Arquivo da categoria: Literatos do Ceará

Nilto Maciel (A Poética de Linhares Filho)

Sou contemporâneo de Linhares Filho. Quase da idade dele. Um pouco mais novo. Em poesia, estreou em 1968, com Sumos do tempo. Ano de terríveis confrontos sociais no Brasil e no mundo, ano em que me vi no meio do turbilhão político. Por isso, talvez, não pude acompanhar o nascimento literário do poeta de Lavras da Mangabeira. Passada a cólera, a ira, o tumulto, a agitação nas ruas (seguiu-se a fase do silêncio ao ar livre e do gemido nos cárceres), passados os devaneios juvenis, salvo das garras das aves de rapina dos anticomunistas, voltei-me para os livros. Linhares também deve ter se recolhido naquele período, pois em sua biografia há um hiato prolongado a separar o livro inicial do segundo e do terceiro: A metáfora do mar no Dom Casmurro (ensaio crítico) é de 1978, e Voz das coisas, (poemas), do ano seguinte. É a partir desses anos meu conhecimento dele. Ou de sua obra literária.

Ganhei dele, agora, final de 2010, mais três volumes: Com a palavra (palestras); 50 poemas escolhidos pelo autor (Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2008) e No limiar do inverno (Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010), de poemas. Poderia comentar toda a obra em verso de Linhares, se não me faltassem a dedicação de leitor ou o senso e a sabedoria de crítico. Direi, porém, duas ou três palavras apenas a respeito de sua poética, deixando para outrem o pesquisador da literatura, o analista minucioso e atento de Machado, Pessoa, Torga, Camões, Saramago, Drummond e outros.

A poesia de Linhares Filho tem roupagem tradicional, sobretudo pelo uso frequente do verso medido e rimado. Entretanto, vai além disso, com a manipulação de múltiplos recursos formais: do soneto ao verso livre e a poemas de variados feitios, em versos decassilábicos ou de cinco, seis, sete e oito sílabas. O apego à vestimenta da tradição o livrou da aventura pela chamada poesia de vanguarda, pelo antiverso, pelo poema visual e outras modalidades de efêmera duração. Isto é, consciente e conhecedor do fenômeno estético, tem pleno domínio da técnica do verso. Sem se apegar, com fanatismo, à métrica e à rima, faz uso também do verso branco, como em “Das coisas”. Quanto à rima, ele a pratica muito bem, em todas as suas modalidades ou tipos: consoante, aguda, esdrúxula, grave, etc.

Não bastasse isso, é conhecedor dos sortilégios da linguagem, da densa elaboração da linguagem, da melodia do verso, a exemplo dos bons cultores do verso. Encontramos em seus poemas o “encanto verbal” (Drummond) ou a “pureza vernácula” (Iranildo Sampaio), tão afastados de uma infinidade de escritores que estudam pouco, leem quase nada e se acham gênios. Em Linhares a tal pureza vernacular pode ser constatada com facilidade, como quando pomos em linha reta, ou de prosa, alguns versos: “Certo é que, sob o rescaldo da fogueira antropofágica do teu povo caeté, já se ateara teu desafio, e, da fornalha a vir, manarão as larvas de um vulcão, fluindo sempre, em rio” (“A Lêdo Ivo, ante Réquiem”).

A poesia de Linhares foi chamada por alguns críticos de intimista. Pois o poeta não se deslumbra com o circunstancial e o efêmero, embora não os deixe de lado. Em seus livros há poemas de puro descritivismo ou de saudação: “És, Cidade Maravilhosa, / luz do Sudeste, glamourosa / fidalga” (…). Ou “Cidade show, cidade shopping, / cidade grávida, / devolves à Nação inteira” (“Ode à Pauliceia”). Assim como há observações de fatos: O terremoto do Haiti.

Como percebeu Adriano Espínola, outro poeta admirável, Linhares Filho “encara com a maior seriedade os graves problemas do homem, em termos existenciais, sociais e metafísicos”. São muitos os seus poemas em que se vê além da matéria, como ser, como parte do Todo. E se explica: “Por isso também canto salmos e hinos”. Ou composições recheadas de religiosidade: “Ao Espírito Paráclito”, “Ato de Humildade” (“Sei que, apesar de tudo, / não sou maior em nada”), “Amor Perene” (“Entre nós Deus habita, e por seu nome / cumprimos nosso ideal de amor eterno”).

Como todo grande poeta, Linhares é bom filho e sabe amar seus pais espirituais, os poetas que nos antecederam aqui e alhures. Sua obra é plena de “ressonâncias intertextuais”, de que fala José Augusto Cardoso Bernardes. Não apenas nas muitas homenagens a poetas cearenses e de outros Estados (Anderson Braga Horta, Cassiano Ricardo, Dias da Silva, Drummond, Dimas Macedo, Filgueiras Lima, Lêdo Ivo, Machado de Assis, Manuel Bandeira), mas aos estrangeiros de sua predileção, como Camões (“E cada vez que nos sentimos tristes, / ou do amor com enganos, desenganos, / mais, ao lermos teus poemas, te sublimas!”), Borges, Heidegger, Pessoa, Torga, presentes também em epígrafes.

Como observou Sânzio de Azevedo, outro poeta e crítico de reconhecido talento, o autor de Tempo de colheita “é um desses artistas verdadeiros, um poeta no sentido mais nobre do termo”. Isto é de fácil comprovação, como no último verso do belíssimo poema “A Machado de Assis, morto vivo”: “A Dor dos que ainda ficam te saúda!

Fonte:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2011/01/poetica-de-linhares-filho-nilto-maciel.html

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Batista de Lima (1949)

Batista de Lima, nascido em Lavras da Mangabeira, CE (1949), embora pertença ao “grupo” da revista O Saco, pois seu primeiro livro, de poemas, é de 1977, passou a divulgar seus contos mais recentemente: O Pescador da Tabocal saiu em 1997 e Janeiro é Um Mês Que Não Sossega, em 2002.

Seminarista no Crato, formou-se em Letras e Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especializou-se em Teoria da Linguagem na Universidade de Fortaleza, onde exerceu a chefia do Departamento de Letras e a diretoria do Centro de Ciências Humanas.

Cursou o mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará. Iniciou-se como professor de Português em colégios de Fortaleza.

Na vida literária deu os primeiros passos no Clube dos Poetas Cearenses. Mais tarde participou ativamente dos grupos Siriará, Arsenal, Catolé e Plural.

De poesia publicou os livros Miranças (1977), Os Viventes da Serra Negra (1981), Engenho (1984) e Janeiro da Encarnação (1995).

Na área do ensaio literário deu a lume, em 1993, Os Vazios Repletos e Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem, e, em 2000, O Fio e a Meada – Ensaios de Literatura Cearense.

Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte:
Soares Feitosa e Nilto Maciel. Jornal do Conto

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Arquivado em Literatos do Ceará, O Escritor com a Palavra

Airton Monte (1949)

Airton Monte nasceu em Fortaleza (1949) e nunca dela se mudou.

Filho de Airton Teixeira Monte e Valdeci Machado Monte.

Médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará, cronista do jornal O Povo, comentarista de rádio, redator de televisão, letrista, teatrólogo, é essencialmente poeta e contista.

Iniciou-se na revista O Saco, onde publicou contos.

Um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura.

Estreou, no gênero conto, com o volume O Grande Pânico (1979), seguido de Homem Não Chora (1981) e Alba Sangüínea (1983).

Tem no prelo Os Bailarinos. Participou de algumas antologias: Os Novos Poetas do Ceará III, Antologia da Novo Poesia Cearense, Verdeversos e 10 Contistas Cearenses.

Tem também um livro de poemas.

Dona Sônia, esposa de Airton Monte, diz que o marido nunca sabe cobrar pelos textos que lhe são encomendados. “Até mesmo os laudos periciais da psiquiatria, ele vem perguntar para mim quanto é que tem que cobrar”. “Você é minha ministra da Fazenda”, brinca Airton.

Falando do amigo Jorge Pieiro, que Airton considera um dos principais nomes da nova geração de escritores cearenses, Airton diz que Pieiro é o moderno da turma, o “cara que faz cabelo, coisa e tal”, é o “metrossexual”. “Mas como ele é muito baixinho, a gente chama ele de ‘meio metro sexual’”.

Já o escritor Pedro Salgueiro, Airton chama de Pedro Sangreiro, “porque ele mata tudo que é personagem”. “Enganchou num conto, ele mata os personagens todos”.

Bárbara, filha de Airton Monte, é quem coordena a página dedicada ao pai no orkut, site de relacionamentos da internet. “Uma vez ela ficou furiosa porque perguntaram a ela se ele batia em mim”, conta dona Sônia. “Minha filha não fique assim, diga que eu bato nela, bato em você, bato no Pablo (filho de Airton), bato no cachorro, em todo mundo”, conta Airton às gargalhadas.

Airton diz que tem três ou quatro livros de poesia prontos, além de um romance, uma novela sobre futebol, uma peça de teatro e um livro de contos “Os bailarinos”. “Há tanta coisa aí guardada”, conta. “Eu não publico porque desde que publiquei meu primeiro livro pela editora Moderna que decidi não publicar mais nenhum livro com o meu dinheiro. Afinal, o escritor já é o camelô de si mesmo, tem que escrever e sair vendendo o bicho de mão em mão, indo nos programas de rádio, etc”.

Segundo dona Sônia, quando está num restaurante, Airton repara se há algum casal conversando e fica imaginando o assunto para poder se inspirar em suas crônicas. “Ele me manda ao toalete para eu passar perto do casal e ouvir o que eles estão dizendo“, revela.

Fontes:
Soares Feitosa e Nilto Maciel. Jornal do Conto.
Soares Feitosa. Jornal de Poesia.

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Everardo Norões (1944)

Natural de Crato, Ceará, o economista, poeta e crítico literário Everardo Norões (1944-) é um homem do mundo: viveu na França, Argélia e Moçambique e hoje está radicado em Recife. Estreou com o volume Poemas Argelinos, de 1981. Depois, publicou Poemas (2000); Nas Entrelinhas do Mundo (2002); A Rua do Padre Inglês (2006); e Retábulo de Jerônimo Bosch (2009). Norões escreve artigos e crônicas para jornais e também se exercita na criação teatral. É co-autor das peças Auto das Portas do Céu e Nascimento da Bandeira, de Ronaldo Correia de Brito.

Everardo Norões tem também seu nome ligado ao do poeta e engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo (1897-1978). Ele organizou a obra completa de Cardozo, que acaba de sair pela editora Nova Aguilar.

