Arquivo do mês: junho 2010

Amália Max (Baú de Trovas)

A ermida à beira da estrada
plange seu sino de um jeito,
que eu sinto a corda amarrada
na saudade do meu peito…

A esperança em nossa vida,
pelo valor que ela ostenta,
pode até ser resumida
como o pão que nos sustenta.

A fonte, singelo fio,
contorcendo em cansaços,
encontra por fim um rio
e então se atira em seus braços.

A gota d’água nascida
de veio farto e profundo,
é a fonte da nossa vida
e a própria vida do mundo.

Ao cortar a trança loura,
minha infância em despedida,
deixou na fria tesoura
saudosos fios de vida.

A sombra que, meio arcada,
te segue pelos caminhos,
é minha alma ajoelhada
a beijar os teus pezinhos.

A sorte tem seus encantos,
seus agrados, seus engodos;
às vezes agrada a tantos,
mas jamais agrada a todos!

A vida anda tão tristonha:
pobreza… fome… agonia…
que chego a sentir vergonha
de às vezes ter alegria.

A vida deu-me esta dor;
e hoje entre a dor e a lembrança,
sou um cheque ao portador,
sem fundo para cobrança.

Com mil retalhos tristonhos,
que rasguei do coração,
fiz uma colcha de sonhos
e agasalhei a ilusão.

Da lembrança doce e calma,
quando a tarde se inicia,
tua imagem em minha alma
é saudade todo dia.

Depois do enxerto a coitada,
que quis o rosto alisar,
agora vive assustada…
Seu rosto só quer sentar!

Depois que, um dia, partiste,
nesta rua só choveu.
Será que esta rua é triste
ou triste nela sou eu?

Disfarçando… Disfarçando…
o sol, malandro das horas,
vai aos poucos levantando
a saia azul das auroras.

Em pedaços fui rasgando
tua foto pela praça.
Hoje os procuro chorando,
pedindo ajuda a quem passa.

Esta chuvinha pingando
do telhado sobre o chão,
vai aos poucos empoçando
saudade em meu coração.

Galanteios, que em verdade,
quis dizer-te ou ter escrito,
hoje, finda a mocidade,
sinto dor por não ter dito.

Laranjais de minha infância,
frutos que alegre colhi,
hoje olho para a distância
e choro porque cresci!

Levo na face enrugada
e na fronte embranquecida
a passagem, comprovada,
de que viajei pela vida.

Maria partiu… Maria
que nunca disse a verdade
mas era, quando mentia,
bem melhor que esta saudade.

Meus olhos azuis se embaçam,
acabando por chorar,
quando meus braços se abraçam
por não ter quem abraçar.

Muitos recebem de graça
o bom vinho da alegria;
eu pago mas minha taça
a vida deixa vazia.

Não vens há meses inteiros;
e enquanto conto as auroras
a tesoura dos ponteiros
lentamente corta as horas.

Não faça da despedida
um momento de revoltas;
o amor tem portas na vida
com chave de várias voltas.

Não fale, não diga nada,
aperte mais minha mão,
faça a promessa auebrada
não precisar de perdão.

Não vens… e, em tuas demoras,
na angústia das madrugadas,
o relógio bate as horas
e as horas dão gargalhadas.

Nas noites de paz eterna,
vigiando a escuridão,
toda estrela é uma lanterna
que um anjo leva na mão!

Na velha praça, embalado
por lindo sonho vadio,
apalpo o banco a meu lado
mas meu lado está vazio.

Na vizinha, a linda casa,
nem a vassoura descansa;
se acaso o marido atrasa,
a vassoura canta e dança!

No entardecer quem me dera,
ver teu vulto, ouvir teu passo,
e por magia ou quimera
ter teus braços num abraço!

No instante em que nossa prece
sobe a escada do infinito,
pela mesma escada desce
a paz que acalma o conflito.

Nos dedos eu conto as horas,
não sei contar diferente,
mas, hoje, sei que demoras
bem mais do que antigamente.

No sertão a chuva mansa
que torna a manhã cinzenta,
é mais que chuva e esperança,
é Deus regando água-benta.

Numa ternura infinita
a lua, com mãos de prata
vem prender laços de fita
nas tranças verdes da mata.

O arco-íris tão bonito
e de tão finos arranjos
é só o varal do infinito
secando a roupa dos anjos!

Oh! lembrança, vem com jeito,
não se perca em sonhos tardos,
porque este meu velho peito
já não aguenta tais fardos.

O tempo em sua investida,
como sentença, suponho,
rouba-me um pouco da vida
e muito de cada sonho.

Partindo da meninice
é que o trem do tempo avança
e na estação da velhice
deixa saltar a esperança.

Para os que seguem sozinhos,
descalços e combalidos,
que importa ter mil caminhos
se todos são proibidos?

Partiste… já não te importas
que em nossa casa singela
a ventura feche as portas
e a saudade abra a janela.

Pergunto frequentemente:
felicidade, onde estás?
Será que corres na frente
ou ficaste para trás?

Pobre titia, ao comprar
uma vassoura, é indagada:
será preciso embrulhar
ou já vai nela montada?

Poeira de estrelas cadentes
que à noite caem nos campos
são com certeza as sementes
que germinam pirilampos.

Quando o passado é turista
no trem do meu coração,
a saudade é maquinista
e o meu peito uma estação.

Quando nos chegam tardias,
esperanças sempre são
aquelas parcas fatias
de miolo velho…de pão!

Quanta ternura em agosto:
o vento que beija o ipê
vem também beijar meu rosto
depois de beijar você.

Ralhando com seus porquinhos
a porca, mãe exemplar,
vendo-os, assim, bem limpinhos…
– já pro barro se sujar !!!

Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar…
Eu quero ser enganado
quando a velhice chegar!

Sabiá põe em seu canto
tal ternura que ao cantar,
mais parece um acalanto
para a alma cochilar.

Saudade… insônia que aspira
ouvir na calçada passos,
mesmo sendo outra mentira
a vir dormir nos meus braços.

Se é por um amor que choras
enxuga os olhos… Repara:
se o relógio pára as horas,
nem por isso a vida pára.

Se me deixas por vontade…
se vais para não voltar…
O que é que eu digo à saudade
amanhã, quando acordar?

Sem mesmo ter ido ao céu
já caminhei sobre a lua!
Foi um dia andando ao léu
pisando as poças da rua.

Sem ter com quem conversar,
o velhinho solitário,
usa as mãos para rezar
conversando com o rosário.

Sentindo a luta perdida,
nos fracassos e derrotas,
abraço o circo da vida
para as minhas cambalhotas.

Solidão é chuva fina
que encharca o chão sem correr;
e às vezes faz que termina
mas… recomeça a chover.

Solidão é vento frio,
vento calmo mas gelado
deixa o meu peito vazio
e ainda dorme ao meu lado.

Sonhos meus… jóias de outrora
qual ouro sem um quilate,
enferrujam na penhora
sem ter mais quem os remate.

Vejo ternuras pagãs
quando o sol, por entre os galhos,
cobre a nudez das manhãs
com seu lençol de retalhos.

Velhice… circo que a vida
armou no fim da ladeira,
de onde a solidão convida
para a sessão derradeira.

Voltaste… voltaste, eu sei,
mas o encanto foi desfeito;
agora já repintei
as paredes do meu peito.

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Arquivado em Paraná, Ponta Grossa, Trovas

Amália Max

Amália Max nasceu em Ponta Grossa, Paraná, no dia 13 de julho, filha de João Max e Maria Suckstorf Max.

Em 1981 lança seu livro de trovas “Escaninho” e daí em diante passou a concorrer em Jogos Florais e concursos e participar de antologias e coletâneas.

Em 1986 recebeu a homenagem máxima de sua vida quando o Colégio Estadual 31 de Março, ensino de 1º e 2º graus imortalizou-a dando seu nome para a sua biblioteca: “Biblioteca Poetisa Amália Max”.

Tem seu nome, como trovadora, trabalhos inseriidos em inúmeras antologias e coletâneas. Figura em Enciclopédias, em livros e Jornais de todo o Brasil.

Professora de pintura, arte que domina com segurança.

Pertence a:
– Centro Cultural Euclides da Cunha, de Ponta Grossa, PR,
– Casa Juvenal Galeno – Ala Feminina, Fortaleza, CE,
– Academia de Letras José de Alencar, Curitiba, PR,
– Centro de Letras do Paraná, Curitiba, PR,
– Academia de Letras dos Campos Gerais, Ponta Grossa, PR, fundadora da cadeira nº 13.
– Já foi Presidente Municipal e Estadual da UBT durante 30 anos.
– Desde 2003, por convite do Cap. Alípio B. Rosenthal é assessora cultural da Associação dos Militares da Reserva.

Fontes:
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky. Antologia de Trovadores do Paraná.
– Antologia dos Acadêmicos – edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar.
– UBT Nacional.

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Literatura Brasileira (Parte 9 = O Simbolismo)

É comum, entre críticos e historiadores, afirmar-se que o Brasil não teve momento típico para o Simbolismo, sendo essa escola literária a mais européia, dentre as que contaram com seguidores nacionais, no confronto com as demais. Por isso, foi chamada de “produto de importação”. O Simbolismo no Brasil começa em 1893 com a publicação de dois livros: “Missal” (prosa) e “Broquéis” (poesia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna.

O início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da escola anterior, o Realismo, pois no final do século XIX e início do século XX tem-se três tendências que caminham paralelas: Realismo, Simbolismo e pré-Modernismo, com o aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira, entre eles Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Foi a Semana de Arte Moderna que pôs fim a todas as estéticas anteriores e traçou, de forma definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil.

Transição – O Simbolismo, em termos genéricos, reflete um momento histórico extremamente complexo, que marcaria a transição para o século XX e a definição de um novo mundo, consolidado a partir da segunda década deste século. As últimas manifestações simbolistas e as primeiras produções modernistas são contemporâneas da primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa.

Neste contexto de conflitos e insatisfações mundiais (que motivou o surgimento do Simbolismo), era natural que se imaginasse a falta de motivos para o Brasil desenvolver uma escola de época como essa. Mas é interessante notar que as origens do Simbolismo brasileiro se deram em uma região marginalizada pela elite cultural e política: o Sul – a que mais sofreu com a oposição à recém-nascida República, ainda impregnada de conceitos, teorias e práticas militares. A República de então não era a que se desejava. E o Rio Grande do Sul, onde a insatisfação foi mais intensa, transformou-se em palco de lutas sangrentas iniciadas em 1893, o mesmo ano do início do Simbolismo.

A Revolução Federalista (1893 a 1895), que começou como uma disputa regional, ganhou dimensão nacional ao se opor ao governo de Floriano Peixoto, gerando cenas de extrema violência e crueldade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além disso, surgiu a Revolta da Armada, movimento rebelde que exigiu a renúncia de Floriano, combatendo, sobretudo, a Marinha brasileira. Ao conseguir esmagar os revoltosos, o presidente consegue consolidar a República.

Esse ambiente provavelmente representou a origem do Simbolismo, marcado por frustrações, angústias, falta de perspectivas, rejeitando o fato e privilegiando o sujeito. E isto é relevante pois a principal característica desse estilo de época foi justa-mente a negação do Realismo e suas manifestações. A nova estética nega o cientificismo, o materialismo e o racionalismo. E valoriza as manifestações metafísicas e espirituais, ou seja, o extremo oposto do Naturalismo e do Parnasianismo.

“Dante Negro” – Impossível referir-se ao Simbolismo sem reverenciar seus dois grandes expoentes: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães. Aliás, não seria exagero afirmar que ambos foram o próprio Simbolismo. Especialmente o primeiro, chamado, então, de “cisne negro” ou “Dante negro”. Figura mais importante do Simbolismo brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa estética no Brasil. Como poeta, teve apenas um volume publicado em vida: “Broquéis” (os dois outros volumes de poesia são póstumos). Teve uma carreira muito rápida, apesar de ser considerado um dos maiores nomes do Simbolismo universal. Sua obra apresenta uma evolução importante: na medida em que abandona o subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais universalizastes – sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do homem negro (observações pessoais, pois era filho de escravos), mas evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano.

Já Alphonsus de Guimarães preferiu manter-se fiel a um “triângulo” que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o mais místico poeta de nossa literatura. O amor pela noiva, morta às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção por Nossa Senhora geraram, e não poderia ser diferente, um misticismo que beirava o exagero. Um exemplo é o “Setenário das dores de Nossa Senhora”, em que ele atesta sua devoção pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um único meio de atingir a sublimação e se aproximar de Constança – a noiva morta – e da Virgem. Daí o amor aparecer sempre espiritualizado. A própria decisão de se isolar na cidade mineira de Mariana, que ele próprio considerou sua “torre de marfim”, é uma postura simbolista.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Carlos Seabra (Haicais e Que Tais)

GOTAS
pequenos dedos
das gotas de chuva
massageiam a terra

FAROL
os raios de sol
iluminam de manhã
o velho farol

CONTO
era uma vez
um sapo que beijado
poeta se fez

PULGA
pinta no nariz –
era uma pulga que
fugiu por um triz

FLORESTA
que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?

ALTAR
ao te adorar
não sei mais se tens
corpo ou altar…

FONTE
velha na fonte –
os cântaros se enchem
o sol se esconde

MADRUGADA
ave calada –
ninho em silêncio
na madrugada

ONDAS
as ondas beijam
os lábios da praia –
bocas do mar

BRIGA
briga de gatos
na sala de jantar –
vaso em cacos

MORTO
caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto

ALICATE
com alicate
abre o maluco
um abacate

CEREJA
sabor cereja –
minha boca
a tua deseja

BRASA
brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento

FERA
fera ferida
nunca desiste –
luta pela vida

DESPEDIDA
fruta mordida –
saudade de teu beijo
na despedida

AVENTURA
pardal sozinho –
primeira aventura
fora do ninho

PALHAÇO
palhaço triste
é como pássaro preso
sem alpiste

TRIGO
trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado

PALAVRAS
letras no papel
trazem tuas palavras
com sabor de mel

PATINS
patins no gelo –
riscos que se cruzam
como novelo

KIGÔ
haicai sem kigô
é de quem bebe saquê
e pisa na fulô

PIRILAMPO
brilha o grampo
ou ela tem no cabelo
um pirilampo?

NUVEM
nuvem parada
beijada pela brisa
fica molhada

SACI
Saci Pererê
fuma seu cachimbo
à sombra do ipê

FANTASMA
casa fantasma
cheia de habitantes
feitos de plasma

TENOR
pássaro tenor
afina a garganta
ao sol se pôr

VARANDA
sol na varanda –
sombras ao entardecer
brincam de ciranda
————–

Fonte:
SEABRA, Carlos. Haicais e Que Tais. Massao Ohno, 2005. http://haicaisequetais.blogspot.com/

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Carlos Seabra

Carlos Tabosa Saragga Seabra, filho de Mário Seabra, nascido em Lisboa, Carlos vive em São Paulo há cerca de 40 anos. Possui 55 anos.

Os gêneros literários constituem marcos retóricos ou poéticos, legitimados pelas convenções. Cumpre aos poetas segui-los e, depois, ultrapassá-los.
É o que se verifica com os Haicais de Carlos Seabra. Encontram-se mais próximos da forma do que do espírito. É que a alteridade da composição, transplantada ao solo brasileiro, incorpora os sinais da tradição poética local. Tudo em versos mínimos, de rapidez eletrônica.

Carlos Seabra visita vários núcleos temáticos, com um gestual de cirurgião plástico. Ventila os pequenos poemas ora com o sopro romântico, ora com a graça da ironia, que não chega, todavia, à mordacidade. FÁBIO LUCAS

Como disse Massao Ohno, “Se há versos brancos deverão haver “haicais brancos” onde a métrica, acentuação e rimas não precisarão necessariamente ser seguidas à risca. Apenas o espírito, o momento poético deverá existir para que subsista o poema.”…

Currículo

Coordenador editorial do Núcleo de Publicações de Educação da TV Cultura – Fundação Padre Anchieta, atuando no gerenciamento e produção de coleções didáticas para diversos clientes, entre eles a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Especial de Relações do Trabalho.

Coordenação editorial do MiniGuia Claro Curtas, com a Casa Redonda, para o Instituto Claro.

Participação na Comissão Organizadora do blog e evento Crise e Oportunidade, no Instituto Paulo Freire.

Curador da área de Memória Digital no Fórum da Cultura Digital Brasileira.

Coordenação das atividades de apoio ao ONID – Observatório Nacional de Inclusão Digital.

Desenvolvimento e coordenação da Webrádio CulturaViva.

Consultor do Itaú Cultural na área de educação à distância e produtos culturais online, e Itaú Social, com o CENPEC, no Programa “Escrevendo o Futuro”.

Desenvolvimento dos sites do “Núcleo de Memória”, da Odebrecht, e da “Real Biblioteca”, para a Fundação Biblioteca Nacional.

Diretor de Acervo e Difusão do Conselho Nacional de Cineclubes, mandato 2009-2010.

Coordenador do Ponto de Cultura Vila Buarque, parceria com o Ministério da Cultura.

Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores, na gestão 2006-2008.

De 1971 a 1972 na IXAT Publicidade, estagiário e assistente de arte nessa agência de publicidade, tendo atuado na sua área editorial, atendendo os house organs de diversos clientes, entre eles a Revista “Gente”, da Petrobrás, e na edição de publicações do Mobral (“Quem lê… Vai longe” e outros), em conjunto com a Editora Melhoramentos. Em 1972, a agência passou a se denominar Saragga Seabra & Sasson Publicidade.

De 1973 a 1974, na Editora Liza trabalhou no departamento de documentação da Divisão de Fascículos e no departamento de arte, atuando na pesquisa iconográfica e apoio à produção editorial nos fascículos educacionais daquela editora (“Corte & Costura”, “Dicionário Ilustrado Inglês-Português” e “Atividades, Enciclopédia de Trabalhos Manuais”).

De 1974 a 1978 da Editora ABZ, Coordenador de Produção, Chefe de Arte e Secretário Editorial, atuando na coordenação editorial e produção de vários fascículos (“Vida Íntima”, “Secretariado Moderno e Prática Comercial”, “Fio & Agulha”, “Atlas do Brasil”, “Boutique”, “Só Brasil”) e na revista “365 – Seleção de Leitura e Informação”, coleções paradidáticas, produção de quadrinhos e outras publicações, inclusive para o mercado africano de idioma português.

Secretário Editorial, de 1978 a 1980 da Abril Cultural, na Divisão de Fascículos, nas obras “Enciclopédia Tudo” e “Todos os Jogos”, neste gerenciando também toda a pesquisa e testagem lúdica. Também foi colaborador da Abril Educação (Casa Alfa) e da Editora Abril na área de publicações infanto-juvenis (adaptando semanalmente as publicações Disney para Portugal e criando atividades lúdicas).

Gerente Editorial, de 1980 a 1983 da GC Assessoria Editorial, coordenando a edição e produção de obras educacionais para os mercados brasileiro, português e africano, livros, fascículos, revistas e outras publicações, entre elas o fascículo semanal “Vida Íntima” de educação sexual, publicado e distribuído pela Abril Cultural.

Editor da revista mensal “Byte Papo” do Serpro, na área de formação tecnológica de recursos humanos, de 1983 a 1984. Organizador e co-autor do livro “A Revolução Tecnológica e os Novos Paradigmas da Sociedade”, editado pelo IPSO e pela Oficina de Livros.

Coordenador do Programa Informática e Educação, de 1987 até 1992 do SENAC, tendo sido antes, de 1984 a 1987, Orientador Técnico na unidade de Informática, também tendo integrado o Centro de Tecnologia Educacional. Atuação no desenvolvimento de diversos softwares educacionais para Apple e PC, tais como Sherlock, O Sangue, Introdução ao Micro e muitos outros, manuais impressos, vídeos e treinamento de professores e desenvolvimento de cursos.

Editor da seção de informática da Folha da Tarde, de 1990 a 1991.

Responsável pela área de informática da revista Superinteressante, de 1995 a 1997

Sócio e Diretor da Oficina de Software, desde 1996. Desenvolvimento de diversos produtos multimídia para clientes como SESC-SP, SENAC-SP, Ministério da Educação etc., tendo lançado no mercado produtos próprios, em conjunto com o PubliFolha, como o CD da Folhinha e o Vestibular Multimídia da Folha.

De 2000 a 2003, pesquisador da equipe da Escola do Futuro da USP, coordenando o CIDEC (Centro de Inclusão Digital e Educação Comunitária), coordenando a capacitação e gerenciamento dos monitores dos infocentros comunitários do Acessa SP e a concepção e produção de minicursos online e de cadernos eletrônicos desse programa, a BibVirt (Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa) e o Projeto WebQuest, entre outras ações de aplicação das novas tecnologias na educação.

De abril a setembro de 2001, colaborou na equipe de assessoria do secretário municipal de educação, Fernando de Almeida, na área de aplicações das novas tecnologias de comunicação na aprendizagem.

Artigos em diversas publicações, como na revista “Acesso” e “Idéias” da FDE, “Em Aberto” do MEC, “Soluções” da Telefonica, “Eixos” da Câmara Brasil-Alemanha, “Lecionare” da FreeShop, revista “Sesc TV”, revista “A Rede”, “Novos Rumos do Ensino Superior” da PUC-SP etc.

Autor do livro de poesia “Haicais e Que Tais” (Massao Ohno Editor, 2005).

Participou de diversas antologias de contos, como “Antologia de Contos da UBE” (Global Editora, 2008), “Contos de Algibeira” (Casa Verde, 2007), “Expresso 600” (Andross Editora, 2006), “Antologia de Micro-contos” (Edições Pitanga, 2008).

Consultoria e coordenação de projetos na área de telemática educacional e educação à distância, na PUC/SP (na área de cursos de especialização, aperfeiçoamento e extensão), SENAC/SP (Centro de Idiomas), IMESC (Projeto Disque Drogas), colégios particulares (como Colégio Brasil e Magno Escola Integrada) e escola pública (BBS da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo, CIEd de Santa Catarina), Itaú Cultural, World Trade Center, Estadão na Escola e Rede Saci.

Diretor de Acervo e Difusão do CNC – Conselho Nacional de Cineclubes.

Membro do Conselho Consultivo da UBE – União Brasileira de Escritores (e ex-Vice Presidente na gestão anterior).

Membro do Conselho Consultivo do Instituto Claro.

Coordenador do Ponto de Cultura Vila Buarque.

Membro do Conselho Editorial da revista “Novos Rumos” e da revista “A Rede”.

Ex-Secretário-Executivo do Pólo SP da SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.

Ex-diretor e fundador da SBIE – Sociedade Brasileira de Informática na Educação.

Ex-Presidente da Federação Paulista de Cineclubes.

Ex-vice-presidente da Comissão de Cinema da Secretaria de Estado da Cultura.

Ex-diretor do Centro Cultural 25 de Abril e da Associação Cultural Agostinho Neto.

Colaborador de diversas publicações, como os jornais Movimento, Em Tempo, Brasil Mulher, Portugal Democrático e outros. Criador e mantenedor de diversos sites de poesia e cultura na internet.

Fontes:
Carlos Seabra
Antonio Miranda

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Vãnia Maria Souza Ennes (Paraná em Trovas)

artigo por José Feldman

Em 19 de junho de 2010, em um jantar integrante das festividades dos Jogos Florais de Curitiba, a presidente da União Brasileira dos Trovadores do Paraná, Vãnia Maria Souza Ennes realizou uma noite de autógrafos, ao lançar o seu livro Paraná em trovas, em sua 3a. edição, ocasião esta que tive a honra de conhecer pessoalmente esta trovadora, plagiando a definição do irmão trovador maringaense Assis, “encantadora”.

Encantada olho os pinheiros,
Formosos! Iguais? não há.
Dos poetas são os parceiros
que versam o Paraná.
(VÃNIA M. S. ENNES)

Vânia Ennes, filha do Paraná, como uma regente que comanda a sua orquestra, sob o movimento de sua batuta faz com que nos embriaguemos em instantes de pura emoção. Através das trovas contidas no livro vivemos os acordes dos noturnos de Chopin, a Pastoral de Beethoven, a Cavalgada das Valquírias de Wagner, a Marcha Triunfal, da Aída, de Verdi. Sejam nas trovas, ou mesmo em textos de sua lavratura, podemos sentir a beleza que há no mundo que nos rodeia. Sempre otimista, essas trovas são o nascer do sol em toda a sua magnitude, o cantar dos passarinhos ao despontar da aurora, é o dia morno a nos aquecer o coração, é o final da tarde quando muitos de nós após um dia intenso de trabalho nos sentamos na varanda a saborear um tererê ou chimarrão. É a noite, não a escuridão, não a tristeza que muitos buscam nela, mas uma noite onde ela descortina uma lua brilhante envolvida por um véu de estrelas.

Quando sopra o vento sul,
a trova viaja e vai fundo.
Seu caminho é o céu azul…
Espalha-se pelo mundo!
(VÂNIA M. S. ENNES)

Paraná em trovas é um livro, onde esta fantástica trovadora reune trovadores paranaenses que deixam a sua marca no livro da história de nossa literatura tão vasta. Por seu intermédio mostra que neste estado verdejante, de terra vermelha, existe um povo que sabe cantar os seus momentos de emoção, com todo sentimento que pode ser contido em uma trovinha de quatro versos setessilábica.

Vem trovador, vem correndo,
ao meu Paraná, porque
O Pinheiro está morrendo…
De saudades de você…
NEIDE ROCHA PORTUGAL (Bandeirantes)

Ao Paraná, imagino,
dentro da graça altaneira,
o pinheiro é como o Hino
ou como a própria Bandeira.
FERNANDO VASCONCELLOS (Ponta Grossa)

Mas, Vânia não pára por aí. Seu livro é uma Arca de Noé que carrega todos que estão em seu caminho, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. e mesmo outros países como Estados Unidos, Portugal, Panamá, México, e outros, famosos e nem tão famosos.

Como já dizia a poetisa norte-americana Emily Dickinson (1830-1886) “Não há melhor fragata que um livro para nos levar a terras distantes”, e Vânia comanda esta fragata por este Brasil imenso levando os trovadores nesta viagem e trazendo até nós toda esta paisagem exuberante, vencendo fronteiras nacionais e internacionais, carregando a bandeira desfraldada da Trova “por mares nunca dantes navegados”.

O livro possui em seu bojo cerca de 400 trovas. Trovadores do Paraná, de outros Estados do Brasil, de outros Países e de trovadores já falecidos que imortalizam as suas trovas nesta obra. Nomes do quilate de, além da autora, Antonio Augusto de Assis, Amália Max, Dinair Leite, Gerson Cesar Souza, José Westphalen Corrêa, Lairton Trovão de Andrade, Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Mario Quintana, José Ouverney, Glédis Tissot, entre tantos outros.

Como ela mesma diz “saber viver é saber quebrar as durezas normais da existência, ao conseguir enxergá-las com os olhos da alma e da serenidade de espírito.” É assim que é Vânia, tranquila cativando com seu sorriso a todos que estão em seu caminho. É a voz de nosso querido Paraná, é a voz do Brasil.

———————————

A seguir algumas das trovas de seu livro

Que a amizade não se meça
por sorrisos e elogios,
mas por ser, sem que se peça,
o sol em dias sombrios.
DOMINGOS FREIRE CARDOSO – Portugal

O poeta é um fingidor.
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente.
FERNANDO PESSOA – Portugal

Linda musa brasileña
llena de amor y bondad
eres princesa risueña
que me da felicidad.
JOSELITO FERNÁNDEZ TAPIA – Perú

Este é o exemplo que damos
aos jovens recém-casados:
que é melhor se brigar juntos
do que chorar separados!
LUPICÍNIO RODRIGUES – Porto Alegre/RS

Tudo muda, tudo passa,
Neste mundo de ilusão:
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
GUILHERME DE ALMEIDA – Campinas/SP

Diz uma lenda tingui
que Tupã, Deus dos guerreiros,
enterrando a lança aqui
fez nascer muitos pinheiros…
HARLEY CLÓVIS STOCCHERO – Curitiba/PR

Pescador, pensa, avalia…
e diga se ainda crê
na graça da pescaria,
se o peixe fosse você…
HERIBALDO BARROSO – Acari/RN

___________
Fonte:
– ENNES, Vânia Maria Souza (organizadora). Paraná em Trovas: Seleção de Trovas. 3a. Edição revisada e ampliada. Curitiba: ABRALI, 2009.
– Comentário: José Feldman

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Josias Alcântara (Como a Poesia Pode Revolucionar a Educação)

pintura à óleo de Diva do Val Golfieri
Educar é relativizar o eu humano; é um processo de abertura para o outro.
(Jean Jacques Rousseau)

Martins D’ Alvarez (Eu Sei Ler)

Eu sei ler corretamente,
faço contas de somar,
sou batuta em dividir,
gosto de multiplicar.

Quando a professora escreve
no quadro-negro da escola,
leio até de olhos fechados:
“Paulo corre atrás da bola.”

