ou utilizando o Google. Considero a pesquisa essencial para dar profundidade ao texto e para não escrever minhas “pérolas textuais” de forma equivocada.

No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

Tudo depende do que a pessoa vai querer escrever. Eu, por exemplo, adoro ler gibis (considerados por muitos como porcarias), sou fã de tirinhas de jornal, e sempre que tenho tempo dou uma olhadinha no Big Brother Brasil.

O ESCRITOR E A LITERATURA

Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?

Sou um curioso nato, gosto de sempre que possível experimentar coisas novas, comidas diferentes, autores diferentes, lugares diferentes. Vou aproveitar este espaço para divulgar o trabalho de um mestre-poeta que conheci ao acaso no mundo virtual, o Dário Banas (http://estranhamobilia.blogspot.com/ ). Suas poesias são fantásticas.

Na sua opinião, o livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

É dificil opinar sobre o que seriam livros “obrigatórios”, já que sou adepto da leitura espontanea. Acho que se um autor consegue cativar um leitor, sua leitura já deveria ser desejada e incentivada, pois teria o seu mérito.

Qual o papel do escritor na sociedade?

Com certeza seria um papel escrito. Rsrsrs. O escritor é aquele sujeito que cutuca o outro, chamando sua atenção para uma outra realidade. É função do escritor abrir as janelas da imaginação para que as pessoas possam olhar o mundo e viajar por ele.

Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Claro que há, sempre tem alguma gaveta vazia em algum lugar. Mas o melhor lugar para se guardar a boa poesia é dentro dos compartimentos de nossas mentes. A poesia não é um almoço que se come religiosamente todo santo dia, mas uma fruta suculenta que é sorvida, e escorre seu néctar pela boca, deliciosamente, saciando nossa fome poética.

A PESSOA POR TRÁS DO ESCRITOR

O que o choca hoje em dia?

Quando percebo que a insensibilidade anda tomando conta do mundo, de tal forma que nada mais parece chocar, confesso que fico chocado.

O que lê hoje?

Além das tradicionais bulas de remédio, cuja leitura é indispensável para uma vida saudável, leio o que me cai nas mãos, terminei há pouco de ler o livro “Ensaio sobre a cegueira” do Saramago. Por enquanto estou apenas na companhia das revistas e suas reportagens criativas.

Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Atualmente ando respondendo um questionário sobre literatura da melhor forma possível, e confesso que estou adorando. Fico na torcida para que meu amigo virtual, José Feldman, publique estas minhas respostas espontâneas em seu portal. Não possuo outros projetos.

De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?

Toda raiz cultural começou através de uma veia popular, a cultura nasce no seio da população, enriquece e muitas vezes acaba elitista. Acho que a globalização é um bom instrumento de fomentar e divulgar a cultura, de termos contato com outras culturas.

CONSELHOS PARA OS ESCRITORES

Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

Querer se consagrar como escritor é o mesmo que se lançar ao oceano buscando chegar a uma ilha repleta de tesouros, voce nada, nada e muitas vezes não acontece nada. Se desistir, ou se afoga, ou a maré te leva de volta para o anonimato de onde saiu. Por isso quero dizer para quem quiser começar a escrever, que escreva por prazer, sem querer visualizar um horizonte. Escreva pelo mesmo motivo que respira, para viver. A melhor recompensa para quem escreve é gravar para eternidade seus pensamentos, suas ideias, suas loucuras. O resto é pura consequencia.

O que é preciso para ser um bom poeta?

Entendo que a poesia é uma forma de dança onde as frases ocupam o lugar dos movimentos. Não se escreve uma poesia para que ela seja “bonitinha”, a poesia é a essência dos sentimentos, derramados no papel de um jeito ritmado.

Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? Outros trabalhos culturais, opiniões, crítica, etc.

Estou distribuindo meu livro em PDF gratuitamente para quem quiser conhecer a obra, basta me enviar um e-mail para : abrasc@terra.com.br e pedir uma cópia.

E para encerrar a entrevista

Quero agradecer a iniciativa do Feldman em ceder este espaço para que os escritores possam falar um pouco sobre suas obras e divulgá-las. Deixo aqui registrado meu muito obrigado.

Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?

PRIMEIRO pediria que ele aumentasse a dose de humanidade nos seres que se definem como humanos.

SEGUNDO Pediria a ele que largasse este bico de gênio realizador de desejos e voltasse a trabalhar em prol do mundo, já que depois do sexto dia (ele parou para descansar no sétimo) as coisas andaram piorando bastante por aqui.

TERCEIRO pediria para ele sair um pouco para o lado (já que ele estaria parado na minha frente) para que eu pudesse terminar de ver na televisão a sua maior obra, o seriado de “Os Simpsons”.

Fonte:
Entrevista Virtual realizada por José Feldman para o Singrando Horizontes.

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Francisco J.C. Dantas (Os Desvalidos)

Irremediáveis são as mazelas e infortúnios vividos pelos personagens de os esvalidos, segundo romance de Francisco Dantas (Companhia das Letras, 222 páginas, 1993). Eles cumprem uma sina que os iguala, “conforme o quilate de cada um.” O título já contém o prefixo de negação de uma vida digna, pois “desvalidos” são aqueles que não têm valimento, ou que não têm valia: uns pobres desgraçados.

Assim é Coriolano, que tem no nome a metáfora de sua condição miserável de vida, condição esta animalizada – lembrando o couro do animal que fornece a matéria-prima para o seu mísero sustento na confecção de tamancos. Ele sempre se perguntava quem fora o culpado do trompaço que entortava sua vida tão bem encaminhada. Sina talvez seja a palavra-chave do romance. Pois não cumprem um destino melhor outros desvalidos. O caso de tio Filipe é exemplar. O nome revela sua vocação para “amigos de cavalos”. Sempre vitoriosos em suas andanças, acaba também sendo arrastado para o infortúnio, cumprindo um destino rumo à anulação. Ele é casado com Maria Melona, uma espécie de Diadorim que se traveste em homem para entrar no bando de Lampião e, com isso, tentar encontrar também sua identificação feminina.

Até mesmo os personagens históricos despencam desse precipício, como é o caso de Lampião. Quando um personagem anuncia: “Lampiãããão Morreeeeeu!…”, no início do romance, anuncia também o fim de uma época marcada pela violência e desatinos. Para esta galeria de pobres diabos, o autor oferece uma “vidinha caipora”. Para cada um a vida revela um punhado de desgraça sem a possibilidade de um futuro promissor. “É a Sina que iguala todos nós”. Ou “Pose, minha gente, quem tira e bota é o Zinabre do dinheiro! O resto é conversa fiada”, no dizer angustiado do próprio Coriolano.

Regionalismo

Francisco Dantas estreou na literatura em 1991 com o romance “Coivara de Memória”. Dois anos depois surpreendeu com estes Os Desvalidos, em que retoma a tradição do romance regional do Nordeste. Optou por uma literatura realista, pretendendo testemunhar o mundo cotidiano, informar sobre hábitos e tradições populares da região nordestina e principalmente falar dos problemas humanos sociais mais agudos. Como diz Alfredo Bosi, na orelha do livro “esculpir a figura da dignidade na matéria do sertanejo nordestino” é o objetivo do narrador. Nos rastros de Guimarães Rosa, “a sua prosa alcança o equilíbrio árduo entre a oralidade da tradição, cujos veios não cessam perseguir, e uma dicção empenhadamente literária que modula o fraseado clássico até os confins da maneira”. O romance, escrito com os termos próprios da região do Nordeste vai se desenvolvendo com cenas fortes, mostrando a vida trágica e miserável da região.

