Arquivo do mês: abril 2013

José Feldman (Universo de Versos n. 18)


Uma Trova do Paraná

MARIO A. J. ZAMATARO – Curitiba
Tremer como a britadeira
é um sintoma de febrão;
não pense que é brincadeira,
mais um pouco é convulsão.

Uma Trova Lírica/Filosófica de Magé/RJ

MARIA MADALENA FERREIRA
Quem planta em terras fecundas
colhe bons frutos! – E mais:
– cria raízes profundas,
à prova de vendavais!

Uma Trova Humorística de São Paulo/SP

HÉRON PATRÍCIO
Grita o macaco sem teto,
sem galho e sem agasalho:
– Ninguém mais cumpre o decreto
“cada macaco em seu galho”???

Uma Trova do Feldman
 

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Quando entregues à tolice
de uma insensata paixão,
vivemos tanta meiguice,
mas, no fim…. só decepção!

Uma Trova Hispânica de Chilpancingo/Guerrero/México
 

MANUEL S. LEYVA
El Mañana es muy hermoso
por su disfraz de esperanza,
pero el Hoy, es más precioso,
no es ficción en lontananza.

Uma Trova de Ilhavo/Portugal
 

DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Confiemos no porvir
na certeza de que ele é
fruto do nosso sentir
e filho da nossa fé.

Trovadores que deixaram Saudades

JOÃO RANGEL COELHO  – Rio de Janeiro/RJ
1897 – ????

Bendita mão que semeia
 e que em dádiva sofrida
 vai deixando em terra alheia
 pedaços da própria vida.

Um Haicai de Campinas/SP

GUILHERME DE ALMEIDA
1890 – 1969

Pescaria
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.

Uma Poesia de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
Travessia

Peguei o rumo da estrada
Marcando firme o compasso
E fui buscar meu espaço
No romper da madrugada.

Atravessei as cancelas,
Saltei valas e valões,
Abri portas e janelas,
Penetrei pelas favelas,
Andei muitos quarteirões.

Busquei fé e esperança,
Dividi o pão que tinha,
Rezei muitas ladainhas,
Pedi a DEUS proteção…
Dei o abraço apertado
No meu tão sofrido irmão!

Passei fome, senti sede,
Pisei em pedras e espinhos,
Nunca fugi dos caminhos
Que pela vida encontrei
Pois quem foge é covarde
E eu nunca me acovardei.

Fui em busca de um amor,
Movido pela paixão.
Machuquei meu coração,
Que tanto tinha pra dar,
Mas fingi não sentir dor
Conjugando o verbo amar.

Gemedeira
 

SEVERINO PINTO – Monteiro/PB
Pela própria denominação do gênero, vemos que serve para temas gracejantes. É a Gemedeira um estilo de poesia, caracterizado pela interposição de verso de quatro, ou, raramente, de duas sílabas, entre a quinta e a sexta linhas da Sextilha, formado pelas interjeições: “ai! e ui! ou ai! e hum!” (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Após cantar outros estilos com José Soares do Nascimento, Severino Pinto mudou para Gemedeira:

Cantei Mourão a Galope,
Versejando como entendo!
Vou passar pra Gemedeira,
Como me pedem, eu atendo!
Há pouco, cantei me rindo.
Ai! ai! ui! ui!
Agora canto gemendo!

Trova Ecológica

Uma Poesia de Moçambique/África

JOSÉ PEDRO DA SILVA CAMPOS D’OLIVEIRA
1847 – 1911
A Uma Virgem
(Improviso)
 
Motora dos meus martírios!
Causa da minha saudade!
Ingénua e casta deudade!
Minha terna inspiração!
Condoi-te da triste sorte
Do jovem que te ama tanto,
Que por ti verte agro pranto
Gerado no coração!
Rasga-me o peito, se queres,
E vê nele a intensa chama,
Que há três anos o inflama
Em cruas dores, sem fim…
De padecer já cansado
Vou sentindo a morte dura
Arrastar-me à sepultura,
E na flor da idade assim!…

E podes ser tão tirana,
Que possas ver indif´rente
D´anos de´nove somente
Morrer o teu trovador?!
Ai! Não! Alenta-me a vida,
Reprime esta dor infinda
Dando-me só, virgem linda,
O teu puro e casto amor!…

Quadrão

LACERDA FURTADO
Quadrão para Joaquim Batista de Sena

O Quadrão em oito apareceu com ligeira modificação na sua forma interna, isto é, o quarto verso que rimava somente com o oitavo passou a rimar também com o quinto. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Numa homenagem póstuma ao ilustre mestre Lacerda Furtado, transcrevemos um Quadrão no novo estilo, por ele escrito e oferecido ao grande cordelista paraibano Joaquim Batista de Sena:

Namorando a Salomé,
Vi a barca de Noé,
Palestrei com Josué,
Com Jacó e Salomão;
Travei luta com Sansão,
Nadei no delta do Nilo,
Montado num crocodilo,
Cantando os oito em Quadrão!

Um Soneto de Salvador/BA

ERNANE GUSMÃO
Licor de Anis

Licor de anis,azul,embriagante,
A cada gole meus desejos trais.
O vulto da singela e doce amante,
Fluidos perfumes, densas espirais.

Eu sorvo a tona desse anil bacante
E me inebrio em delírios tais…
Ouço o murmúrio dela, soluçante,
Em sintonia com meus mudos ais.

A timidez me prende, relutante
O coração reclama-segue avante,
Por que não quebras o temor e vais?

E quêdo embora, bafejou-me a graça,
Licor de anis sumiu da minha taça,
Mas ela… dos meus olhos… nunca mais!

Uma Poesia de Longe

LAURA RIDING – Nova York/Estados Unidos
1901 – 1991
Uma Gentileza

Estar viva é estar curiosa.
 Quando perder interesse pelas coisas
 E não estiver mais atenta, álacre
 Por fatos, acabo este minguado inquérito.
 A morte é a condição do supremo tédio.

Vou deixar que me desintegre
 E aí, por saber da paz que a morte traz,
 Seria bom seguir convencendo o destino
 A ser mais generoso, estender, também,
 O privilégio do tédio a todos vocês.

Trova Popular
 
As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam…

Poesia em Música

EDUARDO DAS NEVES/RJ – (versos e melodia)
(1874-1919)
A Conquista do Ar (1902)

O feito de Alberto Santos Dumont, contornando a Torre Eiffel em seu balão n° 6, no dia 19.10.1901, inspirou diversas composições, entre as quais a marcha “A Conquista do Ar”, sucesso de 1902. Uma criação de Eduardo das Neves, a canção glorifica o inventor da aviação em versos desbragadamente ufanistas, que o público da época adorou (“A Europa curvou-se ante o Brasil / e clamou parabéns em meigo tom / brilhou lá no céu mais uma estrela / apareceu Santos Dumont”).
Palhaço de circo, poeta, compositor e principalmente cantor, Eduardo das Neves foi o nosso artista negro mais popular no início do século. Pai do também compositor Cândido das Neves, deixou modinhas, lundus, cançonetas, sendo de sua autoria os versos em homenagem ao encouraçado Minas Gerais, feitos sobre a melodia da valsa “Vieni sul Mar”, do folclore veneziano.
Aliás, ainda sobre a mesma melodia, o radialista Paulo Roberto escreveria, em 1945, nova letra exaltando o estado mineiro (“Lindos campos batidos de sol / ondulando num verde sem fim…”), mantendo o refrão popular (“Ó Minas Gerais / ó Minas Gerais / quem te conhece não esquece jamais…”).
No auge da carreira, Dudu das Neves apresentava-se nos palcos de smoking azul e chapéu de seda. (Cifrantiga

A Europa curvou-se ante o Brasil
E clamou “parabéns” em meio tom.
Brilhou lá no céu mais uma estrela:
Apareceu Santos Dumont.

Salve, Estrela da América do Sul,
Terra, amada do índio audaz, guerreiro!
Santos Dumont, um brasileiro!

A conquista do ar que aspirava
 A velha Europa, poderosa e viril,
Quem ganhou foi o Brasil!

Por isso, o Brasil, tão majestoso,
Do século tem a glória principal:
Gerou no seu seio o grande herói
Que hoje tem um renome universal.

Assinalou para sempre o século vinte
O herói que assombrou o mundo inteiro:
Mais alto que as nuvens.
Quase Deus, Santos Dumont – um brasileiro.

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Messias da Rocha (Comunhão)

Deixe um comentário

30 de abril de 2013 · 19:32

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 17, final

CAPÍTULO CXXXV / OTELO


Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço. –um simples lenço!–e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderam-se. hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há e valem só as camisas. Tais eram as idéias que me iam passando pela cabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iago destilava a sua calúnia. Nos intervalos não me levantava da cadeira- não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhoras ficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar. Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teria amado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outras incoerências, até que o pano subia e continuava a peça. O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

–E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo; — que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção…

Vaguei pelas ruas o resto da noite. Ceei, é verdade um quase nada, mas o bastante para ir até à manhã. Vi as últimas horas da noite e as primeiras do dia, vi os derradeiros passeadores e os primeiros varredores, as primeiras carroças, os primeiros ruídos, os primeiros albores, um dia que vinha depois do outro e me veria ir para nunca mais voltar. As ruas que eu andava como que me fugiam por si mesmas. Não tornaria a contemplar o mar da Glória, nem a serra dos órgãos, nem a fortaleza de Santa Cruz e as outras. A gente que passava não era tanta, como nos dias comuns da semana, mas era já numerosa e ia a algum trabalho, que repetiria depois; eu é que não repetiria mais nada.

Cheguei a casa, abri a porta devagarinho, subi pé ante pé, e meti-me no gabinete, iam dar seis horas. Tirei o veneno do bolso, fiquei em mangas de camisa, e escrevi ainda uma carta, a última, dirigida a Capitu. Nenhuma das outras era para ela; senti necessidade de lhe dizer uma palavra em que lhe ficasse o remorso da minha morte.

Escrevi dous textos. O primeiro queimei-o por ser longo e difuso. O segundo continha só o necessário, claro e breve. Não lhe lembrava o nosso passado, nem as lutas havidas, nem alegria alguma; falava-lhe só de Escobar e da necessidade de morrer.

CAPÍTULO CXXXVI / A XÍCARA DE CAFÉ

O meu plano foi esperar o café, dissolver nele a droga e ingeri-la. Até lá, não tendo esquecido de todo a minha história romana, lembrou-me que Catão, antes de se matar, leu e releu um livro de Platão. Não tinha Platão comigo; mas um tomo truncado de Plutarco, em que era narrada a vida do célebre romano, bastou-me a ocupar aquele pouco tempo, e para em tudo imitá-lo, estirei-me no canapé. Nem era só imitá-lo nisso; tinha necessidade de incutir em mim a coragem dele, assim como ele precisara dos sentimentos do filósofo, para intrepidamente morrer. Um dos males da ignorância é não ter este remédio à última hora. Há muita gente que se mata sem ele, e nobremente expira, mas estou que muita mais gente poria termo aos seus dias, se pudesse achar essa espécie de cocaína moral dos bons livros. Entretanto, querendo fugir a qualquer suspeita de imitação, lembra-me bem que, para não ser encontrado ao pé de mim o livro de Plutarco, nem ser dada a notícia nas gazetas com a da cor das calças que eu então vestia, assentei de pô-lo novamente no seu lugar, antes de beber o veneno.

O copeiro trouxe o café. Ergui-me, guardei o livro, e fui para a mesa onde ficara a xícara. Já a casa estava em rumores; era tempo de acabar comigo. A mão tremeu-me ao abrir o papel em que trazia a droga embrulhada. Ainda assim tive animo de despejar a substancia na xícara, e comecei a mexer o café, os olhos vagos, a memória em Desdêmona inocente; o espetáculo da véspera vinha intrometer-se na realidade da manhã. Mas a fotografia de Escobar deu-me o animo que me ia faltando; lá estava ele, com a mão nas costas da cadeira, a olhar ao longe…

“Acabemos com isto”, pensei.

Quando ia a beber, cogitei se não seria melhor esperar que Capitu e o filho saíssem para a missa; beberia depois; era melhor. Assim disposto, entrei a passear no gabinete. Ouvi a voz de Ezequiel no corredor, vi-o entrar e correr a mim bradando:

–Papai! papai!

Leitor, houve aqui um gesto que eu não descrevo por havê-lo inteiramente esquecido, mas crê que foi belo e trágico. Efetivamente, a figura do pequeno fez-me recuar até dar de costas na estante. Ezequiel abraçou-me os joelhos, esticou-se na ponta dos pés, como que rendo subir e dar-me o beijo do costume; e repetia, puxando-me:

–Papai! papai!