Pra somar uma banana
com mais duas e mais três,
vou comendo e vou somando
1 mais 2 mais 3 são 6.

Pra dividir três pães
comigo e com meu irmão?
Eu sou o maior, ganho dois.
Para ele basta um pão.

Se mamãe me dá um doce
na hora de merendar,
acabo comendo três.
Como eu sei multiplicar!

Os professores encontram sérias dificuldades na escolha sobre a melhor estratégia para inserir a poesia em suas aulas. Por que existe essa dificuldade? A resposta é muito simples. Desde a época da ditadura, a poesia e a filosofia, foram quase abolidas das salas de aulas, porque os praticantes se tornavam mais críticos em razão do aumento de conhecimento paralelo que adquiriam. A lacuna de quase cinqüenta anos, fez com que pelo menos duas gerações de educadores não tivessem acesso a essas matérias tão importantes na vida de muitos. Os cientistas descobrem o ápice da tecnologia presente, mas somente os poetas as tornam belas e únicas em seu devido tempo.

Não é a poesia jogada ao léu que mudará a estrutura pedagógica e sim o compromisso de cada profissional com os valores que dão sustentabilidade para a formação humana. *Viver é o que desejo ensinar-lhe. Quando sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será antes de tudo, um homem.*. (Jean Jacques Rousseau). A poesia é, em primeira instância, o ato de viver com alegria e solidariedade existencial.

Se a base estudantil for alimentada por meio de estímulos eficientes e interativos, teremos, com certeza no futuro, um aumento significativo de novos leitores, principalmente para aqueles que entenderam as dádivas que um livro proporciona. Torna-se importante a adesão da família e educadores, fortalecendo sobretudo o ato do pensar com prazer e evoluir conscientemente

Sugestões práticas para trabalhar com a poesia em sala:

1- Oficinas de poesias e literatura visando aguçar a criatividade e a imaginação de novos pensadores. *Um país se constrói com homens e livros* (Monteiro Lobato)

As escolas que beberam desta idéia tiveram incríveis resultados, não somente no crescimento intelectual, como também na disciplina de várias matérias, tais como, português, literatura, história, filosofia e artes.

2- Estimular a contação de histórias, realização de recitais, encenação de peças de teatro, utilizando temas construídos pelos próprios alunos. Os professores notarão a expressiva melhoria de repertório vocabular, no diálogo e na oralidade livre e descompromissada.
3- Incentivar e promover concursos internos e externos de eventos coletivos e competições esportivas.

Esse intercâmbio cultural os fará, com certeza, mais próximos e prósperos, todas as vezes que trabalharem em equipe, inserindo sobretudo, a honra, a verdade, a solidariedade e o amor ao próximo.

4- Desenvolver oficinas que agreguem valores, tais como: desenhos artísticos, canto, dança, jornais interno, oficinas manuais e jogos lúdicos. Havendo disposição para essa prática e exercício contribui-se para uma nova safra de preciosos cidadãos.

5- Motivar a participação dos pais, para que eles sintam mais interesse pela escola e pelos filhos. Se a arte for inserida desta forma, nos corações dos jovens, teremos não somente o resgate da poesia inserida como base, mas uma revolução educacional, propriamente dita…

6- Exemplo: Na escola municipal de Curitiba, Papa João XXIII, alguns professores conseguiram experimentar algumas das propostas citadas. Em razão do exercício prático e contínuo, de tais estímulos artísticos com seus educandos, conseguiram a classificação de melhor escola pública em todo estado do Paraná, e a quarta melhor do Brasil. Esta experiência validou-se, depois de cinco anos de muito interesse e dedicação de todos os envolvidos.

7- Para isso é necessário analisar todas as etapas experimentadas. Uma base de ensino bem fortalecida de valores e unidade, será a promessa de um futuro mais justo e humano.

Edifica-se, portanto, o homem, ou desmorona-se o ser.

Sem poesia, seremos viajantes desatentos, sem percebermos a beleza que nos rodeia.

Fontes:
Josias Alcântara. http://www.unicape.com.br/page7.php
Poema Eu Sei Ler = http://peregrinacultural.wordpress.com/

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Literatura Brasileira (Parte 8 = O Parnasianismo)

A poesia parnasiana preocupa-se com a forma e a objetividade, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a trindade parnasiana O Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, dizem alguns estudiosos da literatura brasileira, embora ideologicamente não mantenha todos os pontos de contato com os romancistas realistas e naturalistas. Seus poetas estavam à margem das grandes transformações do final do século XIX e início do século XX.

Culto à forma – A nova estética se manifesta a partir do final da década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna. Em alguns casos chegou a ultrapassar o ano de 1922 (não considerando, é claro, o neoparnasianismo). Objetividade temática e culto da forma: eis a receita. A forma fixa representada pelos sonetos; a métrica dos versos alexandrinos perfeitos; a rima rica, rara e perfeita. Isto tudo como negação da poesia romântica dos versos livres e brancos. Em suma, é o endeusamento da forma.
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Anteriores
Parte I – Origens = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-1-origens.html
Parte II – Quinhentismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-2-o.html
Parte III – Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte IV – Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html
Parte V – Romantismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-5-o.html
Parte VI – Realismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-6-realismo.html
Parte VII – Naturalismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-7.html

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Trova 158 – Fiore Carlos (Limeira/SP)

Montagem sobre imagens obtidas em http://crisousil.blogspot.com e www.plinn.com.br/datas/junina/08/sinha/01.htm (fogueira)

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Vanda Fagundes Queiroz (1938)

Curitiba (por Jean Baptiste Debret – 1827)
Nasceu em 20 de novembro de 1938, na vila de Santo Antonio da Boa Vista, município de São João da Ponte, norte de Minas Gerais.

Viveu parte de sua infância na Fazenda Tipis, segundo ela, “um paraíso, o melhor lugar do mundo”.

Filha de Aristides Fagundes de Souza (falecido em 1945) e Maria de Deus Ferreira (falecida em 1999).

Vanda, conforme narra em seu livro “UMA LUZ NO CAMINHO”, com sete anos de idade iniciou o curso primário na cidade de Ibiracatu, naquela época uma pequena vila. Logo de inicio, aflorou a tendência para a arte de ler e escrever, e a menina estudiosa e declamadora tornou-se poetisa, ainda adolescente.

Sua vida de infância, até a conclusão do curso primário, foi retratada com emoção no seu livro “UMA CANDEIA NA JANELA”, narração romanceada de seu contexto familiar, baseada em lembranças da infância, mas que indiretamente se faz registro de uma cultura regional, com seu linguajar próprio, culinária, costumes, tipos humanos, traços vivos de um determinado tempo e um determinado espaço restritos a uma rústica região do sertão mineiro.

Continuou os estudos no Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros, progressista cidade do norte de Minas Gerais, e ali fez o curso ginasial e depois se formou normalista (Curso Normal de Formação de Professores Primários).

Casou-se em 1958 e foi residir em Curitiba, Paraná.

Por concurso público, ingressou no então DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), hoje ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Ainda em Curitiba, fez o curso de Letras (Português e Francês) na Universidade Católica do Paraná (PUC), enquanto escrevia crônicas, poemas, trovas e sonetos.

Depois de 16 anos de trabalhos e estudos em Curitiba, em razão da transferência de seu marido para a Base Aérea de São Paulo, Cumbica – Guarulhos, a família mudou-se para Guarulhos, onde Vanda continuou trabalhando nos Correios, escrevendo e participando de concursos de Trovas e Poesia em todo o país.

Licenciada em Letras, tornou-se professora da rede escolar paulista, lecionando, inclusive Francês. Pouco depois, concursada, deixou a ECT e efetivou-se como professora na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Professor Fábio Fanucchi”, em Guarulhos-SP.

Em 1984 recebeu medalha de “Professor do Ano”, uma promoção da Prefeitura Municipal.

Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Guarulhense de Letras (AGL). Ainda em Guarulhos, fez o Curso de Pedagogia Plena, nas Faculdades Farias Brito.

Contando com trabalhos ainda inéditos, publicou até agora cinco títulos:
“TRAJETÓRIA” (Poesia), Editora do Escritor, São Paulo, 1981;

“DESCORTINANDO” (Poesia), J. Scortecci Editora, São Paulo, 1990;
“CONVERSA CALADA” (Sonetos), Editora Lítero-Técnica, Curitiba, PR, 1990;
“UMA CANDEIA NA JANELA” (Prosa), Torre de Papel Editora Gráfica, Curitiba, PR, 1997 e
“UMA LUZ NO CAMINHO” (Autobiografia), Editora Torre de Papel, Curitiba, PR, 2004.

Premiadíssima nos concursos de poesias e trovas por todo o Brasil e às vezes em Portugal, a poesia versátil de Vanda é repleta de ternura, sensibilidade, profundidade de sentimento, com domínio perfeito da língua portuguesa, mas sem rebuscamento. Emociona quem lê, porque escreve com o coração.

No livro CONVERSA CALADA, são sessenta (60) sonetos (incluindo uma versão para o Francês), versando sobre desencontro, esperança, tristeza, alegria, família, criança, flor, fantasia, filosofia, amor, saudade, vida, etc.

Assim, em seus versos encontramos a jovem apaixonada:

“Quando eu te conheci,
plasmou-se a infinitude
das coisas eternas.
Algum liame perene
para além firmou-se,
muito além das coisas menores.
Estrelas trocaram sorrisos,
anjos tocaram guizos.
Nasceu o inexplicável,
o essencial,
o verdadeiro”.

A mulher casada e mãe, embevecida com suas crianças, como escreveu no soneto A Meu Filho:

“Vejo a criança de ontem em você,
que embalei nos meus braços ternamente.
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente”.

Ou ainda, a avó saudando o primeiro neto:

“A notícia é como afago,
traz-me ternura e carinho:
Que bênção! Chegou Tiago,
o meu primeiro netinho”.

Lendo a poesia espontânea, vibrante e suave de Vanda Queiroz é impossível não nos lembrarmos da grande poetisa de Goiás, Cora Coralina, com suas “Estórias da Casa Velha da Ponte”.

Retornando a família em 1985 para Curitiba, Vanda aposentou-se do magistério e passou a ocupar-se com trabalhos de revisão de texto, além de desempenhar serviço voluntário na igreja.

Ocupa, hoje, a cadeira nº 12 da Academia Paranaense de Poesia.

Pela sua obra literária, foi agraciada em 2008 com a Medalha de Mérito “Fernando Amaro”, promoção da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Só no âmbito da trova, conta com mais de trezentas premiações. Eis uma pequena amostra:

Em Niterói, RJ:

“Sombra e luz fazem nuança
no largo painel da vida.
Luz é o raio de esperança,
e sombra, a ilusão perdida”.

Pouso Alegre, MG:

“Olhando o velho retrato
da praça, eu ouço à distância
acordes que são, de fato,
cirandas da minha infância”.

Bandeirantes, PR:

“A mais sublime lição
de grandeza, amor e fé,
foi ver um homem sem mão
pintando flores com o pé”.

Campinas, SP:

“Por mais que o progresso iluda,
deturpe e inverta valor,
o que Deus fez ninguém muda:
o amor será sempre amor!”

Sua preocupação social é patente no poema “Menino da feira”, 1º lugar no Concurso Rosacruz, em Guarulhos, SP:

“Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.
Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?
Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…
(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome…)
Menino
sem direitos…
só deveres.
Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.”

Segundo Adélia Victória Ferreira, “Vanda não precisa de apresentações ou apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”.

Bem definiu a professora Elisa Campos de Quadros, Mestre em Letras e Professora Adjunta de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Paraná, quando disse: “A alma doce e introvertida da autora demonstra, nesse impulso para o retraimento, que a poesia coabita mais com a solidão do que com o barulho, viceja mais no silêncio do que no burburinho”. E acrescenta que: “Conversa Calada é uma obra que traz canto, encanto e encantamento”.

Está presente no “Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, organizado pelo saudoso poeta Aparício Fernandes, Rio de Janeiro, RJ, páginas 447/452 com dez sonetos primorosos. Figura também no “Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras (página 10) e em ESCRÍNIO, Seleção Anual de Trovas (página 14) ambos de 1981, organizados pelo saudoso trovador Fernandes Vianna, Recife – Pernambuco.

Assim, a mineira de nascimento e paranaense de coração, ou por adoção, vai construindo sua obra literária sem alarde, mas forte, vigorosa e contínua, sem abdicar, contudo, da ternura e da simplicidade, garantindo um lugar de destaque no Panorama da Literatura Brasileira.

Fonte:
Artigo de Filemon F. Martins para a Usina das Letras.

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Silviah Carvalho (Sacrifício)

Altar! Onde deixo meus mais puros sentimentos,
Lugar de descanso e quietudes, de onde verte águas
Que purificam meus pensamentos, um caminho a seguir,
Uma busca exaustiva por um único momento.

Levo-te ao cume da montanha para que saiba que existe um abismo,
Que faz separação entre pureza e impureza, santo e profano,
Que nos leva a conhecer todos os nossos limites e percebemos
Que o bem que pensamos ter não é nosso… Somos humanos.

Não há conquista onde não há coragem!
Para que ir ao templo se tudo já é puro?
Nossas vontades tomam o espaço de nossas necessidades
Incoerentes decisões nos leva ao final do túnel.

“A lágrima é o direito da dor”, ao menos se tem esse direito!
Pois na solidão forma-se um talento, a índole na convivência,
Para que compreenda o meu amor por você, na sua essência,
Olhe para baixo de onde estamos deste cume tão alto…

Veja se pode ousar ver a terra, se pode ao menos sentir seu cheiro,
Saiba se estivesse lá em baixo, onde estou neste momento,
E se pedisse “se joga em meus braços”, eu me lançaria por inteira.
E voaria rumo a este profundo abismo… Seu sentimento!

Levaria comigo meu templo, e no altar te purificaria a consciência,
Mesmo sabendo que tudo isso pode nunca ser verdadeiro,
Mesmo sabendo que perderia o direito e a inocência.

Deste cume e deste chão me rendo aos seus encantos,
Fecho ante a mim a porta do meu templo e no meu recôndito a selo,
Pela tua liberdade, fecho-me à vida e aprisiono meu canto.

Prostro-me, para confessar que te amo tanto e sem razão,
Incapaz… Num altar de dor que passa a ser só meu. Procuro absorver
Num sacrifício infindo este resto de vida que agora é seu.

Fonte:
Colaboração da Autora

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Literatura Brasileira (Parte 7 = Naturalismo)

O romance naturalista, por sua vez, foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro. Aqui, Raul Pompéia também pode ser incluído, mas seu caso é muito particular, pois seu romance “O Ateneu” ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social, a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. Os títulos das obras naturalistas apresentam quase sempre a mesma preocupação: “O mulato”, “O cortiço”, “Casa de pensão”, “O Ateneu”.

O Naturalismo apresenta romances experimentais. A influência de Charles Darwin se faz sentir na máxima segundo a qual o homem é um animal; portanto antes de usar a razão deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto do Naturalismo. Em conseqüência, esses romances são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos como o homossexualismo – tanto o masculino (“O Ateneu”), quanto o feminino (“O cortiço”).
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Marly Nascimento Brasiliense (Poemas Escolhidos)

SEM TEU AMOR…

Meu amor, sem o teu, é tão triste
Perdido anda a Deus e a ventura
Faz da vida, a falsa fé, antítese
E vive lento se perdendo em toda rua.

Meu amor sem o teu é tão amargo
Corre em busca do teu olhar tão doce
A furto rouba-te um pequeno pedaço
E faz vida inteira…como se fosse.

Meu amor, sem o teu, não tem sentido
É um caminho estranho bipartido
Que nos afasta e nos enfurece…
E por mais que meu amor queira o teu
Sabe que minha pouca fé, é de um ateu
Que confia na ineficácia de toda prece!

MADRUGADA

Gosto das madrugadas não quentes
Onde escuto o som do silêncio
Cortado, de súbito, de repente
Pelo uivo do vento excêntrico.

…que faz tudo lhe fazer coral
Sinfonia imprevista e mutatória
Passando por minha janela, formal
Triunfante na sua brava vitória.

Ao longe um cachorro late
O som dum motor reanima
Vida que, na madrugada, sabe
onde o coração se aninha.

E…com, esperança, alguma
Minh`alma só se acostuma
Com o meu sonho de quimera!
Escuto todo o silêncio do mundo
No meu íntimo mais profundo
– minha madrugada te espera!

HARMONIA

O coração está em festa, a alma aguarda
O olhar prepara- se para se alegrar
A emoção preenche o vazio, o nada
E, de toda a tristeza, toma o lugar.

A aventura de rever o semblante
Que faz páreo cúmplice constante
Com nossa expectativa, nosso afeto…
E de lá vem o beijo e o abraço
Que não são maléficos ou mal dados
De harmonia e carinho, repletos!

Então a conversa flui sem tempo
Soltam-se as alegrias, os lamentos
E a vida parece mais alongada…
Podemos dizer tudo ao nosso amigo!
( amizade – sentimento tão antigo )
Rir por tão pouco… chorar por quase nada!

ESPONTÂNEO

Preciso de um coração generoso que resista
À influência do desânimo que, às vezes, sofro
Que ouça, da minha alma, as primícias
E seja o primeiro a pedir o meu socorro!

Que comigo empunhe a bandeira da alegria
Que não traia, do meu amor, as confidências
Que tenha sede de vitórias e de conquistas
Que nossas aspirações se tornem quase idênticas.

Que rasgue com os meus: momentos sofridos
Com cuidado consinta ser providente
Achar antes de um amante, um grande amigo
Que tento não ser, jamais, impaciente.

Que visione como eu, sem cogitação – paz
Que encontre em mim, de espelho, fragmentos
Que creia, ainda agora, na ressurreição capaz
De ensinar-me a soletrar outros novos sonhos.

Que velemos – estimar e sermos estimados
Risonhos sorrisos saídos do fundo do peito
Ternuras do afeto, por nós, compartilhado
E …se assim tudo feito…nada desfeito
Que eu mate esta tortura de querer amar
E esta pouca vontade de querer ficar…..

…é tão nossa….

A liberdade é tão nossa, tão pessoal
Cúmplice de nossos sonhos íntimos
Desprovida de pecado parece legal
Mas, sabemos, o quanto fingimos…

O pensamento, pelo menos, é livre
Como não há frustração, não deprime
nossa mente e nosso corpo não arruína…
Como um encanto acontece lá distante
Dos olhares, dos ditadores, dos maçantes.
E aí a liberdade, no peito, fica recôndita!

HORA SAGRADA

Qual será a hora sagrada?
Os minutos daquela que nascemos?
Ou quando nossa mãe é amada
E amando, vão nos concebendo?

Será que é aquela que passa molhada
Por lágrimas de dor e sofrimento
Ou aquela de alegria desfrutada
Que gera novo encantamento?

Que hora será a hora sagrada
A da partida ou a da chegada?
A que fica ou foge da memória?

Hora sagrada…por Deus abençoada
É aquela que vem e que passa
E que inventa nossa história!

UM FILHO, UM LIVRO E UMA ÁRVORE

Que me pese a mão da morte
Não temo, não definho
Eu tive o poder e a sorte
De todo o dever cumprido…

Longa estrada, um só caminho
Amar , amparar e defender
Os que me deram carinho
Os que sofreram com meu sofrer!

A alma sabe, o coração sente
Quem sorriu comigo sempre
Quem enxugou o meu pranto.

Ficaram no caminho alguns sonhos
Mas esperanças ainda componho
Até meu derradeiro dia – santo!
———

Fontes:
– Selmo Vasconcellos.
– Na hora Sagrada – e-book.

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Marly Nascimento Brasiliense

Nasceu no bairro da Liberdade, em São Paulo.

Cursou o primário no Externato Santo Antonio.O colegial e o curso científico cursou no Colégio Paulistano.

Diplomou–se técnica em Análises Biológicas no Instituto Bioclínico e desempenhou suas funções nos laboratórios dos Hospitais: Modelo, do Câncer e Infantil Menino Jesus.

Autodidata, freqüentou cursos de literatura e poesia na busca de cada vez mais aprimorar seus conhecimentos do nosso riquíssimo idioma.

Laureada em vários concursos regionais e nacionais possui vasta gama de Diplomas e troféus.

Contribuiu com a Prefeitura de São Bernardo do Campos ministrando “wokshop” em colégios e bibliotecas.

Com 19 títulos e mais de 2.000 poesias registrados na *Fundação Biblioteca Nacional*
tem nos versos * a emoção e a vida que não cabem no dia-a-dia *.

Participa de vários sites relacionados à literatura e escrita poética.

Publicações:

• Vasos e Vértices (1997) – Lançado na Câmera de Cultura de São Bernardo do Campo. Segundo lançamento no Clube MESC – Movimento de Expansão Social Católica;
• Relançamento (1998) na 15* Bienal Internacional do Livro de SãoPaulo pela Editora Scortecci. Foi laureado com a Comenda do Mérito Poético da Academia de Letras e Ciências de São Lourenço (MG) e melhor livro de Poesia Moderna pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil (Mogi das Cruzes);
• Réplica Poética (1998) – Lançado no Bufê Bordon`s numa festividade restrita em São Bernardo do Campo e no Salão Internacional do Livro de São Paulo (199?). Editora Scortecci;
• Amor sem limites (2000) – Lançado na FATI – Faculdade Aberta da Terceira Idade de São Bernardo do Campo.Opção2 – Porto Alegre RS;
• Quase todas as emoções (2001) – Lançado Na FATI – Faculdade Aberta da Terceira Idade de São Bernardo do Campo. Produção independente.

Ebooks:

• Na hora sagrada
• Amor sem limites
• *Tanto de Tempo* – Poesias
• *Amores Alados*
• Página por página.
• …Calmarias e Temporais…
• …truques e perseverança…

Marly usa as figuras de linguagem, o ritmo e as rimas para que seus Poemas transmitam emoções com mais encanto e harmonia.

É membro acadêmico da AVBL – Ocupa a cadeira 321
Presidente e Patronnesse Profa.Maria Inês Simões.
Aí tem seis e-books publicados, sendo este “…truques da perseverança…” o sétimo.
É Dra. Honoris Causa em Filosofia Universal/Ph.I e membro da ALB/ Nacional (12/09/2009)
É membro acadêmico da ALB de Piracicaba
Membro CLUBE-BRASILEIRO-DA-LÍNGUA-PORTUGUESA-BH-MG-BRASIL

Pertence ao Grupo Internacional Poetas del Mundo

Fonte:
Selmo Vasconcellos.
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2010/04/marly-nascimento-brasiliense-entrevista.html

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Rodolpho Abbud (Baú de Trovas)

Nasceu em Nova Friburgo/RJ, em 21 de outubro de 1926; filho de Dona Ana Jankowsky Abbud e de Ralim Abbud. Radialista, Locutor Esportivo, Poeta e Trovador, foi sempre muito bom em tudo aquilo que fez ou faz.

Contam até que, certa vez, transmitindo um jogo do Friburguense, teve a sua visão do campo totalmente coberta pelos torcedores. Sem perder a calma, e com sua habitual presença de espirito, continuou a transmissão assim: – “Se o Friburguense mantém a sua formação habitual, a bola deve estar com o zagueiro central, no bico esquerdo da área grande…”

Tem um livro de Trovas intitulado: “Cantigas que vêm da Montanha”, e, recebeu, com inteira justiça e por voto unânime de todos os Trovadores que ostentam essa honra, o titulo de “Magnífico Trovador”.

Na vida, lutar, correr,
não me cansa tanto assim…
O que me cansa é saber
que estás cansada de mim!

Naquele hotel de terceira,
que a policia já fechou,
a Maria arrumadeira
muitas vezes se arrumou!

Enquanto um velho comenta
sobre a vida: -“Ah! Se eu soubesse…”
um outro vem e acrescenta
já descrente: -“Ah! Se eu pudesse…”

Foram tais os meus pesares
quando, em silêncio partiste,
que, afinal, se tu voltares,
talvez me tornes mais triste…

Depois do sonho desfeito,
louvo o porvir que, risonho,
não me recusa o direito
de escolher um novo sonho!

Soube o marido da Aurora,
ela não sabe por quem,
que o vizinho dorme fora,
quando ele dorme também…

Seja doce a minha sina
e, num porvir de esplendor,
nunca transforme em rotina
os nossos beijos de amor…

-“Dê carona ao seu vizinho!”
E a Zezé, colaborando,
vai seguindo o meu caminho
e me dá de vez em quando!…

Na vida, em toscos degraus,
entre tropeços a sustos,
mais que a revolta dos maus,
temo a revolta dos justos!

Minha magoa e desencanto
foi ver, no adeus, indeciso:
– Eu disfarçando o meu pranto…
– Tu disfarçando um sorriso…

Em seus comícios, nas praças,
o casal cria alvoroços:
– Vai ele inflamando as massas!
– Vai ela inflamando os moços…

Vamos brincar de mãos dadas,
crianças pretas e brancas!…
O sol de nossas calçadas
não tem porteiras nem trancas!

Um Deputado ao rogar
ao Senhor, em suas preces,
pede que o verbo “caçar”
não se escreva com dois esses!…

À noite, ao passar das horas,
esqueço os dias tristonhos,
pois tuas longas demoras
dão-me folga para os sonhos!

Chegaste a sorrir, brejeira,
depois da tarde sem fim…
E, nunca uma noite inteira
foi tão curta para mim!…

Ao se banhar num riacho,
distraída, minha prima
lembrou da peça de baixo
quando tirava a de cima ….

Vejo em minhas fantasias,
em Friburgo, pelas ruas,
mil sois enfeitando os dias
e, à noite, a luz de mil luas.

Na ansiedade das demoras,
quando chegas e me encantas,
mesmo sendo às tantas horas,
as horas já não são tantas…

Nessa paixão que me assalta,
misto de encanto e de dor,
quanto mais você me falta
mais aumenta o meu amor!…

Hei de vencer esta sina
que num capricho qualquer,
me fez amar-te menina
depois negou-me a mulher!…

Vem amor, vem por quem és!
Pois já tens, em sonhos vãos,
minhas noites a teus pés,
meus dias em tuas mãos!…

Toda noite sai “na marra”,
Dizendo à mulher: -“Não Torra!”
Se na rua vai a farra,
em casa ela vai à forra!…

Um longo teste ela fez
de cantora, com requinte…
Cantou somente uma vez,
mas foi cantada umas vinte!…

Vendo a viuva a chorar,
muito linda, em seu cantinho,
todos queriam levar
a “coroa” do vizinho…

Não sei como não soubeste
mas o amor veio, infeliz…
Eu te quis, tu me quiseste,
mas o Destino não quis…

Provando em definitivo
que o Brasil é de outros mundos,
há muito “fantasma” vivo
passando cheques sem fundos…

Nosso encontro …O beijo a medo…
A caricia fugidia…
Nosso amor era segredo,
mas todo mundo sabia…

Aproveita, criançada,
o tempo, alegre, ligeiro,
que da a uma simples calçada,
dimensões do mundo inteiro!

Cama nova, ele sem pressa
ante a noivinha assustada,
quer examinar a peça
julgando já ser usada!…

Em tudo o que já vivi,
nessa passagem terrena,
se um pecado eu cometi
com ela, valeu a pena!…

Fonte:
UBT Juiz de Fora.

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Arquivado em notas biográficas, Nova Friburgo em Trovas, Rio de Janeiro

Álvaro de Campos (Aniversário)

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado—,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…

Álvaro de Campos, 15-10-1929
––––––––––––––––––––
Obs: Alvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa
____________________
A não distribuição uniforme dos versos e a despreocupação com a distribuição rítmica dão ao poema um tom confessional, aproximando-o de um texto em prosa. As lembranças relatadas no texto referem-se a uma data específica lembrada pelo eu-poético – o dia do aniversário. Esta data é a propulsora para outras recordações da infância e outras angútias do eu-poético, servindo também como ponto de referencia temporal quando o eu-poético intercala-se e contrapõe-se entre o passado e o presente. A época da infância no poema é marcada pela inocência, pois a criança ainda não tem noção do que se passa à sua volta: “Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma”. A passagem da criança para o adulto é marcada por uma perda, pois ele percebe que a vida não tem mais sentido. O poeta hoje “é terem vendido a casa”, ou seja, é um vazio, que perdeu, inclusive, o bem mais precioso, a sensação de totalidade, de alegria, de aconchego dado pela vida em família na infância longínqua. Assim, a festa de aniversário toma o aspecto simbólico de um ritual familiar e religioso, dentro do qual a criança se torna o centro de um mundo que a acolhe e protege carinhosamente. “As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa”, denota, com esta adjetivação uma característica comum a toda infância: o egocentrismo.

