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Trova 266 – Roberto Pinheiro Acruche (São Francisco de Itabapoama/RJ)

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Varal de Trovas n.49 – Nemésio Prata Crisóstomo (CE) e Roberto Pinheiro Acruche (RJ)

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Roberto Pinheiro Acruche (Caderno de Trovas)

A alvorada, em seus traços,
me trouxe nova esperança
de ter de novo em meus braços
quem não me sai da lembrança.

Amor! Eu estou morrendo
de saudades de você.
Amor, eu só estou vivendo,
de amor por quem não me vê.

Ao abrir minha janela,
inundada de luar,
mais forte a lembrança dela
fez a saudade apertar.

Ao passar a mocidade,
aquecida, tal verão,
o sol da maturidade
me deu nova direção!

Arteiro, ágil e risonho…
Era assim, na mocidade!
Hoje cansado e tristonho,
só leva o peso da idade.

A tristeza em minha casa
está num quarto vazio:
de dia a saudade abrasa,
à noite mata de frio.

Chorei de tanto sorrir!
Sorri ao chegar o fim,
de pensar não existir
amores falsos por mim!

Enquanto estas a sorrir…
Evitas o que aborrece.
Tristeza pode existir,
mas delas, você esquece!

Era jovial e prosa,
Bom contador de vantagens.
A vida lhe foi calosa…
Está no fim da viagem!…

Esta vida é complicada,
imagine, meu consorte,
pois se a vida é temporada,
que será, então, a morte??

Eu bebi para esquecer
esqueci porque bebi,
agora quero saber,
o que será que esquecí?

Eu nunca vivi uma guerra!
Jamais vivi uma tragédia!
Se a dor no meu peito encerra…
Será que a vida é comédia?

Jurou-me que voltaria…
Eu juro, muito esperei!
Outra vez você mentiu…
Outra vez acreditei.

Mágico é teu esplendor,
outono da minha vida.
Beijo a sorte, vivo o amor…
Ironizando a partida.

Meu coração bate forte
ao chegar sua mensagem
que bom se tivesse a sorte…
Vê-la chegar da viagem.

Minha saudade e alegria
no Natal é recordar
do amor que meu pai trazia
quando vinha me abraçar!

Ministros e Presidente
tentam dar explicação,
mas o povo, infelizmente,
é quem paga o apagão!…

Nada ainda terminou!
Então siga a caminhada…
Se o mundo não acabou,
A vida não está parada!

Na madrugada, tristonho,
Sem sono o jovem medita
A vida é um grande sonho,
Feliz quem nele acredita.

Na semeadura errada
Você cultivou espinho,
mas hoje, em triste jornada,
anda descalço e sozinho.

Nas rimas quanta saudade,
De tão triste até chorei,
és uma grande verdade…
Tão pouca vida te dei.

Natal… dia de alegria…
de festa…sentimental!
Ah!… tão bom se todo dia
fosse dia de Natal!…

Natal! É festa de luz!
Vou comemorar com amor,
agradecendo a Jesus
o meu mestre e salvador!

Nesta vida o tempo passa
o meu consolo é você!
Mas sou poeta sem graça,
quando passas e não me vê!

Nunca foi obra de arte,
mulher de cintura fina,
digo isso em qualquer parte,
ela é uma obra divina!

O que eu não quero é morrer
quero ser doce lembrança
sempre que eu merecer
Te encontrar feito criança

O sonho do trovador
é fazer trova perfeita;
não consegui ser o autor,
mas consegui vê-la feita!

O tamanho do meu sonho
não se mede em comprimento
mas nos versos que componho
na medida do lamento…

Por capricho do destino
te encontrei tarde demais
Sou badalo, você o sino
sou a moça, tu és o rapaz.

Por momento passageiro
fostes trocar os teus sonhos.
Vive agora o tempo inteiro
dias vazios, tristonhos…

Posso reclamar de tudo…
Direito que me convém!
Mais fico todo “sisudo”
quando reclamas também.

Quando chove reclamamos
e se não chove também.
Se a chuva traz certos danos,
outros têm quando não vem.

Quando te amei de verdade,
jamais eu pensei, “por certo”,
Que tu serias saudade
e o meu coração, “deserto”!

Que nós somos filhos Teus,
muitos dizem, e acredito…
Boníssimo pai, meu Deus…
Teu amor é tão bonito!

Quero um natal diferente
Com muita paz e união
Que as bênçãos do onipotente
Alcance toda a Nação.

Sabiá da minha terra,
Por que vem cantar aqui?
Não sabe seu canto encerra
Saudades de onde vivi?…

Se eu pudesse voltar à infância
Nem que fosse por um dia
Abraçaria a inocência
e nunca mais a soltaria.

Se eu tivesse te encontrado
antes, meu imenso amor;
teus olhos que estão molhados
não chorariam de dor.

Se o hoje é cheio de dor
não pense que a vida é vã…
enquanto existir amor,
sustente a fé no amanhã!!!

Somente o amor verdadeiro
é por Deus abençoado;
e por não ser passageiro
é tão sublime e sagrado!

Sopra a brisa, sopra a vida,
passa o tempo, o tempo passa…
Andei por uma avenida
sem luz, sem amor, sem graça!

Sou um rio nesta vida
e você meu belo mar;
tento lhe adoçar querida,
você só faz me salgar!…

Trabalho que nem “saúva”,
para ganhar o meu pão
pois, lá do céu, só cai chuva
e, às vezes, um avião…

Trabalhou por longo tempo
nos muitos anos vividos…
e traz agora o lamento
nos seus ombros doloridos.

Tua voz é melodia,
com bemóis e sustenidos,
a mais perfeita harmonia
a encantar meus sentidos.

Uns me chamam de poeta…
Já outros, de Trovador!
Eu só sei que a minha meta,
é escrever com muito amor.

TROVAS A DUAS MÃOS

Quero o sorriso mais belo
Quero o olhar mais bonito… (Roberto Acruche)
com eles, formar um elo
entre a terra e o infinito… (MariluX)

Queria que neste dia
reinasse a felicidade (Roberto Acruche)
trazendo muita alegria
aos homens de boa vontade (Claret)

Vinha andando pela rua…
Foi aí que te encontrei (Roberto Acruche)
Relembrei as noites de lua
Que do seu lado eu passei (Beth)

Mas a vida continua
e de ti eu esqueci. (Sonho Azul)
-Ah! Quantas saudades tua…
E quanto tempo eu perdi!… (Roberto Acruche)

Fonte:
http://robertoacruche.blogspot.com.br

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Machado de Assis (Gazeta de Holanda) N. 2 – 5 de Novembro de 1886

Voilà ce que l’on dit de moi
Dans la “Gazette de Hollande”.