Norões é um poeta de dicção marcante. Não é possível passar impune pelos seus livros. Ora, ele nos captura atenção e emoção com o agreste de versos desabridamente nordestinos: “E na garupa / do cavalo, a sentença das esporas. / Pendentes dos estribos, estão as horas, / relampejos de facas. E o sono da jurema” (“Tristão”). Esses versos têm a mesma pisada seca que se ouve em “Os Encourados”: A tarde chega, / a luz se dispersa. / É uma luz de sede / do sol dos Inhamuns: / branca e calada”.

Mas, afinado em outro diapasão, o lirismo de Everardo Norões também nos aparece cantante e melodioso, como no breve poema “Corpo” ou em “Tua Fala”: “Tua fala parecia / a rede, toda bordada, / onde a noite amanhecia”. Obviamente, o ritmo aí é ainda bem nordestino, porém marcado por um recorte íntimo, que passa longe da secura dos agrestes.

Há ainda uma terceira face do poeta cratense, que é aquela bafejada pelos ventos do mundo. Entre os poemas mostrados aqui, ela se manifesta especificamente em “Café”. Ali se percebe o cruzamento das experiências pessoais e leituras do poeta com a sua sensibilidade lírica. Como um Proust, ele extrai de uma xícara de café (menos do aroma que da cor) um conjunto de sensações e divagações nostálgicas. “De onde vem o grão / dessa saudade?”

Fonte:
Artigo de Carlos Machado poesia.net

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Moacir C. Lopes (1927)

Com o nome de batismo Moacir Costa Lopes, nasceu em 11 de junho de 1927, em Quixadá, Ceará. Perdeu o pai aos 2 anos de idade e a mãe aos 11. Fez seus estudos em Quixadá, Baturité, Fortaleza, posteriormente no Rio de Janeiro. Optou por não concluir estudos regulares, para se dedicar inteiramente à literatura, criando seu próprio método de criação literária, do que resultou seu livro de ensaio/didático Guia prático de criação literária, editado em 2001, pela Quartet Editora. Desde criança, leitor compulsivo de Literatura de Cordel e de folhetins literários que chegavam a Quixadá.

Por sofrer constantes maus tratos do tio, com quem foi morar com os irmãos Mário e Maria de Lourdes, foge de casa, em 1942, seguindo para Maranguape, passa a trabalhar e morar numa estalagem, onde faz poesia e escreve cartas por encomenda, a dinheiro, para mercadores em trânsito. Localizado pelo tio, regressa a Fortaleza e ingressa na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará em dezembro de 1942.

Já como marinheiro, em plena Segunda Guerra Mundial, viaja para a Base Naval de Natal, de lá para Recife, embarcando no encouraçado São Paulo, vindo depois para o Rio de Janeiro. Embarca em vários navios, em missões de comboios e patrulhamentos navais, especializando-se em tática anti-submarina e radar. Viaja por toda a costa brasileira e outros países, como Uruguai, Paraguai, Argentina, Trinidad-Tobago, República Dominicana, Cuba, Estados Unidos, sobe o rio Amazonas, o rio Paraguai, o rio Mississipi, conhece muitas ilhas, duas das quais, o Atol das Rocas e a Ilha das Trindade, o inspirarão no tema de dois de seus futuros romances.

Enquanto embarcado, além de praticar esportes como box e basquetebol, escreve poesias diariamente e entusiasma-se pela literatura, passa a ler em viagem as primeiras obras de ficção, começando pelos clássicos franceses, depois russos, portugueses, ingleses, e por fim os brasileiros antigos e contemporâneos, além de estudos críticos, filosofia, e antropologia e obras de cultura geral. E os poetas. Em todos os navios em que servia criava uma biblioteca com doações de livros pelos colegas. Com intervalos, nos portos, para viver as aventuras comuns de marinheiro e conviver com os mais variados tipos humanos.

Escreve, em 1944, um romance, que não chega a concluir. Viajando a Porto Alegre, procura Érico Veríssimo; na cidade de Natal, em 1946, procura Luís da Câmara Cascudo, que, ouvindo seus planos literários, lhe sugere escrever sobre a vida dos marinheiros. Começa a escrever, em 1949, a bordo do contratorpedeiro Baependi, onde trabalha na secretaria como datilógrafo, o romance Maria de cada porto, com o qual vem a estrear em dezembro de 1959.

Residindo no Rio de Janeiro desde 1944, passa a colaborar no jornal Humaitá, da Associação dos Marinheiros, com poemas e crônicas, jornal embargado em 1949, e definitivamente fechado em 1964. Mesmo sendo os marinheiros proibidos de estudar, por ordem do então Ministro da Marinha, estudou música no Liceu de Artes e Ofícios, por pretender ser também violinista, e fez o curso completo de Inglês, no Westminster English Course, e a extensão de outros cursos de humanidades. Dá baixa da Marinha de Guerra em novembro de 1950, por conclusão do tempo de serviço.

Passa a trabalhar no comércio, inicialmente como datilógrafo, depois como gerente de compras, gerente de vendas, professor de vendas e de Relações Públicas, fez traduções de obras de alguns autores do idioma inglês para a Seleções Reader’s Digest. Ainda trabalhando no comércio, publica os romances Maria de cada porto (1959), obtendo os prêmios “Coelho Neto”, da Academia Brasileira de Letras, e “Fábio Prado”, da União Brasileira de Escritores, São Paulo, Chão de mínimos amantes (1961), Cais, saudade em pedra (1962), A ostra e o vento (1964), Belona, latitude noite (1968), todos eles com grande repercussão no Brasil e no exterior, além de traduções na Tchecoslováquia, na Rússia, na Bulgária, na Itália, radioteatralizações na Polônia e em Portugal.

Deixando de trabalhar no comércio, foi colaborador da Enciclopédia Delta Larousse, sob a direção de Antônio Houaiss. Passa a dar aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e na Faculdade Hélio Alonso, nas áreas de Comunicação Social, Jornalismo, Relações Públicas. Em 1969, funda a Editora Cátedra, com a escritora Eduarda Zandron, editora pela qual publicam cerca de mil autores nacionais, a maioria estreantes.

Casa-se com a escritora Eduarda Zandron, nascendo-lhes os filhos Fábio Martins Lopes, em 1968, e Saulo Martins Lopes, em 1973. Seu filho Fábio, que aos dez anos publicou o livro de poesia, Da janela do quarto andar, e, aos quinze anos, a minibiografia Montezuma, o Imperador Asteca, já advogando enquanto cursava Direito na UERJ, professor de Inglês aos dezoito anos, vem a falecer em janeiro de 1989, aos 20 anos, cuja doença e falecimento originou o livro de sua mãe Eduarda Zandron, Ninguém me disse que ia ser fácil (Relato de uma mãe sobre 87 dias de tortura de seu filho condenado por leucemia), publicado em 1990.

Continuou a construir sua obra literária, hoje com vários volumes e reedições (ver adiante, “Edições e reedições de seus Livros”). Além de fartamente adotada em colégios, é estudada nos meios universitários brasileiros e estrangeiros, de que resultaram teses de doutoramento no Brasil e nos Estados Unidos. Em 1978, foi realizado, com sua presença para dissertações e debates, um Simpósio sobre toda sua obra, na Universidade do Arizona, e palestras nas universidades de Santa Bárbara, San Diego, na University of California at Los Angeles – UCLA, e University of Southern California – USC, também em Los Angeles, California, Estados Unidos.

Tem participado de congressos, simpósios e conferências sobre literatura em todo o País, jurado de concursos literários, inclusive do “V Cine Ceará – Festival Nacional de Cinema e Vídeo”, em 1995. Presidente do Sindicado dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, de 1994 a 1997, reassumiu a presidência para a gestão 1998/2001, onde presidiu também o Conselho Editorial do jornal Tribuna do Escritor.

Seu romance A ostra e o vento, que, desde seu aparecimento, despertou grande interesse em vários cineastas brasileiros e estrangeiros, foi adaptado para o Cinema, em 1997, sob o mesmo título, com roteiro e direção de Walter Lima Jr.

Lança, pela Quartet Editora, no ano 2000, seu novo romance O Almirante Negro (Revolta da Chibata – A Vingança), além da sétima edição brasileira de A ostra e o vento. Em 2001, além da oitava edição de A ostra e o vento, pela Quartet Editora, sai a sua edição italiana, L’ostrica e il vento, em tradução de Gian Luigi De Rosa, Salerno, Itália. Também em 2001, é editado seu livro Guia prático de criação literária, ensaio/didático, pela mesma Quartet Editora, que lança também, em 2002, a nona edição de Maria de cada porto, e, em 2003, seu nono romance, Onde repousam os náufragos. Lançou, em 2006, As fêmeas da Ilha da Trindade, e, em 2007, A ressurreição de Antônio Conselheiro e a de seus 12 apóstolos, além da reedição de outras obras suas atualmente esgotadas, como, em 2009, a terceira edição do seu romance Cais, saudade em pedra. Tem escritos, para publicação oportuna, dois volumes de suas reminiscências, ainda sem título definitivo, e prepara seu décimo segundo romance, a ser editado em 2010, entre vinte e um livros já editados, incluindo ensaios e literatura infantil.

Livros
A Ressurreição de Antônio Conselheiro e a de seus 12 apóstolos
Por aqui não passaram rebanhos
As fêmeas da Ilha da Trindade
Onde repousam os náufragos
Guia prático de criação literária
A Ostra e o Vento
Maria de Cada Porto
O Almirante Negro – Revolta da Chibata , A Vingança
Calígula – Minibiografia desse imperador romano. (1982, 72 pgs.)

A Dança do Tarô – Texto teatral-poético, encenado com coreografia de Clarice Pinto Lopes, utilizando a simbologia de cada carta do Tarô, com dança acompanhada de texto. (1994, 44 pgs.)

Antologia de Contistas Novos (Seleção, apresentação e notas), edição do Instituto Nacional do Livro, 1971, 2 volumes, 432 pgs., em formato de bolso.

O Capital ao alcance de todos – Texto resumido de O Capital de Karl Marx, mantendo a essência e a súmula das idéias contidas na obra original, inclusive adaptando seus cálculos à moeda brasileira corrente. (1986, 212 pgs.)

Chão de mínimos amantes, romance, 1961
Cais, saudade em pedra, romance, 1963
Belona, latitude noite, romance, 1968
O navio morto in Os Dez Mandamentos, novela, 1968
As viagens de Poti, o Marujinho, infanto-juvenil, 1974
A pedra das sete músicas, infanto-juvenil, 1976
A situação do escritor e do livro no Brasil, ensaio, 1978
O passageiro da Nau Catarineta, romance, 1982
O navio morto e outras tentações do mar, contos, 1995
Moacir C. Lopes e sua obra – 40 anos de literatura, biobibliografia, 2000

Fonte:
http://www.moacirclopes.com.br/

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Herman Lima (1897 – 1981)

Herman Lima nasceu no dia 11 de maio de 1897, na cidade de Fortaleza (CE). Autodidata, fez apenas o curso primário. Ainda jovem interessa-se pelo desenho, tendo alguns deles publicados em “O Malho” e na revista “Fon-Fon”, e, também, três caricaturas em capas de “O Tico-Tico”.