CAPÍTULO CXXXVII / SEGUNDO IMPULSO

Se eu não olhasse para Ezequiel, é provável que não estivesse aqui escrevendo este livro, porque o meu primeiro ímpeto foi correr ao café e bebê-lo. Cheguei a pegar na xícara, mas o pequeno beijava-me a mão, como de costume, e a vista dele, como o gesto, deu-me outro impulso que me custa dizer aqui;- mas vá lá, diga-se tudo. Chamem me embora assassino; não serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.

–Já, papai; vou à missa com mamãe.

–Toma outra xícara, meia xícara só.

–E papai?

— Eu mando vir mais; anda, bebe!

Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara, tão trêmulo que quase a entornei, mas disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o sabor lhe repugnasse, ou a temperatura, porque o café estava frio… Mas não sei que senti que me fez recuar. Pus a xícara em cima da mesa, e dei por mim a beijar doudamente a cabeça do menino.

–Papai! papai! exclamava Ezequiel.

–Não, não, eu não sou teu pai!

CAPÍTULO CXXXVIII / CAPITU QUE ENTRA

Quando levantei a cabeça, dei com a figura de Capitu diante de mim. Eis aí outro lance, que parecerá de teatro, e é tão natural como o primeiro, uma vez que a mãe e o filho iam à missa, e Capitu não saía sem falar-me. Era já um falar seco e breve; a maior parte das vezes, eu nem olhava para ela. Ela olhava sempre, esperando.

Desta vez, ao dar com ela, não sei se era dos meus olhos, mas Capitu pareceu-me lívida. Seguiu-se um daqueles silêncios, a que, sem mentir, se pode chamar de um século, tal é a extensão do tempo nas grandes crises. Capitu recompôs-se; disse ao filho que se fosse embora, e pediu-me que lhe explicasse…

–Não há que explicar, disse eu.

–Há tudo, não entendo as tuas lágrimas nem as de Ezequiel. Que houve entre vocês?

–Não ouviu o que lhe disse?

Capitu respondeu que ouvira choro e rumor de palavras. Eu creio que ouvira tudo claramente mas confessá-lo seria perder a esperança do silêncio e da reconciliação por isso negou a audiência e confirmou unicamente a vista. Sem lhe contar o episódio do café, repeti-lhe as palavras do final do capítulo.

–O quê? perguntou ela como se ouvira mal.

–Que não é meu filho.

Grande foi a estupefação de Capitu, e não menor a indignação que lhe sucedeu, tão naturais ambas que fariam duvidar as primeiras testemunhas de vista do nosso foro. Já ouvi que as há para vários casos, questão de preço; eu não creio, tanto mais que a pessoa que me contou isto acabava de perder uma demanda. Mas, haja ou não testemunhas alugadas, a minha era verdadeira; a própria natureza jurava por si, e eu não queria duvidar dela. Assim que, sem atender à linguagem de Capitu, aos seus gestos, à dor que a retorcia, a cousa nenhuma, repeti as palavras ditas duas vezes com tal resolução que a fizeram afrouxar. Após alguns instantes, disse-me ela:

–Só se pode explicar tal injúria pela convicção sincera; entretanto você que era tão cioso dos menores gestos, nunca revelou a menor sombra de desconfiança. Que é que lhe deu tal idéia? Diga,– continuou vendo que eu não respondia nada, — diga tudo; depois do que ouvi, posso ouvir o resto, não pode ser muito. Que é que lhe deu agora tal convicção? Ande, Bentinho, fale! fale! Despeça-me daqui, mas diga tudo primeiro.

–Há cousas que se não dizem.

–Que se não dizem só metade; mas já que disse metade, diga tudo.

Tinha-se sentado numa cadeira ao pé da mesa. Podia estar um tanto confusa, o porte não era de acusada. Pedi-lhe ainda uma vez que não teimasse.

–Não, Bentinho, ou conte o resto, para que eu me defenda, se você acha que tenho defesa, ou peço-lhe desde já a nossa separação: não posso mais!

–A separação é cousa decidida, redargüi pegando-lhe na proposta. Era melhor que a fizéssemos por meias palavras ou em silêncio; cada um iria com a sua ferida. Uma vez, porém, que a senhora insiste, aqui vai o que lhe posso dizer, e é tudo.

Não disse tudo; mas pude aludir aos amores de Escobar sem proferir-lhe o nome. Capitu não pôde deixar de rir, de um riso que eu sinto não poder transcrever aqui; depois, em um tom juntamente irônico e melancólico:

–Pois até os defuntos! Nem os mortos escapam aos seus ciúmes!

Concertou a capinha e ergueu-se. Suspirou, creio que suspirou, enquanto eu, que não pedia outra cousa mais que a plena justificação dela, disse-lhe não sei que palavras adequadas a este fim. Capitu olhou para mim com desdém, e murmurou:

–Sei a razão disto; é a casualidade da semelhança… A vontade de Deus explicará tudo… Ri-se? É natural- apesar do seminário não acredita em Deus; eu creio… Mas não falemos nisto; não nos fica bem dizer mais nada.

CAPÍTULO CXXXIX / A FOTOGRAFIA

Palavra que estive a pique de crer que era vítima de uma grande ilusão, uma fantasmagoria de alucinado; mas a entrada repentina de Ezequiel, gritando:–“Mamãe! mamãe! é hora da missa!” restituiu-me à consciência da realidade. Capitu e eu, involuntariamente, olhamos para a fotografia de Escobar, e depois um para o outro. Desta vez a confusão dela fez-se confissão pura. Este era aquele; havia por força alguma fotografia de Escobar pequeno que seria o nosso pequeno Ezequiel. De boca, porém, não confessou nada; repetiu as últimas palavras, puxou do filho e saíram para a missa.

CAPÍTULO CXL / VOLTA DA IGREJA

Ficando só, era natural pegar do café e bebê-lo. Pois, não, senhor; tinha perdido o gosto à morte. A morte era uma solução; eu acabava de achar outra, tanto melhor quanto que não era definitiva, e deixava a porta aberta à reparação, se devesse havê-la. Não disse perdão, mas reparação, isto é, justiça. Qualquer que fosse a razão do ato, rejeitei a morte, e esperei o regresso de Capitu. Este foi mais demorado que de costume; cheguei a temer que ela houvesse ido à casa de minha mãe, mas não foi.

–Confiei a Deus todas as minhas amarguras, disse-me Capitu ao voltar da igreja; ouvi dentro de mim que a nossa separação é indispensável, e estou às suas ordens.

Os olhos com que me disse isto eram embuçados, como espreitando um gesto de recusa ou de espera. Contava com a minha debilidade ou com a própria incerteza em que eu podia estar da paternidade do outro, mas falhou tudo. Acaso haveria em mim um homem novo, um que aparecia agora, desde que impressões novas e fortes o descobriam? Nesse caso era um homem apenas encoberto. Respondi-lhe que ia pensar, e faríamos o que eu pensasse. Em verdade vos digo que tudo estava pensado e feito.

No intervalo, evocara as palavras do finado Gurgel, quando me mostrou em casa dele o retrato da mulher, parecido com Capitu. Hás de lembrar-te delas; se não, relê o capítulo, cujo número não ponho aqui, por não me lembrar já qual seja, mas não fica longe. Reduzem-se a dizer que há tais semelhanças inexplicáveis… Pelo dia adiante, e nos outros dias, Ezequiel ia ter comigo ao gabinete, e as feições do pequeno davam idéia clara das do outro, ou eu ia atentando mais nelas. De envolta, lembravam-me episódios vagos e remotos, palavras, encontros e incidentes, tudo em que a minha cegueira não pôs malícia, e a que faltou o meu velho ciúme. Uma vez em que os fui achar sozinhos e calados, um segredo que me fez rir, uma palavra dela sonhando, todas essas reminiscências vieram vindo agora, em tal atropêlo que me atordoaram… E por que os não esganei um dia. quando desviei os olhos da rua onde estavam duas andorinhas trepadas no fio telegráfico? Dentro, as minhas outras andorinhas estavam trepadas no ar, os olhos enfiados nos olhos, mas tão cautelosos que se desenfiaram logo, dizendo-me uma palavra amiga e alegre. Contei-lhes o namoro das andorinhas de fora, e acharam-lhe graça; Escobar declarou que, para ele, seria melhor se as andorinhas, em vez de trepadas no fio de arame, estivessem à mesa do jantar cozidas. “Nunca comi os ninhos delas, continuou, mas devem ser bons, se os chins os inventaram.” E ficamos a tratar dos chins e dos clássicos que falaram deles, enquanto Capitu, confessando que a aborrecíamos, foi a outros cuidados. Agora lembrava-me tudo o que então me pareceu nada.

CAPÍTULO CXLI / A SOLUÇÃO

Aqui está o que fizemos. Pegamos em nós e fomos para a Europa, não passear, nem ver nada, novo nem velho; paramos na Suíça. Uma professora do Rio Grande, que foi conosco, ficou de companhia a Capitu, ensinando a língua materna a Ezequiel, que aprenderia o resto nas escolas do país. Assim regulada a vida, tornei ao Brasil.

Ao cabo de alguns meses, Capitu começara a escrever-me cartas, a que respondi com brevidade e sequidão. As dela eram submissas, sem ódio, acaso afetuosas, e para o fim saudosas; pedia-me que a fosse ver. Embarquei um ano depois, mas não a procurei, e repeti a viagem com o mesmo resultado. Na volta, os que se lembravam dela, queriam notícias, e eu dava-lhes, como se acabasse de viver com ela; naturalmente as viagens eram feitas com o intuito de simular isto mesmo, e enganar a opinião. Um dia, finalmente…

CAPÍTULO CXLII / UMA SANTA

Entenda-se que, se nas viagens que fiz à Europa, José Dias não foi comigo, não é que lhe faltasse vontade; ficava de companhia a tio Cosme, quase inválido e a minha mãe, que envelheceu depressa. Também ele estava velho, posto que rijo. Ia a bordo despedir-se de mim, e as palavras que me dizia, os gestos de lenço, os próprios olhos que enxugava eram tais que me comoviam também. A última vez não foi a bordo.

–Venha…

–Não posso.

–Está com medo?

–Não; não posso. Agora, adeus, Bentinho, não sei se me verá mais; creio que vou para a outra Europa, a eterna…

Não foi logo; minha mãe embarcou primeiro. Procura no cemitério de S. João Batista uma sepultura sem nome, com esta única indicação: Uma santa. É aí. Fiz fazer essa inscrição com alguma dificuldade. O escultor achou-a esquisita, o administrador do cemitério consultou o vigário da paróquia; este ponderou-me que as santas es tão no altar e no céu.

— Mas, perdão, atalhei, eu não quero dizer que naquela sepultura está uma canonizada. A minha idéia é dar com tal palavra uma definição terrena de todas as virtudes que a finada possuiu na vida. Tanto é assim que, sendo a modéstia uma delas, desejo conservá-la póstuma, não lhe escrevendo o nome.

–Todavia, o nome, a filiação, as datas…

— Quem se importará com datas, filiação, nem nomes, depois que eu acabar?

— Quer dizer que era uma santa senhora, não?

–Justamente. O protonotário Cabral, se fosse vivo, confirmaria aqui o que lhe digo.

–Nem eu contesto a verdade, hesito só, na fórmula. Conheceu então o protonotário?

— Conheci-o. Era um padre-modelo.

— Bom canonista, bom latinista, pio e caridoso, continuou o vigário.

–E possuía algumas prendas de sociedade, disse eu; lá em casa sempre ouvi que era insigne parceiro ao gamão…

–Tinha muito bom dado! suspirou lentamente o vigário. Um dado de mestre!

–Então, parece-lhe…?

–Uma vez que não há outro sentido, nem poderia havê-lo, sim, senhor, admite-se…

José Dias assistiu a estas diligências, com grande melancolia. No fim, quando saímos, disse mal do padre, chamou-lhe meticuloso. Só lhe achava desculpa por não ter conhecido minha mãe, nem ele nem os outros homens do cemitério.

–Não a conheceram; se a conhecessem mandariam esculpir santíssima.

CAPÍTULO CXLIII / O ÚLTIMO SUPERLATIVO

Não foi o último superlativo de José Dias. Outros teve que não vale a pena escrever aqui, até que veio o último, o melhor deles, o mais doce, o que lhe fez da morte um pedaço de vida. Já então morava comigo; posto que minha mãe lhe deixasse uma pequena lembrança, veio dizer-me que, com legado ou sem ele, não se separaria de mim. Talvez a esperança dele fosse enterrar-me. Correspondia-se com Capitu, a que pedia que lhe mandasse o retrato de Ezequiel; mas Capitu ia adiando a remessa de correio a correio, até que ele não pediu mais nada, a não ser o coração do jovem estudante; pedia-lhe também que não deixasse de falar a Ezequiel no velho amigo do pai e do avô, “destinado pelo céu a amar o mesmo sangue.” Era assim que ele preparava os cuidados da terceira geração; mas a morte veio antes de Ezequiel. A doença foi rápida. Mandei chamar um médico homeopata.

