Arquivo da categoria: Poesias

Oswaldo Abritta (Jardim)

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Branca Tirollo (O Destino da Rosa)

(Prosa poética)

Houve um choro
– uma vida.
Nascia ou renascia?
Quem sabe!
Sugava o alimento.
– boca rosada
– mãos pequenas

No peito da mãe
Com dor em demasia
– cantarolava
– sorria.
Olhos curiosos
– utopia.
Incenso de rosas
– dormia…

Berço que balançava
Mãos calejadas
– Clamor.
Ao se abrir em plumas
– nevoas e flores
Apreciava
– a leve paina.
Deslizava voava
Ao soprar o vento
– na paina plena.
Livre! Entrelaçava
A pequenina
– sobre a cama.

Reconheceu o sol
– depois a lua.
Após, aurora nua.
Longos passos
Primeira palavra.
– atenua-se
Cala, encanta.
Floresce a dança.
– perpetua

Papel, lápis de cor
– magia e luz.
Revela
– rebeldia
– pranto
– distância
– desafeto
Olhos chorosos
– fúria.
Desencanto
– força bruta.
Sonhos, velas
– risos.
Esvai-se
– infância
Vem à luta.

Amarguras
– desventuras
Camarim sem teto.
Solidão
– breu da noite
– alma escura
– visão.

Esperança
– revolta.
Trança
– combinação.
Ser
– ilusão

Valsas, versos, risos.
Conduta pouca
– audácia.
Vestes vermelhas
– cabelos caracolados.
– peitos fartos
– paixões
– migalhas.
Agulhas
– fornalhas.
Momentos
– poucos.

Rosas nascem.
– o sol nasce.
– a lua desce.
Rosas pálidas
– morrem
É hora do querer
– saber, buscar.
– aprender
A arte ameaça.
Seu sangue
– jorra desejos
Sabedoria donde?
– ninguém sabe!
Induz

Florestas ouvem,
– o murmurar:
Pensamentos
– soltos ao infinito.
Mais ávido
– que as mãos
Atenta-se ao nada.
Em seu santuário
-autarcia

Guinado de fel.
Sonhos desencantam
– poesias:
Dormindo engavetados.
Os poemas vazam
– lábios negros
O futuro não chega.
O ardor se espalha
– promessas
Densas tardes
Noites tensas
– proezas.

O chocalho soa.
– criança ainda chora
Do peito da mãe
– não há lembrança.
– apenas vida.
Amarguras tantas
-escorrem sobre os dias

Novos botões se abrem.
Sobre o ar contagioso
– adormecem
Calados morrem.
Sem lamúrias se vão

A cidade mudou
As ruas acolhem
-seus segredos.
O céu entardece.
O mar esbraveja
– enredos
Cinzas
– colorem o ar.

Os átomos
– não se cruzam
Uma criança vela
– curiosa
– à distância

Frio está o corpo.
O sorriso
– não regressará.
Não desta Rosa.

Fonte:
A Autora

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Isabel Furini (Relançamento do Livro de Poemas: “Os Corvos de Van Gogh”)

Terça-feira, 26 de novembro, a partir das 19 horas, será relançado o livro de poemas “Os Corvos de Van Gogh” da escritora e poeta premiada Isabel Furini, no Palacete dos Leões, Av. João Gualberto, 570, Alto da Glória, Curitiba.

Van Gogh foi um artista obstinado, um mestre, um pintor genial.  Ignorado pelos homens de sua época, sua obra foi reconhecida depois da sua morte. Isso o torna ainda mais fascinante. 

O livro de poemas “Os Corvos de Van Gogh” procura perceber os movimentos da alma de Van Gogh e os corvos da tristeza e da frustração presentes na sua vida. 
A obra é apresentada pelo poeta Benilson Toniolo, nas orelhas as artistas plásticas Sandra Hiromoto e Cláudia de Lara também dão a sua visão. 
No final do livro o escritor José Feldman faz uma breve biografia do pintor. 

O livro fala dos “corvos de Van Gogh”, além daqueles eternizados no quadro “Trigal com Corvos”, quadro pintado pelo artista pouco tempo antes de sua morte, os poemas representam o medo, a frustração, a solidão, ou seja, os “corvos” interiores.

Na continuação, um poema do livro:

CAMPO DE TRIGO (Van Gogh, 1890)

Corvos ferinos, mímicos ferinos,
sombras da genialidade.

Murmúrio
de rios subterrâneos,
canal das águas do inconsciente,
campo de trigo com pretos corvos
moendo
as tenebrosas horas.

O vento sussurra
entre os ouvidos e a tela.
– quase um ulular de morte.

Fonte:
A Autora

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Raquel Ordones (Quero Guardar-te)

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Fonte: http://raquelordones.blogspot.com.br

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Ponti Pontedura (Livro de Poesias: A Palavra Sabe)

Muitas pessoas ainda se espantam diante de um livro de poesias, como se houvesse nesse estilo um grande mistério a ser desvendado. De fato há. O poder e o mistério da palavra ao ser tornar poesia é a possibilidade de ser lida e relida de formas diferentes, com outros olhares, outros sentidos. Essa é a maior charada da poesia, e também seu maior trunfo e é com esse jogo de imagens que nos deparamos em A Palavra Sabe.

Pontedura apresenta sua criação com palavras, e nos convida para participar com ele dessa descoberta da força da palavra versátil, da palavra-poesia.

Pleno de versos livres, de rimas brancas que surpreendem pela expressividade, A Palavra Sabe não deixa nada a desejar, afirmando-se como uma coletânea de poemas bem dosados e cadenciados.

Prontos para nos surpreender, os poemas são variados, se dividem em temas que permitem que diferentes públicos se sintam atraídos pelo livro, tantos os leitores assíduos de poesia, quanto aqueles que estão para descobrir o que a palavra poética realmente sabe e faz.
—————
Ponti Pontedura nasceu em Londrina, Paraná, em 1953, pseudônimo de Lourivaldo Pontedura, é jornalista, diretor e roteirista de cinema. Vive em São Paulo.

A Palavra Sabe (ou) Clareiras na Escrita

Invento céu chão caminho lugares
a casa onde eu moro.

Ninguém vem bater, que porta não há.
É casa de palavras minha moradia.

Imagino dia, e o sol me envia claridades.
Imagino escurecer, e minha sombra enorme
— maior que a noite — enche o espaço escuro.

Procuro no espaço escuro
o claro sentido da luz:
abrir em mim clareiras na escrita.

O meu punhal — sedento de sangue —
penetrasse a carne da poesia plácida

e a ferida abrisse seu corpo carnudo.

Um corte na veia da palavra sanguinea
lançasse sangue na minha face

e extirpasse o tempo flácido.

Poema abatido, animal prostrado,
vertesse seu sangue para a minha língua.

Mormaço de poesia ao meio dia
escalda o chão por onde passo, descalço.

Passo pela palavra gasta,
gasto o chão por onde passo,
e gasta a palavra me corrompe.

Passo pela palavra devastada,
devasto a terra por onde passo,
e devastada a palavra só faz ruínas.

Passo pela palavra sussurro,
sussurro um poema por onde passo,
e sussurrada a palavra é um segredo.

Ele segreda ao meu ouvido,
soletra palavras silenciosas,
onde se esconde o poema infinito.

Tranque-se em seu segredo,
guarde-se num poema oculto,
esconde esta palavra esconde.

Não se revela nada.
À palavra dada
não se abre a boca.

A palavra guarda todo sentido,
encerra em si o que há em mim,
entra muda e sai significada.

Palavra calosa tem a mão pesada.
Era a mão do meu pai
que se estendia e pousava
para o beijo da benção.

Fontes:

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Florbela Espanca (Rosas)

Fonte:
http://faroldasletras.no.sapo.pt/

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Alberto Bresciani (Livro de Poemas)

SEDIMENTOS

Aos poucos se apaga
o consentimento da morte

adio a noite, avanço
ao avesso do dentro

e encontro os encontros
do tempo, um gosto

de pele, um nexo
Faço oferendas

à água
ao fogo.

HARMONIZAÇÃO

Demorasse a tua mão
um pouco mais
sobre o meu ombro

e me nasceriam asas

Em silêncio
logo o pressentimento
o pacto e o voo:

grades e escarpas
ruindo sob as pernas
cúmplices, entrelaçadas

as nossas.

REINVENÇÃO

Vertendo do branco:
eu, o anti-herói
preso a ganchos de ar
por sobre as fragas da razão

duras lâminas
que evisceram
a argamassa do corpo
a desbordar de mim

banal, rude, rala argila
não reluz. Só o que destila
por trás do que me é oculto
se esconde à vista

É grampo no avesso
— até a secreção
vir à voz, exposta
aos anjos e algozes

Então o instante que espero
quando me reinventam os dias
e as aves planam
sob o vulto explícito e sem sede

Gritem medos e mentiras
para o estômago do nunca
(o julgamento está surdo
e a tentação de não ser

para hoje
está morta
afogada).

POSSE

O ar é só pele:
teu corpo expira
das dobras do mapa

aquece os dedos
saliva doce na boca
as esferas do sal

A falta é tensão
teu vulto invasivo
conturbando o pulso

em pedras candentes
nas farpas da noite

O ventre esfria
e explode em tentáculos
da fluida água marinha

vertigem que plana e pesa
por sobre as vozes
os cortes do dia

— teu sempre
no fundo de mim.

METAMORFOSE

Era seu rosto
um campo de trigo
e manso se entregava
ao passeio da boca

Braços me protegiam
e enlaçavam
e devolviam ventos
que ninguém sentiu

Desdobrava-se
o seu consentimento
e sem proposições
uma supernova em mim

Talvez reencontrasse o destino
respirasse sem deformidades
talvez fosse apenas como voltar

E já não chovia
E era tão bom.

INVERSÃO

O esgotamento vem
do vazio
esse fundo
enredo de vozes
que uma só valem —

atrás dos nódulos do espanto
das folhas da súplica
e da sequência de sombras
sem volta,

a ilusão habita
a insônia
vergonha e ridículo
do homem parado
diante da pedra.

MIRAGEM

Somos ficção
Simulamos o invisível
e a imagem

no reflexo
do espelho — ali nada há
como nada somos

Onde encontrar
a verdade
ou a real essência

desses fantoches
de nós mesmos
se os mistérios

não estão em lugar
mas no que mais fundo
escondemos?

NUNCA
Um dia encontrei o nunca
preso ao teto
para onde nunca olhei

Tinha a aparência terrível
de uma gárgula
úmida de sangue

Mas sob os flagelos
era apenas
                 um pardal

tão sem pressa
desses que banais habitam
as árvores, a cegueira

Com voz serena e doce
disse que sendo nunca
era eterno, letra em todo nome

Soube quem era o nunca
e meu peito, arfando
pelo que não se esquece

aprendeu a respirar assim
um pouco menos
seca a parte que nunca mais.

SÉPALA

O seu rosto surge
em meio às folhas da pele
onde a mística seiva
invade a memória do sangue

Percebo como essa branda sépala
sobe em mim o feminino
cálice que lhe orna o ser
diáfano ser em branco

Fale-me de ventos, de terras
que os caminhos venceram
Só ao líquido das suas palavras
renasce o tempo, um rio para sentir.

  ACUSAÇÃO
Você me acusa
pelas sombras
que nos cobrem

Não tenho a quem culpar
Guardamos a chave
quando passou a vigésima quinta hora

e os deuses de que fala
nunca souberam de nós
Estamos abandonados

na última vez
na impossível desdobradura
E eu afirmo:

amanhã ainda seremos
somente os dois
o verbo coagulando no escuro.

 FIGO

E então a chance:
o desconhecido destino
tinha seu rosto
e se estendia ao alcance

da mão que abraçou
e adormeceu no amplo figo
cujos olhos eram luz
e também gemido

A posse da pele
veio como tudo enfim
como se os fluxos fizessem sentido
e nós vivêssemos a última cena

Mas há dias que não nascem
e se acaso irrompem
logo secam
definham nos espelhos

Deixei de existir
antes de saber. Ela não era
para além de mim
a imagem que testemunho

e minto apagar
embora toda a saliva
seja só a ilusão
que do seu corpo espero.

MILAGRES

Há milagres que se prendem
ao ar como anjos de pedra
no sempre da catedral

crescendo sobre nós
cortando a casa
o ventre

Toda fuga é inútil
a cegueira superior à visão
e a respiração quase sobrevive

à proximidade ou distância
de seu fogo
que pode ser pena, pode ser fome

e nos põe
frente a frente
com a epifania

                              Nas minhas mãos
                             o ramo que arde

Fontes:
 Poemas enviados por Carlos Machado, de poesia.net. http://www.algumapoesia.com.br
Alberto Bresciani. Incompleto Movimento. RJ: José Olympio, 2011.
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/alberto_bresciani.html

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Alexandre O`Neill (Poesias Avulsas)

Albertina

“Albertina” ou “O inseto-insulto” ou “O quotidiano recebido como mosca”

O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstração, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto de beleza.
Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
que tantas vezes, arrastou pelos cabelos…
A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um inseto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava …

Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali…

– Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!

– Albertina! eu quero um verso que não há!…

Conjugal, provocante, moreno e azulado,
O inseto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.

E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado …

O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escaracéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (não é meu…)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar…

Cão

Cão passageiro, cão estrito,
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara-lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado,
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
De remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, cão tétrico, maldito,
A desfazer-se num ganido,
A refazer-se num latido,
Cão disparado: cão aqui,
Cão além, e sempre cão.
Cão amarrado, preso a um fio de cheiro,
Cão a esburgar o osso
Essencial do dia a dia,
Cão estouvado de alegria,
Cão formal de poesia,
Cão-sonêto de ão-ão bem martelado,
Cão moldo de pancada
E condoído do dono,
Cão: esfera do sono,
Cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
Cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
Cão de olhos que afligem,
Cão-problema…
Sai depressa, ó cão, deste poema!

A central das frases

… já te disse que são os do primeiro…
… e afinal não pudémos telefonar…
… ai nem queira saber o engenheiro…
… se me dão licença eu vou contar…

… penses nisso era só o que faltava…
… não as outras duas é que são as tais…
… mas o senhor presidente autorizava…
… na avenida centenas de pardais…

… de facto muito inteligente…
… ó filha por aqui fazes favor…
… que veio ontem para falar com a gente…
… é mesmo lá ao fim do corredor…

Fala

Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância – muito e devagar.

Inventário

Um dente d’ouro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante

A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno

Um revolver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria

Um conde que cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa

O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pe-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé

Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza

Um octogenário divertido
Um menino colecionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos Sim
a ratos

Um adeus português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensangüentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Velha fábula em bossa nova

Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.

Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.

Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.

Assim devera eu ser
se não fora
não querer.

(- Obrigado, formiga!
Mas a palha não cabe
onde você sabe…)

Fonte:

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Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 4)

OCEÂNICA

Na partida, um oceano de revolta
cala meu peito em descontentamento.
– Vais aonde? – eu pergunto – onda tão solta?
E ela me corta o coração por dentro.

Sou areia, sou rocha e, em meu tormento,
choro e declamo, e o fogo me devora;
qual vulcão que nos mostra o epicentro,
outro vulcão me nasce aqui por fora.

Na partida, eu prometo consolar-me
do vácuo que me tolhe. E, sem alarme,
no amor a Deus apenas me concentro.

Meu mundo é solidão, é só saudade
de quem levou minha tranqüilidade,
de quem partiu meu coração por dentro.

SOMBRA

Minha sombra soçobra no que flui,
No horizonte de um deus fendido em dois:
– O futuro, do qual se foge em “ui”!
E o passado das noites e dos sóis.

Aquele vem de pé, mas tão veloz
Quanto o outro não foge – e como influi!
Um é terrível santo e tão sem voz,
O outro, deus e o diabo… E a carne rui.

Já não banco o santinho nem o herói,
Embora herde, dos dois, olhos azuis
E haja chorado à treva e à cor que dói.

Já não tenho esperança numa foz
De doçura e de amor que a amor conduz.
Minha sombra soçobra em caracóis.

SENSITIVA

Nasci para sentir o mundo… E vivo
pelo meu, como as cores que resguardo.
Ai, flor sem nome, que à memória foge!
Tudo o que sinto é pele, estranho agrado.

Quanto mais me retraio mais me ativo,
quanto mais me esconder ou for me embora,
mais eu me amo por tudo o que em mim gosta
de sentir perto-e-longe e ser mais livre.

Sou como a sensitiva na floresta,
não fujo às agressões, me fecho e durmo,
os pirilampos que me façam festa.

Não é que eu sofra o sofrimento em calma,
é que conheço irônicas ternuras
das quais a vida nos consola ou salva.

SINGULAR

É singular criatura. Das pequenas
E grandes porque reina (não são teses),
A conduzir, no bucho, longos meses,
O filho – em seu olhar, carícias plenas.

Mais do que isto: a mãe limpa-lhe as fezes,
Ganha de tudo onde sofrer é estima,
Deusa, abaixo de Deus ela só rima
Na proteção do infante. E morre às vezes.

Pois que ela rege, em templo tão fecundo,
Um musical no ventre, o gineceu,
De onde viemos nós, não me confundo.

Depois de minha mãe, só eu, sou eu…
Mãe, o’ mães, porque há tantas neste mundo
Resiste a humanidade, e não morreu.

TERNURA MIÚDA

Pelas coisas serenas me contenho
se ternamente nasçam da vontade,
do amor e do carinho, da bondade
daquilo que mais prezo e pouco tenho.

Venham doces carícias pelo vento,
beijar-me a sutil nuca que me impele
a estremecer e subir do imo à pele,
e bem voar pelo espaço em movimento.

Os pequeninos vidros mais perfume
têm – que a filosofia não resume,
pois lhe falta ternura e tentação.

Nas invisíveis coisas me retiro,
nelas canto e me encanto e mais suspiro…
Todo o meu corpo é todo um coração.

ÚLTIMO OLHAR

Hora, afinal, de reconciliação
com os inimigos e os perseguidores,
sem alívio nenhum, trespassam dores…
Dos amigos? – O amor e a oração.

Como esquecer os gozos e a canção
da vida, o tempo em que teceu amores?
Vão colegas, vizinhos! Vãos clamores,
diante do horror dessa consternação.

Quero ligar-me a Deus, já na partida,
pra suportar o triste dos presentes,
numa clara humildade aborrecida…

Ah, recebo os divinos, santos óleos
e o pesar da mamãe e dos parentes,
com teu olhar por dentro dos meus olhos.

VELHAS PRAIAS

As velhas praias… Que saudade delas,
Do nosso idílio em dias juvenis:
– Uma moça e um rapaz banhando nelas,
Sem roupas, sem segredos, sem ardis.

Almas voando… Ai, como o tempo voa
Nas palmeiras cantando… Porque o vento
Entre arrepios no horizonte ecoa
Atento ao som, à luz, ao movimento.

Almas e corpos que amam tudo aquece,
São a chama, a pureza, são a prece
Que se eleva do mundo ao Criador.

No sul, no norte, as praias são lembranças
Do tempo em que conosco as esperanças
Eram certezas como o nosso Amor.

O ÚLTIMO BEIJO

Uma deusa te pega pela mão
contra inimigos e perseguidores,
abre o seio do leite dos amores,
e começa a tua fé no coração.

Os olhos dela encantam, na canção
da vida é tempo de tecer as cores,
e os amigos, e os campos e as flores,
diante dum palco de contradição.

O tempo vai passando em grande lida,
te envelheces, te cansas na subida,
e a glória alcançarás entre os escolhos.

A hora, enfim lhe chega, da partida,
banhado em pranto e d’alma recolhida,
um rosto de mulher beija teus olhos.

PERFUME E COR

Subi às ribanceiras desta via
sem nenhum fruto ou flor, uma que fosse,
mas fui andando e meu dia clareou-se,
e então me deslumbrei com o que via.

Era um jardim com flores tantas, belas,
de olores que não pude compreender.
E havia as donas desse alvorecer,
regando as outras flores, quais estrelas.

Cheiro de gente, de suor, de beijos,
das duas moças ouviam-se os solfejos,
e delas vinha um mundo de fragrância.

Ah, como é lindo se subir às ribas!
E é disto que se nutrem os escribas,
e que os poetas cantam sua infância.

MINHA LUZ

Muito gastei chorando… Eu era infante,
mas sorria também na idade mágica;
infância triste, sim, porém não trágica,
que me fazia um forte a cada instante.

Quando acordei do choro ante a verdade
e, enfim, por ver-me amado e não perdido,
risos mil fui construindo… E requerido
a subir, eu subi a tempestade

adolescente!.. E então rindo constante,
mudei de forma, alimentando a mente…
Eis-me, por fim, conquistador e amante.

E agora, bem melhor que antigamente,
sem sorrir nem chorar, vivo contente
a refletir-me em luz como um diamante.

LINGUAGEM VIVA

Tudo neste universo se transforma,
Já dizia Camões, poeta da gente;
O frio se derrete pelo quente,
O calor sobe, esfria e toma forma.

Os homens fazem guerra pela paz
Porque n’alma resfria o sentimento,
Como na dor se aplaca o sofrimento
Pelos remédios que a ciência faz.

O rio seca, a mata é só fumaça,
O verde se reduz à luz do dia,
Eis que assim tudo passa, tudo passa.

Mas não passa o caminho de quem ama
Na lembrança do amado, pois é chama
Como a linguagem viva da poesia.

Fonte:
O Autor

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XV, final

foi mantida a grafia original.
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OS NOVOS LEVIATÃS

Dos antigos Titãs, o mar — fera indomável,
Agora verga o dorso ao peso colossal
Dos novos leviatãs que em bando formidável,
Nas grandes explosões da cólera insondável,
Já levam de vencida o abismo e o vendaval!

Eles seguem no mar, altivos no seu rumo,
Em hálitos de fogo, à nossa voz fiéis,
E como o combatente erguendo a lança a prumo,
Em turbilhões rompendo, as flâmulas de fumo
Ostentam sem cessar correndo entre os parcéis!

Que sopro criador, que força omnipotente
Os fez surgir do nada, os monstros colossais?
O novos leviatãs provindes tão-somente
Do fecundo himeneu, deste conúbio ardente
Do Génio e do Trabalho, amantes imortais!

Correis de mar em mar, altivos, triunfantes,
Levando a toda a parte a vida, a nova luz,
E as sereias gentis não fazem como dantes,
Ao som da sua voz, perder os navegantes;
O dorso dos delfins, no mar, já não reluz!

Ó alma antiga dorme inerte no regaço
Dos velhos deuses vãos, que o homem criador
Agora ri de ti, prostrada de cansaço,
Enquanto vai soprando em mil gigantes de aço
Outra alma inda mais larga — o novo Deus-Vapor!

Sua alteza real o pequenino infante
Matou, dum tiro só, dois gamos na carreira:
Um hino mais ao céu, pois era a vez primeira
Que sua alteza vinha à diversão galante!

O vergôntea gentil! Quando um tropel distante
De súbito acordar os ecos da clareira
E uma presa cansada, em rolos de poeira,
Varada, a nossos pés, cair agonizante,

Acercai-vos então da pobre fera exangue
Que estrebucha de dor num mar de lama e sangue
Sem que uni grito de dó nos corações acorde!

No entanto não fiqueis na doce glória absorto:
O velho javali parece às vezes morto
Mas surge da agonia e os seus algozes morde!

VERSOS A *

Eu sou, mulher suave, aquele antigo louco,
O triste sonhador que o teu olhar cantou,
E que hoje vai sentindo, o sonho, a pouco e pouco,
Fugir como o luar dum astro que expirou!

Que morra, porque, enfim, bem longo ele tem sido
E tempo é já, talvez, da Morte desposar
O sonho que em minha alma entrou como um bandido
E só da vida sai depois de me roubar!

Eu devera amarrá-lo à braga do forçado,
Como a Justiça faz aos desprezíveis réus,
E lançá-lo depois à vala do passado
Aonde o fulminasse a cólera dos céus.

Mas não; quero embalar-lhe os últimos momentos
Ao som duma canção das quadras juvenis,
E amortalhar depois — em doces pensamentos –
No manto da saudade, os seus restos gentis.

E quando ele seguir às regiões saudosas,
Aonde todos nós iremos repousar,
Ao esquife hei de atirar-lhe as derradeiras rosas
Que dentro da minha alma houver por desfolhar!

Ninguém profanará seus restos adorados,
Que em paz irão dormir num fundo mausoléu;
E quando alguma vez já hirtos, regelados,
Acordem, porventura, à luz que vem do céu;

Em vão tu baterás, ó sonho, à fria porta
Que em breve hás de sentir fechada sobre ti,
Porque a tua Memória, enfim, já estará morta,
E não te escutarei… Porque também morri!

Ó pobres versos meus, lançai-vos pela estrada
Agreste e pedregosa, aonde os companheiros
Da luta, encontrareis, meus ínfimos guerreiros,
Formando os batalhões da bélica avançada!

E o trajo em desalinho, a face iluminada,
Transponde, sem demora, os fossos derradeiros
Que separam de nós os braços justiceiros
Da serena Verdade, a deusa idolatrada.

Vencidos no combate, ou pouco ou nada importa,
Ao chão vergai sem pena a face semimorta,
Mordendo, inda a lutar, o pó da enorme liça:

E tudo, enfim, esquecendo: os ódios e os desprezos;
Que de entre vós alguns, ao menos, fiquem presos
Como fios de luz, ao manto da Justiça!

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Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 4

HIRAM CAMARA
Amazônia: verde,verde,verde

 Verde,verde,verde
 terra das mil ilhas
 água de mil brilhos
 sinuosas maravilhas
 filhas da mitologia
 de dez mil anos atrás.

