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Virgínia Crisóstomo (Poesias Avulsas)

Ser
 
No singular é pujança
que vaza e bebe e mergulha
para em seguida emergir
e se deixar derramar

Na alteridade oscila
o pendular desejo
a insinuar sem dizer
no seu falar de viés
de sinuosas vias

Na plenitude é presença
de grota a colher vida
contraste de sombra e de luz
a permear lacunas
frequência de onda lunar

É singular e plural
o sensual divino
do feminino ser
Feito cordas que vibram
antigas canções de ninar

Par a Par

O equilíbrio entre dois
na gangorra
é não ficar do mesmo lado

Não haveria diversão
não fosse o impulso sincronizado
às vezes desajeitado
a mover a gangorra

Sem a alternância
um estaria isolado no topo
e o outro preso no chão

E não desfrutariam do prazer
de estarem para a par na gangorra
a eixo de cada oscilação

Manto azul
 

O sol adormece sobre o cansaço do dia.
Na penumbra das horas a vida repousa
enquanto as trevas cumprem seu destino.

No encontro da noite com o dia,
a lua recolhe os miasmas sinistros
que o sol em breve irá cremar.

As últimas lágrimas de orvalho
diluem-se sobre as folhas,
umedecem a terra,
acordam a semente.

E a brisa da aurora dispersa as nuvens
para dar passagem à manhã
a envolver de esperanças
com seu manto azul, o novo dia.

Salgueiro
 

No recomeço de tudo
o sopro da vida pulsa
no escuro útero

É a regressão do ser
a vestir-se de grão

O broto em mutação
cava a passagem de ida
ao desconhecido instante
de orvalho e de sol
de vento e de lua

Fiel ao fio que o ancora
oferta à generosa chã
altaneira fronde
de flores e frutos

À tormenta e sua ceifa
inclina-se em reverência
e doa-lhe imoladas folhas
adubo de gérmen latente

Cada nó, cada gume
urde a preciosa trama
que forma a antiga morada
de todas as eras

O sopro da vida pulsa
e tudo é recomeço
neste jeito humano de ser

Fonte:
Rebra

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Virgínia Crisóstomo

Virgínia Barbosa Leal Crisóstomo é recifense de nascimento e olindense de coração.

Filha de escritor e de historiadora e mãe de um casal de filhos, por trinta anos foi advogada da Caixa Econômica Federal em Pernambuco.

Iniciou seu percurso literário em 2003, com o livro “O Caleidoscópio da Vida”.

Em 2005 editou “Para quem não tem colírio – Desnudando o comportamento compulsivo”, e “Fênix”.

Participou de algumas antologias, entre elas “Pimenta Rosa” e “O Fim da Velhice – A superação bem humorada de um conceito”, “Pimenta Rosa”, “Antologia das Águas” e “Vozes – A Crônica Feminina Contemporânea em Pernambuco.

É sócia da União Brasileira de Escritores e integrante do Grupo Literário Celina de Holanda.

páginas em sites:

http://www.recife.pe.gov.br/pr/seccultura/fccc/cadastro/
 www.interpoética.com.br

Fonte:
Rebra

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Varal de Trovas n 23 -Barreto Coutinho (Recife/ PE) e Cidoca da Silva Velho (Jundiaí/ SP)

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Núbia Cavalcanti dos Santos (1962)

Núbia Cavalcanti dos Santos nasceu em 17 de junho de 1962, no município de Sanharó, uma pequena cidade do interior de Pernambuco.
É funcionária pública, formada em Ciências Físicas e Biológicas, pela FABEJA – PE.
Herdou da bisavó materna a paixão pela literatura, de acordo com informações obtidas por sua mãe e suas tias. 
Escreve poesias desde os quinze anos de idade. 
No ano de 2003, teve algumas dessas poesias divulgadas em uma Revista Mensal, Intitulada Revista de Sanharó. 
Em setembro de 2010, participou do XXXII Concurso Internacional Literário/SP, das Edições AG, e obteve o sexto lugar, com as poesias Muito além de um sonho e Um velho diário, publicadas na Antologia do livro “Noturno”.
 No ano de 2011, participou do Grande Concurso Cidade do Rio de Janeiro/RJ, com as poesias Reencontro, Solidão e Tributo, publicadas na Antologia “Poesia e Prosa no Rio de Janeiro”. 
No Concurso Quem Sabe Faz Agora/RJ, classificou- se com as poesias Sem você, Vou sair por aí… e Vida, minha vida…. 
Mais uma vez, obteve o quarto lugar  no XXXIII e XXXIV Concurso Internacional Literário/  SP, das Edições AG, com as poesias Amanhã, sem você e Um novo recomeço, publicadas na Antologia do livro “Amanhã, outro dia”; e Insônia e Boneca de Trapo, publicadas na Antologia do livro “Liberdade”. 
No 13º Concurso de Poesia 2011, da Biblioteca Popular de Afogados – Recife/ PE, classificou-se com as poesias Doce infância e Borboletas, ficando entre as cinqüenta selecionadas, que foram publicadas em Antologia no ano. 
No V Concurso Crônica e Literatura – Uberlândia/MG: Prêmio Literário Ferreira Gullar, ficou entre os cem classificados, com a poesia Escrava do medo, que fez parte da Antologia “Emoções Repentina – Volume III”, com publicação em fevereiro. 
Também participou das Antologias de Poetas Brasileiros Contemporâneos, pela CBJE, volumes 78, 79, 80, 81, 82 e 83, 84 e 85, com as poesias Eterno amor, Sonhos desfeitos, Razões do coração, Pai, Inspiração, Insônia, Foram tantas as vezes… e Lá se vai a madrugada, todas classificadas. 
Através dos Concursos Literários procura divulgar suas poesias. 
Fonte:

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Socorro Lima Dantas / PE (Poemas)


AS MAIS DOCES PALAVRAS SOFRIDAS

É madrugada,
 aconchegada pela suave brisa da ilusão,
 traduzo o meu silêncio
  com palavras sofridas, 
 surgidas pelo sopro da tua respiração.
  
 Pensamento embaralhado,
 dos segredos por nós vivenciados,
 semeados pelo tempo outrora passado,  
 obrigam-me a escrever de um amor ainda silenciado.
    
 Com o dedo indicador, vou compondo…
 Concluindo quase a uma frase inteira !
 São palavras loucas, 
 escritas com os olhos vendados,
 procurando o segredo
 entre a versão verdadeira e a ilusão primeira.
  
 São tentativas repetidas, 
 palavras intermináveis…
  Arrisco ler a escrita primeira, 
 Não encontro…
  Pulo para a derradeira…
 Não há tempo sequer de ler a última citação !
 O vento encarregou-se de apagar uma história verdadeira!

 Nesta imensidão de areias brancas,
 diante deste oceano azul,  aspirações contidas, 
 colhidas neste mar de silêncio e pensamento,
 carregaram tão rapidamente meus sentimentos:
 As mais doces palavras sofridas!

QUEM É VOCÊ?

Quem é você ? 
 Que plantou uma rosa em meu jardim,
Adentrou em minha vida,
 chegou assim…  lentamente…
 sem pedir permissão
Penetrou em meu coração, 
e nele passou a habitar
Numa troca de afeição sem fim.

Quem é você ?
Que me traz rosas perfumadas
A cada vez que nos encontramos,
Sem ao menos conhecer a tua voz
Nem tu conheces a minha…
Que em nossas noites insones 
tantos segredos trocamos.

Quem é você ?
Que me faz revelações
Deixa-me sentir segura
Agarra-me forte pelas mãos
amparando-me da maneira mais pura.

Quem é você ?
Que se tornou minha alma-gêmea
dela não consigo mais abrir mão
e passou a fazer parte
do meu coração!

Seria você meu amigo?
Que segura a minha mão
Ouve a minha história
Ri e chora comigo,
E me chama de irmão!

MINHA VIDA

Há vezes: – deparo-me com indagações,
procuro repostas às minhas aflições,
da história de um amor guardado,
o tempo perdido…
coberto pela poeira do passado.

Peito comprimido,
hóspede dos sentimentos perdidos,
ressente-se com imagens de outrora,.
fecho meu mundo numa concha
permito escoar para mim vãs recordações.
Estou inerte !…  sem resposta alguma…
são inquietações e sofrimentos vividos.

Arrastada pela solidão,
comparo-me a uma bailarina… imóvel !…
no picadeiro, ninguém a me aplaudir…
um grito selvagem aborda o meu íntimo.
Sinto-me só, em meio a uma multidão.
Vem àquela vontade de esquecer,
partir definitivamente…
numa noite insone, exposta ao inesperado,
sem identidade da alma …

sem levar a saudade !
quero esquecer o passado… o desejo insólito,
perdido ao encontro do nada…

Não há resposta a esta incerteza que me cerca !…
permanecem meus anseios,
aproxima-se o tédio…  
a saudade que ficou…
as recordações alteram as batidas do meu coração,
na inútil reconstrução do que fui,
e o que será deste meu eterno devaneio…

De repente,  
desperto meus pensamentos antes adormecidos !
descubro, sem querer acreditar,
tudo não passou de uma aspiração !…
pensamentos levados pelo vento
removidos pelos castelos construídos por mim,
num tempo vivido apenas para sonhar.

Anseios reprimidos,
aborda-me a vontade de esquecer tudo !
Retorno ao caminho de volta,
na inútil tentativa de mudar o destino.
Quero recontar a minha história,
alterar as versões…
mudar a rota dos nossos corações,
transformar nossas almas sofridas e amarguradas,
numa amplidão de amor ao alvorecer !
Quero viver este sonho,
quero te amar  como se não fosse existir outro momento igual,
quero esquecer a sucessão de outros dias,
viver apenas o presente !
Quero ser EU e TU numa só existência,
assim será a minha vida !

TRISTEZA… SOLIDÃO

Essa tristeza,
que não me abandona este coração,
recusa-se partir… dizer adeus…
Deixando-o em total desolação!

Essa tristeza,
que insiste em invadir a realidade,
atraindo o acesso a solidão,
que o peito não deseja enxergar…
entregando-se a saudade.

Essa tristeza… essa solidão…
Adentraram nesta alma sofrida,
que guarda um amor contido
sem licença pedir, 
Como se fosse seu !
É uma dor sem jeito, 
deixando-a perdida.

Essa tristeza… essa solidão…
que  impedem esta vida em paz prosseguir
 em seus sonhos imaginados,
devaneio de alegria
juras de amor
felicidade eterna
vida feliz
sem traumas
 sem cobranças
nem decisões imediatas.

Essa tristeza… essa solidão…

A VALSA DOS MEUS SONHOS

Embalada pelos braços da vida,
 Estou aqui, mais uma vez,
 entrando neste salão cheio de luzes e cores.
 Preparando-me para a realização de mais um sonho,
 confesso, com timidez.
    
 Interrompo o caminhar…
 Procuro abrigo para dividir esta alegria.
 Apuro o olhar e o sentir.
 Contemplo a orquestra… As pessoas…
 Descubro amigos a espera!!
 Por um momento, detenho-me,
 desacreditando viver este momento!
 Afinal, sou uma dama sonhadora
 Preste a concretizar uma aspiração,
 Este será o grande dia?!…
    
 Adianto o passo até o meio do salão,
 todos aplaudem, risonhos,
 denunciando a cumplicidade neste grande evento.
 A orquestra inicia os primeiros acordes
 da música tão esperada.
 Quanta emoção!
 Irei dançar  a valsa dos meus sonhos…
    
 Embalada pela realização, dou os primeiros passos!
 Flutuando como um pássaro…
 A melodia leva-me ao deslumbre do momento,
 Meu coração pulsa descompassado,
 São instantes de pura emoção!
  