No presente, não há mais aniversários nem comemorações: resta ao poeta durar, porque o pensamento amargurado, critico e pessimista da vida o impede de ter a inocência de outrora. O tom nostálgico e angustiado do poema dá a sensação de que o eu-poético vive uma introspecção conflitiva relembrando um passado supostamente mais feliz que o presente. O trecho “serei velho quando o for. Nada mais.” parece querer dar fim a este conflito interno. “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira !…” conclui o tom confessional do poema e enfatiza uma espécie de conformismo ríspido e amargurado com o presente melancólico e sem perspectiva em relação a vida. “O tempo em que festejavam o dia dos meus anos !” é repetida muitas vezes no texto dando ênfase a importância da data na lembrança do eu-poético, servindo também para marcar a justa contraposição entre passado e presente, respectivamente infância e fase adulta.

O ultimo verso do poema sugere uma acomodação amargurada em relação ao passado.

Em “Eu era feliz e ninguém estava morto” pode-se notar novamente o conformismo com o presente que pode não ser o idealizado, mas que está alicerçado em um passado inocente, de aspecto virginal, contrapondo-se com a atual falta de perspectivas e a desmotivação para a vida, onde ele diz: “Hoje já não faço anos. Duro.” O eu-poético oraliza um tom de amargura versificado de forma clara, coesa e coerente, marcando com precisão verbal os estados temporais e emocionais a que se refere no poema. Por se parecer com uma “auto-confissão poética”, pode-se afirmar que o eu-poético insere no texto características comuns às pessoas que estão prestes a deixar o mundo material, ou que neste não sentem mais vontade de estar por muito mais tempo. A reflexão conflitiva e melancólica sobre o passado, a amargura em relação ao presente e sensação de que o tempo passou e algo que deveria ser resgatado perdeu-se em um passado longínquo, são características comuns em pessoas que encontram-se neste estágio da existência humana.

Fonte:
CD Digerati CEC 003.

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Arquivado em Análise do Poema, poema.

Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio 2010

O Estado do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, torna público aos interessados a realização do Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, edição 2010, doravante denominado Concurso de Contos, que obedecerá ao disposto na Lei Estadual nº 15.608, de 16 de agosto de 2007 e normas gerais nacionais sobre licitações e contratos administrativos, na forma deste Edital.

O Edital poderá ser obtido na Coordenação de Editoração e Literatura da Secretaria de Estado da Cultura – SEEC, localizada na Rua Ébano Pereira, 240, Centro, Curitiba, Paraná ou no sítio da SEEC (http://www.cultura.pr.gov.br/).

Esclarecimentos e informações aos interessados serão prestados pela Coordenação de Editoração e Literatura da SEEC, no endereço citado; pelos telefones: (41) 3321-4738 e 3321-4718, pelo e-mail editoracao@seec.pr.gov.br , nos dias úteis no horário compreendido entre 09h00min e 12h00minh e 14h00minh-17h: 30min.

1. DO CONCURSO

O Concurso tem por objeto a seleção de contos inéditos, que não tenham tido qualquer tipo de apresentação, veiculação ou publicação antes da inscrição no concurso e até a divulgação do resultado e entrega dos prêmios aos vencedores.

O tema é livre e o texto deve ser em língua portuguesa.

2. DAS INSCRIÇÕES

2.1 Poderão inscrever-se no Concurso de Contos, brasileiros, maiores de dezoito anos.

2.2. Cada autor deverá participar com 03 (três) contos.

2.3. As inscrições estarão abertas no período de 16 (dezesseis) de junho a 16 (dezesseis) de agosto de 2010, devendo o envelope descrito no 2.6.1 ser entregue pessoalmente ou pelos Correios, no seguinte endereço:

SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – SEEC
Coordenação de Editoração e Literatura da SEEC
Rua Ébano Pereira, nº 240 – Centro
80410-903 – Curitiba, PR.

2.4. Só serão aceitos os trabalhos entregues dentro do prazo estipulado.

2.5. A inscrição estará efetivada a partir do recebimento dos documentos pela Coordenação de Editoração e Literatura.

2.6. Os documentos para inscrição deverão ser encaminhados observando-se os seguintes procedimentos:

2.6.1. Envelope nº 1 – O Envelope nº 1 deverá conter:

– quatro cópias impressas dos contos;
– uma cópia dos contos gravados em CD-ROM, em formato TXT ou PDF;
– o envelope nº 2, devidamente lacrado.

2.6.1.1. O envelope n.º 1 deverá estar identificado com os dizeres: “Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, edição 2010” e o endereço da SEEC, no caso de remessa pelo correio.

2.6.1.2. No caso de envio pelo correio, somente serão aceitos os trabalhos postados no período indicado no item 2.3 (de 15/06/2010 a 16/08/2010). A Coordenação de Editoração e Literatura não se responsabiliza pela chegada tardia ou pelo extravio do material.

2.6.1.3. Para os Envelopes entregues diretamente no endereço citado no item 2.3 serão emitidos comprovantes de recebimento.

2.6.1.4. O carimbo de postagem do Sedex servirá como documento de comprovação da data de inscrição para os trabalhos enviados via correio.

2.6.1.5. Os custos de postagem correrão por conta dos candidatos.

2.6.1.6 Não serão aceitas, em nenhuma hipótese, trocas, alterações, inserções ou exclusões de partes ou de quaisquer dos contos após a entrega, ainda que dentro do prazo de recebimento.

2.6.2. Envelope nº 2 – Para efeito de identificação, o autor deverá enviar junto com os contos, um envelope lacrado, chamado de envelope n.º2 “IDENTIFICAÇÃO”, externamente identificado somente com o título das obras e o nome do Concurso. O envelope deverá conter a ficha de identificação com declaração de autoria (modelo disponível no sítio http://www.cultura.pr.gov.br link Editoração) com nome completo, endereço, telefone(s), e-mail, título das obras, acompanhada de fotocópia da Cédula de Identidade e Comprovante de Endereço.

2.6.2.1. A não apresentação dos documentos indicados implicará na automática desclassificação da inscrição.

2.7. Não poderão concorrer os membros da Comissão Julgadora, servidores da Secretaria de Estado da Cultura e demais pessoas envolvidas na organização do Concurso.

3. DOS CONTOS

3.1. Os três contos deverão ser, obrigatoriamente, inéditos e originais, vedada a publicação anterior, total ou parcial.

3.2. Os três trabalhos deverão ser do mesmo autor, vedada a co-autoria.

3.3. Não poderão conter nenhum dado que possa identificar a autoria.

3.4. A apresentação dos contos deverá observar os requisitos a seguir:

a) Cada um dos três trabalhos deverá ser precedido da identificação do concurso (Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, edição 2010).
b) Impressão em folha de papel branca, em formato A-4;
c) Digitação do texto em espaço 1,5 (entrelinhas), em corpo 12, fonte Arial, cor preta;
d) apresentação em 4 vias impressas e uma em CD-ROM.

4. DO JULGAMENTO

4.1. Os Contos serão avaliados em até 60 (sessenta) dias contados da data final de inscrição por Comissão Julgadora especialmente designada pela SEEC, composta por três membros de comprovada vinculação com a área literária.

4.2. A Comissão Julgadora selecionará o trabalho de 10 (dez) autores pelo conjunto dos três contos, registrando tudo em ata.

4.3. Concluídos os trabalhos e divulgados os resultados do Concurso de Contos, a Comissão Julgadora tornar-se-á automaticamente extinta.

4.4. A Comissão Julgadora é soberana em suas decisões, das quais não caberá nenhum tipo de recurso.

5. DA PREMIAÇÃO

5.1. A divulgação do resultado (prevista para a segunda quinzena de novembro) e a entrega dos prêmios ocorrerão em datas a serem oportunamente divulgadas no sítio http://www.cultura.pr.gov.br e no Diário Oficial do Estado.

5.2. O concurso conferirá os seguintes prêmios:

5.2.1. Prêmios em dinheiro:

a) 1º lugar: R$ 5.000,00 (cinco mil reais);
b) 2º lugar: R$ 3.000,00 (três mil reais);
c) 3º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais).

5.2.1.1. Os prêmios serão pagos por meio de depósito bancário em conta indicada pelo ganhador ou em ordem de pagamento.

5.2.1.2. Sobre os prêmios indicados incidirão os tributos e demais contribuições previstos em lei.

5.2.1.3. Em nenhuma hipótese os prêmios serão fracionados, devendo a Comissão Julgadora, por unanimidade ou por maioria, decidir-se por um trabalho em cada colocação.

5.2.2. Além dos prêmios em dinheiro serão concedidas 07 (sete) menções honrosas, totalizando 10 (dez) selecionados.

5.3. Os dez trabalhos selecionados serão publicados em uma antologia, cabendo a cada um dos autores 50 (cinquenta) exemplares como parte da premiação.

5.4. Os autores premiados cederão os direitos autorais patrimoniais não exclusivos sobre a obra à SEEC. Os trabalhos premiados passarão a fazer parte do acervo do Coordenação de Editoração e Literatura da SEEC, podendo ser utilizados, total ou parcialmente, em expedientes e publicações – internas e externas – em quaisquer meios, inclusive Internet, respeitados os créditos do autor, sem que caiba a percepção de qualquer valor.

6. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

6.1. O direito de impugnar os termos deste Edital perante a Administração decairá se o concorrente não o fizer na forma e prazos previstos no art. 72, da Lei Estadual 15.608/07.

6.2. O concurso poderá ser revogado em qualquer de suas fases, por motivos de oportunidade e conveniência administrativa, devidamente justificada, sem que caiba aos respectivos participantes direito a reclamação ou indenização, cabendo aos autores o direito à devolução dos trabalhos.

6.3. As despesas com o pagamento dos prêmios do presente Edital, correrão à conta da dotação orçamentária nº 5102.13392032.273 – Natureza de Despesa: 33.90.31.02 (Prêmio em Pecúnia), Fonte de Recurso:100 (Tesouro Geral do Estado).

6.4. Os trabalhos apresentados não serão devolvidos aos autores.

6.5. O resultado do concurso será divulgado no sítio da SEEC e no Diário Oficial do Estado e os ganhadores serão informados por e-mail.

6.6. Somente serão divulgados os autores selecionados.

6.7. Os casos omissos serão resolvidos pela Secretária de Estado da Cultura ouvidos a Coordenação de Editoração e Literatura e a Comissão Julgadora, quando couber.

Curitiba, 15 de junho de 2010.
Vera Maria Haj Mussi Augusto,
Secretária de Estado da Cultura.

Fonte:
Secretaria de Estado da Cultura

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Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody 2010

O Estado do Paraná, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, torna público aos interessados a realização do Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, edição 2010, doravante denominado Concurso de Poesias, que obedecerá o disposto na Lei Estadual nº 15.608, de 16 de agosto de 2007 e normas gerais nacionais sobre licitações e contratos administrativos, na forma deste Edital.

O Edital poderá ser obtido na Coordenação de Editoração e Literatura da Secretaria de Estado da Cultura – SEEC, localizada na Rua Ébano Pereira, 240, Centro, Curitiba, Paraná ou no sítio da SEEC (http://www.cultura.pr.gov.br/).

Esclarecimentos e informações aos interessados serão prestados pela Coordenação de Editoração e Literatura da SEEC, no endereço citado; pelos telefones (41) 3321-4738 e 3321-4718, pelo e-mail editoracao@seec.pr.gov.br , nos dias úteis no horário compreendido entre 09:00 e 12:00h e 14:00h-17h:30min.

1. DO CONCURSO

O Concurso tem por objeto a seleção de poesias inéditas, que não tenham sido objeto de qualquer tipo de apresentação, veiculação ou publicação antes da inscrição no concurso e até a divulgação do resultado e entrega dos prêmios aos vencedores.

O tema é livre e o texto deve ser em língua portuguesa.

2. DAS INSCRIÇÕES

2.1 Poderão inscrever-se no Concurso de Poesias, brasileiros, maiores de dezoito anos.

2.2. Cada autor deverá participar com 03 (três) poesias.

2.3. As inscrições estarão abertas no período de 16 (dezesseis) de junho a 16 (dezesseis) de agosto de 2010, devendo o envelope descrito no 2.6.1 ser entregue pessoalmente ou pelos Correios, no seguinte endereço:

SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – SEEC
Coordenação de Editoração e Literatura
Rua Ébano Pereira, nº 240 – Centro
80410-903 – Curitiba, PR.

2.4. Só serão aceitos os trabalhos entregues dentro do prazo estipulado.

2.5. A inscrição estará efetivada a partir do recebimento dos documentos pela Coordenação de Editoração e Literatura.

2.6. Os documentos para inscrição deverão ser encaminhados observando-se os seguintes procedimentos:

2.6.1. Envelope nº 1 – O Envelope nº 1 deverá conter:

– quatro cópias impressas das poesias;
– uma cópia das poesias gravadas em CD-ROM, em formato TXT ou ODF;
– o envelope nº 2, devidamente lacrado.

2.6.1.1. O envelope n.º 1 deverá estar identificado com os dizeres: “Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, edição 2010” e o endereço da SEEC, no caso de remessa pelo correio.

2.6.1.2. No caso de envio pelo correio, somente serão aceitos os trabalhos postados no período indicado no item 2.3 (de 15/06/2010 a 16/08/2010). A Coordenação de Editoração e Literatura não se responsabiliza pela chegada tardia ou pelo extravio do material.

2.6.1.3. Para os Envelopes entregues diretamente no endereço citado no item 2.3 serão emitidos comprovantes de recebimento.

2.6.1.4. O carimbo de postagem do Sedex servirá como documento de comprovação da data de inscrição para os trabalhos enviados via correio.

2.6.1.5. Os custos de postagem correrão por conta dos candidatos.

2.6.1.6 Não serão aceitas, em nenhuma hipótese, trocas, alterações, inserções ou exclusões de partes ou de quaisquer dos contos após a entrega, ainda que dentro do prazo de recebimento.

2.6.2. Envelope nº 2 – Para efeito de identificação, o autor deverá enviar junto com as poesias, um envelope lacrado, chamado de envelope n.º2 “IDENTIFICAÇÃO”, externamente identificado somente com o título das obras e o nome do Concurso. O envelope deverá conter a ficha de identificação com declaração de autoria (modelo disponível no sítio http://www.cultura.pr.gov.br link Editoração) com nome completo, endereço, telefone(s), e-mail, título das obras, acompanhada de fotocópia da Cédula de Identidade e Comprovante de Endereço.

2.6.2.1. A não apresentação dos documentos indicados implicará na automática desclassificação da inscrição.

2.6.2.1. A não apresentação dos documentos indicados implicará na automática desclassificação da inscrição.

2.7. Não poderão concorrer os membros da Comissão Julgadora, servidores da Secretaria de Estado da Cultura e demais pessoas envolvidas na organização do Concurso.

3. DAS POESIAS

3.1. As três poesias deverão ser, obrigatoriamente, inéditas e originais, vedada a publicação anterior, total ou parcial.

3.2. Os três trabalhos deverão ser do mesmo autor, vedada a co-autoria.

3.3. Não poderão conter nenhum dado que possa identificar a autoria.

3.4. A apresentação das poesias deverá observar os requisitos a seguir:

a) Cada um dos três trabalhos deverá ser precedido da identificação do concurso (Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody, edição 2010) e do título da poesia;

b) Impressão em folha de papel branca, em formato A-4;

c) Digitação do texto em espaço 1,5 (entrelinhas), em corpo 12, fonte Arial, cor preta;

d) Apresentação em 4 vias impressas e uma em CD-ROM.

4. DO JULGAMENTO

4.1. As poesias serão avaliadas em até 60 (sessenta) dias contados da data final de inscrição por Comissão Julgadora especialmente designada pela SEEC, composta por três membros de comprovada vinculação com a área literária.

4.2. A Comissão Julgadora selecionará o trabalho de 10 (dez) autores pelo conjunto das três poesias, registrando tudo em ata.

4.3. Concluídos os trabalhos e divulgados os resultados do Concurso de Poesias, a Comissão Julgadora tornar-se-á automaticamente extinta.

4.4. A Comissão Julgadora é soberana em suas decisões, das quais não caberá nenhum tipo de recurso.

5. DA PREMIAÇÃO

5.1. A divulgação do resultado (prevista para a segunda quinzena de novembro) e a entrega dos prêmios ocorrerão em datas a serem oportunamente divulgadas no sítio http://www.cultura.pr.gov.br e no Diário Oficial do Estado.

5.2. O concurso conferirá os seguintes prêmios:

5.2.1. Prêmios em dinheiro:

a) 1º lugar: R$ 5.000,00 (cinco mil reais);
b) 2º lugar: R$ 3.000,00 (três mil reais);
c) 3º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais).

5.2.1.1. Os prêmios serão pagos por meio de depósito bancário em conta indicada pelo ganhador ou em ordem de pagamento.

5.2.1.2. Sobre os prêmios indicados incidirão os tributos e demais contribuições previstos em lei.

5.2.1.3. Em nenhuma hipótese os prêmios serão fracionados, devendo a Comissão Julgadora, por unanimidade ou por maioria, decidir-se por um trabalho em cada colocação.

5.2.2. Além dos prêmios em dinheiro serão concedidas 07 (sete) menções honrosas, totalizando 10 (dez) selecionados.

5.3. Os dez trabalhos selecionados serão publicados em uma antologia, cabendo a cada um dos autores 50 (cinquenta) exemplares como parte da premiação.

5.4. Os autores premiados cederão os direitos autorais patrimoniais não exclusivos sobre a obra à SEEC. Os trabalhos premiados passarão a fazer parte do acervo da Coordenação de Editoração e Literatura, podendo ser utilizados, total ou parcialmente, em expedientes e publicações – internas e externas – em quaisquer meios, inclusive Internet, respeitados os créditos do autor, sem que caiba a percepção de qualquer valor.

6. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

6.1. O direito de impugnar os termos deste Edital perante a Administração decairá se o concorrente não o fizer na forma e prazos previstos no art. 72, da Lei Estadual 15.608/07.

6.2. O concurso poderá ser revogado em qualquer de suas fases, por motivos de oportunidade e conveniência administrativa, devidamente justificada, sem que caiba aos respectivos participantes direito a reclamação ou indenização, cabendo aos autores o direito à devolução dos trabalhos.

6.3. As despesas com o pagamento dos prêmios do presente Edital, correrão à conta da dotação orçamentária nº ???

6.4. Os trabalhos apresentados não serão devolvidos aos autores.

6.5. O resultado do concurso será divulgado no sítio da SEEC e no Diário Oficial do Estado e os ganhadores serão informados por e-mail.

6.6. Somente serão divulgados os autores selecionados.

6.7. Os casos omissos serão resolvidos pela Secretária de Estado da Cultura ouvidos a Coordenação de Editoração e Literatura e a Comissão Julgadora, quando couber.

Curitiba, 15 de junho de 2010.
Vera Maria Haj Mussi Augusto,
Secretária de Estado da Cultura.

Fonte:
Secretaria de Cultura do Estado

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Izabel Leão (Ser Poeta, um Sentimento do Mundo: Lupe Cotrim Garaude)

Ser poeta
é meu resíduo
de tristeza
ao não ser triste
A dor que deveras sente
é a que sinto.
E o que vemos a mais
nas coisas simples
os subterrâneos cavados
nas doces superfícies
é nosso modo de unir
o solto e o que resiste.
(O dúplice, de Lupe Cotrim)
Trajetória breve, mas fulgurante, intensa, com brilho próprio. Assim foi Lupe Cotrim Garaude, poetisa e intelectual, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, que morreu há 40 anos e que ganhou em março uma exposição no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, organizada pela professora Leila Gouvêa, numa homenagem à sua obra literária. Na abertura da mostra, um seminário e um recital com canções do compositor Almeida Prado inspiradas no livro Cânticos da Terra, de Lupe Cotrim.

Com a reunião dos documentos que hoje compõem o acervo no IEB, a exposição “Ser poeta: Lupe Cotrim, 40 anos depois” propõe uma revisita à trajetória intelectual e literária da poeta. “Será uma reconstituição do itinerário de Lupe, desde o projeto, formulado aos 12 anos de idade, até tornar-se escritora, depois metamorfoseado em ‘ser poeta’, como ela mesma escreve na poesia O dúplice”, ressalta Leila.

O seminário com três mesas-redondas aberto pelas professoras Ana Lucia Duarte Lanna, diretora do IEB, e Marta Amoroso. “A professora-poeta”, tema da primeira mesa-redonda, contou com as memórias e lembranças de alguns artistas e docentes que foram alunos de Lupe nos primeiros anos de funcionamento da ECA, entre eles Ismail Xavier, Djalma Batista, Luís Milanesi e José Possi Neto.

A segunda mesa-redonda, “Uma intelectual na travessia dos anos 60”, contou com vários pesquisadores e intelectuais, que fizeram uma apresentação mais acadêmica de Lupe. Telê Ancona Lopez analisou anotações, comentários e sublinhamentos feitos nas margens dos livros e textos de Lupe Cotrim. Fábio Lucas, Ana Maria Fadul e Eduardo Peñuela Canizal mostraram sua visão particular sobre a obra da poetisa e intelectual.

“A poesia lírica de Lupe Cotrim”, nome da terceira mesa-redonda, com a participação de vários poetas brasileiros, que analisaram a obra poética da autora, inclusive seu livro póstumo, Monólogos do afeto, publicado seis meses após sua morte, “uma poesia espontânea, sem elaboração, mas com poemas muito interessantes”, comenta Leila Gouvêa. Desse livro Leila destaca a poesia Hino dos comedidos, em que Lupe mostra um caráter de inconformismo com o mundo em que vive e uma certa rebeldia em relação às convenções sociais do tempo em que viveu:

Não me agradam esses homens
bem fracionados no tempo,
cedendo-se amavelmente
em todas ocasiões
e mais também não me agradam
os partidários tão vários,
de toda moderação.
Vou passando bem distante
desses homens comedidos
desses homens moderados (…)
Adeus homens moderados,
adeus que sou diferente.
Compreendo a mulher que rasga
as vestes em grande dor
e sinto imensa ternura
pelo homem desesperado.

Segundo Leila, Lupe foi uma professora muito estimada pelos alunos. Embora tenha tido uma passagem meteórica como professora da ECA, deixou marcas profundas. “Ela fugia ao padrão acadêmico, tinha uma comunicação fácil com os jovens alunos. Em homenagem, o Centro Acadêmico da ECA recebe seu nome.”

Filho de Lupe, o professor de Artes Visuais da ECA Marco Giannotti, que não chegou a conviver muito tempo com a mãe em razão de sua morte precoce, afirma que um evento como esse é importante para a comunidade acadêmica relembrar uma pessoa que teve destacado papel na formação de uma das suas unidades de ensino, a ECA. “Ela conseguiu viver em pouco tempo uma vida intensa, construindo uma obra pequena, mas de grande valor literário. Assim a USP, como instituição, está valorizando melhor os seus quadros de professores.”

O Fundo Lupe Cotrim Garaude, no IEB, contém cerca de 1.100 documentos. Foi organizado e catalogado graças a uma bolsa de pós-doutorado concedida a Leila Gouvêa pela Fapesp. A exposição “Ser Poeta: Lupe Cotrim, 40 anos depois” e o livro Estrela breve – Uma biografia da poeta Lupe Cotrim, a ser publicado no segundo semestre, são os produtos finais do trabalho de pesquisa. Leila teve como supervisora do seu pós-doutorado a professora Yêdda Dias Lima, do IEB.

Lupe Cotrim começou a lecionar Estética na ECA em 1967, aos 33 anos. Na mesma época, fez doutorado em Filosofia na então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, na rua Maria Antonia, sob a orientação da professora Gilda de Melo Souza. Dizia ter necessidade de adensar sua concepção de mundo, pesquisar nova dicção poética e depurar sua escrita. No final da década de 60, na turbulenta época da ditadura militar, os alunos da ECA entraram em greve e Lupe teve um papel fundamental na intermediação e diálogo entre autoridades e estudantes.

Nesse período, combinou a escrita literária e a docência com a produção ensaística, além de compor uma peça de teatro cuja revisão não pode concluir, devido ao câncer que a levou, em 18 de fevereiro de 1970, com apenas 36 anos de idade.

Sua trajetória foi intensa, deixando um legado de sete livros de refinada poesia lírica. Também cultivou o diálogo e a troca de cartas com escritores, especialmente Carlos Drummond de Andrade, o maior interlocutor epistolar de sua breve vida.

No livro Raiz comum (1959), ela já mostra sinais de pesquisa formal, elaboração e ao mesmo tempo um pouco da chamada geração 45, praticante das formas fixas da poesia, especialmente o soneto. Os destaques são Destino mineral e Nem um profundo mar. Ainda com uma certa proximidade com a geração de 45, com um estetismo subjetivo, é em Entre a flor e o tempo, de 1961, que Lupe cria sonetos que revelam certa inquietação com a busca de uma nova dicção poética. “A poetisa sempre esteve em busca de uma dicção autoral em conformidade com o seu sentimento do mundo”, lembra Leila.

O quarto livro, publicado no final de 1962, Cânticos da Terra, são poemas sobre animais e, assim como poetas como Borges e Apollinaire, criou seu próprio bestiário – uma coletânea sobre animais. Essa coletânea teve uma preocupação estética maior, ganhando uma edição belíssima, com ilustrações a bico-de-pena do artista plástico Aldemir Martins. “No mundo poético de Lupe, também havia espaço para os animais, numa tentativa de sair da nebulosa do eu que caracterizou muito seus primeiros livros”, explica Leila. Em Cânticos da Terra, por exemplo, a poetisa afirma:

Ritmado andar azul
e calculado
de um solene pavão
– longa cauda em flor,
adorno de linguagem
e proteção

Vale lembrar que o bestiário foi publicado pelo editor Massao Ohno, que teve importante papel nos anos 60, divulgando a chamada poesia novíssima de Roberto Piva, Carlos Felipe Moisés, Lindolf Bell, Hilda Hilst e Lupe Cotrim.

Cartas do seu amigo Carlos Drummond de Andrade (cerca de 50 correspondências) mostram o poeta elogiando Cânticos da Terra. “Sou um velho apaixonado do mistério dos animais, Lupe, e encontro com emoção em seus poemas esse poder de ir até o mais delicado deles, essa essência de vida e significado que a natureza não oferece cabalmente senão através da intuição poética.”

Ainda sobre essa coletânea, Leila conta que seis desses poemas foram musicados pelo compositor Almeida Prado, que sempre admirou ciclos de canções sobre bestiários e, quando descobriu os poemas de Lupe, entusiasmado, fez um ciclo de seis canções. Três delas serão apresentadas ao vivo no final do evento do dia 23. São canções para canto e piano interpretadas pelo barítono Pedro Ometto e o pianista Eduardo Tagliatti.

Lupe Cotrim tinha grande interesse pelo canto lírico, chegando a estudar para ser soprano. Acabou descobrindo que a poesia era seu maior dom. “Mais de uma vez Lupe chegou a falar de sua alegria em ter algum dos seus poemas musicados”, relembra Leila.

Em 1964, Lupe publica seu quinto livro O poeta e o mundo, que reflete uma fase de transição. Na poesia Última passagem, por exemplo, o tema a morte é bem recorrente na obra.

Quando eu morrer,
se morrer,
quero um dia de sol,
denso, cintilante,
escorrendo-me pelo corpo
seus dedos quentes.
E quero o vento,
Um largo vento dos espaços
Que me respire e me arrebate
No seu fôlego
Por outros continentes.
(…)
quero pegar a vida,
palmo a palmo,
traço a traço,
num dia esfuziante de azul,
com o mar na boca e nos braços.

O início de uma certa maturidade literária, conta Leila, se deu no livro Inventos, de 1967, em que Lupe revela fugir do impacto da geração de 45 e ensaiar uma nova dicção literária. Esse livro divide-se em duas partes. A primeira, De Mar, tem como tema recorrente o mar e nela transparece o impacto que a leitura de João Cabral de Melo Neto exerce sobre a autora, assim como também uma geração de poetas.

É na segunda parte, denominada De Amor, que a autora consegue dar um salto, aproximando-se da dicção autoral que tanto buscava. Leila comenta que a autora, enfim, consegue uma poesia lírica de alta qualidade. “É um poema para vozes, onde comparecem um narrador e dois amantes. O diálogo dos amantes é extraordinário. Podemos afirmar ser esse o marco da obra de Lupe”, diz Leila, citando um dos poemas:

Se entre nós cada folha de silêncio
for linguagem de gestos desprendidos
e em clareiras tombar cada momento
o que outrora foi verde e preenchido,
segurarei na queda tua imagem.
Antes que perca todos os indícios
desta palavra dita na coragem
da posse em nós, hei de levar comigo
o último desejo, o corpo intenso
para tramar de novo um novo invento.

No período mais repressivo da ditadura militar, iniciado com a instauração do Ato Institucional número 5, Lupe Cotrim dá vazão a uma poética mais participante, com poesias de cunho social, de denúncia do cenário histórico e social do País e do mundo. Os livros dessa época são muito eloquentes e oratórios, como Memória barroca, que a poetisa dedicou ao amigo Carlos Drummond de Andrade. Segundo Leila, as poesias desse livro conseguem ser engajadas, conciliando denúncia com concisão e lirismo, “por isso são poesias de boa qualidade”:

Uma cola negra escorre
das calçadas, e o mar escurece
no pigmento do rosto.
Uma fratura na pedra; e mais outra.
Estátua que se ergue
ou entranha que se mostra.
O saveiro furta às águas
a sumária riqueza dos peixes
e no farol se acende
a história ameaçada; nem tudo será
resíduo e paisagem. A couraça
urbana acintura a nova cidade
cinza e domesticada.