 Verde, verde, verde
 negros igarapés
 e extensos igapós
 da estação chuvosa
 águas de tucunarés
 tambaquis, pirarucus.

 Verde,verde,verde
 meninos nus
 mergulhos mis
 águas de peixes-boi
 do boto que já se foi
 saudades ribeirinhas
 antes do sol nascer
 no horizonte fluvial:
 cristais brilhando
 no encanto das águas
 no encontro das mágoas.

 Desesperanças.
 Crianças na estrada
 da borracha
 seringueiras feridas
 latex-lágrimas.

 Verde,verde,verde
 à sombra da sapopemba,
 séculos de soberania
 debruçados no vale
 imenso, solimões,
 solidões espalhadas
 planície de amazonas
 ikamiabas guerreiras
 em um dabacuri
 saudando Buopé,
 Jurupari, Ceucy da terra
 na terra das mil ilhas
 na terra das mil ONG,
 mil cobiças, ameaças
 de novos donos e danos
 com o passar dos anos
 água já sem a vida
 de dez mil anos atrás
 o que fazer, Jurupari,
 deus do prazer e saber
 para manter a amazônia
 brasileira, soberana,
 pelo tempo que se alongue,
 salva da destruição?

 O que fazer, Jurupari,
 deus do prazer e saber,
 para que Yrurini
 não te roube Kukuy
 nem nos roubem daqui
 a terra das mil ilhas
 dos mil brilhos da riqueza
 que inspirou tua beleza
 por quanto resistirás?

 Verde,verde,verde
 onde ainda o acharás?
=================

HUMBERTO – POETA
Preito á natureza

 Ah… Natureza! Que cruel regime
 te impõe o homem, perdulário e ateu:
 agride fauna e flora, alheio ao crime
 de estragar o que Deus nos concedeu!

 O ar, o sol, o azul que esmalta o espaço,
 O homem faz réus de equívocos critérios;
 enche os céus desse trágico bagaço
 de pós mortais e gases deletérios!

 Quando se rouba à mata a ave inocente
 e polui-se a mercúrio a água dos rios,
 é nessas horas que o Senhor pressente
 o quanto somos maus e somos frios!

 Da árvore que estala, vindo ao chão,
 evola-se um lamento ao infinito,
 mas não o ouve o autor da infanda ação,
 pois só Deus é capaz de ouvir tal grito!

 Natureza: viemos de outras plagas
 pra crescer nos reencarnes sucessivos,
 mas te enchemos de pústulas e chagas,
 inda presos a instintos primitivos!

 Falhos que somos desde os cromossomos,
 de nós tirai, Senhor, machado e serra;
 lembrai-nos que, afinal, nada mais somos
 que meros forasteiros sobre a Terra!
========================

JOAQUIM SUSTELO
Amazônia

 Floresta que és pulmão da Natureza
 num espaço que parece um mundo à parte,
 não indo entanto o homem preservar-te
 não és só tu que morres… de certeza!

 Cavando a tua morte, (que dureza!)
 também irá a dele acompanhar-te.
 Então que saiba sempre ter a arte
 de ter por ti amor, sem mais leveza.

 A mancha verde-esperança no planeta
 é esperança que não pode ir prá valeta
 mas sim crescer e dar-nos a alegria

 de mais tarde afirmarmos bem contentes:
 “nós fomos quanto a ti inteligentes,
 o Mundo prosseguiu em harmonia!”
=====================

JOSE ANTONIO
Amazônia terra maravilhosa

 Por que destruir a Amazônia?
 Vamos todos enfrentar este problema
 De frente a frente contra os maliciosos
 que derrubam o nosso paraíso da Amazônia.
 O povo unido jamais será vencido.
 Amazônia é o paraíso de todos os que amam a natureza,
 por que derrubar o nosso maior Pulmão do mundo,
 com tanta natureza que tem?
 Vamos todos para frente para salvar
 a natureza,nossos animais,nossas arvores
 nossas maravilhosas aves etc.
 Vamos povo para frente é o caminho e vamos colocar
 um ponto final a todos esses malditos
 que estão destruindo a nossa Amazônia
====================

JOSÉ ERNESTO FERRARESSO
Amazônia… Nosso Chão

 Floresta de grandes primores,
 Pássaros variados cantores e tenores,
 Confundem os sons trinados de nosso amanhecer
 Até quase o anoitecer.

 Uma terra abençoada por Deus
 De matas virgens, grandes mistérios,
 Dela tudo se explora e se retira,
 Linda Floresta que tanto se admira .

 Nossa Amazônia agora faz parte,
 É tema polêmico de Fraternidade.
 Hoje por Deus, Mata escolhida
 Para salvar tantas vidas .

 Patrimônio diversificado de pobreza e riqueza
 Mas de extensa imensidão e beleza
 Sua flora, fauna e carente comunidade,
 Hoje é tema alusivo: Campanha da Fraternidade.

 Essa floresta não é minha e nem sua ,
 É de todo um povo, de toda nação,
 “Vida e Missão Neste Chão”
 Gera entre os povos devastação e a exploração.

 Habitada por povo humilde e carente.
 Conquistada e disputada por muita gente
 Terra de grandes seringais, arbustos imensos entrelaçados,
 Bela Amazônia, dos grandes mananciais .
=======================

LIGIA TOMARCHIO
Amazônia Deusa

 Perfeição e atitude
 de séqüitos, cépticos e sépticos.
 Proclamam salvação
 encontram solidão.

 Imagens distorcidas
 querem fazer crer
 num mundo desorientado
 preocupação não há em preservar.

 A fé no futuro é maior
 a realidade, imagem vã.
 Crer é vital arte
 de poetas e sonhadores…

 Há uma deusa entre as matas
 faz parte dela como o ar…
 Nos rios, riachos correm alaridos
 salvação premente e real
 da selva animal.

 Não serão homens a proteger
 qualquer ponto do planeta
 à sua volta só destruição…

 No âmago dos sons silvestres
 de pássaros e espíritos elementais
 presente, representa conservação
 a Deusa Amazônica!

 Não tenha pouca fé
 Amazônia Deusa
 Se auto preservará …

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

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Marciano Lopes e Silva (1965 – 2013)

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19 de outubro de 2013 · 15:52

Marciano Lopes e Silva (Poesias Avulsas)


O AMOR À SOMBRA DAS SIBIPIRUNAS
(um poema para as sibipirunas de Maringá)

Sibipirunas em flor
se  enlaçam
lado a lado nas calçadas.

Silêncio.
Frescor.

Pombos entre folhas.
Raios de luz.

Passo a passo
como noivos na catedral.

Amamos.

CHAMAVENTO

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
(“Rosa-dos-ventos”, Chico Buarque)

“Noite de vento, noite dos mortos.”
         (O Tempo e o Vento, Erico Verissimo)

Divino vento!
Não nasce nem morre.
Apenas existe.
Infinito como o tempo.
Divino vento
que faz as montanhas virarem pó
e faz o pó invadir minha alma
carregando o cheiro fétido da morte.
Divino vento que tudo arrasa e arrasta!
Divino vento que move moinhos!
Inflama a chama alastra o fogo
e revolta os mares em vagas colossais!
Divino vento
que penetra por todos os cantos
poros, narinas e frestas…
Divino vento que revolve a terra
seca e esquálida
que povoa a história com sussurros
e desenterra velhos sonhos adormecidos.
Vem!
Vem divino vento!
Vem vendaval!
Vocifera em meus olhos a ira dos deuses
na imensidão da noite!
Vem!
Enlouquece a natureza!
Que corujas lancem pios!
Cães ladrem nos terraços!
Vacas pastem em jardins!
Cavalos relinchem em hotéis!
Gatos uivem no céu!
E ratazanas invadam as ruas
numa gargalhada infernal!
Vem!
Divino vento!
Vem com toda a fúria!
Com a ira de todas as malditas gerações
amordaçadas!
Vem!
Arrebata a rosa-dos-ventos!
Divino e bendito vento!
_____________________________
Nota:
Reescritura de um antigo poema intitulado “As vozes do vento”, publicado no livro Concurso DCE-FURG – 15 anos de Contos e Poesias. Rio Grande/RS: FURG, 1987. p. 15-18.

=======================
SEMINAR

O amor da gente é como um grão.
(Drão – Gilberto Gil)

Quem disse que temos todo o tempo do mundo?!
Se assim fosse, por que amar as pessoas
como se não houvesse amanhã?!

Não, o tempo não pára
e o sonho é como um grão:
tem que morrer pra seminar.

SOUVENIR

Veja o sol dessa manhã tão cinza:
a tempestade que vem tem a cor dos teus olhos castanhos.
(Tempo perdido, Renato Russo)

Quando a dor te encontrar no fundo do calabouço,
lembra que a tempestade tem a cor dos teus olhos
e o frescor das fontes que brotam límpidas
do velho poço de pedras.
=======================

ÁGUAS VIVAS

ÁGUA-VIVA I

Nas madrugadas navego.
Oceano sem fim.

Imensa onda.
Jaz mim.

 ÁGUA-VIVA II

Fumaça blues.
Flor essência
de sândalo.

Dourados
no aquário.

ÁGUA-VIVA III

anêmonas
trêmulos
véus…

Divina Vênus
na cama…

ÁGUA-VIVA IV

Estrelas n’água.
Branca espuma
em teus lábios.

No firmamento
noctilucas pululam.

Astrolábios.

ÁGUA-VIVA V

Nas madrugadas bebo
águas vivas.

Resgato águas furtadas,
régias e marinhas.

Depois adormeço,
pálido de aurora.

ÁGUA VIVA VI

Mar remoto.

No fundo
(da concha)
naufrago.

ÁGUA-VIVA VII

as ondas
espumantes
(en) volvem

o doce nácar
das conchas

SINUCA 1: “PRETO BATE BRANCO BATE PRETO”

preto bate branco
bate preto
embola enrola esfola
assola
escarra escarra escarra
cuca luta dis-
puta
taco contra taco
sopapo
nuca noite coice
foice
bate bate bate
bola contra bola
bate
pelas ruas pelos guetos pelos panos
rola
bola contra bola
rola
……………………….

preto bate branco
bate preto
faca tapa coice
açoite
estala
bala contra bala
estala bala vala
desfia desafia afia
porfia
a faca o taco o troco
sufoco
cara contra cara
encara
caça contra caça
regaça
encara bate e cala
caçapa!

SINUCA 2: TACO CONTRA TACO
 

embola enrola volteia
bate
enrola esnoba floreia
bate
cuca luta bruta pura
disputa
taco troco truco traço
no braço
bola contra bola bate rebate
e gira
pelos cantos pelas beiras pelos panos
rola rola
bola contra bola bate rebate
estala
bola contra bola rela rala rinha risca
desliza
bola contra bola bate rebate reganha rebola
encaixa
taco a taco ferro fere firme forte
fácil

última bola:
cara a cara encara mira e cala
caçapa

DOM QUIXOTE DALI

Dom Quixote manchado,
cavaleiro das taças quebradas,
envolto em moinhos
de sonhos e mágoas,
avante!.. avante!…
Impávido
pelos trilhos utópicos
alucinado a rodar e a rodar e a rodar
em sonhos…
carrossel…
Atravessa os túneis,
penetra a terra,
move os céus e as montanhas,
estrela a brilhar em consternação…
Constrói o futuro
e cola os cacos da história!
Tu que és trapeiro doido da lua,
eternamente um louco salvador…
Tu que és trapeiro doido da lua,
eternamente salvador dali…
Dali, daqui, de lá, acolá…
Evoé!
Avante Quixote!
Ole!… Ole!… Ole!…

SER/VIDA

vida sobre/mesa
sobre/mesa vida
vida ser/vida

vida sobre/mesa
explícita

cadáver vivo?

natureza morta?

vida sobre/mesa
mesa sob(r)a vida
sobre/mesa vida

ser/vida
a/guarda
?

quem descubra
quem decifre
quem devore
?

faca
ques
pedaça
?

vida sobre/mesa
es/finge faminta

devora
ar/dente
mente
?

sente(?)

MIRANDO JANIS JOPLIN

É nessa cadeira, vejam, é nesta cadeira vazia
que ouço Janis Joplin
e converso com Bertold Brecht
sobre os absurdos do mundo.
É nessa cadeira, vejam, que ouvimos Neruda cantar
e converso com o mais estranho e eclíptico demente
que com os meus olhos meninos eu vi!
Ele se delicia com rainhas, balões, porcos e pedras rolantes,
grita berra e murmura baixinho
que não tem certeza de nada e que a ignorância também é sábia.
Fala de doidos amores
conta as mulheres que comeu e cuspiu
nos podres vasos da aurora
nos banheiros sujos em que deixou
o âmago quente do seu estômago
cansado da burra servidão do dia.
É nessa cadeira, vejam,
é nesta cadeira vazia que converso com Janis Joplin
sim! eu converso com Janis Joplin!
Nessa cadeira Neruda a cantar!
Bertold Brecht fala dos absurdos do mundo!
Sim! Eu ouço Janis! Janis Joplin!
nesta cadeira vazia.

Não, não assuste não! São somente máscaras
com que disfarçamos o medo
o vazio o vácuo a velocidade a voz
que vem do nada por todos os lugares
jorrando como sangue do coração
fazendo esgares nos espelhos espalhados pelo caminho!
Sim, é nesta cadeira, vejam, é nesta cadeira vazia
que miro Janis Joplin!

Canção apresentada durante o 1º Acorde Universitário – Festival de MPB.

MIGALHAS

bebia sua vida num gole gargalo
com jornal de lã na calçada-divã
vestia saída num beco soberbo
de fome subúrbia
travessa sacia sua sede de pão

meio-dia fomenta milhares de carros
com tal sede insana faminta de grana
pro gole final que deu ali mesmo
de magna angústia
tomou batida e encheu a cara de chão

encheu a esquina
de cena
agora é a vida

que
pinga
que
pena [1]

Milhões de migalhas
encobrem a mesa.

Milhões de migalhas
não fazem um pão.

Milhões de migalhas
não fazem nem mesmo
uma fatia.

Milhões de migalhas
são apenas mais sujeira
no dia a dia.
____________________
[1] O texto em itálico é um poema do amigo Sansão (Fábio Freitas), cujo título é “Pão e pinga (A fome e a embriaguez)” e foi gentilmente cedido para acompanhar meu poema “Migalhas”.
=========================
NO LIMITE

Num mundo videoestilhaçado
deve o poema também sê-lo?

Em canais latrinobabélicos
deve o poema signosilenciar?

Narcisopausterizado na massa
deve o poeta e(x)goelar-se?

Ou a saída seria dispará-lo à seco
cilada selada com muito desvelo?

DA DIFÍCIL TAREFA DE SER ATOR

Ser ator é moleza,
barra é ser professor.

Interpretar todo dia
sem ao menos ter um palco
por salvação
não é pra qualquer um

só para hipócritas
e ratinhos
de labotoratório.

Viver por tanto
então
nem se fale.

Somente louco
ou artista.
Tanto vale.

Fonte:

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Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 3)

Imagem: Biblioteca Manuel Antonio Pina
DESENCONTRO (1)

Tomado de saudade e sofrimento,
um dia eu quis rever a terra amada.
sondei a posição varia do vento
e pus meus olhos e meus pés na estrada.

Noite ainda (acordei de madrugada),
tinha a lua por luz, por seguimento…
Nem sentia o cansaço da jornada,
pensando no ontem, no hoje, como alento.

Me alegrava pisar velhos caminhos!
Os pássaros contavam nos deus ninhos
e a natureza toda, então, sorria.

Ouvi tocar o sino em minha aldeia,
lembrei das orações na hora da ceia
e da casa que outrora me acolhia.

DESENCONTRO (2)

Fui devagar, pois, afinal, queria
gozar a sensação de uma beleza
que me ficara intacta, à alma presa,
bem distante da atual selvageria.

Meus olhos, percorrendo a redondeza,
iam matando as sombras sem valia,
cheio de força, o copo estremecia,
e de calor e luz… Longe a tristeza.

Era um quadro tão belo e tão feliz,
do qual jamais pudera ser juiz…
Porém, quando cheguei: – “Que coisa alheia!”

– exclamei. A montanha era mais baixa,
a igreja velha, o sino rouco, e a faixa
de rua era tão feia… Era tão feia!…

DESENCONTRO (3)

Vi que o tempo não poupa, tudo encaixa,
mexe na minha vida e faz sua teia…
O sangue virou gelo em minha veia,
a pressão, que me era alta, se rebaixa.

Luz se havia era pouca., e de candeia,
no breu da noite… E não havia caixa
de banco… Nem rapaz e nem muchacha…
Deserta de homem, de mulher, a aldeia.

Então, pergunto a mim: Qual o destino,
se vim buscar aqui meu ser menino
e menino nenhum aqui encontro?

Vim rever minha terra e meu passado.
Mas, o que vejo? – Um sonho naufragado…
E eu perdido num louco desencontro!

EM DUAS RIMAS

A vida nasce numa enorme festa,
Nasce do amor, no instante da folia
Do sexo, da paixão e da alegria.
Mas também chora, a vida é uma floresta.

Há confusões. Porém sobra uma fresta
Por onde socorrer-se na agonia,
Dá passagens na busca de harmonia.
Há morte e vida e luzes nessa gesta.

Há buscas ideais, filosofia…
Indagações: – Meu Deus, que coisa é esta?
O amor a transformar-se em poesia.

E assim morrer: – Cantando uma seresta,
Ou ir sorrindo para uma outra festa
É o fim que todo homem gostaria.

EMOÇÕES

Só tenho olhos pra aquilo que me nega,
só sinto o cheiro e a fala de outras vinhas,
mais me apetece o rosto que as covinhas,
e em mim a luz é sombra e se me integra.

Se há gosto em minha boca, não me pega,
mas se meu corpo alisam – coisa minha –,
meu passado sofrido se esfarinha
e a nuvem interior se desintegra.

A natureza, em mim, vem da floresta.
Gosto do vento a arrepiar a testa,
gosto de rir… Mas como rir primeiro?

Vivo tão sério! Não, de mim não riam,
se as emoções mais tolas me aliviam:
– São pérolas que dôo ao mundo inteiro!

GOZO EXTENSO

Gozo os segundos todos, ano a ano,
do que ainda me resta por saúde,
não me entristece olhar o que não pude
ser. E dos meus achaques não me ufano.

No que fiz e refiz, por ser humano,
injetei muitas gotas de bondade.
Pela essência da calma que me invade,
sou a esperança no que não me engano.

E em tudo a fortaleza me aclareia
como os gozos de outrora… Tão intenso
é o meu prazer e minha nova messe.

No momento outro sonho é que me enleia:
– O encanto de saber que estou imenso,
num coração que, enfim, rejuvenesce.

MÁRTIR

De que serve contar já tantos anos
de vida, se a verdade foge e foge,
o ontem nunca mais tornando ao hoje,
e o amanhã tão perto, e seus enganos?

Não me valeram experiência e danos
que as primaveras fúteis produziram,
se, em lugar de saudades, me surgiram
só lembranças inúteis, desenganos…

De que posso, vaidoso, me gabar
senão da arte, em saber ouvi-la e vê-la,
embora não me leve a qualquer parte?

Ora, bem! Zombarei do grande azar
de ter nascido em Vênus, bela estrela,
pra fazer vida no planeta Marte.

MINUTO ETERNO

Deitada é bela, e, se levanta, estua:
Sinal de cio… Fecha os olhos, pensa…
Como, então, me darei a recompensa
de mais de perto vê-la inda mais nua?

Voar ao prédio em frente desta rua
e surpreendê-la em sua displicência?
Perder todo este medo e a paciência
de anjo sem paz que sabe e não flutua?

Vou morrer de ciúme aqui, de longe,
por não tê-la sequer um só segundo,
por delirar, na posição de monge.

Se fosse minha um só minuto – eterno–­,
zombaria das glórias deste mundo
e trocaria os céus por todo o inferno.

VOYEUR
(Segunda versão de “Minuto Eterno”)

Seminua, deitada, insone e quente,
no sofá, fecha os olhos, pestaneja…
Ah, eu queria ter cometimentos
pra mais de perto vê-la, vê-la, vê-la!

Voar deste meu prédio lá, na frente,
tocar seu corpo em toda a displicência…
Ai, não posso! E com isto me entristeço
como um anjo incapaz, louco e doente.

Tenho ciúmes, sim, no longe-e-perto.
Vejo um inseto pousado no seu peito
quando aqui morro em posição de feto.

Se fosse minha por um dia apenas
seria o homem mais feliz do mundo,
renegaria os deuses do universo.

O FANTASMA

Quem lhe matou a vida de menino
e a tão sonhada vida de rapaz?
Não sabe, está perdido e vai atrás
do perdido nos becos do destino.

Entre os deuses e o diabo, oh desatino!
de desistir ninguém o fez capaz.
Foi buscando vitória sem ter paz,
sem vislumbrar seu ser em pequenino.

Mesmo assim, sob os gritos de revolta,
luta fria e ferozmente atrasado…
Só que um dia o fantasma a si se volta.

E renasce uma imagem tão candente
que o leva a gargalhar de toda gente,
no sorriso feliz de um só pecado.

O QUE MORRE

Casa e caminhos morrem desamados,
esquecidos, na solidão do amém.
Os segredos falecem de guardados,
e amores morrem quando morre alguém.

O porto morre, a onda se esvazia,
e o sonho esvai-se quando acorrentado,
e treva nasce do morrer do dia.
Vão-se o rico, o feliz e o desgraçado.

Nada é perene, pois quem nasce vibra
somente um instante para a queda enorme,
eis que essa lei fatal tudo equilibra.

Morrem lembranças, fruto do passado,
e o presente e o futuro quando dorme
o homem sem fé, sem luz, abandonado.

Fonte:
O Autor

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Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 3

DUDU CRUZ
Eu não tenho nada a ver com a Amazônia…


 Quem diz que não tem nada a ver com a Amazônia hoje
 Com certeza amanhã não terá nada para ver em toda a Terra.
 A natureza não renasce das cinzas…
 Precisamos parar de criar cinzas!
 Precisamos cuidar da natureza como uma Senhora querida que cai.
 Naturalmente, devemos esticar o braço dar a mão para ajudar a Natureza a se levantar!
 Ela, com certeza, agradecerá por nossa atitude nos dando a sua beleza!
 E nós, agradeceremos por tê-la novamente de pé, com toda sua Graça!
 A Natureza é Graça de Deus materializada!
 Pessoas que não acreditam em Deus, acreditam que a Natureza seja uma Senhora a ser amada.
 Por isso, você tem que ver hoje como fazer para salvar a Amazônia, para não admitir amanhã, que não há mais nada a fazer para ver a Natureza viva.

EFIGÊNIA COUTINHO
Prece Da Paz Ambiental


 É nesta Floresta aqui, onde me
 ajoelho, e para me unir, também
 eu, modesta criatura do meu
 Planeta, edificando minha
 Prece Universal. Onde calco
 com meus joelhos todas essas
 folhas mortas, que se acumulam,
 de geração em geração, umas
 sobre as outras, para servirem de
 humidade sobre a terra, cedendo
 lugar ás suas novas e majestosas
 folhas. São as folhas verdes do
 alto de seus ramos, que cantam
 a canção da vida, que não repousa nunca!

 E as folhas secas debaixo, e sobre as
 quais pousam os meus pés e os meus
 joelhos, murmuram ao meu ouvido a
 PRECE DA PAZ AMBIENTAL…

SILVIA GIOVATTO
Pulmão do Mundo

 SOS, queremos respirar!
 o pulmão do mundo está ameaçado,
 estão destruindo a nossa floresta amazônica,
 como se não bastasse a poluição do ar, estão tirando
 a nossa chance de vida que vem das matas.
 Pouco a pouco a Amazônia vai se a acabando,
 destruída pelas mão de seres humanos… será?
 Fica aqui o meu pedido de socorro.
 alguém tem de acordar e resolver esse problema
 que afeta o mundo.
 Não precisamos encher nosso pulmão de ar,
 com substancias medicamentosas através de inalação,
 precisamos de ar puro, vindo das árvores, das matas….e
 isso nós tínhamos, quando a ganância do homem não existia.
 O homem está se destruindo e tirando das nossas crianças
 a chance de respirar, de viver…
 Não cortem as nossas árvores, não queimem as nossas matas,
 por caridade, não destruam o nosso planeta…
 você pode ter vantagens com isso, mas está destruindo a sua vida,
 a nossa vida, a vida dos nossos animaizinhos…
 Não destrua, construa!
 Não derrube, plante!
 Não mate, dê chance de vida a quem quer viver!
 Nós precisamos de ar puro…você também precisa!
 Não use suas mãos para destruir, elas serão mais úteis na construção.
 Pense nisso… e por favor…
 Pare agora, com essa destruição.

FERNANDO REIS COSTA
Mãe Natureza

 Ó estirpes que se extinguem da beleza
 Que a mãe Natureza ao homem deu!
 Vemos hoje que a própria Natureza
 Está sendo destruída… e se perdeu!

 E o homem, ambicioso e com frieza,
 Quer mais e muito mais em cada dia:
 Destrói cada vez mais a Natureza
 Buscando tostões na tecnologia!