   Enternecida nesta magia,
 Sigo deslizando docemente ao ritmo da valsa
 que não para de tocar!
 Esta é a mais linda música
 no salão de mais uma conquista.
 Será a mais inesquecível das valsas já bailadas…
 A felicidade invade minha alma!
    
 A incerteza dissolve-se…
 Descubro ser verdade!
 Extasiada pela magia do momento,
 sigo dançando com o coração cintilando
 nesta imensa realização da minha existência.
 Divido com vocês este encanto!
 Afinal, são os figurantes principais 
deste acontecimento na minha vida.
    
 Estou dançando a valsa da Felicidade!
 A valsa da realização!
 A valsa da emoção!
 A valsa de um sonho conquistado
 apenas com a alma!
 Convido todos para dançar comigo
 a valsa dos meus sonhos!

Fonte:

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Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana e Campos (Cinco em Um)

Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira,
Mário Quintana e Paulo Mendes Campos
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
PAPAI NOEL ÀS AVESSAS

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

VINICIUS DE MORAES
O HAVER

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido…

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada…

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
MANUEL BANDEIRA
RONDÓ DOS CAVALINHOS

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando…

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando…

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo…
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo…
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

Consta que o poema acima, feito durante a “II Grande Guerra”, foi escrito enquanto o autor almoçava no Jóquei-Clube do Rio de Janeiro, assistindo às corridas.
MÁRIO QUINTANA
O MAPA

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo…

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei…

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei…)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…
PAULO MENDES CAMPOS
POEMA DIDÁTICO

Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo
Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa.
Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos,
Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco.
No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me,
Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me,
Morto do meu próprio pensamento, destruí-me,
Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me,
Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo,
Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria
Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica,
E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais.
Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz,
Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio
E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar ?

Meu instante agora é uma supressão de saudades. instante
Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio
Que me confundiu outrora. Já deixei de amar os desencontros.
Cansei-me de ser visão, agora sei que sou real em um mundo real.
Então, desprezando o outrora, impedi que a rosa me perturbasse.
E não olhei a ferrovia – mas o homem que sangrou na ferrovia –
E não olhei a fábrica – mas o homem que se consumiu na fábrica –
E não olhei mais a estrela – mas o rosto que refletiu o seu fulgor.
Quem agora estará absorto? Quem agora estará morto ?
O mundo, companheiro, decerto não é um desenho
De metafísicas magnificas (como imaginei outrora)
Mas um desencontro de frustrações em combate.
nele, como causa primeira, existe o corpo do homem
– cabeça, tronco, membros, as pirações e bem estar…

E só depois consolações, jogos e amarguras do espírito.
Não é um vago hálito de inefável ansiedade poética
Ou vaga adivinhação de poderes ocultos, rosa
Que se sustentasse sem haste, imaginada, como o fiz outrora.
O mundo nasceu das necessidades. O caos, ou o Senhor,
Não filtraria no escuro um homem inconsequente,
Que apenas palpitasse no sopro da imaginação. O homem
É um gesto que se faz ou não se faz. Seu absurdo –
Se podemos admiti-lo – não se redime em injustiça.
Doou-nos a terra um fruto. Força é reparti-lo
Entre os filhos da terra. Força – aos que o herdaram –
É fazer esse gesto, disputar esse fruto. Outrora,
Quando ainda sofria sobre as armações metálicas do mundo,
Acuado como um cão metafísico, eu gania para a eternidade,
sem compreender que, pelo simples teorema do egoísmo,
A vida enganou a vida, o homem enganou o homem.
Por isso, agora, organizei meu sofrimento ao sofrimento
De todos: se multipliquei a minha dor,
Também multipliquei a minha esperança.

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Ernesto Coutinho Junior / PE (Poemas Avulsos)

VAQUEIRO ERRANTE

A vida de um vaqueiro
tem coisas para se contar
o patrão exige e grita
que ele deve cavalgar.

Surge um berro
chega um boi,
em galopada vibrante,
mensageiro da boiada
que ouviu o seu berrante.

A boiada assim entendendo
passo a passo caminhou,
para fazenda do patrão
que em pouco tempo chegou.

Reunido no curral,
nem um rés faltou,
o povo admirou,
o vaqueiro não chegou.

Cumprida a sua missão,
partiu para encontrar,
o amor que lhe foi roubado,
sem ter tempo de gritar.

Assim o vaqueiro foi
um dia ele há de voltar
pois na vida de um vaqueiro
tem coisas para se contar.

AS PEGADAS DA VIDA

Há momentos na vida
difíceis de se suportar
quando surge uma mão amiga
docilmente a nos acalantar.

O brilho que antes era raro
se faz presente ao acordar
descobrindo novos caminhos
fazendo-nos novamente triunfar.

Hoje a noite se tornou mais bela
o cérebro magnamente a criar
idéias, sonhos e anseios
no desejo nobre de reconquistar.

Permanecendo sempre humilde
deixando o exemplo de sempre servir
a todos com nobreza de alma
escrevendo o nome do verdadeiro amor.

LÁGRIMAS

Lágrimas que rolam de um rosto
Lágrimas que mexem sentimento
Lágrimas que se alegram por momentos
Lágrimas que expressam uma vida
Lágrimas derramadas em noites longas
Lágrimas que por horas se tornam pesadas
Lágriams doadas de um amor puro
Lágrimas sentidas de um homem criança
Lágrimas que falam de um alguém
Lágrimas que amam
Lágrimas que perdoam
Lágrimas que buscam
Mesmo com mágoas
Se alegram ao ver alguém
Quem? Você.
Fonte:
União Brasileira de Escritores

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Arquivado em Pernambuco, poemas avulsos

Ernesto Coutinho Júnior (1956)

Ernesto Coutinho Júnior, natural de Recife/PE, nasceu aos 05/08/1956.

Advogado Criminalista, formado pela Faculdade de Direito de Olinda, Pós-Graduado em Processo Penal, Doutor PhD em Teologia, formado em Oratória na Academia Ateniense de Oratória, formado pelo Instituto Paulista do Júri.

Inscrito na UBE (União Brasileira dos Escritores), tendo publicado as seguintes obras:
O Tribunal Treme e Egrégio Tribunal. Publicou os C’ds: A Cegueira Jurídica na aplicação da lei, A Fuga da Lei no Tribunal, A Arte do Orador no Júri e Como Se Tornar Um Tribuno do Júri.

Professor de Oratória,
Palestrante de Auto-estima, focando palestras como: Liberte-se da depressão, Oratória no Júri, Descobrindo sua Verdadeira Identidade, Auto-Gestão Empresarial, Como Aplicar sua Inteligência, Superando os Obstáculos, Poder de Decisão, Visão Processual dentro do Campo do Direito, Aprendendo a fazer o Cálculo Estrutural da Engenharia Jurídica, Como detectar as Nulidades no Processo Penal.

Poeta, tendo realizado mais de 300 Júris e feito mais de 600 Sustentações Orais.

Atuou como advogado nos seguintes estados: São Paulo, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Brasilia e Rio de Janeiro.

Fonte:
União Brasileira de Escritores

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Arquivado em Biografia, Pernambuco, Recife

Ascenso Ferreira (Poemas Avulsos)

O GÊNIO DA RAÇA

 Eu vi o gênio da raça!!!
 (Aposto como vocês estão pensando que eu vou
 falar de Rui Barbosa).
 Qual!
 O Gênio da Raça que eu vi
 foi aquela mulatinha chocolate
 fazendo o passo de siricongado
 na terça-feira de carnaval!

MINHA ESCOLA

 A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
 E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
 Complicado como as Matemáticas;
 Inacessível como Os Luzíadas de Camões!

 À sua porta eu estava sempre hesitante…
 De um lado a vida… – A minha adorável vida de criança:
 Pinhões…Papagaios…Carreiras ao sol…
 Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
 Saltos de ingazeira pra dentro do rio…
 Jogo de castanhas…
 – O meu engenho de barro de fazer mel!

 De outro lado, aquela tortura:
 “As armas e os barões assinalados!”
 – Quantas orações?
 – Qual é o maior rio da China?
 – A 2+2 AB = quanto?
 – Que é curvilíneo, convexo?
 – Menino, venha dar sua lição de retórica!
 – “Eu começo, atenienses, invocando
 a proteção dos deuses do Olimpo
 para os destinos da Grécia!”
 – Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
 – Agora, a de francês:
 – Quand le christianisme avait apparu sur la terre…
 – Basta
 – Hoje temos sabatina…
 – O argumento é o bolo!
 – Qual é a distância da Terra ao Sol?
 – !??
 – Não sabe? Passe a mão à palmatória!
 – Bem, amanhã quero isso de cor…

 Felizmente à boca da noite,
 eu tinha uma velha que me contava histórias…
 Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água…
 E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.

TREM DE ALAGOAS
 
O sino bate,
 o condutor apita o apito,
 Solta o trem de ferro um grito,
 põe-se logo a caminhar…
 – Vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende
 com vontade de chegar…
Mergulham mocambos,
 nos mangues molhados,
 moleques, mulatos,
 vêm vê-lo passar.
 Adeus !
 – Adeus !
Mangueiras, coqueiros,
 cajueiros em flor,
 cajueiros com frutos
 já bons de chupar…
 – Adeus morena do cabelo cacheado !
Mangabas maduras,
 mamões amarelos,
 mamões amarelos,
 que amostram molengos
 as mamas macias
 pra a gente mamar
 – Vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende
 com vontade de chegar…
Na boca da mata
 ha furnas incríveis
 que em coisas terríveis
 nos fazem pensar:
 – Ali dorme o Pai-da-Mata
 – Ali é a casa das caiporas
 – Vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende
 vou danado pra Catende
 com vontade de chegar…
Meu Deus ! Já deixamos
 a praia tão longe…
 No entanto avistamos
 bem perto outro mar…
Danou-se ! Se move,
 se arqueia, faz onda…
 Que nada ! É um partido
 já bom de cortar…
 – Vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende
 vou danado pra Catende
 com vontade de chegar…
Cana caiana,
 cana rôxa,
 cana fita,
 cada qual a mais bonita,
 todas boas de chupar…
 – Adeus morena do cabelo cacheado !
 – Ali dorme o Pai-da-Matta !
 – Ali é a casa das caiporas
 – Vou danado pra Catende,
 vou danado pra Catende
 vou danado pra Catende
 com vontade de chegar…

A MULA DE PADRE

Um dia no engenho,
Já tarde da noite
Que estava tão preta
Como carvão…
A gente falava de assombração:

— O avô de Zé Pinga-Fogo
Amanheceu morto na mata
Com o peito varado
Pela canela do Pé-de-Espeto!
— O cachorro de Brabo Manso
Levou, sexta-feira passada,
Uma surra das caiporas!
— A Mula de Padre quis beber o sangue
Da mulher de Chico Lolão…

Na noite preta como carvão
A gente falava de assombração!
Lá em baixo a almanjarra,
A rara almanjarra,
Gemia e rangia
Oue o Engenho Alegria
É bom moedor…

Eh Andorinha!
Eh Moça-Branca!
Eh Beija-Flor. . .

