Arquivo da categoria: Poesia de Cordel

Antonio Alvares (A Dama e o Vagabundo)

Também pode acontecer
A duas pessoas nesse mundo
Repetir a bela paixão
Da Dama e o Vagabundo
Pois nessa história de amor
A Disney soube impor
À nobreza, um giramundo…
Para os níveis sociais
Uma social convenção
Podendo ser aplainada
Ao nivelar da paixão
De dois corações atingidos
Pelas flechas de dois cupidos
Numa profética repetição…
Do alto da tua redoma
O teu espírito percebeu
Que lá embaixo bate forte
O coração de um Romeu
Que entende tua condição
Mas por ti sentiu paixão
Teu espírito abraçou o meu…
Eu sinto que tu sentes
Algo difícil de explicar
O enigma de um anelo
De força tão sublimar
São sépalas abertas
De flores antes cobertas
Num renovado desabrochar 
Tão rara conquista
Prófuga não há de ser
Imagino tantos próceres
Paraísos te oferecer
Que tu achaste procaz
Pois nenhum foi capaz
De teu espírito envolver…
Da crisólita ao diamante
Para ti é grassa oferta
Na senda pro teu coração
Não existe cancela aberta
Já desanimastes investidas
Dissimuladas, tão atrevidas…
Que deixaram tu’alma alerta!
  
Eis que surge um ser
De um universo paralelo
No teu mundo refinado
Em volta do teu castelo
Deus salve a rainha…
Uma paixão tão minha
Encanta, um sonhar tão belo!
La Belle qui est distant
Faz-me prazeroso sonhar
Je te sens proche de moi
No dormir e no acordar
Sendo operário do labor,
Mas vagabundo do amor…
Atrevo-me a te conquistar!
Entrega-se ao destino
Um desejo tão profundo
Conspirando o universo
Aconteceria nesse mundo
Um encontro inusitado
Do virtual materializado…
A Dama e o Vagabundo!
Fonte:
Colaboração do autor 

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia de Cordel

Raquel Ordones (Cordel do Amor)

Amor, sem aclaração. 
Não adianta tentar 
E não há o que falar 
Contexto do coração 
Expresso em emoção 
Uma parte é sentida 
A outra: ação contida 
É transparência no ser 
Vem para entorpecer 
É a essência da vida! 

Está no sol da manhã 
Na claridade do dia 
E nos raios de magia 
Beleza do flamboyant 
É o sabor da maçã 
É a condição querida 
E jamais causa ferida 
É a alma integral 
Feição incondicional 
É a essência da vida! 

O caminho do andejo 
É café quente com leite 
No inverno em deleite 
É a delicia do beijo 
É a ânsia do desejo 
É a laranja partida 
É a rosa concedida 
O desabrochar da flor 
O abraço de calor 
É a essência da vida! 

Está nos olhos da criança 
No seu sorriso sincero 
E no Deus que eu venero 
Estampa da esperança 
Na certeza da aliança 
Na risada divertida 
Na poesia que é lida 
Fé que é força na hora 
No instante de agora 
É a essência da vida! 

Amor é tudo de bom 
É o cheiro de perfume 
Na entrega se resume 
Da nota ele é o tom 
E da voz ele é o som 
É primavera florida 
No colo a acolhida 
Está no ato do toque 
E do batom o retoque 
É a essência da vida! 

Enfim: amor é amor 
E com nada se compara 
O mundo anda e para 
Do orbe é o motor 
Da paixão é o ardor 
Sentimento de guarida 
Emoção não esquecida 
É uma ave que voa 
Profundeza que ecoa 
É a essência da vida! 

Fonte:
A Autora

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia de Cordel, Uberlândia

Nemésio Prata (Poetas de Quartel)

Casernas deviam ter
poetas de prontidão,
em serviço; pra trazer
aos quartéis sua missão!

Se, Poeta ou Trovador,
Literato ou Repentista,
Menestrel ou Cordelista,
Seja lá o que Você for,
Cante sempre com Amor!
Na paixão do teu cordel
Ao amor, darás quartel.
O fogo do teu repente
Alegra a vida da gente,
Do Soldado ao Coronel!

Falar no quartel inteiro,
Seguindo a tal hierarquia,
Pra não virar anarquia,
Vou chamar, como primeiro,
Nosso CABO CORNETEIRO.
Bom de toques e de verso,
No direto, e no reverso;
Cada nota sua, aponta,
Ser um Trovador, que conta,
As belezas do universo!