 Lembremos a paisagem, outrora linda;
 Hoje… terra de cinzas, tão queimada;
 No ar, o oxigénio quase finda…

 E se a destruição continuar ainda
 No ritmo que leva, acelerada…
 O homem-suicida fica “nada”!
––––

GLADYS OVADILLA
Amazônia

 Amanecía en la amazónica,
 Con sus tintes de colores,
 Mirando en silencio,
 En la orilla azotaba el agua,
 Color león con fuerza,
 Meditando escuche el
 Bullicio de las aves,
 Prolongando su vuelo,
 Recuerdo caminar en redomona,
 Mis pies parecían quebrarse,
 En medio del lodazal,
 Quede petrificada, no veía más
 Que árboles y pastos,
 Tacita quede hasta el hartazgo,
 La claridad deteniéndome asustada,
 Los maravillosos árboles talados,
 ¡Señor de los cielos! no puede ser,
 Tedioso en el paseo vi. árboles caer,
 Sin retaceo temí lo peor, lo encontré,
 La tierra vacía sin quejas,
 Se robaron el monte Mister,
 Desigualando el clima y al indígena,
 Su habitad infalible de tanto siglos,
 Osadía, los verdugos traficantes,
 Los montes con sañas se llevaron,
 ¡Vuelven por más! A cegarlos todos,
 El obraje oscurecido secuestro el aire,
 Cambio el clima, los vientos, y el agua misma,
 No son nubes pasajeras, son aguacero,
 Torrentosos interminables, que corren por
 Las ciudades incalculables,
 Al mundo globalizado, estamos perdiendo,
 Por culpa de la amazona que esta muriendo,
=============
HERMES JOSÉ NOVAKOSKI
Amazônia! Quem Te Ama?

 Te destruímos, queimamos
 Derrubamos tua riqueza
 Nós não mais te amamos
 Queremos apenas tua nobreza

 Teus rios nós os poluímos
 As fontes estão secando
 As aves nós as matamos
 Com os animais acabamos

 Tua grandeza e imensidão
 Ainda não entendemos
 O bem que tu nos fazes
 Ainda não percebemos

 Nem os teus filhos te amam
 Destroem o que vêem pela frente
 Eles não sabem ainda
 Que te destruindo, destroem muita gente

 Deixamos as marcas da destruição
 Porque queremos enriquecer
 Tua morte não será em vão
 Contigo vamos perecer

 Perdoa-nos Amazônia! Não te amamos como mereces
 Em vez de te tratar como um rei, uma rainha
 Te fazemos sofrer para que seques e desapareças
 Não nos importa a vida, mas as riquezas que tinhas

 Os que te amam contigo choram
 São poucos, mas são nossos amigos
 Lutam para te defender do malvado e imploram
 Que tu tenhas piedade e não envies castigos

 Seguirás o teu ciclo
 Nós sofremos as consequências
 O homem é o pior dos bichos
 Que destrói por prepotência

 Os que te amam pensam em ti e em si
 Pois sabem que sem o ar, a água, a biodiversidade
 A vida vai aos poucos se extinguir
 Marcas do capitalismo e egoísmo: a infelicidade

 Pensar em ti é pensar no futuro
 Que tu nos garantirás
 Uma vida livre, sem muros
 A liberdade em fim reinará.

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XIV

foi mantida a grafia original.
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OS PALHAÇOS

Heróis da gargalhada, ó nobres saltimbancos,
Eu gosto de vocês,
Porque amo as expansões dos grandes risos francos
E os gestos de entremez,

E prezo, sobretudo, as grandes ironias
Das farsas joviais.
Que em visagens cruéis, imperturbáveis, frias.
À turba arremessais!

Alegres histriões dos circos e das praças,
Ah, sim, gosto de vos ver
Nas grandes contorções, a rir, a dizer graças
De o povo enlouquecer,

Ungidos pela luta heroica, descambada,
De giz e de carmim,
Nas mímicas sem par, heróis da bofetada,
Titãs do trampolim!

Correi, subi, voai num turbilhão fantástico
Por entre as saudações
Da turba que festeja o semideus elástico
Nas grandes ascensões,

E no curso veloz, vertiginoso, aéreo,
Fazei por disparar
Na face trivial do mundo egoísta e sério
A gargalhada alvar!

Depois, mais perto ainda, a voltear no espaço,
Pregai-lhe, se podeis,
Um pontapé furtivo, ó lívidos palhaços,
Luzentes como reis!

Eu rio sempre, ao ver aquela majestade,
Os trágicos desdéns
Com que nos divertis, cobertos de alvaiade,
A troco duns vinténs!

Mas rio ainda mais dos histriões burgueses,
Cobertos de ouropéis,
Que tomam neste mundo, em longos entremezes,
A sério os seus papéis.

São eles, almas vãs, consciências rebocadas,
Que enfim merecem mais
O comentário atroz das rijas gargalhadas
Que às vezes disparais!

Portanto, é rir, é rir, hirsutos, grandes, lestos,
Nas cómicas funções,
Até fazer morrer, em desmanchados gestos,
De riso as multidões!

E eu, que amo as expansões dos grandes risos francos
E os gestos de entremez,
Deixai-me dizer isto, ó nobres saltimbancos:
Eu gosto de vocês!

A HIDRA

Há muito que desceu das orientais montanhas
A hidra singular que espalha nas ardências
Duma luta febril cintilações estranhas!

Ela galga, rugindo, às grandes eminências,
E enquanto vai soltando o silvo pelo espaço
Engrossa à luz do sol na seiva das consciências.

Tem rijezas sem par, como de roscas de aço
E corre descrevendo em giros caprichosos
Na leiva popular um indefinido traço.

Prefere aos antros vis os focos luminosos
E em mil voltas cruéis aperta dia a dia,
Numa longa espiral, os tronos carunchosos.

Passou pelo país da cândida Utopia:
Nos míticos rosais viveu dum vago aroma
Ao pálido fulgor da aurora que rompia.

Mas hoje com valor em toda a parte assoma,
E sem temer sequer a lúgubre viseira
Há muito que transpôs os pórticos de Roma.

E os Papas mais os reis sentindo-a na carreira
Do seu longo triunfo, um tanto apavorados,
Trataram de acender a lívida fogueira.

E ao galope lançando os esquadrões cerrados
Começaram depois, na terra, a persegui-la,
A cúmplice fatal dos lívidos Pecados!

Mas ela sem temor, nos cérberos tranquila,
Derrama cada vez mais belos e fecundos
Os intensos clarões da lúcida pupila,

E enquanto a imprecação de tantos moribundos,
Os déspotas cruéis, acolhem com desdém,
A hidra imensa — a Ideia — a farejar nos mundos
Ainda a garra adunca afia contra alguém!

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Oldney Lopes (Homenagem ao Professor)

Se os livros alimentam o saber
O mestre proporciona-lhes sabor
Se são enigmas a resolver
O educador é o codificador.

Que seria do livro e do leitor
Sem orientador a despertar
Ideias e sentidos, corpo e cor,
Na relevante ação de mediar?

Se há na escola uma qualquer contenda
O docente é o reconciliador
Se há conflito que obstrua a senda
O mestre mostra-se apaziguador.

Que seria de uma escola sem docentes?
Salas vazias e paredes nuas
Prédio deserto, árido e silente
Portal do nada, a esmaecer nas ruas.

É que a jornada, sem apoio e guia
É trilha escura, sem norte e sem destino,
Pois falta o rumo da sabedoria,
Facho de luz, clarão para o ensino.

Sendo os alunos pássaros que tentam
Os seus primeiros voos do saber
É pelas mãos dos mestres que alimentam
A fome insaciável de aprender.

Se, entretanto, as agruras são gaiolas
Que encarceram o aluno em estupor,
A porta que liberta é a escola
E a chave que a destranca é o professor!

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Jussára C Godinho (Homenagem aos Professores)

Educador por opção, por vocação
És  mola propulsora da descoberta do saber
Deixa em cada um pedacinhos do coração
Divide todos os dias grande parte do teu ser

Aprender e ensinar
Ensinar e aprender…
Mestre!
Ensina e aprende a amar
Aprende e ensina a viver
Descortina sombras
Ilumina mentes
Descobre caminhos
Mostra horizontes

Emociona e se emociona
Ajuda a crescer
Sofre, ri, lamenta, se alegra
Mas sempre se entrega
Ao prazer e a dor de ensinar
De aprender, de viver, de Amar!

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Lilian (Ser Professor)

É despertar a magia do saber
é abrir caminhos de esperança
desvendar o mistério do cálculo
da fala e da escrita.
É criar o real desejo de ser.

É promover o saber universal
especializar políticos,
médicos, cientistas,
técnicos, administradores, artistas…
É participar profundamente do crescimento social…

É trabalhar em grande mutirão
lançando as primeiras bases
que transformarão ideias em projetos
executados em terra firme ou em imensidão.

É não se dar conta da amplitude
de um trabalho que é missão
mover o mundo através
do operário ou presidente
que um dia passou por sua mão.

Feliz Dia do Professor!

Fonte:
http://www.lilianpoesias.net/dia_do_professor.htm

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Autor Desconhecido (Dia do Professor)

Não sei o que combina mais contigo,
Uma poesia, um livro, uma pintura,
Sinceramente fico pensando
No que deve dar alegria
A alguém que é objeto da alegria de tantos.

Na verdade, o professor de verdade,
É aquele que prefere dividir o que possui,
Do que ter somente para si.

O verdadeiro mestre, sente-se feliz
Quando percebe que o caminho que
Ele abriu tem sido trilhado por muitos.

O mestre tem a sua realização no aprendizado
Do pupilo, da passagem da experiência.
É por isso que meras palavras
Não podem recompensar
A alguém que optou por esta carreira
Que muitas vezes é dolorosa e cheia de espinhos.

Chamo-te somente mestre, abnegado coração
Que se sensibiliza com os olhos sedentos
Por uma vida menos escura, mas cheia de luz.
E essa luz, está em suas mãos,
Em seu coração, em seu olhar.

Que bom que existe um dia
Reservado só para você!
Obrigado por sua obstinação incontida,
Pois graças a ela, você nunca desiste.

Você é muito importante,
Espero que você seja sempre assim.

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Ringo Star (Professor, amigo e educador)

Ringo é de Agua Nova/RN

Você é de toda a nação
Sabedoria e essência,
Você tem sido amigo
E uma grande excelência,
Parabenizo você,
“O símbolo da inteligência”.

O valor que a escola tem,
É graças a sua bravura
Você! Amigo tem demonstrado
Sabedoria e ternura,
Por isso você é um exemplo
De educação e cultura.

O professor não é visto
Nos rádios, nem na tv,
Mas devemos a ele,
Herança de receber,
Com amor e esperança,
A maior de todas as heranças
Que nos leva a crescer.

Sim! é a inteligência
Que ele tem nos dedicado,
Desde os primeiros passos
Que o mundo foi civilizado
E passou a ser escola,
E um eterno aprendizado.

Você sempre será para todos,
A maior satisfação,
Sempre contribuindo,
Para crescer a educação,
Trazendo nova Ciência
Mostrando Experiência,
E conquistando a nação.

“Este 15 de outubro,
Será com muita alegria
De realizar um sonho,
E buscar no dia-a-dia
Ser um grande professor,
E demonstrar meu valor,
Graças a sabedoria.

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Francisco Miguel de Moura (Chico Miguel) (Sonetos Escolhidos 2)

Libreria Fogola Pisa
A CASA E O POETA

A casa do poeta tem por via
a fala dos irmãos com outro irmão;
de uma vida coberta de paixão,
as confissões: tristeza ou alegria.

É um menino pequeno (como não?)
no que quis e jamais pôde alcançar,
que sofre tantas vezes por amar,
quantas vezes num choro sem razão.

De medo, treme à vista do vizinho,
pois no quintal dos fundos grita e freme
um diabo nu, barrando o seu caminho.

Diante de Deus e de Nossa Senhora,
pede conformação para quem geme…
E não terá sua casa onde não mora.

AMOR, SEMPRE AMOR (1)

Eras tu a mais linda da cidade.
E eu cheguei, um matuto impertinente,
apelidado até de inteligente
por colegas, amigos na verdade.

Teus sorrisos me enchiam de vaidade
e àqueles que te tinham de inocente,
e a mim me enfeitiçaram de repente,
como ninguém calcula. Ninguém há de

saber o que lutei para ganhar-te,
para querer-me ali, e em qualquer parte,
e, enfim, nos enlaçarmos com ardor.

Fogo em que conservamos, te asseguro,
a minha felicidade e o teu futuro
para viver tão puro e santo amor.

AMOR, SEMPRE AMOR (2)

Mudam-se tempos, vidas e pesares,
mas, como outrora, a amar continuaremos.
Amo-te mais, não queiras nem saber,
amas-me mais agora e como sempre.

Se outrora caminhamos de mãos dadas,
era o medo do mundo e suas garras.
Já hoje nos soltamos pra andar juntos,
pra mais amar, que o nossa amor se aclara.

Teu corpo de menina e de mulher
Que tanto outrora já me deu ciúmes,
Hoje é prazer e graça como nunca.

Sendo eu feio, invulgar, e tu, tão bela
formamos lindo par por toda a vida
e abraçaremos outras se inda houver.

DEUSA

Era uma deusa humanamente bela,
de olhos molhados a deitarem luz,
sobre perdidos corações sem cores.
Desprendia paixões nos seus encantos.

Da carne, o cheiro, a tepidez, o orvalho
eram pingos da tarde… E a noite vinha.
Mas o brilho dos olhos tão intenso
iluminava todos os caminhos.

E eu disse – “tolo”! – à blusa desdobrada
à brisa, que assanhava as mentes frias,
cheia da graça dos recantos da alma.

De repente, nas asas dos seus braços
levado vi-me e, pelos céus abertos,
caírem penas pelos meus pecados.

DESCIDA

Quantos anos que gente sobe a vida
pensando que subiu, cresceu, mudou,
a enganar-se na festa e na bebida,
pra ignorar o mundo – este robô!

Vive-se o tempo. E as horas consumidas
em vãos gozos e gulas, sem fronteiras,
desconhecem as dores pressentidas,
e o fumo das batalhas derradeiras.

Ninguém espreita a onda dos mistérios,
da velhice, da doença e o conteúdo
de mascarados e sutis impérios.

A lei da morte apaga amor, carinhos,
porque o tempo de Deus ficou desnudo
na cruel desesperança dos caminhos.

A DEUSA NUA

Vi uma deusa solitária e nua,
a correr pelas praias. Seu segredo
era o silêncio. Eu quase senti medo
daquela cor de prata, cor de lua.

Corri para apanhá-la, ainda era cedo!
Com vergonha de mim, vindo da rua
tão faminto e cansado. E ela recua…
“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.

E ela correu de novo… E, atrás, perdido,
desesperado, eu, louco e comovido,
queria o mel dos lábios cor de beijos.

Cego e surdo, ante aquela formosura,
seio pulsante, o’ estranha criatura!…
Caí morrendo a morte dos desejos.

A PARTIDA

Na partida os adeuses, gume e corte
dos prazeres do amor, quanto tormento!
Cada qual que demonstre quanto é forte,
lábios secos mordendo o sentimento.

Do ser brotam soluços a toda hora,
as faces no calor do perdimento,
olhos no chão, no ar, por dentro e fora,
pedem aos céus a força e o alimento.

Ninguém vai, ninguém fica. Oh! se reparte
no transporte que liga e que desliga!
Confusão de saber quem fica ou parte.

Não se explica tamanha intensidade
Amarga, e doce, e errante, que interliga
os corações perdidos de saudade.

EX-ANIMAL

Impossível falar à alma de um
dos viventes de Deus sobre esta lida,
sobretudo o que vai na alma ferida,
ou na lembrança que não é comum.

Somos ilhas cercadas por nenhum
outro ser dito irmão. Nada o convida
a um mínimo de esforço que dê vida
ou assunção de problemas, seja algum

conselho, bate-papo ou sofrimento
sobre ações, pensamentos e palavras,
salvo se se tratar do testamento.

O desumano egoísmo é sem limite,
do prazer de si só faz suas lavras,
e o mundo inteiro que se dinamite.

AS COISAS QUE…

Passo a limpo os guardados, vejo a capa
de um livro de poemas que me roeu
por ter nele o meu rosto!… Olho-o, à socapa,
tentando deslembrar quem era eu.

O mundo é diferente em cada etapa,
e a gente nem percebe que sofreu.
Já não quero sequer buscar, no mapa,
a alma, o sonho onde ela se perdeu.

Como senti-me mal naquele dia!
Mas me guardei daquela coisa fria
pra me esquecer, enfim, que fui um jovem.

Por que perder meu tempo em desmazelo?
Se o passado morreu já não é belo,
quero o presente e as coisas que nos movem.

CAMINHANTE

No início, para trás eram meus passos,
mesmo assim alcancei quem se atrasou
mais do que eu, quem nada me escutou.
Meus pés doíam presos a alguns laços…

De rosto, a olhar em volta do ocidente,
jamais ouvi um som de voz alheia,
sem ver minhas pegadas pela areia,
a curtir um passado inconseqüente.

Fiz pecados tão poucos, rezei tudo.
Cansado de falar me tornei mudo,
de tanto acreditar fiquei descrente.

Atrasei-me de amor pelo vizinho,
mas descobri, agora, que sozinho
ainda posso dar passos para frente.

DA VIDA E DA MORTE

Há quem busque esta vida noutra vida,
e são felizes recriação da morte.
E quem encontre a vida na antemorte,
e são felizes plenamente em vida.

Por que preocupar-se com a tal morte,
se ela vem no seu tempo como a vida,
ou depois. E se o ente está sem vida,
logo o engana e faz dele vida e morte?

Há quem, afadigado pela vida,
transforme a vida-vida em vida-morte
e passe uma existência sem ter vida.

E os que só vivem dissecando a morte
pra saber se depois da vida há vida,
ou se depois da morte tudo é morte.

Fonte:
O Autor

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Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 2

ARLETE PIEDADE
 Amazónia – Pulmão verde e rubro


 És verde e rubro, o pulmão deste planeta azul e branco!
 – Verde das florestas em extensão, rubro das queimadas,
 estendendo longos dedos negros em direção ao flanco,
 da mãe ignorada pelos filhos, de quem devia ser amada!

 Noutros tempos eras verde, azul, claro, limpo e puro,
 no teu seio criavas belos seres, de alma transparente!
 um belo e imponente rio atravessava teu corpo e juro…
 eras a mais preciosa jóia, deste planeta de alma doente!

 Mas os homens de distantes terras, foram chegando,
 de teu sadio, fértil, bravio e belo corpo se apossando,
 para seu deleite, prazer, sendo a riqueza fácil, o tema…

 teus tesouros foram furtando, teus rios conspurcando,
 teus habitantes foram corrompendo, mulheres violando,
 ainda será tempo de te salvar, sendo esse nosso lema?
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ARMANDO SOUZA
As cores da Amazônia

 Verde de mil e um verdes, vida a subir.
 Agarrando o sol
 Planície do verde olhando o céu, a florir.
 Casa e mesa das mariposas de mil cores a casar
 Beleza de diferentes pássaros a voar
 Subindo às alturas, para do verde sair.
 Amazônia, pulmão que a natureza nos deu.
 Folhas são ventoinhas purificando o ar do céu
 Dentro de seu verde tanta vida
 Beleza para nós desconhecida
 Tantos sonhos selvagens, frutos esquisitos.
 Podem ser de amor ou de morte da Amazônia gritos
 Numa certa clareira, moças deitadas.
 Cobrindo suas vergonhas
 São cores, muitas cores, tom garridas, pintadas.
 Cabanas construídas de folhas de bananeira
 Quando chove, é ali que se realiza toda a brincadeira.
 Macacos voam fugidios
 Mil qualidade de peixes e piranhas nos rios
 Debaixo de tanta frescura, vive gente primitiva sorrindo.
 Mas a civilização vai seu lar destruindo
 Com enormes queimadas
 Deixando as cores da Amazônia desbotadas
 Debaixo dos mil verdes, nossa saúde nas flores.
 As raízes são venenos da nossa doença
 Tudo isto pode fazer passar nossas dores
 Aumentar no viver nossa Crença
 Debaixo do verde repuxos ou lanças de pau
 Dão vida a vida com o cacau
 Névoa respiram chuva torrencial
 Não queiras conhecer os segredos dos fluviais
 Formam oceanos de espuma amarela
 Deixado os verdes aveludados
 Em linda aquarela
 O sol raia, grande alegria.
 Ouve-se o batuque, musica de poesia.
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BEATRIZ KAPPKE
Amazônia e a responsabilidade ambiental.


 Assunto da atualidade
 Que enfronha religiosos
 E pessoas de qualquer idade
 De todas as profissões e também os ociosos.

 Denunciados todo os dias com tristeza
 Abusos de toda sorte
 Crimes contra a frágil natureza
 Prevendo para o nosso planeta a morte!

 Tímidas porém são
 O vislumbrar de saídas eficazes
 Para resolver a tal questão
 Com ações realmente pertinazes.

 Leis editar, acordos firmar
 A Amazônia proteger
 A humanidade amedrontar
 Irá da imprudência humana os desmandos resolver?

 Sobre utilização dos recursos naturais
 São louváveis as campanhas
 Os diferentes e respeitáveis pontos de vista
 Denotam uma preocupação tamanha.

 Mas a atual situação, melhorar ou piorar
 O ser humano tem em suas mãos
 Porém urge a consciência mudar
 E ao comportamento dar outra direção.

 Meio ambiente exige atitude, visão e percepção
 Respeito à vida pessoal, à vida do outro e da natureza
 Não só na Amazônia mas em todo este torrão
 De tanta grandeza e singular beleza!

 Só então teremos neste mundo
 De seis bilhões de indivíduos
 Menos miseráveis num submundo
 Clamando para viverem mais dignos!

 Será o grande passo
 Que a humanidade precisa dar
 Enlaçar-se num grande abraço
 E a paz social alcançar!
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BILL SHALDERS
Pegar-te no colo


 Minha Amazônia Querida
 Pulmão do meu lar Terra
 Grandeza verde do planeta Azul
 Dói meu espírito ver sua devastação
 Dói minha alma ver sua agonia

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até te curares
 Da maldade da serra
 Da maldade do homem
 Da maldade do ignorante

 Ah, que vontade de pegar-te no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E sonhar com uma nova Terra
 E sonhar com um novo planeta
 Que entenda e acolha a tua formosura

 Ah, que vontade de te pegar no colo
 Embalar-te até adormecermos juntos
 E acordar somente no despertar da humanidade
 Pois se morreres, morreremos junto
 Morreremos todos, queiramos ou não

 Cada ser que vive em tuas entranhas
 Cada pedacinho do teu chão
 Cada pedacinho de tua copa
 Representa um pedacinho do meu coração
 Representa um pedacinho do meu Ser

 Cada ser teu que morre, morro junto
 Cada ser teu que parte, parto junto
 Cada gota a menos de orvalho
 Uma lágrima minha a mais
 Ah, que vontade de pegar-te no colo

 Embalar-te até podermos fugir desta sanha
 Pois se um dia morreres
 Morrerei por ti, morrerei junto a ti
 Somos ligados pelo amor
 Ah, que vontade de pegar-te no colo.
====================

DENISE SEVERGNINI
Floresta Amazônica


 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Desmatamento e erosão…
 Demanda de carvão…
 Animais em extinção…

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Assoreamento e erosão…
 Garimpo e contaminação…
 Culturas em destruição…

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

 Paisagem em degradação…
 Provocada pela mineração…
 E a droga da poluição…

 Brasil, sai desta insônia
 E salva a tua Amazônia.

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XIII

foi mantida a grafia original.
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A MÃE

Eu canto-vos, mulher, porque vos tenho visto
Na pálpebra vermelha a lágrima de amor,
Que vem de Eva a Maria — a doce mãe de Cristo –
Formando a estalactite imensa duma dor!

Oh, quantas vezes já na aldeia miserável
Nas tristezas do campo, às portas dos casais,
Vos tenho surpreendido, em êxtase adorável,
Enquanto os filhos nus ao peito conchegais!

A fria noite chega. Os maus, de boca cheia,
Rebolam-se na terra: ainda pedem pão!
Com eles repartis a vossa parca ceia;
E vendo-os a dormir podeis sorrir então.

De inverno quase sempre as noites são mordentes.
Uivam lobos na serra: o vento uiva também:
Mas eles vão dormindo os longos sonos quentes,
Enquanto a vil insónia oprime a pobre mãe!

Tendes sustos cruéis. Temendo que lhes caia
A roupa que os abafa, aos pobres acudis;
E aninhando-os melhor nas vossas velhas saias
Podeis então dormir um tanto mais feliz.

Mulher quanto é suave e longo esse poema
Quanto é preciso ó mãe, no trânsito cruel,
Que vossa alma estremeça e o vosso peito gema
A fim de que em vós brilhe o mais alto laurel!

Quem é que nunca viu, na rua, a cada passo,
A pálida mulher que rompe a multidão,
Trazendo agasalhado, um filho no regaço,
E aos tombos, muita vez, um outro pela mão?!

Nos frios do lajedo, às vezes, pede esmola
Às portas dos cafés: ninguém a quer ouvir:
E a ela qualquer côdea a farta e a consola
Contanto que sem fome os filhos vão dormir!

E enquanto à luz do gás a turba prazenteira
No fumo dos festins revoa em turbilhão,
Quantos dramas cruéis nas húmidas trapeiras;
Nos campos quantas mães sem roupas e sem pão?!

E sempre a mesma lenda, a mesma história antiga:
Do palácio à cabana o vosso doce olhar,
Nas insónias cruéis, na fome ou na fadiga,
Dum raio criador o berço a iluminar!