A fase do lirismo participativo também resultou no livro Poemas ao outro, uma coletânea em duas partes, triplamente premiado ainda no original: recebeu, em 1969, o Prêmio Governador do Estado, desbancando os maiores poetas da época, o Prêmio Jabuti e o Prêmio Poesia, da Fundação Cultural de Brasília.

Na primeira parte desse livro, Lupe dialoga com um personagem imaginário, João, que ela considera aparentado do personagem Severino, de João Cabral de Melo Neto, e do personagem José, de Drummond:

O que é nosso, João,
entre o teu e o meu
o que separa em posse
a nossa solidão?
Não sei. Não sei
o que era de mim
no que te encontrei.

Na segunda parte de O dúplice – Alter ego, Desdobramento, o Outro –, eixo norteador da exposição no IEB, o ser poeta representa a busca de uma vida inteira de Lupe Cotrim. Giannotti, o filho, encontra na poesia da mãe o vínculo afetivo que não teve tempo de criar: “O que mais me encanta na poesia de Lupe é a grande vontade de atualização do eu lírico – aquele sujeito que se coloca perante o mundo, podendo sentir e escrever o que vive no mundo sem subterfúgios. Ela viveu o mundo intensamente, e na sua poesia eu sinto isso claramente”.
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Izabel Leão é jornalista e mestre em Educomunicação em São Paulo , SP.
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Fonte:
Extraído do Jornal da USP, março de 2010, adaptado para atualmente.

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Literatura Brasileira (Parte 6 = Realismo)

O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento – o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.” Ao cunhar este conceito, Eça de Queiroz sintetizou a visão de vida que os autores da escola realista tinham do homem durante e logo após o declínio do Romantismo.

Este estilo de época teve uma prévia: os românticos Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto, embora fizessem uma poesia romântica na forma e na expressão, utilizavam temas voltados para a realidade político-social da época (final da década de 1860). Da mesma forma, algumas produções do romance romântico já apontavam para um novo estilo na literatura brasileira, como algumas obras de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Começava-se o abandono do Romantismo enquanto surgiam os primeiros sinais do Realismo.

Na década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Silvio Romero e outros, aproximando-se das idéias européias ligadas ao positivismo, ao evolucionismo e, principalmente, à filosofia. São os ideais do Realismo que encontravam ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob o signo do abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.

No Brasil, considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluízio Azevedo publica “O mulato”, considerado o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o primeiro romance realista de nossa literatura.

Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de “Missal” e “Broquéis”, ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa – com os romances realistas e naturalistas – e na poesia, com o Parnasianismo.

“Príncipe dos poetas” – Da mesma forma, o início do Simbolismo, em 1893, não representou o fim do Realismo, porque obras realistas foram publicadas posteriormente a essa data, como “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, em 1900, e “Esaú e Jacó”, do mesmo autor, em 1904. Olavo Bilac, chamado “príncipe dos poetas”, obteve esta distinção em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, também foi inaugurada posteriormente à data-marco do fim do Realismo: 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros do século XX, três estéticas se desenvolvem paralelamente: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte Moderna.

O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo, o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da física e da química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais, aumentando a massa operária urbana, e formando uma população marginalizada, que não partilha dos benefícios do progresso industrial, mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.

O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico quanto no político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/1870) tem como consequencia o pensamento republicano (o Partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra terminou); a Monarquia vive uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade: o fim da mão-de-obra escrava e sua substituição pela mão-de-obra assalariada, então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, o que originou uma nova economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista.
.

Raul Pompéia, Machado de Assis e Aluízio Azevedo transformaram-se nos principais representantes da escola realista no Brasil. Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como nos romances “O mulato”, “O cortiço” e “O Ateneu”. Eles negam a burguesia a partir da família. A expressão Realismo é uma denominação genérica da escola literária, que abriga três tendências distintas: “romance realista”, “romance naturalista” e “poesia parnasiana”.

O romance realista foi exaustivamente cultivado no Brasil por Machado de Asses. Trata-se de uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. Para se ter uma idéia, os cinco romances da fase realista de Machado de Assis apresentam nomes próprios em seus títulos (“Brás Cubas”; “Quincas Borba”; “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó”; e “Aires”). Isto revela uma clara preocupação com o indivíduo. O romance realista analisa a sociedade por cima. Em outras palavras: seus personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista é documental, retrato de uma época.
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Parte I – Origens = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-1-origens.html
Parte II – O Quinhentismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-2-o.html
Parte III – O Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte IV – O Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html
Parte V – O Romantismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-5-o.html

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Haicai 1 – Carlos Seabra (São Paulo)

Fontes:
Carlos Seabra
Haicai sobre imagem obtida em http://nevergonnabealone.wordpress.com

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Luís Fernando Veríssimo (Edelvésio)

“Edelvésio.”

“Isso lá é nome?”

Edelvésio baixou os olhos, mas não sorriu. Depois ergueu os olhos e encarou o treinador, ainda sem sorrir.

“Que posição?”, perguntou o treinador.

“Meio.”

“Pé direito ou esquerdo?”

“Os dois.”

O treinador deu a camisa e disse:

“Entra.”

Edelvésio entrou. Era um treino para selecionar jogador. Fila de aspirantes. Cada jogador tinha poucos minutos para mostrar o seu futebol. Edelvésio mostrou. Era bom.

E chutava mesmo com os dois pés.

Depois o treinador disse:

“Você fica”. Mas fez uma ressalva: “Edelvésio não dá”.

“É o meu nome.”

“Você não tem apelido, não?”

“Não.”

“Dedé? Vevé? Delinho?”

“Não.”

“Como é que te chamam em casa?”

“Edelvésio.”

“Não dá. Tem que arranjar um apelido.”

“Não quero.”

O treinador encrespou.

“Como não quer? Desde quando jogador tem que querer? Eu quero. Edelvésio não pode.”

“Por que não?”

O treinador fez um gesto mandando Edelvésio embora.

“Quer saber de uma coisa? Ode ir indo. Te manda.”

Edelvésio deu as costas para o treinador e começou a se afastar.

“Espera”, disse o treinador.

Tinha se lembrado dos chutes de Edelvésio com os dois pés. Precisava de um jogador como ele. Botou uma mão no seu ombro e disse:

“Não precisa ser apelido. Como é seu sobrenome?”

“Santos.”

“Você pode ser Santos.”

“Não.”

“Inventa outro nome. Mauro. Você gosta de Mauro? Ou Silas. Silas é nome de jogador. olha aí: Mauro Silas. Você está com a carreira feita. Um Mauro Silas chega à seleção só pelo nome.
Já um Edelvésio não chega a lugar nenhum.”

“Não.”

“Edmilson. Pronto. Edmilson eu aceito. É parecido com Edelvésio.”

“Não.”

“Edel. Pode ser Edel.”

“Você também não ajuda! Por que não?”

“Por que meu nome é Edelvésio.”

O treinador perdeu a paciência. Definitivamente.

“Pode ir embora.”

Semanas depois, inicio da temporada, o time do treinador se viu mal diante do primeiro adversário. Era para ser um jogo fácil, mas o time adversário tinha um jogador infernal com a dez. Estava acabando com o jogo. E chutava com as duas. Tinha feito um gol com a esquerda e outro com a direita.

“Eu conheço esse cara”, disse o treinador.

Mas não havia nenhum Edelvésio na escalação do outro time.

O treinador consultou a escalação de novo. Lá estava ele. Só podia ser ele. Mas não aparecia o nome. Aparecia o apelido.

“Teimoso.”

Fontes:
VERISSIMO, Luis Fernando. Brasil Bom de Bola. Editora Tempo d´Imagem, 1998.
Imagem = por Junião em http://www.imagensporfavor.com

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Luiz Carlos Felipe (Contar Histórias : Uma Arte?)

Antes eu contava histórias porque queria mudar o mundo. Hoje eu conto histórias para que o mundo não me mude.

Não é novidade para ninguém a imagem de um ancião reunindo um grupo de pessoas jovens para contar a elas um “causo”, uma “lição de vida” ou uma parábola. O fato é que em torno do fogo (ou de um fogão à lenha) ou ainda de um toco de vela, muitos já experimentaram sensações que vão da fé à incredulidade. O fato é que nos acostumamos a “viajar” na voz do outro, aceitamos partir com nosso herói para as aventuras da vida. Todavia, sempre torcemos pela vitória do herói, pois, como é sabido, a vitória dele é a minha vitória, o sucesso dele é o meu sucesso e estamos sempre em busca de um “…e viveram felizes para sempre…”

Por essas razões, dominar a arte de contar histórias é um ato de altruísmo. Somos instrumento, um elo entre o mundo de lá (onde vivem as histórias) e o mundo de cá (onde há gente sofrendo, precisando de uma palavra de estímulo, ou uma boa dose de humor). O contador de histórias é uma criatura que carrega muitas “pessoinhas” dentro de si. Sua sabedoria materializada no olhar e no gesto faz brotar em nossa mente e em nosso coração os sentimentos que com o tempo perderam-se no corre-corre de nossas atividades cotidianas.

Por isso posso definir a contação de histórias como um exercício de ampliação, transformação e/ou enriquecimento da própria experiência de vida, para que essa seja renovada. Num encontro com o imaginário, com os medos, com as frustrações e, também, com as possíveis realizações que almejamos, poderemos desenvolver, primeiro em nós, e depois em nossos alunos, além da construção da realidade social, a formação de valores e conceitos para uma aprendizagem mais significativa, mais valiosa, associando teoria e prática, diversão e aprendizagem, paixão e leitura…

Dessa forma a atividade de contação de histórias não deve servir como um “tapa-buraco”, ela deve estar incluída na rotina diária da sala de aula. O professor deve estar bem preparado e criar rituais, os quais podem variar desde a montagem de um ambiente agradável (brinquedoteca, cantinho da leitura, por exemplo), até a incorporação ao ambiente da sala de aula de elementos da natureza (uma flor, uma vela acesa, cristais coloridos, incenso, um vaso de argila, uma toalha bonita, etc.) até uma música adequada, a qual, sempre que for cantada, dará início à contação.

Assim, nossos alunos estarão preparados para o que irão ouvir, pois, “contamos histórias, não para fazer dormir, mas sim, para “fazer acordar”. Acordar sonhos, medos secretos, frustrações, desgostos, amores, desamores, acordar para a vida, para a imaginação do impossível, do abstrato, do irreal, os quais podem muito bem transformar-se em soluções para os problemas mais adormecidos e os quais nem imaginávamos existir.

Para encerrar, deixo uma reflexão a todos os educadores, utilizando-me das palavras do Grupo Morandubetá Contadores de Histórias: “contar histórias é revelar segredos, é seduzir o ouvinte e convidá-lo a se apaixonar… pelo livro… pela história… pela leitura. E tem gente que ainda duvida disso.” .
––––––––––––––––––-
Luiz Carlos Felipe é professor de Contos Velados e Desvelados, no Instituto Aprender, em Joinville, SC. Especialista em Estudos Literários, contador de Histórias formado pela Casa do Contador de Histórias.

Fontes:
Revista Escrita , edição 12.
Imagem = http://umatoradolescente.blogspot.com

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Trova 157 – Doralice Gomes da Rosa (Porto Alegre/RS)

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26 de junho de 2010 · 21:04

Orientação para Participação em Concurso de Trovas

1 – Não envie a mesma trova para mais de um concurso.

2 – Nos envelopes (de mais ou menos 7 x 11 cm), não datilografe/digite nada além da trova, a não ser o tema (quando o concurso exigir – e a maioria o faz).

3 – Não datilografe/digite a trova toda em maiúsculas.

4 – Não utilize envelopinhos transparentes, nem de outra cor que não seja a branca.

5 – Os concursos apoiados por Seções ou Delegacias da UBT devem seguir a tradição do “sistema de envelopes”, que consiste em datilografar-se a trova na face externa de envelopinhos, com a identificação, endereço e assinatura do concorrente colocados em seu interior. No envelope que conterá o/s envelopinho/s colocar como remetente: “LUIZ OTÁVIO” e o endereço do concurso como na face da frente, ou o nome do concurso com o respectivo endereço. Nunca colocar qualquer identificação pessoal do lado externo do envelope.

6 – Ao receber comunicado de classificação e convite para as festividades de um concurso, não deixe de responder, ainda que sem possibilidade de comparecimento, para que os coordenadores tomem as providências necessárias.

7 – Os concursos geralmente possuem âmbito municipal, âmbito estadual, âmbito nacional e/ou âmbito internacional. O trovador só poderá participar de um deles, aquele determinado pelo seu domicílio. Caso haja trovas líricas/ filosóficas e humoristicas, é facultativo ao trovador participar de um deles ou ambos.

8 – Alguns concursos não permitem o uso de derivados ou palavras cognatas. Outros, exigem que a palavra Tema conste da trova.

9 – Observar o número máximo de trovas que pode ser enviado ao concurso.

10 – A Comissão de seleção das trovas do concurso elimina apenas as trovas com erros, fora do tema, sem sentido, etc., não importando a qualidade.

Fontes:
– Izo Goldman
– UBT Porto Alegre
– Imagem = http://woc.uc.pt

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Literatura Brasileira (Parte 5 = O Romantismo)

O Romantismo se inicia no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a “Niterói – Revista Brasiliense”, e, no mesmo ano, lança um livro de poesias românticas intitulado “Suspiros poéticos e saudades”.

Em 1822, Dom Pedro I concretiza um movimento que se fazia sentir, de forma mais imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A partir desse momento, o novo país necessita inserir-se no modelo moderno, acompanhando as nações independentes da Europa e América. A imagem do português conquistador deveria ser varrida. Há a necessidade de auto-afirmação da pátria que se formava. O ciclo da mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra, onde buscam soluções para os problemas brasileiros. O Brasil de então nem chegava perto da formação social dos países industrializados da Europa (burguesia/proletariado). A estrutura social do passado próximo (aristocracia/escravo) ainda prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador José de Nicola, “o ser burguês ainda não era uma posição econômica e social, mas mero estado de espírito, norma de comportamento”.

Marco final – Nesse período, Gonçalves de Magalhães viajava pela Europa. Em 1836, ele funda a revista Niterói, da qual circularam apenas dois números, em Paris. Nela, ele publica o “Ensaio sobre a história da literatura brasileira”, considerado o nosso primeiro manifesto romântico. Essa escola literária só teve seu marco final no ano de 1881, quando foram lançados os primeiros romances de tendência naturalista e realista, como “O mulato”, de Aluízio Azevedo, e “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Manifestações do movimento realista, aliás, já vinham ocorrendo bem antes do início da decadência do Romantismo, como, por exemplo, o liderado por Tobias Barreto desde 1870, na Escola de Recife.

O Romantismo, como se sabe, define-se como modismo nas letras universais a partir dos últimos 25 anos do século XVIII. A segunda metade daquele século, com a industrialização modificando as antigas relações econômicas, leva a Europa a uma nova composição do quadro político e social, que tanto influenciaria os tempos modernos. Daí a importância que os modernistas deram à Revolução Francesa, tão exaltada por Gonçalves de Magalhães. Em seu “Discurso sobre a história da literatura do Brasil”, ele diz: “…Eis aqui como o Brasil deixou de ser colônia e foi depois elevado à categoria de Reino Unido. Sem a Revolução Francesa, que tanto esclareceu os povos, esse passo tão cedo se não daria…”.

A classe social delineia-se em duas classes distintas e antagônicas, embora atuassem paralelas durante a Revolução Francesa: a classe dominante, agora representada pela burguesia capitalista industrial, e a classe dominada, representada pelo proletariado. O Romantismo foi uma escola burguesa de caráter ideológico, a favor da classe dominante. Daí porque o nacionalismo, o sentimentalismo, o subjetivismo e o irracionalismo – características marcantes do Romantismo inicial – não podem ser analisados isoladamente, sem se fazer menção à sua carga ideológica.

Novas influências – No Brasil, o momento histórico em que ocorre o Romantismo tem que ser visto a partir das últimas produções árcades, caracterizadas pela sátira política de Gonzaga e Silva Alvarenga. Com a chegada da Corte, o Rio de Janeiro passa por um processo de urbanização, tornando-se um campo propício à divulgação das novas influências européias. A colônia caminhava no rumo da independência.

Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza pátria. Na realidade, características já cultivadas na Europa, e que se encaixaram perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e econômicas.

De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado, como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abolição da escravatura. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.

No final do Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transformações econômicas, políticas e sociais levam a uma literatura mais próxima da realidade; a poesia reflete as grandes agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai, o ideal de República. É a decadência do regime monárquico e o aparecimento da poesia social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o Realismo.

O Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela nitidamente uma evolução no comportamento dos autores românticos. A comparação entre os primeiros e os últimos representantes dessa escola mostra traços peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si. No caso brasileiro, por exemplo, há uma distância considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves. Daí a necessidade de se dividir o Romantismo em fases ou gerações. No romantismo brasileiro podemos reconhecer três gerações: geração nacionalista ou indianista; geração do “mal do século” e a “geração condoreira”.

A primeira (nacionalista ou indianista) é marcada pela exaltação da natureza, volta ao passado histórico, medievalismo, criação do herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação “geração indianista”. O sentimentalismo e a religiosidade são outras características presentes. Entre os principais autores, destacam-se Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto.

Egocentrismo – A segunda (do “mal do século”, também chamada de geração byroniana, de Lord Byron) é impregnada de egocentrismo, negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante. Seu tema preferido é a fuga da realidade, que se manifesta na idealização da infância, nas virgens sonhadas e na exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.

A geração condoreira, caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como geração hugoana. O termo condoreirismo é conseqüência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade.

Duas outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a prosa e o teatro romântico. José de Nicola demonstrou quais as explicações para o aparecimento e desenvolvimento do romance no Brasil: “A importação ou simples tradução de romances europeus; a urbanização do Rio de Janeiro, transformado, então, em Corte, criando uma sociedade consumidora representada pela aristocracia rural, profissionais liberais, jovens estudantes, todos em busca de entretenimento; o espírito nacionalista em conseqüência da independência política a exigir uma “cor local” para os enredos; o jornalismo vivendo o seu primeiro grande impulso e a divulgação em massa de folhetins; o avanço do teatro nacional”.

Os romances respondiam às exigências daquele público leitor; giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens, apresentando personagens idealizados pela imaginação e ideologia românticas com os quais o leitor se identificava, vivendo uma realidade que lhe convinha. Algumas poucas obras, porém, fugiram desse esquema, como “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, e até “Inocência”, do Visconde de Taunay.

Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance brasileiro foi “O filho do pescador”, publicado em 1843, de autoria de Teixeira de Souza (1812-1881). Mas se tratava de um romance sentimentalóide, de trama confusa e que não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria na literatura brasileira.

Por esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor, justa-mente por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às suas expectativas, convencionou-se adotar o romance “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro.

Dentro das características básicas da prosa romântica, destacam-se, além de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar. Almeida, por sinal, com as “Memórias de um Sargento de Milícias” realizou uma obra total-mente inovadora para sua época, exatamente quando Macedo dominava o ambiente literário. As peripécias de um sargento descritas por ele podem ser consideradas como o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro, pois abandona a visão da burguesia urbana, para retratar o povo com toda a sua simplicidade.

“Casamento” – José de Alencar, por sua vez, aparece na literatura brasileira como o consolida dor do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais. Ele defendia o “casamento” entre o nativo e o europeu colonizador, numa troca de favores: uns ofereciam a natureza virgem, um solo esplêndido; outros a cultura. Da soma desses fatores resultaria um Brasil independente. “O guarani” é o melhor exemplo, ao se observar a relação do principal personagem da obra, o índio Peri, com a família de D. Antônio de Mariz.

Este jogo de interesses entre o índio e o europeu, proposto por Alencar, aparece também em “Iracema” (um anagrama da palavra América), na relação da índia com o português Martim. Moacir, filho de Iracema e Martim, é o primeiro brasileiro fruto desse casamento.

José de Alencar diversificou tanto sua obra que tornou possível uma classificação por modalidades: romances urbanos ou de costumes (retratando a sociedade carioca de sua época – o Rio do II Reinado); romances históricos (dois, na verdade, voltados para o período colonial brasileiro – “As minas de prata” e “A guerra dos mascastes”); romances regionais (“O sertanejo” e “O gaúcho” são as duas obras regionais de Alencar); romances rurais (como “Til” e “O tronco do ipê”; e romances indianistas, que trouxeram maior popularidade para o escritor, como “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”).
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Parte III – O Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte IV – O Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Amaury Nicolini (Poemas Avulsos)

O FIM DO VERSO

Eu sei que, no futuro, estas poesias
ficarão abandonadas numa estante,
retratos do passado, de outros dias
de quem a vida fez sofrer bastante.

Serão somente papéis amarelados,
histórias a que o tempo trouxe fim,
talvez por consideração guardados
de uma maneira displicente assim.

A ninguém vai importar o conteúdo,
saber quem um dia amou alguém
ou o desfecho que teve essa paixão.

Será nada o que um dia já foi tudo,
e os versos que pensavam ir além
só estarão vivos num velho coração.
================

ARQUIVO DO CORAÇÃO

O meu arquivo é bem organizado,
dividido por assuntos, por setores.
Por exemplo: esta pasta é do passado,
e esta outra aqui, dos meus amores.

Aqui eu guardo os sonhos de criança,
mais adiante as ilusões perdidas;
esta gaveta é cheia de esperança
e na de cima sobram despedidas.

Esta organização, que eu admiro
não impede, no entanto, que o arquivo
tenha um papel que a mim é negativo.

Não importa qual a pasta que retiro
porque em todas, ou seja, de A a Z,
tem sempre uma saudade de você.
====================

O REFÚGIO DO SONHO

Quando o sono vencer a ansiedade,
adormece também os teus segredos
e verás como se sonha de verdade
ao fechares os olhos aos teus medos.

Quando o sono chegar devagarinho,
deixa que voe a mente assim liberta,
e pensamentos vaguem no caminho
sem a angústia que te prende alerta.

Quando o sono, enfim, for benfazejo
e servir como intervalo para as dores
que te ferem e te tornam amargurado,

da vontade de sonhar faz teu desejo
porque sonhando lembrarás amores
que foram os teus sonhos no passado.
====================

O NASCER DO LIVRO

Quando o livro vai tomando forma,
a qualquer hora, e do próprio punho,
o escritor debruça-se e transforma
muitas de suas idéias no rascunho.

Às vezes são até os personagens
que mudam, se revezam em vai e vem,
buscando o equilíbrio das imagens
que ao correr da história lhes convem.

É uma verdadeira arquitetura,
que torne interessante a leitura
e momentos de lazer proporcione.

E para isso o escritor não pára;
lapida a pedra até torná-la rara
porque é um filho que lhe leva o nome.
================

SEM PALAVRAS

Há muito tempo eu não lhe encontrava,
apesar de ainda manter minha rotina
indo aos lugares que a gente frequentava
sempre esperando a entrada repentina

daquela que marcou tanto a minha vida
qual tatuagem indelével no meu peito,
tatuagem que eu queria removida
mas que, pelo que parece, não tem jeito.

Só que agora você entrou aqui na sala
e à sua simples visão minha alma cala
me reduzindo a um nada, um moribundo.

E eu chego então à triste conclusão
de que todas as fugas foram em vão:
eu só vou lhe esquecer no fim do mundo.

Fonte:
Recanto de Letras.

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Arquivado em Poemas

Amaury Nicolini

Amaury Nicolini, carioca, 69 anos. Desde sua juventude, como aluno do Colégio Militar, destacava-se no aprendizado e utilização do idioma, sendo eleito presidente da Sociedade Literária por 3 gestões e publicando seus primeiros trabalhos poéticos na revista do Colégio Militar e em jornais da época.

Concluindo o curso e não desejando seguir a carreira militar, iniciou-se no que seria a sua verdadeira vocação, como redator publicitário e criador de comerciais para tv. Os anos seguintes foram uma escalada de trabalhos escolhidos pela crítica especializada e pelo público como os melhores de cada período.

Sem abandonar a redação, passou a ser Diretor de Criação em algumas das principais agências de propaganda do eixo Rio – São Paulo – Belo Horizonte. Especializou-se em varejo, e criou a propaganda de redes nacionais como Mesbla, Bemoreira, Ducal, Casa Masson, Brastel e outras.
Sua especialização em varejo levou a uma variante profissional.

Foi contratado como Gerente de Desenvolvimento Técnico da Confederação Nacional dos Lojistas, passando a coordenar simpósios, seminários e convenções em todos os estados brasileiros, além de editar a revista Diretor Lojista, voltada para o empresário do comércio. Foi alguns anos depois contratado como Diretor Executivo do Clube de Diretores Lojistas de Fortaleza, permanecendo aquela capital nordestina por 3 anos.

De volta ao Rio, e após temporada como Coordenador de Marketing da TV Manchete, criou sua própria empresa de propaganda, que durante 10 anos foi extremamente atuante na praça do Rio de Janeiro.

Após retirar-se do mercado, passou a prestar serviços eventuais de planejamento e redação, aproveitando o tempo livre para desenvolver sua produção literária, que hoje já alcança um total de 29 livros publicados, abrangendo poesia, prosa e temas técnicos.

Conquistou vários prêmios em concursos literários, participou de diversas antologias e escreve artigos para revistas especializadas em comércio, como O Empresário Lojista.

Ocupa uma cadeira na Academia Virtual Brasileira de Letras e tem posse prevista em agosto/2010 como membro vitalício da Academia de Letras do Brasil.

Por sua contribuição à cultura, foi distinguido com a Cruz de Cavaleiro da Ordem do Mérito do Instituto dos Docentes do Magistério Militar.

Entre seus livros, incluem-se: Salada de Poesia / Um Verso Viajante / Poesia Mínima / Quinquilharias / Velhos Carnavais / Passagem Secreta / Céus e Terras / Dicotomia / Vale o Escrito / Pela Janela / Os Astros Não Mentem / Tempus Fugit / Há Muito Tempo… e outros.

Fonte:
Recanto das Letras

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Arquivado em Biografia

Trova 156 – Apollo Taborda França (Curitiba/PR)

Fonte:
Montagem realizada sobre imagem do site Saci Perere.

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Arquivado em Curitiba, Paraná, Trovas

Lucilene Machado (Coreografia Invisível)

Não sei o que pensam os pássaros quando, nas tardes de sábado, dormem sobre os fios de alta tensão. Os pássaros têm sábados frustrados. Todas as coisas que podiam ter sido, não foram. Também não sei o que pensam os homens enquanto dormem os pássaros pelos sábados adentro. Sei que os homens têm insônia e fecham janelas. Instituem a escuridão, apagam as palavras e desintegram-se em longos silêncios. As coisas que podiam ter sido? Não têm importância. Em qualquer tempo há fios de alta tensão e pernas de mulheres com sangue fervendo. Tantas que chegam a ser ignoradas. Despojos do amor? A desproporção criou homens-deuses vulgares e divinizados. Criou profissionais especialistas em argumentação. Braços em torno do pescoço, bocas de estátuas coladas e música para preencher os vazios. Mas o objeto deste texto é o amor. O sujeito também. Amor em construção. Quatro paredes lentas e penosas do lado de cá do horizonte onde pretendo improvisar ninhos e desprender pássaros do sonho.

Mas o tempo urge, razão pela qual me deito, mesmo, à terra. Todas as coisas se revelam e se negam continuamente. Finjo não perceber. Repouso minha cabeça sobre o seio da ignorância. A metafísica rodeia os meus limites. Há coisas se encontrando também fora de nós. A ficção quer escrever minha história. Que imagem faria? Oh! vida, esse tempo desperdiçado dentro do olhar. Minha única tristeza não é triste. Incongruência? Limpe os olhos que este texto tem a loucura da forma. Plasticidade e linguagem. Os literatos, os eruditos e eu, e nada de concreto. Que sabemos sobre os pássaros frustrados sobre o fio de alta tensão? Somos carentes de amor, sexo e sonhos. Somos carentes de sabedoria. Um dia Deus apareceu homem entre os homens e o crucificaram. Daí meu medo de existir. Daí esse silêncio áspero de Sábado. Meus conflitos me apequena. Gritos surdos por dentro. Somente as palavras são capazes de secar as lágrimas. Palavras e dedos. Dedos escalavrados pelo tempo percorrendo traços e linhas do meu rosto. Doce ternura para quem partiu todos os espelhos e já não mais se reconhece. Eu que tenho em mim o movimento dos outros, o conhecimento dos outros, o idioma dos outros, a reação dos outros… eu sulcada pelos outros e estrangulada pelas minhas próprias mãos. Só o amor me salva. Só o amor produz essa lentidão sagrada de observar pássaros cheio de vôos. O amor sabe de cor os vôos e os movimentos. Conhece o lugar, o istmo onde os homens choram. Os homens são belos, sobretudo, quando choram. Homem-mar numa ilha de chuva. Uma imagem onde me completo. Não totalmente. Uma mulher satisfeita traz em si um ponto final. Eu tenho vocação para reticências e excessos. Amanheço e todas as bocas se abrem. Famigerada fome de idealismo. Não nos basta a vida?