–Não, Bentinho, disse ele- basta um alopata; em todas as escolas se morre. Demais, foram idéias da mocidade, que o tempo levou; converto-me à fé de meus pais. A alopatia é o catolicismo da medicina…

Morreu sereno, após uma agonia curta. Pouco antes ouviu que o céu estava lindo, e pediu que abríssemos a janela.

–Não, o ar pode fazer-lhe mal.

–Que mal? Ar é vida.

Abrimos a janela. Realmente, estava um céu azul e claro. José Dias soergueu-se e olhou para fora; após alguns instantes, deixou cair a cabeça, murmurando: Lindíssimo! Foi a última palavra que proferiu neste mundo. Pobre José Dias! Por que hei de negar que chorei por ele?

CAPÍTULO CXLIV / UMA PERGUNTA TARDIA

Assim chorem por mim todos os olhos de amigos e amigas que deixo neste mundo, mas não é provável. Tenho-me feito esquecer. Moro longe e saio pouco. Não é que haja efetivamente ligado as duas pontas da vida. Esta casa do Engenho Novo, conquanto reproduza a de Mata-cavalos, apenas me lembra aquela, e mais por efeito de comparação e de reflexão que de sentimento. Já disse isto mesmo.

Hão de perguntar-me por que razão, tendo a própria casa velha, na mesma rua antiga, não impedi que a demolissem e vim reproduzi-la nesta. A pergunta devia ser feita a princípio, mas aqui vai a resposta. A razão é que, logo que minha mãe morreu, querendo ir para lá, fiz primeiro uma longa visita de inspeção por alguns dias, e toda a casa me desconheceu. No quintal a aroeira e a pitangueira, o poço, a caçamba velha e o lavadouro, nada sabia de mim. A casuarina era a mesma que eu deixara ao fundo, mas o tronco, em vez de reto, como outrora, tinha agora um ar de ponto de interrogação; naturalmente pasmava do intruso. Corri os olhos pelo ar, buscando algum pensamento que ali deixasse, e não achei nenhum. Ao contrário, a ramagem começou a sussurrar alguma cousa que não entendi logo, e parece que era a cantiga das manhãs novas. Ao pé dessa música sonora e jovial, ouvi também o grunhir dos porcos, espécie de troça concentrada e filosófica.

Tudo me era estranho e adverso. Deixei que demolissem a casa, e, mais tarde, quando vim para o Engenho Novo, lembrou-me fazer esta reprodução por explicações que dei ao arquiteto, segundo contei em tempo.

CAPÍTULO CXLV / O REGRESSO

Ora, foi já nesta casa que um dia. estando a vestir-me para almoçar, recebi um cartão com este nome:

EZEQUIEL A. DE SANTIAGO

–A pessoa está aí? perguntei ao criado.

–Sim senhor, ficou esperando.

Não fui logo, logo; fi-lo esperar uns dez ou quinze minutos na sala. Só depois é que me lembrou que cumpria ter certo alvoroço e correr, abraçá-lo, falar-lhe na mãe. A mãe,–creio que ainda não disse que estava morta e enterrada. Estava; lá repousa na velha Suíça. Acabei de vestir-me às pressas. Quando saí do quarto, com ares de pai, um pai entre manso e crespo, metade Dom Casmurro Ao entrar na sala, dei com um rapaz, de costas, mirando o busto de Massinissa, pintado na parede. Vim cauteloso, e não fiz rumor Não obstante, ouviu-me os passos, e voltou-se depressa. Conhece-me pelos retratos e correu para mim. Não me mexi; era nem mas nem menos o meu antigo c jovem companheiro do seminário de José, um pouco mais baixo, menos cheio de corpo e, salvo as cores que eram vivas, o mesmo rosto do meu amigo. Trajava à moderna naturalmente, e as maneiras eram diferentes, mas o aspecto geral reproduzia a pessoa morta. Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. Era o meu comborço; era o filho de seu pai. Vestia de luto pela mãe; eu também estava de preto. Sentamo-nos.

–Papai não faz diferença dos últimos retratos, disse-me ele

A voz era a mesma de Escobar, o sotaque era afrancesado. Expliquei-lhe que realmente pouco diferia do que era, e comecei um interrogatório para ter menos que falar e dominar assim a minha emoção. Mas isto mesmo dava animação à cara dele, e o meu colega do seminário ia ressurgindo cada vez mais do cemitério. Ei-lo aqui. diante de mim, com igual riso e maior respeito; total, o mesmo obséquio e a mesma graça. Ansiava por ver-me. A mãe falava muito em mim, louvando-me extraordinariamente, como o homem mais puro do mundo, o mais digno de ser querido.

— Morreu bonita, concluiu.

–Vamos almoçar.

Se pensas que o almoço foi amargo, enganas-te. Teve seus minutos de aborrecimento, é verdade; a princípio doeu-me que Ezequiel não fosse realmente meu filho, que me não completasse e continuasse. Se o rapaz tem saído à mãe, eu acabava crendo tudo, tanto mais facilmente quando que ele parecia haver-me deixado na véspera evocava a meninice, cenas e palavras, a ida para o colégio…

–Papai ainda se lembra quando me levou para o colégio? perguntou rindo.

–Pois não hei de lembrar-me?

–Era na Lapa; eu ia desesperado, e papai não parava, dava-me cada puxão, e eu com as perninhas… Sim, senhor, aceito.

Estendeu o copo ao vinho que eu lhe oferecia, bebeu um gole, e continuou a comer. Escobar comia assim também, com a cara metida no prato. Contou-me a vida na Europa, os estudos, particularmente os de arqueologia, que era a sua paixão. Falava da antiguidade com amor, contava o Egito e os seus milhares de séculos, sem se perder nos algarismos; tinha a cabeça aritmética do pai. Eu, posto que a idéia da paternidade do outro me estivesse já familiar, não

gostava da ressurreição. Às vezes, fechava os olhos para não ver gestos nem nada, mas o diabrete falava e ria, e o defunto falava e ria por ele.

Não havendo remédio senão ficar com ele, fiz-me pai deveras. A idéia de que pudesse ter visto alguma fotografia de Escobar, que Capitu por descuido levasse consigo, não me acudiu, nem se acudisse, persistiria. Ezequiel cria em mim como na mãe. Se fosse vivo José Dias, acharia nele a minha própria pessoa. Prima Justina quis vê-lo, mas estando enferma, pediu-me que o levasse lá. Conhecia aquela parenta. Creio que o desejo de ver Ezequiel era para o fim de verificar no moço o debuxo que porventura houvesse achado no menino. Seria um regalo último; atalhei-o a tempo.

–Está muito mal, disse eu a Ezequiel que queria ir vê-la, qualquer emoção pode trazer-lhe a morte. Iremos vê-la, quando ficar melhor.

Não fomos; a morte levou-a dentro de poucos dias. Ela descansa no Senhor ou como quer que seja. Ezequiel viu-lhe a cara no caixão e não a conheceu, nem podia, tão outra a fizeram os anos e a morte. No caminho para o cemitério, iam-lhe lembrando uma porção de cousas, alguma rua, alguma torre, um trecho de praia, e era todo alegria. Assim acontecia sempre que voltava para casa, ao fim do dia; contava-me as recordações que ia recebendo das ruas e das casas. Admirava-se que muitas destas fossem as mesmas que ele deixara, como se as casas morressem meninas.

Ao cabo de seis meses, Ezequiel falou-me em uma viagem à Grécia, ao Egito, e à Palestina, viagem científica, promessa feita a alguns amigos.

–De que sexo? perguntei rindo.

Sorria vexado, e respondeu-me que as mulheres eram criaturas tão da moda e do dia que nunca haviam de entender uma ruína de trinta séculos. Eram dous colegas da universidade. Prometi-lhe recursos, e dei-lhe logo os primeiros dinheiros precisos. Como disse que uma das conseqüências dos amores furtivos do pai era pagar eu as arqueologias do filho; antes lhe pagasse a lepra… Quando esta idéia me atravessou o cérebro, senti-me tão cruel e perverso que peguei no rapaz e quis apertá-lo ao coração, mas recuei; encarei-o depois, como se faz a um filho de verdade; os olhos que ele me deitou foram ternos e agradecidos.

CAPÍTULO CXLVI / NÃO HOUVE LEPRA

Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém, onde os dous amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: “Tu eras perfeito nos teus caminhos.” Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo.

Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: “Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação.” Parei e perguntei calado: “Quando seria o dia da criação de Ezequiel?” Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.

CAPÍTULO CXLVII / A EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA

Já sabes que a minha alma, por mais lacerada que tenha sido, não ficou aí para um canto como uma flor lívida e solitária. Não lhe dei essa cor ou descor. Vivi o melhor que pude, sem me faltarem amigas que me consolassem da primeira. Caprichos de pouca dura, é verdade. Elas é que me deixavam como pessoas que assistem a uma exposição retrospectiva, e, ou se fartam de vê-la, ou a luz da sala esmorece. Uma só dessas visitas tinha carro à porta e cocheiro de libré. As outras iam modestamente, calcante pede, e, se chovia, eu é que ia buscar um carro de praça, e as metia dentro, com grandes despedidas, e maiores recomendações.

— Levas o catálogo?

— Levo; até amanhã.

–Até amanhã.

Não voltavam mais. Eu ficava à porta, esperando, ia até à esquina, espiava, consultava o relógio, e não via nada nem ninguém. Então, se aparecia outra visita, dava-lhe o braço, entrávamos, mostrava-lhe as paisagens, os quadros históricos ou de gênero, uma aquarela, um pastel, uma gouache, e também esta cansava, e ia embora com o catálogo na mão…

CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO?

Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! Vamos à “História dos Subúrbios.

FIM

Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

José Feldman (Universo de Versos n. 16)

Uma Trova do Paraná

ANDREA MOTTA – Curitiba
Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
Poesia em mim fez pousada,
sem ter qualquer leviandade.

Uma Trova Lírica/Filosófica de Belo Horizonte/MG

OLYMPIO COUTINHO
Nada recebe quem nega
 dar amor ou coisa assim…
 Só colhe flores quem rega
 dia e noite o seu jardim.

Uma Trova Humorística de Curitiba/PR

ROZA DE OLIVEIRA
Não cresceu… Ficou baixinha,
Tem, da tesoura o viés
Porque a língua, coitadinha,
Corre mais do que os seus pés!…

Uma Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Fiz de você a minha musa
Minha vida e coração
Meu pijama, minha blusa
A tábua de salvação.

Uma Trova Hispânica de Buenos Aires/Argentina

JUAN CARLOS CIRIGLIANO
Posé en mi mano una rosa
 y fui rocío de bruma,
 hoy puedo ver lo hermosa
 que es la vida cuando suma.

Uma Trova de Alverca do Ribatejo/Portugal

ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
Com tanta austeridade,
que…, ainda está p’ra vir,
vai crescer a ansiedade,
nesse tempo do porvir…

Trovadores que deixaram Saudades

ANIS MURAD– Rio de Janeiro/RJ
1904 – 1962

Debaixo de nossa cama,
 que tu deixaste vazia,
 o meu chinelo reclama
 o teu chinelo, Maria…

Um Haicai de São Paulo/SP

FABRÍCIO SOARES PERICORO
Friozinho da manhã
Sob as azaleias floridas
Dorme o cãozinho.

Uma Poesia de Juiz de Fora/MG

CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES
Ciclo

A fonte murmurante
O rio rumoroso
A cachoeira barulhenta
Todos errantes,
Participantes de uma orquestra
Cujo regente
Fica invisível à luz dos dias,
Oculto à luz do luar,
Torna-se dourado junto às luas claras…

Mais tarde, serão
Garoa
Neblina
Orvalho pranto:
Sutis presenças
Com lições de umidade,
De humildade,
De humanidade…

Setilha de Natal/RN

PROF. GARCIA

No sertão, cada filho é uma flor,
que perfuma e inebria um lar feliz,
quanto mais nasce gente em cada casa,
mais o dono da casa pede bis;
mamãe tinha um menino todo ano,
papai pobre não quis mudar de plano
criou onze do jeito que Deus quis.

Trova Ecológica
 
Uma Poesia do Moçambique/África

ARMANDO GUEBUZA – Murrupula, Província de Nampula
AS TUAS DORES

As tuas dores
mais as minhas dores
vão estrangular a opressão

Os teus olhos
mais os meus olhos
vão falando da revolta

A tua cicatriz
mais a minha cicatriz
vão lembrando o chicote

As minha mãos
mais as tuas mãos
vão pegando em armas

A minha força
mais a tua força
vão vencer o imperialismo

O meu sangue
mais o teu sangue
vão regar a Vitória.