Muito custa uma notícia!
Que ofício! E nada aparece,
Que canseira e que perícia!
Que andar desde que amanhece!

E tu, leitor sem entranhas,
Exiges mais, e não vês
Como perdemos as banhas
Em te dar tudo o que lês.

És assim como um janota
De maneiras superfinas,
Que não sabe o preço à bota
Com que cativa as meninas.

Agora mesmo, buscando
Saber de associação
Que se deu ao venerando
Ofício de proteção

Aos animais — não sabia
Onde achasse os documentos
Dessa obra de simpatia,
Para transmiti-la aos ventos.

Achei quatrocentas atas
De reuniões semanais,
Ofícios, notas e datas,
Tudo espalhado em jornais.

Mas das ações praticadas
Em favor da bicharia,
E das vitórias ganhadas,
Nada disso conhecia.

Então lembrei-me de um burro,
Sujeito de algum valor,
Nem grosseiro nem casmurro,
Menos burro que o senhor.

E pensei: “Naturalmente
Traz toda a historia sabida;
É burro, há de ter presente
A proteção recebida”

Lá fui. O animal estava
Em pé, com os olhos no chão,
Tinha um ar de quem cismava
Cousas de ponderação.

Que cousas, porém, que assunto
Tão grave, tão demorado,
Ocupava o seu bestunto,
Nada lhe foi perguntado.

Talvez, ao ver-se assim magro,
Cativo como um nagô,
Pensasse no velho onagro,
Que foi seu décimo avô.

Entrei, dizendo-lhe a causa
Daquela minha visita;
Ele, depois de uma pausa,
Como gente que medita,

Respondeu-me: — Em frases toscas
Mas verdadeiras, direi,
Enquanto sacudo as moscas,
Tudo o que sobre isto sei.

Juro-te que a sociedade,
Contra os nossos sofrimentos,
Tem obras de caridade,
Tem leis, tem regulamentos.

Tem um asilo, obra sua,
Belo, forte, amplo e capaz;
Já se não morre na rua,
Dá-se ali velhice e paz.

Gozam dessa benta esmola,
Em seus quartos separados,
Mais de uma onça espanhola,
E muitos gatos-pingados.

Todos os galos na testa
Acham lá milho e afeição;
Lá vive tudo o que resta
Da burra de Balaão.

Mora ali a vaca fria.
E mais a cabra Amaltéia,
Única e só companhia
Do pobre leão de Neméia.

Não posso fazer elipse
Dos bichos caretas, nem
Da besta do Apocalipse,
Que ali seu abrigo têm.

E o cisne de Leda, e um bode
Expiatório, e o cavalo
De Tróia, escapar não pode;
Mas há outros que inda calo.

Peguei no papel, e a lápis
Escrevi tudo, e escrevi
Mais o nome do boi Ápis,
Que ele inda me disse ali.

E perguntei: — Meu amigo,
Por que é que a tantos amaina
O tempo, naquele abrigo,
E você anda na faina?

Ele, burro circunspecto,
Asno de boa feição,
Tirou de fino intelecto
Esta profunda razão:

— Se eu estivesse ali junto
Com outros da minha banda,
Você não tinha este assunto
Para a “Gazeta de Holanda”.

Vá consolado: que importa
Que eu viva cá fora ou lá?
Qualquer porta há de ser porta,
Para sair; vá, vá, vá.

E enquanto assim me dizia
frases que chamava toscas,
Chagas de pancadaria
Iam convidando as moscas.

Lá o deixei como estava,
Em pé, com os olhos no chão,
Parecendo que cismava
Cousas de ponderação.

Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.

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Trova em Imagem n. 264 – Roberto Pinheiro Acruche (RJ)

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5 de dezembro de 2013 · 22:10

Machado de Assis (Gazeta de Holanda) N. 1 – 1 de novembro de 1886

Voilà ce que l’on dit de moi
Dans la “Gazette de Hollande”.

Um doutor da mula ruça,
Caolho, coxo e maneta,
É o homem que se embuça
No papel desta gazeta.

Gazeta que, se tivesse
Outra forma, outro formato,
Pode ser que merecesse
Vir com melhor aparato.

Mas é modesta, não passa
De uma folha de parreira,
Que dá uva, que dá passa,
Que dá vinho e borracheira.

Traz programa definido,
Para entrar no grande prélio;
Nem bemol, nem sustenido,
Nem Caim, nem Marco-Aurélio.

Não traz idéias modernas,
Nem antigas; não traz nada.
Traz as suas duas pernas,
Uma sã, outra quebrada.

E vem, como é de ciência,
Entre muletas segura,
A muleta da inocência,
E a muleta da loucura.

Se uma não pega, outra pega,
E fica o corpo amparado;
Se para um lado escorrega,
Fica-lhe sempre outro lado.

De modo que, quanto diga,
Seja ou não o que a lei manda,
Há de achar entrada amiga
Esta Gazeta de Holanda.

Que traga idéias a folha
Liberal que se anuncia,
Que as espalhe, que as escolha,
Como a Reforma fazia.

Vá que seja — posto seja
Tarefa das mais reversas,
Fazer uma só igreja,
De tantas seitas diversas.

A prova é que, ainda agora,
Já pronta a bagagem sua,
Somente esperando a hora
De sair a folha à rua,

Feito um capítulo apenas,
De tão diversos capítulos,
E, contando boas penas,
Já traz a folha dois títulos.

Voz da Nação, ou — Gazeta
Nacional; só falta a escolha.
Já principia a marreta,
Antes de sair a folha.

Eu cá, perfeita unidade.
Ora aprovo, ora contesto,
Sem que haja necessidade
De ouvir protesto e protesto…

Exemplo: ao ler que se trata
De fazer um edifício
Para o júri: — colunata,
Vasto e grego frontispício,

E que esta idéia bizarra
Nasceu mesmo agora, agora,
Quando foi ali à barra
Uma distinta senhora;

Quando a afluência de gente
Era tal, que o magistrado
Teve de ir incontinente
Pedir sabão emprestado;

Comigo disse: — Bem feito
Que a Joaninha expirasse
De uma moléstia do peito,
E que a Eduarda cegasse.

Só assim tínhamos prédio
Para um tribunal sem nada;
Não foi morte, foi remédio;
Foi vida, não foi pancada.

Pangloss, o doutor profundo,
Mostra que há grande harmonia
Entre as cousas deste mundo,
Entre um dia e outro dia;

Que os narizes foram dados
Para os óculos; portanto,
Trazem óculos pousados…
Pangloss é o meu padre-santo.