Literato e Repentista,
Encontramos o Sargento.
De poetas, é um rebento,
Fez-se grande Cordelista
Que vive dando entrevista!
Tecedor de belas trovas,
Sempre canta as boas novas,
Com beleza sem igual.
É trovador genial;
Disto já deu boas provas!

Nas fileiras do quartel,
O Cadete, já Tenente,
Anda com desejo ardente
De mostrar ser Menestrel,
Soltando versos ao léu!
No rutilo da palavra,
Os versos de boa lavra,
Adoçam seu coração;
E numa bela oração,
O sublime amor deslavra!

Passando tropa em revista,
Coberto de galardão,
O garboso Capitão
Mostra, também, ser artista,
Renomado Repentista.
A cantar, com todo ardor,
Seus versos, com destemor;
Na bandeira, desfraldada,
Fez, pra sua namorada,
Sublimes trovas de amor!

Nem menor e nem maior,
Bem no meio das “patentes”,
Trazendo seus bons repentes,
Encontramos, pra melhor,
Nosso brioso Major!
Neto de bom cordelista,
No conjunto é vocalista!
Canta sempre uma canção
Que marcou seu coração!
Viva o nosso Repentista!

Como todo militar,
Ele fica no comando,
Não sempre, de vez em quando,
No lugar do titular,
Se este não vem trabalhar!
É, o sub do Quartel,
Um “finório” Menestrel,
Que canta, com galhardia,
Os seus versos, todo dia:
O Tenente-Coronel!

Também grande Trovador,
Ele canta sempre o Amor!
Repentista renomado,
Prefere de ser chamado,
Simplesmente: Cantador!
É o nosso Coronel,
Comandante do Quartel!
No fogo do seu repente,
Incendeia toda gente;
Tem paixão pelo cordel!

Até mesmo o General,
Comandante da Brigada,
Ante a sua “namorada”
E companheira fanal,
Declara-lhe amor total.
Fazendo, tal Trovador,
Lindas poesias de amor,
No peito, marca a batida
Do coração, que na vida,
Pulsa forte, sedutor!

Quanto ao pequeno Recruta,
O “menor” na hierarquia,
Nos versos, é “autarquia”;
Mostrando ser um Batuta,
No Quartel, onde labuta!
Assim o Soldado Dimas,
Vai tecendo as obras primas,
Que até mesmo o “MARECHAL”
Das Patentes, “maioral”,
Não resiste às suas rimas!

Fontes:
Nemésio Prata – CE

Deixe um comentário

Arquivado em Ceará., Poesia de Cordel

Prof. Garcia e Zé Lucas (Peleja em Martelo Agalopado) Parte 2, final

21 – Prof. Garcia
Nunca vi capitão, sem ser tenente,
mas no mundo do crime há capitão:
Virgulino Ferreira, o Lampião,
recebeu o diploma de presente.
Padre “ciço” Romão, inteligente,
chamou logo o disposto justiceiro,
deu-lhe a carta e pediu ao bandoleiro
proteção para o povo, e até lutasse,
para que Carlos Prestes não passasse
com a “Coluna” humilhando Juazeiro!

22 – Zé Lucas
Houve um tempo em que o povo brasileiro,
educado por norma conservista,
tinha um medo cruel de comunista,
tanto quanto temia o cangaceiro;
até mesmo o Vigário do Juazeiro
deu uns passos perdidos nessa estrada:
a patente ao bandido deu em nada,
o partido esquerdista entrou na lei,
o cangaço acabou junto ao seu “rei”.
Só a história ficou pra ser contada.

23 – Prof. Garcia
Essa história já foi bem comentada,
vou falar de outro reino do passado
que foi quase esquecido e abandonado
logo após nossa Pátria libertada.
A família real foi condenada
a viver noutra pátria, noutro chão,
mas levou um pouquinho da nação
num punhado de terra do Brasil;
dando adeus ao seu berço varonil.
foi morrer de tristeza e solidão!

24 – Zé Lucas
A Princesa Isabel, de coração,
por um gesto de amor à liberdade,
assinou a Lei Áurea e, na verdade,
extinguiu a maldita escravidão.
Sua alteza sabia, e com razão,
que a Lei Áurea, tão nobre e liberal,
ameaçava o regime imperial
que lhe dava de graça o privilégio
de ganhar por herança o poder régio,
ao contrário do pleito eleitoral!