O pássaro olha com todos os olhos mas nada avista. Tem os sentidos esquecidos. Esqueceu-se de quem era, de como era… só sabe cantar, cantar. Se respirasse uma idéia, tornar-se-ia gente com todo niilismo inerente. Gente que nega qualquer coisa a qualquer hora. Que nega a palavra, a raça, as idéias.. gente que nega a cruz, a história, a colonização… gente que ignora as tardes de sábado quando discretamente um pássaro voa estabelecendo ligações entre as coisas visíveis.

Fontes:
Academia Sul-Mato-Grossense de Letras

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Arquivado em A Escritora com a Palavra

Antonio Augusto de Assis (Tábua de Trovas)

1.
Sorria, amigo, sorria!
Pois, neste tempo de tédio,
qualquer sinal de alegria
é sempre um santo remédio!
2.
Sorriso não paga imposto;
esbanja, portanto, o teu.
Sorrindo com graça e gosto,
acendes também o meu!
3.
Irmanemos nossas vidas
em comunhão generosa,
tal como vivem unidas
as pétalas de uma rosa!
4.
Sonho um mundo redimido,
que, movido a coração,
lance flechas de Cupido,
não petardos de canhão!
5.
Eu tenho fé nas pessoas,
em todas, sem exceção,
que todas elas são boas,
quando lhes damos a mão!
06.
De quantas bênçãos se tecem
as vidas fortes, sofridas,
que de si mesmas se esquecem
para cuidar de outras vidas!
07.
Criado por Deus, o rio
nasce limpo e, como nós,
traz consigo o desafio
de limpo chegar à foz.
08.
Jardineiro, que me encantas,
que bonito é o teu labor!
Tens o dom de com mãos santas
do esterco extrair a flor!
09.
Bem-te-vi que bem me vês,
bem-visto sejas também,
hoje e sempre e toda vez
que bem me vires… Amém!
10.
Eu sei por que o passarinho
canta gostoso e se inflama:
é que ele tem no seu ninho
uma família que o ama!
11.
Valente, o verde resiste
à foice, ao fogo, ao trator.
– É a vida que, dedo em riste,
enfrenta o seu matador!
12.
Quem ama não mata a mata;
quem ama planta, recria.
Quem ama protege e acata
o verde, a vida, a alegria!
13.
Dói muito ver um canário
cantando humilhado e triste
em troca do vil salário
de um punhadinho de alpiste!
14.
Treme o mundo e se consome
ao som de um terrível brado:
– o grito que sai com fome
da boca do injustiçado!
15
Jogado no mundo, ao léu,
rezava o orfãozinho assim:
– Cuida bem, Papai do Céu,
dos que não cuidam de mim!
16.
Matam crianças na rua,
hoje ainda, que que é isto?
– É que Herodes continua
caçando o Menino-Cristo!
17.
“Bem-vinda à vida, criança!”,
diz o parteiro sorrindo.
E a frase é um hino à esperança,
no seu momento mais lindo!
18.
É mais que um beijo, é uma prece,
aquele beijo miudinho
com que a mãe afaga e aquece
os seus filhotes no ninho!
19.
Ouvi um menino uma vez
mandar aos pais um recado:
– Eu sou o amor de vocês
que se fez carne… Obrigado!
20.
Cuide bem do seu bebê;
forme-o forte, sábio e puro.
Ele é a porção de você
que vai viver no futuro!
21.
Brincam na praça os pequenos:
castelos, canções, corrida…
São seus primeiros acenos
aos grandes sonhos da vida!
22.
Nas costas, leva a criança
seus livros numa sacola;
nos olhos, leva a esperança
como colega de escola!
23.
O agricultor que semeia
o arroz, o milho, o feijão
trabalha com Deus à meia
na Obra da Criação.
24.
O sol engravida a chuva,
e a terra se faz seu ninho;
no ninho se faz a uva,
e a uva desfaz-se em vinho!
25.
O fruto é um santo produto
do mais generoso amor.
Por isso é que antes de fruto
quis Deus que ele fosse flor.
26.
Numa harmonia perfeita,
completam-se o fruto e a flor:
ele alimenta, ela enfeita;
ele dá força, ela o amor!
27.
Deus fez a Terra… e, ao fazê-la,
deu-lhe o toque comovente:
fez o céu para envolvê-la
num pacote de presente!
28.
Belo sonho o que aproxima
estrelas e pirilampos…
– Elas são eles lá em cima;
eles são elas nos campos!
29.
Mesmo soltas e espalhadas,
as pétalas são formosas;
porém somente abraçadas
é que elas se tornam rosas!
30.
Ó Deus, que nos deste a flor,
e as crianças e as estrelas,
dá-nos agora, Senhor,
a graça de merecê-las!
31.
De dia caleja a palma
o irmão que cultiva o chão.
De noite alivia a alma
nas cordas de um violão!
32.
A vida jamais se encerra…
e é bom sermos imortais.
– Amar você só na Terra
seria pouco demais!
33.
– Quantas águas, canoeiro,
o senhor já canoou?…
– Talvez menos, seresteiro,
que as que o senhor já chorou!
34.
As almas, se generosas,
percorrem árduos caminhos…
Só no céu elas e as rosas
ficam livres dos espinhos!
35.
É quando a ofensa mais dói
que o perdão tem mais encanto:
– nele há a nobreza do herói
e a fortaleza do santo!
36.
Feliz o idoso que, esperto,
se ampara nesta verdade:
quanto mais velho, mais perto
das bênçãos da eternidade!
37.
Trate o velho com respeito;
dê-lhe o amor que possa dar.
Mas não lhe roube o direito
de a si mesmo governar!
38.
Todo idoso é um professor;
curvo-me e beijo-lhe a mão.
No mínimo, ensina amor,
hoje máxima lição!
39.
Certeza só têm os rios
sobre aonde vão chegar…
Por mais que sofram desvios,
seu destino é sempre o mar!
40.
Ismo, ismo, ismo, ismo…
e o medo está sempre em alta…
– Experimentem lirismo,
que talvez seja o que falta!
41.
O lírio, a lira, o lirismo;
o amor, a festa, a canção…
Que pena que o consumismo
transforma tudo em cifrão!
42.
Anoitece… Bela e nua,
a rosa põe-se a orvalhar-se…
– Um raiozinho de lua
virá com ela deitar-se!
43.
Astronauta, não destrua
meu direito de sonhar…
Deite e role sobre a Lua,
porém me deixe o luar!
44.
Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem!
45.
De barro se faz o homem,
e de luz principalmente.
O barro, os anos consomem;
a luz eterniza a gente!
46.
Na porta da eternidade,
documento não tem vez.
– O cartão de identidade
é o bem que em vida se fez!
47.
O livro mudou o enredo
da história da humanidade:
– Antes dele, a treva e o medo;
depois dele a liberdade.
48.
Na biblioteca há mil sábios
a nosso inteiro dispor.
– Sem sequer abrir os lábios,
cada livro é um professor!
49.
Vai, riozinho, sem pressa…
lembra ao mar, sem raiva ou mágoa,
que ele é grande, mas começa
num modesto olhinho d’água!
50.
Acaso fizeste a Lua?
Acaso fizeste a rosa?
Então que ciência é a tua,
tão solene e presunçosa…
51.
Milhões e milhões de estrelas…
Que utilidade terão?
– Só sei, meu irmão, que ao vê-las
sinto Deus no coração!
52.
Olhem a rosa os que ainda
costumam dizer-se ateus.
– Ela é a resposta mais linda
quanto à existência de Deus!
53.
Quem tem amigos leais
tem muito o que agradecer:
bons amigos valem mais
que o mais que se possa ter.
54.
Coragem de gente grande
é aquela em que se distingue
alguém assim como Gandhi,
São Francisco, Luther King!
55.
Ave-Maria, uma prece
tão gostosa de rezar,
que às vezes mais me parece
cantiguinha de ninar!
56.
Ouço ainda, ao longe, o canto
de um velho carro de boi…
– Lembrança de um tempo e tanto,
que há tanto tempo se foi!
57.
Vestem-se as águas de prata,
saltam no espaço vazio.
Findo o show da catarata,
sereno refaz-se o rio…
58.
Olha lá o ipê florindo,
ele sozinho, na praça…
Florindo, lindo, se rindo
para a cidade que passa!
59.
Leves, ao longe, ora em bando,
ora dispersas, esparsas,
parecem anjos brincando
de lenços brancos – as garças!
60.
Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela…
61.
Ah, meu rio, de repente,
o que foi feito de nós?
Ficou tão longe a nascente…
vemos tão próxima a foz!
62.
Como é bom saber que o filho
vida afora alegre vai,
dando forma, força e brilho
aos sonhos do velho pai!
63.
A bênção, queridos pais,
que às vezes sois mães também.
Em nome de Deus cuidais
dos filhos que d’Ele vêm!
64.
Quanto mais rápido passa
o tempo a mim concedido,
mais grato eu sou pela graça
de cada instante vivido!
65.
Vem, vem, onda bela, vem
nossas lágrimas lavar…
Leva-as todas, lava-as bem,
faz delas um novo mar!
66.
Em resposta à ofensa e à intriga,
ensina o amor: “Faça o bem!”
– O amor é sábio: não briga,
perdoa cem vezes cem!
67.
Num lugar pequenininho,
fez o amor uma capela.
Veio a fé e fez um ninho
de esperanças dentro dela!
68.
Se aos heróis e aos grandes sábios
devemos tão bela herança,
muito mais a quem nos lábios
traz o canto da esperança!
69.
O grande tenor se cala
ante o pássaro silvestre.
– É o discípulo de gala
querendo escutar o mestre!
70.
Quantas bênçãos traz a chuva
quando rega a plantação:
benze o trigo, benze a uva,
benze a vida em cada grão!
71.
Importa pouco a mobília,
importa pouco a fachada…
O amor que envolve a família
é só o que importa, e mais nada!
72.
Não “Pai meu”; “Pai nosso” eu digo,
e ao próximo estendo a mão.
Lembro assim que, mais que amigo,
o próximo é amigo e irmão!
73.
Morre o sábio… enorme bem
perde o mundo em tal momento.
O que ele tinha, herda alguém;
não no entanto o seu talento!
74.
Palavras produzem fartas
e tão belas construções:
com elas fez Paulo as Cartas,
fez os seus versos Camões!
75.
A palavra acalma e instiga;
a palavra adoça e inflama.
– Com ela é que a gente briga;
com ela é que a gente ama!
76.
Há de chegar o momento
da correção dos papéis:
mais valor terá o talento
do que as pedras dos anéis!
77.
Trabalhas tanto, formiga,
enquanto, ó cigarra, cantas.
No entanto, basta de intriga:
– são duas tarefas santas!
78.
Se alguém se torna importante,
por certo alguém o ajudou.
Mesmo o Amazonas, gigante,
de afluentes precisou!
79.
Ninguém se julgue o primeiro
a fazer seja o que for.
Bem antes do jardineiro,
já havia no mundo a flor!
80.
Hoje é simples ir à Lua,
fica ali… basta um voozinho…
Proeza é cruzar a rua
para abraçar o vizinho!
81.
Cidadania é civismo,
sobretudo é comunhão;
é ajuda mútua, é altruísmo,
partilha justa do pão.
82.
Grande mesmo é quem descobre
que ser grande é ser alguém
que abre espaço para o pobre
tornar-se grande também.
83.
Que alegre alívio provoca,
na alma e no coração,
o abraço que a gente troca
numa troca de perdão!
84.
Um vaga-lume, isolado,
é só uma pobre luzinha;
no entanto, aos outros somado,
clareia a roça inteirinha!
85.
Deus não vem na grande nave;
Deus não vem no furacão.
Deus vem qual brisa suave,
e entra em nosso coração!
86.
Terno, amigo e generoso,
quis Deus se configurar
no abraço do pai saudoso
no filho que volta ao lar!
87.
Deus não põe ponto final
na biografia da gente.
– Quer nossa alma, imortal,
junto à d’Ele, eternamente!
88.
A vida no mundo é um treino,
a etapa em que o Treinador
nos prepara para o reino
definitivo do amor!
90.
Quando criança eu queria
ser piloto de avião…
Fiz-me poeta, e hoje em dia
meus vôos bem mais alto vão!
90.
Olhe os poetas e as aves…
Veja que, embora não plantem,
Deus lhes retira os entraves
e apenas pede-lhes: – Cantem!
91.
Tão bela, tão generosa,
símbolo eterno da paz,
pede desculpas a rosa
pelos espinhos que traz!
92.
Se lhe derem mais apoio;
se ele vir que o bem faz bem,
tenha certeza: há de o joio
tornar-se trigo também!
93.
Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
– Mãe é assim, dengosa e pura…
a nossa e a do passarinho.
94.
Hoje eu sei qual a razão
de a planta gerar a flor:
É a sua retribuição
a quantos lhe dão amor!
95.
O verbo se faz beleza:
faz-se estrela e chuva e flor;
faz chamar-se Natureza,
e nela se faz expor!
96.
Quem preza a vida divide-a,
como o cedro acolhedor
que adota por filha a orquídea,
e dá-lhe suporte e amor!
97.
Benditas sejam as vidas
que, alegres, serenas, santas,
vivem a vida envolvidas
em levar vida a outras tantas!
98.
Todos vós que estais cansados,
vinde a mim – diz o Senhor.
Vinde e vede, irmãos amados,
como é grande o meu amor!
99.
Vem vindo um tempo sem bombas,
sem tanques e sem canhões.
Falcões darão vez às pombas,
e os fuzis aos violões!
100.
Dirá Deus: “Faça-se a paz,
e todos dêem-se as mãos!”
E então, meu filho, verás
que lindo é um mundo de irmãos!

Fonte:
ASSIS, Antonio Augusto de. Tábua de trovas. Maringá – 2004.

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Arquivado em Maringá, Trovas

Maria Adélia (O Conto e Suas Implicaturas)

Histórico

No que se refere às origens, o conto remonta aos tempos antigos, representado pelas narrativas orais dos povos, passando pelos gregos e romanos, lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais, pelas fábulas francesas de Esopo e La Fontaine.

A origem do conto está na transmissão oral dos fatos, no ato de contar histórias, que antecede a escrita e nos remete aos citados tempos remotos.

No Ocidente, século XIV, Canterbury Tales (As mil e uma noites), e Giovanni Bocaccio (O Decamerão), são considerados precursores deste gênero.

O ato de narrar um acontecimento oralmente evoluiu para o registro escrito desta narrativa. E o narrador também evoluiu de um simples contador de histórias para a figura de um narrador estudioso e preocupado com os aspectos-normas da língua escrita, criativos e estéticos.

O conto é um texto narrativo centrado em um relato referente a um fato ou determinado acontecimento. Sendo que este pode ser real ou fictício, ou seja, resultante da imaginação do autor.

É nos conjuntos das Revoluções Burguesas- meados da Idade Moderna [século XVIII] que o conto se consolida como literatura, nos primórdios da revolução industrial ou capitalismo industrial [iniciado na Inglaterra],quando se deu a substituição da ferramenta pelas máquinas , resultando também na criação e expansão das gráficas e tipografias.

O conto foi identificado pela primeira vez nos EUA, por volta de 1880, e denominado como Short Story.

As formas atuais do conto foram diretamente influenciadas pelos contistas clássicos, Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant e Anton Tchekóv.

Araripe Junior assim caracterizara o conto:

“O conto é sintético e monocrômico, diverso do romance que é analítico e sincrônico; desenvolve-se em tempo pretérito, como feito consumado, onde os fatos filiam-se e percorrem uma direção linear, em forma de narrativa. É uma espécie de começos de romances abortados”

Araripe destaca com rara precisão as feições primordiais do conto:- exigência de um só ambiente, sequência linear e temporalidade.

Pautando-nos nas assertivas de Araripe sobre a tríplice fundamentação do conto procede demonstrar tal argumento em um dos contos mais perfeitos de Machado de Assis:

–Um homem célere [em Várias Histórias], focando a figura de Pestana- o polquista.

A temática básica desse conto é a oposição entre vocação e ambição. Sua personagem principal, Pestana, é um famoso compositor de polcas, um estilo bastante popular de música, conhecido e louvado por todos que o cercam, mas ele vive um dilema pessoal:- odeia suas composições e toda a popularidade que elas lhe proporcionam. Seu grande sonho é produzir música erudita no nível dos grandes mestres, como Chopin, Mozart, Haydn, é “compor uma peça erudita de alta qualidade, uma sonata, uma missa, como as que admira em Beethoven ou Mozart”. A busca pela perfeição estética marca a trajetória de Pestana, que vê todas as alternativas lhe serem negadas no decorrer da vida, “aspira ao ato completo, à obra total”. No entanto, eram as polcas, sempre as polcas, que lhe vinham à cabeça durante os momentos de composição. Machado narra de forma impecável a ânsia da personagem, sua alma impotente, seu ímpeto de alçar vôos mais altos, ao desejar ser um gênio da música, mas seus sonhos não sobem, porque ele possui apenas cotos.

Ao se estudar Um Homem Célebre, a focalização, o tempo e o espaço, três importantes componentes do discurso narrativo, muito mais do que identificar os elementos desses processos, pode-se levantar sua importância na narrativa, ou seja, o efeito que as escolhas feitas pelo narrador, sobre esse três aspectos, surtiu no leitor.

Nos contos Machadianos, a brevidade, dá, por tradição, forte atenção aos elementos narrativos. Não há espaço, pois, para digressões, tudo é rápido e econômico. No entanto, no grande autor em questão o mais importante é o psicológico, o que permite caminho para características marcantes do escritor, como intertextualidade, metalinguagem e até a digressão, entre tantas, tornando a leitura muito mais saborosa.

Segundo José Oiticica:- “os caracteres do conto, foram de certa forma firmados, porém discriminados por Araripe”, convém, portanto à bem da clareza, completá-los, visto que o conto, não é uma escritura menor se comparado ao romance ou a novela.

Assim vejamos:
1. Conceito
1.1. Narração falada ou escrita de um acontecimento.
1.2. Narração de uma história ou historieta imaginadas.
1.3. Fábula

Etimologicamente, sobre a origem do termo podemos citar:

– conto vem de contar, do latim computare – inicialmente a enumeração de objetos, passou a significar metaforicamente, enumeração de acontecimentos;

-conto deriva de contu (Latim), ou do grego kóntos (extremidade da lança);

-conto tem sua origem no termo commentum (Latim), significando “invenção”, “ficção”.

A ambiguidade presente nas diferentes hipóteses etimológicas indica alguns dos aspectos que mencionamos como a própria abrangência do conto, sua antiguidade, sua ficcionalidade e transformações históricas.

O escritor e contista Júlio Cortázar afirma que o conto é “um gênero de difícil definição, nos seus múltiplos e antagônicos aspectos”.

Segundo Nádia Battella Gotlib in “Teoria do conto”, obra pautada na impressão de vários autores, podemos afirmar que:

– o segredo do conto é promover a captura do leitor, prendendo-o num efeito que lhe permite a visão em conjunto da obra, desde que todos os elementos do conto são incorporados no texto.

Nesta apreensão ocorre entre o conto e o leitor uma força de tensão, com os elementos do conto, em que cada detalhe é significativo.

No conto o conflito dramático é teatralizado pelo narrador, em cada gesto, em cada ambiência, dentro de uma construção simétrica de um episódio, num espaço determinado.

A narrativa contempla um acidente de vida, cercado sistematicamente de um antes e de um depois, como enuncia Oiticica. O que se dá de tal forma que a ação descrita somente adaptável a este gênero e não a outro, por seu caráter de contração.

2. Brevidade

Considerando que o conto é o gênero de menor tamanho, a questão da brevidade é fundamental na sua construção.

Nas palavras de Anton Tcheckov “é preferível não dizer o suficiente a dizer demais”.

Portanto, é importante limitar o número de personagens e episódios, eleger os detalhes primordiais e evitar explicações em demasia.

Economicidade nos meios narrativos: – uma fórmula para a brevidade é a máxima onde o menos é mais. Tudo que não for essencial para alcançar o efeito desejado – toda informação que não convergir para o desfecho, deve ser suprimida.

3. Intensidade

Este, outro, aspecto fundamental do conto.

Existem duas metáforas criadas por Júlio Cortázar, que definem bem o elemento intensidade:

“O conto está para a fotografia como o romance está para o cinema.”

“No conto o autor vence o leitor por nocaute, enquanto no romance a luta é vencida por pontos.”

4. Efeito

Uma narrativa só é suficientemente intensa a ponto de causar impacto no leitor se tiver unidade de efeito. Para alcançar esta unidade é preciso que o autor tenha em mente durante a construção do conto o efeito deseja causar no leitor.

5. Significante x Significado

Como na fotografia o conto necessita selecionar o significativo. Uma narrativa só se torna significativa quando transcende a história que conta abrindo-se para algo maior.

6. Tensão

A tensão é uma forma diferente de imprimir densidade à narrativa. Em vez de os fatos se desenrolarem de forma abrupta, o autor vai desvendando aos poucos o que conta, usa a técnica do suspense, adia a resolução da ação e instiga a curiosidade do leitor.

7. Temática

Pode se dizer que a temática do conto é praticamente ilimitada. Quase tudo pode ser objeto para um conto. Mas em princípio a idéia de conto está ligada aos acontecimentos. É preciso que algo aconteça, mesmo que o acontecimento seja o nada acontecer.

8. Ápice

É importante que exista algo especial na representação do recorte da vida que gera o conto, o flagrante de um determinado instante que de alguma forma interesse ao leitor. Seja pela novidade, pela surpresa, pelo inusitado, pelo cômico ou pelo trágico de uma situação.

9. Combinação

Aliar os recursos tradicionais com aqueles que vão surgindo é uma boa forma de combinar tradição e modernidade. A narrativa ganha qualidade quando mistura os acontecimentos à investigação psicológica das personagens que os vivenciam ou presenciam.

10. Desfecho

Todo o enredo deve ser elaborado para o desfecho, cada palavra deve confluir para o desenlace. Só com o desfecho sempre à vista é possível conferir a um enredo o ar de conseqüência e causalidade.

“Sem “conflito não há teatro” é uma idéia bastante difundida em dramaturgia”.

A semelhança entre a estrutura do conto e do teatro é exatamente esta, o conflito dramático, fundamental em ambas as formas. Assim como o conflito é a alma de um texto teatral, a crise é primordial na construção do conto.

Conclusão:

Concluímos, considerando que o estudo do conto é um debate sem fim, que a grande explosão criativa do conto moderno em inúmeras vertentes e autores não dilui a significância das unidades constantes. Os clássicos são clássicos porque, relidos, sempre nos oferecem bases de sustentação para o ato da escrita, e para o enriquecimento de idéias. Toda arte se alimenta da história, porém, para que o novo surja é necessário saber criar e recontar o que já foi contado, usando a alquimia infinita das ferramentas da linguagem.

Resumindo este estudo, elencamos aqui uma síntese dos elementos do conto, no que tange a sua estrutura básica.

Analiticamente, podemos considerar como implicaturas fundamentais do conto:

1. Enredo:

Circunscrito, rejeita digressões e extrapolações, exige objetividade na descrição dos fatos, ou de um enigma, onde as palavras sejam usadas de modo a suprir o estritamente necessário para se dizer dos fatos, não mais nem menos.

2. Espaço:

Restrito, palco estreito em que ocorre a ação dramática [sem nenhum ou grandes deslocamentos, prejudiciais à intensidade dramática].

3. Tempo

Curto, breve e limitado, apresentados sinteticamente, o suficiente para ‘posicionar’ o drama ou conflito

4. Tom

Harmonia estrutural entre as partes da narrativa, por sua unidade de objetivo rumo à unidade de impressão.

5. Personagem

Número reduzido de personagens, de caráter simples e pouco evolutivas.

6. Linguagem

Direta, admitidas metáforas de curto espectro, a linguagem, no conto, deve ser despida de abstração, de prolixidade, garantindo assim a concisão.

7. Diálogo

O dialogo é base expressiva do conto, fala direta das personagens, representada, na escrita.

8. Narração

A narração relata acontecimentos ou fatos, a ação, o movimento e o transcorrer do tempo.

9. Descrição

Caracteriza, tipifica um objeto ou personagem, no tempo e no espaço, ligeiramente.

10. Dissertação

Como exposição de idéias e pensamentos no conto a dissertação, deve ser minimizada.

11. Focos Narrativos

O escritor–narrador “vê” e “sabe” tudo; mas deve manter distância ao extremo, visto que no conto ele é apenas um figurante ou observador, não faz parte do núcleo dramático, é um espectador da trama.

Para escrever um conto, o autor além de um leitor assíduo, um estudioso das normas e cânones lingüísticos, deve ser um observador atento dos fatos e ocorrências do cotidiano, pois o conto tem seu nascedouro nas ocorrências do viver, oriundas dos fatos reais, ou imaginários, que o olhar sobre a vida propicia.
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Maria Adélia é mineira de Juiz de Fora, orientadora educacional, concluíu diversos cursos de extensão em Teoria Literária , livre pensadora, articulista de jornais estudantis, e ensaista da Teologia da Libertação em vários grupos da Renovação Carismática.

Fonte:
http://literaciacentrodeestudos.blogspot.com/

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Fátima Reis (O Pescador de Estrelas)

Era assim todos os dias.

Bartolomeu acordava de manhã bem cedinho e dava de comer às rolinhas.

Gostava de vê-las bem gordinhas, os papinhos cheios de miolo de pão, de farelo de milho,de restinho de biscoito de polvilho feito pela avó.

No meio do dia, Bartolomeu se rendia as leituras da sua vida:

Á escola, à amizade dos amigos, às risadas das travessuras, às suavidades da natureza, às alegrias escondidas nas brincadeiras de meninos, que só são felizes quanto mais sujos e empoeirados estão.

Estes eram outros mundos no meio da jornada.

No final da tarde, o olho comprido se estendia até alcançar os passos cansados do pai, que chegava com os bolsos carregados de gomos de cana.

Bem maduros e tão doces quanto o mel…

Bartolomeu media as horas pelo azul do céu.

Espiava pelo corredor, e quando sua mãe trazia as travessas com a comida miúda daquele dia sabia que a noite se aproximava.

E enquanto todos se preparavam para dormir, Bartolomeu ao contrário, arregalava os olhos, andava inquieto, contando os minutos para ouvir os primeiros roncos do pai.

Era assim todas as noites.

Enquanto todos descansavam das labutas do dia, e sonhavam dias tranquilos e fartos, Bartolomeu saía de fininho, fechando a porta com cuidado para não perturbar os sonhos e nem despertar os pesadelos.

Ele então tomava fôlego e corria para o rio.

O mesmo rio que ele nadava durante o dia.

O mesmo rio que ele pescava peixes.

Este era um outro segredo ensegredado.

Nas noites de lua de porcelana, Bartolomeu içava o barco, e lá no meio do rio quando tudo serenava, ele pegava o seu caderninho e escrevia pensamentos, inventava histórias, fantasiava mundos…

Nas noites de céu muito estrelado, quando a lua refletia nas águas igual espelho, Bartolomeu içava a vara e dava de pescar estrelas.

Estes eram outros dias.

Mas mesmo depois de crescido, Bartolomeu não tomou jeito.

Anda por aí inventando mundos, criando histórias, fantasiando pensamentos.

Eu mesma ouvi dizer que numa noites dessas, de noite clara de porcelana, Bartolomeu foi visto feliz e cheio de sossego com uma cesta carregadinha de estrelas saltitantes.

Fonte:
http://literaciavozesdaescola.blogspot.com/

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Fátima Reis

Fátima Reis é pedagoga, poeta, escritora, contadora de histórias e trabalha com Educação Etnoambiental na Secretaria de Educação de Japeri-RJ .

Em 2000, inicia sua carreira com o lançamento do texto Mariazinha Zinha zinha na Antologia Grandes Escritores do Rio de Janeiro. Publica em 2004, o Livro de poesias “Na Rota” e em 2005 “Outras Poesias”.

Ainda em 2005, conquista o 2º lugar no I Concurso Mercosul de Contos para Crianças na Argentina em abril de 2005 com o livro “O menino que queria chorar estrelas.

Em 2008, publica seu primeiro livro infatil online ” http://ameninaqueoerdeuojuizo.blogspot.com/ .

Em 2009 publica a historia infantil “ O Amor de Pigmaleão” na antologia internacional Curumim 4 que contou com a participação de autores do Brasil, Cuba, Argentina e Uruguay.Em 2010 lança o infantil “A História de Chico Mendes par Crianças” pela Prumo Editora.