Quadrões

LOURIVAL BATISTA – Itapetim/PE
Quadrão à Antiga

Ao longo do tempo, o Quadrão tem sido o gênero a receber o maior número de alterações, não só na sua forma interna, mas, também, na estrutura das estrofes, em geral. O Quadrão antigo é formado por uma estância de oito linhas, pertencente à família dos setessílabos, rimando o primeiro verso com o segundo e o terceiro; o quarto com o oitavo, e o quinto com o sexto e o sétimo, contando, no final, o estribilho de sua denominação. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)

O Cantador repentista,
     Em todo ponto de viste,
     Precisa ser um artista
     De fina imaginação,
     Para dar capricho à arte,
     E ter nome em toda parte,
     Honrando o grande estandarte
     Dos oito pés de Quadrão!

Um Soneto do Rio de Janeiro/RJ

MANUEL BANDEIRA
1886 – 1968
Desencanto

 
Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!

Uma Poesia de Longe
 

LALLA ROMANO – Cuneo/Italia
1906 – 2001

Jovem é o tempo
 

Estreito e claro era o rio
tornou-se enorme e foge
como um animal ferido

Até o ar está morto
o céu é como uma pedra

Os pássaros não sabem mais voar
atiram-se como cegos
dos beirais dos tetos

O amado odor do corpo

O sono das manhãs
me encadeia os joelhos
me cinge a fronte
com suas vendas de seda

Então sem que eu te chame
penetras nos meus sonhos

Galope por Dentro do Mato

SIMPLÍCIO PEREIRA DA SILVA – PE
O violeiro cearense Simplício Pereira da Silva, residente na vila de Barreiras, município de Redenção, criou um estilo interessante de Galope, que ele denominou de “Galope por dentro do mato”. Trata-se de um gênero que cuida, exclusivamente, de temas sertanejos. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) As estrofes abaixo são de sua autoria:

Companheiro, eu do mar não conheço nada,
     Nunca fui à praia e menos ao banho,
     Pois o mar é um lago pra mim tão estranho,
     Que parece até um mistério de fada …
     Eu gosto bastante é de uma caçada,
     Lá no meu sertão, muito embora que ingrato!
     Pra você não pensar que estou com boato:
     Uma meia hora vamos pelejar. .
     Pegue lá seu peixe por dentro do mar,
     Que vou caçar peba por dentro do mato.

No sertão, à caçada, eu fui certo dia,
     Num mato fechado, bem desconhecido,
     Mas eu, na caçada, fui meio atrevido;
     Chegando no mato, o sol já pendia …
     Tinha onça por praga, e eu não sabia;
     Saí pisando devagar no sapato;
     Senti um mau cheiro, pensei que era gato.
     Quando vi a onça e a onça me viu:
     O corpo tremeu e meu rifle caiu…
     Foi carreira feia por dentro do mato!

Uma Trova Popular

À noite quando me deito
 eu rezo à Virgem  Maria,
para sonhar toda  a noite
com quem penso todo o dia. 

Uma Poesia em Música de 1880

GUIMARÃES PASSOS (versos) e MIGUEL EMÍLIO PESTANA (melodia)
Na Casa Branca da Serra (1880)

Segundo Almirante “se há uma modinha que se possa considerar tradicional no Brasil, esta é chamada “Na Casa Branca da Serra”, da autoria de Miguel Emílio Pestana, com versos de Guimarães Passos. Há dezenas de anos que “Na Casa Branca da Serra” tem sido ao mesmo tempo do repertório dos seresteiros de rua como das mais graciosas senhoritas nos elegantes saraus, já em desuso” (O Pessoal da Velha Guarda, 14-12-1950). (Cifrantiga)

Na casa branca da serra
Onde eu ficava horas inteiras
Entre as esbeltas palmeiras
Ficaste calma e feliz
Tudo em meu peito me deste
Quando eu pisei na tua terra
Depois de mim te esqueceste
Quando eu deixei teu país.

Nunca te visse oh! formosa
Nunca contigo falasse
Antes nunca te encontrasse
Na minha vida enganosa
Por que não se abriu a terra
Por que os céus não me puniram
Quando os meus olhos te viram
Na casa branca da serra.

Embora tudo bendigo
Desta ditosa lembrança
Que sem me dar esperança
De unir-me ainda contigo
Bendigo a casa da serra
Bendigo as horas fagueiras
Bendigo as belas palmeiras
Queridas da tua terra.

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Raquel Ordones (Coisa de Pele)

Deixe um comentário

29 de abril de 2013 · 19:58

António Boavida Pinheiro (Caravelas da Poesia)

A CRIANÇA É MARAVILHA…

A criança é maravilha
 Abençoada por Deus,
 Em seu olhar tudo brilha,
 Anjo que desceu dos Céus…

A criança é um bem crer,
 Para esta vida adoçar,
 Vem ao mundo para viver
 E para Deus abençoar…

A criança agrada a Deus,
 Com toda a sua inocência,
 Seus risos chegam aos Céus
 Por nós pedem clemência…

A criança é fruto belo
 Que Deus pôs na nossa vida,
 É preciso merecê-lo
 Dar amor e dar guarida…

A CRIANÇA E O MUNDO!!!

Condenamos o aborto
 Em toda a sua crueza,
 É um ser que vai ser morto,
 Uma criança indefesa…

Crianças morrem à fome
 Neste mundo tão ingrato,
 E o mundo não se comove
 É um mundo insensato…

Redes de pedofilia
 Sacrificam a criança,
 Num viver em agonia
 De vida em desesperança…

Há que acabar com o mal
 Que tanta desgraça faz,
 Que as crianças afinal
 Só querem Amor e Paz…

A CRIANÇA, E O AMOR……

A criança vem ao mundo
 P’ra vida continuar,
 É milagre bem profundo
 De beleza sem ter par…

A criança é um bem caro
 Que nos merece respeito,
 Carece de nosso amparo
 Não pode ser doutro jeito…

Deixar crescer a criança
 Em paz e em liberdade,
 Porque ela é a esperança
 Dum viver em felicidade…

A criança é o melhor
 Que existe na Natureza,
 É o fruto do amor
 Em toda a sua beleza…

LAGOS …

Lagos, terra de eleição,
 Onde o progresso domina
 Na tua urbanização,
 E a tua bela «marina».

Uma beleza que são
 As praias de areia fina,
 Onde, ondas vêm e vão…
 Do mar que não se amofina.

Antes te envolve a preceito,
 Te namora com tal jeito,
 P’ra sempre tua glória…

S. Gonçalo te protege,
 D. Sebastião… te rege,
 E o «povo» te fez a História…

IR A «BANHOS»…

Às «termas», vai gente para se tratar
 E recompor então suas maleitas,
 Na esperança qu’ali irão melhorar,
 Suas dores, seus achaques, e receitas.

Pretendem todas elas, pois ficar
 Sem “stress”, como novas e escorreitas,
 Com as águas, com seus dotes para curar,
 Conforme as qualidades que são feitas.

Para além do bem que fazem ao físico,
 Também ali melhora, pois o psíquico
 P’la calma, p’lo sossego e p’la amizade

No contexto das relações humanas
 Qu’ali se desenvolvem em semanas
 De saudável solidariedade…

LIBERDADE . . .(I)

À proa do meu navio,
 Ancorado ao cais de leste,
 Vejo nuvens a porfio,
 Alvas sob o azul celeste…

Se a liberdade fugiu,
 De algum lugar, que neste
 Planeta azul, mas sombrio,
 Algo da vida perdeste…

Nuvens brancas, soltas, livres,
 Percorrem a estratosfera,
 Ao sabor de leve brisa,

Assim também eu quisera,
 A liberdade… afinal,
 Sem grades, sem dor, sem mal . . .

LIBERDADE . . .(II)

O viver em liberdade
 É um bem inestimável.
 Que a vida em sociedade,
 É algo inimaginável

Sem essa realidade,
 Que por vezes é instável,
 No meio de tanta vaidade,
 Face ao ódio miserável…

Mas quem lhe dá mais valor?
 Quem ora a tem, e antes não.
 Porque conhece o sabor

De ser livre, sem mais não,
 De sonhar sem ter rancor,
 Poder ter opinião . . .

FELICIDADE…
(Poema de um sonhador…)
 Ainda pequenino, olhei o céu,
O mar, o sol, a água do ribeiro,
E logo nessa altura em mim nasceu,
Um sonho mentiroso e traiçoeiro.

Subir… poder voar na imensidade,
Dar livre curso à minha fantasia…
Pensando assim, julguei que a felicidade,
De nós, e não dos outros dependia.

 Embalado nas asas da ilusão,
Livremente deixei o coração
Dizer a toda a gente o que sentia.

 Mas vi depois com mágoa e sofrimento,
Que aquilo que eu dissera num momento,
Ninguém… ninguém sequer o entendia . . .

HOMEM DE PALAVRA…

Sendo um intelectual, e mesmo investigador,
Nunca se especializou em nada em particular.
Estudioso até mais não, escolheu ser Professor,
Depois de ter concluído a carreira militar.

 Em tudo aquilo que fez, fê-lo sempre com primor,
Sério… como do mais, que se possa imaginar,
A sua linha de rumo, foi pautada pelo rigor,
Mesmo que tal atitude, o pudesse prejudicar.

 Entre seus pares conhecido, como o «perfeccionista»
Com seus defeitos pois não, como toda a gente tem,
Vive porém,  todavia, de consciência bem leve,

 Com respeito pelos outros, é aspecto em que se insiste,
Considerando a «Palavra» como um dos maiores bens
Que nas relações humanas, nada há que sobreleve…

IN  MEMORIAM…
( …a um  Pai…)

Partiste desta vida descontente,
Fechado e só, na tua solidão,
Isolaste-te do Mundo e da gente,
Não vendo ao teu redor…qu’ingratidão!

Num auto sofrimento permanente,
Não dando, nem querendo, compaixão…
Nesse orgulho de pedra, de quem sente
Tanta ausência d’amor no coração…

Sem pena, sem mágoa e sem pesar,
Assim, como viveste, desgarrado,
Julgando-te de todos olvidado.

Egoisticamente, sem pensar…
Que ao menos vale a pena ter vivido,
Ainda que julgando estar perdido…

NAS ASAS DE UM PASSARINHO
O meu amor está ausente,
Há muito que a não vejo,
A saudade está presente
Um dia mandei-lhe um beijo.

Um beijo com muito amor,
E mui repenicadinho
Um beijo e uma flor
Nas asas de um passarinho.

Passarinho não voltou,
Perdeu-se um tal ensejo,
Não sei que rumo tomou
Não cumpriu o meu desejo.

Nunca mais tive resposta
Daquele meu bilhetinho,
Passarinho deu à costa,
Enganou-se no caminho…

GOSTO DO VERÃO…

Como eu gosto do Verão,
Calorzinho benfazejo,,
Nos aquece o coração
Na sequência dum beijo.

Parece que a solidão,
A saudade e a tristeza,
Vão de férias, pois então,
Pesam menos p’lo que vejo.

Moçoilas de perna ao léu,
Sorrisos, de um bem fazer,
Também as bênçãos do Céu

Para os pobres, no viver,
Sardinha assada é pitéu,
Bem gordinha podem crer…

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/espaco/antonio_boavida/boavida.html

Deixe um comentário

Arquivado em Poesias, Portugal

António Boavida Pinheiro (1934)

Natural de Alverca do Ribatejo – PORTUGAL; nascido a 7 de Novembro de 1934.

Professor Universitário Aposentado;

Foi toda a sua vida um estudioso “nato”…tendo acumulado no seu currículo várias Licenciaturas e Mestrados, para além de diversos outros cursos, em Portugal e no estrangeiro, …um dos quais de nível equivalente ao Doutoramento.