É pertinente associar Os desvalidos com Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Como este, apresenta uma estrutura moderna, dominada pela força da estória fascinante. O trabalho apurado com a linguagem, o uso do discurso indireto livre, a queda da linearidade do enredo e a capacidade de entrar na psicologia do rústico são algumas das peculiaridades que aprisionam o leitor que, sem escolha, também cumpre uma sina: se embevecer, exercitar sua reflexão e apurar sua sensibilidade, o que resulta numa tarefa agradável.

FRANCISCO J. C. DANTAS

Francisco J. C. Dantas é de origem rural; nasceu no engenho do avô em Riachão do Dantas e só entrou na Universidade aos 30 anos, quando já era casado e pai de uma menina. É arredio e reservado. Escritor do seu chão, sempre conviveu indiscriminadamente com bichos e livros. Autodidata, foi menino de bagaceira, diretor de escola, cavaleiro de pastos solitários, tabelião, foleador de formiga pelas madrugadas, caçador de alguns viventes noturnos e diurnos – fotógrafo. Montou laboratório apenas para reter a memória dos tempos que findavam; daí que tentasse evitar que amarelassem, agarrando-os na palavra. É árvore de raiz funda e só deixou o Sergipe para mestrado e doutoramento; de uma feita voltou com tese sobre Osman Lins e, de outra, sobre Eça de Queiroz. É professor na Universidade mas peleja mais com animais que com gente; na roça tem criatório de bichos miúdos e graúdos, para os quais ouvido e faro são sempre apurados. Tem publicado contos e ensaios em revistas especializadas. Lançou ainda dois romances pela Companhia das Letras, “Cartilha do Silêncio” (1997) e “Os Desvalidos” (1993). Recebeu em 2000 o Prêmio Internacional União Latina de Literaturas Românicas.

Fonte:
Professor Wagner Lemos

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Universidade de Passo Fundo/RS (Projeto Livro do Mês – 2010)


Realizado desde 2006, o Projeto Livro do Mês, em parceria com a Prefeitura Municipal de Passo Fundo, Editoras dos autores presentes, SESC Passo Fundo e escolas públicas e particulares de Passo Fundo e região

Agendamento da participação de alunos e professores nos seminários, favor entrar em contato pelo telefone (54) 3316-8148 (Mundo da Leitura).

SEMINÁRIOS

Março
24, 25 e 26/03

O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta
Joel Rufino dos Santos
Editora Moderna

24/03 – Letras
25/03 – SME – SESC
26/03 – SESC (escolas públicas e particulares)

Abril
27, 28 e 29/04

Um livro de horas
Emily Dickinson (Ângela Lago)
Editora Scipione

27/04 – Letras
28/04 – SME – SESC
29/04 – SESC (escolas públicas e particulares)

Maio
26, 27 e 28/05

Kina, a surfista
Toni Brandão
Editora Melhoramentos

26/05 – Letras
27/05 – SME – SESC
28/05 – SESC (escolas públicas e particulares)

Junho
21, 22 e 23/06

De carona, com Nitro
Luis Dill
Editora Artes e Ofícios

21/06- Letras
22/06 – SME – SESC
23/06 – SESC (escolas públicas e particulares)

Agosto
30, 31 e 01/09

Cidades dos deitados
Heloísa Prieto
Edições Sesc SP / Editora Cosac Naify

30/08 – Letras
31/08 – SME – SESC
01/09 – SESC (escolas públicas e particulares)

Setembro
22, 23 e 24/09

Enigmas de Huasao: uma história peruana
Luciana Savaget
Editora Global

22/09 – Letras
23/09 – SME – SESC
24/09 – (escolas públicas e particulares)

Outubro
27, 28 e 29/10

Alma de fogo: um epsódio imaginado de Álvares de Azevedo
Mario Teixeira
Editora Ática

27/10 – Letras
28/10 – SME – SESC
29/10 – (escolas públicas e particulares)

Novembro
18 e 19/11

Dá pra acreditar?
Luís Pescetti SM

18/11 – Letras
19/11 – SME – SESC

Fonte:
Colaboração da Universidade de Passo Fundo

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Associação Canoense de Escritores (Atividades)

OFICINA DE CRÔNICAS

Dia: 26 de janeiro de 2010
Hora: 14 horas
Local: Parque Eduardo Gomes (galpão 5)
Proponente: Associação Canoense de Escritores
Oficineiros: ETEVALDO SILVEIRA e NEIDA ROCHA
capacidade: 30 lugares

OFICINA DE POEMAS

Dia: 26 de janeiro de 2010
Hora: 17 horas
Local: Parque Eduardo Gomes (galpão 5)
Proponente: Casa do Poeta de Canoas
Oficineiros: ANCILA DANI MARTINS e MARI REGINA RIGO
capacidade: 30 lugares
—————–

Fontes:
Colaboração de Neida Rocha
Fotomontagem = José Feldman

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Walcyr Carrasco (Pinga-pinga de pinguço)

Um passeio nas vans que circulam de bar em bar

Bares do Itaim, Jardins e Pinheiros andam oferecendo um serviço exclusivo para bebuns. É uma van que os leva até em casa. Trata-se, com o perdão de um trocadilho, de um pinga-pinga de pinguços. As vans circulam de bar em bar. arrebanhando os etílicos, durante a madrugada.

Desde que o novo Código de Trânsito entrou em vigor, a polícia anda rondando perto dos bares, bafômetro a postos, em busca de motoristas infratores. Com as vans, os bares garantem faturamento. Os clientes podem mergulhar nos copos, sem depois arriscar a pele no asfalto. Serviços semelhantes já existem na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Raramente tomo umas e outras. Soube, entretanto. que o clima nas vans é animadérrimo. Imaginem seis bêbados indo para casa. A van estaciona para pegar o sétimo, em novo bar. Descem os seis primeiros.

E aí, que tal a saideira?

Dá-lhe! O inocente que saiu para tomar um ou dois uísques entra na animação. Acorda embaixo do balcão de uma padaria. Também são freqüentes os tipos belicosos e as discussões capazes de resolver o problema do futebol brasileiro.

Eu já disse que o Ronaldinho…

Ah, nego vem falar do Ronaldinho! Não vem! Nãããão veeeeem!

O Ronaldinho? O Ronaldínho?

Sóbrio por necessidade profissional. o motorista tenta aplacar os animos.

-Ô, pessoal, o Ronaldinho joga um bolão.

Os seis se unem.

– Cala a boca!

O coitado silencia. Abre a janela. É obrigado a dirigir a madrugada toda de vidro abaixado. Até o ar está impregnado. Se respirar mais fundo, fica de fogo.

Mais uma parada, entra um rapaz. Tomou só um ou dois goles.

– Eu sozinho. Lembrei da van. Que negócio é esse de ir para casa tão cedo?

Novo tropel. No veículo. fica só um, desmaiado, lá no fundo. Os outros descem, atrás de nova rodada. A van é ideal para fazer amizades. Há quem chegue até mais longe.

A senhora não está bêbada! – desconfia o motorista.

Ela afina a voz, bambeia as pernas.

– Estou bebinha, sim!

Consegue entrar. Aperta-se entre todos. Examina um por um, com o olhar esperto. Um está bêbado demais. Outro, passado da idade. O terceiro, sim, serve! Tem perfil de executivo. Ela afia as garras. Ele nem desconfia., quando descem no mesmo prédio. Sobem juntos no elevador, aterrissam no mesmo andar. Começa a ficar cabreiro quando, após várias tentativas, consegue botar a chave na porta e percebe que ela o espera. Não há tempo para perguntas. Ela entra depressa, vai até o bar e prepara dois uísques. Ele cai duro no sofá. Consegue erguer uma das pestanas meia hora depois.