25 – Prof. Garcia
A princesa Isabel, sentimental,
ante a vil e perversa escravidão,
assinou a Lei Áurea da nação
abolindo a torpeza desta mal.
A princesa da casta imperial
na ausência do pai imperador,
fez de sua grandeza o divisor,
da vergonha maior deste país,
exilada, Isabel morreu feliz
libertando esse povo sofredor!

26 – Zé Lucas
O Brasil, esta terra do esplendor
da beleza de um céu mais estrelado,
desses mares de anil, do Corcovado
que se eleva com o Cristo Redentor;
do Amazonas imenso, do calor
do Nordeste sofrido, mas fecundo,
tem ladrões, tem pobreza e vagabundo,
tem políticos maus, de maus conceitos,
mesmo assim, com milhares de defeitos,
ainda é o país melhor do mundo!

27 – Prof. Garcia
Vendo todas as coisas deste mundo
sempre quis meu país cheio de glória,
como foi Rui Barbosa para história,
que assustou pelo seu saber profundo;
Alencar foi primeira sem segundo,
cearense de fibra limpa e pura,
Casimiro de Abreu outra figura
que mostrou para o povo o seu valor,
foi poeta e foi grande defensor
da poesia que fez nossa cultura!

28 – Zé Lucas
Se o Brasil se ajeitar, ninguém segura;
é o gigante da América Latina;
tem petróleo, tem sal, tem ouro e mina
de carvão e de ferro, com fartura;
não tem Prêmio Nobel, mas tem cultura:
só Machado de Assis, como escritor,
representa, das letras, o valor…
O cordel já tem prática na escola
e o padrão do repente e da viola
sobre a Terra não tem competidor!

29 – Prof. Garcia
Meu Brasil que mistura raça e cor,
fala o mesmo idioma sem problema,
cada praia que tem vira um poema
quando o sol rompe a aurora, abrasador.
Cada filho da terra é um sonhador,
e as belezas que tem, nunca têm fim;
é por isso que eu digo, mesmo assim:
aos poetas, aos crentes e aos ateus,
que este solo pertence às mãos de Deus
e um pedaço também pertence a mim!

30 – Zé Lucas
Esses mares bonitos e sem fim
que desenham a costa brasileira
dão notícias de um mundo sem fronteira,
de sol claro e de aurora carmesim,
de uma lua com raios de marfim,
musa eterna de nossos trovadores…
Eis o imenso país dos meus amores,
onde Deus permitiu meu nascimento
e jamais me deixou em desalento
nesta terra de sonhos promissores!
FIM.
——–

FRANCISCO GARCIA DE ARAÚJO (Prof. Garcia), filho de Lucas Araújo (In memoriam) e de Helena Garciade Araújo, nasceu na fazenda Acari, em Malta-PB, em 27 de novembro de 1946.
Licenciado em Letras (português e inglês) e Bacharel em Direito pela UFPB, pós-graduado em Teologia e Éticas Especiais, poeta, trovador, palestrante, radialista, cordelista, escritor e compositor, foi Bancário, Vereador e Secretário Municipal em Caicó-RN.
Lecionou Português, Francês, Inglês e Espanhol.
Casado com Anunciada Laura de Araújo Garcia, com quem tem três filhas: Mara Melinni de Araújo Garcia (advogada, bancária e poetisa), Ava Murielli de Araújo Garcia (psicopedagoga) e Eva Yanni de Araújo Garcia (pedagoga e poetisa).
Presidente do Clube dos Trovadores do Seridó,
Delegado da UBT em Caicó-RN,
Delegado do Portal CEN para o RN,
Membro da Academia de Trovas do RN (ATRN) e 
Membro da UBT, Seção de Natal-RN. 
Membro efetivo da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores (AVSPE).
Tem seus trabalhos publicados em coletâneas, antologias, livros, jornais, revistas, portais e internet. Possui vários livros em parceria com poetas nacionais, além de premiações em diversos concursos de trovas no Brasil e em Portugal.  