 A queda para as rimas já vem do tempo da sua juventude, no entanto a sua atividade profissional não lhe deixou tempo para publicar os seus poemas, que sempre foi escrevendo e ficado na “gaveta”, para além duma ou outra participação esporádica em revistas ou jornais…

 Tendo ficado com tempo mais disponível, depois da sua aposentadoria…é assim que desde Setembro de 2008, vem participando em Concursos Literários e Jogos Florais, em Portugal e no Brasil, tendo já obtido vários «Prêmios» e «Menções Honrosas»:
– vencedor do «Concurso Nacional/Internacional de Trovas da UBT – 2009» de São Paulo – Brasil;
– vencedor do Troféu “Augusto dos Anjos”, por ter sido 1º classificado no «XV FESERP – Festival Sertanejo de Poesia – 2009»,na cidade de Aparecida – Brasil;
– 2º e o 1º Prémios respectivamente nos 92º e 96º «Concursos de Quadras Populares» do «Clube da Simpatia» – Olhão, em 2008 e 2009…

Desde Dezembro de 2008, que tem publicado alguma poesia em “sites” e “blogs” na Internet, nomeadamente no «Luso Poemas», e no «Recanto das Letras», entre outros, onde a amizade e a estima de Amigos/as, lhe deram apoio e ânimo para publicar o seu primeiro livro de poesia…., com o título «Cem Poemas…Diversos», publicado pela Editora «Temas Originais», em Maio de 2009; seu segundo livro de poesia com o título  «Poemas ao correr da pena…»…

 Tem poemas publicados em diversas Antologias, como por exemplo:
– «Antologia Nordeste de Poesia», editado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, em 2009;
– «Literatum & Poeticum», (Volume 1), da Editora Guemanisse, Teresópolis. Rio de Janeiro, em 2009;
– antologia poética «(re) leitura do Natal» do 1º Concurso de Poemas de Natal de 2009, da Editora All Print, São Paulo, em Outubro de 2009;
– «Antologia – Prémio Literário Valdeck de Almeida Jesus 2008», editado pela Giz Editorial, São Paulo, 2009;
– volumes V e VI da «Antologia Poética do FESERP – Festival Sertanejo de Poesia», editado pela Acauã Produções Culturais, Cidade de Aparecida, Paraíba, respectivamente em Dezembro de 2009 e em 2010;
– «I Antologia Temas Originais», – 2009, Editora Temas Originais, Coimbra, em 2010;
– Antologia «O Desassossego da Vida – II Concurso de Poesia Poetas em Desassossego», pela Editora Bubok Publishing S.L. Madrid, em 2010;
– «III Antologia de Poetas Lusófonos», pela Editora Folheto Edições & Design, Ld.ª, Leiria, em  2010; ]
entre outras…,

Colabora também em Revistas Literárias, nomeadamente na revista literária «eisFluências», assim como no «Boletim da APE» …

Participa com assiduidade nas reuniões de várias «Tertúlias Poéticas», com destaque para as da Sociedade Portuguesa de Poetas…

É Sócio Efectivo das:
«Sociedade Portuguesa de Autores»;
«Associação Portuguesa de Escritores»;
«Associação Portuguesa de Poetas» e
clube de poetas «Clube da Simpatia» em Olhão,
Sociedade de Geografia de Lisboa,
Associação de Apoio ao Museu da Ciência,
Associação Internacional de Sociologia,
Associação Portuguesa de Sociologia,
“Association Française de l’Anthropologie”,
“Association Française de l’Anthropologie du Droit,”,
“Association pour le Patrimoine de la Vallé de la Rome – ASPAVAROM”,
Academia de Ciências de N.Y.,
Associação Cultural «Charles Darwin» de N.Y.,
“Paul Harris” da  Rotary International.

 Conta no seu currículo com mais de duas dezenas de condecorações e uma meia centena de “Louvores” individuais, concedidos por diversas entidades civis e militares, de entre as quais se mencionam: 

Grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Aviz,
Grão-Cruz da Ordem «Imperial  Constantinian  Military  de Saint  George»;
Grã-cruz da Ordem «Supremus Militaris Templi Hierosolymitani»,
Medalha de Cruz de «Benemérito» da Cruz Vermelha Portuguesa …

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/espaco/antonio_boavida/boavida.html

Deixe um comentário

Arquivado em Biografia, Portugal

Charles M. Phelan (O Escritor de Obituários)

A casa 1113 da Rua Morton parecia abandonada, não fosse pelo jornal que era arremessado pelo jornaleiro, ao pé da porta, todas as manhãs. Ali ficava, intacto, todo o dia. Era recolhido somente durante a noite. A aparência macabra da 1113 dava-se pelo aspecto de abandono que possuía. Durante anos, as estações haviam castigado o exterior da casa. A chuva o sol e a neve encarregaram-se de descascar a maior parte da pintura, e desbotar, para um cinza-sombrio e sem vida, o que havia restado. Capim brotava de cada fissura da passarela de entrada, quase obstruindo o caminho até a porta. A lâmpada externa, que deveria iluminar este caminho, pendurava-se pelo fio também desbotado com o tempo. Dali ouvia-se o Clang, Clang, Clang da haste de metal que segurava a lâmpada, batendo contra a parede. A noite na rua Morton, era diferente de qualquer rua. Ouvia-se o ranger da dobradiça da porta uivar como uma sinfonia de mortos. Era o mais horrendo dos gemidos. Uma suplica que ainda hoje ressoa nos meus ouvidos. Era precisamente nesse momento que a porta abria lentamente permitindo que a mão enluvada alcançasse o jornal e o recolhesse. Além do jornal, as provisões também chegavam por entrega. E do mesmo modo eram recolhidas.

 Observei essa rotina dos 7 aos 17 anos. Ninguém entrava. Somente o vulto corcunda saía, deslocando-se a passos de tartaruga pela calçada até o correio. Todas as noites a mesma rotina.

 Fiz da rotina dele, a minha. Não em ir até o correio, mas em observar o velho corcunda vagando na noite. Aproveitei minha solidão para poder acompanhar a vida deste homem sem amigos e sem família. Deste homem sem face. Digo isso por nunca ter visto sequer a cor de seu cabelo. A escuridão da noite impossibilitava meu olhar investigativo. Tentei em algumas ocasiões me posicionar de modo que me fosse favorável à visão do homem, mas não consegui ver o que procurava. Usava uma capa preta que começava dos joelhos, e terminava na altura da face com seu colarinho levantado. O zíper puxado até o último trilho, repousava acima do dorso do nariz. Um gorro preto descia até a altura das sobrancelhas, deixando apenas os olhos descobertos. Dos olhos nada pude detectar. A escuridão reluzia apenas o brilho natural deles. Pareciam duas contas pretas.

 A imagem noturna me encantava. Instigava minha curiosidade. O homem da noite. Um homem sem medo do escuro. Um homem sem medo da solidão. Parecia ter escolhido aquele horário deliberadamente. Talvez desejasse evitar contato com estranhos. Parecia um vilão e ao mesmo tempo um super herói. Tinha se tornado minha única companhia por anos.

 A meia-noite eu acordava e corria para janela do meu quarto para vê-lo ir ao correio e colocar o envelope por baixo da porta. Esperava sempre seu retorno. Após alguns meses observando da janela do meu quarto, minha presença fora detectada. Com isso, a rotina do velho também mudara. Éramos os únicos acordados. Eu e ele. Dois solitários da madrugada. Senti que não lhe incomodava. Quem sabe, por mais singular que seja esta situação, era eu, o único amigo daquele ser misterioso. O ranço da solidão podia ser compartilhado por dois solitários. Eu da janela, e ele da rua.

 Após seu retorno do correio, o jornal era devolvido á calçada com a mesma discrição que usara para busca-lo. Primeiro, o rugir da dobradiça; depois a mão, com a delicadeza de um perito em bombas, colocava o jornal próximo ao batente da entrada. Interpretei aquela atitude como uma forma de fazer contato comigo, já que até então jamais havia retornado jornal algum á calçada.

 Fui impulsionado por uma curiosidade sufocante. Queria buscar o jornal. Pela primeira vez me vi infringindo a lei, mas não resisti. Fui até a entrada da passarela que levava á porta. Ponderei por alguns segundos a minha decisão. Convenci-me de que era tarde demais para recuar. De onde eu estava, podia ver o jornal embrulhado em um saco plástico. A distancia parecia curta o suficiente para um disparo rápido. Porém, minhas pernas estavam pesando o dobro do que normalmente pesavam. Meu coração martelava rápido e forte por trás do meu peito. Olhei para as janelas, e pensei que eu era quem poderia estar sendo observado desta vez. Segurei o fôlego e disparei em direção ao jornal. Peguei-o pela ponta do plástico e retornei na mesma velocidade para casa. Subi para meu quarto, dei uma última olhada pela janela e rasguei o saco.

 O jornal encontrava-se completamente intacto, salvo pela sessão dos obituários. Uma marca de caneta destacava, com um circulo, um lembrete da morte de uma pessoa. Recolhi os jornais todas as noites, por meses. Todos com as mesmas características, mas sempre destacando pessoas diferentes.

 Havia me doutrinado aquela rotina de observar o velho corcunda caminhar nas noites. Subitamente tudo parou. Três dias se passaram, e nada dele sair ou sequer buscar os jornais. E eles foram se acumulando no batente. Achei estranho. Chamei a policia para investigar o que acontecera. A primeira viatura parou na entrada da garagem. Fui até lá. Ao me aproximar da passarela senti um odor estranho que pesava no ar. Um fedor distinto de todos que já havia sentido. Os dois policiais dirigiram-se até o batente da frente, e com os nós dos dedos bateram na porta. Após alguns segundos de espera, decidiram arromba-la. Apressei o passo até a entrada da sala. Lá estava meu amigo estirado no chão. Morto. O cheiro…ohhh…o cheiro. Jamais esquecerei o cheiro. Na sala, folhas e folhas cobriam a parede de cima á baixo. Todas continham apenas um parágrafo manuscrito. Tratava-se de obituários. Todos. Sobre a escrivaninha, um envelope aberto com uma folha dentro e um cheque nominal. Na frente do envelope, em letras grandes, lia-se: REDAÇÃO DO SUNDAY TIMES – DEPARTAMENTO DE OBITUÁRIOS.

 Peguei algumas das folhas sem que os policiais percebessem, me despedi, e retornei com passos largos para casa. Espalhei as folhas no chão e comparei com as dos jornais que havia juntado nos meses que se passaram. “Aha!” falei inconscientemente. Os obituários, que haviam sido circulados nos jornais, eram os mesmos que haviam sido escritos nas folhas.

 Uma semana após a morte do meu amigo, o Sunday Times publicou em nota oficial, a lista com todos os nomes fictícios que haviam sido publicados nos obituários.

 Durante aquela semana, fui dominado por uma depressão profunda. A solidão havia retornado. Mais forte desta vez. Cheguei a passar horas observando da janela, mas a rua Morton nunca fora tão deprimente. O escritor de obituários muito me marcou. Mesmo no mundo de sua solidão, foi uma companhia leal e importante naqueles anos, onde o espírito de um jovem se forma para o mal ou para o bem. Minha hora havia chegado, e fiz o que era mais apropriado para o momento – escrevi o obituário, daquele tanta companhia me havia feito ao longo dos anos.

 Há cinquenta e dois anos perdi meu amigo, mas sua imagem noturna nunca me abandonou. Oh! Meia- noite… preciso ir ao correio…


Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Soares de Passos (A Um Teatro Académico)

Abrindo sepulcros, rasgando mistérios,
Quem mortos gelados levanta de pé?
Quem varre coas asas as cinzas d’impérios,
E os vultos heróicos anima, quem é?

Quem tira do nada uma forma divina?
Quem finge uma imagem de negro terror?
Quem ergue virtudes, e o crime fulmina?
Quem risos excita, quem prantos de dor?

– O génio do drama e o génio da cena! –
São eles que traçam, em véu d’ilusões,
D’Amor, de ciúme, de riso, e de pena
O jogo travado, falando às paixões.

São eles unidos que em chama inquieta
Sentiu Gil Vicente na fronte escaldar?
São eles que o bardo da terna Julieta,
E a fronte de Talma vieram c’roar.

São eles, mancebos, que em nuvens de flores
A senda apontaram que afoitos seguis,
De palmas e c’roas, de magos fulgores,
Mas senda d’espinhos; co génio condiz.

Em nobre fadiga, que os ócios despreza,
D’acerbos estudos assim descansais!
Foi belo o desígnio, difícil a empresa:
Quem logra nas artes repouso jamais?

Que importa? na luta se provam alentos,
Somente na luta se colhem lauréis;
Aos peitos ardentes, de glória sedentos,
Reluz a bonança por entre os parcéis.

Avante! e que o génio das artes potente
D fogo das artes vos possa trazer!
Que em cenas de prantos o pranto rebente,
Que em cenas alegres se goze o prazer.

As artes e as letras nasceram amigas:
Às aras das duas incensos levai,
E os louros colhidos em sábias fadigas,
Os louros do palco viçosos juntai!

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesias, Portugal

Autor Persa Anônimo (O Primeiro Impulso)

Tooriri era um cidadão rico de Bagdá, universalmente famoso por suas virtudes. Não se limitava a assistir aos pobres a ponto de, em vez de levar uma existência das mais luxuosas, viver apenas confortavelmente; escutava com a mais delicada paciência as queixas de todos os sofredores que o procuravam, consolava-os com palavras carinhosas e ajudava-os de todas as maneiras possíveis.

Suportava com resignação as mil e uma pequenas misérias que constituem a maior parte da vida humana. Tolerante em alto grau, não se aborrecia se os outros não lhe partilhavam as opiniões — virtude difícil e rara, pois o desejo secreto de cada homem é que o resto da humanidade lhe seja inferior e, ao mesmo tempo, semelhante.