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Literatura Brasileira (Parte 4 = O Arcadismo)

O Arcadismo no Brasil começa no ano de 1768, com dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de “Obras”, de Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista, por sinal, desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que, com suas medidas político-administrativas, permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.

No início do século XVIII dá-se a decadência do pensamento barroco, para a qual vários fatores colaboraram, entre eles o cansaço do público com o exagero da ex-pressão barroca e da chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença e atinge em meados do século um estágio estacionário (e até decadente), perdendo terreno para o subjetivismo burguês; o problema da ascensão burguesa superou o problema religioso; surgem as primeiras arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas; os burgueses, como forma de combate ao poder monárquico, começam a cultuar o “bom selvagem”, em oposição ao homem corrompido pela sociedade.

Gosto burguês – Assim, a burguesia atinge uma posição de domínio no campo econômico e passa a lutar pelo poder político, então em mãos da monarquia. Isso se reflete claramente no campo social e das artes: a antiga arte cerimonial das cortes cede lugar ao poder do gosto burguês.

Pode-se dizer que a falta de substitutos para o Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos, mortos nos últimos cinco anos do século XVII, foi também um aspecto motivador do surgimento do Arcadismo no Brasil. De qualquer forma, suas características no país seguem a linha européia: a volta aos padrões clássicos da Antigüidade e do Renascimento; a simplicidade; a poesia bucólica, pastoril; o fingimento poético e o uso de pseudônimos. Quanto ao aspecto formal, a escola é marcada pelo soneto, os versos decassílabos, a rima optativa e a tradição da poesia épica. O Arcadismo tem como principais nomes: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, José de Santa Rita Durão e Basílio da Gama.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Trova 155 – Lupicinio Rodrigues (Porto Alegre/RS)

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24 de junho de 2010 · 23:45

Constelação de Trovas

A mais triste solidão
que um ser humano já tem:
vasculhar seu coração
e não encontrar ninguém!
ADEMAR MACEDO – Natal/RN

Dar um livro de presente
sempre é gesto bem feliz:
quem o dá fica contente,
quem recebe pede bis.
AFONSO JOSÉ DOS SANTOS – Moji Guaçu/SP

Duas rimas simplesmente,
sete sílabas certinhas,
uma idéia, e a nossa mente
vai brincando em quatro linhas!
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO – São Paulo/SP

Sem querer ser feminista,
a verdade vou contar:
a mulher é quem conquista,
mas se deixa conquistar!
ALBA HELENA CORREA – Niterói/RJ

É primavera, querida!
Deixemos para depois
as nossas rusgas da vida…
que a vida somos nós dois…
ALFREDO BRASÍLIO DE ARAÚJO – Baependi/MG

De uma forma desmedida,
muita gente, a toda hora,
dizendo gozar a vida,
vai jogando a vida afora!…
ALFREDO DE CASTRO – Pouso Alegre/MG

No palco da vida, atuante,
junto a comédias e dramas
o destino, ator brilhante,
vai tecendo suas tramas…
ANGÉLICA VILLELA SANTOS – Taubaté/SP

O agricultor que semeia
o arroz, o milho, o feijão,
trabalha com Deus à meia
na Obra da Criação.
ANTONIO A. DE ASSIS – Maringá/PR

Superando os meus problemas,
descubro que os teus abraços
são elos com que me algemas
no presídio dos teus braços!
ANTONIO COLAVITE FILHO – Santo André/SP

Se de barro fomos feitos
nesta olaria divina,
somos dois corpos perfeitos,
partilhando a mesma sina!
ANTÔNIO FACCI – Maringá/PR

Velhos sinos badalando
anunciam minha dor…
– Cada toque ressoando
no meu presente sem cor…
ANTONIO MANUEL ABREU SARDENBERG – São Fidélis/RJ

Ao reler o livro antigo,
grande emoção me tomou:
deu-me na impressão de um amigo
que de repente voltou.
AUROLINA ARAÚJO DE CASTRO – Manaus/AM

É verdade, neste inverno,
vou dar tudo a quem não tem,
porque sei que para o inferno
nunca vai quem faz o bem.
+CECIM CALIXTO – Tomazina/PR

Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto…
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
CYRO ARMANDO CATTA PRETA – Orlândia/SP

O nosso pracinha que era
simples jovem a sonhar
lutou tal qual uma fera
voltou glorioso ao seu lar.
CYROBA RITZMANN – Curitiba/PR

Na esperança verde e bela
há o otimismo de luz!
Se a porta fecha, a janela
se abre em par e sol reluz!
DINAIR LEITE – Paranavaí/PR

Sigo a vida, e meu caminho
foi produto e fecundo
mas não troco teu carinho
por qualquer prêmio do mundo.
DJALDA WINTER SANTOS – Rio de Janeiro/RJ

O nosso amor escondido,
sem papel, sem aliança,
tem o sabor proibido
da fruta da vizinhança…
DOMITILA BORGES BELTRAME – São Paulo/SP

No tear da solidão,
rendeiro em dias tristonhos,
basta um fio de ilusão
para tecer os meus sonhos!
ELISABETH SOUZA CRUZ – Nova Friburgo/RJ

Revendo a foto esquecida
num álbum velho, tristonho,
vejo a saudade escondida
Por detrás daquele sonho…
FERNANDO CÂNCIO ARAÚJO – Fortaleza/CE

Nas lembranças em cadeia,
a verdade me angustia:
Ver luzir a lua cheia,
na varanda tão vazia.
FERNANDO VASCONCELOS – Ponta Grossa/PR

Os homens aqui na Terra,
em sua saga funesta,
vão passando a motosserra
no pescoço da floresta.
FLÁVIO ROBERTO STEFANI – Porto Alegre/RS

Ciúme é como se fosse
um veneno sedutor,
amargo, se mostra doce,
matando aos poucos o amor.
FRANCISCO PESSOA – Fortaleza/CE

Nosso reino de nobreza,
nós dois podemos cria-lo:
meu amor te faz princesa,
teu amor me faz vassalo.
HÉRON PATRÍCIO – São Paulo/SP

É no rosto da criança
que o sorriso é mais bonito:
– tem a força da Esperança
e o tamanho do infinito!
IZO GOLDMAN – São Paulo/SP

O imortal desaparace
desta vida transitória,
mas seu verso permanece
nas letras vivas da história.
JOAMIR MEDEIROS – Natal/RN

Foi pela guerra enlutada,
mas a ilusão de Maria
fincava os olhos na estrada
quando a porteira batia.
JOSÉ MESSIAS BRAZ – Pouso Alegre/MG

Fugir, poeta, não queiras
do que a vida preceitua:
teu destino é abrir fronteiras
e deixar que o sonho flua!
JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba/SP

Esquece a luta perdida
porque, mais que insensatez,
lembrar fracassos na vida
é fracassar outra vez!
JOSÉ TAVARES DE LIMA – Juiz de Fora/MG

Quando os vejo, todo o dia,
sempre me espanta, não nego,
perceber, no olhar do guia
a luz dos olhos do cego!
LACY JOSÉ RAYMUNDI – Garibaldi/RS

A paz é conquista interna,
pura ausência de ansiedade,
tranqüilidade que externa
prazer e felicidade.
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE – Pinhalão/PR

No mundo por onde andei,
nestes anos que vivi,
as minhas culpas paguei,
tudo o que semeei – colhi!
+ LEONARDO HENKE – Curitiba/PR

Para a alma aliviar
na dor, conflito, paixão,
a lágrima acalma o olhar,
um poema, o coração.
MARIA ELIANA PALMA – Maringá/PR

Entre os véus da noite, imerso,
insone, em meu travesseiro,
escrevo apenas um verso
e a saudade…um livro inteiro!
MARIA LÚCIA DALOCE – Bandeirantes/PR

Não te atenhas tanto ao sono
porque o trabalho te espera,
pois quem não planta no Outono,
não colhe na Primavera.
+ MÁRIO MONTEIRO – Bauru/SP

O amor chega de mansinho,
como quem está brincando…
Mostra a flor, esconde o espinho,
e acaba nos machucando!
MAURÍCIO LEONARDO – Ibiporã/PR

O tempo não traz perigo
à verdadeira amizade;
quem não é mais teu amigo,
jamais o foi na verdade.
MIGUEL RUSSOWSKY – Joaçaba/SC

Neste mundo passageiro,
a vida, que vai fluindo,
é um intervalo ligeiro,
dois silêncios dividindo…
MILTON NUNES LOUREIRO – Niterói/RJ

Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
NILTON MANOEL – Ribeirão Preto/SP

Passou…Bonita de fato!
E o mar, ao vê-la tão bela,
sentiu não ser um regato
para correr atrás dela…
ORLANDO BRITO – São Luis/MA

Desço caminhos tristonhos
tentando, em vão, descobrir
algum vestígio dos sonhos
que desprezei ao subir!…
RODOLPHO ABBUD – Nova Friburgo/RJ

Nossa gente faladeira,
que tanto esfrega e ensaboa,
pra lavar a língua inteira
esvaziou a Lagoa!
RONALDO AFONSO FRANCO JÚNIOR – Sete Lagoas/MG

A leveza de seu verso,
fez-me voar até o céu.
E de lá só lhe arremesso,
estrelas como troféu.
ROSALY AP. CURIACOS A. LEME – Piracicaba/SP

Saudade, algema de amor,
que ao coração se derrama,
tem sempre o mesmo fulgor
no silêncio de quem ama.
SARAH RODRIGUES – Belém/PR

A Trova que se revela
em sua forma e magia
é uma pequena aquarela
na tela da Poesia.
SEBAS SUNDFELD – Tambaú/SP

Nesta vida alucinante
e de ilusões passageiras,
às vezes, um breve instante
vale mais que horas inteiras.
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA – São Paulo/SP

O mendigo solitário
perambula pela rua.
Ao redor, só o cenário
de uma imensa e fria lua.
VANDA ALVES DA SILVA – Curitiba/PR

Revezam-se em nossas rotas
sombra e luz, contras e prós
e as vitórias e derrotas
começam entre de nós…
VANDA FAGUNDES QUEIRÓZ – Curitiba/PR

Navegam os trovadores
em e-mails de ilusões,
computando riso e dores,
conectando as emoções…
VÂNIA MARIA SOUZA ENNES – Curitiba/PR

Um velho colchão de palha…
Teus braços por cobertor;
não há fortuna que valha
a fortuna deste amor!…
WANDA DE PAULA MOURTHÉ – Belo Horizonte/MG

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Literatura Brasileira (Parte 3 = O Barroco)

O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico “Prosopopéia”, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do XVIII.

Embora o Barroco brasileiro seja datado de 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro “Obras”, de Cláudio Manuel da Costa, o movimento academicista ganha corpo a partir de 1724, com a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos. Este fato assinala a decadência dos valores defendidos pelo Barroco e a ascensão do movimento árcade. O termo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos de 1600 e início dos anos de 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da época.

Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da poesia barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos anos seguintes ao domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha a responsável pela unificação dos reinos da região, o principal foco irradiador do novo estilo poético.

O quadro brasileiro se completa no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em consequência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar.

Uma das principais referências do barroco brasileiro é Gregório de Matos Guerra, poeta baiano que cultivou com a mesma beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista (o cultismo é marcado pela linguagem rebuscada, extravagante, enquanto o conceptismo caracteriza-se pelo jogo de idéias, de conceitos. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o segundo segue um raciocínio lógico, racionalista).

Na poesia lírica e religiosa, Gregório de Matos deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito (como de hábito na época) entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mundana. Contradição que o situava com perfeição na escola barroca do Brasil.

Antônio Vieira – Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com as estruturas morais e a tolerância de muita gente – como o administrador português, o próprio rei, o clero e os costumes da própria sociedade baiana do século XVII – por outro, ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o “impiedoso” Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes para os padrões da época.

Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o capitalismo judaico e os cristão-novos); os pequenos comerciantes (por defender o monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender os índios). Essas posições, principalmente a defesa dos cristão-novos, custaram a Vieira uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667.

A obra do Padre Antônio Vieira pode ser dividida em três tipos de trabalhos: Profecias, Cartas e Sermões.

As Profecias constam de três obras: “História do futuro”, “Esperanças de Portugal” e “Clavis Prophetarum”. Nelas se notam o sebastianismo e as esperanças de que Portugal se tornaria o “quinto império do Mundo”. Segundo ele, tal fato estaria escrito na Bíblia. Aqui ele demonstra bem seu estilo alegórico de interpretação bíblica (uma característica quase que constante de religiosos brasileiros íntimos da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um nacionalismo megalomaníaco e servidão incomum.

O grosso da produção literária do Padre Antônio Vieira está nas cerca de 500 cartas. Elas versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia, transformando-se em importantes documentos históricos.

O melhor de sua obra, no entanto, está nos 200 sermões. De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o pregador português joga com as idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos de retórica dos jesuítas. Um dos seus principais trabalhos é o “Sermão da Sexagésima”, pregado na capela Real de Lisboa, em 1655. A obra também ficou conhecida como “A palavra de Deus”. Polêmico, este sermão resume a arte de pregar. Com ele, Vieira procurou atingir seus adversários católicos, os gongóricos dominicanos, analisando no sermão “Por que não frutificava a Palavra de Deus na terra”, atribuindo-lhes culpa.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

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Folclore Africano (Napi, os Homens e os Animais)

No início do mundo nasceu o Sol, e depois dele surgiu Napi, o criador, o guardião da vida. Um dia Napi descansava perto de uma fonte. Olhou para a terra úmida e teve uma idéia: pensou que seria divertido moldar pequenas criaturas de argila. Primeiro modelou um animalzinho. Gostou dele e continuou a criar, e fez aparecer todos os animais que até hoje vivem na face da terra. Quando terminou, deu a cada animal um lugar para habitar. Por último moldou o homem e lhe disse:

– Você deve viver na floresta, é o melhor lugar para você.

Depois, fechou os olhos e tentou descansar. Mas não conseguiu.

Poucas horas mais tarde os animais voltaram para reclamar.

Ninguém estava feliz. O touro parecia furioso:

– Não posso viver na montanha, Napi. Preciso de pasto!

O antílope também estava aborrecido:

– Napi, não posso viver no pântano, meu sonho ‚ correr pelos campos!

Até mesmo o sensato camelo tinha uma queixa:

– Napi, detestei o deserto! Será que você não pode me mudar de lugar?

O homem, então, não parava de reclamar. Queria viver viajando, queria conhecer todos os lugares. Era muito curioso para ficar só na floresta. Napi suspirou e respondeu:

– Minhas queridas criaturas, vou lhes dar outros territórios! Calma! E depois disse:

– Touro, vá para os pastos! – E para o antílope: – Vá para a savana correr com liberdade.- E, finalmente, para o camelo: – Vá para perto de um oásis, onde o ar é fresco.

E quando chegou o homem, Napi lhe sugeriu diversos lugares para morar, mas o homem nunca ficava contente. Até que o guardião da vida se cansou e disse apenas:

– Você é mesmo impossível, meu filho! Tudo bem, vá para onde quiser!

É por isso que todos os animais têm seus territórios preferidos, mas o homem, essa criatura sempre insatisfeita, espalhou-se pelas montanhas, florestas, rios e mares, e até hoje continua procurando novos lugares para morar.

Fonte:
http://www.esnips.com

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Rosa Maria Graciotto Silva (Revisitando as Fadas com Lobato)

1. Considerações preliminares

A literatura infantil surgiu no Ocidente por volta do final do século XVII, época que também registrou o apogeu dos contos de fadas. Oriundos da tradição oral e não tendo, originalmente, a criança como público-alvo, os contos inseriram-se, com o tempo, no acervo literário infantil, ocupando um lugar definitivo.

É em 1697, com a publicação de uma coletânea de oito contos em prosa, que o escritor francês Charles Perrault marca a ascensão de um gênero que terá ampla receptividade no leitor-criança. Esses contos, prescindindo às vezes da presença das fadas, mas envolvidos na áurea do maravilhoso, encontraram larga difusão na segunda metade do século XVII e meados do século XVIII, retornando com vigor no século XIX, principalmente na Alemanha com os contos dos Irmãos Grimm, e na Dinamarca, com os contos de Hans Christian Andersen.

Gênero que saltou da oralidade para perpetuar-se na literatura escrita, os contos de fadas avançaram fronteiras e já no século XIX, encontramos em terra brasileira a proliferação desses contos através das traduções de Alberto Figueiredo Pimentel e Carlos Jansen, que tiveram o cuidado de promover uma adaptação da linguagem, tornando-a próxima da língua portuguesa falada no Brasil.

A Carlos Jansen, alemão radicado no Brasil, coube a difusão de obras em que o elemento maravilhoso se fazia presente como se verifica, por exemplo, em Contos seletos das mil e uma noites (1882) e As aventuras do celebérrimo Barão de Münchausen (1891), ao lado de histórias de aventuras como Robinson Crusoé (1885), Viagens de Gulliver (1888) e D. Quixote de La Mancha (1901). Entretanto, foi Figueiredo Pimentel o grande divulgador dos contos de fadas, reunindo principalmente contos de Charles Perrault, Irmãos Grimm e Andersen nas obras: Contos da Carochinha (1894), Histórias da Avozinha (1896), Histórias da Baratinha (1896) e Contos de Fadas (1896).

Segundo Arroyo (1986:177) Contos da Carochinha, com o subtítulo Contos populares morais e proveitosos de vários países, traduzidos e recolhidos diretamente da tradição local, reunia 61 histórias seguindo o modelo de Charles Perrault que, em 1697, designara os Contos da mamãe gansa como Histórias ou narrativas do tempo passado com moralidades. A exemplo, portanto, da literatura infantil européia, a nossa literatura, que nesse primeiro momento era somente nossa quanto ao fato de ser traduzida em língua portuguesa abrasileirada, trazia em seu bojo a preocupação com o aspecto formativo da literatura. Diferenciava-se, entretanto, da literatura veiculada nas escolas, marcada por ideais pedagógicos e sem qualquer alusão ao elemento maravilhoso. Saindo do âmbito escolar e visando a um público emergente, os contos de Figueiredo Pimentel resgataram o popular e o mundo das maravilhas, suprindo uma carência então vigente: o conhecimento dos clássicos europeus através de uma linguagem solta, livre, espontânea e bem brasileira para o tempo subvertendo, assim, os cânones da época ( Arroyo, 1986: 178).

É pelos fins do século XIX, que ganha pulso em nossa recém-criada República, a viabilização de um projeto educativo que via no texto infantil e na escola a possibilidade de contribuir para a formação de futuros cidadãos. Juntando-se a isso a preocupação generalizada com a carência de obras adequadas à criança brasileira e que fossem feitas por brasileiros, é que nasce a nossa literatura para crianças. Entre os escritores que se prontificaram a concretizar esse projeto situam-se Coelho Neto, João do Rio, Tales de Andrade, Arnaldo de Oliveira Barreto, Júlia Lopes de Almeida, Francisca Júlia, Olavo Bilac, Manuel Bonfim, Júlio César da Silva e outros (Lajolo, 1984).

Olavo Bilac e Manuel Bonfim, no prefácio de Através do Brasil (1910) explicitam a ligação da nossa incipiente literatura com os ideais pedagógicos ao afirmarem que a obra fora elaborada com o intuito de constituir-se no único livro de leitura para o curso médio das Escolas Primárias do Brasil, a fim de trazer às crianças o conhecimento necessário para a sua formação cultural, moral e cívica (apud Zilberman, 1986:18).

Nos laços entre a literatura e a escola, não havia espaço para a fantasia. E é ainda Olavo Bilac quem, no prefácio de sua obra Poesias Infantis (1904), adverte o leitor dos perigos existentes em histórias maravilhosas e tolas que desenvolvem a credulidade das crianças, fazendo-as ter medo das coisas que não existem (apud Zilberman,1986:273).

A produção literária nacional atenta à difusão dos ideais de glorificação à Pátria, enaltecimento da natureza, valorização de heroísmos, preocupação com os registros cultos da língua portuguesa, se ganhou notoriedade devido à sua vinculação à escola, garantia certa de sucesso mercadológico, não servira, entretanto, para suprimir a divulgação dos contos maravilhosos, provenientes do acervo europeu. Prova disto são as obras de Figueiredo Pimentel que, convivendo no mesmo espaço de tempo com os chamados livros de leitura escolar , alcançaram um número significativo de edições, sendo que somente sua primeira obra Contos da Carochinha obtivera, entre 1894 a 1931, o número de cem mil exemplares colocados no mercado ( Lourenço Filho, apud Zilberman, 1986:322).

Paralelamente às histórias de Perrault, Grimm e Andersen divulgadas por Figueiredo Pimentel e que foram traduzidas diretamente dos originais, vicejavam no Brasil os contos pertencentes à tradição oral, transmitidos de geração à geração, principalmente, pelos imigrantes europeus e seus descendentes que aqui aportaram. Inseridos no cotidiano brasileiro, em um ambiente culturalmente diversificado pelo encontro de múltiplas vozes (alemã, francesa, portuguesa, espanhola, italiana e africana) esses contos passaram a se diferenciar do berço de além-mar, ganhando novas versões.

Em Câmara Cascudo (1956), que procedeu à recolha de contos da oralidade, vamos encontrar, por exemplo, A Gata Borralheira, um dos mais conhecidos de Charles Perrault, miscigenado a outros contos. Bicho de Palha, versão encontrada na tradição oral do Rio Grande do Norte, mescla dois contos de Perrault: o já referido A Gata Borralheira e Pele de Asno, a que se acrescenta o toque popular, quer relacionado à denominação do conto e ao nome da heroína (Maria), quer na inserção da religiosidade, pois a entidade mediadora que auxilia a protagonista não é uma fada, mas sim, Nossa Senhora. Similarmente, nos contos recolhidos por Sílvio Romero (1954), A Gata Borralheira transforma-se em Maria Borralheira, numa história que lembra tanto A Gata Borralheira quanto As fadas de Perrault, sem deixar de inserir, também, o elemento religioso. Aqui, a velhinha de As fadas é substituída por Nosso Senhor e a varinha de condão atua não pela magia de uma fada, mas pela intercessão do poder divino.

Ao findar do século XIX e primeiras décadas do século XX, a literatura infantil brasileira depara-se ante duas vias. A primeira, adotando o processo mimético europeu, cativa o leitor pela presença do maravilhoso, entretanto lhe faltam as raízes brasileiras. É um produto importado que embora passando por um processo de adaptação com relação à língua e apresentando histórias resultantes da intertextualidade de outras, como Bicho de Palha e Maria Borralheira, continua sendo um acervo de histórias alheias. Se por um lado, a simbologia presente nos contos atende aos anseios que são universais ao ser humano, como quer Bettelheim (1980), por outro lhe falta a representação da criança brasileira, em suas peculiaridades. A segunda via abre caminho para uma literatura caracterizada como brasileira, isto é, feita por brasileiros e para a criança brasileira. Entretanto, os seus propósitos não convencem o leitor-criança e muito menos o adulto, gerando insatisfações como a expressa por Monteiro Lobato:

A nossa literatura infantil tem sido, com poucas exceções, pobríssima de arte, e cheia de artifício, – fria, desengraçada, pretensiosa. Ler algumas páginas de certos “livros de leitura”, equivale, para rapazinhos espertos, a uma vacina preventiva contra os livros futuros. Esvai-se o desejo de procurar emoções em letra de forma; contrai-se o horror do impresso. (Cavalheiro, 1962:182, V. II)

2. As reinações de Lobato

Optando por uma terceira via, surge a literatura infantil de Monteiro Lobato mostrando que é possível produzir obras que seduzam o leitor-criança, explorando o lado mágico da vida, utilizando em larga escala o elemento maravilhoso sem deixar, entretanto, de focalizar a criança brasileira e o contexto em que está inserida.

Com A menina do Narizinho arrebitado, obra publicada em 1920 e levada às escolas em 1921 como “segundo livro de leitura” e já com o título Narizinho Arrebitado, Lobato consegue um fato inédito no âmbito do mercado livreiro: esgotar 50.000 exemplares em cerca de oito a nove meses (Cavalheiro, 1962:147, V. II).

Rompendo com a literatura tradicional, Lobato angaria, na época, comentários como os feito por Breno Ferraz:

… um livro absolutamente original, em completo, inteiro desacordo com todas as nossas tradições “didáticas”. Em vez de afugentar o leitor, prende-o. Em vez de ser tarefa, que a criança decifra por necessidade, é a leitura agradável, que lhe dá a amostra do que podem os livros (…) a historieta fantasiada por Monteiro Lobato, falando à imaginação, interessando e comovendo o pequeno leitor, faz o que não fazem as mais sábias lições morais e instrutivas: desenvolve-lhe a personalidade, libertando-a e arrimando-a para cabal eclosão, fim natural da escola. (apud Cavalheiro, 1962:146, V.II)

Durante a década de 20, Monteiro Lobato cria outras dez histórias que, somadas à primeira, resultam no livro Reinações de Narizinho, publicado em 1931. Promovendo uma fusão entre realidade e fantasia, anulando os limites de espaço e de tempo, Lobato faz com que o sítio de dona Benta transforme-se na morada, não só dos habitantes do sítio, como também dos integrantes do mundo das maravilhas. Já na primeira história, Narizinho Arrebitado, encontramos o Pequeno Polegar fugindo de seu mundo e de dona Carochinha, a fim de vivenciar novas aventuras:

… Ando atrás do Pequeno Polegar […] Há duas semanas que fugiu do livro onde mora e não o encontro em parte nenhuma. Já percorri todos os reinos encantados sem descobrir o menor sinal dele. […] tenho notado que muitos dos personagens das minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda vida presos dentro delas. Querem novidades. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar ruge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los. Mas o pior é que ameaçam fugir e o Pequeno Polegar já deu o exemplo. […] Tudo isso […] por causa do Pinóquio, do Gato Félix e sobretudo de uma tal menina do narizinho arrebitado que todos desejam muito conhecer.(Reinações de Narizinho, p.11)

Cansado das velhas histórias emboloradas pelo tempo, Polegar abre o caminho para a vinda das demais personagens do mundo encantado: Cinderela, Branca de Neve, Rosa Branca e Rosa Vermelha, Chapeuzinho Vermelho, Gato de Botas, Barba Azul, Patinho Feio, Hansel e Gretel, o Soldadinho de Chumbo, o Alfaiate Valente, Ali Babá, Aladino, Lobo Mau, os heróis gregos Perseu e Teseu, além de Xeerazade e todo o séquito das mil e uma noites. A estes heróis do passado juntam-se outros da contemporaneidade de Lobato, como Tom Mix e Gato Félix, que saem das fitas de cinema e histórias em quadrinhos interagindo com os habitantes do sítio e do mundo maravilhoso. Se as personagens dos contos antigos visitam o sítio, rompendo o espaço geográfico e temporal, os moradores do sítio também se aventuram, empreendendo, tal como Polegar, visitas a outros reinos. É desta forma que visitam em Pena de Papagaio a terra das fábulas e seus fabulistas famosos La Fontaine e Esopo, presenciando as fábulas acontecendo e participando ativamente de outras como em Os animais e a peste, que traz como resultado a vinda de mais um morador para o sítio: o burro falante. E as incursões continuam. Próxima aventura: as terras do barão de Münchausen e com a participação do mundo adulto, pois D. Benta acompanha as crianças na nova empreitada.

Em Reinações de Narizinho o mundo maravilhoso passa a fazer parte do cotidiano das crianças. Assim é que Narizinho em suas incursões pelo Reino das Águas Claras vivencia um conto de fadas, transformando-se pelas “mãos” mágicas de dona Aranha numa princesa que se prepara para o encontro com o príncipe que se é escamado, é, acima de tudo, encantado. O esplendor de seu vestido ofusca os de Pele de Asno e de Cinderela descritos por Perrault e Irmãos Grimm. Suas maravilhosas vestes, tanto as do primeiro encontro ( p.14-15), quanto as confeccionadas para a celebração de seu casamento com o príncipe (p. 61), resultam da interação de elementos que fogem do domínio do real. Dona Aranha, a costureira de cerca de mil anos de idade, assim metamorfoseada por uma fada má, vale-se de um tecido tramado pela fada Miragem, cortando-o com a tesoura da Imaginação e cosendo-o com a linha do Sonho e com a agulha da Fantasia (p. 63).

Tem-se aí a identificação dos recursos utilizados pela costureira Aranha com os selecionados e organizados por Lobato para sua recriação dos contos maravilhosos, em que a miragem, a imaginação, a fantasia e o sonho deixam o campo da abstração e concretizam-se nas aventuras vividas por Narizinho e sua comitiva, nas onze histórias que compõem a obra Reinações de Narizinho.