Quem é você? – pergunta, trêmulo.

Você me convidou para um uísque! – ela retruca, revoltada.

O executivo vasculha o cérebro. Não consegue lembrar. Mas deve ter convidado. Senão, por que ela estaria em sua sala? Bebe mais uma dose para acordar e desmaia. Na semana seguinte, ela já está falando em casamento. Ele continua não se lembrando de nada.

Também existem alpinistas sociais. Como o sujeito que mora na periferia. Quer chegar em casa de carro. A maior parte dos bares adota limites mínimos de consumo, para dar direito a carona. Ele bebe o mínimo. Depois, exige que o levem para a casa. O motorista quase cai nas barrancas do Tietê para chegar até lá. O falso bebum desce alegremente. Os amigos, admirados.

-Tu tá por cima. hein, malandro? Chegando em casa de chofer!

Sorri, vitorioso. Sai mais barato do que táxi. O bêbado desmemoriado é uma tragédia.

O senhor não se lembra do endereço?

Eu aaaaaaaaaacho que é virando aquela rua…

Toca a vasculhar quarteirões.

Certo tipo de bebum não vai de van. É o imprevidente, que saiu de casa em seu próprio carro. O bar oferece o motorista. que dirige para o cliente. Mas bêbado detesta terminar a noite sozinho.
Soooobe aí. Veeeem tomar uma comigo.

Sinto muito. A van do bar vem me pegar em meia hora, esquiva-se o motorista.

Soooobe só meia hooora.

O chofer acaba mais bêbado do que o cliente. Quando a van chega, está cantando na sarjeta. Há quem possa se espantar com a idéia. É uma medida civilizada. Com este calor, poucos resistem a um chope, ou a dois, a três, quatro… Ficam a salvo pedestres e postes!

Fonte:
Revista VEJA. São Paulo. 11 de março 1998.

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Izabel Leão (O Galo Chico)

Recolhendo fragmentos no baú de minhas memórias fui trazendo lembranças a tanto esquecidas que foram narradas por meu pai, ainda vivo, e que tem muita coisa pra contar.

Sempre que o visito em Bauru, cidade onde nasci e por lá fiquei até meus trinta e pouco anos, ele passa a rememorar seus arquivos antigos e me brindar com histórias que só quem viveu é capaz de contar.

A que mais me recordo é sobre um tal galo de estimação, que tanto ele gostava e que para sua tristeza era manco com defeito em uma das pernas.

Foi em São Manoel, cidade próxima a Bauru, que papai nasceu e lá viveu sua infância simples e humilde. Ele conta que sempre que voltava da escola correndo e esbaforido gritava já da calçada: Chico, cadê você? Vem cá Chico!!!!! Chico! Chico! E lá vinha o Chico correndo e mancando pelo quintal atrás daquele que o chamava e ele nem sabia o porquê.

Papai tinha certeza que ele era o único na família que prezava tanto o Chico. “Eu tinha dó do pobre galo. Peguei carinho por ele”, diz condoído.

Como nada na vida que a gente ama dura pra sempre, assim também foi com o querido galo Chico.

Um dia papai chega da escola e grita: Chico! Vem cá. Grita mais uma vez: Chico! vem cá. Cadê você!!! E grita mais uma centena de vezes e nada do Chico aparecer. Ele achou estranho, e preferiu pensar que o galo estivesse em algum momento melancólico e não quisesse brincar. Exclamou: “Deixa pra lá!”

Na hora do jantar, o cheiro apetitoso da comida da vovó Izabel, do qual o meu nome originou-se, faz meu pai sair correndo para a mesa garantir um naco daquilo que parecia estar muito gostoso. Eis que para a sua surpresa era um ensopado de frango.

Desconfiado lhe vem a mente, mais que de repente, a lembrança do galo Chico, correndo pelo quintal e atendendo ao seu chamado.

Naquela noite papai não quis comer o ensopado. Perdeu a fome. Nem quis perguntar pra vovó de onde vinha aquele frango. Ele conta que ela era brava demais e com certeza ia lhe dar uma bronca. Só sabe que o galo Chico nunca mais apareceu. E ele não quis nem ouvir o lhe era difícil e dolorido de aceitar.
––––––––––––––––-
(*) Izabel Leão é jornalista em São Paulo, SP.

Fontes:
Jornal Guata. Foz do Iguaçu.
Imagem =
http://sotaodaines.chrome.pt

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Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de de outras linguas) Letra U-V

ubi bene, ibi patria
Latim = Onde se (vive) bem, aí (está) a pátria. Conceito materialista dos cosmopolitas.

ubi eadem ratio ibi eadem legis dispositio
Latim Direito = Onde existe a mesma razão, aí se aplica o mesmo dispositivo legal.

ubicumque sit res, pro domino suo clamat
Latim = Onde quer que esteja a coisa clama pelo seu dono. Princípio jurídico que resume o direito de propriedade, também citado assim em moral: res clamat domino, a coisa clama por seu dono.

ubi non est justitia, ibi non potest esse jus
Latim = Onde não existe justiça não pode haver direito. A justiça é que sustenta as diversas formas de direito.

ubi Petrus, ibi Ecclesia
Latim = Onde (está) Pedro aí (está) a Igreja. Provérbio muito citado pelos apologistas católicos que só consideravam verdadeira a igreja que estivesse em comunhão com o pontífice romano.

ubi societas, ibi jus
Latim Direito = Onde (está) a sociedade aí (está) o direito. De modo geral, as causas correm no foro da comarca onde a sociedade foi estabelecida.

ubi solitudinem faciunt, pacem appelant
Latim = Onde estabelecem a solidão, atraem a paz. Frase que Tácito atribui a um herói, vítima da rapinagem dos soldados romanos.

ultima ratio
Latim = Última razão. Argumento decisivo e terminante.

ultima ratio regum
Latim = Último argumento dos reis. Legenda gravada nos canhões de Luís XIV.

ultra petita
Latim Direito = Além do pedido. Diz-se da demanda julgada além do que pediu o autor.

una salus victis, nullam sperare salutem
Latim = A única salvação para os vencidos é não esperar salvação. Frase com que Enéias procura arrancar do desânimo os companheiros vencidos em Tróia.

una voce
Latim = De comum acordo; em coro; unanimemente.

unguibus et rostro
Latim = Com as garras e com o bico; com unhas e dentes.

urbi et orbi
Latim = Para a cidade (de Roma) e para o universo. Diz-se das bênçãos dadas pelo papa, em circunstâncias especiais, quando as estende ao mundo inteiro.

uti, non abuti
Latim = Usar, não abusar.

uti possidetis
Latim Direito = Como possuís. 1 Fórmula diplomática que estabelece o direito de um país a um território, baseada na ocupação pacifica dele. 2 Princípio que faz prevalecer a melhor posse provada da coisa imóvel, no caso de confusão de limites com outra contígua.

utile dulci
Latim = O útil ao agradável.

vade in pace
Latim = Vai em paz. Palavras com que o confessor despede o penitente, depois de absolvê-lo.

vade mecum
Latim = Vai comigo. Diz-se dos livros de conteúdo prático e útil, e formato pequeno.

vade retro, Satana!
Latim = Vai para trás, Satanás! Expressão usada duas vezes por Jesus: (Mt. IV, 10) a fim de repelir o demônio que o tentava de idolatria e (Marcos, VIII, 33) para repreender o apóstolo Pedro, que desejava dissuadi-lo de aceitar a morte e a paixão.

vae soli!
Latim = Ai do solitário! Expressão com que o Eclesiastes (IV, 10) lamenta a fraqueza do homem abandonado à própria sorte.

vae victis!
Latim = Ai dos vencidos! Exclamação atribuída a Breno, célebre caudilho gaulês que derrotou e saqueou Roma no ano de 390 a. C.

vanitas vanitatum et omnia vanitas
Latim = Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade. Conclusão melancólica do Eclesiastes (XII, 8), sobre a pequenez das coisas deste mundo.

varietas delectat
Latim = A variedade agrada.

varium et mutabile semper femina
Latim = A mulher é algo mutável e inconstante. Expressão de Virgílio (Eneida, IV, 569-570).

velut aegri somnia
Latim = Como os sonhos de doente. É como Horácio (Arte Poética, 7) compara as obras literárias, sem entrosamento nas idéias; são sonhos disparatados de um enfermo.

veniam petimus damusque vicissim
Latim = Pedimos licença e a damos também. Horácio (Arte Poética, 2) aconselha a tolerância nas relações.