Casado com uma megera, mantinha-se-lhe fiel, perdoava-lhe o mau gênio, e jamais a fazia sentir que não era nem moça nem bonita. Prosador e poeta, regozijava-se com o êxito dos rivais e manifestava-lhes benevolência e amizade em expressões corteses e sinceras.

Numa palavra, sua vida era toda caridade, gentileza, lealdade e altruísmo, e consideravam-no, ao mesmo tempo, um santo e um perfeito cavalheiro.

Ao seu semblante, porém, faltava a serenidade que por via de regra caracteriza as feições de um santo. Parecia o de uma pessoa agitada por paixões violentas ou roída de secreta angústia. Não raro o viam estacar e baixar os olhos para recobrar o domínio de si mesmo e impedir que lhe adivinhassem os pensamentos. Mas ninguém prestava a isso a menor atenção.

Não longe de Bagdá vivia um eremita por nome Maitreya, autor de numerosos milagres, cuja morada era objeto da veneração de muitos peregrinos. Tendo-se posto acima das contingências do comum da humanidade, Maitreya conservava-se em tamanha imobilidade que as andorinhas vinham a construíam ninhos em seus ombros. A barba, espessa como a cauda das vacas sagradas, chegava-lhe à cintura, e o seu corpo semelhava um tronco de árvore. Vivia assim desde uns noventa anos, pois era este o seu ideal.

Certo dia um peregrino disse na sua presença:
— Tooriri, de tão bom, parece uma encarnação de Ormuzd. Sem dúvida todo o sofrimento desapareceria da face da Terra se um homem destes pudesse fazer tudo quanto quisesse.

Ainda mais rígida se fez a imobilidade de Maitreya. Evidentemente o santo homem entrara em comunicação direta com o próprio Ormuzd. Depois de pensar uns instantes, respondeu ao peregrino:
— Não me é possível alcançar que Ormuzd conceda a Tooriri o poder de realizar todos os seus desejos, pois assim ele se tornaria um deus. No entanto, Ormuzd, em sua bondade, permite que, de amanhã por diante, o primeiro impulso deste santo homem, em todas as circunstâncias de sua vida, se transforme em realidade.
— É quase a mesma coisa! — exclamou o peregrino. — O primeiro impulso de Tooriri, como todos os seus desejos, será generoso e caridoso. Venerável Maitreya, acabais de me anunciar uma nova que há de trazer a ventura a muita gente, e eu vos agradeço.

Se a barba de Maitreya fosse menos impenetrável, poderia o peregrino ter vislumbrado a sombra de um sorriso em seus lábios empedernidos. Mas logo depois ele voltou a abismar-se nas suas eternas cismas.

Tornou à cidade o peregrino, regozijando-se de antemão com os muitos atos de caridade em que se havia de patentear no dia seguinte o poder do sábio Tooriri.

No dia seguinte, Tooriri despertou antes da mulher e fitou-a por um momento. Movida por força misteriosa, ela se levantou, dirigiu-se à janela, galgou o peitoril a precipitou-se, rachando a cabeça no pavimento da rua.

Ao sair de casa, aproximou-se dele um grupo de mendigos a pedir esmola. Não lhes disse nenhuma palavra dura, e automaticamente a sua mão se encaminhou à bolsa; mas, antes de alcançá-la, todos os mendigos lhe caíram mortos aos pés.

Adiante, encontrou a linda Mandaniki, e ele, o sábio, o virtuoso Tooriri, inclinou-se diante dela e acompanhou-a a casa. Ali, a mulher, enquanto lhe contava a história da própria vida e ele a apertava com ternura ao próprio coração, expirou-lhe nos braços.

Mal deixou a residência de Mandaniki, ficou detido numa encruzilhada por certo número de veículos que obstruíam a passagem, e começou a perder a paciência. Nisto, todos os cocheiros caíram das respectivas boléias e todos os cavalos tiveram os tendões cortados como por invisível foice.

À noite foi ele ao teatro, e pôs-se a discutir com o erudito Sarvilaka acerca de um verso atribuído por este a Nizami, e que Tooriri julgava escrito por Saadi, o poeta das rosas. De súbito, o letrado deixou-se cair na sua poltrona e vomitou uma golfada de sangue negro. A comédia representada naquela noite obteve grande êxito, sendo os atores unanimemente aplaudidos. Porém, poucos minutos antes que Tooriri resolvesse aderir ao reconhecimento do mérito do autor, este rendeu a alma ao Criador de maneira total­mente inesperada.

Tooriri voltou para casa horrorizado daquela mortandade geral. Desesperado, incapaz de compreender a razão de tudo aquilo, matou-se, atravessando o coração com um punhal.

Na mesma noite morreu também o santo eremita Maitreya.

Compareceram os dois ao mesmo tempo perante o sábio Ormuzd. O eremita pensava: “Não me seria nada desagradável assistir ao merecido castigo desse falso santo, cuja virtude foi por tanto tempo admirada pelos persas, mas que, num único dia em que pôde mostrar-se tal qual era na realidade, se cobriu de inúmeros pecados e crimes”.

Porém o sábio Ormuzd falou assim:

— Virtuoso Tooriri, homem realmente generoso e bom, meu leal e fiel servidor, vem, entra na paz eterna.

— Boa bola! — exclamou o eremita.

— Em momento algum de minha vida falei mais sério — replicou Ormuzd. — Tooriri, desejaste o aniquilamento de tua esposa porque não era bondosa e já não tinha beleza; quiseste a morte dos mendigos porque te importunaram, e seu aspecto era hediondo; a de tua amante, porque era uma tola; o fim dos cocheiros e o extermínio dos cavalos, porque te forçaram a esperar quando tinhas pressa; o desaparecimento do letrado Sarvilaka, porque professava opinião diferente da tua; a do autor da comédia, porque obtivera aplausos maiores que os alcançados por ti. Todos esses desejos eram perfeitamente naturais. Os assassínios de que Maitreya te acusa foram, à tua revelia, efeitos do teu primeiro impulso, porquanto ninguém pode conter o seu primeiro impulso e desejo. Um homem odeia inevitavelmente o que o tolhe, e não menos inevitavelmente deseja o aniquilamento daquilo que odeia. A natureza é egoísta, e o nome do egoísmo é destruição. O mais virtuoso dos homens é, antes de tudo, no íntimo da alma, um patife; e se lhe fosse concedido transformar em realidade o seu primeiro desejo, impulsivo e involuntário, dentro em pouco a Terra se transformaria num deserto, sem nenhum ser humano a habitá-la. Foi o que eu pretendi mostrar, Tooriri, com o teu exemplo: o homem é julgado pelo seu segundo desejo, pois que este depende da sua vontade. Não fora o dom misterioso que, a teu pesar, tornou o teu último dia tão mortífero, tua vida teria continuado virtuosa e caridosa. O que devo considerar em ti não é a tua natureza, mas a tua vontade, que sempre tendeu para o bem e procurou sempre corrigir a tua natureza e aperfeiçoar a minha obra imperfeita. Eis por que, meu colaborador querido, eu hoje escancaro diante de ti a porta do meu paraíso.

— Essa é boa! — exclamou Maitreya. — Que fareis, então, por mim? Que recompensa me reservastes?

— A mesma — replicou Ormuzd —, embora só a tenhas merecido imperfeitamente. Foste um santo, mas, se em tudo deixaste de ser humano, humano foste no teu orgulho. Conseguiste a supressão do primeiro impulso; mas, se todos os homens fossem viver como tu, a humanidade desapareceria da face da Terra ainda mais depressa do que se cada homem possuísse o poder maravilhoso que por um dia infligi a este meu fiel servo. Ora, a mim me convém que a humanidade continue, porque isto me diverte e porque o espetáculo que me oferece chega a ser, às vezes, sublime. O teu esforço, mísero asceta, não era de todo desprovido de certa espécie de beleza, e por isso te perdôo o teu erro crasso. Numa palavra: a Tooriri abro as portas do Paraíso e o acolho em meu seio, porque sou justo; a ti, Maitreya, permito que entres, porque sou generoso.

— Mas… — disse Maitreya.

E Ormuzd, erguendo o austero semblante:

— Tenho dito.

Fonte:
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai. Mar de Histórias. vol.5. RJ: Nova Fronteira.

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 16

CAPÍTULO CXXI / A CATÁSTROFE

No melhor deles, ouvi passos precipitados na escada, a campainha soou, soaram palmas, golpes na cancela, vozes, acudiram todos, acudi eu mesmo. Era um escravo da casa de Sancha que me chamava

–Para ir lá… sinhô nadando, sinhô morrendo.

Não disse mais nada, ou eu não lhe ouvi o resto. Vesti-me, deixei recado a Capitu e corri ao Flamengo.

Em caminho, fui adivinhando a verdade. Escobar meteu-se a na dar, como usava fazer, arriscou-se um pouco mais fora que de costume, apesar do mar bravio, foi enrolado e morreu. As canoas que acudiram mal puderam trazer-lhe o cadáver.

CAPÍTULO CXXII / O ENTERRO

A Viúva… Poupo-vos as lágrimas da viúva, as minhas, as da outra gente. Saí de lá cerca de onze horas; Capitu e prima Justina esperavam-me, uma com o parecer abatido e estúpido, outra enfastiada apenas.

–Vão fazer companhia à pobre Sanchinha; eu vou cuidar do enterro.

Assim fizemos. Quis que o enterro fosse pomposo, e a afluência dos amigos foi numerosa. Praia, ruas, Praça da Glória, tudo eram carros, muitos deles particulares. A casa não sendo grande, não podiam lá caber todos, muitos estavam na praia, falando do desastre, apontando o lugar em que Escobar falecera, ouvindo referir a chegada do morto. José Dias ouviu também falar dos negócios do finado, divergindo alguns na avaliação dos bens, mas havendo acordo em que o passivo devia ser pequeno. Elogiavam as qualidades de Escobar, um ou outro discutia o recente gabinete Rio Branco- estávamos em março de 1871. Nunca me esqueceu o mês nem o ano.

Como eu houvesse resolvido falar no cemitério, escrevi algumas linhas e mostrei-as em casa a José Dias, que as achou realmente dignas do morto e de mim. Pediu-me o papel, recitou lentamente o discurso, pesando as palavras, e confirmou a primeira opinião; no Flamengo espalhou a notícia. Alguns conhecidos vieram interrogar-me:

–Então, vamos ouvi-lo?

–Quatro palavras.

Poucas mais seriam. Tinha-as escrito com receio de que a emoção me impedisse de improvisar. No tílburi em que andei uma ou duas horas, não fizera mais que recordar o tempo do seminário, as relações de Escobar, as nossas simpatias, a nossa amizade, começada, continuada e nunca interrompida, até que um lance da fortuna fez separar para sempre duas criaturas que prometiam ficar por muito tempo unidas. De quando em quando enxugava os olhos. O cocheiro aventurou duas ou três perguntas sobre a minha situação moral; não me arrancando nada, continuou o seu ofício. Chegando a casa, deitei aquelas emoções ao papel; tal seria o discurso.

CAPÍTULO CXXIII / OLHOS DE RESSACA

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

CAPÍTULO CXXIV / O DISCURSO

–Vamos, são horas…

Era José Dias que me convidava a fechar o ataúde. Fechamo-lo, e eu peguei numa das argolas; rompeu o alarido final. Palavra que, quando cheguei à porta, vi o sol claro, tudo gente e carros, as cabeças descobertas, tive um daqueles meus impulsos que nunca chegavam à execução: foi atirar à rua caixão, defunto e tudo. No carro disse a José Dias que se calasse. No cemitério tive de repetir a cerimônia da casa, desatar as correias, e ajudar a levar o féretro à cova. O que isto me custou imagina. Descido o cadáver à cova, trouxeram a cal e a pá; sabes disto, terás ido a mais de um enterro, mas o que não sabes nem pode saber nenhum dos teus amigos, leitor, ou qualquer outro estranho, é a crise que me tomou quando vi todos os olhos em mim, os pés quietos, as orelhas atentas, e, ao cabo de alguns instantes de total silêncio, um sussurro vago, algumas vozes interrogativas, sinais, e alguém, José Dias, que me dizia ao ouvido:

–Então, fale.

Era o discurso. Queriam o discurso. Tinham jus ao discurso anunciado. Maquinalmente, meti a mão no bolso, saquei o papel e li-o aos trambolhões, não todo, nem seguido, nem claro; a voz parecia-me entrar cm vez de sair, as mãos tremiam-me. Não era só a emoção nova que me fazia assim, era o próprio texto, as memórias do amigo, as saudades confessadas, os louvores à pessoa e aos seus méritos; tudo isto que eu era obrigado a dizer e dizia mal. Ao mesmo tempo, temendo que me adivinhassem a verdade, forcejava por escondê-la bem. Creio que poucos me ouviram, mas o gesto geral foi de compreensão c de aprovação. As mãos que me deram a apertar eram de solidariedade; alguns diziam: “Muito bonito! muito bem! magnífico!” José Dias achou que a eloqüência estivera na altura da piedade. Um homem, que me pareceu jornalista, pediu-me licença para levar o manuscrito e imprimi-lo. Só a minha grande turvação recusaria um obséquio tão simples.