Pela bagaceira
Os bois ruminavam
E as éguas pastavam
Esperando a vez
De entrar no rojão…
Foi quando se deu
A coisa esquisita:
Mordendo, rinchando,
As pôpas e aos pulos
Se pondo de pé
Com artes do cão,
Surgiu uma besta sem ser dali não…

— Atallia a bicha, Baraúna!
— Sustenta o laço, Maracanã!
E a besta agarrada
Entrou na almanjarra,
Tocou-se-lhe a peia
Até de manhã …

E depois que ela foi solta
Entupiu no oco do mundo!
Num abrir e fechar d’olhos
A maldita se encantou…

De tardinha.
Gente vinda
Da cidade
Trouxe a nova
De que a ama
De seu padre
Serrador
Amanhecera tão surrada
Que causa compaixão!

……………………………….
Na noite tão preta como carvão
A gente falava de assombração.

CARNAVAL DO RECIFE

Meteram uma peixeira no bucho de Colombina
que a pobre, coitada, a canela esticou!
Deram um rabo-de-arraia em Arlequim,
um clister de sebo quente em Pierrô!

E somente ficaram os máscaras da terra:
Parafusos, Mateus e Papangus…
e as Bestas-Feras impertinentes,
os Cabeções e as Burras-Calus…
realizando, contentes, o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

– Mulata danada, lá vem Quitandeira,
lá vem Quitandeira que tá de matá!

– Olha o passso do siricongado!
– Olha o passo da siriema!
– Olha o passo do jaburu!
E a Nação-de-Cambinda-Velha!
E a Nação-de-Cambinda Nova!
E a Nação-de-Leão-Coroado!

– Danou-se, mulata, que o queima é danado!
– Eu quero virá arcanfô!
Que imensa poesia nos blocos cantando:
“Todo mundo emprega
grande catatau,
pra ver se me pega
o teu olho mal!”
– Viva o Bloco das Flores! Os Batutas!
 Apois-fum!
(Como é brasileira a verve desse nome: Apois-fum!)
E o Clube do Pão Duro!
(É mesmo duro de roer o pão do pobre!)

– Lá vem o homem dos três cabaços na vara!
“Quem tirar a polícia prende!”

– Eh, garajuba!
Carnavá, meu carnavá,
tua alegria me consome…
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegou lá nada…

Chegou foi o tempo delas pegarem os homens,
porque chegou o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

– Pega o pirão, esmorecido!

“OROPA, FRANÇA E BAHIA”

Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,

Que dava fundos prá terra.
( “para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar”).

…Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar…

A vida de Manuel,
que louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de “Oropa, França e Bahia”!

— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!

Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim…

Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
“De Oropa, França e Bahia”…

— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim…
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!

“Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus…”
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.

“Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são”…
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão…

Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul…
— Ah! Seu Manuel, isso chega…
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.

— “Onde vais mulhé?”
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá…”

Maria atirou-se n’água,
Seu Manuel seguiu atrás…
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo…
De “Oropa, França e Bahia”!

Nadavam de mar em fora…
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia…
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!

De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia…
Seu Manuel era um “Boi Morto”,
Maria, uma “Cotovia”!

E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?

— continuam mar em fora,
navegando noite e dia…
Caminham para “Pasárgada”,
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!

— As eternas naus do Sonho,
de “Oropa, França e Bahia”…

MARACATU

Zabumba de bombos,
Estouro de bombas,
Batuques de ingonos,
Cantigas de banzo,
Rangir de ganzás…

– Luanda, Luanda, onde estás?
Luanda, Luanda, onde estás?

As luas crescentes
De espelhos luzentes,
Colares e pentes,
Queijares e dentes
De maracajás…

– Luanda, Luanda, onde estás?
Luanda, Luanda, onde estás?

A balsa do rio
Cai no corrupio
Faz passo macio,
Mas toma desvio
Que nunca sonhou…

– Luanda, Luanda, onde estou?
Luanda, Luanda, onde estou?

FILOSOFIA

Hora de comer – comer!
 Hora de dormir – dormir!
Hora de vadiar – vadiar!

Hora de trabalhar?
– Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

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Bastos Tigre (Caderno de Trovas)

Saudade,  palavra  doce,
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
espinho cheirando a flor.
Aliança!   algema  divina,
a mais doce das prisões;
uma  prisão  pequenina
que encerra dois corações.
Ama a tua arte. Por ela       
faze o bem: ama e perdoa.
A  bondade  é sempre bela,         
a beleza  é  sempre  boa.    
Eu versos os mais diversos       
já fiz: muita gente os lê…        
Mas “poesia” há nos versos    
que eu fiz pensando em você.    
Mente o peito que suspira?
O beijo é só falsidade?           
Bendigamos  a  mentira          
se ela é melhor que a verdade.
Você diz que é cego o amor…
Como se engana você!            
Fecha os olhos o impostor        
para fingir que não vê.        
Meu amor enche-me a vida
e eu vivo feliz assim.             
Basta que gostes, querida,   
de ser querida por mim.        
Quando em meus braços te aperto,
satisfaço o meu desejo:            
de mim te sinto tão perto,        
tão perto que não te vejo.        
Um filósofo de peso                    
é desta sentença o autor:            
o beijo é fósforo aceso                 
na palha seca do amor.                
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!     
Namorados. Para ouvi-los    
faço, ao lado esforços vãos,  
Como dois mudos, tranqüilos,
falam somente com as mãos.  
Seu dinheiro o homem, cioso,
não confia a qualquer,              
mas a honra de esposo      
deixa nas mãos da mulher    
Quem canta seu mal espanta,
diz o provérbio ilusório.
Você, rapaz, quando canta
espanta, sim… o auditório.
Depois  de  uma  vida  airada,
ao  céu  quis  ir  sem  licença.
São Pedro  pede-lhe a entrada-
e o morto, arrogante: – Imprensa!
Trocar idéias contigo ?              
É possível, mas escuta:              
quero ver, primeiro, o artigo                 
que ofereces à permuta.                
Quando nós, discretamente                 
ficamos conosco a sós,             
 é que ouvimos quanta gente            
chora e ri dentro de nós.           
 Neste mundo organizado              
 de encontro à lei natural,               
 tudo que é bom é pecado             
e o que é gostoso faz mal.              
Dinheiro não há que abrande              
a  dor  que  um peito magoa:            
uma  sorte é ” sorte grande”            
outra  coisa  é ” sorte boa “.            
 “O cão que ladra não morde”.               
Permitam que nesta quadra             
eu do provérbio discorde:             
sim, não morde… enquanto ladra.            
Amizades são incertas.              
Ao fazê-las, desconfia:              
esta mão que agora apertas            
bem pode espancar-te um dia.              
Não te queixes! Sofrem quantos              
vivem, na vida, a lutar;              
se não secassem os prantos,          
o mundo era todo um mar.              
Um longo olhar que se lança
numa carta ou numa flor;    
Saudade – irmã da Esperança,
Saudade – filha do Amor.        
O poderoso ? Merece              
pena, lamento, piedade!            
Ah! se ele ao menos pudesse      
mandar na própria vontade!             
Foi-me o amor, na mocidade,              
um passatempo, comum:            
tantas amei que, em verdade,       
nunca tive amor nenhum.             
Ao  te  ver  fico  mudo              
mas mesmo assim, sou feliz.            
Pois meu olhar te diz tudo             
que a minha voz não te diz.           
Se te olho de quando em quando,              
Por Deus, não é por mau fim;              
é que estou verificando              
se tu olhas para mim.                    
Um sonho é ter-te ao meu lado,
a te ver, ouvir, palpar…             
Que bom sonhar acordado          
sem perigo de acordar!             
O meu coração é o cofre      
que as minhas dores contém    
e as dores que você sofre    
eu nele guardo-as também.  
Na minha face estás lendo              
que a minha mágoa é sem fim;                  
mas sinto alívio, sabendo              
que não sofres… nem por mim!                          
Vacinei-me contra o amor              
mas  não  tive  resultado…                         
Nas farmácias – é um horror!-             
tudo  é  falsificado.             
Ponhamos no calendário   
mais um santo português
milagroso Santo Hilário,    
que os fados mais belos fez.
Elo de ouro! És a esperança
de horas risonhas e calmas! 
Felizes dos que, na aliança,  
acham a aliança das almas.  
Os sonhos tem saúde, entendo,
nasceram com boa estrela.
Pena é viverem sofrendo             
pelo medo de perdê-la.     
Saudade – um suspiro, uma ânsia,              
uma  vontade  de  ver                         
a  quem  nos    à  distância              
com  os  olhos  do bem-querer.             
AMBIÇÃO – De olhar agudo,  
marcha, firme, aos seus ideais;
quer pouco, que mais, quer tudo;
se tem tudo ainda que mais.              
LIBERDADE – O cidadão              
livre, tem todo o direito              
de fazer o que o patrão             
acha que deve ser feito.            
Saudade é um mal que consiste              
em sofrer por vontade              
mas na vida o quanto é triste           
não ter de quem ter saudade!          
Da morte a sentença imprensa              
trazemos desde o nascer:            
assim que a vida começa        
começa a gente a morrer.                   
Como infeliz é esta gente             
que pensa que ser feliz        
é não dizer o que sente      
e não sentir o que diz!
Este velho batoteiro          
quando a morte o trouxe cá,
ao ver a pá… do coveiro      
foi dizendo: – bacarat !            
Quem só a verdade aspira
com certeza inda não viu         
que a verdade é uma mentira
que inda não se desmentiu.  
Da vida o relógio rode              
até que a corda se acabe…
Em moço, nada se sabe; 
em velho, nada se pode… 
Cora a moral, fica rubra,
ante a imodéstia; pois, certo,
é feio que se descubra    
o que deve ser coberto.
Seguro porto, esperança,              
dos que andam pelo alto mar!       
É nas procelas – bonança,              
farol… estrela polar…
Jurar é falar a esmo,
é prometer sem pensar.     
Juras não faças; nem mesmo
a jura de não jurar.                   
Se a mulher que está contigo              
vive do “outro” a dizer mal,              
tem cuidado, meu amigo,              
ela inda ama o teu rival.              
A Saudade é calculada    
por algarismos também:
distância multiplicada
pelo fator “querer bem”.
Olhos tristes ou risonhos
vejo entre a gente do povo      
dos restos dos velhos sonhos
fabricando um sonho novo…       
Quanta palavra bonita!
Quanto perdido latim!
E quanta cera erudita
para defunto tão ruim!
Como será compreendida
a incongruência da sorte?
Pois há quem nasça sem vida
e ninguém morre sem morte.
Eu, neste assunto de esmola
sem  ambições  me  suponho:
estendo  a  minha  sacola
peço um bocado de sonho…
                                      
Fonte:
 Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge (organizadores). Cem Trovas de Bastos Tigre. Coleção “Trovadores Brasileiros”- Editora Vecchi – 1959

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Marcelino Freire (Muribeca)