Veni Creator Spiritus
Latim = Vinde Espírito Criador. Primeiro verso do hino litúrgico da festa do Espírito Santo.

venite, exultemus Domino
Latim = Vinde, exultemos no Senhor. Palavras do breviário no invitatório de matinas, recitado diariamente pelos ministros sagrados.

veni, vidi, vici
Latim =Vim, vi, venci. Palavras com que César anunciou, ao Senado Romano, sua vitória sobre Farnaces, rei do Ponto, no ano 47 a. C. São citadas como alusão a um êxito seguro e rápido em qualquer empreendimento.

ventus popularis
Latim = Aura popular; popularidade.

vera incessu patuit dea
Latim = Manifestou-se verdadeira deusa pelo andar. Modo como Virgílio se refere a Vênus (Eneida, 1, 405).

verba et voces, praetereaque nihil
Latim = Palavras e vozes e nada mais. Verso de Ovídio em que o poeta verbera alguns discursos do seu tempo.

verba volant, scripta manent
Latim = As palavras voam, os escritos permanecem. Provérbio de grande atualidade que aconselha prudência em pronunciamentos comprometedores e na assinatura de contratos bilaterais.

verbum pro verbo
Latim = Palavra por palavra; ao pé da letra. Diz-se das traduções e interpretações fiéis.

vergiss mein nicht
Alemão = Não me olvides; miosótis.

veritas odium parit
Latim = A verdade gera o ódio. Conceito emitido por Terêncio, cujo pensamento é o seguinte: a complacência produz amigos e a franqueza, o ódio.

vesica piscis
Latim = Bexiga de peixe. Grande nimbo em forma de amêndoa.

victis honos
Latim = Honra aos vencidos. Empregada nas competições esportivas como sinal de confraternização.

victrix causa diis placuit, sed victa Catoni
Latim = A causa vencedora agradou aos deuses, mas a vencida a Catão. Lucano, em Farsália, I, 128, alude à fidelidade de Catão a Pompeu, quando este foi derrotado por César. Emprega-se para expressar apoio a uma causa, embora vencida.

video meliora, proboque, deteriora sequor
Latim = Vejo as coisas melhores e as aprovo, mas sigo as piores. Imagem do homem fraco, traçada por Ovídio (Metamorfoses, VII, 20). Vê o bem e o aprova, mas é arrastado pelas paixões.

vient de paraître
Francês = Acaba de surgir. Usada no mercado de livros para anunciar as novidades literárias.

vincit omnia veritas
Latim =A verdade vence todas as coisas.

vir bonus dicendi peritus
Latim = Homem de bem, perito em falar. O perfeito orador, segundo Quintiliano, deve aliar a honestidade de vida à perfeição oratória.

vis-à-vis
Frances = Frente a frente. Empregada quando alguém se encontra em frente a outra pessoa numa mesa, bailado etc.

vitam impendere vero
Latim = Consagrar a vida à verdade.

vivas in Deo
Latim = Que tu vivas em Deus. Frase com que os primeiros cristãos se despediam daqueles que morriam, desejando-lhes a felicidade eterna.

vivere parco
Latim = Viver com pouco.

vivit sub pectore vulnus
Latim = A ferida ainda vive no coração. O poeta Virgílio refere-se à paixão nascente de Dido.

volenti nihil difficile
Latim = Nada é difícil a quem quer; querer é poder.

volenti non fit injuria
Latim = Não se faz injúria àquele que consente. Axioma jurídico segundo o qual a vítima não se deve queixar em juízo de uma ofensa por ela consentida.

volti subito
Italiano = Volte rapidamente. Música = Expressão empregada nas partituras.

vox clamantis in deserto
Latim = A voz do que clama no deserto. Palavras de São João Batista, referindo-se a si próprio (Mt. II, 3), quando pregava às multidões no deserto. A expressão passou a ser empregada para designar aquele cujas admoestações não são atendidas.

vox faucibus haesit
Latim = A voz ficou presa na garganta. Expressão virgiliana para indicar uma forte emoção.

vox populi, vox Dei
Latim = Voz do povo, voz de Deus. O assentimento de um povo pode ser o critério de verdade.

vulnerant omnes, ultima necat
Latim = Todas ferem, a última mata. Inscrição filosófica em mostradores de relógios. Cada hora fere a nossa vida até que a derradeira a roube.
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LETRA A http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA B http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_07.html
LETRA C http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_21.html
LETRA D http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA E http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_28.html
LETRA F http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA G-H http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA I http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA J-L http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_21.html
LETRA M http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/07/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA N http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/07/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_11.html
LETRA O http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/09/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA P http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA Q http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_17.html
LETRA R http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/11/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA S http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/11/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_21.html
LETRA T http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/12/02/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do-latim-e-de-outras-linguas-letra-t/

Fonte:
Helio Consolaro. In Por Tras das Letras

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Trova 111 – Pedro Ornellas (São Paulo/SP)

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22 de janeiro de 2010 · 21:59

Alex Giostri (O Homem Atrás do Escritor. O Escritor Atrás do Homem)

Dando prosseguimento à série de entrevistas O homem atrás do escritor, o escritor atrás do homem. A mulher atrás da escritora, a escritora atrás da mulher, nesta segunda entrevista o Singrando Horizontes conversou com o escritor, editor, roteirista, dramaturgo Alex Giostri

Alex é paranaense, mudou-se muito cedo para São Paulo, viveu por doze anos no Rio de Janeiro (1996-2008) e voltou à São Paulo, onde vive até hoje. Formou-se em Cinema, algumas pós-graduações, inúmeros cursos profissionalizantes e ingressou profissionalmente na literatura. Colaborador de jornais como Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, trabalhou como diretor de filmes publicitários. Idealizou e coordenou o Projeto Novo Autor (2004). Criou seu próprio selo editorial Giostri Editor. Com o início do marca, logo ampliou os trabalhos e apresentou ao mercado o RAG Editor e o selo infantil Giostrinho, os três selos da Giostri Editora Ltda. Tem 5 livros publicados, obras teatrais, roteirista de cinema. Mais detalhes de sua biografia podem ser encontrados em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/12/alex-giostri.html

INFANCIA E PRIMEIROS LIVROS

Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.

Nasci em Umuarama, Paraná. Cresci em São Paulo e fui ao Rio de Janeiro aos 22 anos. Estudei Cinema na graduação e fiz algumas pós-graduações, uma de roteiro de cinema e dramaturgia. Também pesquisei sobre psicanálise e até hoje fuço sobre os mais inusitados assuntos. Minha trajetória foi um tanto confusa. Tive muitos problemas de ordem pessoal, passei pela coisa da droga, da criminalidade, da prisão. Isso no final da adolescência, começo da vida adulta.

Como era a formação de um jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?