JOSÉ LUCAS DE BARROS nasceu no município de Condado – PB (12.3.1934), mas batizou-se e registrou-se civilmente em Serra Negra do Norte – RN.
Ensinou Português (língua e literatura) mais de dez anos, em escolas de nível médio (Caicó e Assu – RN).
É advogado, poeta, trovador e pesquisador de literatura popular.
Presidente da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte e da Associação Estadual de Poetas Populares – RN
Membro da União Brasileira de Trovadores, seção de Natal/RN,
Membro do Instituto Cultural do Oeste Potiguar,
Membro da Academia Curraisnovense de Letras e
Membro da Academia Parnaminense de Letras.
Obras Publicadas: 
CANTIGAS DE MEU DESTINO (trovas),
REPENTES E DESAFIOS (pesquisa),
NO BALANÇO DA CANOA (Trovas e sonetilhos),
CAMINHADA (poesias),
QUANDO DOIS RIOS SE ENCONTRAM (parceria com Delcy Canalles),
DO POTENGI AO GUAÍBA (Idem),
SEXTETO EM SEXTILHAS (parceria com Antônio Augusto de Assis, Ademar Macedo, Delcy Canalles, Prof. Garcia e Gislaine Canales),
DOIS POETAS EM SETILHAS (parceria com Ademar Macedo),
QUARTETO EM SEXTILHAS (parceria com Prof. Garcia, Héllio Pedro e Manoel Dantas),
UM ROJÃO EM SEXTILHA AGALOPADA (parceria com Prof. Garcia e Ademar Macedo),
UM DEBATE EM SETILHA AGALOPADA (Idem),
NOS ARPEJOS DAS SETILHAS (Idem),
NA TRILHA DOS SETE PÉS (parceria com Professor Garcia, Hélio Pedro, Hélio Alexandre, Ieda Lima, Mara Melinni, Manoel Dantas e Djalma Mota).
Tem outros 19 trabalhos inéditos.
Aposentou-se como auditor do Banco do Brasil em 1988. Tem endereço em Natal – RN, mas reside, desde 1988, na Praia de Pirangi do Norte, município de Parnamirim – RN.
Do primeiro matrimônio, com Celestina Batista de Faria Barros, tem 5 filhos: Tarcília Carmina, Maria Sayonara, Flávia Maria, Bartira Maria e Álvaro Joaquim. Tem onze netos: Bianca, Juliana, Pedro Henrique, Ana Luísa, Ana Beatriz, Maíra, Lucas, Mariana, Ariane, Álvaro Júnior e Felipe.
Em 2007 contraiu segundas núpcias com Rosileide Izídrio Lopes de Barros. 
Fonte:
Zé Lucas

Deixe um comentário

Arquivado em Biografia, Poesia de Cordel

Prof. Garcia e Zé Lucas (Peleja em Martelo Agalopado) Parte 1

Pela Internet, entre os Poetas e Trovadores Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia) e José Lucas de Barros.

Início em 22.07.2012 – Término em 29/7/2012.


01 – Prof. Garcia
Já falei do sertão, falei do mar,
da floresta e do espaço eu já falei,
as montanhas e os morros já cantei
nem sei mais o que agora eu vou cantar.
Mas o poeta começa a imaginar
e descobre que a fonte da poesia
jorra tudo que a mente humana cria
sem jamais lhe faltar inspiração…
É o milagre do amor e da razão
que me faz ser poeta todo dia!

02 – Zé Lucas
Pra o poeta encontrar a poesia,
basta o canto febril de um rouxinol,
ou os raios de ouro do arrebol,
registrando o nascer de um novo dia;
um olhar nas belezas que Deus cria
também deixa um poeta motivado;
uma grata lembrança do passado
tanto acorda a saudade como inspira;
mais o som peregrino de uma lira,
e está pronto o martelo agalopado!

3 – Prof. Garcia
Quando eu vejo um sapinho acocorado
na lagoa bem cedo inflando o papo,
é porque da garganta desse sapo
vai sair um martelo agalopado.
Eu me ponho a pensar quase assustado,
como um sapo também tem voz tão boa,
pois percebo no canto que ele entoa
que há um feitiço que encanta a saparia,
cada verso que faz tem mais poesia
do que a voz do restante da lagoa!

4 – Zé Lucas
No remanso tranquilo da gamboa,
cai no rio e se anima o pescador,
na esperança de um peixe lutador
que, na linha do anzol, puxe a canoa;
remo solto, segura-se na proa,
porque sabe os segredos de seu rio
e não foge jamais ao desafio,
visto que água no chão é mão na luva…
Essas cenas ocorrem quando a chuva
cai na terra do sol e espanta o estio.