CAPÍTULO CXXV / UMA COMPARAÇÃO

Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso, e até mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha; eu acabava de louvar as virtudes do homem que recebera, defunto, aqueles olhos… É impossível que algum Homero não tirasse da minha situação muito melhor efeito, ou quando menos igual. Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; não, senhor, faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o silêncio. As lágrimas, se as têm, são enxugadas atrás da porta, para que as caras apareçam limpas e serenas, os discursos são antes de alegria que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor.

CAPÍTULO CXXVI / CISMANDO

Pouco depois de sair do cemitério, rasguei o discurso e deitei os pedaços pela portinhola fora, sem embargo dos esforços de José Dias para impedi-lo.

–Não presta para nada, disse-lhe eu, e como posso ter a tentação de dá-lo a imprimir, fica já destruído de uma vez. Não presta, não vale nada.

José Dias demonstrou longamente o contrário, depois elogiou o enterro, e por último fez o panegírico do morto, uma grande alma, espírito ativo, coração reto, amigo, bom amigo, digno da esposa amantíssima que Deus lhe dera…

Neste ponto do discurso, deixei-o falar sozinho e peguei a cismar comigo. O que cismei foi tão escuro e confuso que não me deixou tomar pé. No Catete mandei parar o carro, disse a José Dias que fosse buscar as senhoras ao Flamengo e as levasse para casa; eu iria a pé.

— Mas…

–Vou fazer uma visita.

A razão disto era acabar de cismar, e escolher uma resolução que fosse adequada ao momento. O carro andaria mais depressa que as pernas- estas iriam pausadas ou não, podia afrouxar o passo. parar, arrepiar caminho, e deixar que a cabeça cismasse à vontade. Fui andando e cismando. Tinha já comparado o gesto de Sancha na véspera e o desespero daquele dia; eram inconciliáveis. A viúva era realmente amantíssima. Assim se desvaneceu de todo a ilusão da minha vaidade. Não seria o mesmo caso de Capitu. Cuidei de recompor-lhe os olhos, a posição em que a vi, o ajuntamento de pessoas que devia natural mente impor-lhe a dissimulação, se houvesse algo que dissimular. O que aqui vai por ordem lógica e dedutiva, tinha sido antes uma barafunda de idéias e sensações, graças aos solavancos do carro e às interrupções de José Dias. Agora, porém, raciocinava e evocava claro e bem. Concluí de mim para mim que era a antiga paixão que me ofuscava ainda e me fazia desvairar como sempre.

Quando cheguei a esta conclusão final, chegava também à porta de casa, mas voltei para trás, e subi outra vez a Rua do Catete. Eram as dúvidas que me afligiam ou a necessidade de afligir Capitu com a minha grande demora? Ponhamos que eram as duas causas; andei largo espaço, até que me senti sossegar, e endireitei para casa. Batiam oito horas numa padaria.

CAPÍTULO CXXVII / O BARBEIRO

Perto de casa, havia um barbeiro, que me conhecia de vista, amava a rebeca e não tocava inteiramente mal. Na ocasião em que ia passando, executava não sei que peça. Parei na calçada a ouvi-lo (tudo são pretextos a um coração agoniado), ele viu-me, e continuou a tocar. Não atendeu a um freguês, e logo a outro, que ali foram, a despeito da hora e de ser domingo, confiar-lhe as caras à navalha. Perdeu-os sem perder uma nota- ia tocando para mim. Esta consideração fez-me chegar francamente à porta da loja, voltado para ele. Ao fundo, levantando a cortina de chita que fechava o interior da casa, vi apontar uma moça trigueira, vestido claro, flor no cabelo. Era a mulher dele, creio que me descobriu de dentro, e veio agradecer-me com a presença o favor que eu fazia ao marido. Se me não engano, chegou a dizê-lo com os olhos. Quanto ao marido, tocava agora com mais calor; sem ver a mulher, sem ver fregueses, grudava a face ao instrumento, passava a alma ao arco, e tocava, tocava…

Divina arte! Ia-se formando um grupo, deixei a porta da loja e vim andando para casa; enfiei pelo corredor e subi as escadas sem estrépito. Nunca me esqueceu o caso deste barbeiro, ou por estar ligado a um momento grave da minha vida, ou por esta máxima, que os compiladores podem tirar daqui e inserir nos compêndios de escola. A máxima é que a gente esquece devagar as boas ações que pratica, e verdadeiramente não as esquece nunca. Pobre barbeiro! perdeu duas barbas naquela noite, que eram o pão do dia seguinte, tudo para ser ouvido de um traunseunte. Supõe agora que este, em vez de ir-se embora, como eu fui, ficava à porta a ouvi-lo e a enamorar-lhe a mulher, então é que ele, todo arco, todo rebeca, tocaria desesperadamente. Divina arte!

CAPÍTULO CXXVIII / PUNHADO DE SUCESSOS

Como ia dizendo, subi as escadas sem estrépito, empurrei a cancela, que estava apenas encostada, e dei com prima Justina e José Dias jogando cartas na saleta próxima. Capitu levantou-se do canapé e veio a mim. O rosto dela era agora sereno e puro. Os outros suspenderam o jogo, e todos falamos do desastre e da viúva. Capitu censurou a imprudência de Escobar, e não dissimulou a tristeza que lhe trazia a dor da amiga. Perguntei-lhe por que não ficara com Sancha aquela noite.

–Tem lá muita gente; ainda assim ofereci-me, mas não quis. Também lhe disse que era melhor vir para cá, e passar aqui uns dias conosco.

–Também não quis?

–Também não.

–Entretanto, a vista do mar há de ser-lhe penosa, todas as manhãs, ponderou José Dias, e não sei como poderá…

— Mas passa; o que é que não passa? atalhou prima Justina.

E como em torno desta idéia começássemos uma troca de palavras, Capitu saiu para ir ver se o filho dormia. Ao passar pelo espelho, concertou os cabelos tão demoradamente que pareceria afetação, se não soubéssemos que ela era muito amiga de si. Quando tornou, trazia os olhos vermelhos; disse-nos que, ao mirar o filho dormindo, pensara na filhinha de Sancha, e na aflição da viúva. E, sem se lhe dar das visitas, nem reparar se havia algum criado, abraçou-me e disse-me que, se quisesse pensar nela, era preciso pensar primeiro na minha vida. José Dias achou a frase “lindíssima”, e perguntou a Capitu por que é que não fazia versos. Tentei meter o caso à bulha, e assim acabamos a noite.

No dia seguinte, arrependi-me de haver rasgado o discurso, não que quisesse dá-lo a imprimir, mas era lembrança do finado. Pensei em recompô-lo, mas só achei frases soltas, que uma vez juntas não tinham sentido. Também pensei em fazer outro, mas era já difícil, e podia ser apanhado em falso pelos que me tinham ouvido no cemitério. Quanto a recolher os pedacinhos de papel deitados à rua, era tarde; estariam já varridos.

Inventariei as lembranças de Escobar, livros, um tinteiro de bronze, uma bengala de marfim, um pássaro, o álbum de Capitu, duas paisagens do Paraná e outras. Também ele as possuía de minha mão. Vivemos assim a trocar memórias e regalos, ora em dia de anos, ora sem razão particular. Tudo isso me empanava os olhos… Vieram os jornais do dia: davam notícia do desastre e da morte de Escobar, os estudos e os negócios deste, as qualidades pessoais, a simpatia do comércio, e também falavam dos bens deixados, da mulher e da filha. Tudo isso foi na segunda-feira. Na terça-feira foi aberto o testamento, que me nomeava segundo testamenteiro; o primeiro lugar cabia a mulher. Não me deixava nada, mas as palavras que me escrevera em carta separada eram sublimes de amizade e estima. Capitu desta vez chorou muito; mas compôs-se depressa.

Testamento, inventário, tudo andou quase tão depressa como aqui vai dito. Ao cabo de pouco tempo, Sancha retirou-se para a casa dos parentes no Paraná.

CAPÍTULO CXXIX / A D. SANCHA

D. Sancha, peço-lhe que não leia este livro; ou, se o houver lido até aqui, abandone o resto. Basta fechá-lo; melhor será queimá-lo, para lhe não dar tentação e abri-lo outra vez. Se, apesar do aviso, quiser ir até o fim, a culpa é sua; não respondo pelo mal que receber. O que já lhe tiver feito, contando os gestos daquele sábado, esse acabou, uma vez que os acontecimentos, e eu com eles, desmentimos a minha ilusão; mas o que agora a alcançar, esse é indelével. Não, amiga minha, não leia mais. Vá envelhecendo, sem marido nem filha, que eu faço a mesma cousa, e é ainda o melhor que se pode fazer depois da mocidade. Um dia. iremos daqui até à porta do céu, onde nos encontraremos renovados, como as plantas novas, come piante novelle,

Rinovellate di novelle fronde.

O resto em Dante.

CAPÍTULO CXXX / UM DIA…

Por enquanto, um dia Capitu quis saber o que é que me fazia andar calado e aborrecido. E propôs-me a Europa, Minas, Petrópolis, uma série de bailes, mil desses remédios aconselhados aos melancólicos. Eu não sabia que lhe respondesse; recusei as diversões. Como insistisses repliquei-lhe que os meus negócios andavam mal. Capitu sorriu para animar-me. E que tinha que andassem mal? Tornariam a andar bem, e até lá as jóias, os objetos de algum valor seriam vendidos, e iríamos residir em algum beco. Viveríamos sossegados e esquecidos; depois tornaríamos à tona da água. A ternura com que me disse isto era de comover as pedras. Pois nem assim. Respondi-lhe secamente que não era preciso vender nada. Deixei-me estar calado e aborrecido. Ela propôs-me jogar cartas ou damas, um passeio a pé, uma visita a Mata-cavalos; e, como eu não aceitasse nada, foi para a sala, abriu o piano, e começou a tocar; eu aproveitei a ausência, peguei do chapéu e saí.

…Perdão, mas este capítulo devia ser precedido de outro, em que contasse um incidente, ocorrido poucas semanas antes, dous meses depois da partida de Sancha. Vou escrevê-lo; podia antepô-lo a este antes de mandar o livro ao prelo, mas custa muito alterar o número das páginas; vai assim mesmo, depois a narração seguirá direita até o fim. Demais, é curto.

CAPÍTULO CXXXI / ANTERIOR AO ANTERIOR

Foi o caso que a minha vida era outra vez doce e plácida, a banca do advogado rendia-me bastante, Capitu estava mais bela, Ezequiel ia crescendo. Começava o ano de 1872.

–Você já reparou que Ezequiel tem nos olhos uma expressão esquisita? perguntou-me Capitu. Só vi duas pessoas assim, um amigo de papai e o defunto Escobar. Olha, Ezequiel; olha firme, assim, vira para o lado de papai, não precisa revirar os olhos, assim, assim…

Era depois de jantar, estávamos ainda à mesa, Capitu brincava com o filho, ou ele com ela, ou um com outro, porque, em verdade, queriam-se muito, mas é também certo que ele me queria ainda mais a mim. Aproximei-me de Ezequiel, achei que Capitu tinha razão; eram os olhos de Escobar, mas não me pareceram esquisitos por isso. Afinal não haveria mais que meia dúzia de expressões no mundo, e muitas semelhanças se dariam naturalmente. Ezequiel não entendeu nada, olhou espantado para ela e para mim, e afinal saltou-me ao colo:

–Vamos passear, papai?

–Logo, meu filho.

Capitu, alheia a ambos, fitava agora a outra borda da mesa; mas, dizendo-lhe eu que, na beleza, os olhos de Ezequiel saíam aos da mãe, Capitu sorriu abanando a cabeça com um ar que nunca achei em mulher alguma, provavelmente porque não gostei tanto das outras. As pessoas valem o que vale a afeição da gente, e é daí que mestre Povo tirou aquele adágio que quem o feio ama bonito lhe parece. Capitu tinha meia dúzia de gestos únicos na terra. Aquele entrou-me pela alma dentro. Assim fica explicado que eu corresse à minha esposa e amiga e lhe enchesse a cara de beijos; mas este outro incidente não é radicalmente necessário à compreensão do capítulo passado e dos futuros; fiquemos nos olhos de Ezequiel.