Peguei os anos 90, final dos anos 80. Uma geração rock/punk. Vim de família tradicional, com os problemas também tradicionais. Pai alcoólatra, mãe ressentida. Fui criado nas regras e nos limites. O prato cheio para quem quer ousar. Quebrei todos os limites e infringi todas as regras. Mas olhando hoje, noto que nada é à toa nessa vida. Tanto, que eu ter passado por tudo que passei foi imprescindível. Mexendo no baú da memória percebo que se eu não tivesse sido o que fui não seria quem sou hoje e não teria essa bagagem humana que carrego por conta das tantas pauladas que levei dessa vida.

Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Sim. Tive uma mãe que desde pequeno me deu livros. Na época lia por ler. Não sabia que preferia o universo da ficção à realidade. Lia porque lia. Só descobri a importância dos livros da infância aos 22 anos. Entre 14 anos e 21 anos e não li quase nada. Vivi a vida da melhor e da pior maneira. Depois voltei à leitura e ao silêncio.
E não foi apenas esse estímulo. Foram muitos outros. Fui muito amado. Ainda sou. Só não sei afirmar se o amor ofertado a mim foi o que deveria ser – da maneira que deveria ser – como deve ser, mas foi amor.

Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever.

Li muito. Comecei a escrever por necessidade. Por desilusão. Descobri um mundo mais sadio nos livros, um mundo mais interessante. Dos que me lembro, os romances de Dostoievski me fizeram muito bem. Os clássicos em geral me deram muito de beber. Sou um escritor que é fruto do que leu. Não escrevo porque escrevo. Escrevo porque li, porque leio, porque adoro criar universos a partir do que vejo ou sinto.

ALEX GIOSTRI, O ESCRITOR

Fale um pouco sobre sua trajetória literária. Como começou a vida de escritor?

Vim da leitura. Depois vim da desilusão. Passei a escrever versos para me salvar da dor, da angústia do dia a dia. Escrevia porque amava e não sabia amar. Dos versos passei à prosa, da prosa passei às crônicas e das crônicas passei às críticas em jornal, depois aos roteiros de cinema, de TV, depois passei aos textos de teatro e no meio disso tudo, passei a escrever livros. Sou um autor que acredita na palavra, no universo da ficção. Estudei e estudo as linguagens, as maneiras de dizer o que quero dizer e também as possibilidades de dizer o que quero dizer nesse ou naquele veículo. Mudam-se as formas, mas o conteúdo é o mesmo. O que importa é aquilo que eu quero dizer e a maneira que eu quero dizer. Se for para o teatro, eu adapto no cenário, na boca do ator, no gestual, na luz. Se for cinema, eu passo às imagens e aos jogos de cena. Se for TV, eu priorizo os núcleos, novamente os atores, mas desta vez a fala por si só. E se for livro, que é a que eu mais gosto, eu buscarei a voz do narrador. Hoje tenho 36 anos. Portanto, um autor jovem. Tenho muito a aprender da vida e de mim. Tenho muito a ler. Ainda não escrevi um livro que eu possa dizer: maravilha!

Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?

Um acaso que estava escrito e eu não sabia. Olho para trás e analiso quem sou eu e não me vejo fazendo outra coisa, sendo um outro tipo de homem. Sou do universo da ficção, tenho uma pré-disposição a essa “vida dupla”, ser eu e não ser eu. Quando vi, eu estava escrevendo, quando notei um pouco mais, eu estava debruçado na teoria, quando me olhei mais a fundo haviam passado doze anos e eu estava vivendo do meu trabalho e fazendo a mesma coisa, com a mesma rotina, sem mudar nada. E, para minha surpresa, gostando e feliz.

Teve a influência de alguém para começar a escrever?

Que eu me lembre não. Tive dos autores que li. Talvez da vida e do meu inconformismo em relação a ela. Talvez da minha inabilidade em viver em sociedade e fazer parte de coisas que eu não acredito e não acreditarei nunca, pelo visto. Escrever para mim é como me salvar de algo que não me interessa. Não gosto mesmo da vida do dia a dia. Gosto da rotina, da minha rotina. E não é um paradoxo ou uma contradição, é o que é. O dia a dia inclui gente, gente e gente. A minha rotina inclui eu, o silêncio, o computador e a música. Muito mais divertido.

Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus)?

Tenho. Optei por ter após ter a minha vida fuçada por leitores e jornalistas. Tudo sobre minha vida está no site. Não tenho nada escondido por aí. http://www.alexgiostri.com.br

Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Não encontro, mas não posso esbanjar. Vendo os meus textos, os meus roteiros, as minhas críticas. Dou aula, sou sócio de uma editora de livros. Editora que só existe porque eu quis publicar as minhas obras por mim mesmo. Sou o tipo de homem que arregaça a manga e vai trabalhar. Faço livros e vendo custe o que custar. Não tem jogo ruim comigo. Distribuo em todas as livrarias do país, cobro, vendo pra vizinha da esquina, troco nisso, naquilo, faço o que aparecer. Livro e texto são a minha maneira de ganhar a vida.

Como foi que você chegou à poesia?

Não sou um poeta. Embora eu tenha poemas escritos. Acredito no poeta de alma. Aí talvez até possa me colocar lá no final da fila, sem demagogia. Mas o poema pra mim é o desabafo. Não escrevo profissionalmente poesia. É a hora do lanche, digamos assim. E muito lento. Em 2009 eu fiz uma apenas. Sou um homem da prosa, eu acho. Risos.

SEUS LIVROS E PREMIOS

Como começou a tomar gosto pela escrita?

Escrevo para me salvar do mundo e das pessoas. Escrever livros me toma tempo, estudo, pesquisa. E isso me tira da circulação. E eu adoro e sou um adepto da reclusão, ainda que ultimamente esteja vivendo em São Paulo e adoecido de corpo e alma pelo tumulto dia e noite.

Em que se inspirou em seus livros?

Tenho cinco livros publicados. Dois voltados para autores, sob a ótica da filosofia e da psicanálise, um voltado para atores, sob a ótica da identidade e da sua construção, um de contos, que é gênero fantástico, surreal, onde trato muito do universo da perversão e um sobre relação, sob a ótica da psicanálise também, esse com uma estrutura dramatúrgica entrelaçando a obra em prosa.

Como definiria seu estilo literário?

Ainda o procuro. Mas espero que eu vá para o campo da ficção, da novela, da estrutura formal clássica e talvez com um pouco dessa modernidade dita contemporânea. Acredito nos diálogos, creio que facilita a vida do leitor. Mas não acredito no leitor burro, acredito no leitor despreparado. Mas quem é despreparado pode se preparar, se quiser, ou for bem orientado.

Quais foram os livros que escreveu?

Componentes fundamentais para um texto ficcional.
Do pensamento para o papel
A/C do Ator – tratado sobre a profissão
Meninos
Afeto Amor e Fantasia

Dentre os seus livros escritos, qual te chamou mais atenção? E por quê?

Cada livro tem a sua história. O meu gozo é momentâneo. Gosto do livro que escrevo no ato da escrita e no processo de revisão. Ao publicá-lo, ele se transforma num produto de compra e venda e passa a ser de interesse público, ou não. O que eu não gosto mais é o do Ator. Preciso revê-lo urgentemente. Mas dos outros, gosto de todos.

Que acha de sua obra?

Acho-a respeitável. Aceitável.

Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Creio que sim. A internet facilita tudo.

Tem prêmios literários?

Tenho um de dramaturgia no ano de 2005. Um texto teatral chamado QUASE. Num concurso nacional.

CRIAÇÃO LITERÁRIA

Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial ?