05 – Prof. Garcia
O carão canta triste em desvario
quando a chuva se ausenta e vai embora,
é a tristeza do canto de quem chora
no murmúrio de um grande desafio.
Sertanejo, sem chuva, é por um fio,
que ele escapa o rebanho da vivenda,
tudo quanto produz é uma oferenda
contra a fome feroz que se aproxima,
o campônio jamais se desanima
e é feliz no terreiro da fazenda!

06 – Zé Lucas
Vi a cana espremida na moenda,
vi os bois sonolentos na almanjarra,
na qual já trabalhavam quando a barra
da manhã lourejava na fazenda;
e o engenho, que há muito virou lenda,
tinha cheiro de mel e rapadura,
mas o tempo mudou… Já não se apura
uma simples batida, ou alfenim.
No sertão, isso tudo levou fim,
mas a dor da saudade ninguém cura!

07 – Prof. Garcia
Nem o canto feliz da saracura
que cantava em lagoa e pantanais,
eu escuto nos velhos mofumbais
que abrigavam tão bela criatura.
Se o destino ou a própria desventura
prescreveram tristonha profecia,
meu sertão chora a dor de cada dia
lamentando o passado que se foi,
e a toada do meu carro de boi
era a orquestra mais linda que se ouvia!

08 – Zé Lucas
Não me esqueço do som da cantoria
nos alpendres de antigos casarões,
com sextilhas, martelos e mourões
recheados de nítida magia;
era um mundo encantado de poesia
que abracei desde minha tenra idade,
tradição nordestina de verdade
que não pode morrer nem fraquejar
porque é muito querida e popular,
mas mudou-se do campo pra cidade!

09 – Prof. Garcia
Nos sortudos perfis da mocidade
no terreiro da antiga fazendola,
escutei cantadores de viola
repentistas com muita habilidade.
mas o tempo com vã fugacidade
desfez logo o meu velho apostolado,
me deixou na fazenda abandonado
como quem diz adeus e vai embora,
e até hoje a fazenda ainda chora
relembrando a viola do passado!

10 – Zé Lucas
Neste nosso martelo agalopado,
imitamos os mestres da viola,
muito embora sejamos de outra escola
que não lida com o verso improvisado,
mas respeita o formato desenhado
pelos grandes artistas do repente.
Nós também nos servimos da vertente
dessa viva poesia nordestina,
que não tem pretensões, porém domina
a cultura mais bela do presente!

11 – Prof. Garcia
Nosso velho rojão é tão dolente
que as estrelas marejam no infinito,
chora a imagem pintada no granito
nos instantes finais do sol morrente;
as estrelas fulguram no nascente
e a montanha se cobre de beleza,
para ouvir a canção da singeleza
que o poeta verseja e não vacila,
cada verso é uma estrela que cintila
no universo da santa natureza!

12 – Zé Lucas
O improviso, que é sempre uma surpresa,
é o momento supremo da emoção
de quem logra ter grande inspiração
para encher a poesia de beleza;
uma estrela distante, com certeza,
manda um sonho de ouro pra o poeta,
que se sente tocado de uma seta
no recinto da lógica e da mente;
brilha logo a faísca do repente
e um poema, em segundos, se completa.

13 – Prof. Garcia
No repente, ninguém traça uma meta,
mas é bom que um roteiro a gente trace,
pois do nada, um improviso sempre nasce
e a beleza da vida se completa.
Não precisa que seja em linha reta,
pode ser por caminho tortuoso,
pois o verso sofrendo é mais famoso
aos primeiros suspiros da manhã,
quando o sol salpicando o morro e a chã
torna o verso mais belo e mais formoso!

14 – Zé Lucas
Quem trabalha precisa de repouso
pra suprir os efeitos do cansaço,
pois o esforço medido a cada passo
nunca pode tornar-se tão penoso;
nosso tempo é tesouro precioso,
como o próprio bom senso nos revela…
Desperdício das horas, sem cautela,
leva a perdas e danos sem medida
e ao desgaste das dádivas da vida,
desta vida que é curta, mas é bela.

15 – Prof. Garcia
Quando escuto o bramido da procela
e os gemidos do mar, quando se alteia,
eu respeito o furor da maré cheia
e a bravura do mar que se encapela.
Fica mais perigoso o barco à vela
do que a nossa chalana pantaneira,
que é mais leve, mais dócil, mais faceira,
onde as ondas são todas pequeninas,
me lembrando as canoas nordestinas
sossegadas na paz da ribanceira!