No entanto à doce mãe, se aquele amor sem termo,
Da moda traja agora os novos ouropéis,
E o vosso coração já gasto e um pouco enfermo,
Sofrendo se dilui nos ideais cruéis;

Nas vagas pulsações dumas recentes ânsias,
Se aquela santa flor das grandes comoções,
Apenas tem lugar nas vossas elegâncias,
Como um enfeite de mimo amado nos salões;

Na corrente fatal que ao longe arrasta os povos,
Se o vosso grande afeto intenta erguer-se mais,
Sonhando a sagração dos heroísmos novos,
Resplendente de luz; vistosa de metais:

Aos reflexos do gás, ó mãe, abri passagem
Por entre a saudação das alas cortesãs,
Levando as seduções da vossa doce imagem
Aos delírios da noite, às ceias das manhãs!

Surgi do canto obscuro aonde o casto seio
Palpita ingénuo e bom na paz da solidão,
E o vosso amor levai à ópera e ao passeio
A fim de que ele arranque um bravo à multidão!

E eu hei de rir ao ver que o peito onde um tesouro
Maior do que nenhum podemos encontrar,
Intenta seduzir pela medalha de ouro
Que aos pequenos heróis os reis costumam dar!

Arcanjo vai-te embora: é tarde: em nossas casas
Talvez alguém se aflija; é tão deserta a rua!…
Tu deves sentir frio! Embuça-te nas asas:
Dá saudades à lua.

Um beijo em cada estrela! … Espera que eu sou louco!
Sonhei devo pagar: perdão anjo dos céus!
Agora tem cuidado; o céu escorrega um pouco:
Boas noites adeus!

SANTA SIMPLICIDADE

Na serena missão de paz que tu cumpriste
Ó suave Jesus, ó doce galileu,
Que santa singeleza e que perfume triste
Do Teu casto perfil no mundo rescendeu!

Havia no Teu verbo aquela unção divina
Que a velha harpa de Job soltou nas solidões,
E o belo, o puro sol da antiga Palestina
Suave contornou, de luz, Tuas feições!

Compunham-Te o cortejo uns pobres pescadores
Almas retas e sãs; marchavas por Teu pé,
E sorrias falando aos rudes e aos pastores,
Sentado nos portais da pobre Nazaré.

Da Tua Galileia os vales percorrias
Levando um bom quinhão de afeto a cada lar,
E o grande olhar suave e terno das judias
Turbaste muita vez, decerto, sem pensar!

E mais simples na morte, apenas a Tua alma
Transpunha as regiões puríssimas do sol,
Tu que havias colhido a imorredoura palma
Não tinhas para o corpo as galas dum lençol!

Consola-te ó Jesus! Tu deves já ter visto
Que sobre a Terra, agora, ao Teu nome fiéis,
Os que se dizem ser apóstolos de Cristo
Não precisam trajar os ínfimos buréis.

Não maceram seus pés! Não vão pobres e rotos
Envoltos na estamenha, apedrejados, sós,
Nos desertos viver de mel e gafanhotos,
Convertendo o gentio ao som da sua voz.

Ante eles, ao contrário, alargam-se os batentes
Dos palácios reais, nas grandes receções,
E formam-lhes cortejo os coches reluzentes
Atrás dos quais se bate um trote de esquadrões!

Cobrindo-lhes, depois, de insígnias as roupetas,
A fim de honrar melhor a primitiva fé,
Redobram-se ainda mais as velhas etiquetas;
Polvilham-se melhor os homens da libré!

E dão-se-lhes festins onde há grandes baixelas,
Fatais cintilações de vinhos e rubins,
Gargantas ideais, grandes espáduas belas,
Lampejo de cristais, insídias de cetins!

Oh! Temo bem Jesus que tantas pedrarias
Façam peso de mais na barca do Senhor,
Quando é certo que as mãos de Pedro um pouco frias
Mal podem segurar o leme salvador!

Por isso quando avisto o espaço que negreja
E o mar que se encapela, eu temo que amanhã
Do fendido baixel da Tua velha Igreja
Apenas reste, à proa, uma ficção pagã!

O velho Olimpo dorme o bom sono comprido
Que prostra o lutador no fim duma batalha,
E os Deuses doutro tempo, em lívida mortalha,
Descansam no torpor dum mundo corrompido.

No puro céu cristão, de estrelas revestido,
No entanto há muito já que chora e que trabalha,
Por nós o Cristo bom sem que seu Pai lhe valha,
A fim de ver, de todo, o mundo redimido!

Justiça, traça o manto alvíssimo e estrelado
E senta-te, mulher, no trono abandonado
Pelos vultos gentis de tantos deuses velhos!

Depois inda maior, mais pura e mais serena,
No sangue de Jesus molhando a tua pena
Explica a nova lei no fim dos evangelhos!

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Simone Borba Pinheiro (Ciranda da Amazonia) Parte 1

SIMONE BORBA PINHEIRO
Vamos salvar a Amazônia

No coração do mundo,
 nas profundezas do centro da terra,
 emerge o mais precioso dos tesouros:
 Uma Floresta Encantada!…

 Os espíritos da floresta, à noite,
 entoam hinos de louvor á sua existência.
 A mata verdejante e misteriosa,
 derrama lágrimas peroladas quando ceifada.

 Aves assustadas tingem o céu de negro.
 Jacarés e vitórias-régias formam lindos tapetes aquáticos.
 E o povo que ali habita, pede socorro,
 bordando anéis de fumaça no céu da mata.

 Pois a floresta, aos poucos, vai desencantando,
 perdendo o brilho, a cor, a vida…
 O homem mau abriu caminho floresta adentro
 empunhando nas mãos a mortal arma
 de lâminas frias e afiadas,
 matando a vida na Floresta Encantada.

 Os seres da floresta pedem socorro.
 Vamos salvar a Amazônia
 da derrubada indiscriminada da mata,
 da matança descabida e gananciosa
 dos animais que ali habitam,
 das doenças do povo da floresta
 que indefesos tombam sem auxílio.

 Rios e igarapés choram lágrimas poluídas.
 É a morte chegando lentamente
 ao coração verde do planeta…
 Uni-vos com braços fortes,
 em brados retumbantes…
 Vamos salvar a Amazônia,
 a Floresta Encantada.
=====================

O Grito da Amazônia
ALBERTO PEYRANO

 Amazônia, mãe amada!
 Grito vital da terra
 Que clama sua grande dor.
 Hoje a onça agonizante
 O rosto do índio lambeu
 E se abraçaram as árvores
 Chorando por teu martírio.
 De Manaus a Porto Velho,
 De Macapá ao Xacurí
 Surge uma voz entre sombras
 Que alerta a Humanidade:
 “Filho, estou dolorida”!
 “Filho meu, cuida de mim”!
 Só a metade consciente
 Dos teus filhos, escutou.
 Só a metade que sente
 Tua tristeza e teu penar.
 A outra metade, arrasa
 Tua riqueza natural.
 A outra metade só escuta
 A música material.
 A noite traz a Lua
 O rio se põe a dormir,
 A selva vela em silêncio
 Esperando o que há por vir…
 Enquanto o índio e a onça,
 Irmãos no sofrer,
 Secam suas lágrimas vãs,
 Abrindo as veias da alma
 E regam teu velho solo
 Com dor, sangue e amor.
================================

O Sabiá Chorou
ANTONIO CÍCERO DA SILVA

 O sábia tristemente chorou
 A árvore com o seu ninho caiu
 O homem a árvore cerrou
 E contente ainda sorriu.

 O sabiá se entristeceu
 No ninho estavam seus filhos
 Da região se locomoveu
 Emudeceu-se, perdeu seu brilho.

 Lá longe triste a cantar
 Queixava-se muito do homem
 Que a natureza veio a danificar
 Ao que não é dele, o humano consome.

 O sabiá clamava por ajuda
 À mãe natureza
 Que também sofria, quase desnuda
 Ela também, o homem perseguia.

 O sabiá da natureza era membro
 E não prejudicavas a ninguém
 Viviam alegres a contento
 Até serem prejudicadas por alguém…
================================

Amazônia
ANTÓNIO ZUMAIA

 Um Paraíso verde na terra…
 De múltiplas cores é destino
 e Deus sabe a riqueza que encerra;
 Loucura dos homens… é desatino.

 Mas destruir o que Deus plantou,
 é pecado contra a humanidade;
 As cores lindas que ELE pintou.
 Devastar assim é crueldade.

 Brasil de pérolas carregado;
 Mil cores e amores é tua terra.
 Por isso és dos teus filhos amado,
 na alegria que teu povo encerra.

 O povo que é maravilha a cantar;
 Alegre e corajoso vai lutar.
 Amazônia terra para sonhar,
 foi uma prenda, que Deus lhe quis dar.

 É por isso que o povo Brasileiro,
 o sonho de encantar… Vai preservar!
 Porque o Paraíso, é do mundo inteiro
 e o Brasil… cioso o vai guardar.

 Paraíso de mil ilhas… Encanto!
 São mil caminhos de água a percorrer.
 Contraste de cores, que são o espanto,
 dos felizes… que o podem conhecer.
 Povos que o habitam são felicidade,
 porque a natureza… é a VERDADE.
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Chamas
ARLETE PIEDADE

 Línguas de fogo serpenteantes e gigantescas.
 sobem lambendo copas de árvores impotentes,
 rastejantes se insinuam, titânicas e dantescas,
 consumindo vorazmente, em todas as frentes.

 O descuido criminoso do homem pelo ambiente,
 cruel ganância de ganhos, imediatos e lucrativos,
 o desprezo pelas gerações futuras, são somente,
 alguns dos evidentes e mais falados dos motivos!

 Mas não esqueçam esses covardes incendiários,
 que ainda, mesmo neste mundo, são necessários,
 tempo, oportunidade e do castigo não escaparão…

 pois que se a justiça dos homens é ineficaz e lenta,
 da de Deus, não se livrarão, e na sua alma a tormenta,
 diáriamente, lhe fará desejar a morte, como expiação!

Fonte:
http://www.familiaborbapinheiro.com/ciranda_amazonia.htm

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Ialmar Pio Schneider (Mensagem ao Poeta)

Vai em frente, segue a estrada
sem muito esperar da glória;
vida simples, devotada…
Se alguém ouvir tua estória,
nostálgica e merencória,
canta sempre, até por nada !…

Faze como o passarinho
que saúda a natureza,
enquanto busca um raminho,
com afã e singeleza,
p’ra construir o seu ninho:
– maior prova de beleza.

Sejam teus versos cantigas
que a gente escuta na rua;
pobres canções, mas amigas
como as estrelas e a lua;
pois a terra será tua,
longe de dor e fadigas…

Não temas crítica austera
e nem te afastes do tema,
sempre alcança quem espera…
Prosseguir ! seja o teu lema
e verás a primavera
cingir-te com seu diadema !…

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XII

foi mantida a grafia original.
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O ÚLTIMO D. JUAN

Daquele de quem falo, as sossegadas lousas
Podiam-vos contar as violações brutais!
A gula com que morde as mais sagradas cousas
De horror faz recuar os trémulos chacais.

Não descanta à viola, à noite, os seus enleios:
Ele vive na sombra e eu sei também que vós,
Gentis belezas de hoje, á astros dos Passeios,
Lhe não lançais, a furto, a escada de retrós.

Mas sede muito embora as virgens sem desejos,
As monjas virginais, uns pudicos dragões;
Fechai o níveo colo aos vendavais dos beijos,
E às noites de luar os vossos corações;

Um dia há de chegar em que ele, informe, tosco,
Sem garbo, sem pudor, grotesco, infame, vil;
Nas grandes solidões irá dormir convosco,
Mordendo em cada seio o lírio mais gentil!

E o que ele adora muito ó virgens romanescas
Não é o que abrigais de etéreo e virginal:
Adora os corpos nus; as belas carnes frescas;
Deixando o resto a vós danados do ideal!

Não vive como nós de cândidas mentiras:
Não comunga do amor esse ilusório pão:
Devora com fervor as pálidas Elviras
E em muitos seios bons dá pasto ao coração!

Tem palácios na sombra e fazem-lhe um tesouro
Maior do que o dos reis; adora as solidões:
Não usa de espadim; não traz esporas de ouro;
Mas vive como os reis das grandes corrupções!

Flores sentimentais! Treinei do paladino,
Do velho D. Juan, feroz conquistador,
A quem da vossa boca um hálito divino,
Em vida, faz fugir talvez cheio de horror;

Mas que um dia virá, na cândida epiderme,
Na sagrada nudez dos colos virginais,
Em hinos de triunfo — o grande César-Verme! –
Colher o que ficou de tantos ideais!

Formosuras do inverno! Ao sol das duas horas
A aérea multidão de fadas quebradiças,
Gentis aparições dos bailes e das missas,
Desliza no fulgor das pompas sedutoras.

No arfar da casimira há frases tentadoras
E maciezas tais nas lânguidas peliças,
Que as tristes comoções, decrépitas, mortiças,
Ressurgem do letargo á pálidas senhoras!

E muitos hão de ter uns êxtases divinos
Ouvindo soluçar, à noite, aos violinos,
A vaga introdução duma balada aérea;

Enquanto, do futuro, ao toque da alvorada,
Se escuta, a martelar na sua barricada,
Sinistra, rota e fria, a lívida Miséria.
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ANTIGO TEMA

Passai larvas gentis na rua da cidade
Aonde se atropela a turba folgazã;
A noite é um tanto agreste e cheia de humidade
Mas o tédio mortal precisa a claridade
Que em vosso olhar trazeis, visões do macadame!

Estátuas sem calor! Vós sois das grandes vasas
Dum corrompido mar as Deusas menos vis!
Se à noite abandonais, voando, as pobres casas,
E vindes pela rua enlamear as asas,
Quem sabe a fome oculta, as sedes que sentis!

A pálida Miséria em seu triste cortejo
Precisa as contrações de muitos ombros nus:
E vós ides sorrindo ao lúbrico desejo,
Do carro da desgraça arremessando um beijo
Que apenas é de lama em vez de ser de luz!

Embora! Caminhai deixando um grande rastro
De estranhas emoções, de aromas sensuais:
E ao pobre que mendiga a palidez dum astro;
Ao que sonha visões e arcanjos de alabastro
Fazei por despenhar nos longos tremedais!

Do velho idílio, a musa, há muito já que dorme,
E o arroio em vão suspira e chora a nossos pés!
A grande multidão — a vaga, a onda enorme,
Que oscila sem cessar, e gira multiforme
Às corridas, ao circo, ao templo e aos cafés,

Talvez ao pressentir que tudo, enfim, declina,
Adore a imensa luz, em vós, constelações,
Que não baixais do céu; que vindes duma esquina,
Vagando no rumor da aérea musselina,
Em plena bacanal fingindo de visões?

Oh, sois do nosso tempo! A lânguida existência
De tédios se consome e sente febres más!
Aspira ao que é bizarro: a uma esquisita essência
Que exala aquela flor que vem na decadência
E quando a toda a luz sucede a luz do gás!

Do século a voz rude apenas diz — trabalha! –
Ao poste vil amarra o lúbrico ideal
Que expira, enfim, talhando a fúnebre mortalha
Na vossa trança gasta, ó musas da canalha
Que apenas revoais do olimpo ao hospital!

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Quirino dos Santos (O Saci)

“Que tens tu, oh, Mariquinhas,
Por que é essa palidez?
Tristeza que nunca tinhas
Te pousa na linda tez.

Ainda há pouco no terreiro
Saltavas a traquinar;
Nesse teu rosto trigueiro
Não se via um só pesar;

Sorrias sempre contente,
já hoje não sorris;
Cozias tão diligente
Cantando sempre feliz.

Já hoje tua cantiga
É toda cheia de dor,
E Aninhas, tua amiga
Não buscas mais com amor.

No quintal as tuas flores
Todas pendem a morrer;
Do sol os quentes ardores
Não lhes vais arrefecer.

Que tens tu, oh, Mariquinhas,
Por que é essa palidez?
Tristeza que nunca tinhas
Te pousa na linda tez!

Mariquinhas, minha neta,
A causa toda já sei,
De andares tão inquieta;
Agora já adivinhei!

Aquela vasta silveira
Além dos campos ali,
É assombrada a noite inteira
Por um medonho Saci.

É ele que vem horrendo
Montar nos bons animais;
A noite toda correndo
Ai! quanto susto nos faz!

Foi ali ele que tu o viste,
Que a tua face beijou…
Depois disso é que assim triste
A minha neta ficou.

Mariquinhas, minha neta,
Neta do meu coração,
Não quero te ver inquieta,
Inquieta mais assim, não!

Vai contrita e humilhada
Te prostrar aos pés de Deus;
Expiar, jura, emendada
Os graves pecados teus.

Que hás de ter infinito
Prazer imenso a fruir,
E o Sererê maldito
Para longe há de fugir.

Eia pois, oh Mariquinhas,
Finda a tua palidez;
Tristeza que nunca tinhas
Não tenhas mais desta vez!”

Assim falou a velhinha
No seu sisudo falar;
Aconselhou a netinha
E logo pôs-se a rezar!

Mariquinhas magoada
Não responde à velha, não!
Ai! pobre, de envergonhada
Ficou a olhar para o chão.

Mas de noite a janelinha
Do seu quarto se entreabriu,
E houve quem visse asinha
Que um vulto a ela assumiu!

Como ela deixa a desora
Um vulto junto de si?!
Venham cá dizer-me agora
Que não seria o Saci!…

Fonte:
A Casa do Bruxo

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte final

THAIS S FRANCISO

Adeus, Inverno!..


O Inverno já se despede mais uma vez,
deixando que o gelo se derreta,
e umedeça a terra,
onde sementes novas, semeei!..

Por onde caminhei,
semeei minha essência.
Semeei quem eu sou, como sou,
ora sorrindo, ora pensativa, mas
sempre carregando o amor no coração!..

A Primavera já se aproxima,
e, encontrando o solo umedecido,
deixará que o verde se renove, em novos brotos,
e, que desabrochem as flores, em variadas cores,
para encantar e colorir a vida que quer viver!..

Como a neve a gotejar,
deixo que minhas lágrimas caiam neste chão,
despedindo-me também, desta minha solidão,
pois como a estação que recomeça,
também eu vou recomeçar,
pois já é tempo de sorrir, e,
da tristeza se despedir!..

Vem Primavera!!
Vem colorir nossos jardins,
perfumar a nossa alma,
alegrar borboletas e beija-flores,
na colheita do néctar da vida, e,
nos ensinar mais uma vez
que sempre há tempo
para recomeçar novas eras
=================

TONHO FRANÇA

Primavera


Vem, abre teu coração, tua cartas, apaga as marcas
as dores, renova o coração
o vento em acordes suaves de bandolins
traz possibilidades de um céu jasmim
e de novo podemos refazer as aquarelas
somos nós o pincel, as tintas, a inspiração
Vem, há flores nas ruas, por pura intuição, magia
e a poesia de renascer, vem do Universo, de algo maior
sempre maior que se espera, é a estação do céu,
É Deus sorrindo- primavera.
==================

WILAME LIMA SILVA

Primavera


Lá vem a primavera com todas as suas flores.
Deixou pra trás outras estações e entre flores apareceu
Apareceu bela, formosa, cheia de encanto, de deslumbre.
Cheia de perfume, cheia de cor.
Cheia de ar que insinua o amor.

Lá vem primavera com o sol mais brilhante
Lá vem a primavera com as cores da natureza em si
Lá vem a primavera mostrando toda a sua cor
Cor das flores, cor das matas, do azul do céu, e tantas outras cores à mostra
Lá vem a primavera com pássaros entoando cantos primaveris
O mundo mais lindo parece ficar

Primavera cantada por tantos poetas
Cantada em prosas ou versos
Cantadas em recitais de amor
Primavera, estação festiva
Nesta estação Deus pintor se tornou

Usou Deus nesta estação uma mistura celeste
E sobre a Terra derramou
As flores foram as quem mais absorveram esta mistura
Ao mundo seu colorido mostrou
Enfeitando assim a primavera
Nunca outra estação mais bela se tornou.

Lá vem a primavera
Que seja bem vinda, querida estação
Recebemos-te, primavera
Com a alegria imensa
Mostrada em nosso coração
===================

YARA NAZARÉ

Rainha Primeira!


Hoje cedo, o sol iniciou seu ocaso
Tingiu o céu de um tom rosado
Os pássaros cruzaram os ares
Revoada de pardais e bem-te-vis
Em um belo e magistral bailado.

No regato as águas cantaloravam
No combinado ritmo da melodia
Que se ouvia através dos bosques
No colorido de todas as flores
Rosa carola, gérberas e lírios
Girassóis, orquídeas e margaridas.

E as cigarras silenciaram…
Em respeito a sua chegada
A Rainha, a mais bela das estações
A inspiradora dos grandes amores
Sua majestade, a PRIMAVERA!
====================

YARA NAZARÉ

Primavera


Eis que chega a primavera
Trazendo consigo os olores
Das flores as mais singelas
O chilreio de pássaros em festa
Em sintonia brindam nos caminhos
Saudando a ti, estação primeira.

Aquela que embala nosso andar
Faz estampar nas faces, o sorriso
Entre alamedas lindas e floridas
Embelezadas de todas as cores
Em tua paisagem tão singular.

És sim, a estação dos amores
Do pólen que a abelha conduz
Espargindo saudáveis sementes
Para a vida fluir e alimentar
No multiplicar das tuas flores!
==================

ZENA MACIEL

É Primavera no meu Coração


A alma povoada de doces lembranças sorri
Sonha com a chegada da primavera
O coração escancarado faz um ritual
solene para vestir-se de flores
Quer curar as dores,
com a essência dos jasmins
Quer apagar o passado,
com o rubro tom de carmim
Quer construir um ninho
de fantasias ,com as pétalas macias
da flor da virgem alegria
Quer agasalhar os sonhos ,
nas folhas aveludadas das orquídeas
Quer semear ilusões nos jardins
dos girassóis
Quer deleitar-se com o carinho
das pequenas azaléias
Quer perfumar os dias ,
com a suavidade das fantasias
Quer decorar a alma
com os versos da poesia
Quer eleger a primavera como
a rainha das estações
Quer entrar no espelho do tempo,
e esquecer a efemeridade da vida.

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) XI

foi mantida a grafia original.
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NOS CAMPOS

A fragrância do trevo e das flores selvagens
Da noite embalsamava as tépidas bafagens:
Ao longe os astros bons olhavam-nos dos céus.
O mundo era um altar; as serras grandes aras;
E os cânticos da paz corriam nas searas
Em honra do bom Deus.

No solene silêncio imersa ia minha alma
Em tranquila mudez; naquela doce calma
Que sente germinar os frescos vegetais.
De súbito uma voz deixou-me um pouco extático:
Detive-me um momento; olhei: — era o viático!

De noite a horas tais,
Que andava Deus fazendo, assim, pela campina,
Trazido pela mão dum padre sem batina
Roubado às sensações dum longo ressonar?
Fui seguindo o cortejo até que numa choça
O Rei dos reis entrava: o padre, com voz grossa,
Movia-se a rezar.

Nos restos duma enxerga, ali, no vil casebre,
Um pobre cavador, mordido pela febre,
Torcia as grossas mãos nas ânsias do estertor;
E os filhos seminus sentindo a pena ignota
Tentavam-se esconder na velha saia rota
Da mãe louca de dor!

A voz do sacerdote a custo ressoava.
A palavra de amor que ali se precisava,
Não posso dizer bem se acaso ele a soltou.
Falava o Deus severo e forte dos castigos,
Ou esse bom Jesus que aos pés dalguns mendigos
Um dia ajoelhou?

Do padre tinham medo os trémulos pequenos.
Os magros cães fiéis erguendo-se dos fenos
Latiam tristemente em volta do casal:
E o levita lançava àquela noite escura
A bênção derradeira, erguendo a mão segura,
Num gesto maquinal!

Depois transpondo, à pressa, a porta da cabana,
Saía sem deixar da sã verdade humana
O bálsamo suave, o dom consolador!
Oh, decerto o Jesus de que nos falam tanto
Não era o que deixava ali, naquele canto
Sozinha a mesma dor!

Sorria Deus, no entanto, em toda a natureza!
Nas florestas, no vaia, nas serras, na devesa,
Nas moitas dos rosais, no movediço mar!
O constelado azul dir-se-ia um santuário!
Havia aquele albergue apenas solitário,
E frio o pobre lar!

E o rude agonizante, o triste moribundo
Que em breve ia partir; abandonar o mundo;
Os seus deixando sós, na terra, sem ninguém,
Talvez ao pressentir o fim da insana lida
Soltasse maldições, ainda, contra a vida
E contra nós também!

E eu lembrei-me então daqueles bons valentes
Que lutam todo o dia e vão morrer contentes
À noite, ao pé dos seus, depondo os vãos lauréis;
E daqueles, também, de frontes requeimadas
Que pela causa santa, em pé, nas barricadas,
Se batem contra os reis!

Lembraram-me os heróis, serenos, bons, austeros,
Que sagram toda a vida aos ideais severos
Da justiça e do bem; caindo com valor,
Sem que a dextra cruel dos déspotas os dome
Nas batalhas da ideia; opressos pela fome,
Varados pela dor!

Ó pobres multidões! As grandes noites frias
Não cessam de morder, famintas e sombrias,
Num banquete nefando os Vossos corpos nus!
E o lírio da justiça, a grande flor sagrada,
Nem sempre mostra, em vós, aberta e desdobrada,
As pétalas de luz!

Eu quando porém lanço as vistas ao futuro
E vejo dia a dia a despontar mais puro
O grande sol da ideia, em rúbidos clarões,
Recordo-me que sois a produtiva leiva
Aonde já circula uma opulenta seiva,
De grandes criações!