Se no Reino das Águas Claras, presentificado nas histórias Narizinho Arrebitado e O casamento de Narizinho, Lobato promove o encontro do antigo com o contemporâneo de sua época, maior ênfase se encontra nas peripécias que ocorrem no Sítio do Picapau Amarelo. É na festa organizada para recepcionar os integrantes do mundo maravilhoso (Cara de Coruja), que Lobato proporciona uma verdadeira fusão entre o real do sítio e a ficção dos contos. Desse encontro resulta um maior conhecimento por parte dos habitantes do sítio e, concomitantemente, do leitor. Através da curiosidade de Emília fica-se sabendo o porquê de os sapatinhos de Cinderela ora serem de cristal, ora de camurça. Ou ainda, elucida-se o verdadeiro final desta história, se é o contado por Perrault ou o dos Irmãos Grimm. Estas e outras questões são levantadas buscando respostas dos diretamente envolvidos nas histórias. Resgatam-se portanto, histórias antigas que retiradas da fixidez da escrita, transformam-se em histórias reais, possibilitando que o sítio se transforme, como disse Dona Benta, num livro de contos da carochinha.

As idas e vindas de personagens de diferentes histórias e diferentes autores, assim como as aventuras do pessoal do sítio por outras paragens, revelam ao leitor um mundo em que ele pode interagir, de tal forma que os seus sonhos e suas fantasias passam a ser possíveis de uma real concretização. E isto se torna possível pela atuação das personagens do sítio que, representando o anseio dos pequenos leitores, estabelecem comparações entre uma história e outra, apontam defeitos, buscam soluções, questionam e obtém respostas. Com isso, Lobato transforma em realidade um de seus sonhos: transformar o sítio (leia-se sua obra) na morada de seus leitores.

Convidado a participar desse jogo em que o real e o imaginário se fundem ou se confundem, o leitor se vê enredilhado nas tramas tecidas pelo mestre Lobato, que marotamente, na voz de Peninha revela que o mundo das maravilhas existe por toda parte e para nele ingressar basta ter imaginação: […] O mundo das maravilhas é velhíssimo. Começou a existir quando nasceu a primeira criança e há de existir enquanto houver um velho sobre a terra (p. 134).

Entre os recursos empregados por Lobato que viabilizaram os novos rumos da literatura infantil brasileira, destaca-se a centralização dos eventos na personagem-criança. Esta, que até então ocupava um patamar inferior na literatura a ela endereçada, passa a ser o foco de interesse da obra lobateana, acarretando modificações significativas tanto no campo ideológico quanto no estético. Priorizando a criança “reinadeira”, sempre pronta a vivenciar novas aventuras e, ao mesmo tempo, ávida em adquirir novos conhecimentos, Lobato indica ao leitor o caminho a ser trilhado pela imitação dos heróis-mirins Narizinho, Emília e Pedrinho. Intrepidez, criatividade e imaginação fértil caracterizam o perfil infantil lobateano em oposição ao modelo inculcado pela literatura escolar, que promovia a fidelidade à criança exemplar, totalmente dependente dos ditames do mundo adulto. Se, nos contos antigos transmitidos pela literatura escrita e oral, as personagens ( em geral jovens casadoiros ) mostravam-se passivas, dependentes de auxílio externo para conseguirem superar obstáculos ou obterem ascensão social, Lobato resolve tal problema, retomando essas histórias e promovendo a rebeldia das personagens:

Esquecidas de que eram famosas princesas, foram correndo receber o pequenino herói. Era ele o chefe da conspiração dos heróis maravilhosos para fugirem dos embolorados livros de dona Carocha e virem viver novas aventuras no sítio de dona Benta. Polegar já havia fugido uma vez, e apesar de capturado estava preparando nova fuga –– dele e de vários outros. ( p.96 )

O recurso usado por Lobato, em que os habitantes do sítio interagem com as personagens do mundo maravilhoso, tem como conseqüência o reforço no propósito que une as personagens dos dois mundos e que, evidentemente, deverá atuar de forma eficaz no destinatário da obra. Após a leitura de Reinações de Narizinho, o leitor terá acrescido à sua história não só conhecimentos, mas, sobretudo, a reflexão necessária para se tornar um leitor dotado de um olhar mais crítico, quer com relação ao mundo ficcional que lhe é ofertado, quer com relação ao mundo real de que faz parte.

Ao privilegiar a ótica infantil, Lobato elege como prioridade o ludismo que perpassa, sobremaneira, todas as histórias. Ludismo este que se encontra no inusitado das cenas compartilhadas pelas crianças, animais e objetos antropomorfizados e pelos adultos que compactuam com as personagens-mirins, aceitando e vivenciando o jogo do faz-de-contas.

Criando cenas bem-humoradas, o narrador convida o leitor para compartilhar da brincadeira, como se observa no desenrolar da primeira história, no momento em que o besouro discute com o príncipe do Reino das Águas Claras a respeito da “misteriosa elevação”, onde estão apoiados:

[…] Abaixou-se, ajeitou os óculos no bico, examinou o nariz de Narizinho e disse:
–– Muito mole para ser mármore. Parece antes requeijão.
–– Muito moreno para ser requeijão. Parece antes rapadura –– volveu o príncipe.
O besouro provou a tal terra com a ponta da língua.
–– Muito salgada para ser rapadura. Parece antes…( p.08)

O espaço vazio, representado pelas reticências, surge como um convite à entrada do leitor, indicando-lhe a continuação do diálogo.

Essa interação do leitor com o texto, espraia-se pela obra. E, se uma das intenções de Lobato era recuperar os contos tradicionais sob uma nova ótica, o leitor é, novamente, solicitado a colaborar. Desta feita, como se participasse de um jogo de “quebra-cabeças”, cabe-lhe identificar os contos famosos de Charles Perrault, Irmãos Grimm e Andersen, pelas pistas que são inseridas na construção do texto. Assim, […] O peixinho, porém, que era muito valente permaneceu firme…(p. 09) lembra O soldadinho de chumbo de Andersen; […] a baratinha de mantilha, de nariz erguido para o ar como quem fareja alguma coisa. […] Estou sentindo o cheirinho dele (p. 13) lembra O pequeno polegar de Perrault e Joãozinho e Maria dos Grimm; […] –– Estou vendo uma poeirinha lá longe! ( p. 93) remete ao conto O Barba-Azul de Perrault.

Reservando um lugar para o leitor no relato, convidando-o para ingressar no mundo mágico da ficção, onde tudo é possível, a obra lobateana cumpre o seu papel revolucionário. Recuperando caminhos esquecidos, traçando veredas, ampliando as já existentes e abrindo outras, Lobato criou um mapa de um mundo ficcional que se transforma a cada instante, sempre a espera de um novo traçado.

Fonte:
XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários dos Paraná). Campo Mourão: 21 a 23 outubro de 1999. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. CD-Rom.

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Anton Tchekhov (O Vingador)


Logo depois de haver surpreendido sua mulher em flagrante, encontrava-se Fedor Fedorovich Sigaev na loja de armas de Schmuks e Cia, a escolher o revolver que melhor lhe pudesse servir. Seu rosto expressava ira, dor e decisão irrevogável.

“Bem sei o que devo fazer!”, pensava. “Quando os fundamentos de uma família são profanados, e a honra é arrastada pela lama e triunfa o vício… eu, como cidadão e como homem honrado, devo ser o vingador. Matarei primeiro a ela, depois ao amante e finalmente suicidar-me-ei”.

Não havia ainda escolhido o revolver e nem sequer assassinara alguém, mas na imaginação já se lhe apresentavam três cadáveres ensangüentados, de crânios triturados, os miolos a flutuarem… Barulho, ruído de curiosos e autópsia.

Possuído pela insensata alegria do homem ofendido, calculava o horror dos parentes e do público, a agonia da traidora e até lhe parecia poder ler em pensamento os artigos da primeira página, a comentarem a decomposição dos fundamentos da família.

O empregado da loja, tipo inquieto, afrancesado, de ventre pequeno e colete branco, apresentava-lhe os revólveres e juntando os calcanhares dizia, sorrindo respeitosamente:

– Eu aconselharia a Mousieur que levasse este magnífico modelo do sistema Smith & Wesson. É a última palavra na ciência das armas. Possui três propulsores e pode-se dispará-lo a uma distância de seiscentos passos. Chamo também a atenção de Mousieur para a limpeza do acabamento. Seu sistema é que está mais em moda. Vendemos diariamente dezenas deles, que são utilizados contra os bandidos, os lobos e os amantes. Seu tiro é preciso e forte, alcança distâncias enormes e mata, atravessando-os, a mulher e o amante. Quanto aos suicidas, Mousieur, não conheço, para eles, melhor sistema.

E o empregado, apertando e soltando o gatinho, soprando o cano e fingindo mirar, parecia próximo a afogar-se de puro entusiasmo. A julgar-se pela expressão extasiada de seu rosto, poder-se-ia pensar que ele mesmo, de boa vontade, pregaria um tiro na testa, se possuísse uma arma tão maravilhosa quanto aquela.

– E qual o preço? – perguntou Sigaev.

– Quarenta e cinco rublos, Mousieur.

– Hum! É muito caro, para mim.

– Neste caso, Mousieur, posso oferecer-lhe algo mais em conta. Aqui está. Tenha a bondade de examinar. Temos estoque variado e de todos os preços… Este, por exemplo,
do sistema Lefrauché, que custa somente 18 rublos. Porém… – o empregado fez um muxoxo de pouco caso – é um sistema, Mousieur, demasiadamente antiquado. Quem o
compra são os pobres de espírito e os psicopatas. Suicidar-se ou matar a própria mulher com um Lefauché é considerado atualmente de mau gosto. O bom-tom admite somente uma Smith & Wesson.

– Não necessito matar-me ou a alguém – mentiu, com acento sombrio, Sigaev. – Compro-o simplesmente para a minha casa de campo… Para assustar os ladrões.

– Não nos interessa o seu motivo – sorriu o empregado, baixando modestamente os olhos – Se, em cada caso, buscássemos as razões, já deveríamos ter fechado a loja.

Para espantar os corvos, Mousieur, o Lefauché não serve, pois produz ruído um tanto surdo. Eu lhe proponho uma pistola Mortimer, das chamadas para duelos.

“E se eu o provocasse para um duelo?”, passou pela cabeça de Sigaev. “Porém… não… Seria honra demasiada. A essas bestas, devemos matá-las, como cachorros…”

O empregado, revoluteando graciosamente e em pequenos passos, sem deixar de sorrir e de conversar, apresentou-lhe todo o monte de revólveres. O Smith & Wesson era o de aspecto mais sólido e justiceiro. Sigaev tomou um destes nas mãos, fixou-o e quedou ensimesmado. A imaginação desenhava-o destroçando um crânio, o sangue a escorrer como um rio sobre o tapete e o assoalho, a traidora, moribunda, agitando um pé convulso… Para a alma indignada, aquilo era pouco. O quadro de sangue, os soluços e o estupor não o satisfaziam. Deveria pensar em algo mais terrível.

“Isto é o que farei”, pensou. “Matarei a ele e a mim em seguida, porém ela… deixaria viver. Que morra do arrependimento e do desprezo dos que a cercam! Para natureza tão nervosa quanto a sua, será martírio maior que a morte!”

Começou a imaginar o próprio funeral: ele, o ofendido, estendido no ataúde, com um sorriso bondoso nos lábios… Ela, pálida, torturada pelos remorsos, caminhando atrás do féretro, como uma Níobe, sem poder escapa aos olhares depreciativos e aniquiladores, lançados pela multidão indignada…

– Vejo, Mousieur, que lhe agrada o Smith & Wesson – comentou o empregado, interrompendo o devaneio – Se o acha muito caro, posso fazer uma redução de cinco rublos, embora tenhamos outros mais baratos.

A figurinha afrancesada girou graciosamente sobre os próprios tacões e alcançou na prateleira outra dúzia de estojos com revólveres.

– Aqui está outro, Mousieur. O preço, trinta rublos. Não é caro, se lembrarmos que o câmbio está baixo e que os direitos alfandegários sobem cada dia mais… Juro-lhe, Mousieur, que sou conservador, porém já começo a protestar! Imagine que o câmbio e a tarifa da alfândega são o motivo de que somente os ricos possam adquirir armas!

Para os pobres nada mais resta que as armas de Tula, e os fósforos. E as armas de Tula são uma desgraça! Se alguém pretender disparar uma arma de Tula sobre a própria mulher, apenas consegue atingir a própria omoplata…

Repentinamente Sigaev entristeceu-se com a idéia de morrer e não contemplar os sofrimentos da traidora. A vingança unicamente é doce quando existe a possibilidade de ver e tocar seus frutos. Pois, que sentido encontraria em estar deitado no ataúde, se nada poderia perceber?!

“E se eu fizesse isto?… matá-lo, ir a seu enterro, ver tudo e depois me suicidar?… Sim. Porém… antes do enterro eu seria preso e me tirariam a arma… Bem…

O que farei será matá-lo e deixar que ela viva. Eu… enquanto não decorra um certo tempo, não me matarei. Serei preso. Para suicidar-me, sempre terei ocasião. Estar preso será melhor, pois que ao prestar declarações, terei possibilidade de demonstrar, ante o poder e a sociedade, toda a baixeza do seu comportamento. Se eu morresse, ela, com seu caráter desavergonhado e embusteiro, jogaria a culpa sobre mim, e a sociedade acabaria por absolvê-la…. de outro lado, talvez caçoe de mim, se continuo a viver… Então….

Um minuto depois, pensava:

“Se… Talvez me acusem de sentimentos mesquinhos se eu me matar… E, depois, para que suicidar-me? Isso em primeiro lugar. Em segundo… o suicídio é covardia.

Então, o que farei será matá-lo, deixá-la viver e eu irei para o cárcere. Serei julgado e ela figurará como testemunha… Veremos seu sobressalto e vergonha, quando precisar enfrentar meu advogado! Por certo que as simpatias do tribunal, do público e da imprensa estarão ao meu lado!…”

Enquanto assim devaneava, o empregado continuava a expor a mercadoria e considerava de seu dever, entreter o comprador.

– Veja aqui, outros, ingleses, de sistema novo, que recebemos há pouco. Porém, previno-o, Mousieur, de que todos os sistemas empalidecem diante do Smith & Wesson.

Por certo, terá lido, há poucos dias, acerca de um militar que comprara um Smith & Wesson em nossa casa, e que o usou contra o amante… E que imagina tenha acontecido? A bala atravessou primeiro o amante, alcançou, depois o abajur de bronze, em seguida o piano de cauda e deste, como uma carambola, matou um cachorro pequinês e roçou a esposa… As conseqüências foram brilhantes e honraram nossa firma. O militar está preso agora… Por certo o condenarão a trabalhos forçados!… Em primeiro lugar, porque temos leis muito antiquadas , em segundo, porque já se sabe que o tribunal sempre toma o partido do amante. Por quê? Muito simples, Mousieur. Porque também o jurado, os juízes, o procurador e o advogado de defesa se entendem com esposas alheias e mais tranqüilos estão quando sabem de que um marido há na Rússia. A sociedade se encantaria, caso o Governo desterrasse todos os maridos para a ilha de Sajalin. Ah! Mousieur! Não pode o senhor imaginar a indignação que me desperta este desmoronar dos costumes morais contemporâneos!… Nestes tempos, cortejar mulheres alheias causa tanto prazer quanto filar cigarros os outros ou pedir livros emprestados! Cada ano que passa, o nosso comércio declina, porém não significa que haja menos amantes… Significa que os maridos reconciliam-se com a situação e temem os trabalhos forçados – e o empregado, olhando em torno de si, sussurrou: – E quem é o responsável, Mousieur? O Governo!

“Acabar em Sajalin, por causa de um porco… não, não é razoável”, refletiu Sigaev. “Se me condenam aos trabalhos forçados, somente conseguirei dar à minha mulher a possibilidade de casar-se outra vez e de enganar também ao segundo marido. O lucro será todo dela! O que farei então será isto: deixá-la viver, não me matar e nem matar a ele… Devo imaginar algo mais prudente e sentimental. Castigá-los-ei com meu desprezo e encetarei escandaloso processo de divórcio…”

– Aqui está, Mousieur, um sistema novo – comentou o empregado, recolhendo de outra prateleira mais uma dúzia de revólveres. – Chamou-lhe a atenção para o mecanismo original do cão…

Porém, uma vez tomada aquela decisão, Sigaev não mais necessitava de revólver. Em compensação, o empregado, cada vez mais inspirado, não cessava de mostrar-lhe os artigos que tanto elogiava. O marido ofendido envergonhou-se de que, por sua causa, o sujeito estava trabalhando em vão, a entusiasmar-se e a perder tempo.

-Bem – balbuciou. – Será melhor que eu volte mais tarde ou mande alguém…

Conquanto não visse a expressão do rosto do empregado, compreendeu que, para suavizar a violência da situação, não havia outra saída que comprar algo. Porém, o que? Seus olhos percorreram as paredes da loja, em busca de uma coisa barata, e se detiveram numa rede de cor verde, pendurada junto à porta.

– E isso? Que é isso? – perguntou.

– É uma rede para caçar codornas.

– Qual o preço?

– Oito rublos.

– Pois pode mandar embrulhar.

O marido ofendido pagou os oito rublos, passou a mão na rede para levá-la e, cada vez mais ofendido, saiu da loja.

Fonte:

Anton Tchekhov. O Beijo e outros contos.
Imagem =
http://www.atribunamt.com.br

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Josilene de Paiva, Kelly Cheron Yamasaki e Simoni Cristina Brito (Visões de um Sonhador – Lima Barreto)

Depois de um estudo minucioso da obra de Lima Barreto “Triste Fim de Policarpo Quaresma” buscamos fazer uma relação entre a mesma e a obra “Utopia “ de Thomas More, comparando a questão utópica entre ambas, já que nelas está evidente a distância entre o sonho e a realidade, de forma que vai criticar o idealismo inconseqüente, incapaz de enxergar as verdadeiras dimensão do real .

Utopia é o sonho do sistema de vida verdadeiro, justo e agradável. A primeira utopia que serviu de modelo as posteriores foi descrita por Platão (428 –547 a. C.) no mais extenso de seus diálogos intitulado “A República”. No Decorrer da obra, Platão apresenta Sócrates, seu mestre, conversando com seus amigos e discípulos sobre o tema justiça.

Muitos são os utopistas, tais como: Platão, Thomas More, Morris e Bellamy. Estes se inspiraram em paraísos primitivos ou nas aspirações camponesas.

Para Thomas More e para a maioria de seus sucessores, a utopia é a terra da sábia organização social. Inspirando-se em viagens americanas, o chanceler T. More inventou uma ilha intitulada Utopia que em grego significa “nenhum lugar”. Esta ilha, na verdade, é uma denúncia contra a Inglaterra, ou seja, contra a miséria, crueldade e luxo da sociedade inglesa. Na ilha reina o bem-estar e a justiça, estabelecendo a simplicidade e a prosperidade plena, não havendo a circulação de dinheiro, nem propriedade privada. Os deveres e direitos dos cidadãos são iguais, sendo que para o desenvolvimento da República, conta-se com o apoio e participação de todas as pessoas.

Baseando-se nestas características utópicas de Thomas More é que se torna possível estabelecer um quadro comparativo entre as duas obras, visto que T. More, com seu país utópico, ressalta a necessidade de mudar nosso mundo atual, cheio de totalitarismo, ganância e miséria. Lima Barreto em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, é dissecado o sonho de um patriota exaltado, dominado pela idéia de um Brasil acolhedor e amável.

A utopia dentro desta obra vai se estabelecer em três planos. Num primeiro momento, o grande sonhador prepara uma reforma cultural; num segundo, uma reforma agrícola e por último, uma reforma política. Ao contrário de um grande final nessa caminhada ufanista, a narrativa destruirá todo o mito romântico de um Brasil superior mostrando um país precário, inóspito, infecundo, cruel, opressor e odioso.

A primeira reforma proposta por Quaresma se dá pela cultura. Como um patriota exaltado, possuía uma biblioteca só com obras sobre o Brasil. Assim, num de repente, viu-se assaltado por uma obsessão: salvar o país por uma reforma de costumes.

As pessoas deveriam se expressar como os primitivos tupinambás, e não como europeus. Em pouco tempo, Quaresma, pretendeu substituir o idioma português pela língua dos primitivos habitantes da terra, chegando ao extremo de redigir documentos oficiais em tupi.

Essa aventura acabou por metê-lo num sanatório. Onde ao sair, já não pensava e reformar os costumes nacionais. A partir daí, Quaresma acredita que a solução estava numa reforma pela agricultura. Muda-se então para um sítio, onde depois de importar revistas e maquinários agrícolas, incumbe-se demonstrar aos compatriotas que a melhor terra do mundo é a do Brasil. Porém, é vencido pela má qualidade do solo e pela mesquinharia da política local, tendo que voltar ao Rio de Janeiro para salvar a pátria do perigo representado pela Reforma Armada, que eclodia no país. Desta forma, alista-se no exército a favor de Floriano Peixoto, comandando um batalhão de quarenta soldados.

Nesta altura, Quaresma está empenhado nas reformas políticas do florianismo. Obtém um entrevista com o presidente da República, mas sai decepcionado com a figura displicente do líder. Abafada a revolta, é enviado para a Ilha das Enxadas, com a função de carcereiro. Ali, estavam os prisioneiros da guerra, ex–membros da marinha. Estes, numa noite, são levados para um fuzilamento por ordem de Floriano Peixoto.

Quaresma ao saber do fato, redige uma carta de censura ao presidente , exigindo os direitos humanos dos rebeldes. Em conseqüência , Quaresma é preso e enviado para a Ilha das Cobras, onde teria o mesmo fim dos prisioneiros por cujos direitos protestara.
As visões do sonhador de um Brasil perfeito se desfez ao tentar lutar pela identidade , pela valorização da terra e pelo direito do ser humano, ficando somente um idealismo patriótico e a utopia de “despertar a pátria do sono inconsciente em que jazia, ignorante de seu potencial, e conduzi-la ao merecido lugar de maior nação
do mundo.”

Fonte:
XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários dos Paraná). Campo Mourão: 21 a 23 outubro de 1999. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. CD-Rom.

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Homenagem a José Saramago, em Itu

O Ponto de Leitura de Itu – Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima será palco, neste sábado, de uma homenagem ao escritor português José Saramago, falecido no último dia 18 de junho. Saramago foi um dos maiores expoentes da literatura contemporânea e o único vencedor do Prêmio Nobel de Literatura a escrever em língua portuguesa.

Pela manhã, a partir das 9 horas, será a aberta uma exposição de cartazes e obras do escritor e à noite, às 19 horas, o Cineclube Brad Will irá exibir o filme “Ensaio sobre a cegueira”, do diretor brasileiro Fernando Meirelles, baseado no livro de mesmo nome, de autoria de Saramago. Quem for à biblioteca poderá conferir, ainda, uma exposição de livros sobre o continente africano, que está sediando a Copa do Mundo de Futebol.

A biblioteca fica localizada na Rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu. Maiores informações em: (11) 8110-3598 ou bibliotecacomunitariaitu@gmail.com . As atividades são todas gratuitas.

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Trova 154 – Arlene Lima (Maringá / PR)

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23 de junho de 2010 · 23:27

Lúcio Cardoso (Poemas Avulsos)

A UMA ESTRELA

Meu domínio é o do sonho,
minha alegria é a do céu que a tormenta obscurece,
meu futuro é aquele que amanhece à luz do desespero.
Só tu saberás o segredo da minha predestinação.
Só tu saberás a extensão de tantas caminhadas,
só tu conhecerás a casa humilde em que morei.
Quem saberia romper o sortilégio que me cerca,
ó sol vermelho, aurora dos agonizantes.

Mas não reflitas nunca o gesto que condena.
Ai, este país é o da eterna aridez!
Se da altura a estrela não baixar o olhar ao pântano,
maior será a sua impiedade que o seu esplendor.

E só tu Vésper, só tu aplacarás o meu desejo,
só tu poderás depositar, nesta carne crispada,
o beijo que nas trevas dá ao sono a serenidade do repouso.
===========

AMANHECER

A noite está dentro de mim,
girando no meu sangue.
Sinto latejar na minha boca,
as pupilas cegas da lua.
Sinto as estrelas, como dedos
movendo a solidão em que caminho.
Logo o perfume da poesia
sobe aos meus olhos trêmulos, cerrados,
ouço a música das coisas que acordam
sobre o corpo negro da terra
e a voz do vento distante
e a voz das palmeiras abertas em raios
e a voz dos rios viajantes.

E a noite está dentro de mim.
Como um pássaro,
meu sonho ergue as asas no coração da sombra.
Ouço a musica das flores que tombam,
o tropel das nuvens que passam
e a minha voz que se eleva
como uma prece na planície solitária.

Então sinto a noite fugindo de mim,
sinto a noite fugindo dos homens
e o sol que avança na garupa do mar
e as nuvens curvas que enchem o céu
como grandes corcéis de fogo cor-de-rosa
desaparecendo sugados pela treva.
=======================

VELHA FORTALEZA

Vejo-te dormindo no silêncio antigo e forte.

Ouço as ondas que roçam tuas ilhargas de granito,
e o vento que desenlaça no espaço frio
a memória guerreira dos teus dias idos.

Sinto renovar-se em mim
o desejo desta vida que sonhei.
Ouço a voz das madrugadas sôbre as rochas
e o mar remoto que soluça
junto ao aço morto dos canhões…

E vejo, ó fria sentinela,
o teu vulto crescer na linha do horizonte,
como um estranho navio que ancorasse
junto à cidade descuidada,
vazia de heroísmo e mocidade!

Fonte:
Jornal de Poesia.

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Lúcio Cardoso (Crônica da casa assassinada : Primeira narrativa do farmacêutico)


Meu nome é Aurélio dos Santos, e há muito tempo que estou estabelecido em nossa pequena cidade com um negócio drogas e produtos farmacêuticos. Minha loja pode mesmo ser considerada a única do lugar, pois não oferece concorrência um pequeno varejo de produtos homeopáticos situado na Praça Matriz. Assim, quase todo o mundo vem fazer suas compras em minha casa, e mesmo para a família Meneses tenho aviado muitas receitas.

Lembro-me muito bem da noite em que ele veio me procurar. Achava-me sentado sob uma lâmpada baixa, a fim aproveitar a claridade o mais que pudesse, já que a eletricidade em nossa vila é deficiente, e eu consultava um dicionário de pós medicinais impresso em letras exageradamente miúdas. A noite mal começara a baixar, e a loja se achava cheia de mariposas que giravam num círculo cada vez mais fechado em torno da lâmpada. Isto me enervava e eu sacudia a cabeça para afugentá-las, pois tinha as duas mãos ocupadas em sustentar o grosso volume. Não fechara inteiramente a porta, cuidando que apareceria algum freguês retardatário. Como ouvisse um leve rangido, ergui a cabeça e percebi a mão que empurrava a porta — depois o rosto surgiu devagar, sem procurar produzir efeito, apenas como se evitasse uma intervenção repentina.Avançou dois passos e eu reconheci então de quem se tratava. Pareceu-me mais pálido do que habitualmente, de modos hesitantes, olhos desconfiados.

— Boa noite, Sr. Demétrio — disse eu, naturalmente estranhando a visita.

Talvez seja necessário explicar aqui por que aquela chegada não me pareceu um fato banal — é que eles, os Meneses, por orgulho ou por suficiência, eram os únicos fregueses que jamais pisavam em minha casa. Mandavam recados, aviavam receitas, pagavam as contas por intermédio dos empregados. Eu os via passar com certa freqüência, quase sempre de preto, distantes e numa atitude desdenhosa. Dizia comigo mesmo: “São os da Chácara” — e contentava-me em inclinar a cabeça num hábito que já se perdia longe através do tempo. Aliás, devo acrescentar ainda que caminhavam quase sempre juntos, o Sr. Valdo e o Sr. Demétrio. Podiam não ser muito unidos lá dentro de casa, tal como corria de boca em boca, mas nas ruas eu os encontrava sempre ao lado um do outro, como se neste mundo não houvesse melhores irmãos. Uma única vez vi o Sr. Demétrio em companhia de sua esposa, Dona Ana, que a voz corrente dizia encerrada obstinadamente em casa, e sempre em prantos pelo erro que cometera contraindo aquele matrimônio. Não era uma Meneses, pertencia a uma família que antigamente morara nos arredores de Vila Velha, e fora aos poucos triturada pela vida sem viço e sem claridade que os da Chácara levavam. Lamentava-se muito a sua sorte, e alguns chegavam mesmo a dizer que não era de todo destituída de beleza, se bem que um tanto sem vida.

— Boa noite — respondeu-me o Sr. Demétrio, e ficou diante de mim, parado, esperando sem dúvida que eu iniciasse a conversa. Não sei que esquisita maldade se apoderou naquele instante do meu coração — ah, aqueles Meneses! — e por puro capricho continuei em silêncio, o dicionário aberto entre as mãos e contemplando sem pestanejar a face que se achava diante de mim. Devo esclarecer desde já que se tratava de um homem mais baixo do que alto, extraordinariamente pálido. Nada em sua fisionomia parecia ter importância, a natureza se encarregara de moldar uma série de traços sem relevo, tudo batido um tanto a esmo, circundando o ponto central, o único que se via desde o início e que atraía imediatamente a atenção: o nariz, grande, quase agressivo, um autêntico nariz da família Meneses. O que mais impressionava nele, repito, era o aspecto doentio, próprio dos seres que vivem à sombra, segregados do mundo. Talvez essa impressão viesse exclusivamente de sua tez macerada, mas a verdade é que se adivinhava imediatamente a criatura de paragens estranhas, o pássaro noturno, que o sol ofusca e revela.

