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Pedro Ornellas (As Artes do Pedro III)


TROVAS

Quando, à noite, em quantidade,
voltam lembranças de outrora,
eu posso ouvir a saudade
batendo palmas lá fora!

Por natureza, enganosa;
meiga e boa, quando quer…
Fogo e gelo, espinho e rosa;
anjo e demônio: mulher!

Na vida, imensa coxilha,
zombando do meu fracasso,
felicidade é novilha
mais ligeira que o meu laço!

Tive a noção do fracasso
quando o tempo, em desvario,
encheu de ausências o espaço
que o sonho deixou vazio!

Falham medidas extremas,
mesmo calando o argumento;
porque ninguém põe algemas
nos pulsos do pensamento!

“Vá lá ver se chove ou não”
E o filho (também deitado):
“Ir lá, prá que? Chame o cão,
e vê se ele tá molhado!”

Matuto explica o defeito
da TV que teve um ‘curto’:
– Ela proseia dereito,
mas não aparece o vurto”

Chegou tarde, a vista torta
do boteco, o Zé Morais…
viu DUAS SOGRAS na porta
– e não bebeu nunca mais!

* * * * * * * * * * *

PENSAMENTO

“Conheço o verdadeiro amigo pelo número de vezes que me diz: Cuidado!”

PROVÉRBIO
Pedreiro sem prumo, parede sem rumo.

HAICAI

Arroz cacheando
chuveirada repentina
sorrisos molhados.

S O N E T O

Lição

Tantas lições ela ensinou-me enfim
que perco a conta! E no entretanto, aquela
tão grande efeito teve sobre mim
que me enterneço quando penso nela!

Era pequeno, e olhando da janela
tive a noção real do amor sem fim
ante a beleza da visão singela:
Mamãe plantando flores no jardim.

Já não a tenho… mas evoco ainda
para conter-me, aquela imagem linda
que um pensamento ou gesto rude amansa.

E volta a cena, nítida, real,
que poderia ser talvez banal
não fosse aquele o dia da mudança!

Fonte:
Pedro Ornellas

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