Lixo? Lixo serve pra tudo. A gente encontra a mobília da casa, cadeira pra pôr uns pregos e ajeitar, sentar. Lixo pra poder ter sofá, costurado, cama, colchão. Até televisão. É a vida da gente o lixão. E por que é que agora querem tirar ele da gente? O que é que eu vou dizer pras crianças? Que não tem mais brinquedo? Que acabou o calçado? Que não tem mais história, livro, desenho? E o meu marido, o que vai fazer? Nada? Como ele vai viver sem as garrafas, sem as latas, sem as caixas? Vai perambular pela rua, roubar pra comer? E o que eu vou cozinhar agora? Onde vou procurar tomate, alho, cebola? Com que dinheiro vou fazer sopa, vou fazer caldo, vou inventar farofa? Fale, fale. Explique o que é que a gente vai fazer da vida? O que a gente vai fazer da vida? Não pense que é fácil. Nem remédio pra dor de cabeça eu tenho. Como vou me curar quando me der uma dor no estômago, uma coceira, uma caganeira? Vá, me fale, me diga, me aconselhe. Onde vou encontrar tanto remédio bom? E esparadrapo e band-aid e seringa? O povo do governo devia pensar três vezes antes de fazer isso com chefe de família. Vai ver que eles tão de olho nessa merda aqui. Nesse terreno. Vai ver que eles perderam alguma coisa. É. Se perderam, a gente acha. A gente cata. A gente encontra. Até bilhete de loteria, lembro, teve gente que achou. Vai ver que é isso, coisa da Caixa Econômica. Vai ver que é isso, descobriram que lixo dá lucro, que pode dar sorte, que é luxo, que lixo tem valor. Por exemplo, onde a gente vai morar, é? Onde a gente vai morar? Aqueles barracos, tudo ali em volta do lixão, quem é que vai levantar? Você, o governador? Não. Esse negócio de prometer casa que a gente não pode pagar é balela, é conversa pra boi morto. Eles jogam a gente é num esgoto. Pr’onde vão os coitados desses urubus? A cachorra, o cachorro? Isso tudo aqui é uma festa. Os meninos, as meninas naquele alvoroço, pulando em cima de arroz, feijão. Ajudando a escolher. A gente já conhece o que é bom de longe, só pela cara do caminhão. Tem uns que vêm direto de supermercado, açougue. Que dia na vida a gente vai conseguir carne tão barato? Bisteca, filé, chã-de-dentro – o moço tá servido? A moça?Os motoristas já conhecem a gente. Têm uns que até guardam com eles a melhor parte. É coisa muito boa, desperdiçada. Tanto povo que compra o que não gasta – roupa nova, véu, grinalda. Minha filha já vestiu um vestido de noiva, até a aliança a gente encontrou aqui, num corpo. É. Vem parar muito bicho morto. Muito homem, muito criminoso. A gente já tá acostumado. Até o camburão da polícia deixa seu lixo aqui, depositado. Balas, revólver 38. A gente não tem medo, moço. A gente é só ficar calado. Agora, o que deu na cabeça desse povo? A gente nunca deu trabalho. A gente não quer nada deles que não esteja aqui jogado, rasgado, atirado. A gente não quer outra coisa senão esse lixão pra viver. Esse lixão para morrer, ser enterrado. Pra criar os nossos filhos, ensinar o nosso ofício, dar de comer. Pra continuar na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não faltar brinquedo, comida, trabalho. Não, eles nunca vão tirar a gente deste lixão. Tenho fé em Deus, com a ajuda de Deus eles nunca vão tirar a gente deste lixo. Eles dizem que sim, que vão. Mas não acredito. Eles nunca vão conseguir tirar a gente deste paraíso.

Fonte:
FREIRE, Marcelino. Angu de Sangue. Ateliê Editorial, 2000.

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Aécio Nordman Lopes Cavalcante (Livro de Sonetos)

SONETO A UMA PRINCIPIANTE

Os versos teus, tão dolentes,
(Por Deus, como não minto)
Por serem tudo o que sentes,
Não são mais do que eu sinto;

Que se vês alegre e extinto
De pranto e ranger de dentes
O peito meu – antes recinto
Das chagas mais maldizentes,

É que esse peito teu, criança,
Era alheio ao mal que se sente
Quando mal se vai a esperança;

E o meu, se sorri de repente,
É que esconde os ais da lança,
Dentro de um coração dormente!

ENTRE CACHORRO E GATO

Fosse eu um mágico, em um estranho truque
Roubava, do King, os olhos; do Kicão, o pêlo;
Do Tuli, a fome; e o cheirinho do Baruque,
De tudo eu faria, para eternamente tê-lo.

Tirava-me de vez da cartola e do smoke,
E de tudo o que antes fora, longe de sê-lo,
Eu iria a latir e a miar, e a mais querê-lo
Longe de mim, para do que sou mais lucre…

Quem sabe assim, se entre cachorro e gato,
Fosse eu ser-te o eterno guardião eleito,
A cheirar, do solo, a sola do teu sapato.

Mas, ai! Como me dói a idealização do feito!
Vai-te-me sonho! Não me sejas tão insensato,
Que trocar-me não posso o coração do peito!

A MINHA JURA

Ontem eu jurei: nunca mais hei eu
De amá-la! Tampouco querer vê-la!
Ela é para mim como uma estrela
Que já não brilha porque já morreu.

Seguirei meu caminho mesmo sem ela…
Posso lembrar que um dia lhe pertenceu
Todo este amor que sufoca o meu
Peito, mas contente e longe dela.

Isso eu jurei ontem, porque ainda
Hoje cedo minha vista quis revê-la,
E, louca, a procurou em busca infinda…

E o meu amor, que jamais atura
Um instante sequer sem merecê-la,
Hoje me fez quebrar a minha jura!

EIS O POETA

Tive de amar Joana, para amar Dolores;
Meu grito de amor, guardar bem quedo;
Ando mui lento, mas se avisto horrores,
Corro mil léguas, que não sou de enredo;

Sorrio ao inimigo que me apronta dores,
Tranco-me ao amigo que se faz de ledo;
Não sou nacional, por estar tão cedo,
E sou nacional, por sufocar rancores;

Por ti, leitor, vou de escravo a amo;
Quando em vida, dou milhões de flores,
Quando em morte, não aceito um ramo;

Em toca de santo eu não ponho o dedo;
O que mais detesto é o que mais amo,
E o que mais temo… é o medo.

SONETO A UM AMIGO HERÓI

Fraco guerreiro, já sem fé e sem trilho,
Descrido por todos nas feições do porte,
Eis que surgiste dos bordões da morte,
A gritar: “vencer!” – o teu só estribilho.

E deixaste lar, pátria, mulher e filho…
Em tua mente otimista, sorrias da sorte:
“- Hei de vencer, como só vence um forte:
Com coragem e bravura e garra e brilho!…”

E marchaste então à luta, grande soldado,
Sem corcel e sem escudo, tendo apenas
Por arma, a esperança no ideal traçado.

Foste e venceste, e tuas feições serenas
É incentivo maior ao viajor cansado,
Que não alcança na luta a razão das penas!

SONETO DA FALSA EXPRESSÃO

Se abro da pena e traço-te estes versos
No louco afã de decantar meu amor,
É que, afogado entre pranto e dor,
Quero afastar-me d’alma os ais imersos.

Mas na ânsia de dizer-te o quanto for,
Peco nos ditos, que os vês inversos
E frágeis, e de tão maus e reversos
Põem falso o poema que te vou compor.

Nem sei o que te diga, e sinto, e penso
Que por mais que eu t’o pinte infinito,
Minto; o meu amor é bem mais intenso.

Para o ter, não basta um frasear bonito,
Que há, nas palavras, o final tão denso,
E há, no amor, sempre algo pra ser dito!

SONETO A UMA MULHER BRIGUENTA

Dou toque-e-retoques sem achar-te o jeito
De veres-me perfeito nesses teus ciúmes:
Se avisto os cumes, estufas-te o peito,
E me pões afeito ao fedor de estrumes…

Nada te faço sem que, apressada, arrumes
Fingidos queixumes com arte e despeito:
Dou-te o direito a sentires-me ciúmes,
Dares-me aos perfumes o mais vil defeito;

Que eu, bem é certo, ouvir-te-ei calado
O injusto ralhar, e alheio ao meu enfado,
Estender-te-ei a mão para mais um bolo.

E se passo, de ti, indiferente a tudo,
Nem sequer percebes, do meu ódio mudo,
O quanto sou sábio em me fazer de tolo!

SONETO DO DESENCANTO

Ontem, quando pela primeira vez
Vi-te ali prostada ao pé de mim,
Sem a dúvida cruel do teu “talvez”,
Sem a negação do teu próprio “sim”,

Fitei então com tamanha altivez
Tua face roxo-clara de cetim,
Que todo o teu encanto se desfez
E pude constatar, surpreso, enfim,

Que não eras visão, mas carne e osso;
E a veste que te cobria, do mesmo pano
Que sempre cobriu o meu corpo de moço.

Eras mais uma Maria (morto o engano)
Com os pés em terra, incapaz de dano,
A puxar um cãozinho pelo pescoço.

SONETO DA BUSCA DA FELICIDADE

Seguindo sempre a atraente senda,
Fui-te, felicidade, com a fama:
Sempre mais alto do odor da lama,
Cri teu corpo por detrás da venda.

Oh! dor de ver tão cheia esta tenda
De tudo o que é belo e se mais ama,
E só ouvir o som que se derrama
Por vasta fenda de invisível fenda!

Cerra os meus olhos do vazio aberto
Aonde vai a estrela pueril e errante;
Sana, ó destino, cavaleiro incerto,

Da vida, a realidade ora jorrante:
A dor de vê-la cada vez mais perto,
E tê-la cada vez mais distante!

SONETO A OLAVO BILAC

“Príncipe dos Poetas” – o eterno eleito
De todos foste, brasileiro e forte,
A cantar, em gloriosa lira, o peito
Em dores mil, sem que da dor suporte

Os ferrões… E eu nada sou, que malfeito
É-me o estilo, e de desprezível porte
Ante o teu estilo, que, já sem jeito,
Maldigo, do saber, minha pouca sorte

De nunca achar em verso meu o estilo
Mais justo para as mágoas que abrigo,
E só compor-me verso como viste:

Sem perícia; que me acho, ao redigi-lo,
Pequeno ante as glórias que conseguiste,
E grande ante as glórias que não consigo!