Em 1915, começa a escrever contos, sendo que alguns foram publicados na citada “Fon-Fon” e na Revista do Brasil, em São Paulo.

Trabalhou na Fotografia 01 – sem, em Fortaleza, sendo mais tarde auxiliar da estrada de rodagem de Aracati a Morada Nova. De volta à capital do Estado, foi escriturário da Delegacia Fiscal, transferindo-se, em 1922, para repartição congênere em Salvador, Bahia, onde se diplomaria em Medicina.

Em 1924, publica “Tigipió”, de contos regionais do Ceará, tendo sido agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras.

Forma-se em medicina e vai clinicar no interior da Bahia, na região de Lavras Diamantinas, em Lençóis.

Vai morar no Rio de Janeiro, em 1931, e no ano seguinte publica o romance “Garimpos”, que posteriormente (1939) foi traduzido para o espanhol por Benjamin de Garay. Casa-se com Annette Cathalá Loureiro, com quem tem sete filhos, em 1933.

É nomeado auxiliar de gabinete do Presidente Getúlio Vargas, ocupando-se de sua correspondência particular. De 1933 a 37 foi auxiliar da Presidência da República.

Muda-se para Londres, Inglaterra, em 1937, após ter sido designado para a Delegacia do Tesouro Brasileiro, naquela cidade.

Em 1940, retorna ao Rio de Janeiro e, no ano seguinte, publica “Na Ilha de John Bull”, com impressões sobre aquele país.

“Outros céus, outros mares” é publicado em 1942, também ganhador do Prêmio Academia Brasileira de Letras.

Faz traduções de diversos textos de autores estrangeiros. Durante sua permanência na Europa voltara a se interessar pelas artes plásticas e, principalmente, pela caricatura, ao tomar contato com as revistas especializadas francesas e inglesas.

Voltando para o Brasil, em 1945 começa e estudar e pesquisar o desenho satírico no nosso país, publicando então inúmeros trabalhos sobre este assunto em jornais e revistas e três álbuns ilustrados: “Rui e a caricatura” (1949), “J. Carlos” (1950) e “Roteiro da Bahia” (1953).

Trabalha na Biblioteca Nacional, em 1954, na Divisão de Obras Raras, onde conhece o precioso acervo dos periódicos brasileiros ilustrados.

Em 1961, publica “Domingos Olímpio.

Em 1963, após 20 anos de trabalho exaustivo de pesquisa, publica “História da Caricatura no Brasil”, em 4 volumes, tendo recebido os prêmios Fernando Chinaglia (melhor livro do ano), Centro Cultural Brasil-Israel de S. Paulo (melhor ensaio do triênio 1960-1963), Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (melhor ensaio do ano).

Nos anos seguintes publica: “Poeira do Tempo” (1967); “Olegário Mariano” (1968), e “Afonso Arinos” (1970). É agraciado com a Medalha de Ouro José de Alencar, do Governo do Ceará, em 1974.

No ano seguinte, recebe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.

Morre, no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1981.

Fonte:
http://contosbrasileiros.blogspot.com/
– “Outros céus, outros mares – Exposição comemorativa do centenário de Herman Lima”, RJ: Edições Casa de Rui Barbosa / Ministério da Cultura, 1997. (folheto),

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Ronaldo Correia de Brito (1950)

Ronaldo Correia de Brito (Saboeiro, Ceará, 1950) aos cinco anos mudou-se para o Crato e aos dezoito para Recife, onde estudou medicina. Teatrólogo e ficcionista.

Escreveu teatro para crianças: O Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, O Pavão Misterioso e Arlequim; teatro para adultos: O Reino Desejado, Retratos de Mãe, Malassombro, Auto das Portas do Céu e Os Desencantos do Diabo.

Também roteiros de documentários e filmes para televisão e cinema: Lua Cambará (longa metragem para a TV Cultura), Caboclinhos (documentário para a TV Universitária), Brincadeira de Mateus (documentário para a TV Universitária), Cavaleiro Reisado e Brincadeira de Reisado (documentários para cinema), Maracatus (documentário para a TV BBC); além dos livros de contos: Três Histórias na Noite (Prêmio Governo do Estado de Pernambuco de 1989), As Noites e os Dias (Recife: Ed. Bagaço, 1996), Faca (São Paulo: Ed. Cosac & Naif, 2003) e O Livro dos Homens (São Paulo: Ed. Cosac & Naif, 2005).

Fonte:
http://contosbrasileiros.blogspot.com/

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Adolfo Caminha (1867 – 1897)

Adolfo Caminha (Aracati, 1867 – Rio de Janeiro, 1897), sempre lembrado como o criador de romances exponenciais do naturalismo, como A Normalista e Bom-Crioulo, escreveu contos de alta qualidade. Integrou a Padaria Espiritual no primeiro ano da agremiação.

Segundo Sânzio de Azevedo, no ensaio “Uns Poucos Contos”, do livro Adolfo Caminha (Vida e Obra), o autor de Tentação teria deixado 15 contos, informação colhida em Gastão Penalva. Esses contos são “Velho Testamento”, “A mão de mármore”, “Pesadelo”, “Minotauro”, “O exilado”, “Flor do vício”, “A última lição”, “Estado d’alma”, “No convento”, “O beijo”, “Elas”, “O grumete”, “Joaninha”, “Amor de fidalgo” e “Vencido”. Destes, somente 11 foram reunidos em livro, em 2002, por Sânzio de Azevedo, sob o título Contos, pela Editora da UFC, precedido de um ensaio do mesmo estudioso: “Onze Contos de Adolfo Caminha”.

Na primeira narrativa o protagonista divide o espaço e o tempo com Virgínia. O espaço do presente (momento da narração) é uma sala, um atelier de escritor, e nele um quadro pintado, representando um busto de mulher. O protagonista fuma charuto, vê a pintura e relembra momentos de sua juventude. Num segundo momento as duas personagens passeiam, a cavalo, pelo campo. Virgínia se sente mal, tem febre, está prestes a morrer. No entanto, o narrador surpreende o leitor, ao revelar – no desfecho – tratar-se de um sonho.

Dos onze contos, apenas três são narrados na primeira pessoa; os outros, na terceira: “Minotauro”, “O Exilado”, “A Última Lição”, “Estados d’alma”, “No Convento”, “Elas…”, “Joaninha” e “Amor de Fidalgo”. A primeira pessoa é sempre homem, como o sonhador apaixonado de “Velho Testamento”, o narrador-testemunha de “A Mão de Mármore” e o também sonhador de “Pesadelo”. As mulheres de Caminha são sempre sofridas. Também os homens são sofridos, atolados no passado, nas dores do amor. Como o Plínio Varela, de “Amor de Fidalgo”, abandonado pela amante e no dia seguinte encontrado “no meio da rua, sem pinta de sangue no rosto, sujo de lama, imundo, como mais vil dos bêbados”. Elas morrem cedo, doentes, enfraquecidas, como a Virgínia do primeiro conto, que, num passeio à floresta, diz sentir “um vulcão dentro de mim” e, logo depois, o narrador a vê com “um brilho estranho nos olhos, fria, gelada…”

Amor e morte caminham juntos, fazem parte do mesmo enredo, às vezes macabro, como em “A Mão de Mármore”. Talvez se possa dizer também macabro o conto “No Convento”, com a morte misteriosa do noviço Oscar de Miranda, que enlouquece e morre a jorrar sangue pela boca.

Quando não é a morte propriamente dita, é a sua antecessora: a desilusão amorosa a ferir a mulher de tristeza, solidão, num casamento feito de amarras, como em “Elas…”

O enredo no contista Adolfo Caminha às vezes é frouxo, esgarçado, como no “Minotauro”. Um triângulo amoroso como muitos outros, especialmente no romantismo. Já em “A Última Lição” o leitor se depara com um enredo mais rico, mais entrançado e, ao mesmo tempo, mais sutil, a lembrar o Machado de Assis de “Uns Braços”. Outras vezes nem se percebe enredo, como em “Pesadelo”. Um homem sonha (a história é o sonho ou o pesadelo do narrador) e é acordado pela mulher. O sonho, no entanto, é uma parábola: “a dura realidade dos filósofos é preferível ao sonho, ao sonho azul dos poetas…”

Algumas narrativas curtas de Caminha se situam claramente no Rio de Janeiro. No “Minotauro” o par Cipriano Gouveia e Nicota vivia numa casa no Engenho Novo, sob “o inconstante céu fluminense”, ele afastado do burburinho do centro da cidade, da rua do Ouvidor, “por onde nem sequer passava ao voltar da repartição”.

Em “A Última Lição” o casal seguiu, em carruagem, para a Tijuca, onde foi morar. Em “Estados d’alma” Almeida contempla os morros de Santa Teresa, “coqueiros de longas palmas”, “todo esse admirável trecho da natureza fluminense”. E, na descrição da paisagem, vai revelando ao leitor a cidade maravilhosa: “Para lá dos Inválidos, n’outro plano mais elevado, por trás do cemitério de Catumbi, a vista atingia a ponta culminante de uma montanha angulosa e obtusa, varando a transparência do ar lavado: era o nariz do gigante que se vê do mar, o Corcovado, uma espécie de focinho de animal monstruoso farejando as nuvens…” E, já para o final da narrativa, volta o personagem a “contemplar a paisagem, o Corcovado, o Pão d’Açúcar, a igrejinha da Glória agachada por trás dos morros” (…).

Em “Amor de Fidalgo” Plínio Varela instala Carolina Mendes num “esplêndido palacete em Botafogo”. Em outros contos o leitor poderá também perceber o ambiente da velha corte. Há, porém, um conto, “Joaninha”, ambientado no Nordeste, exatamente em Oeiras, Piauí. Leia-se a descrição: “S. José de Arouca, outrora Riachão da Magdalena, ficava a seis léguas de Oeiras, numa eminência, dominando, com o seu belo aspecto de arraial sertanejo, uma vastíssima extensão glauca de floresta virgem, e ao longe, diluindo-se gradativamente num crepúsculo de bruma, trêmulo e desmaiado, o perfil indistinto, o vago contorno da Serra Grande, quase perdida na distância, simbólica e misteriosa como uma esfinge do deserto.” Nos demais contos Adolfo Caminha preferiu não deixar claro a localização das tramas.