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Rafael Galiza de Azevedo (Poesias Avulsas)

Minha inspiração

Mesmo que o mar continue a grande valsa de suas ondas
Mesmo que o sol continue a sorrir com a intensidade de sua luz
Mesmo que o céu continue a cobrir e descobrir nossos destinos
Ainda assim continuarei soletrando meu amor, contigo em meu peito
Mesmo que as estrelas sigam seu perfeito brilho pelo universo
Mesmo que a lua siga penetrando a alma de todos os amantes
Mesmo que os cometas ainda sigam seus rastros pelas galáxias
Ainda assim seguirei lembrando teus olhos ao escrever meus sonhos
Mesmo que as florestas permaneçam a ocultar seus mistérios
Mesmo que as plantas permaneçam a esconder seus segredos
Mesmo que as flores permaneçam a espalhar sua beleza pelo mundo
Ainda assim permanecerei cantando a alegria de teu sorriso.
Mesmo que o mundo venha a viver o pico das inspirações de poetas e romancistas
Ainda assim será de ti que virão minhas mais expressivas palavras.
===================

Quero ser mais
Quero mais, ser mais, muito mais.
Mais que as mãos que acariciam seus pêlos,
Que desenham teu corpo

Que aquecem teu desejo
Que calam teu silêncio
Que despertam seu prazer.
Quero mais, ser mais, muito mais.
Mais que estes lábios que te beijam
Que suam em tua presença
Que sugam o sedoso tecido de tua pele
Que percorrem o sabor doce e arrebatado de teu ser
Que penetram seus sentidos mais íntimos.
Quero mais, ser mais, muito mais.
Mais que os olhos que a ti penetram
Que se segam no desejo que me aflige
Que te buscam a cada segundo de tua ausência
Que te encontram no cair da noite, no erguer de um novo dia.
Quero mais, ser mais, muito mais.
Mais que posso ser, mais que imaginei, mais que um dia sonhei ser,
mais que poderia alcançar.
Quero mais, ser mais, muito mais.
Mais que o destino permite, mais que nele esteja escrito, para que
possa ser um pouco do tudo que mereces.
======================

Rio… meu paraíso

Rio que encanta no correr de seu leito
De passarelas de praias
De um dourado nativo
Inesgotável em sua beleza
Janeiro casa do calor, da cor
De uma cidade país abrigada pelo atlântico
Banhada pelos mares da beleza
Pelo sorriso da morena
Ah se eu pudesse…
Me banharia nas peles douradas deste mar
Me sufocaria nas ondas deste paraíso de mulheres
Me afogaria na vida de simplesmente ser…
…Carioca!
=============================

Se um dia

Se o mundo não mais se abrir
Se a vida deixar de sorrir
Se a felicidade não mais estiver presente
Lembre-se que jamais estarei ausente.

Se um dia o soberano mundo te excluir
Se um dia a bela vida se extinguir
Se em algum momento se sentires sós
Lembre-se que jamais serás tu e sempre seremos nós.
Se a cada passo sentires o caminhar contrário
Se a cada mergulho sentires a correnteza te levar
Se a cada vôo sentires o vento a te desviar
Lembre-se que onde quer que estejas, eu estarei lá.
Lembre-se simplesmente,
que o que nos une é algo maior que a própria existência,
e que essa se eliminará se um dia vier a nos separar.
=====================
Talvez

Não sei dizer
Talvez um dia
Talvez nunca saiba
Talvez a vida diga
Talvez o coração conte
Talvez seja sempre talvez
Talvez o mundo te mostre
Talvez ele mesmo te esconda
Talvez ele fale, talvez se cale
Talvez o céu traduza
Talvez o mar sussurre
Talvez a terra faça brotar
Um simples dizer
Que diga
Que fale
Que sinta
Que expresse
Que mostre…
…que eu te amo.
===================
Te busquei

Por quanto tempo te procurei
Sem sequer saber que te buscava
Sem sequer saber quem eras tu
Sem saber do tempo
Sem saber do lugar
Te amava sem saber
Te desejava e não sabia
Admirava e não sabia quem
Me orgulhava e não sabia de que
Me perdia e não te encontrava
Me achava mas não a ti
Longe deste amor vivi
Longe dele me escondi da vida
Longe dele me senti vazio
Me senti sozinho
Me senti como que um
Quando queria que fôssemos dois
Me senti limitado
Quando queria ser eterno
Me senti louco e insano pelo que sentia
Mas um dia te encontrei:
Percebi que te buscava
Percebi que te encontrara
Percebi que não era insano
Apenas apaixonado
Percebi que meus limites se eternizavam
Percebi que existia sim uma vida
Percebi que nunca estive vazio
Pois buscava um sonho
Percebi que sempre fomos dois
E nunca estive só
Me encontrei em ti

E em meus braços te alcancei
Pude me ver em teu olhar
Pude me sentir em teu sorriso
POR ISSO AMOR, TE AMO!


Fonte:

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 7

ÓGUI LOURENÇO MAURI
Minha Catanduva Florida!

As flores chegam à “Cidade-Feitiço”…
Até que, enfim, termina a longa espera!
Setembro agoniza, já é Primavera
Com seus novos ares que não desperdiço.

Que linda, minha Catanduva florida!
Fascinam-me os matizes de seus ipês,
Uma pictorial paisagem que Deus fez
Em todo o traçado da longa avenida.

Catanduva se refaz na Primavera…
Cada ângulo é um cartão-postal,
A cidade é uma pintura natural,
Seu colorido ganha a ionosfera.

A brisa que respiro na Primavera
Coloca-me na fronteira do delírio;
Nos jardins, suas flores são um colírio
Saído de onde a Natureza impera

Reina de novo a “Estação das Flores!
Valeu aguardar… É a felicidade!
Novos fluídos envolvem a cidade;
Nos romances, beijos com outros sabores!
===================

REGINA BERTOCCELLI
O Sol da Primavera

Chegou radiante e esplendoroso
nesta manhã primaveril
Iluminando com seus raios de luz,
aquece a terra molhada
pelo sereno da madrugada
Flores desabrocham na cumplicidade
do dia, enfeitando nosso caminho,
perfumando nossa vida
Traz o sol da primavera calor e cor
aos corações apaixonados
Infinitas são as mãos que se entrelaçam,
caminhando felizes pelas alamedas,
pelos parques floridos
Ao entardecer, somos presenteados
com um deslumbrante espetáculo
de luzes e matizes variadas
Amanhã ele ressurgirá intenso,
majestoso, brilhante…
E nos brindará novamente com
sua luz e calor, neste fantástico
ciclo da mãe Natureza
============================

RENATE EMANUELE
É Primavera

O céu que amanhece tão rosa
O sol que esquenta nosso solo
A vida torna-se mais prazerosa
É a natureza que nos põe no colo

São as gotas de orvalho nas flores
Cheiro bom da grama verde molhada
A alegria pintada em todas as cores
Doce som no gorgeio da passarinhada

Vida renovada em cada coração
Na esperança dos dias mais felizes
O amor presente em cada canção
O cenário em todos seus matizes

A vida tem um especial sabor
Um novo começo uma nova era
De todo ramo nasce uma nova flor
E chega com ela a primavera
==================================

ROSENNA
Sedienta de flores

Te esperé,
sedienta de flores…
de esos aromas tibios…
mezcla de azahares, miel y canela.
Quiero navegar…
entre lirios!..
ver inundado el espacio de colores…
…de mariposas el cielo…
quiero beberme el aire que huela
a hierba recién cortada…
miles de golondrinas en vuelo
alegres en bandada…
ver los naranjos en flor,
en suave brisa adormecerme…
y sentir del sol el calor.
Quiero que todo florezca…
también… el amor,
que se palpe en el aire…
…que se sienta…
que la primavera llegó !..
=========================

SCHYRLEI PINHEIRO
Bem Vinda Primavera

Sonhando, desperta a sensibilidade
ao lado do amor.
Juntos, caminham pelas alamedas da vida,
deixando no ar o perfume colhido
nas lágrimas doces do tempo,
que secaram no calor do vento.
São sementes de carinho,
plantadas no coração da humanidade,
que irão reflorestar o vasto deserto
das estações vencidas.
Onde havia solidão,
renasce a esperança.
Tudo é festa, e a alegria canta o verbo amar;
o mundo amanheceu encantado,
a magia está presente e o futuro nos sorri.
Que felicidade!
Bem vinda, Primavera.
====================================

SUELI DO ESPÍRITO SANTO
É Festa…É Primavera

Todos jardins estão em festa
e a passarada faz um seresta
para a primavera que acorda
na manhã de um sol brilhante
com um sorriso no semblante
pela beleza que se transborda

É a primavera que é toda cores
espalhando-se com tantas flores
cada qual com o seu deslumbre
já desabrochadas… tão formosas
surgindo lindas, todas cheirosas
dando-nos o mais belo vislumbre
==============================

TERE PENHABE
Soneto à Primavera

Abrem-se as flores, no caramanchão!
Passarinhos festejam seus floridos ninhos
vem a Primavera, faz bem ao coração
a paixão repousa, afagada por carinhos.

Cantam os poetas, a magia do florir
nas verdes avencas, espalha-se a fé
e a esperança, põe o medo pra dormir.
É Primavera! Encante-se quem puder!

A borboleta azul, quiçá envelhecida
insiste no seu vôo, pousando na janela
trazendo novo sonho, para se crer ainda.

Quem ousa um sorriso, sua tristeza finda
é prenda preciosa, em toda Primavera
reduto colorido, que torna a terra linda!

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) X

foi mantida a grafia original.
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À NOITE
Eu gosto de velar a percorrer os mundos
Ó noite dos bons cânticos,
Aos lívidos clarões dos astros vagabundos
Nos êxtases românticos,

Enquanto a vil cidade, a cortesã devassa
Dos falsos ouropéis,
Com seus famintos cães, a sua lua baça
E os seus negros bordéis,

Ressona torpemente aos beijos deletérios
Dalguns velhos amantes;
— os longos hospitais e os tristes cemitérios
Que a afagam delirantes!

Contudo eu também sei que existe muito instante
De gelos, em que tu,
Feroz, cravas o dente agudo e penetrante
No pobre seio nu!

Que há horas em que vens, nas húmidas cidades,
Nas choças, nos esgotos,
Cuspir cinicamente as frias tempestades
No seio vil dos rotos,

Sem ter pena, sequer, da pobre mãe que passa
Um dia sem ter pão,
Nem dessa esfarrapada e velha populaça
Que rosna como um cão!…

Mas em breve deixando as tenebrosas vestes,
O manto dos horrores,
E o gládio vingador das cóleras celestes
Ó noite dos amores,

Retomas o tom puro e santo do mistério
Da pálida mulher
Que vai colher, cismando, um lírio ao cemitério
E ao campo um malmequer!

Em horas de tormenta és a mulher colérica!
Até cospes na cruz!
E formam-te espirais na coma atmosférica
As víboras de luz!

Porém no teu regaço, altivo, casto, enorme,
Em doce e plena paz,
É que a virtude sonha e que a desgraça dorme
Depois das horas más,

E em lúcidos cristais há cintilantes vinhos;
Os casos mais galantes;
As lânguidas canções; os belos desalinhos
E os gestos provocantes!

Ó filha do silêncio! Aos puros alabastros
Dos ombros ideais,
Se Deus arremessasse a quantidade de astros
Que em ti brilham a mais,

As pálidas visões que passam doloridas,
E um tanto contristadas,
Haviam de surgir de estrelas revestidas
Em trajos de alvoradas!

Em ti cuida escutar uns sons inexprimíveis
De lânguidas canções,
O pobre sonhador de coisas impossíveis
Que adora as solidões!

E quando o resplendor de mundos luminosos
Na tua fronte cinges,
Os gatos sensuais, elétricos, nervosos
Repousam como esfinges;

Enquanto as combustões dos lívidos cometas,
Errantes e fatais,
Consomem lentamente as grandes borboletas
Dos nossos ideais!

A VALA

Trazei mortos à vala; a hidra está com fome
E deve ser-lhe longa a hora em que não come!
Olhai como ela mostra àqueles que a vão ver,
Inerte, sem pudor, de fauce escancarada,
A amargura cruel da boca desdentada
Que pede de comer!

Lançai ao monstro informe algum repasto novo!
Trazei-lhe carne humana; arremessai-lhe o povo,
Transido pelo frio ou morto pelo sol!
E visto haver na fera abismos insondáveis
Mandai-lhe as legiões dos grandes miseráveis
Que morrem sem lençol!
Eu quero vê-la farta, a lúgubre pantera,
Que, na sombra agachada, olhando em roda, espera
A presa que lhe inveja a gula dos chacais.
Começa a ouvir-se ao longe a marcha vagarosa
Da triste procissão cruel e dolorosa
Que vem dos hospitais.

Um velho esquife chega: em duas tábuas toscas
Um pobre seminu coberto já de moscas,
Num riso deixa ver não sei que tons cruéis!
Enquanto nos sorria a luz das noites belas,
Talvez que ele varresse a lama das vielas
E o lixo dos bordéis!

E pôde, enfim, dormir no seio bom da morte!
Após, como se fora a lívida consorte
Daquele vil despojo, às mesmas horas vem,
Trazendo por sudário os seus vestidos rotos,
Uma triste mulher caída nos esgotos
Sem bênçãos de ninguém!

Devora-os ambos fera! Engole-os juntamente:
Reúne-os em consórcio e dá-os de presente
À larva que partilha as ânsias do teu ser!
Aguça o teu desejo! — A garra infecta lança
Ao corpo tenro e nu duma gentil criança
Que a mãe te vem trazer!

Redobra de apetite! Alonga-se a teu lado
A fila tenebrosa! O espectro do soldado
A par do que vergou cansado de cavar:
E o mineiro sem luz, o mártir legendário;
E amparando-se a custo ao velho proletário
A flor do lupanar!

Mastiga a turba vil e alonga essa goela!
Bem vês que vem chegando um corpo de donzela
Que pela candidez recorda uma vestal!
Voou-lhe, num sorriso, o derradeiro arranco
E traz viçoso ainda um grande lírio branco
No seio virginal!

O monstro sensual na sombra tripudia!
Celebra no silêncio a tenebrosa orgia,
Que as Deusas vêm chegando ao lúbrico festim!
Num beijo os lábios cola à frígida epiderme
E o D. Juan da morte, o cavalheiro Verme,
Que viva e goze enfim!

Eu quero ver-te farta, em hálitos profundos,
Dormindo o sono vil dos animais imundos,
De ventre para o ar, serpente infecta e má!
E amanhã, na estação dos cândidos amores,
Veremos rebentar num tapete de flores
O lixo que em ti há!

E a santa mocidade; as lânguidas mulheres,
Virão depois colher os gratos malmequeres,
Pisando-te sem medo e cheias de desdém,
Em danças sensuais; o fato em desalinho;
Compondo-te canções; regando-te de vinho;
Sem pena de ninguém!

E tu que és monstruosa, infame, vil, medonha;
Que não mostras pudor; que não sentes vergonha;
Que és a campa-monturo e não podes ser mais;
Cingida enfim, também, de rosas orvalhadas,
Terás dado um perfume às almas namoradas,
E pasto aos animais!

Ó vultos ideais, fantásticos e belos,
Que às vezes revoais nas salas deslumbrantes,
Num grande mar de tule, etéreas, flutuantes,
Aos suspiros fatais dos meigos violoncelos;

Que bom que era sonhar nos pálidos castelos,
À noite, à beira-mar, nas solidões distantes,
Nos tempos em que a flor dos tímidos amantes
À lua confiava os íntimos anelos! …

Agora sois gentis, dispépticas, vistosas;
Pagais por alto preço as esquisitas rosas;
Nos rápidos wagons correis o mundo em roda;
Mas prostradas do baile, amarrotando a luva,
Enquanto cai na rua a sonolenta chuva,
Cismais no Deus-Milhão — no Criador da moda!

Eu vejo em tua boca as pétalas vermelhas
Duma rosa de Logo aonde vão libar
O mel das ilusões, quais tímidas abelhas,
Uns velhos ideais que em vão tento expulsar.

Dizer-me podes tu de que óvulo espontâneo,
Tocado pelo sol, em mim pôde nascer
Este bando cruel que dentro do meu crânio
Não faz há muito já senão roer, roer?!

Às vezes voa ao largo; às serras, às campinas;
Remonta aos astros bons; torna a descer dos céus;
E volta a demolir as trémulas ruínas
Do templo onde crepita a luz dos dias meus!

Ó grande flor suave! E nisto se resume
A constante batalha, o sempiterno afã!
Aspira a minha essência ao teu grato perfume;
Soçobra o dia de hoje ao dia de amanhã!

Oh, volvamos à terra; aos plácidos lugares,
Aonde os himeneus fecundos e reais
Produzem, dia a dia, os fetos singulares
E as sãs vegetações dos cândidos rosais!

E o que há de etéreo em nós, que siga as breves fases
Dum fluido transitório, erguendo-se nos céus,
Nas grandes expansões dos fugitivos gases
Onde em línguas de fogo às vezes fala Deus.

Forçoso é separar os dois rivais antigos,
Na batalha cruel que em nós se reproduz.
Sorria o que é da terra aos vegetais amigos;
Rebrilhe o que é do céu nas refrações da luz!

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 6

Retrato
MARIA ALICE ESTRELLA


Das marcas que trago no rosto,
muitas recordam as dores,
outras revelam os risos
de um tempo que se perdeu,
mas deixou o seu retrato
nos riscos e cicatrizes,
que lapidaram minha face
como jóia de saudade,
pedra preciosa de emoções raras,
profundas e sempre vivas.
Afinal, tenho um tesouro
que insiste em refletir
no espelho fiel,
os olhos da menina
que, ainda, brilham
nas memórias de sentir.
===================

Prima Vera
MARIA APARECIDA FELIZOLA

I
Na casa da prima Vera
Há caramanchões de primaveras
Plantadas em plena primavera
II
Todos os anos a prima Vera
poda as primaveras
que na primavera
encanta a casa dela
III
A casa da prima Vera
Fica na viela da Vila
da Ponte velha
VI
È primavera vermelha
È primavera rosa
É primavera laranja
É primavera branca
VII
Enfim um festival de primaveras
Que encanta não só a
Casa da prima Vera
mas toda a viela
da Ponte Velha.
VII
Venham todos à viela
Da Ponte Velha
Apreciar as primaveras
Da casa da prima Vera
Em plena primavera
========================

Noites Criativas da Primavera
MARIA REGINA MOURA RIBEIRO

No verão, minha alma canta…
na primavera, meu coração versos cria…
no outono, meu corpo dança…,
e no inverno, eu me entrego aos sonhos.
Prefiro as noites criativas da primavera…
======================

Primavera I
MARICI BROSS

Estação das flores
É a Primavera que chega
Cheia de vida e cores
É a estação do amor
A estação das cores
Dos sabores.

Viver, amar, desfrutar
Deste belo amanhecer
Cheio de magia e beleza

Ah! Estação do Amor
Estação da vida
Seja bem-vinda!
Traga amor e vida
A este coração cansado.

Traga a beleza de suas cores
A suavidade de suas flores
Traga o amor
Traga a vida a este coração
De muito amor.
=====================

Há de vingar o amor
MARILENA TRUJILLO

Lágrimas brilham em meu olhar,
Dolorosa saudade me invade…
Onde ficou o nosso amor, repleto
De ternura, desejo e cumplicidade?

A primavera chegou, seu perfume
Está no ar. Flores enfeitam a cidade,
Pássaros entoam hinos à natureza…
Namorados se beijam com suavidade.

Plantas se vestem de esperança, rosas
Desabrocham cor de sangue, cor de vida.
Sons, odores, vaga-lumes em plena festa…
Há de vingar o amor, de cicatrizar a ferida…

As nuvens negras, assustadas se foram…
Volto para seus braços, para os seus beijos,
Enfeitiçada pela estação, como uma borboleta
Colorida, esvoaçando, acariciando os arvoredos!
=======================

O Ipê Roxo
MÁRIO OSNY ROSA

Naquela roxa flor
A beleza que ali impera.
Ela o anunciador
Logo vem a bela primavera.

O belo jardim florido
Com olhinhos de boneca.
Seu perfume sentido
No momento nem se peca.

Azaléias e hibisco
Roseira e seus botões.
Ninguém logo resiste
Nessa sua bela floração.

Seu perfume a exalar
Que delicia essa viver.
Contaminando o ar
Na primavera conviver.
===========================

Primavera Esperada
NADIR A D’ONOFRIO

Hoje acordei feliz,
Olhei para o sol e sorri.
Chegou, a mais bela estação primavera!
Flores enfeitando as janelas…

Fragrâncias suaves,
Borboletas e abelhas,
As flores fecundando.
Colibris, como jóias cintilando!

Os pássaros no ritual do amor,
Andorinhas em revoada.
Minha sabiá…mais uma vez,
Seu ninho, sobre a porta da cozinha fez!

É a vida seu ciclo renovando,
Uns partindo, outros chegando.
Eu…nesse jardim à esperar,
Assim, nosso antigo caso recomeçar…

Eu quero e você quer também,
Ser feliz…outra uma vez.
Ter o céu e o mar para testemunhar
Um grande amor que nunca…vai terminar!

Quero viver nessa estação,
Em total plenitude, como no verão!
Dar asas à imaginação,
Poder te amar…como ordena…meu coração!
================================

Mãe Natureza
NÁDYA HAUA

O dia amanheceu triste e nublado
Há nuvens pesadas no céu
Sinto a mãe natureza grávida…
Atrás dessas nuvens negras
Um ser se esforça para nascer…
O vento age como o soro
As nuvens são as fortes contrações
Movimentando-se rapidamente
outrora lentas…
A mãe natureza vai conseguir
Um brilho quente desponta agora
A vida está surgindo em forma de luz
A mãe natureza vai ser mãe
É primavera!
E o sol acaba de nascer…
===========================

Primavera e Espera
NANY SCHNEIDER

Chegou setembro, mês de esperanças.
Já se renovam velhas lembranças.
Trazendo ares de muitas mudanças.
E a saudade de tantas andanças….

Chegou setembro, estação das flores.
Sentindo ao longe, aromas e odores.
Vindos de sonhos de antigos amores.
Flores nascendo em todas as cores.

Chegou setembro, com ele o calor.
Das noites amenas, cheias de ardor.
Antevendo o gosto, sentindo o sabor.
Da tão esperada volta do amor.

Chegou setembro, de aves cantantes.
De polens trocados por abelhas errantes.
Movimento suave de relvas ondulantes.
Onde se faz cama a muitos amantes.

Eis a Primavera a cantar.
Versos mágicos a encantar.
Mais uma vez sente-se clamar,
A natureza inteira, para se amar…
=============================

Te fuiste en Primavera
NORA LANZIERI

Las mañanas para mi, ya no tienen sentido.
Salir corriendo,
el colectivo, ¿estarás en la parada?
o llegarás tarde ¿cómo tantas veces?.

Y los sueños, ¿recuerdas?
El amor de tu “Nacho”
el amor de mi, “Adrián”…
que lindo haber vivido
esa etapa de felicidad.

Un día… el segundo y el tercero,
ya no esperabas el colectivo
mis ojos solo te buscaban a ti…
a ti ¡Amiga!, que tanto compartíamos.

Te fuiste lentamente, sin decirme nada,
como el mar con sus olas
se aleja de la orilla sin decir adiós.
Así fue tu partida.
Nuestros secretos quedarán sellados
en el vaivén de un viaje en colectivo,
cuando el otoño lánguidamente vuelva a nacer
cada año y la primavera traiga el aroma profundo
de la nueva estación enamorada.

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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José Roberto Balestra (A Barragem)

Há dias que tanto faz como tanto fez
Que a coisa fique cinza ou amarela
Feito alguma estupidez
Ou qualquer abanadela
De um doce adolescer

Hoje amanheci assim
Não troco uma Zepparella
Por um velho e bom Led Zeppelin
A vida é boa barbaridade

Melhor é ter um dente só
E andar pela cidade
Do que ficar logo banguela
Sem nenhuma bocatividade
Esperando quando a barragem romper…

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Arquivado em Maringá, Poesias

Norália de Mello Castro (Mandacaru)

Sou montanhesa.

Um dia, o mandacaru entrou em minha vida.
Encontrei-o com seu desenho peculiar
a chamar todos os clamores do verde com espinhos.

Forma altiva,
singular,
soberbo
das raízes às suas pontas,
mesmo sem acalentar
qualquer galho, qualquer tronco.

Sangrei as mãos em feridas,
lambi o sangue
dos espinhos a tocar a capa das entranhas.

O mandacaru permaneceu.
Em beleza explodiu.
Joguei brancos e
matizei toda aquela planta.
Pintei.
Sintetizei o passado
no presente.
Deu uma saudade danada!
Joguei tudo ao chão.
Parti o mandacaru.
Não retirei a sua seiva.
Retirei da planta a água onde nasci.

O mandacaru esfacelado
jorra ainda a seiva do viver;
colhi de sua essência – o alimento.
***

A essência:

Mandacaru
verde,
palmilhado de branco,
ligeiros toques marrons.
Cor soberba
permanece na vitrine,
Sem perder seu frescor,
Sem perder sua mensagem,
Sem dizer uma palavra
a formar todo o texto.
***

A viagem:

Do mandacaru
às estradas dos eucaliptos:

lá onde bebem de sua seiva,
cá onde recolhem de sua lágrima,

Lá sem cheiros ou perfumes,
Cá os perfumes a embrenhar.

Lá onde o sol castiga.
Cá onde a sombra se faz.

Lá entre espinhos rasteiros.
Cá entre folhagens luzentes.

Lá onde o dia nasceu.
Cá onde a noite se fez.

Lá onde os passos foram dados.
Cá onde os sons se repetem.

Lá o sol e o fá.
Cá o carrilhão.