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/meulivro.php?a=83&x=15&y=8

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Edigles Guedes (Livro de Sonetos)

NAUFRAGO-ME NA SUPERFÍCIE

Páginas e mais páginas, folheadas
A inconsútil dedo, vagam por horas
A fio, na escrivaninha tão recheada
De livros imaginários… agora!…

Eis uma escrivaninha inexistente
Povoando a memória indelével de mim!…
Quem me dera! se eu pudesse navegar
Por entre as escumas, co’ odor de jasmim

A perseguir minhas ilusões!… Vagar,
Quiçá, por livros, que férteis são terras
De ideias mirabolantes, minha mente!…

E o vento sopra no meu rosto… Serra
Vai, monte vem… Montanha vai, planície
Vem… E eu naufrago-me na superfície…

DESCRIÇÃO MARÍTIMA

Ribombou o velho mar!… Tuas tênues ondas
Tecem fios de fiandeira na escuma atroz!…
Voa ligeiro e mais que veloz o albatroz,
Qual o sorriso de tua “La Gioconda”!…

Ostras perambulam por entre rochas
Anônimas!… Sociedades de corais
Pintam de Picasso os azuis anormais!…
Anêmonas acendem tortas tochas

De neurotoxinas… Peixes naufragam
Nos frios d’águas… Caranguejos afagam
A textura insondável do rochedo!…

É noite e o mar baloiça as velas, toscas
E trêmulas, voejam… Foscas moscas
Brincam com a lixeira do penedo…

TUA MÃO

Teu corpo de pérola em meu corpo
Deitado e vagamundo… Psiu tosco
De mão que mão se namora… Rede
Sem peixe para pescar: só mágoa…

Teia de aranha que arranha essa pele
De tigre… Peçonha que me chora
De dor inconcebível… Insídia
De cavaleiro medieval… Mídia

Sem suporte técnico… Parede
Sem porta ou caminho nu sem saída…
Sentimentos que me enredam… Pepe

Legal (cabuloso) sem Babalu,
Seu escudeiro; assim, ando por tabu
E teimosia… Acho tua mão lânguida!…

LUA DE OCEANO AQUÉM

Lua: bacia de prata, em que me banho de seus raios
Argênteos, na Noite fria e calma co’ essa chuva
Renitente… Descontente com as estrelas
Cadentes que nenhum dos meus desejos realizam…

Eis que Lua bamba, pendurada no trampolim
Da vaidade, sofre porque sofre com desmaios
De gravidade ausente!… Andorinha viúva
Procura marido em páginas amarelas…

Entretanto, essas estrelas parabenizam
A caçadora intrépida e seu vulgar gaiolim,
Que me prenderam aos grilhões: de Amor cárcere!…

Coruja corveja, abre asas, corre célere,
Zomba de minha insensatez, por amar a quem
Não me ama, qual Lua solitária, do oceano aquém.

ROSA CEGA

Corre e abraça-me com abraços longos
E apertados… Olha-me olhos oblongos,
Perquirindo o Tempo pretérito na
Minha face rústica… Bela Dona

Que balança seus quadris de ondas do mar…
No azo, torno-me domador a domar
Minha dor tão madura!… Cai, qual fruto
Proibido de ósculos, no plano astuto

Da Serpente devoradora de olhos
Humanos. Eis que não vejo a luz tênue
No final do túnel!… Sim, cata-piolho

Brigou com fura-bolo na bacia, aiuê!
De algodão-doce… Ah! Porquanto Amor caolho
Esconde a rosa cega de seu buquê!…

ABRAÇOS AMARGOS

Instantâneo segundo, que passo sem olhar
Fundo nos olhos de minha Dama, uma náusea
Bruta brota no meu peito de árvore pérsea!…
Mas, o outono chega: eis pungente esse desfolhar

De olhos castanhos, tão castos quanto suaves são;
Que seduzem e encantam límpido coração
Aventureiro, qual Xerazade com lábias
Mil na boca enganadora… Loucas e sábias

Palavras misturam-se em grão caldo de cana…
A Noite dadivosa vem pé de mansinho,
Com seu odor de blandícia, carícia e carinho…

Sem pedir licença, entra perfume de alfana
Nas minhas narinas; ouço os passos mui largos
De minha Flor: eis nossos abraços amargos!…

PROCURA-SE UM TROPEÇO

Procurei um sentido no sem sentido que sente
A alma gemente da gente, que anda descontente
Com o Fado: artista arlequim, guizos de Lua algente,
Malcriada e fatal mulher de olho concupiscente.

De tanto procurar esqueci-me de achar o que
Procurava; como tenra criança com bilboquê,
A qual se esquece do tempo com terno brinquedo
Na mão cândida e venturosa. Sim, corro e quedo.

Almejo alcançar o infinito do pensamento,
Desbravar a aventura néscia do sentimento,
Destronar do meu coração trágico lamento.

Ó alma tremente! se logrei meu intento, conheço
O fim do fio da meada que procuro; o começo,
Mas é duro; por isso, quero lembrar… tropeço!

AMOR MADURO EM CAIXA DE CHUMBO

Tu inoculas teu veneno de serpe
Aleivosa, que me engana como Eva
Embrulhou Adão no Jardim do Éden. Treva
Logrou ambos com sua língua, trapuz, de erpe!

Mas, é doce a peçonha que me adoça
O Fado ingente. Louca, consomes chá
De meus passos, após receber crachá:
“Ando a servir ao próximo por troça!”

Tu és serpente tremente de ódio por mal
Que nunca fiz a ti, antes salvaguardei
Nosso Amor maduro em caixa de chumbo.

Se Amor adoeceu em profundeza abismal,
Certamente a ele jamais eu reservei
Maléficos intentos, sons de zumbo!

CORAÇÕES ENGRINALDADOS

Lembro-me do retrato na parede do nosso
Quarto de dormir. Nossos olhos enamorados clamam
Um pelo outro, em suspiros de desejos; declamam
Poemas eróticos às quatro paredes!… Que osso

É a vida!… Foi ontem que subimos, jungidos beijos,
A ladeira do tálamo. Tu estavas formosa;
Esplendias com todas as primaveras!… Oh! rosa
Do meu jardim de Amor e delícias… Onde queijos

De Lua se esconde do paladar da minha boca,
Fremente de prazer e gozo?… Sim, eis quão louca
Paixão me consome o íntimo meu ser… Quiçá ninguém

Me escute o dessegredo… Ó coelhinha na toca
De amores! acolhida nos meus braços de mouca
Libido, que pena sou na alcova mais um alguém!…

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/meulivro.php?a=110

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Arquivado em livro de sonetos, Pernambuco, Recife

Edigles Guedes (1976)


Nasceu em 08.01.1976, em Recife, Pernambuco – Brasil.

Desde os 14 anos, quando estava no Colégio de Aplicação da UFPE, cursando a 8.ª Série do 1.º Grau, escreve poesias, cultivando entre outras formas, o soneto.

Cursou, entre os anos de 1991 a 1993, a Escola Técnica Federal de Pernambuco, onde se formou em Auxiliar Técnico em Eletrônica.

Durante os anos de 1994 e 1996, cursou o 3.º Grau, na Academia de Paudalho.

Apaixonado por línguas, desde os 12 anos aprendeu francês; aos 14, inglês; daí em diante: espanhol, italiano e alemão, línguas em que está engatinhando.

Leitor voraz, ele gosta de vários estilos de literatura. Em português: Luís de Camões, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Camilo Pessanha, Florbela Espanca, Cesário Verde, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Machado de Assis, Olavo Bilac, Cruz e Souza, Clarice Lispector, Guimarães Rosa. Em inglês: James Joyce, William Faulkner, Virgínia Woolf, Katherine Mansfield. Em francês: Gustave Flaubert, Honoré de Balzac, Rimbaud e Mallarmé. Em alemão: Georg Trakl, Frank Kafka e Rainer Maria Rilke. Em russo: Dostoievski e Tchekhov. Em espanhol: Pablo Neruda, Jorge Luís Borges e Miguel de Cervantes. Em italiano: Petrarca, Dante, Umberto Eco, Ítalo Calvino. Enfim, ama os clássicos da literatura universal.

Gosta de ler os poetas e filósofos gregos e latinos. Compulsivamente, gosta de ler Franz Kafka e Sören Kierkegaard. Como William Faulkner, lê diariamente a Bíblia e Shakespeare.

Apreciador de aforismos, diz sempre: escrever é deitar no colo de Deus, uma gota de paz no oceano de tribulações.

Atualmente, publica os seus sonetos no seguinte blog:
http://sonetosdeedigles.blogspot.com/

Ademais, cultiva, também, outras formas poéticas em:
http://ediglesguedes.blogspot.com/.

Publica contos e novelas em:
http://oquartodekafkaeoutroscontos.blogspot.com/.

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/meulivro.php?a=110

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Arquivado em Biografia, Pernambuco, Recife

Valmir Jordão (Do Tricentenário de Zumbi)

Quilombo,Angola-Janga,
guerreando pra viver em paz,
igualdade direito de todos
salvaguardado pelos Orixás.

N’zambi,Zombi,Zumbi grande chefe
engravidou a Serra da Barriga,
de negritude,coragem,resistência
quilombola guerreiro bom de briga.

Mombaça,Congo,Camarões,Daomé
África oceânica palmarina,
enfrentando o amargo do açúcar
escravidão,tortura,má-sina.

Malungos nas várias Senzalas
Quimbundo,Mandinga,Jeje,Yorubá
em fuga,derrubam paus mandados,
pra ter tempo de jogar o Caxangá.

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Arquivado em O poeta no papel, Pernambuco, Recife

Adelmar Tavares (Cantigas de Amor)

Renúncia de amor profundo
Guarda sublime troféu:
Transforma pedras do mundo
Em construções para o Céu.

Amor que eu saiba em vitória,
No rumo do firmamento,
Deve perder toda escória
No fogo do sofrimento.

Celeste amor que perdura
Atende a roteiro assim:
Ilimitada ternura
No entendimento sem fim.

Chagas de amor que se eleva
Recordam Cristo na cruz…
De cada golpe da treva
Jorra uma fonte de luz.

Amor vence espinho, ultraje,
Agravo, calúnia e lama.
Amor puro é Deus que age
No coração de quem ama.

Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitalização por Lúcia Aydir
Imagem = http://julioribeirocortez.blogspot.com

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Arquivado em Pernambuco, Trovas

Sandoval Ferreira (O Matuto e o Fusca Véio)


Hoje recebi do correio o livro do pernambucano de Iati, Sandoval Ferreira, “Meu Sertão em 12 Versos”, composto de vários “causos” em cordel, além de um DVD com o próprio autor declamando suas poesias. Já conhecia o trabalho deste escritor desde 2009, quando postei “Poesia da Água” com uma breve biografia, em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/sandoval-ferreira-poesia-da-gua.html

Atualmente Sandoval (27/02/1983) mora em Guaranhuns, PE, é técnico agrícola e cursa a Faculdade de Marketing.

Transcrevo abaixo um “causo” que consta em seu livro, o primeiro que botei os olhos quando abri o seu livro.

Comprei um fusca fiado
Em catorze prestação
A primeira eu já paguei
O resto no pago não
É que o peste do fusca
Só na base do empurrão

Foi essa a reclamação
Do matuto que comprou
Um fusca véio usado
Que um malandro lhe passou
E ele voltou arretado
Pra matar o vendedor

Ele disse ao doutor
Dentro da delegacia
Nunca mais eu vou pagar
Por aquela porcaria
E Se eu não matá-lo hoje
Mato ele no outro dia

Grande foi a gritaria
E tamanha confusão
O matuto já nervoso
O vendedor com queixão
E o delegado no meio
Pra resolver a questão

O matuto disse então
O fusca não tem amortecedor
Arranhão na lateral
Falta um retrovisor
O banco já tá rasgado
E o pneu já estourou

O vendedor reclamou
Dessa vez bem irritado
Não vendi o fusca novo
Te vendi um fusca usado
Agora quer devolver ?
Tu não pegou emprestado

Pra o azar do delegado
O matuto retrucou
Só comprei aquela peste
Porque você me empurrou
Fui subir a ladeira
Ele bateu o motor

Ta vendo o senhor doutor
Ele quer subir ladeira
Comprou um fusca 69
Não uma égua andadeira
Mande esse cabra ir embora
Mode deixar de besteira

Acabou a brincadeira
Podem parar a zoada
Isso aqui não é um circo
Pra ficar com palhaçada
Ficam os dois no xadrez
E a coisa ta encerrada

Isso não meu camarada
Retrucou o vendedor
Devolvo o dinheiro dele
Dou um trocado ao senhor
Faço o que você quiser
Mas pra cadeia eu não vou

Ta muito bem seu doutor
Do jeitinho que eu queria
Eu sou um home direito
Não gosto de ingrizia
Ele pega o meu fusca
E se acaba a agonia

Livres da delegacia
Dessa vez mais conformado
O vendedor foi buscar
O fusca véio quebrado
E pra se livrar da bomba
Deu de graça ao delegado.