Nessas narrativas há o predomínio da narração sobre a descrição e o diálogo. A narração inicia e conclui todas elas. Umas vezes são narrações de pequenos atos ou gestos. Outras, breves descrições psicológicas. Há também narrações entremeadas de descrições de ambientes. Em alguns casos o início da narração se dá no pretérito perfeito; em outros, no imperfeito.

Adolfo Caminha é narrador contido e fino, como também se observa em “A Última Lição”. Neste, do ponto de vista de narrador onisciente, a narração se faz em blocos superpostos de ações, sempre intercalada de breves e essenciais diálogos. A descrição de ambientes mais uma vez se dá com precisão, sem excesso de detalhes, suficiente para neles, ambientes, enquadrar as personagens.

Naquele conto que é quase um poema – “Pesadelo” – a narração se confunde com a descrição, ou não é uma coisa nem outra. Veja-se o primeiro parágrafo: “Crepúsculo de maio. Nevoento e triste, o feio aspecto da paisagem que meus olhos contemplam numa espécie de abstração enferma, lembra-me, – branca de neve – alvo sudário amortalhando gigantes”. Quase no final o narrador, já acordado, transcreve a única fala, que não é dele, mas da mulher (ausente no sonho): “– Acorda, preguiçoso, olha que é dia! Vamos, levanta!”

Os diálogos são breves e sempre em linguagem escrita, muitas vezes erudita, de leitor dos clássicos. Como no primeiro conto, em que o narrador transcreve uma fala de Virgínia e dele: “– Sabes o que me parece isto? perguntei. – Isto o quê? – Este pedaço de floresta abrindo para o mar e nós dois quebrando a monotonia do verde? Faz-me lembrar a primeira página do Velho Testamento…” Mais adiante essa lembrança do paraíso levará o narrador a se referir às cenas do Jardim do Éden, quando Adão e Eva “pecavam no seio da natureza”. Mas tudo em Caminha é tenuidade, como em todos os realistas ainda eivados de romantismo.

Mesmo no conto nordestino, em que Joaninha, a filha do fogueteiro, se pronuncia uma vez, mesmo aí a fala não é a de linguagem oral. A moça, talvez analfabeta, fala assim: “– E o Sr. Vigário por que não vem a Arouca todos os dias?” E completa: “É um passeio… Este povo ama-o tanto…” É certo que somente mais tarde, quando do Modernismo e do Regionalismo, os narradores passaram a incorporar a linguagem oral, especialmente a do campo, nas falas dos personagens.

As descrições de Caminha também não são exageradas, nem extensas. São necessárias ou dão às narrativas um quê de poético, como se viu nas transcrições de linhas atrás. Assim se vê em “Minotauro”, na descrição do jardim da casa. A natureza em contraste com a cidade, talvez por influência do Eça de A Cidade e as Serras.

Há dois contos singulares no conjunto em estudo. Um, “O Exilado”, pode ser visto como uma narrativa de marinhista e estranha, de ambiente bem diverso daqueles dos outros contos. E não somente o ambiente (uma ilha), como o enredo (um homem solitário e um cachorro). Além disso, subdivida em sete flashes ou episódios

A descrição física do protagonista, se é que se pode falar de protagonista, é feita com detalhes. Juan Herrera, o exilado espanhol, é um personagem lendário ou imaginário (em oposição a realista) na ficção de Adolfo Caminha. Também estranha é “No Convento”. E mais uma vez um ambiente diverso dos lugares da maioria dos contos: um convento de frades. O enredo é igualmente singular, embora ainda afeito ao tema predominante no contista – amor e morte. Porém um amor enlouquecido ou envolto em loucura. No entanto, a morte misteriosa.

O desenlace nos contos do criador de A Normalista, quando o conflito se dá no terreno do sonho, é o que se verifica na maioria das histórias desse tipo, isto é, o sonhador acorda, como se pode verificar em “Velho Testamento” e “Pesadelo”, dando fim ao drama.

Em “A Mão de Mármore”, com seu quê de tétrico, o epílogo, na voz do narrador-testemunha, é a constatação de lágrimas nas faces do protagonista diante da mão de mármore da amante morta. “Minotauro” chega ao fim em breve e irônica narração: “começou a chuviscar”, Gouveia, o marido, se retira do jardim, seguido de Nicota, a esposa, e do amigo Bandeira, braço dado a ela. Nada romântico, um tanto realista.

O desenlace em “O Exilado”, já sem a presença do personagem, que, após ver agonizar o cachorro de estimação, saiu a caminhar, “como uma sombra que se esvai, entre as penedias da ilha”, leva o leitor a imaginar uma paisagem marinha que aos poucos se vai desfazendo. O apego à paisagem levou o contista a dar a “Estados d’alma” desfecho inaudito: o protagonista, ao saber da morte do pai, tem reação incomum (“sem uma lágrima no olhar e sem um gesto de dor”, voltou a contemplar a paisagem), e o narrador conclui o conto pintando o “vasto céu sem nuvens”.

O final de “A Última Lição” é realista, embora com uns contornos românticos, assim como o de “Elas…” e “Amor de Fidalgo”. O desenlace de “No Convento” e “Joaninha” tem ares naturalistas.

A manipulação da linguagem nesses contos traz a marca do Adolfo Caminha de A Normalista, embora se saiba que no final do século 19 o conto ainda fosse precariamente cultivado pelos escritores brasileiros, à exceção de Machado de Assis. Se Caminha não alcançou o grau de mestre na ourivesaria da narrativa curta, pelo menos nos legou estas poucas mas belas jóias.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Considerações sobre Contos. Fortaleza, 2005.

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Vicência Jaguaribe (Por entre brumas )

Acabou-se o combate.
Para ela já não haverá lágrimas,
nem prantos, nem sobressaltos.
(Ignácio Larrañaga)

O marido entra no quarto e abre a cortina. Ela puxa o lençol e cobre a cabeça.

– Como amanheceu, querida? Dormiu bem?

Ela olha para o homem, posicionado contra o sol, que entra pela janela. O que vê são raios luminosos projetando-se de uma figura que ela não sabe o que é, e sente medo. A figura desloca-se e aproxima-se da cama. Ela percebe que é um homem, mas não sabe quem é. Faz uma cara de susto e recua na cama.

– Sou eu, Júlia, o Hugo. Trouxe o seu mingau.

Ela toma todo o mingau que ele lhe dá a colheradas. De vez em quando, olha para o homem com o olhar meio temeroso e, quando ingere a última colherada do alimento, encolhe-se e cobre-se da cabeça aos pés. O homem olha aquela trouxinha branca em cima da cama, ensaia um carinho, mas desiste. E sai do quarto deixando a porta aberta. Há muito renunciara às tentativas de trazer a mulher à realidade. Às vezes, tinha a impressão de que ela o reconhecia, queria falar-lhe, mas era uma impressão de minutos ou até de segundos. Logo ela se recolhia ao seu mundo especial, ao qual ninguém tinha acesso.

Mal o marido deixa o aposento, ela tira o lençol do rosto. Em sua cabeça, os fatos e as pessoas se misturam, e ela não consegue situar-se nem em relação a eles nem a ela mesma. Aquele homem que acabara de sair, por exemplo, não sabe quem é. Às vezes, tinha a impressão de que o conhecia; outras vezes, tinha medo dele. Mas ele estava sempre ali, com ela. Aquelas mãos que lhe davam comida, que a banhavam, que a penteavam… ela as reconhecia. De repente, uma imagem clara aparece em sua mente – aquelas mesmas mãos, só um pouco mais novas, seguravam uma de suas mãos e lhe punham um anel. Ela sorria, feliz. Mas ao seu lado aparecia a imagem de outro homem! E ela tem medo, e as imagens tornam a embaralhar-se, e ela volta a encolher-se em cima da cama.

O marido termina de vesti-la e penteia-lhe os cabelos molhados. Enche-a daquela colônia suave, sua preferida, e tenta conversar. Ela não faz a cara de medo que tanto o entristece, mas também não diz nada. Ele precisa sair, e a nora ficará de plantão. Dá-lhe um beijo na testa, encosta uma cadeira na porta. Faz-lhe um aceno.

Um outro clarão em sua mente… o outro homem a tomava nos braços e a beijava. Como era o nome dele? De repente ela o via de braços dados com uma outra mulher, segurando a mão de uma criança. Aquela mulher… aquela mulher… sim, era irmã do outro, aquele que lhe dera uma aliança. E ela tem medo, e encolhe-se na cama. Mas, desta vez, as imagens não voltam a embaralhar-se. E a mente teima em enviar-lhe outras imagens que ela parece entender – ela, feliz, na cama com o homem estranho. Não! Não! Por que essas lembranças agora!

Deve ter gritado, porque a nora sobe as escadas correndo.

– O que foi, dona Júlia? Está sentindo alguma coisa?

A resposta vem em forma de um esgar, seguido de um gesto com os braços, como se quisesse impedir a nora de se aproximar.

Quando fica novamente sozinha, um outro clarão – a porta do quarto onde ela se encontrava com o homem se abriu, e a mulher que estava de braços com ele entrou. E aí, na sua cabeça, as imagens e os fatos se clarificam: a mulher era irmã de seu marido e esposa do homem que… O medo vem forte, e as lembranças se vão, deixando-a novamente naquele vazio, que talvez seja para ela uma bênção.

O marido veste-lhe uma camisola limpa, muda os lençóis e arruma-a para dormir, depois de lhe dar o sonífero. Afaga-lhe os cabelos, desliga a luz principal do quarto e deixa acesa apenas a pequena lâmpada do abajur. Retira-se para o seu quarto, que tem com o da mulher uma porta de correspondência. Aquele olhar que ela, às vezes, como há instantes, lança-lhe – olhar de dor, de súplica… chegava até a pensar… de pedido de perdão – leva-o ao passado, a fatos nunca explicados, a suspeitas nunca confirmadas. Basta! Que adianta desenterrar defunto? Ele já morreu, e ela está praticamente morta!

A mulher fecha os olhos e tenta dormir… os clarões na mente, no entanto, reaparecem. Ela comprime os olhos fechados, enrola a cabeça. Em vão! As lembranças chegam, claras, em forma de relâmpagos e impõem-se sem lhe dar nenhuma chance de apagá-las. O olhar reprovador das cunhadas, que ela recebia com um sorriso de ironia! Os cuidados da sogra, para que o filho não desconfiasse, a que ela respondia com gargalhadas! A dor e o desespero controlado da cunhada traída, que ela devolvia com demonstrações de alegria! E o marido, apaixonado desde o primeiro dia, na sua santa ignorância, ou no oportuno faz de conta que não sei! E os relâmpagos se sucedem vertiginosamente, até que ela não suporta mais e grita.