Logo, se uma e outra escrava
Brigaram sem sentimento,
A razão de ação tão brava
Foi termos um monumento.

Neste ponto o ponto pingo,
E despeço-me no ponto
Em que cada novo pingo,
Já não é ponto, é posponto.

Fonte:
Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.

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Edinar Corradini / RJ (Meu Poeta)

Edinar é de Teresópolis/RJ
—-
Da coletânea Declame para Drummond 2012
110º aniversário do poeta e vários poemas no meio do caminho pelo Brasil
Me debruço sobre teus poemas, sinto-me viva.
E mansamente minha alma Cresce
Cada verso teu acorda meus sonhos
Por sentir teu cantante em meus ouvidos
Passear pelos versos num florir de das palavras
Em minha mente aquela essência
Como um perfume de uma flor que o vento trás
Vejo teus versos conversar comigo 

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Marina Colasanti (Achadas e Perdidas?)

Uma bala perdida alcançou o ator Older Cazarré no sono, e o matou. No dia 1.2 do mês, uma menina de nove anos tinha sido ferida por uma bala perdida, quando brincava em sua casa, em Vila Isabel (sua casa estava sendo atingida pela terceira vez). E no dia seguinte, em Costa Barros, cinco crianças foram feridas pelas sobras de um tiroteio entre PMs e,traficantes. O mês em nada se diferencia dos meses anteriores. E, como todos os meses no Rio de Janeiro, tempo de safra das balas perdidas.

 Pergunto-me por que continuamos usando essa expressão “bala perdida”. Afinal, perdido é aquilo que sumiu, que não mais conseguimos encontrar. E as balas perdidas sabemos muito bem onde vão parar. Só no prédio de Cazarré a polícia recolheu cinco delas, sendo que uma estava encravada na cabeceira da cama do subsíndico José Carlos Freire, a um palmo da sua cabeça.

 Perdido é também aquilo que foi destruído, que é irrecuperável. Mas as balas perdidas são recuperabilíssimas; para reavê-las, basta afundar o canivete na parede de uma casa pacífica ou na cabeceira de uma cama, e mergulhar o bisturi na carne. E certamente não foram destruídas. Destruídos são a pele, o osso, o órgão. Destruídos são a segurança. E a vida.

 Usa-se a palavra “perdida” também no sentido de distante, longínqua. Mas bem gostaríamos que as balas perdidas estivessem distantes. Antes aparentemente longínquas porque limitadas às áreas de banditagem, estão se aproximando a cada dia, varando nossas vidraças e nossa serenidade. Bala perdida, hoje, é justamente aquela mais próxima do que todas as outras, a que nos atinge.

 Perdida significa ainda prostituta, a que, por dinheiro se concede. E mais uma vez a palavra não encaixa nessas balas que, como pipas negras, cruzam nossos ares. Bala prostituta não é aquela que atinge quase ao acaso pessoas de bem, pessoas que nada têm a ver com as transações nefandas em cujo nome a bala é disparada. Bala prostituta é aquela que cumpre sua tarefa, que mata por dinheiro, e que só por dinheiro se “concede”.

 E, ainda dentro do mesmo sentido, perdida quer dizer aquela que “sai do bom caminho”. Mas como aceitar que o percurso de uma bala, visando a morte, seja considerado um bom caminho? Ainda que saia da arma de um traficante para o peito de outro traficante ou mesmo da arma de um policial para o peito de um meliante, a bala traça sempre o pior de todos os caminhos. E repugna considerar bom um caminho da morte, apenas porque obedece à mira. Não existe bom caminho para as balas. Nem na guerra, nem na caça. E muito menos no cotidiano de uma cidade.

 Assim também a consciência hesita em aceitar seu sentido como “errada”. Não apenas porque não podemos concordar com a existência da bala certa, mas porque, se é verdade que a bala perdida errou o alvo, é igualmente verdade que acertou sua função. Pois quem fabrica o projétil e o enche de pólvora não está lhe incutindo um alvo, mas apenas dando-lhe a capacidade de penetrar, rasgar e explodir, que são sua razåo de ser. Bala errada, e portanto bala perdida, é para seu fabricante a que se perde n~ grama, sem condições de ferir ninguém, nem hoje nem nunca. E a bala que desperdiça seu poder mortífero.

 Nem lhe cabe o sentido de “aflita” ou “ansiosa”, que o dicionário registra. Uma bala nunca está ansiosa. Uma bala não hesita, não treme. Uma vez disparada, é objetiva e direta. Ansioso pode estar aquele que aperta o gatilho. E aflito fica quem recebe o tiro, ou quem vê o próprio filho atingido enquanto brinca no quintal de casa.

 Há sentidos, porém, que se lhe aplicam. É certo, sim, dizer que a bala é perdida, porquanto “pervertida”. A bala que fere ou mata aquele que apenas cruzou seu percurso, como se cruza uma linha de trem, é certamente mais pervertida do que a pervertida bala que mata a vítima visada.

 E é “amoral” essa bala. É amoral porque mata pessoas inocentes — embora as culpadas também não devessem ser mortas. É amoral porque não obedece sequer à questionável moral do submundo, porque escapa à moral da guerra que a dispara. E é amoral porque dela ninguém pode se defender. Quem parte para um duelo sabe o que busca, quem parte para a guerra sabe ao que vai de encontro, mas quem dorme em sua cama não sabe o risco que corre.

 Perdida quer dizer ainda “sem esperança ou salvação”. Uma cidade cruzada por balas perdidas é uma cidade sem esperança ou salvação. Mas as balas perdidas podem tomar-se uma espécie em extinção, quando a sociedade põe um basta nas balas achadas.

Fonte: 
Marina Colasanti. Eu sei, mas não devia. RJ: Editora Rocco, 1996.

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José Cândido de Carvalho (Três Histórias do Interior)

ANÃO NO VENTO DAS QUATRO HORAS DA TARDE

E por causa de uma discussão sobre coisas de zepelim e assentador de moça, o anão Azevedinho Codó levou, de um certo Chico Pereira, pescoção de tal modo peçonhento que atravessou de foguete toda a cidade de Guarus e sumiu para o lado do Piauí numa poeirinha de não ser mais visto. No meio da semana, o delegado Xexé Barroso, encarregado de desvendar o paradeiro de Azevedinho, recebeu do seu colega do Palmeiral do Livramento o seguinte telegrama: PASSOU PELA RUA DO COMÉRCIO UM NANICO VOANDO DE PASSARINHO, QUE SÓ PODE SER O PROCURADO AZEVEDINHO CODÓ. NO MEU FRACO PENSAR, O PESCOÇÃO MINISTRADO AINDA TEM CARVÃO PARA MAIS DOIS DIAS, PELO QUE TELEGRAFEI PARA LAGOINHAS DE MODO QUE A AUTORIDADE COMPETENTE ESPERE O INDIGITADO ANÃO NO CAMPO DE POUSO, ONDE DEVE CHEGAR NO VENTO DAS QUATRO HORAS DA TARDE SE NÃO SOFRER ATRASO NO PESCOÇÃO. SÓ QUERO SABER SE A GENTE DEVOLVE AZEVEDINHO CODÓ POR VIA MANUAL OU PELA ESTRADA DE RODAGEM.