Preciso da melancolia para criar. Preciso do silêncio, da solidão. Tenho uma necessidade de me sentir esquecido, abandonado. Talvez algum conflito mal resolvido. Mas essa solidão, esse esquecimento me fazem muito bem, me deixam à mercê da vida e assim eu parto pra um novo universo no papel. Escrevo por encomenda também. E não sinto a menor dificuldade. O que digo é o ideal, mas nem sempre podemos ter o ideal.

Você projeta os seus livros? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema narrativo antes? Como é que você concebe os livros?

Nunca escrevi um romance, nem mesmo uma novela literária. Do livro de contos, todos partiram de uma situação, de um telefonema, de alguém que eu vi na rua. Eu pego a situação e imediatamente a transformo e a escrevo dentro de mim, depois vomito no papel e passo à construção. Os textos teatrais são mais pensados. Penso o que eu quero falar e como quero apresentar isso ao espectador. Feito isso, defino o tempo que quero contar a trama, tempo cronológico e desenho a estrutura no papel e na cabeça.

Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

Há de se ter uma pré-disposição à coisa. O exercício é fundamental. Mas penso que não é tão simples assim. Penso que se tudo vai bem, que se a vida é linda e maravilhosa, se tudo que eu quero está ali, aos meus pés, se o meu mundo é idêntico ao mundo da novela das 21h, não há porque eu escrever nada. O autor, geralmente, tem essa inconformidade em alguma parte. E é dela que partem as ideias e as histórias. O autor nasce do leitor, do bom leitor, do leitor esfomeado não pela história, mas pelas palavras da história, pelas frases da história, pelos parágrafos da história, pelos capítulos.

Como surge o momento de escrever um livro?

Eu venho desenhando sempre novas ideias, mas não tenho conseguido levá-las adiante por conta da editora. Mas o momento ideal é aquele que você para tudo e se dedica à obra. Meu desejo é escrever uma obra anualmente. Em 2009 eu não consegui. Vamos ver esse ano.

Quanto tempo você leva escrevendo um livro?

Em 2008 eu escrevi AFETO AMOR E FANTASIA. Desenhei os capítulos e os tópicos de cada capítulo em março e passei às pesquisas. Em setembro, com tudo pronto, iniciei a obra com cronograma. Só trabalho com cronograma. Tantas páginas por dia. Nem mais nem menos. Em 28 dias o livro estava pronto para revisão. Depois mais vinte dias ele estava revisado e aprovado. Depois mais 20 dias ele estava diagramado e em seguida publicado.

Como foi o processo de pesquisa para a escrita de seus livros?

A cada tema eu tenho um processo de pesquisa. Mas sou um autor que acredita na pesquisa. Não acredito no genial. Creio no trabalho de pesquisa de campo mesmo. Existe o tempo da definição do tema, o tempo da pesquisa e o tempo da escrita.

No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

Fundamental que leiam textos ruins. Para minha formação de dramaturgo, eu idealizei um projeto no Rio de Janeiro em 2003 onde recebia textos teatrais de autores para leituras públicas. Recebi pra lá de 300 textos. E resenhei todos. Muitos bons, mas muita porcaria. O meu tradicional é ler duas ou três bombas e uma obra genuína. Com isso vou aprimorando o olho para as ciladas. Na editora leio muita bomba, mas recebo muitas obras interessantes. E, quando quero lavar a alma e os olhos, vou à livraria e compro uma obra genuína, um clássico, um autor brasileiro que admiro, alguma obra que eu possa ler e dizer: nossa, mas que maravilha!

ESCRITORES E LITERATURA

Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?

Por trabalhar diretamente com autores há muitos anos, conheço os nomes que nunca foram publicados. É uma resposta dolorosa, mas falta que esses autores acreditem em si e ponham a mão na massa. Ora, se é uma necessidade, um sonho, se é muito importante para o autor e ele acredita em si próprio é fundamental que ele não espere de ninguém, que ele encare isso como um desafio mesmo. E dizer que é difícil. Pergunto: o que é fácil? Nada. E fracassar é melhor do que não tentar. Digo por mim. Ninguém me deu nada. Não sou tão bom assim. Sou apenas um cara que correu e corre atrás do que quer. Não meço esforços. E, ainda não estou lá onde quero estar: num sítio sossegado escrevendo um livro por ano. Trabalho e luto hoje para isso. Apenas para isso. Preciso se segurança e tranquilidade financeira. Por este motivo estou na luta do pão nosso de cada dia.

Na sua opinião, livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?

Ler não deve ser obrigatório. Ler é prazer. E o grande mal da educação é acreditar que obrigar a ler fará do pequeno cidadão um leitor. Pergunta a todos: por que um jovem deve ler em casa se ao chegar lá a mãe não lê e o pai também não? Por que ele deve ler se o professor que o obriga a ler o livro também não leu?

Qual o papel do escritor na sociedade?

O papel utópico do escritor na sociedade é tentar melhorá-la, transformá-la. Mas o papel real do escritor na vida de hoje é tentar com as suas crenças e com a sua literatura apresentar uma nova maneira de viver ou vir a vida. Está na hora de alguns escritores descerem do salto alto e compreenderem quem são os leitores, quem deve ler e para quem de fato se deve escrever. O que adianta frufruzar nas palavras, nas organizações das frases, na sintaxe do todo? As pessoas não leem, não podem comprar livros, não são educadas a lerem; ao pegarem uma obra de um autor desses, não entenderá nada e dirá: não gostei. Ninguém diz: não entendi. Vai logo para o não gostei.
O papel do escritor, portanto, é resgatar o leitor a qualquer custo. É deixar de fazer caras e bocas. O escritor é um homem como outro qualquer. É um funcionário da sociedade e de si mesmo.

Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Há lugar para tudo e todos. Mas quero saber onde estão os verdadeiros poetas. Os poetas de alma, aqueles que se importam com as palavras e nada mais.

O ESCRITOR, PESSOA HUMANA

O que te choca hoje em dia?

O mundo me choca. As pessoas me chocam.

O que você lê hoje?

Leio textos de autores a serem publicados diariamente. Leio obras que me interessam na medida em que consigo um tempo. Ouço notícias. E não leio mais jornal impresso. Não me interesso mais pelas notícias ruins.

Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Sim, muitos.

De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?

Somos ferramentas da sociedade. Cada um na sua, fazendo a sua parte. Atingimos a minoria, mas estamos aqui e não iremos parar de fazer o que gostamos – pelo menos eu.

CONSELHOS AO NOVO ESCRITOR

Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

Leia. Mas leia mesmo. Esqueça o computador. Vá ler livro. Não tem dinheiro para comprar livros? Vá às bibliotecas. Assista aos filmes clássicos, veja peças de teatro. Estude a sua língua, a língua portuguesa. Compreenda o significado das palavras. E, sobretudo, se interesse mais pelo outro, pelo seu vizinho, pelo seu amigo, saiba mais um pouco da visão de mundo das pessoas que te rodeiam.

E para encerrar a entrevista

Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?

Se parasse aqui, agora, nesse instante, terça-feira, dia 19 de janeiro de 2010, eu pediria que me desse uma paz interior eterna, que retirasse definitivamente alguns defeitos de estimação que me incomodam e que não consigo me livrar e por fim que me deixasse ganhar numa dessas mega-sena acumuladas para eu ir para o fim do mundo me dedicar apenas ao silêncio e às palavras novamente.

Fonte:
Entrevista virtual realizada por José Feldman para o Singrando Horizontes.

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Delasnieve Daspet (Caderno de Poesias I)

Frente a Frente

Eis-nos. Frente a frente.
O mundo é redondo.
Um dia poderia acontecer.

Te fitei de longe.
Ao teu lado, em teus braços,
outros braços, não os meus;
Outro corpo, não eu!