O marido, na porta do apartamento, ouve o diagnóstico: enfarto no miocárdio; é questão de horas. Fecha a porta e senta-se na cadeira ao lado da cama. Pega a mão da mulher e, entre triste e aliviado, espera.
–––––––––––––––––-
Vicência Maria Freitas Jaguaribe, natural de Jaguaruana-Ce.
Professora de Literatura e Estilística da Universidade Estadual do Ceará.
Mestra em Literatura pela UFC.
Trabalhos publicados nas áreas de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto.

Fonte:
http://www.conexaomaringa.com/

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Antonio Girão Barroso (1914 – 1990)

Nasceu em Araripe, Ceará, no dia 6 de junho de 1914. Faleceu em Fortaleza (Ceará), em 1990. Escreveu com o pseudônimo Antônio Santos. Participou do Grupo Clã e de outras agremiações culturais. Criou revistas e jornais literários.

Bacharel em Ciências Jurídicas pela UFC com Doutorado em Direito pela mesma Universidade e Contabilista pela antiga Fênix Caixeiral. Professor da UFC (lecionou na Faculdade de Ciências Econômicas e na Faculdade de Direito); escritor, jornalista e poeta, autor de várias obras literárias, foi um dos fundadores do Grupo Clã, um dos mais importantes movimentos literários do Ceará em todos os tempos; membro da Academia Cearense de Letras, com vários livros de poesia publicados. Casou-se em 26.05.1945, na Igreja do Patrocínio com Alba Aragão Cavalcante Barroso, em Fortaleza. Professora formada no Curso Normal do Colégio da Imaculada Conceição, filha de Luiz Cavalcante, de Sobral e de Alda Aragão Cavalcante, de Ipu.

“Quando Antônio Girão Barroso nasceu, no antigo Brejo Seco, hoje Araripe, no Cariri do Ceará, o mundo estava em pé de guerra. Era o ano de 1944, e por estas andas o clima também se apresentava belicoso, com a jagunçada do Padre Cícero Romão Batista botando pra correr Franco Rabelo, o presidente da província (como então se chamavam os governadores de estado). Quando Antônio Girão Barroso começou a escrever poesia, a barra continuava pesada – pelo menos por este Brasil, sob a mão forte de Getulio Vargas, na década de 30. Eram poemas já influenciados pelos jovens que viveram a Semana de Arte Moderna de 22, que desbancou a musa parnasiana de Olavo Bilac para a entrada triunfal da poética sem métrica nem rima.

Mas Antônio Girão barroso não se conteve na poesia. Escreveu contos, foi crítico de artes e repórter (muitas vezes assinando as matérias como Antônio Santos). Formou-se advogado e foi doutor em Ciências Econômicas. Fez parte da Academia Cearense de Letras e, antes, nos idos de 40, ajudou a criar uma agremiação que fez história: o grupo Clã, que reuniu escritores, artistas, intelectuais. Do Clã – originalmente Clube e Literatura e Arte – fizeram parte o artista plástico Aloísio Medeiros; Antônio Martins Filho – o fundador da Universidade Federal do Ceará (UFC); o poeta Artur Eduardo Benevides; o literato Braga Montenegro; o dramaturgo Eduardo Campos; os cronistas Fran Martins e Milton Dias; os contistas João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, entre muitos outros. O Clã produziu uma revista literária, encartada no jornal O POVO, Maracajá, ousada na forma e no conteúdo.

Em 1938, Girão Barroso publica o primeiro livro, Alguns Poemas. Participa, em 1965, da Antologia de poetas cearenses contemporâneos. Em parceria com Cláudio Martins e Otacílio Colares, publica, em 1968, Trinta poemas para ajudar. No início dos anos 70 sai outro livro de poemas, Universos, e em 78 escreve um volume de história e crítica literária, Modernismo e concretismo no Ceará. Na década de 80, sai o livro Dois tempos (Miscelânea em parceria com Inácio Almeida). Antônio Girão Barroso faleceu em Fortaleza, em 1990. Quatro anos depois sai o póstumo Poesias Incompletas, este indicado aos vestibulares de 2006, 2007 e 2008 da UFC.

Poesias Incompletas faz uma retrospectiva da produção literária de Antônio Girão Barroso, começando com Alguns poemas (de 1938). Estação do Trem é dedicado ao poeta Manoel Bandeira – que tem influência preponderante na poesia de Barroso. O poema sugere o trem em movimento, a partir do refrão “Paca-tu-bê-a-bá”, e pinta o cenário das paradas nos lugarejos, o magote de gente oferecendo produtos aos passageiros: “banana seca é o pau que rola”, diz um verso, de delicioso extrato corriqueiro e banal. Há leveza, nestes versos iniciais, e resquícios românticos, parnasianos e simbolistas – mas a escrita do poeta é, sim, moderna.

Ainda deste primeiro livro, um certo desencanto existencial (“a vida todinha/ eu passo dizendo/ me acudam me acudam”), e a consciência do tempo que passa (como no poema Inútil dizer), além de recordações da infância sertaneja – em Menino, o pedido na procissão para Nossa Senhora: “faça de mim um homem bem-bom”. E, claro, há o amor e suas inquietudes, num recorte pró-feminino: “todas as mulheres são iguais; e os homens também”. A influência de Bandeira e Drummond fica explícita em Canção do noivo aflito, um rondó para a noiva “raquitinha” que morreu – “minha noiva não vá não/ senão me jogo no mar”. E em versos de sutil densidade lírica, como no poema Imagem simples: “eu também espero pelo sol que é você”.

Vê-se ainda o poeta e sua consciência do mundo, um olhar sobre a cidade e os homens calados, que “espreitam o bonde das onze e cinco”. Em Único poema proletário, Antônio Girão Barroso dá forma estética ao “drama cotidiano da fábrica de tecidos”. E a uma cena praiana no Pirambu. Em Nihil, o poeta deseja não pensar em nada, “ser apenas um animal que pobremente se alimenta”. Mas, adiante, diz: “a vida me convida; a de novo mover minha imaginação”. A segunda parte do livro traz poemas de Os hóspedes, publicado em 1946. O que ressalta é o sentimento da solidão, a angústia derramando-se no papel branco, mas há o sonho de um mundo melhor.

Mas o poeta finca versos é na esquina de sua rua, espia os arrabaldes, a chuva (sinônimo da esperança), derrete-se de amor: “meu coração, bate devagar/ pode bater devagarinzinho”, diz em Poeta moderno arranja namorada. Mas a lírica não empana o drama real da vida, e por isso ele registra o sofrimento do sertanejo, em mais um momento de seca e retirada: “os pobres sofrem, Maria, porque às vezes/ falta-lhes a água e sobra-lhes o sol”. Em Novos poemas (1950), o poeta ainda louva o amor, mesmo sem rimas, o “que é difícil, mano!”, e canta loa à mulher latino-americana, “dançando rumba e valsa; num mundo de cinema pintura e organdis”. Há até, no Soneto de bodas, uma experiência de poema concreto com o nome da amada, Hermelinda.

Em Trinta poemas para ajudar, de 1964, nenhum deles tem título. O poeta Antônio Girão Barroso está em sua melhor forma. Há, aqui, ecos de surrealismo: “a eurritmia do verso/ e o fragor das batalhas/ o cardume de peixes/ e a donzela morta/ o moço suicida/ (num punho de rede)/ e o laço de fita”. Em Poesia (simultânea) com o sol e a lua, a mescla da quadrinha popular com o espírito jocoso cearense resulta num quase hai kai: “o sol é lindo/ como um limão/ A lua é uma grande traficante”. De Universos, publicado em 1972, a metalinguagem do poema Obrigado, poesia – “porque posso carregar fantasmas a tiracolo”. E mais experiências concretistas.

Em Os dias preguiçosos, um poema decantando a semana, o belo ócio e a leitura dos jornais: “as manchetes nos alimentam mais do que o pão; porém quando chega ao fim do dia/ vemos que havia muita coisa errada nas manchetes”. E arremata: “a filosofia é esta, conversar é bom e beber é melhor”. No Último poema, a profissão de fé do poeta, seu compromisso primordial – com “o homem e sua vida; sua sobrevida/ sua suada subvida”.

Obras:

Alguns poemas (poesia), 1938.
Os hóspedes (poesia), 1946.
Novos poemas (poesia), 1950.
30 poemas para ajudar (poesia, com Cláudio Martins e Otalício Colares), 1968.
Universos (poesia), 1972.
Modernismo e concretismo no Ceará (história e crítica), 1978.
Dois tempos (miscelânia com Inácio A. Almeida), 1981.
Poesia incompleta (poesia), 1994.

Participou de antologia e colaborou em periódico.

Fonte:
Eleuda de Carvalho, do Jornal O POVO. http://www.giraofamilia.com/biografia_39.html

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Antônio Girão Barroso: o percurso de uma poética

A obra literária de Antônio Girão Barroso está inserida no Modernismo e, ao longo de seu percurso, acompanha as evoluções que tal estética sofreu, tanto em relação a traços estilísticos quanto a elementos temáticos. Seus poemas revelam a ruptura com os formalismos anteriores ao modernismo e a busca do coloquialismo da fala brasileira; daí a valorização dos versos livres e brancos ou, então, a combinação de versos de metros variados.

Poesias incompletas, de Antônio Girão Barroso (Edições UFC, 119 páginas) reúne, praticamente, toda a sua produção, cuja linguagem, sem sombra de dúvidas, é ponto de destaque em estética, com acento ao português popular, coloquial, pleno de brasileirismos, de neologismos, expressões populares e emprego irregular dos sinais de pontuação.

Nasceu Antônio Girão Barroso em Araripe (CE) aos 6 de junho de 1914 e morreu, em Fortaleza (CE) em 1990. Realizou a poesia, o conto, a crítica, sendo jornalista e professor universitário – graduado em Direito, fez doutorado em Economia. Foi membro do Grupo Clã – movimento artístico que, nos anos 1940, sedimentou as conquistas modernistas no Ceará -, ao lado de Aluísio Medeiros, Artur Eduardo Benevides, Eduardo Campos, João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, dentre outros.