Fontes:
FERREIRA, Sandoval. Meu sertão em 12 versos: causos nordestinos.
Imagem = Megasena

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Arquivado em Causos, Literatura de Cordel, O Escritor com a Palavra, Pernambuco

Carlos Alberto de Assis Cavalcanti (Livro de Trovas)

Tinha viúva demais
no velório do bacana,
todas choravam iguais:
enganaste, seu sacana!

Os moradores do além
não causam mal aos de cá,
mas os que moram aquém
é que nos mandam pra lá.

Discursava no plenário,
se dizendo popular,
mas na hora do salário,
só pensava em se aumentar.

Se antigamente era a mão
que o noivo à noiva pedia,
agora os dois, de antemão,
já nem mais esperam o dia…

Há quem diga que a mentira
tem pernas curtas pra andar,
mas o dono dela estira
as suas para ajudar.

Há quem chore por defunto
bem na beira do caixão,
mas ninguém quer ficar junto
do finado sob o chão.

No domingo, bem contrito,
comunga da eucaristia;
na segunda, bem aflito,
comunga da carestia.

No passado, bem remoto,
havia a mata e o primata;
no presente, se bem noto,
nem primata, nem a mata.

Logo se fez um tumulto
na prova de Português,
achar um sujeito oculto.
pois aluno quer de vez

De que adianta tua cobiça,
teu rasante olhar de abutre,
se há de ser também carniça
essa carne que te nutre.

Se dizia o mais temido
lá no morro do presunto,
sendo assim foi promovido
de valente pra defunto.

Quando o homem é o predador
das belezas naturais,
não respeita nem a dor
que provoca aos animais.

Tão radical se mantinha
quando entrava em discussão,
que nem ele mesmo tinha
pra peleja a solução.

Era um deputado obeso,
mesmo estando em exercício,
tinha um salário de peso
pra tão pouco sacrifício.

Fontes:
UBT Nacional

Curriculo Lattes

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Solano Trindade (Antologia Poética)

POEMA AUTOBIOGRÁFICO

Quando eu nasci,
Meu pai batia sola,
Minha mana pisava milho no pilão,
Para o angu das manhãs…
Portanto eu venho da massa,
Eu sou um trabalhador…

Ouvi o ritmo das máquinas,
E o borbulhar das caldeiras…
Obedeci ao chamado das sirenes…
Morei num mucambo do “”Bode””,
E hoje moro num barraco na Saúde…

Não mudei nada…

CANTA AMÉRICA

Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador…

CONVERSA

– Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…

– Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
– Plantei os canaviais do nordeste

– E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.

– Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro

– Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,

tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.

Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar –

E tu, Manoel,
que andaste a fazer
– Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…

Eita negro!
– Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.

EU GOSTO DE LER GOSTANDO

Eu gosto de ler gostando,
gozando a poesia,
como se ela fosse
uma boa camarada,
dessas que beijam a gente
gostando de ser beijada.

Eu gosto de ler gostando
gozando assim o poema,
como se ele fosse
boca de mulher pura
simples boa libertada
boca de mulher que pensa…
dessas que a gente gosta
gostando de ser gostada.

NEGRA BONITA

Negra bonita de vestido azul e branco
Sentada num banco de segunda de trem
Negra bonita o que é que você tem?
Com a cara tão triste não sorri pra ninguém?
Negra bonita
É seu amor que não veio
Quem sabe se ainda vem
Quem sabe perdeu o trem
Negra bonita não fique triste não
Se seu amor não vier
Quem sabe se outro vem
Quando se perde um amor Logo se encontra cem
Você uma negra bonita Logo encontra outro bem.
Quem sabe se eu sirvo
Para ser o seu amor
Salvo se você não gosta
De gente da sua cor
Mas se gosta eu sou o tal
Que não perde pra ninguém
Sou o tipo ideal
Pra quem ficou sem o bem…

REFLEXÃO

Vieste acender o meu fogo poético,
E minh’alma se abriu pras grandes festas,
A música dos teus poemas,
Faz-me dançar o bailado, Da primeira mocidade…
Eu sinto vontade de não ser sexo,
Para brincar contigo como criança,
E brincar de cirandinha com tu’alma.
Mas como sou sexo, Vou assistir um espetáculo humano;
A confecção de bandeiras iguais,
Para seres que parecem diferentes.

POEMA DO HOMEM

Desci à praia
Para ver o homem do mar,
E vi que o homem
É maior que o mar

Subi ao monte
Pra ver o homem da terra,
E vi que o homem
É maior que a terra

Olhei para cima
Para ver o homem do céu,
E vi que o homem
É maior que o céu.

O CANTO DA LIBERDADE

Ouço um novo canto,
Que sai da boca,
de todas as raças,
Com infinidade de ritmos…
Canto que faz dançar,
Todos os corpos,
De formas,
E coloridos diferentes…
Canto que faz vibrar,
Todas as almas,
De crenças,
E idealismos desiguais…
É o canto da liberdade,
Que está penetrando,
Em todos os ouvidos…

MEU CANTO DE GUERRA

Eu canto na guerra,
Como cantei na paz,
Pois o meu poema
É Universal.
É o homem que sofre,
O homem que geme,
É o lamento
Do povo oprimido,
Da gente sem pão…
É o gemido
De todas as raças,
De todos os homens.
É o poema
da multidão!

ABOLIÇÃO NÚMERO DOIS

Parem com estes batuques,
Bombos e caracaxás,
Parem com estes ritmos tristes e sensuais

Deixem que eu ouça
Que eu veja
Que eu sinta
O grito
A cor
E a forma
da minha libertação…

QUEM TÁ GEMENDO?

Quem tá gemendo,
Negro ou carro de boi?
Carro de boi geme quando quer,
Negro, não,
Negro geme porque apanha,
Apanha pra não gemer…

Gemido de negro é cantiga,
Gemido de negro é poema…

Gemem na minh’alma,
A alma do Congo,
Da Niger, da Guiné,
De toda África enfim…
A alma da América…
A alma Universal…

Quem tá gemendo,
negro ou carro de boi?
————————–
mais poesias de Solano em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/solano-trindade-1908-1974-poesias.html
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Trova 145 – Barreto Coutinho (Limoeiro/PE)

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10 de maio de 2010 · 01:38

Maciel Monteiro (1804 – 1868)

Maciel Monteiro (Antônio Peregrino M. M., 2º Barão de Itamaracá), médico, jornalista, diplomata, político, orador e poeta, nasceu em Recife, PE, em 30 de abril de 1804, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 5 de janeiro de 1868.

É o patrono da Cadeira nº 27 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Joaquim Nabuco.

Era filho do Dr. Manuel Francisco Maciel Monteiro e de mulher Manuela Lins de Melo.

Fez estudos preparatórios em Olinda, seguindo, em 1823, para a França. Ingressou na Universidade de Paris, onde recebeu o grau de bacharel em Letras (1824), em Ciências (1826) e doutorou-se em Medicina (1829).

Regressou em 1829 ao Recife, onde exerceu alguns cargos médicos, mas logo abandonou a profissão pela política e pela diplomacia, carreira mais de acordo com sua índole mundana e social. Elegante, vaidoso, foi um perfeito galanteador, cujo talento poético se converteu em instrumento de esnobismo e volubilidade amorosa.

Foi vereador da Câmara Municipal e diretor do Teatro Público. Ligado ao Partido Conservador, foi eleito deputado provincial (1833) e geral (1834-1844 e 1850-1853), ministro dos Negócios Estrangeiros de 1837 e 1839 e, deste ano a 1844, diretor da Faculdade de Direito de Olinda. Nomeado membro do Conselho do Imperador em julho de 1841 e diretor geral da Instrução Pública em Pernambuco, em 1852.

Foi redator e colaborador de: O Lidador, órgão do Partido Republicano (Recife, 1845-1848); A Carranca, periódico político-moral-satírico-cômico (Recife, 1846); A União, órgão do Partido Conservador (Recife, 1848-1851).

Abandonando a política, foi para Lisboa em 1853, como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Brasil. Teve boa atuação diplomática e tornou-se notório pelos serviços contra os moedeiros falsos de Lisboa no Brasil, o que lhe valeu o título de 2o Barão de Itamaracá. Estava a serviço do Brasil quando ali faleceu.

Seus restos mortais foram trasladados para Pernambuco em 1870 e encerrados em 1872 no mausoléu que a Câmara Municipal do Recife mandou erigir no cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção em Santo Amaro.

A sua formação cultural na Europa, o contato com o Romantismo francês e posteriormente com o Romantismo português determinaram a feição romântica da sua obra antes mesmo de se achar definido no Brasil o Romantismo. O poeta original caracterizou-se por ser quase um improvisador. Deixava poesias em álbuns de senhoras, em mãos de amigos, esparsas.

A sua melhor produção literária é representada pelas poesias lírico-amorosas, mas nada publicou além da tese de medicina, em francês, e algumas poesias e discursos parlamentares, entre os quais se destaca o que pronunciou em 10 de junho de 1851 acerca da abolição do tráfico negro, e isso revela duplo aspecto pouco conhecido de Maciel Monteiro: o orador e o abolicionista. Palavras suas: “sempre detestei a escravidão; a minha natureza como que se revolta à sombra de qualquer jugo”; “sempre me reputei abolicionista”.

A fortuna crítica de Maciel Monteiro tem sofrido altos e baixos. Para Sílvio Romero, é um importante poeta de transição e um dos predecessores do lirismo hugoano; para José Veríssimo, uma simples lenda. Foi reabilitado na sua justa medida por José Aderaldo Castelo.

Obras:
Dissertation sur la nature, les symptômes de l’inflammation de l’arachnoïde et son rapport avec l’encephalite (1829);
Poesias, sob a direção de João Batista Regueira Costa e Alfredo de Carvalho (1905);
Discurso por ocasião da fundação da Sociedade de Medicina Pernambucana (4.4.1841), in: Anais de medicina pernambucana. Anais do parlamento brasileiro, de 1834 a 1853.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
http://pt.wikipedia.org

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Arquivado em Biografia, Pernambuco, Recife

Antonio Carlos Menezes (1954)

Antonio Carlos Menezes nasceu na cidade de Condado (PE), em 23 de abril de 1954, filho de Joana e Francisco. Em 1973 foi para o Recife, continuando seus estudos. Cursou Direito na Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduação e outros cursos na área jurídica.

Apaixonado pela literatura, especialmente a poesia, faz parte do Movimento Internacional Poetrix desde a sua criação.

É sócio efetivo da União Brasileira de Escritores, seção Pernambuco.

Participação:

– Antologia Poetrix I, 2002.
– Antologia Poetrix II, 2007.
– Poesia do Brasil, volume 6, organizado pelo Proyecto Cultural Sur – Brasil, em Bento Gonçalves/RS
– Haikais Poemínimos Senryus – textos produzidos na Oficina de iniciação ao haikai, de Alice Ruiz, publicado pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, em 2007.