Até este momento não tinha me dado conta
de como é desconcertante olhar alguém
que já havia sido paixão.

Estavas bem à minha frente
– alheio a minha pessoa –
sem perceber minha emoção.

E eu te adivinhava.
Teus pensamentos. Teus gostos.
Teu cheiro. Teu hálito.
Tiques…. sabia tudo de ti!

Eis-nos!
Tu, eu e ela.
A uma curta distância,
tão longe e tão perto.
Tudo em ti ocupado:
o coração e o lugar ao lado!

Sempre pressenti que nada havia
mas pensei que poderia mudar
o curso da história.

Continuei fitando sem ver…
Buscava respostas que não existiam:
Porque não tinha dado certo?
Porque – nuvens negras?
Porque – o impedimento?
Porque – a indiferença?

Te encontrar fez-me recordar
das saudades e do querer – outra vez….
Vi que os fantasmas ainda estão insepultos!
…Talvez não tenha havido um grande amor….

28-07-03 – Campo Grande MS

Ondas no Tempo.

Como uma pedra
Que se joga no rio
Venho formando ondas no tempo.

Nada importa.
Onde eu vá
Sempre estarei sozinha.

Já não pertenço a lugar algum.
Tudo que me resta são sonhos.
Agora é tarde para mudar,
– Está tudo feito! –
A chuva continua caindo.

Chuva fina e constante.
Olho a chuva,
Não suporto mais vê-la cair…

Findou o inverno
E a primavera com seus brotos e flores
Já surge nas árvores,
Na curva dos dias de sol.

Repouso minha poesia e meu canto
Numa quimera!
Caminho ao teu encontro,
Beijarei tua boca cheia de palavras,
E a saudade líquida fluirá rolando face afora.

05-10-2002 – Campo Grande MS
———————

Fonte:
Colaboração da Poetisa.

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Arquivado em A Poetisa no Papel, Poesias

Daniela Schlogel (Oportunidade?)

O Jhony é muito malandro, dizem até que ele é mau caráter e quando surgiu a proposta de dar uma vaga de estagiário a ele com acompanhamento da assistente social, todos foram contra, tinha um ou outro que era a favor, não muito a favor, podemos dizer que quem era a favor, era só porque sabia que os do contra ganhariam. E entre o discurso dos do contra dizia-se:
“Ah, aquilo ali é bandido”, “Dar emprego pra ele é arrumar sarna pra se coçar”.

E mesmo assim, havia quem acreditava que dar o emprego ao menino seria proporcionar a ele algumas horas de vivência em um ambiente moralmente saudável. E mandou-se o menino para a empresa e não era uma empresa qualquer, era uma empresa pública, economia mista e coisa e tal. No primeiro dia de trabalho colocaram-no para picotar papel, toda a manhã, e enquanto isso os funcionários trataram de espalhar a boa nova aos outros funcionários ainda desinformados.

”Aquele ali já foi preso num sei quantas vezes”, “Se eu não me engano já vi ele no programa Aterrorizando a Massa”.

E assim entre picotes de papel e nenhuma cordialidade dos companheiros chegou ao fim o primeiro dia de trabalho de Jhony e é claro que passou pela cabeça dele inúmeras observações:

“Será que vou passar o mês inteiro picotando papel?”, “Nem pra ter uma telefonista gatinha nesse lugar”, “Olha o tipo desse careca, fica só me olhando de cara feia”, “Ia ser mais massa se tivesse alguém pra conversar”.

No segundo dia o novo estagiário foi até sua orientadora de referência para saber a ordem do dia e ela foi categórica

– “Como você já picotou todo o papel e hoje eu tenho muitas tarefas financeiras as quais você não pode auxiliar, vai cuidar do nosso Laboratório de informática, fica ali na última porta a esquerda, não vai muita gente lá, todos os computadores devem ficar desligados e se alguém for até lá você deve ligar para pessoa utilizar e anotar o nome e o tempo que a pessoa permaneceu fazendo uso do mesmo. Sabe ligar o computador?”
– “Sim Senhora”.
– “Então pode ir”

E lhe passou as chaves. Jhony entrou naquela sala silenciosa, sentou-se e mais um milhão de observações lhe passaram na cabeça, estava sentado, olhando pro nada e com um “bico” que demonstrava indignação, quando chegou o careca, aquele careca que só ficava olhando pra ele de cara feia e a primeira pergunta que o careca fez foi

– “Por que você teve passagem?”

O menino não entendeu bem a pergunta e ele se explicou dizendo que queria saber o que o menino tinha feito de errado para ter sido apreendido, sem pudor nenhum. O menino contou ao careca que se desdobrou em perguntas, a cara do careca tinha mudado de descaso para interesse e isso fez o menino se sentir o grande protagonista, afinal ele tinha a atenção do careca e mais que isso ele despertou o interesse de outra pessoa, coisa que não lembrava ter acontecido muitas vezes desde a infância. Todos os fatos que o menino descreveu ao careca, é claro, chegariam aos ouvidos de todos os outros funcionários, mas o menino nem pensou nisso e nem em imagem perante aos colegas e nem em nada, a verdade é que o menino se embriagou na sensação de “ser interessante”.

Quando o careca deixou a sala, o menino estava convencido mesmo sem saber de que era realmente “do crime”. Era aonde as pessoas lhe reconheciam como pessoa. A experiência profissional estava reafirmando sua situação de exclusão. Ele teve a oportunidade, mas não aceitação e muito menos o pertencimento.

Antes de sair naquele dia, Jhony abriu um computador e tirou uma peça, ele nem sabia para quê servia, mas sabia que devia valer algum dinheiro. Escondeu a peça e não soube bem como fechar o gabinete aberto do PC. Foi embora e nunca mais retornou ao local. Aqueles que já não acreditavam no menino desde o início usaram a tão famosa frase “Eu já sabia”. Há alguns que dizem que isso se trata da profecia que se autocumpre. Todos nós queremos ser alguma coisa independente do que seja.
–––––––––––––––
Daniela Schlogel é educadora em Foz do Iguaçu, Pr.

Fontes:
Jornal Guata. Foz do Iguaçu
Imagem = http://oglobo.globo.com/blogs/moreira

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Cruz e Sousa (Poemas Humorísticos e Irônicos II)

VELHO VENTO

Velho vento vagabundo!
No teu rosnar sonolento
Leva ao longe este lamento,
Além do escárnio do mundo.

Tu que erras dos campanários
Nas grandes torres tristonhas
E és o fantasma que sonhas
Pelos bosques solitários.

Tu que vens lá de tão longe
Com o teu bordão das jornadas
Rezando pelas estradas
Sombrias rezas de monge.

Tu que soltas pesadelos
Nos campos e nas florestas
E fazes, por noites mestas,
Arrepiar os cabelos.

Tu que contas velhas lendas
Nas harpas da tempestade,
Viajas na Imensidade,
Caminhas todas as sendas.

Tu que sabes mil segredos,
Mistérios negros, atrozes
E formas as dúbias vozes
Dos soturnos arvoredos.

Que tornas o mar sanhudo,
Implacável, formidando,
As brutas trompas soprando
Sob um céu trevoso e mudo.

Que penetras velhas portas,
Atravessando por frinchas…
E sopras, zargunchas, guinchas
Nas ermas aldeias mortas.

Que ao luar, pelos engenhos,
Nos miseráveis casebres
Espalhas frios e febres
Com teus aspectos ferrenhos.

Que soluças nos zimbórios
Os teus felinos queixumes,
Uivando nos altos cumes
Dos montes verdes e flóreos.