DE COMO O TABELIÃO SÃ BARBALHO LAVROU A ATA DO DESCOBRIMENTO DAS AMÉRICAS

E de repente, na sala do Cartório Raul Pimenta, o tabelião Ludovico de Sá Barbalho estancou a pena no meio de uma lavratura e disse com voz de mar alto:

– Comunico e participo que de hoje em diante não sou mais o tabelião juramentado de Crubixais do Rio Novo. Sou Cristóvão Colombo pela vontade de deus e do rei. Amanhã lavrarei a competente ata do descobrimento das Américas.

Estava maluco. E no dia seguinte, que era domingo, toda Crubixais do Rio Novo viu o tabelião Barbalho sair em passo de 12 de Outubro e ganhar a Rua das Flores. Levava embaixo do braço uma luneta e na cabeça um chapéu de almirante. Quando chegou na Praça da Matriz, gritou em feitio de escritura pública:

– Ao mar!

Como não havia mar em Crubixais, Barbalho navegou mesmo em seco e em seco ancorou a caravela na porta da Barbearia Central. Os filhos, com seu compadre Juquinha Azambuja na frente, correram para desencalhar o barco do velho Ludovico de Sá Barbalho. E mansamente bordejaram pelo fundo da Praça da Matriz de modo a colocar o tabelião em águas de casa. Na soleira da porta, antes de entrar, Barbalho voltou a gritar:

– Sou Cristóvão Colombo vitalício do que não abro mão nem faço acordo!

Loucura pega de galho. E tanto pega que houve um derramamento de doido em Crubixais. Um era pajem do rei, outro nobre da corte e outro ouvidor-geral. Quando o Dr. Sabugosa Leitão, circunspecto juiz da comarca, que não ria nem brincava com ninguém, veio de Rui Barbosa, careca e de pincenê, o tabelião Barbalho deixou no mesmo instante de ser Cristóvão Colombo. Reuniu o pessoal graúdo e avisou:

– Deu tanto maluco em Crubixais que alguém, meus senhores, deve ser o juiz. Comunico e participo que de agora em diante sou o Doutor Sabugosa Leitão.

E desandou a despachar os processos em pauta. Com muito acerto e competência.


TATÃO, O ESQUARTEJADOR

Era domingo que pita cachimbo e Tatão Chaves aproveitou para pedir Lili Mercedes, mestra de letras, em casamento. A cidadezinha de Monte Alegre, sabedora da novidade, botou a cabeça de fora para presenciar Tatão em cima das botinas de lustro e por baixo das panos engomados. Para avivar a coragem, Tatão bebeu, no Bar da Ponte, meio dedo de licor, coisinha de aligeirar a língua e aromar a boca. Como achasse o licor educado demais, mandou cruzar a bebidinha com cachaça de fundo de garrafa.

E recomendativo:

– Daquele parati mimoso que até parece flor de jardim.

De talagada em talagada Tatão perdeu a mira da cabeça. Embaralhou o pedido de casamento com negócio de disco-voador, imposto de renda e busto de moça. A essa altura, gravata desabada e camisa fora da calça, Tatão preveniu:

– Sou o maior dedilhador dos desabotoados das meninas já aparecido em Monte Alegre. Sou Tatão Chupeta!

Gritava que era monarquista, que era a favor da escravidão e que o prefeito de Monte Alegre não passava de uma perfeita e acabada mula-sem-cabeça. E para arrematar, ganhando a porta do Bar da Ponte, garantiu:

– Só queria que aparecesse neste justo instante um boi cornudo para Tatão esfarinhar o chifre do sem-vergonha a bofetada!

Nisso, um boizinho desgarrado apontou na esquina da Rua do Comércio. Tatão cumprindo a promessa, armou o maior soco do mundo. E atrás do soco saiu Tatão, atravessou a Praça 13 de Maio, entrou no Mercado Municipal, desmontou duas barracas, esfarelou um comício de tomates e só parou no Açougue Primavera. E meio adernado sobre um quarto de boi que sangrava em cima do balcão: .

– Soco de Tatão é pior que canhão de guerra. Mata e esquarteja!
–––––––––––-José Cândido de Carvalho
(1914-1989)
Fluminense de Campos, e autor de um romance já na nossa história literária, O Coronel e o Lobisomem, José Cândido de Carvalho manteve durante anos uma coluna em jornais dos Diários Associados. Ali publicou centenas de casos “contados, astuciados, sucedidos e acontecidos do povinho do Brasil”, muitos deles reunidos em dois volumes publicados pela antiga José Olympio Editora: Porque Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicon e Um Ninho de Mafagafes Cheio de Mafagafinhos. São minicontos
de humor e neles o que se destaca é a linguagem.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

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Rachel de Queiroz (Marmota)

Aqui ninguém duvida de que marmota existe. Quase todo o mundo já viu. De noite, nas conversas do terreiro, é raro quem não tenha seu caso a contar. Marmota não é bem fantasma, pode ser alma do outro mundo, ou é uma aparência, uma coisa do mato, quem sabe? Às vezes é um bicho. Em geral é um vulto; e também um ruído, uma chama. Aparece de noite ou de dia.

Todo mundo encara as marmotas como realidades do cotidiano, que fazem um medo desgraçado, mas com as quais se tem que contar. E há delas passageiras, como há outras muito antigas. No caminho de chegada à fazenda de minha irmã, no Choró, existe uma pedra grande, escura, bem na descida de um alto. O povo a chama “Pedra do Bicho”, porque ali costuma aparecer uma marmota; e já faz mais de cem anos que ela se mostra. Milhares de pessoas já a encontraram. Pode ser do tamanho de um porco, ou do tamanho de um cavalo, mas é sempre preta e com uma barriga mole, se arrastando. Às vezes se encontra cascavel morta junto da pedra, às vezes um preá. É o bicho que mata. Alguns falam que há muitos anos apareceu ali uma ossada de gente, ainda com as carnes. Engraçado, nesses anos todos nunca mudaram o caminho.