Entre lá e cá,
permanece a alma,
estranhamente,
a ditar: vivi,
não sonhei.
Amanheci encharcada.
***

A disciplina:

Disciplina. Disciplina.
Qualidade necessária
para desenvolver o talento.

Disciplina. Disciplina.
Receita dada por pensadores
aos jovens que querem vencer.

Disciplina. Disciplina.
Envolve ordem,
requer constância.

Disciplina. Disciplina.
Determinação.
Até virar obsessão

A obsessão deve ter módulos
até tornar dona de todos,
esgotando-se até chegar
à realização.
***

Tem-se de arrancar
os espinhos do mandacaru
com disciplina mágica,
para não se ferir as mãos,
muito menos o coração.
Sem feridas a sangrar,
descobre-se o ponto final
da disciplina disciplinada.
Cai-se na indisciplina ordenada.

É o jeito
da Dor virar prazer.
***

As travessias:

Passei pelas águas
– o rio caudaloso entornou.

Passei pelas montanhas
– aspirei junção do rio e terras.

Passei por ruas
– sombras encontrei.

Passei aqui e ali
– matutei:
Por onde andarei agora?
– a Mãe Terra me acolheu,
Assim. Aos montões:
terra e águas juntas,
terra e céu juntos.
Juntei tudo:
***
O encontro:

finalmente deixei
o coração mergulhar nas águas,
a transpor por montes.
Abri o coração do mandacaru,
Jorrei sua seiva sobre o papel.

Fonte:
Rede de Escritoras Brasileiras

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Arquivado em Minas Gerais, Poesias

Wanderlino Arruda (Poesias Avulsas)

Libreria Fogola Pisa
Adoro tua beleza

Adoro a tua beleza,
a luz da tua simpatia,
o amor gostoso que há nos teus olhos,
um brilho, uma bênção de felicidade
que tua alma não deixa esconder,
que te faz tão linda!

Como é bom amar a vida
do jeito que te vejo amar.
bom seria que estivéssemos sempre juntos,
bem juntinhos para vermos o sol e a lua,
para sentir as estrelas todas
e contá-las no tempo e no infinito,
com infinita ternura.

Bom seria ter sempre e sempre
a sensação de tua presença,
do teu calor,
da tua pele morena,
da tua alegria,
do teu viver !
–––––––––––-
Amar

Amar,
Amar muito,
Amar todas as horas,
amar sempre, sempre
amar a vida,
te amar, meu amor,
porque amar é viver.
Gostando de ti,
gosto do vida,
vivo de amar.
De tudo que acontece,
no meio dos sofrimentos,
no meio das alegrias,
no meio das esperanças,
adoro o teu amor,
adoro o teu sorriso,
o brilho da tua alegria,
a cor verde dos teus olhos,
te adoro, morena.
Entre a terra e o céu,
gosto das flores,
da brisa, da luz,
das muitas crianças,
gosto do próprio amor.
Mas, acima de tudo,
de mais do que tudo,
é de ti, minha querida,
o meu viver,
O meu amar !
–––––––––––––––-

Bons dias bem vividos

Doce lembrança,
saudades,
adoráveis sentimentos,
claros montes,
luz, muita luz,
intensa luz.

Meio-dia, limite,
alegria muita.
Na distância, um logo além,
no depois, um antes:
auroras, felicidade.

Tardes de intensa alegria,
noites-verão, dias-inverno,
Ingênuas manhãs,
ingênuas,
bem ingênuas,
mais que a madrugada,
de sonhos nos sonhos,
deleite.
Simbiose, crepúsculos,
tons vermelhos,
rosa-amarelo, ouro no azul,
lilases e sombras
douradas maravilhas…
prata. Antes do depois, ainda,
fios de claridade,
fontes, conforto-luz,
pura alegria,
sorrisos,
bons dias bem vividos!
–––––––––––––––––––––––-

Causa de amor
Ao teu lado,
bem pertinho de ti,
sinto feliz alegria,
aura de muito amor
envolvente e carinhoso,
doce como sonho
em meio da madrugada.

És beleza, brilho e luz.
Tez morena,
olhos de esmeralda:
um encanto.Tua presença linda
desperta em mim
gostosa vida,
evidente causa de amor !
––––––––––––––––––

Olhar-magia

A beleza de teus olhos
eu julgo, eu analiso:
são brilhos de um céu em cor
de mil momentos.Teu olhar tem majestade
em claro-verde
de penumbra luz,
carinho e tarde
em viagem mito
de encantamento.

Teus olhos, um esplendor,
cativam minh’alma
e o meu querer.Teus olhos mostram,
teus olhos vibram
sonho e transcendência linda,
em direção Sul,
ou Leste-oeste,
ou ao Infinito.

Nunca vou deixar dizê-los
charme e bem-parecer,
encantamento:
a Natureza os fez,
mas o enlevo-imã,
luzir fascínio, emoção e música
só eu sei sentir.Teus olhos,
Um espelhar divino,
uma luz crescente,
sol marcante para os meus.

Aí teu fôlego e coração:
significado de amor.
Aí, minha querida,
em guerra e viver-estímulo
reconheço te fazer feliz !
–––––––––––––––––––-

A poesia de Dóris
Linda a poesia de Dóris,
Linda!
Muito de poesia:
beleza de juventude,
ritmo de meninice,
colorido de alegria.
Mil cores.

Confidência de Primavera,
Dóris deixa fluir e fluir-se
sem segredo algum.
O verso é cristal:
jorra e seduz, sempre sincero,
limpo e transparente.
Agradável sempre!

Dóris canta o canto,
não importa se o dia é dia
ou se a noite chega,
porque poesia tem cheiro-criança
e brilho de floresta mágica.
Toda criatura é de Deus,
Realidade sempre.
A música é livre
e o verso não é ilusão.

No infinito olhar de Dóris,
o além permite caminho
E o amanhã será sempre lindo.
Preciso é dourar a esperança,
preciso é viver e amar,
dispensando a visão de enfeites.
“Felicidade é pés na enxurrada,
tamancos na mão,
alma ensopada
pingando paixão”.Mais do que isso
só banho em águas de fadas.
Ou dança com duendes
de múltiplas madrugadas.
––––––––––––––––––––––––––––

Sonhos de sonhos

Passo a passo,
passam os passos
de sonhos bem sonhados
em múltiplas sinergias.

Alma com sol e lua,
estrelas incontadas,
terra e céu,
saudades.
Aqui encanta o canto
com mil matizes.

A sensibilidade vive e vibra
por luminosas dimensões.
O bem-querer cavalga
em cintilantes brisas
de vento-luz.
Felicidade sim.

É acordado o amanhecer:
agora ilumina a sedução
e poetiza vívidas vidas,
vidas revividas.
Múltiplas vidas.

Fonte:

Casa do Bruxo

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 5

JOYCE LUAZUL
Primavera e Vida

 Primavera… sem demora!
 Primavera a inspirar
 Poemas e canções a embalar…
 A poesia flui, agora!

 Eterna melodia do coração!
 Pássaros e animais a festejar…
 Ela, com suas flores a perfumar,
 Quando vem, há comemoração.

 Quando se vai deixa seu olor
 Para lembrar que retornará um dia…
 Ao voltar semeará poesia e melodia:
 Momento de cantar poema de amor!

 Deixar fluir a saudade por onde passar…
 Como a vida tem tempo para ser vivida!
 Vida pode, em breve momento, ser perdida.
 Existência breve… eis a razão de hoje amar!
––––––––––––––––

JOYCE LUAZUL
Árvore na Primavera

 Primavera…das estações a mais bela
 Muitos dias do ano esperei por ela
 Árvore com folhas e flores revestida
 Que no inverno frio foi despida

 Árvore do amor por mim plantada
 Aguardo na Primavera sua florada
 Caminhando feliz por entre as flores
 Sigo relembrando todos os meus amores

 Vejo na árvore copada e florida
 As alegrias que oferece a vida
 Ser uma flor cor-de-rosa eu quisera
 Uma flor da árvore na Primavera

 Árvore com folhas e flores coloridas
 Na Primavera renascem suas vidas
 Sinto na alma também o renascer
 Fazendo a árvore da vida florescer
––––––––––––

LIGIA TOMARCHIO
Primavera Poema

Densos tapetes de folhas esquecidas
pretéritos sons, esvoaçantes cortinas
nuas árvores emolduradas pela retina
do tempo perene e repetitivo.

Derradeiro sonho outonal
desdenha o inverno
criando em si um eterno desejo
do imaginar cores e flores.

Memória viva, atenta
desperta involuntária paixão
um amar intenso a verdejar
nos campos e versos do poeta.

Ciclo da vida mensageira
não mais sussurra
eclode florida primavera
poema único da existência.
––––––––––––––––––––-

LINA ROCHA
Primavera

As cores invadindo o espaço
colorindo tudo sem embaraço
sob o perfume das flores
e o gorjear dos pássaros
os amores que se renovam
brincam nesse arco-íris
os momentos se tornam mais felizes
mais cheios de brilhos das matizes
a esperança que é sempre verde
brota nos corações como magia
trazendo um novo alento
para o renascer do dia
o céu espalha seu manto azul
refletindo pelas planícies
acalmando os dias difíceis
O sol aquece as emoções
que aos poucos criam raízes
e solidifica as relações
O desabrochar da primavera
abre todas as janelas
deixando sair aos poucos o bolor
dos longos dias frios do inverno
das noites escuras sem calor
––––––––––––––-

LORENZO YUCATÁN
A Primavera Chegou…

Enfim, chegou a estação das flores!
Minh’alma canta… e não é pra menos!
Vejo, da natureza, seus lindos acenos;
Novos tempos, de nuances multicolores.

Tenho a sensação do paraíso a meu redor…
Há algo de diferente… Um convite ao amor.
Assim como a primavera seduz o beija-flor,
Nela, a paixão entre os amantes fica maior.

Quero ficar mais a teu lado, a partir de agora,
Passear de mãos dadas pelos bosques e jardins,
Feliz, apanhar e te oferecer violetas e jasmins,
Ouvindo o canto dos pássaros, admirando a flora.

Nestes três meses floridos que temos à frente,
Contigo, pretendo namorar no banco da praça,
Apreciar teu jeitinho de mulher, cheio de graça,
E que tudo faz para me ver e deixar contente.

Nas noites primaveris, já nos vejo abraçadinhos,
Pertinho da fonte luminosa e sob seu hídrico véu,
Desgarrado dos jatos d’água que procuram o céu,
Uma cortina de respingos que nos deixa molhadinhos.
––––––––––––––––––––––––––

LUIZA DE MARILLAC BESSA LUNA MICHEL
A Rosa e o Espinho

Vida curta e vã
Beleza e Alteza
Numa breve manhã

Galho selvagem
Estupendo rebento
Em espinhos tantos

Pétalas são alvas
Deslizando sob mãos
Sem tocar nos espinhos

Assim é a vida
Doçura e fel
Ventura e Desilusão

Rosa aventureira
Deste meu coração
Atravessa a vida

Ferindo o cultivo
Floresce tão amada
Fenece tão pisoteada…
––––––––––––––––––––

MANUELA NEVES
Primavera

Nascida de vida renovada
Carente de festas e afectos
És ardente Primavera em flor
A estação que me fez renascer
e tornar flor

Magia de momentos breves
Movimentos de vida multicor
És Primavera fonte inesgotável
Fé no amanhã, eterno amor.
––––––––––––––––––––-

MARCIAL SALAVERRY
Estamos na Primavera

Primavera, dita do amor, a estação,
estimula o amor no coração,
para a alma, dá mais vida,
para vida, mais amor,
para o amor, mais calor…
A Natureza se enche de cores,
com a explosão das flores,
perfumando o ar com seus odores,
estimulando corações enamorados,
a seus amores apaixonados…
Um bouquet florido…
Um desejo declarado…
Um amor acontecido…
Um prazer desejado…
Com um ramo de flores,
conquistam-se amores…
Com uma simples rosa,
um verso, uma prosa,
declaramos nosso amor…
Assim é a Primavera, enchendo a vida de cor…
Assim ficam nossos corações, prontos para amar
a quem seu amor nos venha declarar…
––––––––––––––––––––––––––––-

MARGARET PELICANO
Seja Bem Vinda Primavera

Dos tinteiros mais imprecisos,
espalhou-se em cores a primavera!

Do artista mais impressionista,
expressou-se em formas a primavera!

Da vontade mais narcisista
surgiram as flores e seus olores…

Assim, como quem não quer nada,
vão chegando e abafando
parecem longas saias,
com a terra se misturando,
nos galhos se espalhando
ó primavera rendada…

Das janelas é o decote,
de onde saltam os seios da natureza,
jorrando belezas tantas
que quem tem olhos para ver não se cansa
de acordar e ver o amanhecer e o anoitecer…

São dias e dias de belezas,
frescores, correntezas de bem viver…
Seja bem vinda primavera,
mais uma vez doce quimera,
a amaciar a caminhada
dos seres na morada Terra!

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) IX

foi mantida a grafia original.
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À HORA DO SILÊNCIO

Eu quis ontem sonhar, sentir como um romântico
A doce embriaguez do pálido luar,
Ouvindo em pleno azul passar o imenso cântico
Dos astros no seu giro e em sua luta o mar!

A cidade dormia o sono dos devassos;
Aquele sono turvo, infecto e sensual:
E a lua, antiga fada, erguia nos espaços
Tranquila e sempre ingénua a fronte de vestal!

E sobre a quietação das coisas vis e exóticas
Sentiam-se as febris, cruéis respirações,
Dos tristes hospitais e das virgens cloróticas,
Dos amantes fatais da febre e das paixões!

A noite era em silêncio, a atmosfera doce
E ria a natureza aos beijos dum bom Deus.
De súbito escutei, ao longe, o quer que fosse
Dum canto que supus então baixar dos céus!

Atento ao vago som, porém, a pouco e pouco
Senti que era uma voz disforme e sensual,
Soltando uma canção naquele acento rouco
Da triste inspiração alcoólica e brutal! …

O terna vagabunda, enamorada lua!
Enquanto ias assim, diáfana e sem véu,
Uma triste mulher passava, então, na rua
Cuspindo uma porção de infâmias para o céu!

Eu quisera depois das lutas acabadas,
Na paz dos vegetais adormecer um dia
E nunca mais volver da santa letargia,
Meu corpo dando em pasto às plantas delicadas!

Seria belo ouvir nas moutas perfumadas,
Enquanto a mesma seiva em mim também corria,
As sãs vegetações, em intima harmonia,
Aos troncos enlaçando as lívidas ossadas!

Ó beleza fatal que há tanto tempo gabo:
Se eu volvesse depois feito em jasmins do Cabo,
— gentil metamorfose em que nesta hora penso; –

Tu, felina mulher com garras de veludo
Havias de trazer meu espírito, contudo,
Envolto muita vez nas dobras do teu lenço!

O VELHO CÃO

Soltava ontem já tarde um velho cão felpudo
Uns doloridos ais,
Em frente dum palácio altivo, belo e mudo,
Cerrado aos vendavais.

Fazia pena ouvi-lo, o mísero molosso
Em seu triste chorar!
Era quase uma sombra: apenas pele e osso
E um vago, um doce olhar!…

Eis a sorte cruel do pobre que não come,
Dos míseros sem pão!
Em paga ainda em cima os vai tragando a Fome,
A negra aparição!

Latia o cão faminto. O frio era mordente,
Feroz, quase voraz!
E o pobre não sabia, enfim, que há muita gente
Que adora a santa paz.

Ora perto vivia uma galante rosa,
Etérea, virginal,
Que tinha um lindo colo, amava, era nervosa
E a quem fazia mal,

Aquele uivar sinistro; a ponto de em desmaios
Pender a fronte ao chão!
Saíram pois à rua impávidos lacaios
E foram dar no cão.

— Há no mundo um rafeiro, um velho cão esfaimado,
— o povo sofredor,
Que às vezes vai ganir, com fome, o seu bocado
Às portas dum senhor.

O resto é velha história: ocioso é já dizer-vos
O fim que ela há de ter.
A Ordem, só de ouvi-lo, alteram-se-lhe os nervos
E manda-lhe bater!

AS VELHITAS

Eu não professo muito o culto das ruínas.
Prefiro uma oficina às velhas barbacãs;
Das velhinhas, porém, mirradas, pequeninas,
No entanto nunca insulto as prateadas cãs.

Deixá-las caminhar, curvadas, vagarosas,
Com seu bento rosário, os seus fofos beitões,
A rirem-se de nós, cruéis, maliciosas,
Sagazes comentando as nossas ilusões!

Ah, velhitas sem cor! Cabeças regeladas,
Vulcões de que só resta a cinza e nada mais:
Já fostes as visões; talvez as brancas fadas;
Prendestes vossos pés nos húmidos rosais;

Tivestes já no olhar os bons reflexos mágicos
Dos lagos ideais cobertos de luar;
As curvas sensuais, os belos dedos trágicos;
As rosas más do inferno, os lírios bons do altar!

Prendestes já cismando as frontes melancólicas
Nas varandas à noite, amantes dos Titãs
Do belo amor antigo! Ó Márcias das bucólicas!
E agora apenas sois as mães de nossas mães!

Segui vosso caminho: as graciosas fadas,
As belas da cidade, anémicas, gentis,
Sorriem-se, talvez, das fitas desbotadas,
Dos provectos chapéus, das galas que vestis!

Oh! Mostrando os troféus das vossas velhas rosas,
Dizei-lhes, a sorrir, das fúteis ilusões,
Que fostes já, também, galantes e nervosas
Mas destes isso tudo a vários corações!

Agora tendes pouco: apenas uns lamentos
Sentidos contra nós; queixumes sem valor!
E ao mundo importam muito os vossos testamentos
E importa muito pouco a vossa imensa dor!

Batei à grande porta: os belos dias vossos,
Velhitas, bem sabeis, não podem voltar mais!
A terra ide levar, enfim, nuns tristes ossos
O resíduo fatal das coisas virginais!

ÀS VISÕES

Pois que visões! Não cessa a rápida corrida
E seja noite ou dia,
Volteadoras cruéis! Vós sempre a toda a brida
Na minha fantasia!

Parti, quimeras vãs! Arcanjos ou madonnas,
Parti, que o mando eu,
Como um bando fatal de velhas amazonas
Que o circo aborreceu!

Levai tudo convosco: as setas mais a aljava;
O angélico sorriso:
E as asas de escumilha em que eu voava
À noite, ao paraíso!

Eu quero, enfim, dormir; passar as noites gratas
Sentindo-me feliz,
No sono maquinal dos velhos acrobatas
Depois das farsas vis!

Mais tarde hei de sorrir, ou escarnecer-me quase,
Lembrando-me — é verdade! –
Que onde eu supunha aurora havia apenas gaze
E uns traços de alvaiade.

Perdão se vos insulto! Oh, não, vós sois do empíreo,
Daquele meigo azul,
Que a todos tem sorrido: a Cristo no martírio,
Na dor, ao rei de mil;

E quando vos apraz, nas asas transparentes,
Mais alto ides por certo,
Do que as deusas gentis, aéreas, insolentes,
Que vemos voar tão perto!

No entanto podeis crer ó lúcidos fantasmas
Que o século, afinal,
Oculta no esplendor não sei que vis miasmas
Que fazem muito mal!

E quando vós passais, nas horas do mistério
De estrelas revestidas,
Bebemos nós, talvez, o aroma deletério
Das rosas corrompidas!

Oh sim! Parti depressa; erguei-vos deste abismo
Arcanjos ideais,
Deixando-nos colher a flor do realismo
Nas coisas triviais!

Melancolias do Outono! Eu quando além descubro,
Nas tristezas do campo, as filas mugidoras
Dos vagarosos bois que voltam das lavouras,
Compungem-me as cruéis desolações de Outubro!

Das orlas do poente, afogueado, rubro,
Ó moribundo sol! Com que poesia douras,
As formas triviais das cabecitas louras,
Que, às portas dos casais, de bênçãos também cubro!

Solta o canto final a orquestra da folhagem:
São horas de partir; apresta-se a viagem,
E as noites dos saraus hão de voltar mais belas!

Mas as vistas lançando às regiões saudosas,
Nos esforços cruéis das tosses dolorosas,
Em bandos vão partindo as tísicas donzelas!

O VELHO MUNDO

Eu vejo em toda a Terra um vasto cemitério,
A necrópole imensa, a campa dos colossos,
Aonde em paz descansa o velho megatério,
Por entre a fauna morta, os carcomidos ossos!

E os grandes leviatãs dos primitivos mares!
Os tremendos répteis, cruéis, descomunais,
Celebram no silêncio as núpcias singulares
Dos seus resíduos vis, com ricos minerais!

E os esqueletos nus dos lívidos gigantes
Abraçam-se melhor; conchegam-se na cova,
Deixando um lugar vago aos velhos elefantes
Que vão fugindo à luz da natureza nova!

Também no mundo interno as almas vão seguindo,
Na corrente da vida, em mil circulações;
E da consciência humana o largo abismo infindo
Oculta, há muito já, disformes criações!

Elas dormem na sombra imensa do passado
Aonde em breve hão de ir nos transes doloridos,
A velha Realeza e o trémulo Papado
Sem forças descansar os corpos corrompidos.

Depois virão mais tarde as gerações futuras
E os dois espectros vãos da sombra hão de evocar,
Bem como a nossa voz, as grandes criaturas
Do mundo primitivo, obriga a despertar.

E as crianças terão seus nomes de memória,
Como exemplo, na vida, a todos os momentos;
E vê-los-eis de pé, nas páginas da história.
Grotescos, maquinais, pesados, sonolentos;

Fazendo-nos pensar; de espanto enchendo tudo;
Sofrendo o riso alvar do ingénuo e do plebeu,
Iguais ao mastodonte armado para estudo
E exposto às irrisões nas salas dum museu!

Eis a velha cidade! A cortesã devassa,
A velha imperatriz da inércia e da cobiça,
Que da torpeza acorda e à pressa corre à missa!
Baixando o olhar incerto em frente de quem passa!

Ela estreita no seio a velha populaça,
Nas vis dissoluções da lama e da preguiça,
E nunca o santo impulso, o grito da Justiça,
Lhe fez estremecer a fibra inerte e lassa!

E pode receber o beijo e a bofetada
Sem que sinta o rubor da cólera sagrada
Acender-lhe na face as duas rosas belas!

Somente dum sorriso alvar e desonesto,
As vezes, acompanha o provocante gesto
Quando soa a guitarra, à noite, nas vielas!

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Bernardo Guimarães (Poemas Humorísticos e Irônicos : Dilúvio de Papel) Parte 2, final

Sonho de um jornalista poeta

VII

Calou-se a musa, e envolvida
Em tênue vapor de rosa,
Qual sombra misteriosa
Nos ares se esvaeceu;
E de aromas divinais
Todo o éter recendeu.

Qual zunido do látego vibrado
Por mãos de algoz cruento,
Nos ouvidos troou-me aquele acento,
E me deixou de horror petrificado.
Já ia arrependido aos pés prostrar-me
Da irritada, frenética deidade,
Cantar-lhe a palinódia, e em triste carme
Pedir-lhe piedade!…
Em vão eu lhe bradava: “Musa, ó musa!
Não me castigues, não; atende, escusa
A minha estranha audácia;
Um momento isso foi de irreflexão,
Em que não teve parte o coração,
E não serei mais réu por contumácia.”

Mal dou um passo, eis no mesmo instante
Encontro por diante
Jornal imenso de formato largo,
Aos meus primeiros passos pondo embargo.
Vou desviá-lo, e em sua retaguarda
Encontro um Suplemento;
Porém, pondo-me em guarda
Para a direita opero um movimento,
E encontro frente a frente o Mercantil.
Para evitá-lo esgueiro-me sutil,
Buscando flanqueá-lo, e vejo ao lado
O Diário do Rio de Janeiro
Que todo desdobrado
Ante mim se apresenta sobranceiro;
Com brusco movimento impaciente
Me volto de repente
E quase que me achei todo embrulhado
No Diário do Rio Oficial.
Então compreendi toda a extensão
E força do meu mal,
E o sentido satânico e fatal
Que encerrava da musa a maldição.
Eis-me pelos jornais de todo o lado
Em assédio formal engaiolado!
Assédio, que depois foi um Vesúvio,
Que arrojou das entranhas um dilúvio.

Porém o sangue-frio inda não perco,
Co’a ponta da bengala
Romper procuro o cerco
Que obstinado em torno se me instala.
Sobre o inimigo intrépido me atiro;
Brandindo uma estocada
Varo o Jornal, e mortalmente o firo;
E de uma cutilada
Denodado rasguei de meio a meio
O Mercantil e o Oficial Correio;
Co’as botas ao Diário faço guerra,
E debaixo dos pés o calco em terra.
Mas ai de mim! em batalhões espessos,
Ao longe como ao perto,
Resistindo a meus rudes arremessos
O inimigo rebenta em campo aberto.
Debalde lhes desfecho denodado
Mil golpes repetidos;
Debalde vou deixando o chão coalhado
De mortos e feridos.
E quanto mais o meu furor se assanha,
Mais a coorte cresce e se arrebanha!

Bem como nuvem densa,
Eu vejo chusma imensa
De folhas de papel, que o espaço coalham,
Que lépidas farfalham,
Que trêmulas chocalham,
Nos ares se tresmalham,
E sobre a fronte passam-me, e repassam,
E em contínuo vórtice esvoaçam.
Aturdido procuro abrir caminho,
Demandando o pacífico aposento,
Onde refúgio encontre a tão mesquinho
E mísero tormento.
E espreitando a custo pelos claros,
Que entre as nuvens da espessa papelada,
Já me luziam raros,
Procuro orientar-me pela estrada,
Que me conduza à casa suspirada.