Que te desprendes no espaço
Perdido no estranho rumo
Por entre visões de fumo,
Das estrelas no regaço.

Que de Réquiens e surdinas
E de hieróglifos secretos
Enches os lagos quietos
Revestidos de neblinas.

Que ruges, brames, trovejas
Ó velho vândalo amargo,
No sonâmbulo letargo
De um mocho rondando igrejas.

Que falas também baixinho
Lá da origem do mistério,
Trazendo o augúrio sidéreo
E certa voz de carinho…

Que nas ruas mais escusas,
Por tardes de nuvens feias,
Como um ébrio cambaleias
Rosnando pragas confusas.

Que és o boêmio maldito,
O renegado boêmio,
Em tudo o turvo irmão gêmeo
Do sonhador Infinito.

Que és como louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças.

Que lembras dragões convulsos,
Bufantes, aéreos, soltos,
Noctambulando revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.

Ó velho vento saudoso,
Velho vento compassivo,
Ó ser vulcânico e vivo,
Taciturno e tormentoso!

Alma de ânsias e de brados,
Consolador companheiro
Sinistro deus forasteiro
D’espaços ilimitados!

Tu que andas, além, perdido,
Tateando na esfera imensa
Como um cego de nascença
Nos desertos esquecido…

Que gozas toda a paragem,
Toda a região mais diversa,
Levando sempre dispersa
A tua queixa selvagem.

Que no trágico abandono,
No tédio das grandes horas
Desoladamente choras,
Sem fadigas e sem sono.

Que lembras nos teus clamores,
Nas fúrias negras, dantescas,
Torturas medievalescas
Dos ímpios inquisidores.

Que és sempre a ronda das casas,
A gemente sentinela
Que tudo desgrenha e gela
Com o torvo rumor das asas.

Que pareces hordas e hordas
De hirsutos, intonsos bardos
Vibrando cânticos tardos
Por liras de cem mil cordas.

Ó vento lânguido e vago,
Ó fantasista das brumas,
Sopro equóreo das espumas,
Ó dá-me o teu grande afago!

Que a tua sombra me envolva
Que o teu vulto me console
E o meu Sentimento role
E nos astros se dissolva…

Que eu me liberte das ânsias
De ansiedades me liberte,
Pairando no espasmo inerte
Das mais longínquas distâncias.

Eu quero perder-me a fundo
No teu segredo nevoento,
Ó velho e velado vento,
Velho vento vagabundo!

[COMO FORTES GARGALHADAS]

Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal,
Sonoramente vibradas,
Como fortes gargalhadas,
Sinto idéias baralhadas
N’um frágil descomunal
Como fortes gargalhadas
Por um templo de cristal.

[DA BRUMA PELOS PAÍSES]

Da bruma pelos países
Pelos países da bruma,
Longe dos astros felizes,
Da bruma pelos países,
Tu vais perdendo os matizes
Da luz e da glória em suma,
Da bruma pelos países,
Pelos países da bruma.

À REVOLTA

A Cassiano César

O século é de revolta — do alto transformismo,
De Darwin, de Littré, de Spencer, de Laffite —
Quem fala, quem dá leis é o rubro niilismo
Que traz como divisa a bala-dinamite!…

Se é força, se é preciso erguer-se um evangelho,
Mais reto, que instrua — estético — mais novo
Esmaguem-se do trono os dogmas de um Velho
E lance-se outro sangue aos músculos do povo!…

O vício azinhavrado e os cérebros raquíticos,
É pô-los ao olhar dos sérios analíticos,
Na ampla, social e esplêndida vitrine!…

À frente!… — Trabalhar à luz da idéia nova!…

— Pois bem! Seja a idéia, quem lance o vício à cova,
— Pois bem! — Seja a idéia, quem gere e quem fulmine!…

ESCÁRNIO PERFUMADO

Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas — isso dói, me aflige…

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme…

DECADENTES

Richepin, Rollinat! gritos sangrentos
Da carne alvoroçada de desejos,
Mosto de risos, lágrimas e beijos,
Estertores de abutres famulentos.

Desesperado frêmito dos ventos,
De harpas, sutis, fantásticos harpejos,
Clarins de guerra, e cânticos e adejos
De aves — todos os vivos elementos.

Tudo flameja e nas estrofes canta,
Estruge, zune, em borbotões levanta
Noites, luares, fulgurantes dias.

Mas nessa ideal temperatura forte
Tudo isso é triste como a flor da morte
Que brota dentro das caveiras frias…
————

Fonte:
Cruz e Sousa Poemas Humorísticos e Irônicos. Ministério da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional.

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Cristiane Pelissari (Leitura, um objeto de conhecimento)

O que leva um leitor a ler mais cuidadosamente um texto? O que o faz preferir a leitura de um e o descarte de outro? O que se espera encontrar naquele material escolhido? O que está previsto de ser encontrado se confirma à medida que as páginas são percorridas? É com o objetivo de explicitar o que ocorre quando lemos e contribuir para o debate conceitual e prático sobre o ensino da leitura que Isabel Solé trava um agradável diálogo com o leitor em Estratégias de Leitura (194 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 52 reais). No livro, publicado originalmente em espanhol em 1996, Isabel explica que todo bom leitor procura ajustar o modo de ler ao objetivo inicial de sua leitura.

Nessa busca, o leitor interage o tempo todo com o texto, utilizando seu conhecimento prévio sobre o tema, fazendo inferências, elaborando hipóteses e checando suas previsões. O resultado disso leva a interpretações e compreensões feitas sem a interferência direta de um leitor mais autônoma.

Como esse processo de leitura não é natural, automático ou muito menos simples, ele precisa ser construído pelo aprendiz. É pensando nisso que o livro faz uma ponte com a realidade da escola, alertando os professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental para o fato de que os alunos não aprendem isso sozinhos.

Cabe ao educador oferecer às crianças os segredos que utilizam quando eles próprios leem. Isso deve ser feito na mesma forma como ocorre com outros conteúdos de ensino ou quando mostra como utilizar adequadamente um caderno ou traçar de forma correta as letras. O professor funciona como um especialista em leitura explicitando seu processo pessoal à turma, o que leva à compreensão do que está escrito: qual seu objetivo com aquela determinada leitura, que dúvidas surgem, que elementos toma do texto para tentar resolver suas questões… Vendo o que o professor faz para elaborar uma interpretação do texto, os estudantes entendem as chamadas estratégias de compreensão leitora e passam a adotá-las.
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Sobre a autora
Isabel Solé é espanhola, professora do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação na Universidade de Barcelona, na Espanha, é orientadora de pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem da leitura

Cristiane Pelissari, autora desta resenha, é pedagoga, formadora de professores e coordenadores pedagógicos e faz parte da equipe de formação do Programa Ler e Escrever, da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

Trecho do livro

Ler é compreender e compreender é sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos compreender. É um processo que envolve ativamente o leitor, à medida que a compreensão que realiza não deriva da recitação do conteúdo em questão. Por isso, é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura, e para isso tem de conhecer o que vai ler e para que fará isso; também deve dispor de recursos – conhecimento prévio relevante, confiança nas próprias possibilidades como leitor, isponibilidade de ajudas necessárias etc. – que permitam abordar a tarefa com garantias de êxito; exige também que ele se sinta motivado e que seu interesse seja mantido ao longo da leitura. Quando essas condições se encontram presentes em algum grau, e se o texto o permitir, podemos afirmar que também em algum grau, o leitor poderá compreendê-lo. Com essas ideias, podemos dizer que enfocamos nossa atenção nos resultados de aprender a ler.”

Fontes:
Revista Nova Escola. Edição 224. Agosto de 2009.
Foto do Livro: Marcelo Kura

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