No corte da estrada de ferro, na saída da lagoa da Carnaúba, compadre Chico Barbosa vinha uma noite com o seu filho Eliseu e de repente lhes surgiu à frente aquele vulto preto, de andar arrastado, como um bicho grande e disforme, tomando o caminho. Eles desviaram à esquerda, o bicho também, desviaram à direita, o bicho também bandeou. Chico trazia um facão, brandiu o ferro, a marmota nem se importou. Riscaram um fósforo, sacudiram em cima, o bicho nada. Afinal resolveram fechar os olhos e o pai esgrimindo com o facão, o filho açoitando o ar com uma vara, correram em frente, com bicho e tudo. Não sabem como atravessaram nem como chegaram em casa. Mas ainda hoje ficam com as carnes tremendo quando se lembram.

Pedro Ferreira vinha de uma noitada de jogo, sozinho, pela meia-noite. Eis que numa vereda lhe apareceu a marmota – alta, de braços abertos, no sistema de uma pessoa. Ele trazia um pau grosso na mão, plantou o pau no bicho, facheou o pau todo, a visagem não se espantou. Pedro sentiu que o cabelo lhe crescia na cara, na nuca. Sentou-se no chão, ficou de olhos fechados, esperando, com vontade até de chorar. Afinal olhou – a marmota tinha sumido. E o pau, que ele largara no chão, ao seu lado, tinha sumido também.

Comadre Delurdes ia de manhã ao roçado, levar ao marido o “sonhim” de pão de milho. Junto à capoeira velha deu com uma coisa – não era bem uma marmota, era mais uma aparência, um rasgar forte de pano, e um rufar de asas grandes, uma coisa agitando o ar, aquele sorvo, que não se via mas se sentia. Ela correu tanto que ao chegar em casa teve uma oura, quase morreu. O marido zombou, no outro dia foi com ela – e aí quem correu foi ele. Ninguém da família vai mais sozinho ao roçado.

Certa noite um bando de gente vinha de uma festa, pela rodagem do Quixadá. Zéza, a hoje finada Dora, Terezinha, seu marido Chico Ferreira, e outros. Ao passarem perto do local onde foi encontrada a ossada de Chico Preto (morto misteriosamente há alguns anos), viram um vulto agachado ao pé de uma imburana. A coisa olhava de um lado e de outro da árvore, como quem brinca com criança. Chico Ferreira soltou um uivo e desabou; e as mulheres correram atrás, lutando para ver se chegavam na frente dos homens. E, se a visagem quisesse tinha até apanhado um menino, coitadinho, que ficou por último na disparada. Na hora do medo parece que até coração de mãe se esquece.

O mesmo Pedro Ferreira tem outra recordação do seu tempo de jogador. Vinha em noite escura, por um caminho que passa perto da represa do açude velho do Junco, cansado, com fome e frio. Nisso avistou um fogo e se alegrou – deviam ser uns amigos que planejavam uma pescaria. Parece que tinham tocado fogo num toco e as suas sombras iam e vinham ao redor. Pedro chamou, ninguém respondeu. Aí a chama baixou e voou brasa pra todo lado, como se alguém batesse com uma vara no fogo, estilhaçando-o. Assustado ele parou – firmou a vista – agora não tinha mais toco, nem fogo, nem brasa, só um escuro mais escuro, como um vulto, no lugar onde o fogo estivera. O chapéu lhe subiu nas alturas; ele sentiu que o vulto se deslocava em sua direção. Correu, botando a alma pela boca. Mas o bicho, lerdo, não o perseguiu.

E até mesmo aqui perto de casa, antes de se atravessar o riacho do açude, tem uma moita de mofungo, junto a um pé de violeta, onde o povo sempre encontra uma marmota. Tem dia em que ela balança a moita, e solta gemidos, aqueles ais. Ou se divisa um vulto por baixo da moita, e então se escuta um ruído forte de dentes, como um cachorrão quebrando ossos.

As pessoas que contam esses casos nunca mentem em outras coisas. São gente de respeito, nem é impressão de bebida – como se diz: “visagem de bêbedo fede a cachaça”. Será que elas mentem só nesses casos? Ou se enganam, ou sonham?

Fonte:
Governo da Paraíba – A União.

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Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Manhã)

Hoje resolvi sair para dar uma pescada e andar a cavalo com o Luquinhas.

Como estava aqui no pc com ele, aguardando a chegada de alguns amigos, resolvi mandar esse poema Manhã para vocês.

Esse poema me lembra muito a vida do campo… das manhãs de minha infância.

Um forte abraço.
Sardenberg

Manhã

Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ “Cidade Poema”

Boceja o sol nessa manhã risonha
No céu brilhante de nuvens esparsas.
E no cenário do alto da montanha
Em revoada bailam lindas garças.

Na estrada estreita desponta um vaqueiro
Pelo aceiro tocando a boiada
Sob o comando de um feitor faceiro
Todo enfeitado para a namorada.

A manhã rompe enquanto a tarde brota,
E mais um dia foge se esvaindo…
O lusco – fusco no sertão se aporta,

E a cigarra, com seu cantar tão triste,
Dá boas – vindas à noite surgindo
O tempo avança – meu sonho persiste…

Fonte:

O Autor

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Evaldo da Veiga/RJ (Cristais Poéticos)


NOSSO AMOR

Nossa bossa não é nova
e nem antiga, é nossa.

Nossa bossa
se faz de pequenas doses de tempo
em um belo momento.
A busca de nossas almas,

Nossa bossa
vai à direção aos nossos desejos.
Desejos puros e sacanas,
cada hora em seu momento.

Ouço com fervor
o som de ouvir e a graça de dizer.
Música são tuas palavras,
puras e sensuais,
Santas e pervertidas.

Ah! Como amo o que me dizes,
misto perfeito do Santo e profano,
do carinho singelo
e do mais puto desejo…

Vem!
Demole a inércia do tempo sem vigor.
Vem!
Faz a vida girar em sentido do amor…
Somente nesse sentido.
Vem!

SONETO DO AMOR MANEIRO

 O amor que idealizei é um paraíso de viver
 Sob a égide da livre expressão e do contato
Em abraço amante e amigo, quero envolver-te
Gozar bem dentro de você e também em torno

Respirar um ar gratuito que vem da tua boca
Gratuito são todos os ares, mas o teu é meu
Quero respirar em você e ir ao fundo do desejo
Se é que se pode chegar ao fundo em si mesmo

Porém se és Santíssima, muito Pura e bem Puta
Nada perco, ao contrário, ganho dos dois lados
Quero-te como és, nada de acrescentar ou sacar

Quero-te assim porque em ti tenho o melhor gozo
Se em ti acrescentassem em explodiria no prazer
Se retirassem, eu perderia grande parte do amor

VOCÊ, VIDA

Minh´alma louva tua existência etérea
e o meu corpo busca o teu corpo, sempre.
 Quão perdido andei em caminhos distantes,
mas o destino generoso fez o encontro.