No poema de abertura, ´Estação de trem´, Antônio Girão Barroso já aponta a sua intenção em romper – particularmente aqui, no Ceará – com os padrões tradicionais da poesia, que se impuseram como verdadeiros cânones antes do advento do Modernismo: do ponto de vista formal, há o livre emprego de versos longos e curtos, sem métrica regular, bem como a presença apenas de rimas ocasionais, a dessacralização da linguagem por meio da fala matuta (´vem danado pra chegá´ – aqui, estabelece-se uma intertextualidade com Ascenso Ferreira, poeta pernambucano, autor dos versos: ´Vou danado pra Catende / com vontade de chegá´) e a exploração de recursos sonoros: Lá-e-vem o trem / lá-e-vem / com seu apito tão fino / vem danado pra chega /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Corre, menina / teu pai chegou / o trem das nove / não já apitou? /// Banana seca é o pau que rola. /// Lá-e-vem o trem / lá-e-vem / com seu apito tão fino / vem danado pra chegá /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Donde vem esse povo? / Vem do Ceará! /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Seu moço, me dê uma esmola / pelo santo amor de Deus… /// esse cego tá fazendo verso?/// O trem vinha puxando noventa / Ah trem espritado! /// Um bando de colegiais / tão fazendo sururu na vila. / Tem um bebendo até cachaça / o Acarape é tão perto / cachaça é quase de graça / contudo ele já gastou seiscentos reis…/// Fiu… / O trem partiu / Pacatuba sumiu. /// (Mas que vontade de voltar…) /// Pacatú-b-a-bá (p. 11-12)

Antônio Girão Barroso, à semelhança de Manuel Bandeira (a quem dedica esse poema, ressaltando a intertextualidade com ´Trem de ferro´, do poeta pernambucano) sabe, muito bem, unir humor, calor humano e ritmos sugestivos.

Ainda que não haja descrições do cenário, este se desenha por sugestões: a princípio, uma casa, onde a mãe lembra à filha a chegada do pai, e a interrogação: ´o trem das nove / já não apitou?´ nos revela que o trem funciona também como um cronômetro coletivo da cidadezinha; por fim, a própria estação, também delineada por gestos e atitudes dos moradores: a oferta de iguarias (mariola); a mendigação (´Seu moço, me dê uma esmola / pelo santo amor de Deus…´) – nesse caso, o rogo, em redondilha maior, deu ao ´moço´ a sensação de que o ´cego´ fizesse ´verso´. O trem, então, muda a paisagem da cidade: incitam-se os colegiais, os botequins… até que o trem parte, desfazendo o sonho.

Ainda que esteja comprometido com a inserção definitiva das idéias modernistas entre nós,

A. G. B. tem, notadamente, conhecimentos da evolução das conquistas modernas (Manuel Bandeira, com ´Libertinagem´; e Drummond, com ´Alguma poesia´ – livros publicados em 1930); desse modo, sente-se à vontade de versejar em ritmo metrificado; mas, no propósito de aliar literatura e povo, escolhe a redondilha (menor) – um dos ritmos mais populares entre nós, conforme, os versos de ´Vida´: Proezas não tenho / na vida tão pau / nem lances terríveis / tragédias enfim / com choros pesados / e mortes no meio / senão que uma vez / morrendo afogado / gritei pros passantes / me acudam me acudam. / Mas isso é tão simples / acho isso tão besta / tão sem novidade / a vida todinha / me acudam, me acudam.

O eu lírico reconhece-se numa pessoa comum, anônima – em verdade, um anti-herói, mergulhado numa vida monótona, sem grandes feitos: ´Proezas não tenho / na vida tão pau´. Assim, não foi lancetado por ´lances terríveis´ ou ´ tragédias´, isto é, não sentiu ainda, por perto, a experiência da morte ou das perdas inexoráveis. Tal atmosfera, porém, é quebrada ao lembrar-se de que, um dia, ´morrendo afogado´, pediu socorro, sendo, portanto, salvo.

O poema, a partir desse momento, aponta uma nota comum em A. G. B.: a fusão do cotidiano a elementos do eu, pois, o elemento externo lhe possibilita criar uma dimensão interior de infinitas complexidades; desse modo, o episódio concreto do afogamento converte-se no espelho de uma postura existencial: a de sentir-se, constantemente, desamparado, sozinho, à mercê do socorro público.

Fonte:
Diario do Nordeste. 22.10.2006. Seção Cultura. http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=375672

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Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense – Parte VIII)

Por fim aqueles que publicaram suas primeiras peças ficcionais curtas em jornais, revistas e antologias ainda nos anos 1970 e somente depois de 1980 estrearam com livro: Nilze Costa e Silva, Fernando Câncio, Carlos Emílio Corrêa Lima, Rosemberg Cariry, Joyce Cavalcante, Audifax Rios, Barros Pinho e Batista de Lima.

Da antologia 10 Contistas Cearenses (1981) Nilze Costa e Silva participou com “O julgamento” e sobre ela escreveu F. S. Nascimento: “Numa proposta reveladora de intenções fictivas, Nilze Costa e Silva faz uso de projeções visionárias, reflexões, reminiscências, definições e indefinições teológicas. Mas seu “O Julgamento” não chega a transpor o deslinde, detendo-se numa esfera espacial reservada às formas contingentes, o que não invalida o seu esforço criador”.

Um dos fundadores da revista O Saco, Carlos Emílio Corrêa Lima publicou suas primeiras composições em jornais e revistas nos anos 1970, mas somente em 1984 teve editado Ofos. Carlos Emílio é daqueles criadores para quem a folha de papel em branco diante dele deve causar angústia, por ser tão pequena, limitada. Carlos Emílio foge aos padrões do conto tradicional quando empurra suas personagens para fora dos restritos espaços de uma sala, de uma casa. Ele prefere os quintais, as praias, os desertos, os campos, as montanhas, os pomares, as árvores, que buscam o firmamento, o mais longínquo, o infinito. Na verdade, o contista não tem a mínima vontade ou necessidade de geografar as suas narrativas, talvez para não se enquadrar neste ou naquele tipo de prosa de ficção, seja o regionalismo, seja outro qualquer.

A linguagem das peças curtas (e dos romances) de CE é esparramada, volumosa, como uma corredeira, uma cachoeira. Ele nem precisa de diálogos, quase sempre curtos. O narrador transmite uma ou outra fala de personagem e continua a narrar. Ele é o protagonista da narração, embora nem sempre seja da narrativa.

O diálogo interior, o fluxo da consciência, todas as modernas linguagens estão presentes nos contos e romances de CE.

O ponto de vista é o mais das vezes o do observador, mesmo quando a primeira pessoa fala, seja ela protagonista, testemunha ou personagem secundária. Às vezes o narrador fala por ele e por outros, na primeira pessoa do plural (nós) e, aqui e ali, muda para o singular (eu). Os outros, no entanto, são bem mais que secundários, são quase que apêndices, figurantes. Em algumas obras narrador não é narrador de verdade. Como se a história já estivesse escrita e fosse o leitor, ao ler, o narrador. O leitor seria, assim, co-autor. Pode-se supor também que a história (se é que há história) é narrada pelo escritor, que pode ser um personagem oculto. Carlos Emílio consegue enganar o leitor com facilidade. Às vezes o narrador parece ser o principal da trama, quando na verdade é apenas um observador, isento quase sempre, imune aos dramas que se apresentam aos seus olhos ou saltam de sua memória. Outras vezes parece ser o protagonista, de tão presente na narração e na narrativa. Mas isto não importa ao leitor.

Muito bem apontou Dimas Macedo, em “Os Enigmas de Carlos Emílio” (LC, pág. 77), ao se referir ao romance Além, Jericoacoara: (…) “não estamos obrigados a concluir pela existência de um enredo, ainda porque o mesmo não se manifesta de forma literal, embora pareça emergir em diversos momentos do seu entretexto”. E assim também se pode observar da leitura de muitos de seus contos: a ausência de enredo ou a sua manifestação de forma furtiva, como o colear de uma serpente. Em “O Barco”, por exemplo, não se vislumbra um enredo. Talvez não haja o enredo tradicional ou mais usual. Ocorre que se trata de um enredo esgarçado, sobretudo quando o narrador parece falar para si mesmo.

Também Rosemberg Cariry se iniciou na poesia e no conto desde os tempos da revista O Saco. Suas histórias curtas são fábulas ou narrativas de crueldade, como a do ratinho do campo que, em visita ao parente urbano, termina como iguaria, em banquete de natal. Ou a mulher que, possuída pelo macho, o expele pela boca, como se fosse ela uma gruta ou um animal grande, e ele, um simples mosquito. Sobre o livro A Lenda das Estrelinhas Magras, de 1984, Ciro Colares assim se manifestou: “Suas estórias, seus contos relâmpagos, seus poemas possuem luz própria, piscam no papel como pirilampos, dando sinais claros de mensagens convincentes e carregando aquela sensibilidade que só as pessoas escolhidas, privilegiadas possuem”.

Joyce Cavalcante deixou o Ceará no início de suas atividades de escritora. Estreou em 1978, com o livro De Dentro Para Fora. Jornalista, romancista, contista, cronista e conferencista, teve editados sete livros de prosa de ficção individualmente e se integrou em oito coletâneas de contos com outros autores. Tem obras traduzidas para o inglês, sueco, francês, italiano, espanhol e holandês. No gênero conto é autora de O Discurso da Mulher Absurda (1985).

Contemporâneo dos contistas surgidos em 1970, porém mais conhecido como artista plástico, Audifax Rios estreou em 1978, com Bar Peixe Frito. Tem elaborado histórias curtas de feição jocosa, sem esquecer o lado trágico da vida. Dimas Macedo, num prefácio intitulado “Gente de Santana” (CI, págs. 221/222), assim se manifestou a respeito da obra de Audifax: “Falar de gente, de pessoas que se encontram pelos bares da vida, principalmente numa tarde de segunda-feira ou numa madrugada de qualquer outro dia da semana, eis um ofício que Audifax Rios sabe fazer como ninguém. Os caminhos e descaminhos de Fortaleza, a Loura Desquitada, amada, possuída, sorvida em deliciosos tragos, ele sabe percorrer e pintar e sentir”.

Quando Barros Pinho publicou o livro A Viúva do Vestido Encarnado, em 2002, muita gente se sentiu surpresa. Todos o conheciam como poeta, desde Planisfério, de 1969. No entanto, em 1971 Barros Pinho participou da Antologia de Contistas Novos, organizada Moacir C. Lopes e publicada pelo Instituto Nacional do Livro. Publicou conto também em O Saco.

Barros faz questão de se apresentar como representante de um neo-regionalismo, de resgate do linguajar nordestino, dos costumes e das tradições.

Os dramas vividos pelos personagens de A Viúva do Vestido Encarnado são dramas universais, embora localizados no sertão do Nordeste brasileiro ou, mais precisamente, às margens do rio Parnaíba, no Piauí.