— Queria um conselho do senhor — disse ele afinal, com um suspiro.

Inclinei a cabeça e, depositando o livro sobre a mesa, voltei-me, manifestando assim que me achava à sua disposição. Ele não ousava esclarecer o que o trouxera, talvez preferisse ser inquirido, e fitava-me sempre, os olhos miúdos rolando de um o para outro.

— No que for possível… — adiantei.

Essas simples palavras como que tiveram o dom de arrancar-lhe um peso do espírito. Qualquer coisa se iluminou escassamente em sua fisionomia e ele se inclinou sobre o balcão, num gesto de maior intimidade. Não digo que sua voz fosse totalmente segura, mas foi vencendo aos poucos as dificuldades, até que conseguiu falar com relativa calma. Confessou-me que sua mulher andava naqueles últimos tempos preocupada com um fato estranho que ocorria na Chácara. Disse isto e, depois de um ligeiro devaneio sobre os perigos da vida na roça, deteve-se e examinou-me para ver se eu acreditava no que dizia — e não sei por quê, neste inesperado silêncio que se formou entre nós, tive a intuição de que mentia, e que desejava que eu acreditasse na sua mentira. Ora, para um Meneses vir a minha casa .era necessário que realmente um fato importante ocorresse, e tão mais importante ainda, já que devia ser apresentado aos meus olhos com todas as roupagens de uma rebuscada mentira. Levantei-me, com a atenção agora inteiramente desperta, e debrucei-me ao seu lado sobre o balcão. Deste modo via seu rosto quase junto ao meu, e não poderia me escapar a menor emoção que o alterasse. Essa atenção pareceu desagradá-lo, e ele insistiu novamente, olhando-me pelo canto dos olhos, sobre as ocorrências que deveriam estar preocupando Dona Ana. Ora, todo o mundo em nossa pacata cidade sabia muito bem que a ela não interessavam as coisas da Chácara, e que seu tempo era pouco para lamentar e chorar as desditas de sua vida. Assim, era inadmissível que ela viesse a se interessar por qualquer “fato estranho” que estivesse ocorrendo na casa dos Meneses. No entanto guardei silêncio, e ele devia se ter contentado com este silêncio. De cabeça baixa, folheando à toa as folhas amareladas do meu .dicionário, ouvi a curiosa informação de que um animal desconhecido andava preocupando os moradores da Chácara. Aparentemente não existia nada de sensacional em semelhante notícia, mas a insistência na palavra “desconhecido” e o modo particular como explicou os ruídos e as pegadas que surgiam, trouxeram-me insensivelmente um sorriso aos lábios. Ele percebeu este riso e insistiu na frase com certa veemência.

— Animal desconhecido? — repeti, procurando encontrar-lhe a expressão do olhar.

Então ele fixou-me como se entregasse toda a sua alma:

— Sim, um cão selvagem; um lobo.

Novamente se estabeleceu um pequeno silêncio entre nós; fechei definitivamente o livro e indaguei:

— Neste caso, em que posso lhe ser útil?

Ele estendeu a mão, pousou-a no meu braço — e pelo tremor que a sacudia, compreendi que havíamos atingido o ponto nevrálgico da questão.

— Que me aconselha o senhor? — disse. — Foi para isto, exclusivamente para isto, que.vim aqui.

Devia ser verdade, nada me induzia a suspeitar de uma mentira oculta por trás daquela afirmativa, mas mesmo assim não pude deixar de soltar um riso breve:

— Mas, Sr. Demétrio, eu nada entendo de caçadas! Talvez fosse melhor ter procurado . . .

Ele balançou a cabeça com energia:

— Não! Não! Existem razões para ter vindo à sua procura. Por exemplo, poderia sugerir-me um veneno, ou qualquer coisa violenta que pudesse ser colocada numa armadilha.

— Não se liquidam lobos com venenos — disse, e fiz menção de colocar o dicionário no seu lugar, sobre a caixa registradora.

Ele devia ter apreendido o significado exato do meu gesto, o desinteresse que comportava. Fitou-me, e com olhos tão duros, tão cheios de súbito e agressivo rancor, que não pude deixar de sentir um estremecimento íntimo. Sem dúvida viera ali por outra causa, isto era mais do que certo, e, receando ir direto ao assunto, tergiversava, dava voltas ao problema, esperando que eu o auxiliasse. Via agora que eu não tinha a menor intenção de vir em seu socorro (por que viria? Desde há muito, desde tempos imemoriais, que entre mim e a família Meneses não existia o menor vislumbre de simpatia. . . ) e. fora esta minha atitude que lhe arrancara aquele olhar eloqüente e cheio de cólera. Ao contrário, em vez de facilitar-lhe a confissão (ou .o que quer que fosse . . . ) mudei completamente de assunto, como se a história do lobo jamais houvesse sido pronunciada. Havia um lado da parede da farmácia que se achava em péssimo estado, devido a uma pequena explosão, provocada por um prático sem experiência. Mostrei-lhe a cal arruinada, os tijolos à mostra, acrescentando com um sorriso:

— Tempos duros os que vivemos, Sr. Demétrio! Veja esta parede que carece tanto de reparos! Há dois meses espero conseguir o dinheiro necessário, e até agora não fiz nem sequer encomendar um tijolo!

Diante de mim, imóvel, ele seguia com extrema atenção aquela fingida volubilidade. Provavelmente estaria procurando adivinhar em minhas palavras um sentido oculto, uma insinuação qualquer — e eu confesso que nada mais queriam dizer além do sentido nu que exprimiam, nada, senão que o muro necessitava de conserto, e que eu não possuía o dinheiro necessário para fazê-lo. No entanto, uma inspiração pareceu tocá-lo de repente, vi uma pequena luz se acender em seus olhos, enquanto mais uma vez estendia a mão e tocava-me o braço:

— Talvez possa ajudá-lo, quem sabe? Um tijolo a mais ou a menos, sempre estamos aqui para ajudar os amigos.

Ao ouvir estas palavras, eu me achava de costas: voltei-me devagar e fitei-o bem no fundo dos olhos. Imaginei ver então agitar-se naquelas profundezas alguma coisa brilhante como a esperança — de quê, meu Deus, nem eu próprio o poderia dizer jamais, tão recôndita cintilava diante de mim, tão secreta, tão acrisolada no fundo triste daquela alma. Ele não desviou a vista, ao contrário, ofereceu-se inteiro como quem abre um livro diante de mim, e assim ficamos durante alguns segundos, transitando de um para o outro, invisíveis e rápidos, pensamentos sem nexo, restos de idéias e sentimentos, coisas que o inconsciente apenas trazia. à tona, mas que nos faziam atingir uma importante fase de compreensão.

— Uns tijolos. . . — murmurei É exatamente do que eu preciso.

— Digamos . . . um carro deles? — sugeriu, debruçando-se familiarmente sobre o balcão.

Oh, decerto ele arfava um pouco, e já seus olhos, inteiramente acesos, sondavam-me a face com avidez, buscavam-me a palavra de pronta aquiescência, numa falta de pudor, numa pressa que me escandalizava quase. Ainda assim, balancei a cabeça com ar penalizado:

— Um carro! Digamos três, Sr. Demétrio, não consigo tapar aquele rombo com menos de três carros de tijolos!

Qualquer coisa como um sorriso — um diminuto, um insignificante sorriso de vitória — esboçou-se em sua face pálida. Como eu aguardasse, ele aquiesceu com um movimento de cabeça. Havíamos atingido um terreno de onde não me seria possível recuar, e foi portanto com a mais serena das vozes que voltei ao assunto inicial:

— Um lobo numa chácara é sempre perigoso. Contudo. . .

Repetiu sufocado, como se lhe custasse um esforço imenso aquela palavra:

— Contudo. . .

Dei alguns passos pela loja, procurando mostrar-me o mais natural possível:

— Contudo existem meios práticos de liquidá-los, sem que seja necessário recorrer ao veneno.

— Por exemplo… — sugeriu ele.

Abandonei-o um instante sem resposta, dirigindo-me ao interior da casa. Devo esclarecer que ocupava um modesto aposento dos fundos, mal iluminado e de assoalho periclitante, cuja única vantagem era me oferecer guarida durante a noite, próximo à loja, podendo assim atender algum freguês que surgisse em horas avançadas. Corria no entanto a notícia de que alguns ladrões andavam operando em nossa pequena cidade, e este, sem dúvida, foi o motivo que me levou a guardar na gaveta da cômoda, entre peças de roupa passada, um pequeno revólver. “Não me apanharão desprevenido” — dizia comigo mesmo. Assim, abri a gaveta e tateei entre a roupa, não tardando muito a encontrar o que procurava. Silencioso como me afastara, voltei à farmácia e depositei a arma sobre o balcão.

— Que é isto? — indagou o Sr. Demétrio sem ousar tocar no objeto.

— Oh — exclamei — apenas uma brincadeira. É de manejo fácil, mas liquida qualquer lobo.

Ele pareceu hesitar, fixando sempre a arma, sem coragem para tocá-la. Não sei que confusos pensamentos se digladiavam no seu íntimo — sei apenas que em certo momento, estendendo devagar a mão, tomou o revólver e examinou-o erguido quase à altura dos olhos.

— É uma arma feminina — disse, fazendo cintilar as incrustações de madrepérola que bordavam o seu cabo.

— Pertenceu à minha mãe — esclareci.

Ele rodava a arma, e já agora eu podia perceber que a satisfação brilhava claramente em seus olhos.

— Funciona bem? — indagou, apontando o cano para o fundo da loja.

— Perfeitamente.

E tentando desvanecer seus últimos escrúpulos, acrescentei:

– É uma arma como hoje não se fabrica mais.

A partir desse ponto, podia se dizer que ele estava definitivamente conquistado. Vendo-o, eu indagava de mim mesmo se aquele Meneses não teria vindo à minha casa precisamente para obter a arma — eles, que eram tão ricos em recursos e estratagemas acaso poderiam deixar de ter em casa um revólver idêntico àquele? Em que circunstâncias o utilizariam, sob que pretexto comprometeriam um outro na ação que provavelmente estariam prestes a executar? E se se tratasse na verdade de um lobo — a idéia era quase ingênua… — por que não liquidá-lo de um modo mais simples, com uma armadilha, por exemplo? De qualquer modo, ergui os ombros — o negócio me convinha.

O Sr. Demétrio experimentou ainda o gatilho, retirou o tambor, chegou a esfregar o cano na manga do paletó — e era mais do que evidente que tudo aquilo lhe causava um secreto, um intenso prazer, como se desde já, da obscuridade da farmácia, sentisse seus inimigos trucidados. Parou afinal o exame e fitou-me — e posso jurar que só um sentimento muito fundo, talvez antigo, mas imoral e cheio de impiedade, desenhou o sorriso que aflorou à sua face — ah, um sorriso de entendimento, de alguém que se sente perfeitamente seguro do valor da transação que acaba de realizar. Ao mesmo tempo colocou a mão sobre o meu braço:

— Obrigado, amigo. Creio que não existe mesmo melhor meio para liquidar lobos. . .

Sorri também, despedimo-nos. O Sr. Demétrio encaminhou-se para a rua, apertando o revólver no fundo do bolso; eu balançando a cabeça — os mistérios da natureza humana — voltei ao meu dicionário.

Fonte:
CARDOSO, Lúcio. Crônica da casa assassinada. RJ: Nova Fronteira, 1979.

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Lúcio Cardoso (1912 – 1968)

Chamado pelo crítico Alfredo Bosi de “inventor de totalidades existenciais”, Lúcio foi escritor, dramaturgo, jornalista, e poeta.

Joaquim Lúcio Cardoso Filho (Curvelo, 14 de agosto de 1912[1] — Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1968) foi um escritor, dramaturgo, jornalista e poeta brasileiro.

Cardoso pertencia a uma família tradicional de Minas Gerais, a qual gerou vários políticos, entre os quais o irmão Adauto Lúcio Cardoso, que foi senador da República pela União Democrática Nacional, partido de centro-direita e conservador, e mais tarde ministro do Supremo Tribunal Federal. Sua irmã, Maria Helena Cardoso, veio, após a morte do irmão, a lançar-se como escritora publicando um livro de memórias da família, Por onde andou meu coração.

Junto com seu amigo pessoal, o romancista Otávio de Faria, o também romancista Cornélio Pena e o poeta Vinicius de Moraes, Lúcio Cardoso foi um dos expoentes de toda uma vertente da literatura brasileira da década de 30, que – apoiando-se na ofensiva então realizada pelo Catolicismo da época, que buscava recuperar a influência intelectual e política que havia perdido diante do positivismo e do liberalismo laico da República Velha – buscava apoio numa inspiração abertamente religiosa, de cunho místico e politicamente conservador, em oposição à literatura de inspiração sociológica e vagamente esquerdista do regionalismo contemporâneo. Esta corrente literária católica, mais tarde, integrar-se-ia numa vertente mais geral da literatura brasileira caracterizada pelo subjetivismo, que daria a literatura de, entre outros, Clarice Lispector – a qual manteria, aliás uma ligação amorosa platônica com Lúcio Cardoso nos anos 60.

Cardoso era mais ou menos abertamente homossexual, o que se traduziu na sua obra como mais uma instância particular do tema geral da redenção possível de uma humanidade ontologicamente pecaminosa, que ele compartilhou com todos os seus colegas de movimento.

Com Paulo César Saraceni realizou o primeiro longa-metragem do cinema novo, Porto das Caixas, do qual foi o roteirista.

Em 1962 teve um derrame cerebral e deixou de escrever, passando a se dedicar à pintura e chegando a realizar duas exposições.

Para ele, a arte era vital, tanto que com ela fez um pacto, utilizando-se — como ficcionista monumental que era — simultaneamente de diversos recursos narrativos (diários, memórias, cartas, confissões, poesias, depoimentos…) para, articulando a suposta fragmentação, fazer surgir a tragédia humana com toda sua carga de paixão, angústia, erotismo, solidão e desespero. Em um universo ontologicamente dilacerado, com uma prosa cuja poesia dá vazão ao desejo transgressivo, os personagens se desnudam em tensões recriadoras da objetividade do mundo.

Dizia ele:”Escrevo para que me escutem — quem? Um ouvido anônimo e amigo perdido na distância do tempo e das idades. Para que me escutem se morrer agora. E depois, é inútil procurar razões. Sou feito com estes braços, estas mãos, estes olhos e assim sendo, todo cheio de vozes que só sabem se exprimir através das vias brancas do papel, só consigo vislumbrar a minha realidade através da informe projeção deste mundo confuso que me habita. E também porque escrevo porque me sinto sozinho. Se tudo isto não basta para justificar porque escrevo. o que basta então para justificar alguma coisa na vida? Prefiro as minhas pequenas às grandes razões, pois estas últimas quase sempre apenas justificam mistificações insustentáveis frente a um exame mais detalhado“.

Morreu aos 56 anos. Seu talento foi reconhecido postumamente pela Academia Mineira de Letras, que lhe conferiu, em 1996, o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.

Obras
1934 – Maleita
1935 – Salgueiro
1936 – A Luz no Subsolo
1938 – Mãos Vazias
1940 – O Desconhecido
1941 – Poesias
1943 – Dias Perdidos
1944 – Inácio
1944 – Novas Poesias
1946 – O Anfiteatro
1954 – O Enfeitiçado
1959 – Crônica da Casa Assassinada
1961 – Diário Completo
1970 – O Viajante (póstumo, editado e prefaciado por Octavio de Faria)
2005 – Baltazar (inédito – fragmentos)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BAcio_Cardoso
http://www.revista.agulha.nom.br/luciocardoso.html

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Literatura Brasileira (Parte 2 = O Quinhentismo)


Esta expressão é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Não se pode falar em uma literatura “do” Brasil, como característica do país naquele período, mas sim em literatura “no” Brasil – uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções do homem europeu.

No Quinhentismo, o que se demonstrava era o momento histórico vivido pela Península Ibérica, que abrangia uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas, como principais manifestações literárias no século XVI. Quem produzia literatura naquele período estava com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc.), enquanto a literatura dos jesuítas se preocupava com o trabalho de catequese.

Com exceção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro somente em 1549.

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de sua gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário.

A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo etc.).

O melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de Caminha. Sua “Carta ao El Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil”, além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã.

Literatura jesuíta – Conseqüência da contra-reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.

Não se pode comentar, no entanto, a literatura dos jesuítas sem referências ao que o padre José de Anchieta representa para o Quinhentismo brasileiro. Chamado pelos índios de “Grande Piahy” (supremo pajé branco), Anchieta veio para o Brasil em 1553 e, no ano seguinte, fundou um colégio no planalto paulista, a partir do qual surgiu a cidade de São Paulo.

Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de Anchieta deixou uma fabulosa herança literária: a primeira gramática do tupi-guarani, insuperável cartilha para o ensino da língua dos nativos; várias poesias no estilo do verso medieval; e diversos autos, segundo o modelo deixado pelo poeta português Gil Vicente, que agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas, sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o anjo e o diabo.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br

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Paraná Poético I

Apollo Taborda França
UM “FLASH” SERTANEJO

Pelos confins do sertão,
vive lá ZÉ SERESTEIRO…
Sempre com viola na mão:
– Perto um riacho e um pinheiro.
Seu rancho feito de palha,
o chão de terra batida…
Nele ZÉ bem se agasalha:
– No roçado a sua lida.

Beldades da Redondeza
faziam coro com ZÉ…
Ambiente de singeleza:
no terreiro um garnisé.
E do grupo a mais catita
que do ZÉ tinha atenção…
A lindeza da ZURITA:
– lábios da cor do tição.

Faces lisas, cor-de-rosa,
os olhos verdes dos campos…
ZURITA, a mais formosa:
– Lua cheia, pirilampos.
Se passarem muitas tardes,
ZÉ casou com a ZURITA…
Petizada, seus alardes:
– Choupana toda de fita.

ZURITA E ZÉ SERESTEIRO
levam a vida dourada…
Horta, feijão no celeiro:
– Cada noite nova toada.
Pelos ermos, pela mata,
o chilrear dos passarinhos…
Um sussurro se desata:
– Nas veredas, nos caminhos.

Tem coruja na vivência,
pica-pau e saracura…
João-de-barro, eficiência:
Quero-quero, com fartura.
Essa a vida sertaneja,
nos rincões do Paraná…
Tamanha beleza enseja:
– Se há outra, qual será?

ZURITA E ZÉ SERESTEIRO,
um casal bem ajustado…
Juntinhos o dia inteiro:
– Ó que amor tão sublimado!

Ceres de Ferrante
CREDO AO HOMEM

Segue,
não há razão
para parar.
Há mais caminhos
a percorrer.
Indômita é a vontade
dos que acreditam
no hoje e no amanhã.
Segue,
há uma força maior
guiando teus passos,
por isso vencerás o espaço
e encontrarás novos mundos
em outras galáxias
ou dentro de ti mesmo.

Horácio Ferreira Portella
RISONHO NASCIMENTO

Dourado, o sol desponta no horizonte,
a dissipar das brumas a cortina.
Ouve-se o manso murmurar da fonte,
que desce pela encosta da colina.

disseminando seu poder planctonte
na verdejante mata e na campina,
para ensejar que a Vida assim desponte
em plenitude mágica, Divina.

As borboletas colorindo a festa,
As flores espargindo seu perfume.
Os pássaros em mística seresta,

após o parto, que a Natureza espera
por nove meses para dar a lume
a deslumbrante filha: Primavera!

Ivo de Angelis
TRÊS QUADRAS

De lânguida flor, que murchasse
o suave perfume, dolente,
é qual a saudade que nasce,
quando morre o sonho na gente.

Nada transpassa a ferida
de um coração que padece,
como a lembrança perdida,
que cai de dentro da prece.

Mostra teu brilho e fulgor,
ao mundo que te fascina,
e nutre o teu esplendor,
na mágoa que me domina.

Janske Niemann Schelenker
UM PEQUENO TÚMULO

Lá na campina, queria ser flor
para que tua mão me colhesse,

ou ser o capim,
para que pudesses descansar em mim,

ou ser o caminho
por onde voltasses a ser meu,

our ser um pequeno túmulo
– sem nome e sem data –
á beira da tuda estrada
… e só tu saberias onde estou…

Orlando Woczikosky
ÁGUA

Quem se afunda na bebida,
para afogar sua mágoa,
descobre, no fim da vida,
que a melhor bebida é água.

Beba água mineral
e viva despreocupado,
porque água só faz mal
para quem morre afogado.

Fonte:
Revista do Centro de Letras do Paraná – n.53 – agosto 2009.

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Artur de Azevedo (O Ingrato)

Vieira havia levado a vida inteira remando contra a maré. Por fim conseguiu reunir algum dinheiro, não se sabe como, e abriu uma modestíssima loja de cigarros na Rua dos Ourives. Dava para viver, mas, como se sabe, não se precisa de muita coisa para viver. Morava com a mulher num quartinho ao lado da modesta loja, e Dona Maricota cozinhava, lavava e passava a roupa do marido e de alguns conhecidos, pois não tinham filhos.

Pensando na vida e esperando os clientes, Vieira estava certo dia encostado no balcão da loja enquanto a mulher preparava o almoço, como de costume, quando entrou apressadamente um velho, meio congestionado, quase sem poder falar. Sentou-se num banquinho que ali havia, queixando-se silenciosamente e apenas murmurando algumas palavras. O traje do recém-chegado indicava pessoa de boa posição social. Solícito, Vieira indagou:

— Que tem o senhor, cavalheiro? O que aconteceu?

O velho levantou os olhos e só conseguiu dizer, com voz apagada:

— Água!

Vieira foi imediatamente buscar um copo d’água, que o velho bebeu, reanimando-se um pouco. E perguntou de novo:

— O que aconteceu?

— Não sei… Uma coisa que me deu de repente… Mas felizmente não foi nada, como o Sr. pode ver. Bastou esse copo d’água para sentir-me bem.

— Não quer alguma outra coisa? Talvez um pouco de água com limão…

— Não, nada. Muito obrigado.

O velho permaneceu ainda ali uns vinte minutos, conversando amistosamente com Vieira, perguntando-lhe sobre seus negócios, sua família, sua vida. Quando saiu, apertou-lhe com vigor a mão, renovando seus agradecimentos.

Dois dias depois apareceu novamente, sentou-se no banquinho e fez novas demonstrações de agradecimento, conversando amigavelmente durante meia hora.

Voltou no dia seguinte, e Vieira lhe apresentou Dona Maricota, com quem simpatizou bastante. Inteiraram-se então de que o assíduo visitante era o Comendador Matos, negociante aposentado, solteiro e sem filhos, que vivia de rendas, sem outra ocupação além da cobrança dos aluguéis e da renda dos altos negócios. Quando o Comendador saiu, Vieira disse à esposa:

— Parece que esse sujeito está disposto a vir aqui todos os dias, para entreter-se em conversa.

— É uma amizade que não devemos desprezar — respondeu a mulher, de espírito prático.

— Por quê?

— Que pergunta! Pode ser que encontremos nesse homem um protetor…

— Que protetor coisíssima nenhuma! Um passatempo aborrecidíssimo, é o que você deve dizer. Não percebeu que ele nem sequer fuma? Não comprou até agora nem uma caixa de fósforos…

Entretanto, quando o Comendador voltou no dia seguinte, encontrou uma cadeira, no lugar do banquinho. Precisamente nesse dia ficaram estabelecidas definitivamente as relações de amizade. A partir desse momento o velho foi infalível, sempre chegava na mesma hora. Não se passou muito tempo, e começou a ser-lhe oferecida durante a visita uma xícara de café, que se tornou um hábito durante os seguintes cinco anos.

Quando não aparecia na hora de costume, Dona Maricota se inquietava:

— O Comendador não veio. Estará doente? Por que não vais à casa dele? Pode ser que esteja doente, não acha?

Afinal o velho entrava, e Vieira avisava à mulher:

— Já está aqui o Comendador, Maricota. Traga já o cafezinho…

As relações chegaram a ser tão estreitas, que uma vez Vieira queixou-se da falta de freguesia. O velho lhe disse:

— É natural, pois você tem uma casa que não inspira confiança. Isto aqui não é uma verdadeira loja, é apenas um cubículo.

— Mas muitos começaram como eu, e acabaram ficando ricos.

— Isso foi antigamente. Hoje em dia as lojas de cigarros têm que estar bem instaladas, com pelo menos duas portas, boas estantes, tudo bem ordenado e bem sortido.

— É bem verdade, mas tudo isso custa dinheiro, e não vejo como possa consegui-lo.

— Não se preocupe por questões de dinheiro. Procure uma casa melhor, em pleno centro, e deixe o resto por minha conta.

Com efeito, Vieira não demorou a encontrar um local apropriado. Alugou-o, tendo o próprio Comendador como fiador. Um mês depois o novo estabelecimento estava funcionando. Não faltava nada, havia até um acendedor de cigarros constantemente ligado, que os clientes podiam usar.

O casal mudou-se para o segundo andar do mesmo imóvel, e o Comendador emprestou o dinheiro para a compra dos móveis. Quando foi assinar os papéis, Vieira perguntou se o Comendador tinha interesse em ser seu sócio.

— Nada disso! Eu me aposentei por completo dos negócios, e não tenho o menor desejo de voltar a eles. Serei simplesmente seu credor. Basta você assinar umas quinze promissórias, com juros muito reduzidos e prazos folgados.

Assim foi. Vieira resgatou as letras uma por uma, nos prazos estipulados. Sem esforço, pois a loja prosperava de maneira satisfatória. Dona Maricota já se entregava aos afazeres domésticos com mais parcimônia. Um dia notou que ia ser mãe, portanto uma nova felicidade em perspectiva.

— Quero ser o padrinho! — indicou o Comendador quando foi informado.

O excelente homem já era considerado pessoa da casa, seguindo sempre o seu próprio ritmo, tomando o cafezinho sentado no mesmo local, já agora numa cadeira estofada, para mais comodidade.

A pontualidade com que foram pagas as quinze promissórias fez aumentar a amizade do velho, pois colocava acima de tudo a probidade comercial, a honra da firma. Quando o menino foi batizado, o padrinho deu-lhe um bonito enxoval e fez para ele um seguro de vida. Desde então era raro a criança não receber todos os dias um presente ou um agrado. De vez em quando, Vieira e Maricota também eram obsequiados.

— Comendador, por que tantos cuidados? O senhor não deve incomodar-se tanto conosco.

— Não me incomodo, absolutamente. Vocês são minha única família. Não tenho ninguém mais no mundo, a não ser vocês.

— Bendito aquele copo de água! — dizia Dona Maricota, sempre que o velho tinha algum rasgo de generosidade.

— Graças àquele copo d’água mudou nossa sorte — acentuava o marido, — e espero que com o tempo ainda viremos a ser ricos.

Não sabendo como manifestar seu reconhecimento por tão inverossímil proteção, Vieira mandou pintar a óleo um retrato do Comendador, que colocou na sala de visitas.

Mas tudo se acaba. Um dia o comendador deixou de aparecer na loja, que tão assiduamente visitava durante tantos anos. Vieira correu imediatamente à casa onde morava, e o encontrou seriamente doente. Quis levá-lo para sua casa, onde seria tratado com desvelo familiar, mas o comendador resistiu. Era seu propósito recolher-se a um asilo para idosos, e foi necessário respeitá-lo. A doença se agravou. Embora não lhe faltasse nenhum dos recursos da medicina, morreu depois de quinze dias.

Vieira e Dona Maricota imaginavam — era natural — que ambos e o pimpolho seriam os únicos herdeiros, já que o velho não tinha família. Enganaram-se. O testamento, o único que apareceu entre os papéis do velho, e que foi divulgado depois do enterro, só contemplava no benefício o afilhado, com dez contos de réis. O resto era dividido entre hospitais e asilos. Nem o próprio Vieira tinha um único centavo no testamento.

— Estranho! — bramiu Dona Maricota. — Nunca imaginei que aquele homem não nos deixasse ricos. Por que nos dizia então que éramos os únicos membros de sua família? Que mal empregados os oitenta mil réis da coroa que lhe mandamos!

— Tenho intenção de não aceitar os dez contos que deixou ao nosso filho — confessou Vieira —. Dez contos! Que miséria!

— Seria melhor não haver deixado nada! Nosso filho não precisa de esmolas!

— Tenho até vontade de destruir o retrato — disse indignado o marido.

— Não! Não vale a pena. Esse retrato pode ser comprado por alguma das instituições que herdarão o dinheiro desse velho tacanho.

Lançou um olhar severo sobre o retrato do Comendador, que sorria compassivamente, enquanto exclamava decepcionada:

— Este mundo está cheio de ingratos!…

Fontes:
http://contosbemcontados.blogspot.com/

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