Possui o site Contemplação Poética (http://www.contemplacaopoetica.com.br/) e o Blog Palavras & Versos (http://acmpalavrasversos.blig.ig.com.br/)

Fonte:
ORSIOLLI, S.M.G.; FERNANDES, D.C.; SCARPA, M.A.C.; JULIO, S.M. Coletânea Teia dos Amigos. Itu, SP: Ottoni, 2008.

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Bartolomeu Pinheiro de Lira (Entre a Gaveta e o Coração)

Remexendo as gavetas, me lembrei de certo apartamento onde moramos. Não é uma foto ou documento que me traz à tona nossa passagem por lá. Aparentemente algo tão insignificante e comum que dificilmente despertaria maior atenção, não fosse determinada característica que ela possuía.

Quando vi aquele bichinho pela primeira vez, não dei muita importância. Sempre chegava à noite do trabalho, cansado e faminto. Abria a porta maquinalmente e mal observava os dealhes, como era do meu feitio. Me preocupava apenas com a direção da chave e pronto, entrava e fechava a porta. Mas, com o desgaste da fechadura, comecei a dar uma maior atenção, uma pausa a mais. Foi quando dei de cara com uma aranhazinha. Ela não correu de imediato, quando girei a chave. Ficou me olhando cautelosamente e parecia balançar a cabeça, como uma lagartixa. Era tão minúscula que dificilmente eu poderia descrever sua reação a olho nu. Tratava-se de uma suposição. Segundos depois ela se escondia num buraquinho na madeira da parede. E isto foi tudo.

Nas noites seguintes, sempre que chegava, tomava o cuidado em não assustar a aranhazinha. Ela também tinha que ficar atenta para não ser espremida quando a porta fosse fechada. E formou-se um elo entre nós, um respeito mútuo, uma dedicação, e por que não dizer, uma amizade. Ela parecia sempre atenta aos meus passos, ao meu horário, ao cheiro do meu perfume! Minha esposa não acreditava fielmente nas minhas observações. Ficava sempre desconfiada, descrente, e muitas vezes até enciumada. Sim, porque nem sempre me dirigia a ela. Ficava parado na porta, observando se a aranhazinha iria entrar, se esconder dos predadores. Sempre apareciam insetos e bichinhos oportunistas. Era bom não vacilar.

Os meses foram passando e nossa amizade foi ficando mais firme. O carinho dela comigo foi estendido à minha esposa. A coisa ficou tão séria que tinha flagrado o bichinho se alimentando e, quando minha esposa abriu a porta para me receber, ela parou tudo e pulou em seu pulso, numa autoconfiança de surpreender. Ficamos perplexos. Parecia um pulo de satisfação. A aranhazinha ficava nos observando, olhando para um e virando para o outro. Um animalzinho de estimação. Coisinha fofa.

Certo dia, tivemos que viajar, passar alguns dias fora. Rolou uma preocupação. O que fazer agora? Pensamos em levá-la conosco. Mas onde a deixaríamos? Ela estava acostumada com aquela casinha. O clima para onde íamos era mais frio. Tudo isso pesou em deixá-la onde estava. Mas era o melhor para ela. São apenas alguns dias!

Vou confessar: senti saudades. Verdade! Era como se tivesse deixado para trás um ente querido, um amigo, sei lá! Talvez fosse uma paranóia. Ficava olhando para porta, sem acreditar que ela não estava ali. Ia ao banheiro. Mas era em vão procurar. Nada havia naquela porta.

Resolvemos antecipar nossa volta. Ficamos envergonhados em assumir a saudade daquele bichinho. Se ele precisava de carinho, se algum inseto o pegasse…

Ao chegar, corremos em direção à porta, não à fechadura. Nem chegamos a abrir a porta. Nada. Nem sinal. Esperamos desesperadamente. Resolvemos abrir a porta, fazer barulho. Nada e nada. Olhamos para o alto. Havia uma pequena lagartixa que nos olhava assustada. Imaginei que ela a havia devorado. O bucho cheinho e transparente. Chegamos tarde demais. Ficamos frustrados pela desatenção e tristes pelo falecimento do nosso bichinho de estimação. Tive uma ideia! Afinal, a esperança é a última que morre. Adentrei no nosso quarto e apanhei o frasco de perfume que costumávamos usar. Passei em uma das mãos e esperei pelo resultado. Incrível. Ela colocou a cabecinha do lado de fora do buraquinho, feliz da vida. E como foi gratificante aquele encontro! Ficamos até emocionados. Parecíamos pinto no lixo.

Mas tivemos que deixar o apartamento. Tomamos a decisão de transportar a aranhazinha conosco. Ela teria que se adaptar à nova residência. Cavaríamos um buraquinho só para ela. Não mais na porta, mas na gaveta. Protegida dos predadores e dos homens.

E é ao abrir a gaveta que lembrei do apartamento. Sim, porque é nela que se esconde o bichinho, num buraquinho bem no fundo, pra não ser incomodada. Ela vive bem feliz lá dentro. Faço tudo por ela. Quero que ela viva sempre em paz. Não quero que ela sofra. Ela mora na gaveta, no meu apartamento, no meu coração. Porque desde aquele dia da viagem, ao chegar, não a encontrei jamais.

Fonte:
http://www.bienalpernambuco.com/

Montagem da imagem utilizando imagens de http://nepo.com.br (gavetas) e http://blog.br.inter.net (coração)

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7a. Bienal Internacional do Livro de Pernambuco

Com o tema “Literatura do princípio ao fim”, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco chega a sua 7ª edição. Entre os dias 02 e 12 de outubro, o pavilhão de exposições do Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda (PE), volta a ser palco das discussões e debates que fomentam a feira literária, considerada a 3ª maior do Brasil, atrás apenas do Rio e São Paulo. Promovido pela Cia de Eventos, o evento deste ano ganhou mais um dia. O Dia das Crianças foi estrategicamente incorporado, uma vez que aproximar a juventude dos livros é um dos principais objetivos dos organizadores.

Em 11 dias de feira, a expectativa é superar os números das últimas edições e congregar um público acima dos 550 mil registrados na bienal passada. Com curadoria do jornalista e escritor Homero Fonseca e do poeta, tradutor e ensaísta Delmo Montenegro, a programação promete oficinas literárias, apresentações teatrais, interpretação textual, palestras, debates, entrevistas e bate-papos acerca das produções literárias. E as novidades não param por aí. Também já está sendo estudada a possibilidade de criar um espaço batizado de Cine São Luiz, onde serão oferecidas mostras de filmes clássicos, sobretudo infantis. A idéia é elaborar uma programação especial para as crianças na perspectiva de formar os futuros leitores.

O grande objetivo da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco é fazer uma grande celebração em torno de um produto nobre como é o livro, que sempre agrega valor e estimula a capacidade criativa das pessoas. Por isso, existe uma preocupação da organização em sempre abrir espaço para editoras ainda de pouca visibilidade, possibilitando uma maior diversidade na oferta de títulos. A idéia é apresentar livros que não são achados na maioria das livrarias. E sempre com o cuidado de viabilizar estas ofertas com preços acessíveis.

O evento conta com apoio da Câmara Brasileira do Livro, Governo do Estado de Pernambuco e Prefeitura do Recife.

PROGRAMAÇÃO

SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009

AUDITÓRIO CARLOS PENA FILHO

– 10:00 às 12:00h – CURSO: “O valor literário dos primeiros contos de Machado de Assis”. – Eduardo França.
– 13:00 às 14:30h – Oficina literária de Raimundo Carrero.
– 15:00 às 16:00h – Severino Celestino – “Analisando as traduções bíblicas”.
– 16:30 às 17:30h – Marcus Accioly e Charles Kiefer – “Conversa e Recital”.
– 18:00 às 19:00h – Salim Miguel – “Eu leitor, gráfico, livreiro, editor, jornalista, escritor”. Apresentação Ivanildo Sampaio.
– 19:30 às 20:30h – Alberto Mussa – “O escritor como leitor”. Apresentação Cristhiano Aguiar.
– 21:00 às 22:00h – “Modos de Macho vs Modinhas de Fêmea” – Xico Sá conversa com Flávia de Gusmão e Carolina Leão

CAFÉ CULTURAL

– 10:00 às 12:00h – Mini-Cursos: FAFIRE
– 13:30 às 15:00h – Café Cultural: “Ainda Orangotangos: Dialogando Livro e Filme” – Paulo Scott (SP).
– 15:30 às 17:30h – Café Cultural: Educação e Tecnologia.
– 18:00 às 19:30h – Marcelino Freire (SP) e Paula Dip (SP) – “Para sempre teu, Caio F.”
– 20:30 às 21:30h – Conversa com o escritor: Federico Andahazi (Argentina) – Marcelo Pereira.

PALCO DAS IDÉIAS

– 10:00 às 12:00h – Oficina: Ficção Literária para Jovens. Paulo Caldas.
– 13:30 às 15:30h – Edson Nery da Fonseca – “Alumbramentos e perplexidades – vivências bandeirianas”.
– 15:30 às 17:30h – Eglê Malheiros (SC) e Antônio Guinho – “Para seduzir o leitor infanto-juvenil”.
– 18:00 às 19:30h – Silvério Pessoa – “Nômade – Um Diário de Viagem”.
– 20:00 às 22:00h – Sérgio Rodrigues (RJ), Urariano Mota e Ana Maria César – “Quebrando Espelhos: Jornalismo versus Repressão”.

ESPAÇO PEDAGÓGICO

– 10h15 – Escola Novo Mangue – Dança
– 10h30 – Arricirco Várias Atividades Circenses – Alegria de ler
– 11h – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 14h45 – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 15h – Clenira Melo – Contação de História / Recital Poético
– 15h30 – Colégio Desenvolver – Dança
– 16h – Editora Calibán – Bate-papo com a autora Izabela Domingues, de A Menina Marca- Texto
– 16h30 – Editora Comunigraf – Contação de História – Livro 6 de Março
– 17h – Clenira Melo – Contação de História/Recital Poético

PLATAFORMA DE LANÇAMENTOS

– 12h às 13h – Cordel – Lendo a Tradição, de Felipe Júnior
– 14h às 15h – O Coronelismo em Salgueiro, de Waldemar Alves da Silva Júnior
– 15h às 16h – Revisão ou reafirmação do espiritismo?, de Herculano Pires e Francisco Cajazeiras
– 16h às 17h – A Trilha do Labirinto, de Francisco de Assis Rocha Filho
– 17h às 18h – Pequenas biografias não-autorizadas, de Leo Marona
– 18h às 19h – As calçadas e outros contos cervantinos, de Carlos Roberto Santos
– 19h às 20h – A Literatura em Pernambuco, de Nagib Jorge
– 20h às 21h – Para sempre teu. Caio F, de Paula Dip

11 DE OUTUBRO – DOMINGO

AUDITÓRIO CARLOS PENA FILHO

– 10:00 às 12:00h – CURSO: “Poesia – Do passado sem futuro ao contemporâneo: conhecendo a poesia brasileira”. – Fábio Andrade.
– 13:00 às 14:30h – Oficina literária de Raimundo Carrero.
– 15:00 às 16:00h – Professora Suzana Sacavino – “Democracia, sociedade e educação em direitos humanos”.
– 16:30 às 17:30h – Francisco Cajazeiras – “Depressão – Doença da alma”.
– 18:00 às 19:00h – Fernando Monteiro – “Viagem ao centro da Literatura”. Apresentação Heloísa Arcoverde.
– 19:30 às 21:30h – Marcelino Freire (SP) e Paulo Scott (RS) – “Literatura – Agite antes de usar”. Mediação: Urros Masculinos.
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CAFÉ CULTURAL

– 10:00 às 12:00h – Mini-Cursos FAFIRE.
– 13:30 às 15:00h – Café Cultural: “A Pintura de Vicente do Rego Monteiro” – Karla Melo e Patrícia Tenório.
– 15:30 às 17:30h – Café Cultural: “Teatro em Pernambuco”.
– 18:00 às 19:30h – Conversa com o escritor: Alberto Mussa (SP) e Ronaldo Correia de Brito.
– 20:30 às 21:30h – Conversa com o escritor: Salim Miguel (SC) e Nagib Jorge Neto.