Agora, ando no teu e você no meu,
nossa vida em um único caminho.
 Descanso em ociosidade inversa,
em cuidando do nosso amor.

Bendito o dia que me acorda
e lindo o dia que se encerra,
ensejando um novo dia.

Nossos caminhos em busca,
estão lá, bem lá, além…
em estando aqui, bem presente.

SONETO DO AMOR QUE FICOU

Hoje e amanhã
Vou te amar
Como amei ontem
Como amei sempre

No meu olhar, em minhas mãos
No tremor do meu espanto
Farei acenos de ternura
Assim como nos versos em branco

Inserido em música o meu silêncio
Ele irá contigo aonde fores
Jamais direi adeus

Amo tua presença
Mas se fores, por derradeiro
Amarei tua ausência, vivo em teu amor

SONETO DO DIA AZUL
Um dia todo azul em sol
Uma lua chegando cedo
Linda delícia tua vinda
Simples  e encantadora

Tua voz dizendo sim
No ritmo do bem querer
No exato tom do fazer
Em meu corpo o amor

Fiel certeza no encontro
Virando o incerto em crença
Convicção que o amor é viver

Lindo amor em dia azul, sim
É a vida que vem cantando
Em alegre encontro com o amor

VOCÊ, DOCE PRESENÇA

Estando em tua presença
O mundo fica terno
E os movimentos que encantam a alma
Dão vida e gozo ao corpo

Um pendão real te entregou a vida
Investida da honraria você buscou o simples
O que existe na mais absoluta gratuidade
SER, TER E FAZER

TER, sem a sensação de egoísmo
FAZER, em torno o amor gravitando
SER, visando somente SER

Se estás nos meus braços
Descanso no prazer consentido
Bondade da vida: amar e viver o teu amor

O AR DA MANHÃ
 
É um ar diferente, não sei dizer se mais frio ou menos
Destemperado de outros paliativos fora do tempo, não sei
Só sinto que não tem a mesma temperatura de outros momentos
Parece-me que nem se trata de temperatura, suave ou amena
É uma questão de sentir o ar no tempo, misturado ao acaso

Se não me desperto por imposição do dever, fico inerte
Curtindo este ar um tanto mágico que se inicia como menino
Talvez esteja no orvalho a grande diferença, umidade virgem
Traz indiferença, sinto falta do misto de pureza com pecado
Nada virgem me atrai, prefiro a experiência da mulher nua
Aquela que nada sabe e fica buscando aprender, sempre…

Vou dormir, ainda sentindo este sono do ar da manhã
Se não me despertas deixarei de lado o meu corpo frio
Umedecido pelo orvalho deste irresistível ar da manhã
O que isso distante soa, é o amor ou o vento apressado?
Por isso é sempre minha opção o ar da manhã com amor
Cores, umidade e todas vestimentas de uma nova aurora

Não me abandone neste caminho onde não sei caminhar
Se fores muito longe ou para o improvável, vou contigo
Não tenho destino definido, melhor buscar o teu carinho
Nada saberás dessa madrugada onde a chuva se aproxima
Pretendendo alterar o inesgotável prazer do ar da manhã

O AMOR E O LIVRO

O que esperamos com desespero em chegada breve
Leva-nos ao cruzamento com rumos frios do suspense
Recorrendo à calma é que buscamos o silêncio no livro
Um silêncio que diz o lindo e fortalece a confiança

Além, os livros transferem para o céu, quando em versos
Suas estrofes de ouro cravejadas de brilhantes eternos
Do nada se faz o verbo e o livro transmite o que Deus diz
Sem dizer ele que é sagrado e que é a palavra do criador

Livros, doces emoções nos conduzindo ao reino do todo
E quase sempre ao reino amor, em alegria e desejo sublime
Falam os Poetas também da dor, da desilusão e do insulto
Tudo em paradoxais que exaltam a pura beleza do bem

Que lamento tão fundo às vezes diz, transtornado
Nada além de alegorias inversas que sublimam o amor
Cada livro deixa e tem si o que muitas vezes não existe
Mas quando buscado com esperança, alegria, amor é fé

Fontes:
1– Poema enviado pelo autor
2 – http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=4817&categoria=Z

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Giuseppe Artidoro Ghiaroni (Poesias Escolhidas)

A MÁQUINA DE ESCREVER

Mãe, se eu morrer de um repentino mal,
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval.

Vende esse rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.

Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.

Vende , além das gravatas, do chapéu,
meus sapatos rangentes. Sem ruído
é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.

Vende meu dente de ouro. O Paraíso
requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.

Vende meus olhos a um judeu qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher !

Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva !

Pode vender meu próprio leito e roupa
para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa
esta caduca máquina em que escrevo!

Mas, poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas, tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.

Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro,
mas não! ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!

Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical!

Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma!

Pois será para ela uma tortura
sentir nas bambas teclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura!

Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.

Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar!

AS ÁRVORES CORTADAS

Deceparam as árvores da rua!
Sem troncos hirtos na calcada fria,
a rua fica inexpressiva e nua;
fica uma rua sem fisionomia.

0 sol, com sua rústica bondade,
aquece até ferir, até matar.
E a rua, a rir sem personalidade,
não da mais sombras aos que não tem lar.

As árvores, ao vento desgrenhadas,
não lastimam a peia das raízes:
Olvidam sua, dores, concentradas
no sofrimento de outros infelizes.

Eu penso, quando à frente dos casais
vem sentar-se um mendigo meio-morto,
que uma fronde se inclina um pouco mais,
para lhe dar mais sombra e mais conforto.

Sem elas, fica a triste perspectiva
de uns muros esfolados, muito antigos,
que se unem na distância inexpressiva
como se unem dois trôpegos mendigos.

Quando vier com o seu farnel de lona,
arrimar-se à sua árvore querida,
o ceguinho de gaita e de sanfona
será capaz de maldizer a vida.

E aquela magra e tremula viuva
que anda a esmolar com filhos seminus,
quando o tempo mudar, chegando a chuva,
dirá que dela se esqueceu Jesus!…

Meu Deus, seja qual for o meu destino,
mesmo que a dor meu coração destrua,
não me faças traidor, nem assassino,
nem cortador de arvores da rua!

DENTRO DA NOITE

Dentro da noite, quando vem, de cima,
o ar que o espírito respira, o clima
que o Deus da Sombra esconde numa urna;
num silêncio de túmulo e de rocha,
a alma oculta dos homens desabrocha
como uma flor noturna.