16 – Zé Lucas
No sertão, uma linda fiandeira
foi Maria Isabel, minha vovó,
que viveu no calor do Seridó
comandando uma roca de madeira;
punha os pés pequeninos numa esteira
fabricada com arte e paciência;
sempre estava na pobre residência
dando a bênção a adultos e guris…
Viveu quase cem anos, tão feliz,
com o novelo dos fios da existência!

17 – Prof. Garcia
Minha avó também teve competência,
com seu fuso na mão, foi de primeira,
também tinha uma roca de madeira
que lhe deu o sustento, e deu vivência.
Enedina, um sinal de resistência,
não sentia o torpor da nostalgia,
na pobreza do campo onde vivia
resistiu aos insultos da escassez,
mas viveu com ternura e sensatez
encantada com tudo que fazia!

18 – Zé Lucas
Desde a infância alguns versos eu já lia:
comecei pelas glosas de Nicandro,
mergulhei nos romances de Leandro,
que fazia cordel com poesia;
lendo Chagas Batista, eu descobria
o cangaço do solo nordestino,
com as grandes façanhas de Silvino,
que era o “Rifle de Ouro” respeitado…
Dos delitos, enfim foi indultado
por Getúlio, abrandando o seu destino.

19 – Prof. Garcia
Eu não posso esquecer de Jesuíno,
homem forte, disposto e valentão,
que lutou nas caatingas do sertão
contra a própria injustiça do destino.
Vingativo, mas nunca foi cretino,
foi mais um respeitado cangaceiro…
Todos dizem que foi mais justiceiro,
do que injusto, naquilo que fazia.
Jesuíno Brilhante procedia
ao contrário do injusto trapaceiro.

20 – Zé Lucas
No Nordeste, o mais duro cangaceiro,
Virgulino Ferreira, o Lampião,
assombrou todo o povo do sertão
com seu rifle temível e certeiro;
tinha fama de bravo bandoleiro,
pois, de fato, era intrépido e valente,
açoitava e matava cruelmente,
mas entrou pelo cano em Mossoró:
correu tanto, que as pernas davam nó;
mesmo assim, é um herói pra muita gente!
Fonte:
Zé Lucas

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia de Cordel, Rio Grande do Norte

Clevane Pessoa (Cordel em Quadras:Lavadeirinhas)

Lavadeiras (pintura de Marcos José)
Para amenizar a lida,
as lavadeiras de Minas
lavam cantando demais
o que lhes vai pela vida…

Rezam louvando a Maria,
cantarolam seus amores,
em coro choram suas dores,
sérias, mostram sua alegria,,,

Nas pedras batem os panos,
às vezes soltam risadas
enquanto dão suas braçadas,
as mesmas de tantos anos…

Às vezes, roupas perseguem,
que lhes fugiram das mãos,
os peixes são seus irmãos
por mais que os peixes o neguem…

Velho Chico, um grande rio,
acostumado às cantigas,
vê nelas grandes amigas,
a ninar seu passadio…

Os passarinhos se intrigam:
de que penas são tais vozes,
cantando lentas, velozes,
que sobre as margens se abrigam?

No Jequitinhonha, do Alto
cantam tanto as de Almenara,
que seu coro, qual jóia rara,
está num CD bem lauto…

Cantavam as ribeirinhas, 
em Portugal, no passado,
e ao vir prá cá, com agrado,
trouxeram suas musiquinhas…

Por isso cantam as baianas 
quando lavam na Abaeté,
linda lagoa – e com fé,
rezem sagradas, profanas…

Sobre madeira flutuante
– cada mulher tem seu porto
por questão de mais conforto
a cabocla lava expectante:

vigia se o boto aparece,
peixe em moço transformado,
um sedutor encantado
(senão a barriga cresce)…

As roupas brancas clareadas 
à luz do sol, clareador,
ficam alvas, sim senhor
e depois serão engomadas…

São lindas as lavadeiras,
em belas coreografias
ensaiadas todos dias,
dançam e cantam faceiras

E esse show, sem ser ensaiado
toca qualquer coração,
pois corpos, braços, sabão,
são um todo sincronizado…

Desaparecem os cansaços
nas canções alegrezinhas
que são seus melhores traços
-Que cantem sempre,avezinhas!

Fonte:
Pintura por Marcos José

1 comentário

Arquivado em Minas Gerais, Poesia de Cordel