PALCO DAS IDÉIAS

– 10:00 às 12:00h – Oficina: Educar com Afeto. Luiz Schettini Filho
– 14:00 às 16:00h – Schneider Carpeggiani, Bruno Piffardini e Thiago Soares – “ I Love Lucy (Homenagem aos 30 anos de carreira da poeta Lucila Nogueira)”.
– 16:30 às 18:30h – Exibição de filme e debate: “Geração 65 – Aquela Coisa Toda”, de Luci Alcântara.
– 19:00 às 21:00h – Myriam Brindeiro e Eugênia Menezes – “Edições Pirata (30 anos depois)”.

ESPAÇO PEDAGÓGICO

– 10h30 – Colégio Desenvolver – Contação de História com Silvana
– 11h – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 15h – Edições Bagaço – Contação de História com Rosângela
– 15h30 – Clenira Melo – Contação de História /Recital Poético
– 16h30 – Clenira Melo – Contação de História/Recital Poético
– 17h – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy

PLATAFORMA DE LANÇAMENTOS

– 12h às 13h – Retratos do Sertão, de Marcos Passos
– 14h às 15h – Coleção Africanidades e Afrobrasilidades, de Jorge Arruda
– 15h às 16h – Quatro faces de um encontro – Vicente do Rego Monteiro, de Karla Melo Patrícia Tenório
– 16h às 17h – Democracia e Educação em Direitos Humanos na América Latina, de Susana Beatriz Sacavino
– 17h às 18h – O Rei do Zodíaco – Depois do Desejo, de Valdir Oliveira
– 18h às 19h – “Cordéis Gramaticais: Porque, O Caso da Crase, Borboletra-gens e Libidinagem das Letras”, de Marcelo Mário melo
– 19h às 20h – Vi uma foto de Anna Akhmátova, de Fernando Monteiro
– 20h às 21h – Uma Coisa de Cada Vez, de André Luís Resende. Exibição do filme homônimo, com direção de Mannu Costa e roteiro de Dirceu Tavares.

12 DE OUTUBRO – SEGUNDA-FEIRA

AUDITÓRIO CARLOS PENA FILHO

– 10:00 às 12:00h – Artur Ataíde, Revista Crispim – CURSO: “O som da poesia”.
– 15:00 às 16:00h – Deputado Marcelo Almeida, Silvana Lumach Meireles – Secretária de Articulação institucional do Ministério da Cultura e José Castilho – Secretário- Executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura – “Fundo Setorial Pró-Leitura”
– 18:00 às 19:00h – “Os Leitores Falam” (Mesa formada por leitores selecionados pelo site da Bienal). Apresentação Luciano Siqueira. Seguida de encerramento, por Rogério Robalinho, Homero Fonseca, Delmo Montenegro.

CAFÉ CULTURAL

– 10:00 às 12:00h – Mini-Cursos: Oficina FAFIRE
– 13:30 às 15:00h – Café Cultural: Oficina FAFIRE
– 15:30 às 17:30h – Café Cultural: Literatura Infanto-Juvenil

PALCO DAS IDÉIAS

– 13:00 as 13:30h – Peça: “Os Seios da Minha Mãe” de Valmir Oliveira – Adriano Cabral e Grupo de Teatro
– 14:00 às 15:00h – Recital: Dremelgas Literárias.
– 15:30 às 17:30h – “Mutável como o Pássaro na Rama (Homenagem a Tereza Tenório)”. Mesa: Wellington de Melo, César Leal e Ariadne Quintela. Recital: Gerusa Leal, Adélia Coelho, Lucila Nogueira, Silvana Menezes, Mariana Bigio e Raísa Feitosa.
– 17:30 às 18:00h – Exibição de vídeo “Miró –Preto, Pobre, Poeta e Periférico”, de Wilson Freire. Debate com Miró e Wilson Freire
– 18:30 às 19:00h – Recital: Vozes Femininas – Silvana Menezes, Mariane Bigio e Suzana Morais.
– 19:00 às 19:30h – Recital: Rapazes de Sodoma – Raimundo de Moraes.

CELEBRAÇÃO DA LEITURA

– Adriano Cabral e grupo de teatro: “Os seios de minha mãe”, de Valdir Oliveira.
– Biagio Picorele: “Universo doméstico.”retirarem.
– Dremelgas Literárias
– Invenção de Poesia.
– Jailson Oliveira: “Performance.”
– Lara: “Escrita Visceral.”
– Mariane Bigio: “Poesia à la Carte.”
– Miro: “Tú tás aonde?”
– Nós Pós.
– Pedro Américo: “Linguaraz.”
– Poetas Urbanos (Valmir Jordão, Fernando Chile e Malungo).
– Silvana Menezes: “Poesia Sussurrada ao Ouvido.”
– Urros Masculinos.

ESPAÇO PEDAGÓGICO

– 10h30 – Biblioteca Pública – Grupo Lobatinho Teatro de Fantoches
– 11h – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 14h30 – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 15h – Clenira Melo – Contação de História / Recital Poético
– 15h30 – Biblioteca Pública – Passarás, passarás, a poesia ficará -Lenice Gomes
– 16h – Mamulengo Cantofala – Contação de História com Weracy
– 16h30 – Clenira Melo – Contação de História / Recital Poético

PLATAFORMA DE LANÇAMENTOS

– 14h às 15h – Coleta Seletiva e Reciclagem: Ações de Cidadania e Sustentabilidade (Infantil), de Valéria Guz
– 15h às 16h – Brigão, o beija-flor e A galinha Galinha que escapou da caçarola, de Lêda Sellaro
– 16h às 17h – Sapolino Birutino e A Patinha Curiosa, de Socorro Miranda
– 17h às 18h – O Vendedor de sonhos e outros contos, de Fabiana Porfiro
– 18h às 19h – “O jardim dourado e a pedra dos escudos.”, de Monalisa Silvério

Fonte:
http://www.bienalpernambuco.com/

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Manuel Bandeira (Andorinha)

Poesia sobre imagem do blog http://bloguitim.blogspot.com

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Caldeirão Poético do Pernambuco

Saulo Novaes

QUADRO DE OUTONO

Cai a última folha da árvore nua
Lentamente
Amparada pelos traços invisíveis
Do vento de Outono
E da janela, olhos que não vêem
Observam a dança da natureza
Enquanto os olhos reais
Passam ilesos por aquela cena

EXPLOSÃO POÉTICA

Pratico meu egoísmo
Numa poesia em primeira pessoa
Ao rimar-me num oásis poético
De versos livres.
Cantando a liberdade,
Saio à procura da perfeita
Forma que expressará
Aquilo que sinto,
E que me foge
Como a explosão de átomos.
============================
Sérgio Bernardo

HERANÇA DAS VÁRZEAS

-Que herança foi deixada
por teu pai, poeta?
-Uma serra gasta de suor
seixos de maré faminta
que afiava a lua minguada
em suas mãos

-E o teu pai, o que deixou?
-Uma casa no campo
outra na praia e contas bancárias
pela cidade

-Mas, e o teu? Só a lua minguada
e nada mais?
-Ele fora carpinteiro
e tantas vezes canoeiro
sabia das marés obesas e nuas.
Por isso não sou poeta
sou canoa e serra amanhecendo

-Diga-me então, já que não és poeta:
-o que ele faz hoje?
-Poda as nuvens em silêncio
para a minha chegada.

UMA LUZ, SÓ UMA LUZ

A um ano-luz ou laços infinitos
De uma aritmética suicida?

O calendário no mofo da parede
Sustenta a agonia das asas
E milhões de vidas
Juntam-se aos tigres enterrados

Quando começa a morrer o sol
De teus olhos
O calendário outra vez
Mostra-me o inatingível

Aí, vem a consciência:
Não compreendes?
A China já mora em teu rosto.

As nuvens de um chão aberto
Em rugas e brasas
Ainda se vestem de esperança.

O coração do amado
Viaja continentes
E chega ao teu, faz morada,
As fontes renascem
E a incadescência da manhã
Vive cantigas de pássaros.
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Sergio Leandro

CANÇÃO PARA LISBOA

Há um mundo de águas e seres abissais
entre meu coração e Lisboa.
Mas eu sei que nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera

Minha canção também é feita de silêncio
e o meu tumulto se derrama nas horas vazias da noite…

Eu invoco as palavras sagradas
e ergo ao vento o meu estandarte
porque nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera.

ETERNA SÚPLICA

Morrer na flor da idade
Sem andar pelos pomares,
Sem colher os frutos doces…

Ai, meu Deus, não permitas tal!

Morrer na flor da idade
Sem ver se quer um filho.
Um filho!

Ai, Deus meu, não permitas tal, Senhor.

Ó Deus de todos os mortais,
De todos os crentes,
Deus de todos os ateus…

Deixa crescer a árvore junto às águas,
Deixa em silêncio a voz dos sinos,
Deixa.

CONCLUSÃO

O amor,
O ódio,
A violência,
O cosmo,
O infinito.

O que há de novo em tudo isso?

Nenhum dia se passou
Sem que eu pensasse na morte…

A vida é como a poeira
Que o vento leva,
Como teus olhos embaçados pela chuva,
Como eu mesmo quando me escondo.
======================
Sérgio Ricardo Soares

EPILIMNO

nunca bordou-se de singelas ondinhas azuis
o lago frio
nunca foi cisterna por cujo brilho
via-se plâncton

existiu -como é o comum nos dias –
com demasiada pouca luz
mal se distinguia o extenso lodo
que afinal nunca fora muralha assim tão mordaz

nunca o lago frio coalhou-se de gansos
os últimos fugiram sem grasnar
da sombra dos salgueiros

nunca pôde haver inverno branco
sob a sombra dos salgueiros
nunca se soube o sabor da pouca água
porque se desprezava com simples olhar
as poças pululantes de camarões

era remoto de qualquer rio
entre três montes humildes
só cheirava o vento forte
a longos juncos amarelados
aroma até doce
se vagasse em brisa
que no frio do lago nunca houve
e durou tanto

DRAMA

em verdade não é mais belo
o vôo do ranforrinco

atenção e notarás
como hesita um de seus braços
como se o espaço baixo fosse vastidão
e mãe dramática a vociferar algemas
como seus olhos repitílicos estão cheios
de falta de brilho de quem não encontra sua paz
e não a busca
e nem discerne os seres que lhe causam
esses embriões de pavor

o ranforrinco já é o assombro
de hibridez e esterilidade
vôo alçado ontem
e urgência de repouso
mas não se pousa no chão do futuro

não funciona por enquanto
a vida do ranforrinco
se ele soubesse que à frente
do ir está apenas a morte tamanha
—-

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