E através das ondas, que recrescem
A cada instante, e os ares escurecem,
De Mercantis, Correios e Jornais,
De Ecos do Sul, do Norte, de Revistas,
De Diários, de Constitucionais,
De Coalições, de Ligas Progressistas,
De Opiniões, Imprensas, Nacionais,
De Novelistas, Crenças, Monarquistas,
De mil Estrelas, Íris, Liberdades,
De mil Situações, e Atualidades;
Através de Gazetas de mil cores,
De Correios de todos os países,
De Crônicas de todos os valores,
De Opiniões de todos os matizes,
De Ordens, Épocas, Nautas, Liberais,
Do Espectador da América do Sul,
De Estrelas do Norte, e outros que tais,
Que me encobrem de todo o céu azul,
A custo rompo, e chego esbaforido
Ao sossegado albergue, e precavido
A porta logo tranco,
E de um só arranco
Com as escadas íngremes invisto.
Mas! oh! desgraça! oh! caso não previsto!
As folhas entre as pernas se embaralham,
E todo me atrapalham,
E quase de uma queda me escangalham.
Mas salvei-me sem risco, e subo ao quarto
Do meu repouso, e onde me descarto
De tudo que me zanga e me atrapalha.
Cansado já do excesso
De golpe me arremesso
Sobre o colchão de fresca e fofa palha;
Mas apenas encosto na almofada
A fronte afadigada,
Eis começa de novo o atroz vexame;
Como importunas vespas,
De folhas me acomete novo enxame,
Zumbindo pelo ar co’as asas crespas,
Agravando à porfia o meu martírio
A ponto de me pôr quase em delírio.

Já das gavetas
E dos armários
Surgem gazetas,
Surgem diários;

Uns do tablado
Lá vêm subindo,
Ou do telhado
Descem rugindo;

Dentro da rede
Sobre o dossel,
Pela parede
Tudo é papel.

Folhas aos centos
Pare a canastra,
E o pavimento
Delas se alastra.

Té as cadeiras
E os castiçais,
E escarradeiras
Parem jornais.

Saem do centro
Dos meus lençóis,
E até de dentro
Dos ourióis

Já me sentia quase sufocado
Do turbilhão no meio,
E já tendo receio
De ficar ali mesmo sepultado,
Para sair de trance tão amargo
Resolvi-me a de novo pôr-me ao largo,
Salto da cama, rodo pela escada
E procuro safar-me da rascada,
Já não andando,
Porém nadando
Ou mergulhando
Co’esse quinto elemento em guerra crua.
Cheguei enfim à rua
Que de papel achei toda inundada!
E bracejando
Espernegando
Entrei em luta acerba
Contra a enchente fatal, que me assoberba,
Até que a muito custo surjo à tona
Do horrendo turbilhão
Que túrbido se entona
E no mundo se arroja de rondão.
Às vagas meto o ombro,
Até achar dos céus a claridade.
Oh! céus! que cena horrível! oh! que assombro!
Em todo o seu horror e majestade
A mais triste catástrofe contemplo,
De que jamais no mundo houvera exemplo.
Fiquei transido de terror mortal,
Pois vi que era um dilúvio universal.

Das bandas do Oriente
Avistei densas nuvens conglobadas,
Que sobre o americano continente
Arrojavam camadas e camadas
De fofas papeladas.

E lá vinha de Times nuvem densa
Com um sussuro horrendo
No ar as pandas asas estendendo,
Derramando nos mares sombra imensa.
E após vinha em vastíssima coorte
O Pais, a Imprensa, o Globo, o Mundo,
O Este, e o Oeste, o Sul, e o Norte,
Esvoaçando sobre o mar profundo,
Jornais de toda a língua, e toda sorte,
Que no hemisfério nosso vêm dar fundo,
Gazetas alemãs com tipos góticos,
E mil outras com títulos exóticos.

Outras nuvens, também do sul, do norte,
Mas não tão carregadas, se encaminham,
E lentas se avizinham
Com horroroso frêmito de morte.
Da tormenta fatal recresce o horror!
Até do interior
Como um bando de leves borboletas
Lá vêm surgindo lépidas gazetas,
À desastrosa enchente
Fornecer seu pequeno contingente.
Julguei que sem remédio este era o dia
Da ira do Senhor; — pois parecia,
Que se abriam do céu as cataratas
E os abismos da terra, vomitando
Em borbotões, em túrbidas cascatas,
De hedionda praga o inextinguível bando.

Enquanto esbaforido luto, e ofego
Contra as ondas, que sempre recresciam,
Já sobre o farfalhante, imenso pego
As casas abafadas se sumiam.
Em torno a vista estendo,
E vejo então, que esse dilúvio horrendo
Já tendo submergido as baixas terras
Ameaçava os píncaros das serras.
E nem diviso barca de Noé
Que me conduza aos cimos de Arará!
O mal é sem remédio!… já perdida
Toda esperança está!…

Mas não!… eis voga além batel ligeiro,
Os fofos escarcéus assoberbando;
Impávida e com rosto sobranceiro
Uma ninfa gentil o vai guiando,
De angélica beleza;
E vi então… que pasmo! que surpresa!
Que a dona, dêsse nunca visto lago
Sem mais nem menos era
A ninfa linda e fera
Que ainda há pouco em um momento aziago
Aos sons de uma canção
Fulminou-me tremenda maldição.
Era-lhe barco a concha mosqueada
De tartaruga enorme,
Com engenhoso esmero trabalhada
De lavor preciosa e multiforme.
Com remo de marfim, mimoso pulso
Ao leve barco dá fácil impulso.
E enquanto fende as chocalheiras ondas
Desse pego, que em torno se lhe empola,
Vai cantando em estrofes mui redondas
Esta estranha e tremenda barcarola:

VIII

Já tudo se vai sumindo!…
Já desparecem as terras;
Pelos outeiros e serras
Sobem ondas a garnel…
E neste geral desastre
Somente a minha piroga
Ligeira sem risco voga
Sobre as ondas de papel!
Sobre estes estranhos mares,
Voga, voga, meu batel!…

Para a triste humanidade
Não resta mais esperança;
O dilúvio cresce, e avança,
Leva tudo de tropel!…
Já imensa papelada
As terras e os mares coalha;
Já o globo se amortalha
Em camadas de papel.
Mas sobre elas resvalando
Vai vogando o meu batel.

Pobre idade, testemunha
Desta pavorosa cheia
Que dos tempos na cadeia
Vê quebrar-se o extremo anel!…
Oh! século dezenove,
Ó tu, que tanto reluzes,
És o século das luzes,
Ou século de papel?!…
Sobre estas estranhas ondas,
Voga, voga, meu batel!…

Debaixo de teu sudário
Dorme, ó triste humanidade!
Que eu chorarei de piedade
Sobre teu fado cruel!
E ao futuro irei dizendo
Sentada na tua lousa:
— Todo o mundo aqui repousa
Sob um montão de papel! —
Meu batel, eia! ligeiro,
Voga, voga, meu batel!

IX

Calou-se, e a um golpe do ebúrneo remo
Impele a concha, que veloz desliza;
Eu nesse trance extremo,
Como quem outra esperança não divisa,
Meu afrontoso fim tão perto vendo,
A musa os braços súplices estendo.

“Perdão! perdão! bradei —; musa divina,
Recebe-me a teu bordo; — é o teu vate,
A quem sempre tu foste o único norte,
Que entre estas fofas ondas se debate
Entre as vascas da morte.”

Mas de minha fervente rogativa
Não fez caso nenhum a ninfa esquiva;
Sem ao menos a mim volver o rosto
As secas ondas corta;
Continuando a remar muito a seu gosto
Comigo nem se importa.
E ei-la que continua a cantarola
De sua endiabrada barcarola:

“Meus altares abjuraste,
Agora sofre o castigo,
Que eu não posso dar abrigo
A quem me foi infiel.
Morre em paz, infeliz bardo,
E sem maldizer teu fado
Fica p’ra sempre embrulhado
Nesse montão de papel!…”
Eia, rompe as secas ondas,
Voga, voga, meu batel!…

X

Fiquei aniquilado!…
Horror! horror! há nada mais cruel,
Do que morrer a gente sufocado
Debaixo de uma nuvem de papel?!
Mas eis que de repente
A mais atroz lembrança
O desespero me sugere à mente,
Que exulta em seus desejos de vingança.
Veio-me à idéia de Sansão o exemplo,
Com seus robustos braços abalando
As colunas do templo,
E sob suas ruínas esmagando
A si e aos inimigos
Para evitar seus pérfidos castigos.
“Pois bem!… já que esperança alguma temos,
O mundo, e eu com ele, acabaremos,
Mas não por esta sorte;
Morrerei; mas também tu morrerás,
Ó ninfa desalmada,
Porém um outro gênero de morte
Comigo sofrerás:
A mim e a ti verás,
E a toda tua infanda papelada
Reduzidos a pó, a cinza, a nada!”

Enquanto isto eu dizia, da algibeira
Uma caixa de fósforos tirava,
Que por felicidade então trazia;
E já chama ligeira
Aqui e além lançava
Com o pequeno archote que acendia;
Eis já o voraz fogo se propaga,
Como em madura, tórrida macega,
E co’as rúbidas línguas lambe e traga
A seca papelada que fumega.
Como Hércules em cima da fogueira
Por suas próprias mãos alevantada,
Eu com serena face prazenteira
Vejo lavrar a chama abençoada.
Espesso fumo em túrbidos novelos
Os ares escurece.
E a rubra labareda, que recresce,
Já me devora as vestes e os cabelos.
Em tão cruel tortura
Horrenda me aparece
Da morte a catadura,
E a coragem de todo me falece.
“Perdão! perdão! ó musa! ai!… a teu bordo…
O fumo me sufoca… eu morro…” acordo!…

XI

Ainda bem, que esse quadro tão medonho
Não foi mais do que um sonho.

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Clevane Pessoa (Parábola em Versos: A Flor Dourada e o Pássaro Verde)

Passava um pássaro verdíssimo por um vergel variado ,
quando viu lá em baixo, o glitter de uma flor aberta,
cor de ouro fosco, calma , a aromatizar seu entorno.
Chamou-a. Perguntou-lhe mil perguntas e ela as respondeu.
Ela indagou daqueles voos, a ela desconhecidos e ele falou
de tudo que o preocupava, de seus sonhos, desejos , im/possibilidades.

De longe, dialogavam , ela fremia, a escutar encantada,
a tatalar asas de ternuras, carente e cansado de voar sozinho.
Flor, abriu pétalas e recebeu eflúvios, dialogaram solidões
e ensaiaram alegrias, a esperança derramou todos os tons
de seus verdes mais belos, nas penas dele, nas sépalas e folhas dela.
Por um tempinho, acreditaram ser possível semear felicidade perene,
nem sequer pensaram que tudo não passava de um sentimento fugaz,
de cristal puríssimo, embora, mas que poderia quebrar-se …

Ouviu o canto da ave que prometia em breve, achegar-se
para melhor sentir-lhe aroma e formas, e desejou-lhe felicidades
na jornada ensaiada e que ele esperava cumprir.

As luas passavam, ciclicamente , pela flor saudosa,
seu tempo se encurtava , mas ela olhava para o alto
crendo que o pássaro verde retornaria para os ósculos sonhados.

Até que um dia, insone, numa noite linda e fresca,
relembrava as promessas trocadas , enganosas sem ser falsas.
Quando ouviu chamá-la a velha coruja guardiã dos corações feridos
que lhe disse:-“ Valeu, enquanto durou , enquanto acredistaste…
Valeu porque tuas palavras foram bálsamo e o curaram…
Agora, sê forte e ouve, acabo de saber por uma viajante mariposa ,
que teu amado platônico , viaja agora com uma bela pássara
– e buscam o melhor espaço ,para fazer seu ninho…”

A doce flor estremeceu , magoada e triste, mas não surpresa:
“Eu já sabia “, murmurou à coruja sábia , que girando a cabeça para melhor
olhá-la, retorquiu:-“Não, florzinha, não sabias, apenas adivinhavas
que o amor precisa de zelo e de presença, que até pode sobreviver
à distância, mas quando já está argamassado num espaço de tempo
ideal para ser forte e perene, quando houve um cotidiano a imprimir
rememórias e saudade de cousas vividas , experenciadas com o néctar
da boa convivência. Acorda, vê outras plantas a teu redor, acorda para o real.”

A flor dourada entendeu a mensagem, mas a dor rasgou-a de angústia
e ela desprendeu-se das sépalas, caiu ao solo, e preparou-se para fertilizar
a terra daquele jardim tão grande, e renascer um dia, sem nenhum pesar…

Fonte:
A Autora

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 4

GRAZI HENRIQUES VENTURA
 Não espere o amanhã!

 Canta,
 Canta, e esquece a mágoa.
 E traz alegria a este seu penar.

 Chora,
 Chora que deságua,
 Toda esta tristeza deste seu olhar.

 Viva,
 Que a vida é bela
 Saia da janela
 Venha passear.

 Vai,
 Encontra um amigo,
 Sê feliz consigo,
 Só vai aliviar.

 Vem,
 Que hoje é primavera,
 Vem e não espera.
 Pois o outono,
 Logo, logo vai chegar.

HERMES JOSÉ NOVAKOSKI
Primavera

 Harmonia de cores magníficas
 Enfeitando o jardim
 Semeando paz e amor
 Que há dentro de mim.

 A primavera convida
 À vida celebrar
 Montrando que é possível
 Sempre recomeçar

 Que as flores e o perfume
 Da Primavera possam estar
 Todos os dias de nossas vidas
 Para seu sentido renovar

HUMBERTO – POETA
Primavera!

 É chegada a primavera,
 das manhãs de céu azul!
 Quanta claridade impera
 no Brasil, de norte a sul!

 Surge o sol sobre o horizonte
 e em revérberos reluz,
 banhando de ouro o monte,
 vestindo a manhã de luz!

 Como é lindo ver na roça
 os loiros e amplos trigais!
 Toda a vida se alvoroça
 na cantiga dos pardais!

 As abelhas saem em bando
 pelas manhãs brasileiras,
 o loiro mel retirando
 das flores das laranjeiras!

 O verde cobre as colinas
 e a mata se enche de cores;
 vemos frutos nas campinas,
 e os prados cheios de flores!

 E ao sol, senhor dos espaços,
 que estupendas sinfonias
 cantam sabiás e sanhaços,
 bem-te-vis e cotovias!

 Riachos correm, vadios,
 por sob o arco das pontes;
 gargalham cascatas, rios,
 e cantam todas as fontes!

 É a estação dos sons, dos ecos,
 das mais estranhas fanfarras:
 põem-se a grasnar os marrecos,
 e a zumbir põem-se as cigarras!

 Entre as flores não há mídia,
 pois todas têm belos dotes;
 é tão graciosa uma orquídea,
 quanto é formoso o miosótis!

 Primavera é riso e flores,
 é festa em tudo que existe
 transformando em riso as dores
 da alma de quem é triste!

 Nenhuma outra supera
 o esplendor desta estação;
 vai-se o inverno, e a primavera
 veste os campos de algodão!

 Juntinhas, no mesmo atalho,
 por entre o mato e as urtigas,
 vão contentes ao trabalho
 os batalhões das formigas!

 À noite o jasmim recende
 seus exóticos perfumes…
 e a mata em festa se acende
 no piscar dos vaga-lumes!

 Molhado em gotas de orvalho,
 o pomar tem outras cores:
 há cem botões num só galho,
 e em cada ramo há cem flores!

 Flores, que em certo momento,
 o céu julgou nunca tê-las,
 mas Deus fez do firmamento
 um jardim cheio de estrelas!

 Oh, Deus, de amor tão profundo,
 eis nossa prece sincera:
 que as nações façam do mundo
 uma eterna primavera!

IZA MOTA
Primavera

 São como as flores
 diferentes formas e cores
 cheia de magia e odores
 as expressões dos amores

 Uns suaves, delicados
 uns ásperos e espinhados
 uns na forma bem definidos
 outros volúveis, são coloridos

 Depois do período de inverno
 chega de mansinho sutil e terno
 trazendo à magia do sentimento
 toda beleza e encantamento

 É a primavera das emoções
 que traz pra nossa vida paixões
 nos tirando às vezes à razão
 excitando e acelerando o coração.

JOSÉ ERNESTO FERRARESSO
Chegou para Mudar

 Olho pela janela, sinto a natureza mudar,
 Deparo com uma paisagem diferente,
 Diferente no ar.
 Estranha no tempo.
 vejo o florir dos jardins,
 Que antes estavam secos e rasteiros,
 Plantinhas crescem mostrando vida,
 Uma vida de amor, uma vida de poesia,
 Onde os poetas procuram suas inspirações,
 Onde pessoas começam a imaginar,
 A pensar, divagar.
 Entre essa beleza colorida,
 Onde as cores se misturam,
 se transformam,
 Onde as maravilhas nos demonstram:
 Uma Beleza, Um amor,
 Um lugar para amar.
 E Ela que chega,
 A nossa Primavera ,
 De mansinho e devagar,`
 Para nos deslumbrar.
Serra Negra

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) VIII

foi mantida a grafia original.
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A UM CERTO HOMEM

Agora és todo nosso: a rude voz da história
Já pode hoje falar
E dar-te um balancete às nódoas e à glória
Rei-Sol de boulevard.

Que dias de esplendor! Porém como começa
A noite e a podridão!
Foi Deus que te mandou também para a Lambessa
Da eterna punição!

Enfarda a tua glória e leva-a que é vergonha
Que vejam amanhã,
Que até lhe depenou as águias de Bolonha
O abutre de Sedan!

E visto que em redor nenhuma estrela brilha
E a noite é longa e má,
No caminho do opróbrio acende a cigarrilha
E, César, ouve lá:

Que altiva e bela a França! Aquela Gália ardente
Que de Valmy levou,
Descalça, quase nua; a Marselhesa em frente;
Nossa alma até Moscow!

Seus filhos têm a foice: envergam rudes clâmides
Depois, caminham sós;
E enquanto ceifam reis acordam nas Pirâmides
A alma dos Faraós!

E vão cheios de fé, bandeira solta ao vento,
Na gleba das nações,
Convictos semeando o novo pensamento
No sulco dos canhões!

Mas tu chegas um dia: afogas-lhe a grandeza
E quando a tens aos pés,
Celebras a vitória aos hinos de Teresa,
A musa dos cafés!

Banquetes dás ao crime; e os teus heróis de esquina
Ainda a afrontam mais,
Tornando a Marselhesa em torpe Messalina
Dum circo de chacais!

E sobre alguns montões de mortos ainda quentes,
Enfim campeias, tu,
Que deste à sagração das cousas dissolventes
um Petrónio Sardou!

Porém, quando ao comer ainda um beijo à Fama,
Um dia avanças mais,
Teu carro triunfal trambolha-te na lama
E então como tu sais!

Revolves-te no horror das vis, infectas ondas
De lodo e podridão,
E vais de manto roto e vestes hediondas
Buscar a escuridão!

Em vez de reclinar a fronte ao sol ardente
Da luta que sorri,
Do fumo dos canhões fugiste, e de repente…
Matou-te um bisturi!…

Que entrada a tua, então, na fúnebre morada,
Pisando, incerto, o pó,
À luz duma lanterna, ao vir da encruzilhada,
Sinistro, sujo e só!

Das cinzas levantou-se um brado entre os jazigos
Dos bons e dos leais,
Apenas descobriste a marca dos castigos
Nas faces triviais!

E quando te assustava o olhar altivo de Hoche
E o gesto de Danton,
Sorria-te na sombra o amor da Rigolboche
Meu César-Benoiton!

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Bernardo Guimarães (Poemas Humorísticos e Irônicos : Dilúvio de Papel) Parte 1

Sonho de um jornalista poeta

I

Que sonho horrível! — gélidos suores
Da fronte inda me escorrem;
Eu tremo todo! — cérebros calafrios
Os membros me percorrem.

Eu vi sumir-se a natureza inteira
Em pélago profundo;
Eu vi, eu vi… acreditai, vindouros,
Eu vi o fim do mundo!…

E que fim miserando!… que catástrofe
Tremenda e singular,
Como nunca os geólogos da terra
Ousaram nem sonhar.

Não foram, não, do céu as cataratas,
Nem as fontes do abismo,
Que alagando este mundo produziram
Tão feio cataclismo.

Nem foi longo cometa amplo-crinito,
Perdido nos espaços,
Que sanhudo investiu nosso planeta,
E o fez em mil pedaços.

E nem tão pouco, em roxas labaredas,
Ardeu como Gomorra,
Ficando reduzido a lago imundo
De flutuante borra.

Nada disso: — porém cousa mais triste
Senão mais temerosa,
Foi da visão, que a mente atormentou-me,
A cena pavorosa.

II

Já o sol se envolvia em seus lençóis
De fofas nuvens, resplendentes d’ouro,
Como o cabelo de um menino louro,
Que se enrosca em dourados caracóis.
Dos róseos arrebóis
A luz suave resvalava apenas
Nos topes dos outeiros
E dos bosques nas cúpulas amenas.
E eu, que os dias sempre passo inteiros,
Rodeado de folhas de papel,
Que de todos os cantos aos milheiros
Noite e dia me assaltam de tropel,
Qual o gafanhotal bando maldito
Com que Deus flagelou o velho Egito:
Eu que vivo de um pálido aposento
Na lôbrega espelunca,
Não vendo quase nunca
Senão por uma fresta o firmamento,
E as campinas, e os montes e a verdura,
Flóreos bosques, encanto da natura;
Das vestes sacudindo
A importuna poeira, que me encarde,
Longe das turbas, num recesso lindo
Fui respirar os bálsamos da tarde.

Ao pé de uma colina,
Ao sussurro da fonte, que golfeja
Sonora e cristalina,
Fui-me sentar, enquanto o sol dardeja
Frouxos raios por sobre os arvoredos,
E da serra nos últimos fraguedos,
Meu pensamento longe se embrenhava
Em páramos fantásticos,
E do mundo e dos homens me olvidava,
Sem ter medo de seus risos sarcásticos.

Mas, ó surpresa!… ao tronco recostada
De um velho cajueiro vi sentada,
De mim não mui distante,
Uma virgem de aspecto vislumbrante;
Sobre os nevados ombros lhe tombava
A basta chuva do cabelo louro,
E a mão, como a descuido, repousava
Por sobre uma harpa de ouro
Engrinaldada de virente louro.
Cuidei que era uma estátua ali deixada
Que em noite de tremendo temporal
Pela fúria dos ventos abalada
Tombou do pedestal.
Mas o engano durou só um momento;
Eu a vi desdobrar o ebúrneo braço,
E percorrendo as cordas do instrumento
De melífluas canções encher o espaço.
E ouvi, cheio de espanto,
Que era a musa, que a mim se endereçava
Com mavioso canto,
E com severo acento, que inda abala
Té agora o meu peito, assim cantava,
— Que a musa canta sempre, e nunca fala.

III
Canto da musa, recitativo

Que vejo? junto a meu lado
Um desertor do Parnaso,
Que da lira, que doei-lhe
Faz hoje tão pouco caso,
Que a deixa pendurada numa brenha,
Como se fora rude pau de lenha?!
Pobre infeliz; em vão lhe acendi n’alma,
De santa inspiração o facho ardente;
Em vão da glória lhe acenei co’a palma,
A nada se moveu esse indolente,
E de tudo sorriu-se indiferente.

Ingrato! ao ver-te, sinto tal desgosto,
Que fico possuída de ruim sestro,
Me sobe o sangue ao rosto;
E em estado, que até me falta o estro,
Em vão estafo os bofes,
Sem poder regular minhas estrofes.

Por que deixaste, desditoso bardo,
As aras, em que outrora
De tua alma queimaste o puro incenso?
Como podes levar da vida o fardo
Nesse torpor, que agora
Te afrouxa a mente, e te anuvia o senso,
E as flores desprezar de tua aurora,
Ricas promessas de um porvir imenso?
Nossos vergéis floridos
Trocas por esse lúgubre recinto,
Onde os dias te vão desenxabidos
Em lânguido marasmo;
Onde se esvai quase de todo extinto,
O fogo do sagrado entusiasmo;
Onde estás a criar cabelos brancos
Na lide ingloriosa
De alinhavar a trancos e a barrancos
Insulsa e fria prosa!

Ária

Pobre bardo sem ventura,
Que renegas tua estrela;
— Oh! que estrela tão brilhante!
Nem tu merecias vê-la!

Pobre bardo, que da glória
Os louros calcas aos pés,
Deslembrado do que foste,
Serás sempre, o que tu és?

Já não ouves esta voz,
Que te chama com amor?
Destas cordas não escutas
O magnético rumor?

Nenhum mistério decifras
No rugir deste arvoredo?
Esta fonte, que murmura
Não te conta algum segredo?
Não entendes mais as vozes
Destes bosques, que te falam.
No rumorejo das folhas.
E nos perfumes que exalam?

Nesta brisa que te envio
Não sentes a inspiração
Roçar-te pelos cabelos,
E acordar-te o coração?

Não vês lá nos horizontes
Uma estrela refulgir?
É a glória, que rutila
Pelos campos do porvir!

É ela, que te sorri
Com luz vívida e serena;
E com sua nobre auréola
Lá do horizonte te acena.