Dentro da noite há todos os segredos:
pensamentos que são pontas de dedos
pousando em epidermes proibidas.
Corações que se vão, alados de ânsias,
errando além de todas as distâncias,
em busca de outras vidas.

Arrastam-se, morosos, os instantes;
batem sofrendo os corações amantes;
franzem-se as testas que ninguém afaga.
E a alma dos seres se volatiliza,
buscando o céu e o mar, tremendo à brisa
como uma ânsia vaga.

Passemos pelo bar. Estranha festa
de gente que ama e gente que detesta,
buscando alívio na noite impura.
O bar é um copo a transbordar de Vida!
Meus amigos, que cheiro de bebida!
Que cheiro de amargura!

Falai comigo quando, à luz da lua,
eu vou com minha sombra pela rua,
sou vagabundo e vivo!

A noite é a Pátria espiritual do triste,
do homem que insiste em ser maior, que insiste
em garimpar as margens da matéria.
Nela tudo trepida de incerteza.
O pobre tem um pouco de riqueza
    e o rico, de miséria!

Ambiciosos que gastam a existência
numa intrigante e cega concorrência,
quando anoitece, olham-se espantados.
E trocando seus sonhos e seus planos,
Sabem sorrir, subitamente humanos,
como ressuscitados!

Dentro da noite, os homens embuçados’
levam consigo os sonhos e os pecados,
levam consigo o mundo de amanhã.
E floresce o Ideal, forma impoluta;
floresce sobre tanta coisa bruta
e tanta coisa vã!

Conheço uma beldade mutilada
que so na noite lúgubre, gelada,
se aventura a sair com seu desgosto.
E sai, ligeira como um diabo astuto,
tendo o corpo de luto, a alma de luto
e um negro véu no rosto.

Essa figura fascinante e horrenda
é como tudo o mais que se desvenda
para vibrar no potencial da sombra.
Como a angustia do povo, o sonho, o estudo
a revolta dos mártires e tudo
que nos fascina e assombra!

Porque nas trevas tremem os tiranos
vendo marchar os corações humanos
como grandes exércitos de horror.
Vendo marchar milhoes de heróis sem nome,
unificados pela eterna fome
que é um eterno amor!

Oh, Noite! Oh, mãe das minhas tristes obras?
Vejo surgirem sois das negras dobras
do teu manto de dor gerando lutes?
És um ventre sem fim: quando te inclinas,
nascem impérios, nascem guilhotinas,
nascem Cristos a Cruzes?

O MENOR ESFORÇO
Ferreiro e filho de ferreiro,
um dia visitei meu vizinho carpinteiro.
E ao ver quanto a madeira era macia
em relação ao ferro que eu batia,
deixei de ser ferreiro.

Tornei-me carpinteiro e, vendo o oleiro
modelando o seu barro molemente,
cobicei seu oficio de indolente
e larguei meu formão de carpinteiro.

Mas fui depois a casa do barbeiro,
que alisava uns cabelos de menina.
E achando aquela profissão mais fina,
deixei de ser oleiro.

Um dia, em minha casa de barbeiro
entrou um poeta de cabelo ao vento.
E ao ver quanto era livre e sobranceiro,
troquei minha navalha e meu dinheiro
por sua profissão de encantamento…

Meu Deus! Por que deixei de ser ferreiro ?

Fonte:
JORGE, J. G. de Araújo.  Antologia da Nova Poesia Brasileira. Ed. Vecchi, 1948.

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Hermoclydes S. Franco (1929 – 2012)

Nasceu em Niterói, em 26 de maio de 1929.

Aposentado. Advogado e administrador formado, respectivamente, pela Faculdade de Direito de Niterói e pela Universidade Gama Filho.

Começou a escrever literariamente em 1980, quando a preocupação com o que fazer após a aposentadoria, para preencher a mente com algo que pudesse trazer satisfação e impedir que a falta do trabalho pudesse trazer qualquer tipo de isolamento ou insatisfação. Na verdade sempre gostou de literatura, desde a mocidade, de maneira que não houve uma influência direta para que começasse a escrever. A preocupação com a futura aposentadoria levou-o a esse caminho.

Em 1985, iniciou preparativos para ingressar no meio trovadoresco, através da União Brasileira de Trovadores (UBT), o que veio a mostrar-se uma positiva decisão, ocorrendo a filiação à seção do Rio de Janeiro no 2º semestre daquele ano. A aposentadoria viria a concretizar-se em 1991, após 40 anos de trabalho em apenas duas empresas brasileiras: a Cia. Aços Especiais Itabira (ACESITA), de l95l a l973, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1973 a 1991.

Os seus primeiros trabalhos literários de algum valor foram uma versão em quadras da ORAÇÃO DE S. FRANCISCO DE ASSIS (1985), posteriormente musicada pela trovadora -musicista GLORINHA VELLOSO, e o poema “PARQUE ITATIAIA (A Natureza, o Poeta e o Insensato) – 1º premio em Concurso Comemorativo do cinqüentenário dos parques Nacionais Brasileiros (1987).

Não possui livros editados. Apenas diversas plaquetes em edições restritas feitas artesanalmente e distribuídas gratuitamente a amigos. Destes o mais importante é a série “TROVAS, SIMPLESMENTE TROVAS”: 1º VOL/1993; 2º VOL/1998; 3º VOL/2003; o VOL. IV, a em 1998, seguindo o mesmo processo.

Como escritor conheceu perfeitamente suas limitações, mas procurou manter acesa a chama da esperança e jamais deixar de sonhar, apanágio maior dos poetas.

Ao longo de 20 anos de participação em concursos de trovas e de poesias, é natural que possua cerca de 400 premiações nesses certames. Grande é a alegria por ter obtido o 1º prêmio em quadras no I Concurso Algarve/Brasil (1997) e Menção Honrosa no II (1998) e duas Menções Honrosas no Grande Concurso de Quadras de S. João (1993) do Jornal de Noticias do PORTO. Algumas poesias (sonetos e poemas) premiadas em vários estados brasileiros.

A quem começasse a escrever agora, o único conselho que daria seria no sentido de que estude permanentemente todos os meandros de nossa Língua Portuguesa, para não se permitir cometer erros crassos em seus escritos, como ocorre comumente com tantos pseudo-escritores.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 8 de agosto de 2012.