As narrativas de Barros Pinho têm uma estrutura definida: primeiro ele pinta o espaço em que se desenrolará o drama, em seguida desenha o protagonista e logo o leitor se percebe no meio do redemoinho do conflito. Como bem vislumbrou José Alcides Pinto, em “Barros Pinho: as teias da escritura” (DN, 27/10/2002), “A paisagem geográfica vai se delineando como na montagem de um filme” (…).

Em todo o livro observa-se o emprego de frases curtas e enxutas, até com a supressão de artigos e verbos. A par disso, a linguagem poética é uma constante. Metáforas e mais metáforas são encontradas no decorrer das narrações e nas falas dos personagens, tal como em José de Alencar.

Em “Recriação da linguagem” (DN, 27/10/2002), Dimas Macedo já se referia a este aspecto na obra de Barros Pinho: “Mas poesia, na sua ficção, como no poema, se infiltra, às vezes, quase absoluta, e reina, absoluta, de maneira quase provocante, desafiando jargões, anunciando formas, propondo universos lingüísticos, restabelecendo vernizes populares e códigos de unidade semântica”.

Com A Viúva do Vestido Encarnado Barros Pinho se afirma como uma das revelações da ficção curta não somente no Ceará mas no Nordeste brasileiro, empunhando a bandeira de um novo Regionalismo – poético nas frases e nas falas dos personagens, de elaborada feitura e sem os cacoetes do velho regionalismo.

A surpresa do leitor e do crítico em relação ao contista Barros Pinho também se deu quando Batista de Lima deu a lume o primeiro livro de contos. O autor de Miranças (1977) é outro que vem do início dos anos 1970, embora tivesse se dedicado mais à poesia. Passou a divulgar suas obras de ficção mais recentemente: O Pescador da Tabocal saiu em 1997 e Janeiro é Um Mês Que Não Sossega, em 2002.

Batista utiliza sempre a narração como forma básica de contar as suas histórias. Não há diálogos explícitos, diretos. Tabocal é o grande palco onde as personagens se movimentam, nascem, vivem e morrem. As personagens são a gente do sertão, até mesmo aqueles já desaparecidos, já tornados mitos, como Lampião. São padres, coronéis, doutores, fabricantes de cachaça, valentões, afinadores de violões, coveiros e até animais. Um universo habitado por criaturas às vezes picarescas, mas sempre muito reais. O narrador-escritor ou o narrador-onisciente atua como um memorialista muito cioso da verdade dos fatos ou um repórter astuto.

Em “O Pescador de Tabocal” (Da Pena ao Vento-III), Dias da Silva fala de “linguagem simples, conhecida, cotidiana, correta, mas pessoalmente trabalhada”. E explica: “Não espere, porém, o leitor tratar-se de contos puramente descritivos, lineares, bem arrumados e comportados. São histórias curtas que transmitem a sensação de personagens, de lugares e de objetos como são percebidos e não como são conhecidos”. Quanto aos aspectos formais da obra de Batista de Lima, o crítico destaca a correção gramatical e a concisão.

O segundo livro mereceu uma “Apresentação” de Graças Musy, que captou bem a gênese das narrativas: “A moldura do cenário batistiano é repleta de imagens que resgatam o universo telúrico do autor e explodem, sintagmaticamente, como se quisessem trazer à tona todos os paradigmas de que se valeu, estabelecendo assim uma cumplicidade de linguagem com o leitor, que se assenhora desse universo, seduzido impressionisticamente pelas próprias memórias, que lhe permitem ser um agregado da casa do narrador-autor (…)”

Também Fernando Câncio não tem sido pródigo na publicação de livros. Divulgou em 1979 Meu Nome é Saudade, de “crônicas, contos, casos e devaneios”. Recebeu elogios de Risette Cabral Fernandes: “O micro-conto e a crônica configuram, portanto, o mosaico de sua imaginação, onde está decalcado o seu talento”. Participou da antologia 10 Contistas Cearenses e sobre o seu “A Pagadora de Promessas” anotou F. S. Nascimento: “De início, a impressão que se tem é de um registro à maneira de crônica. Mas o contista não tarda a identificar-se como tal, conseguindo animar a sua personagem a ponto de seu halo se fazer sentir (…)”.

Como se pode observar, nos anos 1970 não foram poucos os escritores cearenses que se dedicaram à prática da ficção curta, uns de forma tradicional, outros mais voltados para as inovações estruturais; uns obedientes à economia verbal, outros atraídos pelos horizontes mais amplos da narração; uns cautelosos na elaboração das histórias, outros dispostos a inventar mais e mais. Seja como for, naqueles anos surgiram importantes narradores no Ceará, alguns colhidos cedo pela foice do tempo, outros ainda em plena atividade intelectual, sejam aqueles que publicaram livros a partir de 1970, sejam os que, embora já escrevessem contos e poemas, somente nos anos 1980 em diante divulgaram em livro as suas obras.
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Segue-se relação de breves biobibliografias dos contistas que despontaram a partir de 1970. Como na parte anterior, os contistas serão apresentados na ordem cronológica de edição do primeiro livro de contos. Cada um será focalizado em separado, para facilitar a leitura. A seguir virão, em ordem alfabética, os contistas que não ousaram reunir em livro as suas obras.

Francisco Sobreira nasceu em Canindé, Ceará (1942), passou a residir em Fortaleza e, em 1965, em Natal, Rio Grande do Norte. Por esta razão, seu nome é hoje muito mais conhecido neste Estado do que naquele onde nasceu. Assim o vêem os críticos potiguares, como Nelson Patriota, que, nas abas do livro Crônica do Amor e do Ódio, ao se referir à vasta produção de Sobreira no gênero conto, destaca tratar-se “de uma produção sem paralelo na história literária norte-rio-grandense”. E ainda o chama de “modelo para futuros ficcionistas potiguares”.

Deu a lume o primeiro livro usando o sobrenome Bezerra após Sobreira. Estreou, no gênero conto, em 1972, com A Morte Trágica de Alain Delon. Seguiram-se A Noite Mágica (1979), Não Enterrarei os Meus Mortos (1980), Um Dia … os Mesmos Dias (1983), O Tempo Está Dentro de Nós (1989), Clarita (1993), Grandes Amizades (1995) e Crônica do Amor e do Ódio (1997). É autor dos romances Palavras Manchadas de Sangue (1991), A Venda Retirada (1998) e Infância do Coração (2002). Tem participado de antologias no Rio Grande do Norte e no Ceará. Ganhador de prêmios literários. Exerceu a crítica cinematográfica na imprensa de Natal e se dedicou ao cineclubismo nas décadas de 1960 e 1970.

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Socorro Trindad, nascida em Nísia Floresta, Rio Grande do Norte (1950), fez uma espécie de permuta geográfica com Francisco Sobreira, pois passou a morar em Fortaleza, onde estudou e escreveu algumas de suas narrativas. Depois se radicou no Rio de Janeiro.