IV

Estes acentos modulava a musa
Com voz tão maviosa,
Qual borbotando geme de Aretusa
A fonte suspirosa,
Da Grécia os belos tempos recordando,
Que já no esquecimento vão tombando.
Encantada de ouvi-la, a mesma brisa
O vôo suspendeu;
E o travesso regato de seu curso
Quase que se esqueceu.
Os bosques aos seus cantos aplaudiram
Com brando rumorejo;
E o gênio das canções, na asa das auras,
Mandou-lhe um casto beijo.
Enquanto a mim, senti correr-me os membros
Estranho calafrio;
Mas procurei chamar em meu socorro
Todo o meu sangue-frio.

Qual ministro de estado interpelado,
Não quis ficar confuso;
E da parlamentar nobre linguagem
Busquei fazer bom uso.
Como homem que entende dos estilos,
Impávido me ergui,
Passei a mão na fronte, e sobranceiro
Assim lhe respondi:

V

Musa da Grécia, amável companheira
De Hesíodo, de Homero e de Virgílio,
E que de Ovídio as mágoas consolaste
Em seu mísero exílio;

Tu, que inspiraste a Píndaro os arrojos
De altiloqüentes, imortais canções,
E nos jogos olímpicos lhe deste
Brilhantes ovações;

Tu, que a Tibulo os hinos ensinaste
De inefável volúpia repassados,
E do patusco Horácio bafejaste
Os dias regalados;

Que com Anacreonte conviveste
Em galhofeiro, amável desalinho,
Entre mirtos e rosas celebrando
Amor, poesia e vinho;

Que tens a voz mais doce que a da fonte
Que entre cascalhos trépida borbulha,
Mais meiga que a da pomba que amorosa
Junto do par arrulha;

E também, se te apraz, tens da tormenta
A voz troante, o brado das torrentes,
O zunir dos tufões, do raio o estouro,
O silvo das serpentes;

Tu bem sabes, que desde minha infância
Rendi-te sempre o culto de minh’alma;
Ouvi-te as vozes e aspirei constante
A tua nobre palma.

Mas, ah!.. devo eu dizer-te?… o desalento
N’alma apagou-me a inspiração celeste,
E fez cair das mãos esmorecidas
A lira que me deste!…
Peregrina gentil, de que te serve
Andar vagando aqui nestes retiros,
Na solidão dos bosques exalando
Melódicos suspiros?…

Não vês que o tempo assim perdes embalde,
Que tuas imortais nobres canções
Entre os rugidos, abafadas morrem,
Dos rápidos vagões?

Neste país de ouro e pedrarias
O arvoredo de Dáfnis não medra;
E só vale o café, a cana, o fumo
E o carvão de pedra.

Volta aos teus montes; vai volver teus dias
Lá nos teus bosques, ao rumor perene,
De que povoa as sombras encantadas
A límpida Hipocrene.

Mas se desejas hoje alcançar palmas,
Deixa o deserto; exibe-te na cena;
Ao teatro!… lá tens os teus triunfos;
Lá tens a tua arena.

Tu és formosa, e cantas como um anjo!
Que furor não farias, que de enchentes,
Quanto ouro, que jóias não terias,
E que reais presentes!…

Serias excelente prima-dona
Em cavatinas, solos e duetos:
E ajustarias de cantar em cena
Somente os meus libretos.

Se soubesses dançar, oh! que fortuna!
Com essas bem moldadas, lindas pernas,
Teríamos enchentes caudalosas
Entre ovações eternas.

Em vez de ser poeta, quem me dera,
Que me tivesse feito o meu destino
Pelotiqueiro, acrobata, ou funâmbulo,
Harpista ou dançarino.

Pelos paços reais eu entraria
De distinções e honras carregado,
E pelo mundo inteiro o meu retrato
Veria propagado.

E sobre minha fronte pousariam
C’roas aos centos, não de estéril louro,
Como essas que possuis, mas de maciças,
Brilhantes folhas de ouro.

Esse ofício, que ensinas, já não presta;
Vai tocar tua lira em outras partes;
Que aqui nestas paragens só têm voga
Comércio, indústria e artes.

Não tem aras a musa; — a lira e o louro
Já andam por aí de pó cobertos,
Quais vãos troféus de um túmulo esquecido
Em meio dos desertos.

Ó minha casta, e desditosa musa,
Da civilização não estás ao nível;
Com pesar eu to digo, — nada vales,
Tu hoje és impossível.

VI

De santa indignação da musa ao rosto
Rubor celeste assoma;
De novo a lira, que repousa ao lado,
Entre seus braços toma.

E essa lira, inda agora tão suave,
Desfere voz rouquenha,
Desprendendo canções arrrpiadas
De vibração ferrenha.

Eu julguei que escutava entre coriscos
Troar a voz do raio;
Em pávido desmaio
Tremem os arvoredos;

De medrosos mais rápidos correram
Os trépidos regatos, e os rochedos
Parece que de horror estremeceram.

“Maldição, maldição ao poeta,
Que renega das musas o culto,
E que cospe o veneno do insulto
Sobre os louros da glória sagrados!

Ao poeta, que em frio desânimo
Já descrê dos poderes da lira,
E que à voz que o alenta e inspira,
Se conserva de ouvidos cerrados!

Maldição ao poeta, que cede
À torrente do século corrupto,
E nas aras imundas de Pluto
Sem pudor os joelhos inclina!

Que com cínico riso escarnece
Dos celestes acentos da musa,
E com tosco desdém se recusa
A beber da Castália divina.

E agora, ó descrido poeta,
Que o alaúde sagrado quebraste,
E da fronte os lauréis arrancaste
Qual insígnia de ignóbil baldão,

Já que a minha vingança provocas,
Neste instante tremendo verás
Os terríveis estragos que faz
A que vibro, fatal maldição!”
–––––––––––––––
continua…

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Clevane Pessoa de Araújo Lopes (Passagem)

A Gonçalves Dias

Poeta -saudoso, agônico, voltas à terra natal
Frágil, trêmulo, febricitante,
Mas com relembranças fortes
A plenificar-te a alma de energia
Embora estejam enfraquecidas as esperanças…
Queres chegar a São Luiz do Maranhão,
Chegar e andar pelas ruas estreitas,
Pelas calçadas de pedras,
Da ilha de praias singulares
Cujo areal extenso
É lambido pelo mar cor de rio,
Cuja extensão vai dar nas terras de Portugal…
Queres rever pessoas, ouvir os sons
Dos sinos das igrejas, da siringe dos sabiás festivos
Que não esqueceste em teu exílio.
A mulher amada acode-te em teu delírio,
a rememória faz-se musa e te inspira versos
que não mais escreverás…
Um piedoso anjo de cristal,que parece orvalho,
Cheirando a rosas e à maresia,
Faz com que olvides as razões de teu martírio
Pela separação cruel e indevida
Da mulher amada…
Que culpa tens por teu sangue a correr nas veias
Brasileiras, é mestiço,a gerar tantos preconceito .

Súbito, a vida se esvai, a breve vida

As águas em movimento, frias ao teu corpo ardente
Sereias de prata conduzem-te ao Absoluto,
O desconhecido –assustador, por ignoto,
Até que se chegue aos portais dessa outra dimensão.
Teu anjo Estelas, que tantas vezes desceu à Terra
para consolar-te e enxugar-te as lágrimas,
ampara-te, e tomando-te pela mão,
leva-te ao gênese de tua essência,,
pelo túnel pleno de magnífica luminescência…
As asas angelicais, energia em movimento,
Criam mil arco-íris deslumbrantes, o que te encanta na passagem…

Percebes que enfim, estás livre
De qualquer sofrimento e provação
Não tens cor-de pele que te torne um rechaçado,
Carne alguma, cuja carnação de mulato
Marque tua destinação!
Nada que te faça um auto-exilado…
Súbito, ouves risos e canções.
Outros poetas estão à tua espera, Gonçalves Dias.
Ajudam-te, dizem-te teus próprios versos e os deles,
Convincentes de que todos os bardos são iguais de alma
Abraçam-te, cordifraternalmente.
Nem em todas as tuas fantasias,
Te imaginaste assim, igual entre iguais,
diferente entre diferentes,
quais o são todas as criaturas de um mesmo Criador…
Percebes que nesse mundo , não há preconceitos
E que aqui, experimentarás um espaço de estar para ser…
Leve, em pianíssimo, , sentindo uma felicidade inusitada
À tua vida antes atribulada, tributada
de preços que não podias pagar,
deixas-te conduzir ,em agonia agora.
Seria o fim, mas é um recomeço
Afinal, poetas não devem morrer
-não se sua Poesia permanecer
Após sua délivrance ao contrário.
Para sempre, teus versos serão lembrados,
Enquanto houver sabiás, enquanto a serpente dormitar
Enroscada no contorno da Ilha .
Teus poemas são o retrato de teu talento,
De teu perfil, de tua história…
O mar foi o derradeiro abrigo de teu corpo.
A alma…continua em expansão!

Fonte:
A autora

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Rita Rocha (À Chegada da Primavera)

Do ano, uma encantadora fração
no cenário nova vestimenta
a Primavera vem falar aos corações
e aos nossos sonhos… acalenta.

É o esvoaçar das aves, é a floração…
se estendendo em opulência.
É no milagre da renovação
alegrando a terra e nossa vivência.

É encantamento em profusão
no esbanjar d`um róseo colorido
num pôr-do-sol temos a sensação
de que o Pai está ali… refletido.

Primavera não é apenas mais uma estação
é o sentir da vida, é encanto, é magia,
é a natureza em perfeita comunhão
que ao ser humano só traz alegria.

Santo Antônio de Pádua, 24/09/2013


Fonte:
A autora

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 3

DETH HAAK
Ao tempo …

 Chegando Lírica a Primavera
 Bordando de Flores os sonhos
 Tramando corrimões pra chegar
 Ao mar que remexe risonho…

 Cortejando a janela um lindo
 Quadro suponho…
 Nas velas que sopram a brisa
 O olor das Açucenas vindo.

 É mágico! O tempo de sonhar
 Estrelas ornamentadas
 Brilhando pro farol ofuscar
 No valsar das samambaias…

 A musica a se despedir do verão
 Que amarelou suas folhas,
 Que hoje destilam o verdejar
 No serenar da maresia o tom…

 Das Petúnias Cravíneas, a canção
 Que ao horizonte embala e matiza
 Dando vida as cores na emoção,
 Que esparge o Vento…

 As sementes que espocam ao ver
 O vergel enamorado a engalanar
 A Primavera que chega do mar
 Em guirlandas de conhas no SER;

 A arte pincela o terno entardecer
 Que abraça a noite saudando o dia
 Que explodirá em Flores ao amanhecer
 Orvalhado as pétalas da Poesia…
———————————
EFIGÊNIA COUTINHO
Festa das Flores

 Que alegria naquelas flores
 que perfume de juventude!
 Viva!…Viva!…Venha dançar
 nesta Festa das Flores…

 As Flores vêem anunciar a
 a ressurreição da natureza.
 E cantam a canção colorida
 e sorriem aos raios do astro sol.

 Cantam um dia, uma hora, e
 depois inclinam a cabeça,
 deixando que outras Flores
 se abrem á Luz da vida…

 Pra que nunca seja quebrada
 a grinalda das cores e dos
 Perfumes…Que Alegria nesta
 dança das Flores na vida!
————————–
ERMÍNIA (BEL-BA)
Primavera

 É quando a vida se abre como uma flor
 E em seus braços meu corpo inerte
 Deitado sobre a relva macia
 Numa manhã de setembro
 Vive sem pudor
 O amor….
————————
FAFFI (SÍLVIA GIOVATTO)
Amadurecer Florindo

 A maturidade no amor
 não é uma equação matemática,
 agindo racionalmente, ela chega… e
 fica no seu cantinho…
 Nem é preciso ser valente e forte,
 mas é bom tomar cuidado com o bichinho do ciúme,
 esquecer as desigualdades conjugais…
 e meter na cabeça que o amor não é só um sentimento,
 é uma escolha de vida a dois…
 Nunca confundir maturidade com comodidade,
 precisamos estar sempre investindo no amor..
 mudar hábitos, trocar carinhos,
 nunca deixar que o amor vire rotina…
 Só assim ele amadurece florindo,
 e fica durável por tempo indeterminado.
—————-
FAFFI (SÍLVIA GIOVATTO)
Primavera

 A estação do amor está chegando
 a primavera está no ar…
 No ar que passa
 No ar que respiro
 No ar que te vejo passar
 As árvores se enfeitam,
 as folhas ganham um verde de esperança,
 mais forte, mais brilhante, mais vibrante…
 A calmaria está no ar!
 é a primavera chegando,
 estação da paz, estação do amor,
 as flores vão começar a desabrochar a colorir a vida…
 O sol vai chegar mais cedo
 esquentando a terra, desabrochando a Rosa…
 é o amor chegando…
——————–
FERNANDO REIS COSTA
O Poeta e a Primavera

 Começa a Primavera… E que alegria!
 Abrem-se os corações, brotam as flores,
 E os poetas, nas canções da poesia,
 Mais inspirados estão com seus amores!…

 Cantam mais alto, em verso, os seus louvores!
 E aos seus amores, em grande apologia,
 Doam versos em forma de flores
 De toda a Primavera deste dia!

 Renasce a Primavera! E, na poesia,
 Os cânticos d’amor e de saudade!
 E quanta dor e pranto, e nostalgia…

 O poeta transforma em alegria
 Nos versos d’amor e d’amizade
 Da sua Primavera: – a Poesia!…
——————————
GISLAINE CANALES
 

Primavera
 Glosando P. de Petrus

 MOTE:
 A primavera vem vindo!…
 Há festas, risos e amores…
 é deus que chega sorrindo
 pelo sorriso das flores…

GLOSA:
 A primavera vem vindo,
 perfumada e colorida,
 e o inverno vai fugindo
 em sua louca corrida!

 Nessa gostosa estação,
 há festas, risos e amores,
 que servem de inspiração
 aos poetas trovadores!

 Tudo é mais que muito lindo
 na inigualável beleza…
 É Deus que chega sorrindo
 nas flores da natureza!

 A Primavera nos traz
 numa imensidão de cores,
 a felicidade e a paz
 pelo sorriso das flores…
——————–
GLADYS OVADILLA
Primavera

 La primavera sonriente
 Detrás de los árboles verdes,
 Mirando maravillada,
 La juventud para verte,
 Se acuesta con su hermosura,
 Llena de tules y flores,
 Danza como una diosa
 En el rincón de las rosas,
 El viento se envaneció
 Callo sus fuertes soplidos,
 Encontró la primavera
 Estaba sola en el camino,
 La miro muy suavemente,
 Ella no quiso confianza, y el
 Regreso por donde vino,
 Todos ocuparon sus lugares,
 El agua corrió por el rió,
 Los peces encandilaron el día,
 Se movía mi canoa de madera
 Sintiendo el perfume en el aire,
 Llego, llego, la primavera

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Bernardo Guimarães (Poemas Humorísticos e Irônicos : Hino à Preguiça)

…     Viridi projectus in antro…
Virgilio

Meiga Preguiça, velha amiga minha,
Recebe-me em teus braços,
E para o quente, aconchegado leito
Vem dirigir meus passos.

Ou, se te apraz, na rede sonolenta,
À sombra do arvoredo,
Vamos dormir ao som d’água, que jorra
Do próximo rochedo.

Mas vamos perto; à orla solitária
De algum bosque vizinho,
Onde haja relva mole, e onde se chegue
Sempre por bom caminho.

Aí, vendo cair uma por uma
As folhas pelo chão,
Pensaremos conosco: — são as horas,
Que aos poucos lá se vão. —

Feita esta reflexão sublime e grave
De sã filosofia,
Em desleixada cisma deixaremos
Vogar a fantasia,

Até que ao doce e tépido mormaço
Do brando sol do outono
Em santa paz possamos quietamente
Conciliar o sono.

Para dormir à sesta às garras fujo
Do ímprobo trabalho,
E venho em teu regaço deleitoso
Buscar doce agasalho.

Caluniam-te muito, amiga minha,
Donzela inofensiva,
Dos pecados mortais te colocando
Na horrenda comitiva.
O que tens de comum com a soberba?…
E nem com a cobiça?…
Tu, que às honras e ao ouro dás as costas,
Lhana e santa Preguiça?

Com a pálida inveja macilenta
Em que é que te assemelhas,
Tu, que, sempre tranqüila, tens as faces
Tão nédias e vermelhas?

Jamais a feroz ira sanguinária
Terás por tua igual,
E é por isso, que aos festins da gula
Não tens ódio mortal.

Com a luxúria sempre dás uns visos,
Porém muito de longe,
Porque também não é do teu programa
Fazer vida de monge.

Quando volves os mal abertos olhos
Em frouxa sonolência,
Que feitiço não tens!… que eflúvios vertes
De mórbida indolência!…

És discreta e calada como a noite;
És carinhosa e meiga,
Como a luz do poente, que à tardinha
Se esbate pela veiga.

Quando apareces, coroada a fronte
De roxas dormideiras,
Longe espancas cuidados importunos,
E agitações fragueiras;

Emudece do ríspido trabalho
A atroadora lida;
Repousa o corpo, o espírito se acalma,
E corre em paz a vida.

Até dos claustros pelas celas reinas
Em ar de santidade,
E no gordo toutiço te entronizas
De rechonchudo abade.

Quem, senão tu, os sonhos alimenta
Da cândida donzela,
Quando sozinha vago amor delira
Cismando na janela?…

Não é também, ao descair da tarde,
Que o vate nos teus braços
Deixa à vontade a fantasia ardente
Vagar pelos espaços?…

Maldigam-te outros; eu, na minha lira
Mil hinos cantarei
Em honra tua, e ao pé de teus altares
Sempre cochilarei.

Nasceste outrora em plaga americana
À luz de ardente sesta,
Junto de um manso arroio, que corria
À sombra da floresta.

Gentil cabocla de fagueiro rosto,
De índole indolente,
Sem dor te concebeu entre as delícias
De um sonho inconsciente.

E nessa hora as auras nem buliam
Nas ramas do arvoredo,
E o rio a deslizar de vagaroso
Quase que estava quedo.

Calou-se o sabiá, deixando em meio
O canto harmonioso,
E para o ninho junto da consorte
Voou silencioso.

A águia, que, adejando sobre as nuvens,
Dos ares é princesa,
Sentiu frouxas as asas, e do bico
Deixou cair a presa.

De murmurar, manando entre pedrinhas
A fonte se esqueceu,
E nos imóveis cálices das flores
A brisa adormeceu.

Por todo o mundo o manto do repouso
Então se desdobrou,
E até dizem, que o sol naquele dia
Seu giro retardou.
+
E eu também já vou sentindo agora
A mágica influência
De teu condão; os membros se entorpecem
Em branda sonolência.

Tudo a dormir convida; a mente e o corpo
Nesta hora tão serena
Lânguidos vergam; dos inertes dedos
Sinto cair-me a pena.

Mas ai!… dos braços teus hoje me arranca
Fatal necessidade!…
Preguiça, é tempo de dizer-te adeus,
Ó céus!… com que saudade!

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Ciranda da Primavera (Seleção por Simone Borba Pinheiro) Parte 2

BILL SHALDERS
Primavera

 Tempos de belas cores
 Tempos de suaves luzes
 Voam coloridas borboletas
 Voam belas inspirações
 Cantam alegres pássaros
 Cantam o mar e o céu
 No fundo de minha alma

 Mostram-se explosões de flores
 Cores fortes se expandem
 Felicidades explicitam
 Em verdejantes plantas
 Abrigam-se todas as alegrias
 Na exuberante natureza
 Primavera no meu ser

CANDY SAAD
Primavera

 A estação mais linda é a primavera,
 quando há o romper das flores,
 num desabrochar inebriante de cores
 perfumes e seivas!
 Beija-flores e borboletas coloridas
 anunciam a transformação de cor em amor!
 Meus olhos ficam encantados com tanta beleza!
 Como é linda a obra que nos fez o Criador!
 Desperta as emoções,
 acordando sonhos de amor adormecidos.
 Nesse jardim de primavera
 meu amor por você espera…
 Debaixo da copa do Ipê amarelo
 estarei pronta para te dar meu amor
 diante de toda natureza bela,
 exalando perfume de flor!
 Juntos vamos ver o romper da primavera
 contemplando a natureza se emocionar
 com nosso amor.

CARLOS ROBERTO
Primavera

 A mais bela das estações do ANO.
 Onde o belo renasce.
 Renasce a vida das árvores e das flores.
 Toda a NATUREZA renasce.
 Nós os SERES HUMANOS, também devemos
 imitar a NATUREZA, tendo como
 exemplo a PRIMAVERA.
 Vamos procurar renascer os nossos
 sentimentos por uma vida mais bela,
 plena de AMOR, FELICIDADE,
 SAÚDE e muita
 PAZ

CARMO VASCONCELOS
Primavera

 Desabrochadas minhas rosas amarelas
 Segredam-me a esplendorosa alegoria
 De ternas noites orvalhadas de euforia
 E mansos adormeceres com as estrelas

 Ciciam-me brilhos de sol, alvas manhãs
 Em que dissimulados ecos de tambores
 Convidam à simbiose castos amores
 De seivas similares, pétalas irmãs

 Murmuram-me rumores de água perto
 Lembrando o marginar de um rio desperto
 A matar a sede da terra que o venera

 E mais sibilam minhas rosas amarelas
 Que divina inspiração se vestiu delas
 Para consagrar uma nova Primavera

CÁSSIA VICENTE
Primavera

 Primavera…
 prima por beleza, cores,
 perfumes encantadores…
 são flores que alegram
 perfumes que inebriam
 e a vida neste tempo fica
 mais cheia de fantasia…
 os pássaros misturam às árvores suas cores
 enriquecem a paisagem com seus cantos…
 os corações embalam com os cheiros
 os olhos dos amantes…que a todo instante
 refletem o arco-irís nos corações de suas Damas da Noite
 ou dos seus Amores Perfeitos…
 E as amantes que são delicadas ao toque
 exalam o cheiro das Não-me toques
 disfarçando seus desejos embaixo das Pitangueiras…

 Jataí.GO

CECÍLIA RODRIGUES
Primavera

 Da Primavera em flor
 Muito se há-de cantar
 Flor rima com amor
 Cantar rima com amar

 Assim as palavras unem
 Um sentir, um bem-estar
 Amor e flor, perfumam
 Toda a Terra, todo o ar

 Todo o ar que respiramos
 É vida, é flor, amor, e canto
 Da passarada p’los ramos
 No arvoredo sem pranto

 Só música em coro entoa
 Por entre arvore enfeitada
 Sons de orquestra nos soa
 Vindo daquela passarada

 Nascem amores nos roseirais
 Vivem delírios na madrugada
 Enquanto Primavera são leais
 Morrem no Outono á chegada

CORA MARIA
Estão voltando as flores!

 Abra seu coração para a nova estação!
 Beije como um beija flor,
 Estenda os braços para o sol, que nasce
 Observe a borboleta,
 Construa um verso e a alguém ofereça,
 Faça bolinhas de sabão,
 Cante um refrão!
 Abra a janela,
 Comemore a primavera!
 Ame como jamais,
 Jogue fora todos os seus ” ais”
 Perfume seus dias,
 Brinde a estação das flores,
 De alma colorida,
 Comemore a vida!

CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ – USA
Primavera

 A Primavera da alma é a vida!
 Esperanças, suas perfumadas flores
 quando o outono chega em fé perdida,
 e de saudade chora seus amores!

 Ela é maravilhosa, Fada Madrinha!
 converte do inverno, um paraíso,
 com suas cores de encanto azulzinha
 a vida eterniza como um sorriso!

 Já deixa-a entrar, é tão primorosa,
 está cheia de paz e de harmonia,
 o amor leva em seu pólen de rosa
 permite-lhe, te encha de alegria!

 Serenas são seus odes de ternura,
 viver com ela é uma grande euforia,
 passarinhos que cantam com doçura,
 A Primavera na alma…É a glória!

DENISE SEVERGNINI
Primavera

 Flores surgem
 em profusão
 Enchem meus olhos
 de emoção
 Desperta em meu olfato
 doce sensação

 Os pássaros entoam
 lindas canções
 Inflando de alegria
 nossos corações

 É a natureza que acelera
 Pois chega a primavera…

Fonte:
Seleção por Simone Borba Pinheiro. in http://www.familiaborbapinheiro.com

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Bernardo Guimarães (Poemas Humorísticos e Irônicos : Mote Estrambótico)

Mote

Das costelas de Sansão
Fez Ferrabrás um ponteiro,
Só para coser um cueiro
Do filho de Salomão.

Glosa
Gema embora a humanidade,
Caiam coriscos e raios,
Chovam chouriços e paios
Das asas da tempestade,
— Triunfa sempre a verdade,
Com quatro tochas na mão.
O mesmo Napoleão,
Empunhando um raio aceso,
Suportar não pode o peso
Das costelas de Sansão.

Nos tempos da Moura-Torta,
Viu-se um sapo de espadim,
Que perguntava em latim
A casa da Môsca-Morta.
Andava, de porta em porta,
Dizendo, muito lampeiro,
Que, p’ra matar um carneiro,
Em vez de pegar no mastro,
Do nariz do Zoroastro
Fez Ferrabrás um ponteiro.

Diz a folha de Marselha
Que a imperatriz da Mourama,
Ao levantar-se da cama,
Tinha quebrado uma orelha,
Ficando manca a parelha.
É isto mui corriqueiro
Numa terra, onde o guerreiro,
Se tem medo de patrulhas,
Gasta trinta-mil agulhas,
Só para coser um cueiro.

Quando Horácio foi à China
Vender sardinhas de Nantes,
Viu trezentos estudantes
Reunidos numa tina.
Mas sua pior mofina,
Que mais causou-lhe aflição,
Foi ver de rojo no chão
Noé virando cambotas
E Moisés calçando as botas
Do filho de Salomão.

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