Fontes:
Portal CEN
Macae News

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Hermoclydes S. Franco (Livro de Trovas e Poesias)

Hoje fiquei sabendo que o poeta e trovador Hermoclydes S. Franco faleceu ontem no Rio de Janeiro. Mais uma grande perda para o meio literário brasileiro.
Como amigo e irmão das letras, senti que devia fazer algo para homenagear este grande trovador, deixando gravado os seus textos nas páginas da história da literatura brasileira, por isso abaixo pode-se ler , baixar ou imprimir o Livro de Trovas e Poesias dele.
Abra AQUI 

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Machado de Assis (Badaladas – 29 de dezembro de 1872)

Enfim, está, pois pelas costas este ano de 72, que não foi, como aquele de que falava o Garrett, “inútil como um cônego.”

Não foi.

Quando mais não desse, deu as nossas eleições, com acompanhamento de tiro, como as do Ceará, ou simplesmente de rolo, como as da Corte.

Nada me alegra mais do que este exercício da soberania nacional… no papel;é verdade, no papel, apesar de não saber ler a soberania nacional.

Deus traga a reforma. Se não der tudo (e é difícil que dê metade) estamos esperando que dê alguma coisa. Façam os legisladores uma obra que não seja o mesmo peixe com outro molho. Não é do molho que nos queixamos, mas do peixe, e sobretudo das espinhas.

E se algum legislador me der a honra de ler estas linhas, e torcer o nariz, como quem estranha que eu meta nestes assuntos a minha colher queimada, peço a palavra para responder com esta razão decisiva:

A minha cozinheira Celestina é apenas cozinheira, aliás, perita, e, todavia.. .

E, todavia atreveu-se há dias a explicar a trovoada ao meu moleque. Verdade seja que o fez nestes termos:

— A trovoada são os astros quentes que se encontram com os outros frios. Nem é só dada a estes estudos. Tem seus laivos de poesia entre a carne e a batata. No meio das preocupações culinárias brota-lhe não raro a flor da inspiração.

Houve ultimamente belas noites de luar. Uma, sobretudo esteve maravilhosa. Que admira que a dita cozinheira se extasiasse ante esse espetáculo a um tempo delicioso e solene?

— Que noite! (exclamou ela). As ondas estão tão quietas! tão pequenas !Parecem passarinhos. Que artista seria capaz de fazer assim.. . uma peça de chita ? Ora, se a cozinheira Celestina podia assim explicar a trovoada e comentar a natureza, entendi que alguma coisa podia ela dizer igualmente da política, e firme nestes princípios (frase parlamentar), perguntei-lhe que pensava de uma câmara.

Direi a resposta da interessante senhora, não sem pedir aos leitores que lhe não torçam o nariz, em primeiro lugar porque nariz torcido fica muito feio, e depois porque da cozinha pode nascer uma boa idéia, ex fumo dare lucem.

— A cambra é como o outro que diz a cozinha. A diferença a que eu perparo a janta e os deputados preparam as leises. Meu amo às vez não gosta de uma ou outra comida, porque não saiu bem feita; as leises o mesmo. A diferença é que meu amo ralha comigo, e a cambra é que ralha com meu amo. E se meu amo, que me paga, não apreciar o meu cozinhado, faz-me sair de casa; não faz o mesmo com as leises; se meu amo não as achar boas, se estiverem ensossas, ou tiverem sal de mais, ou saírem cruas, meu amo há de tragá-las, muito caladinho…

Aqui tive pena da ignorância da pobre velha e desci da augusta indiferença com que a ouvia, dizendo-lhe:

— Sim, mas tenho o voto nas eleições…

Celestina pediu-me respeitosamente licença para rir. Admiti essa liberdade ela gargalhou uns dois ou três minutos e continuou:

— A eleição é como se meu amo, enfadado da minha janta, fosse pedir ao padeiro da esquina que influísse no caixeiro da venda para me dar uma repreensão.

Observei a Celestina que a sublimidade do meu espírito não podia compreender uma parábola tão rasteira.

Ao que ela respondeu pondo as mãos nas ilhargas:

— Que faz meu amo na eleição? Vota num homem porque tem o nome comprido, e esse vota n’outro porque tem o pescoço curto. Ora, meu amo, que tem as costas largas, fica como se lido tivesse voto.

A chegada do meu amigo Bento interrompeu esta conversa culinário-política.

Não é pessoa de cerimônia o meu amigo Bento; veio visitar-me; e companheiro de longos anos.

Antes de me despedir dele, contarei ao leitor um trocadilho que ele fez sem querer, só porque emprega erroneamente uma locução.

Achou-se há dias na polícia e ouviu falar de uma mulher que deu uma facada num homem. Facadas (pecuniariamente falando) levá-las qualquer homem; mas aquela não foi no sentido metafórico, senão no natural.

Todavia (e aqui se patenteia o coração do meu amigo Bento) ouviu falar que a mulher recorrera àquele expediente eleitoral porque o dito homem, desprezando o seu amor, andava cortejando uma viuvinha.

Bento quis a todo transe contemplar essa vítima do amor. O delegado de polícia mandou-a buscar. A vítima subiu ao gabinete.

— A senhora é que é a ré? Perguntou o meu amigo Bento com ar compungido.

— Sim, senhor.

— Tenho dó de si!

Livre da Celestina e do Bento, fui examinar os jornais de S. Paulo, que nesse instante chegaram do Correio.

Rompo cuidadosamente o selo, que estava limpo e me podia servir noutra ocasião (. . . , que toma o nome de economia), abro uma folha, e que hei de ver, leitor ? Um artigo em prosa e verso do nosso conhecido poeta e literato Martins Guimarães.
Li-o de um trago.

Quanto a falar dele há de ser no ano novo.

Não se guardam vinhos novos em odres velhos. Há escritos que requerem anos novos; sim, leitor, anos novos, muito novos, anos em flor.

Dr. Semana.
–––––––––––-
Nota:
Dr. Semana é o pseudonimo que Machado usava nestas cronicas


Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

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Jogos Florais de Campos dos Goytacazes (Programação)

Fonte:
Diamantino Ferreira

Montagem do convite por J.Feldman

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Sylvia Ortoff (Se as Coisas fossem Mães)

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas, o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!Se a terra fosse mãe,seria a mãe das sementes, pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria mãe da alegria. Toda mãe é um pouco fada…

Nossa mãe fada seria.

Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada: Seria mãe das vassouras, da família vassourada! Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,Faria chá e remédio para as doenças da vida. Se a mesa fosse mãe, as filhas sendo cadeiras, sentariam comportadas, teriam “boas maneiras”. Cada mãe é diferente: mãe verdadeira, ou postiça, mãe vovó e mãe titia, Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse. Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora, ri, esquece,
lembra e chora, traz remédio e sobremesa…

Tem até pai que é “tipo mãe”… Esse então é uma beleza!

Fonte:
Se as coisas fossem mães, Sylvia Orthof, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

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