Estreou em 1972, com o volume Os Olhos do Lixo, com prefácio de Câmara Cascudo. Seguiu-se Cada Cabeça uma Sentença, em 1978, com prefácio de Aguinaldo Silva, intitulado “A Árdua Batalha Contra os Papangoos”.
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Holdemar Menezes nasceu em Aracati, (segundo Raimundo Girão, em Jaguaruana) em 1921, e faleceu em 1996. Moço ainda saiu de Fortaleza, tendo morado no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, razão pela qual geralmente não é mencionado pelos estudiosos da Literatura Cearense e aparece em antologias de escritores catarinenses. Hélio Pólvora o chama de “escritor cearense-catarinense”. Deixou os seguintes livros: A Coleira de Peggy (1972), O Barco Naufragado (1977), A Sonda Uretral (1978) e Os eleitos para o sacrifício (1984).
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Cláudio Aguiar nasceu em Poranga (1944). Apesar de radicado por muitos anos em Pernambuco, não deixa de ser escritor cearense. Teve impressos Exercício Para o Salto (1972) e Depoimento de um Sábio (1977). Sua obra literária está exaustivamente analisada por diversos críticos, brasileiros e estrangeiros, em artigos e ensaios reunidos no livro Viento del Nordeste, com o subtítulo Homenaje Internacional al Escritor Brasileño Cláudio Aguiar, em espanhol, da Universidad Pontificia de Salamanca, 1995.
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Gilmar de Carvalho nasceu em Sobral (1949) e editou os livros Pluralia Tantum (1973), Resto de Munição (1982), Queima de Arquivo, Buick Frenesi e Pequenas Histórias de Crueldade. Escreveu também para teatro, crônicas e um romance fundamental da literatura cearense ou brasileira, Parabelum. Tomou parte da antologia O Talento Cearense em Contos, com “Coração Materno II”.
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Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral (Fortaleza). Uma das fundadoras do Grupo Siriará. Morou em Brasília de 1980 a 1994, onde foi redatora dos Cursos da Universidade Aberta, da UNB. Tem um livro de histórias, O Menino D’água (1976) e romances. Com o “Casamento” fez parte da antologia O Talento Cearense em Contos.
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Mario Pontes nasceu em Novas Russas (1932). Reside no Rio de Janeiro desde 1958. Além de contista, é romancista e ensaísta. É outro que, vivendo há muitos anos longe do Ceará, tem seu nome poucas vezes citado nos artigos e ensaios de literatura cearense. Tornou-se jornalista aos 16 anos de idade. Durante meio século trabalhou em revistas culturais e suplementos literários, como o do Jornal do Brasil, que editou por muitos anos. Estreou em 1977, com o volume Milagre na Salina, embora catalogado como romance. No entanto, o próprio Mario Pontes explica, em nota prévia, o que é seu livro: “histórias da Salina”. Em 1999 editou pela Bertrand Brasil, do Rio de Janeiro, o volume Andante Com Morte – Quatro Ficções, composto das novelas “A Morte Infinita”, “Sentinelas da Noite”, “A Engrenagem Universal” e “A Nova Rota da Seda”, catalogadas como contos. Tem traduzido importantes obras filosóficas e literárias, entre as quais do Prêmio Nobel espanhol Camilo José Cela e textos teatrais de Julio Cortázar.
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Yehudi Bezerra nasceu em 1946 e faleceu jovem, tendo deixado impresso apenas um livro de histórias, Tocaia (1977). Deixou inéditos Momentos (poemas de 1964 a 1970), Barriga de Bombo ou As Desventuras de Pedroca Mundo, 1º. lugar no Concurso Universitário de Peças Teatrais, promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e, inacabados, A Revolução das Bonecas e o romance Tonante.
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José Hélder de Souza nasceu em Massapê (1931) e cedo se mudou para o Rio de Janeiro e depois Brasília. Contista, poeta, romancista e crítico literário, é autor de Coisas & Bichos (1977), Rio dos Ventos (1992) e Pequenas Histórias Matutas (2000), no gênero conto. Em outros gêneros publicou A Musa e o Homem (1959), A Grandeza das Coisas (1978), Os Homens do Pedregal (1979), Sonetos de São Luiz (1981), De Mim e das Musas (1982), Cabo Plutarco, O Berro D’água (1982), Raul de Leoni, Poeta de Transição (1984), Relvas do Planalto (1990), Brilhos e Rebrilhos de Goiás (1990).
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Glória Martins estreou em 1978 (2ª edição de 1999) com o volume Reencontro, prefaciado por Pedro Paulo Montenegro, para quem “a nota dominante (no livro) é a espontaneidade, espontaneidade tão grande que pode mesmo a alguns parecer, em determinados momentos, descuidos formais.”
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Joyce Cavalcante (Fortaleza, 1949) mora em São Paulo. Iniciou-se na revista O Saco e integrou o Grupo Siriará. Estreou em 1978, com o livro De Dentro Para Fora. Jornalista, romancista, contista, cronista e conferencista, teve editados sete livros de prosa de ficção individualmente e se integrou em oito coletâneas de contos com outros autores. Tem obras traduzidas para o inglês, sueco, francês, italiano, espanhol e holandês. No gênero conto é autora de O Discurso da Mulher Absurda (1985). Idealizadora e atual presidente da REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras. Incorporou-se nas seguintes antologias: Contos Pirandelianos (Editora Brasiliense, SP, 1985); O Outro Lado do Olhar (Verano Editora, Brasília, 1988), com quatro peças, ao lado de outras quatro contistas; Contos Paulistas (Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1988); Antologia do Conto Cearense (Edições Tukano, Fortaleza, 1990); Contra Lamúria, Ano 20, 1974/1994 (Casa Pindaíba, São Paulo, 1994); O Talento Cearense em Contos (Editora Maltese/Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, São Paulo, 1996), da qual foi a organizadora; Letras ao Sol (Edições Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza, 1996). Tem também peças ficcionais em jornais e revistas, como Seara: “Um Desejo de Verão, uma Brincadeira no Ar” (n.º 6) e “Movimento Sem Fim” (n.º 7) e Espiral: “Um peixe entre as pernas” (n.º 1).
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Gerardo Mello Mourão nasceu em Ipueiras (1917). Reside há vários anos no Rio de Janeiro. Romancista, poeta, contista, ensaísta, tradutor e jornalista. No gênero conto publicou, em 1979, Piero Della Francesca ou As Vizinhas Chilenas, constituído de 19 narrativas. Estreou em livro com Poesia do homem só, 1938. Seu primeiro romance foi O Valete de Espadas, 1960. Recebeu o Prêmio Mário de Andrade, da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1972.
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Geraldo Markan nasceu em Fortaleza (1929), onde morreu, e é autor dos livros O Mundo Refletido nas Armas Brilhantes do Guerreiro, Edições Siriará, 1979, e Canoa Quebrada – Oniricrônicas, de 1980, além de peças de teatro. Reuniu-se a outros contistas em antologias, como O Talento Cearense em Contos, com “Primeira Rosa para Norma Jean”, e Antologia Literária (1.º Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral), com “Quem Resiste ao Tango?” (2º.).
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Airton Monte nasceu em Fortaleza (1949) e nunca dela se mudou. Filho de Airton Teixeira Monte e Valdeci Machado Monte. Médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará, cronista do jornal O Povo, comentarista de rádio, redator de televisão, letrista, teatrólogo, é essencialmente poeta e contista. Iniciou-se na revista O Saco, onde publicou histórias. Um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura. Estreou, no gênero conto, com o volume O Grande Pânico (1979), seguido de Homem Não Chora (1981) e Alba Sangüínea (1983). Tem no prelo Os Bailarinos. Participou de algumas antologias: Os Novos Poetas do Ceará III, Antologia da Nova Poesia Cearense, Verdeversos e 10 Contistas Cearenses. Tem também um livro de poemas.
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Paulo Véras nasceu no Piauí (1953), tendo se radicado em Fortaleza, onde faleceu precocemente. Estreou em 1979, com O Cabeça-de-Cuia. Embora tenha editado apenas uma coleção de prosa de ficção, é nome obrigatório em todo inventário do conto cearense.
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Fernando Câncio Araújo (Fortaleza, 1922), cronista, poeta e contista, divulgou em 1979 o livro Meu Nome é Saudade, de “crônicas, contos, casos e devaneios”, e Pelos Caminhos do Norte, de contos. Integrou-se em antologias, como 10 Contistas Cearenses. 6º. com “Chão Violento”, no 1º. Prêmio Cidade de Fortaleza.
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Nilze Costa e Silva (Natal, RN, 1950) passou a morar em Fortaleza com um ano de idade. Romancista e contista. Autora de Viagem (1981) e Dilúvio (1988), no gênero conto. Tem se incorporado a coletâneas, como 10 Contistas Cearenses (1981), Multicontos (1984), Antologia de Contos Eróticos (1988), com “O Exibicionista e a Espectadora Solitária”; Antologia do Conto Cearense (1990), com “Procura-se”; Antologia do Conto Erótico (1992); O Talento Cearense em Conto (1996); Iracemar (1996) e Talento Feminino em Prosa e Verso (2002). Tem também narrativas em jornais e revistas, como Seara e Espiral.
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Rosemberg Cariry nasceu em 1953 em Farias Brito. Fundou a revista Nação Cariry e ajudou a criar o Grupo Siriará. Poeta, letrista, pesquisador de folclore, cineasta e contista, vem publicando desde o início dos anos 1970. Seu primeiro livro, de poemas, Semeadouro, saiu em 1981. Incluído em Queda de Braço – Uma Antologia do Conto Marginal, de 1977, com os minicontos “A Visita” e “Um Mosquito na Boca da Amante”. No gênero ficção menor tem o livro A Lenda das Estrelinhas Magras, de 1984.
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Carlos Emílio Corrêa Lima nasceu em Fortaleza (1956). Morou no Rio de Janeiro. Um dos fundadores de O Saco. Editou seus primeiros contos em jornais e revistas. Somente em 1984 teria editado o volume Ofos. Tem mais três inéditos. Publicou, ainda, os romances A Cachoeira das Eras (1979), Além, Jericoacoara (1982) e Pedaços da história mais longe (1997). Correspondente da revista espanhola de literatura e artes El Paseante durante vários anos, também tem sido editor de diversas publicações em Fortaleza e no Rio de Janeiro, como o jornal Letras & Artes (prêmio APCA para melhor divulgação cultural cultural do país em 1990) e a revista Arraia Pajéurbe, lançada em 2001. Tem exercido a crítica literária. Participou da fundação e da consolidação de inúmeros movimentos literários no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro, tais como o Siriará, o CEP 2000 e o Rodas de Poesia. Em 2002 teve editado Virgílio Varzea: os olhos de paisagem do cineasta do Parnaso (Editora UFC e Fundação Catarinense de Cultura). Mestre em Literatura Brasileira pela UFC.
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Audifax Rios, natural de Santana do Acaraú (1946), é mais conhecido como artista plástico. Versátil, tem divulgado alguns livros, onde mistura realidade à ficção, sempre se valendo da memória e da observação. Estreou em 1978, com Bar Peixe Frito, classificado como novela. Já Fez a sua Fezinha Hoje?, de 1987, seria seu primeiro livro de contos. Seguiram-se Gentes da Licânia (1989), Porto do Bingo (1990), Os Descaminhos da Loura Desquitada (1992), Viventes de Aroeiras (1993) e Iracemar (1996).
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Moacir C. Lopes nasceu em Quixadá (1927). Cedo passou a habitar em Baturité, depois Fortaleza, fez-se marinheiro e conheceu o mundo, até se radicar no Rio de Janeiro. Estreou em 1959, com o romance Maria de Cada Porto. Seguiram-se diversos romances, traduzidos para idiomas como russo, checo, inglês. Em 1969 fundou a Editora Cátedra. Em 1971 organizou e editou a Antologia de Contistas Novos. Seu primeiro livro é O Navio Morto e Outras Tentações do Mar, de 1995.
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Eugênio Leandro teve uma história publicada na revista Siriará, intitulada “O Vale das Pedras”. Editou um volume de contos, Nas Terras do Rei Piau e tem outro inédito. É cantor e compositor dos mais destacados no Ceará.
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Batista de Lima (José), nascido em Lavras da Mangabeira (1949), embora pertença ao “grupo” da revista O Saco, pois seu primeiro livro, de poemas, é de 1977, passou a divulgar seus contos mais recentemente: O Pescador da Tabocal saiu em 1997 e Janeiro é Um Mês Que Não Sossega, em 2002. Seminarista no Crato, formou-se em Letras e Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especializou-se em Teoria da Linguagem na Universidade de Fortaleza, onde exerceu a chefia do Departamento de Letras e a diretoria do Centro de Ciências Humanas. Cursou o mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará. Iniciou-se como professor de Português em colégios de Fortaleza. Na vida literária deu os primeiros passos no Clube dos Poetas Cearenses. Mais tarde participou ativamente dos grupos Siriará, Arsenal, Catolé e Plural. De poesia publicou os livros Miranças (1977), Os Viventes da Serra Negra (1981), Engenho (1984) e Janeiro da Encarnação (1995). Na área do ensaio literário deu a lume, em 1993, Os Vazios Repletos e Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem, e, em 2000, O Fio e a Meada – Ensaios de Literatura Cearense. Membro da Academia Cearense de Letras.
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Barros Pinho, nascido em Teresina, Piauí (1939), tornou-se cearense no decorrer do tempo. Filho de Antônio Bezerra de Pinho e Ana Barros de Pinho, é bacharel em Administração Pública, formado pela Escola de Administração do Ceará. Participou do Grupo SIN e se iniciou em livro com Planisfério, poemas, em 1969. Seguiram-se Natal de Barro Lunar & Quatro Figuras no Céu (1970), Circo Encantado (1975), Natal do Castelo Azul (1985), As Pedras do Arco-Íris ou Invenção do Azul no Edital do Rio (1988), todos de poesia. Participou de algumas antologias de prosa e verso, como Mini-Sinantologia (1968), Sinantologia (1968), Antologia dos Novíssimos Contistas do Brasil (1963), organizada por Moacir C. Lopes, Antologia Poética Projeto Mão Dupla (s.d), Antologia da Academia Cearense de Letras (1994) e A Poesia Cearense no Século XX. Editou A Viúva do Vestido Encarnado, em 2002, pela Editora Record. Barros faz questão de se apresentar como representante de um neo-regionalismo, de resgate do linguajar nordestino, dos costumes e das tradições.
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continua… “Outros que não chegaram a publicar livros de contos”.

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