CAPÍTULO CXXXII / O DEBUXO E O COLORIDO

Nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a pessoa inteira, iam-se apurando com o tempo. Eram como um debuxo primitivo que o artista vai enchendo e colorindo aos poucos, e a figura entra a ver, sorrir, palpitar, falar quase, até que a família pêndula o quadro na parede, em memória do que foi e já não pode ser. Aqui podia ser e era. O costume valeu muito contra o efeito da mudança; mas a mudança fez-se, não à maneira de teatro, fez-se como a manhã que aponta vagarosa, primeiro que se possa ler uma carta, depois lê-se a carta na rua, em casa, no gabinete, sem abrir as janelas; a luz coada pelas persianas basta a distinguir as letras. Li a carta, mal a princípio e não toda, depois fui lendo melhor. Fugia-lhe, é certo, metia o papel no bolso, corria a casa, fechava-me, não abria as vidraças, chegava a fechar os olhos. Quando novamente abria os olhos e a carta, a letra era clara e a notícia claríssima.

Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do seminário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, ou pedir-me à noite a bênção do costume. Todas essas ações eram repulsivas; eu tolerava-as e praticava as, para me não descobrir a mim mesmo e ao mundo. Mas o que pudesse dissimular ao mundo, não podia fazê-lo a mim, que vivia mais perto de mim que ninguém. Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém, tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava, ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.

O que se passava entre mim e Capitu naqueles dias sombrios, não se notará aqui, por ser tão miúdo e repetido, e já tão tarde que não se poderá dizê-lo sem falha nem canseira. Mas o principal irá. E o principal é que os nossos temporais eram agora contínuos e terríveis.

Antes de descoberta aquela má terra da verdade, tivemos outros de pouca dura; não tardava que o céu se fizesse azul, o sol claro e o mar chão, por onde abríamos novamente as velas que nos levavam às ilhas e costas mais belas do universo, até que outro pé de vento desbaratava tudo, e nós, postos à capa, esperávamos outra bonança, que não era tardia nem dúbia, antes total, próxima e firme.

Releva-me estas metáforas; cheiram ao mar e à maré que deram morte ao meu amigo e comborço Escobar. Cheiram também aos olhos de ressaca de Capitu. Assim, posto sempre fosse homem de terra, conto aquela parte da minha vida, como um marujo contaria o seu naufrágio.

Já entre nós só faltava dizer a palavra última; nós a líamos, porém, nos olhos um do outro, vibrante e decisiva, e sempre que Ezequiel vinha para nós não fazia mais que separar-nos. Capitu propôs metê-lo em um colégio, donde só viesse aos sábados; custou muito ao menino aceitar esta situação.

–Quero ir com papai! Papai há de ir comigo! bradava ele.

Fui eu mesmo que o levei um dia de manhã, uma segunda-feira. Era no antigo Largo da Lapa, perto da nossa casa. Levei-o a pé, pela mão, como levara o ataúde do outro. O pequeno ia chorando e fazendo perguntas a cada passo, se voltaria para casa, e quando, e se eu iria vê-lo…

–Vou.

–Papai não vai!

–Vou sim.

–Jura, papai!

–Pois sim.

–Papai não diz que jura.

–Pois juro.

E lá o levei e deixei. A ausência temporária não atalhou o mal, e toda a arte fina de Capitu para fazê-lo atenuar, ao menos, foi como se não fosse; eu sentia-me cada vez pior. A mesma situação nova agravou a minha paixão. Ezequiel vivia agora mais fora da minha vista; mas a volta dele, ao fim das semanas, ou pelo descostume em que eu ficava, ou porque o tempo fosse andando e completando a semelhança, era a volta de Escobar mais vivo e ruidoso. Até a voz, dentro de pouco, já me parecia a mesma. Aos sábados, buscava não andar em casa e só entrar quando ele estivesse dormindo; mas não escapava ao domingo, no gabinete, quando eu me achava entre jornais e autos. Ezequiel entrava turbulento, expansivo, cheio de riso e de amor, porque o demo do pequeno cada vez morria mais por mim. Eu, a falar verdade, sentia agora uma aversão que mal podia disfarçar, tanto a ela como aos outros. Não podendo encobrir inteiramente esta disposição moral, cuidava de me não fazer encontradiço com ele, ou só o menos que pudesse; ora tinha trabalho que me obrigava a fechar o gabinete, ora saía ao domingo para ir passear pela cidade e arrabaldes o meu mal secreto.

CAPÍTULO CXXXIII / UMA IDÉIA

Um dia–era uma sexta-feira,–não pude mais. Certa idéia, que negrejava em mim, abriu as asas e entrou a batê-las de um lado para outro, como fazem as idéias que querem sair. O ser sexta-feira creio que foi acaso, mas também pode ter sido propósito; fui educado no terror daquele dia. ouvi cantar baladas, em casa, vindas da roça e da antiga metrópole, nas quais a sexta-feira era o dia de agouro. Entretanto, não havendo almanaques no cérebro, é provável que a idéia não batesse as asas senão pela necessidade que sentia de vir ao ar e à vida. A vida é tão bela que a mesma idéia da morte precisa de vir primeiro a ela, antes de se ver cumprida. Já me vais entendendo; lê agora outro capítulo.

CAPÍTULO CXXXIV / O DIA DE SÁBADO

A idéia saiu finalmente do cérebro. Era noite, e não pude dormir, por mais que a sacudisse de mim. Também nenhuma noite me passou tão curta. Amanheceu, quando cuidava não ser mais que uma ou duas horas.

Saí, supondo deixar a idéia em casa; ela veio comigo. Cá fora tinha a mesma cor escura, as mesmas asas trépidas, e posto avoasse com elas, era como se fosse fixa; eu a levava na retina, não que me encobrisse as cousas externas, mas via-as através dela, com a cor mais pálida que de costume, e sem se demorarem nada.

Não me lembra bem o resto do dia. Sei que escrevi algumas cartas, comprei uma substancia, que não digo, para não espertar o desejo de prová-la. A farmácia faliu, é verdade; o dono fez-se banqueiro, e o banco prospera. Quando me achei com a morte no bolso senti tamanha alegria como se acabasse de tirar a sorte grande, ou ainda maior, porque o prêmio da loteria gasta-se, e a morte não se gasta. Fui a casa de minha mãe, com o fim de despedir-me, a título de visita. Ou de verdade ou por ilusão, tudo ali me pareceu melhor nesse dia. minha mãe menos triste, tio Cosme esquecido do coração, prima Justina da língua. Passei uma hora em paz. Cheguei a abrir mão do projeto. Que era preciso para viver? Nunca mais deixar aquela casa ou prender aquela hora a mim mesmo…
––––––––––––-
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

José Feldman (Universo de Versos n. 15)


Trova do Paraná

LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE – Pinhalão
Todo filho vem dos pais,
vem o mel da flor silvestre;
não há dor sem dor nos ais
nem discípulo sem mestre.

Trova Lírica/Filosófica

SANTIAGO VASQUES FILHO – Fortaleza/CE
Ante meus olhos tristonhos,
chorando minhas idades,
abro a cortina dos sonhos
num festival de saudades!

Trova Humorística

JOSÉ MACHADO BORGES – Belo Horizonte/MG
Do peixe, como eu dizia,
sem pretensão de iludi-los,
somente a fotografia
pesava mais de oito quilos!

Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Como a Gralha Azul que voa
Cultivando o Paraná.
A trova, a terra povoa,
Espalhando o seu maná.

Trova Hispânica

ELENA GUEDE ALONSO – Puerto Rico
¡Cuando en mis pies te dibujo,
merengue dominicano,
te conviertes en embrujo
de mi sentir antillano!

Trova de Portugal

MARIA ALIETE CAVACO PENHA – Faro
Esta vida é um jardim
onde ninguém é capaz,
depois de chegar ao fim
poder voltar para trás…

Trovadores que deixaram Saudades

VERA VARGAS – Curitiba/PR
1922 – 2000

Até nas faces molhadas
da chuva, a injustiça trama:
do rico lava as calçadas,
ao pobre dá frio e lama…

Haicai

CARLOS SEABRA – São Paulo/SP
ave calada —
ninho em silêncio
na madrugada

Poesia
 

PAULO LEMINSKI – Curitiba/PR
Pareça e Desapareça

Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
Até parecia mentira,
tudo parecia alguma coisa.
O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
A dor, sobretudo,
parecia prazer.
Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
Mas vice versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem.

Setilha Sobre o Mar

NEZITE ALENCAR – Campos Sales/CE

São verdes mares bravios
os mares que eu vou cantar,
são mares da minha terra,
que é a mesma de Alencar,
onde banhou-se Iracema,
que é a virgem do poema,
encanto do meu lugar.

Trova Ecológica
 

Moirão Voltado
 

Gênero relativamente novo, com estrofe de treze versos de sete sílabas, em que os preliantes vão se alternando até a oitava linha, para, em seguida, unirem suas vozes, como em coro, neste estribilho:

     Isso é que é Mourão voltado,
     Isso é que é voltar Mourão!

Em seguida, repetem a oitava linha com o estribilho acima. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Para melhor compreensão, imaginemos os cantadores A e B:

     A. Tudo, neste mundo, volta.
     B. Com você, combino eu!
     A. Volta o rico e o plebeu;
     B. Volta quem prende e quem solta …
     A. Volta a paz e a revolta;
     B. Volta o sim e volta o não!
     A. Volta até Napoleão
     B. Que há tempo está sepultado…
     A/B Isso é que é Mourão voltado,
     Isso  é que é voltar Mourão!
     Que há tempo está sepultado…
     Isso é que é Mourão voltado,
     Isso é que é voltar Mourão!

Soneto

RUBENIO MARCELO – Campo Grande/MS
A Cruz de Um Adeus

 
Já é madrugada. Eu estou pela rua…
Na trilha dourada dos olhos da lua.
No meu desvario, na minha tristeza,
Ainda aprecio os dons da Natureza.

E assim, sem destino, tal qual vaga-lume,
Aos entes sagrados faço meus queixumes.
Ao longe, o clarão dos astros em prumo…
E o meu coração errante, sem rumo.

A brisa vadia soprando com jeito…
E uma agonia tomando meu peito.
Estrelas cadentes brincando no céu…

E eu, decadente, pervagando ao léu.
Cometas pulsando pertinho de Deus…
E eu carregando a tal cruz de um adeus!

Poesia de Longe

SEBASTIÃO ALBA – Braga/Portugal
1940 – 2000
Ninguém, Meu Amor

Ninguém, meu amor
 ninguém como nós conhece o sol
 Podem utilizá-lo nos espelhos
 apagar com ele
 os barcos de papel dos nossos lagos
 podem obrigá-lo a parar
 à entrada das casas mais baixas
 podem ainda fazer
 com que a noite gravite
 hoje do mesmo lado
 Mas ninguém meu amor
 ninguém como nós conhece o sol
 Até que o sol degole
 o horizonte em que um a um
 nos deitam
 vendando-nos os olhos.

Galope a Beira-Mar

José Limeira (Poeta do Absurdo) – Teixeira/PB
1886 – 1954

Alcunhado de poeta do absurdo pelas suas construções poéticas verborrágicas e pelos neologismos mais esdrúxulos como pilogamia, filanlumia e filosomia, este paraibano de Teixeira cultivou um surrealismo assertanejado e altamente psicodélico. (http://culturanordestina.blogspot.com.br)

Conheço, demais, o rio Paraíba,
     Que nasce sozinho, lá dentro da praia!
     Parece um cambito de pau de “cangaia”,
     As suas enchentes têm mel de tubiba;
     Na frente, recebe o rio Furiba,
     E passa correndo pra Madagascar;
     Alaga Recife, demora em Dacar,
     No tempo de inverno é seco demais:
     Foi quando “Oliveiro” enfrentou Ferrabrás,
     Que luta pai-d’égua na beira do mar!

Trova Popular

A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.

Poesia em Música

CASTRO ALVES – BA (letra) e SALVADOR FÁBREGAS – RJ (música)
O Gondoleiro do Amor (valsa-canção, 1866)

A paixão concreta e ardente pela atriz portuguesa Eugênia Câmara influenciou o poeta Castro Alves em sua visão poética do amor. Essa visão pode ser classificada não só como sentimental, mas também como sensual, entendida como uma poesia que apela aos sentidos (sensorial). É desse período o poema O Gondoleiro do Amor, em que a descrição da amada é carregada de uma sensualidade sem precedentes no Romantismo brasileiro.

Inspirado por Eugênia, Castro Alves escreveu seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero e saudade, como É Tarde. Pela primeira vez, a poesia é motivada pela paixão e pelo envolvimento amoroso, e a dor não se traduz em lamentos e queixas. Seu sentimentalismo amoroso é maduro, adulto e se realiza em sua plenitude carnal e emocional. (Site Cifrantiga)

Teus olhos são negros, negros, como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos, como o negrume do mar…
Sobre o barco dos amores, da vida boiando à flor,
doiram teus olhos a fronte do Gondoleiro do amor…

Tua voz é a cavatina dos palácios do Sorrento.
Quando a praia beija a vaga, quando a vaga beija o vento.
E como em noites de Itália, ama um canto o pescador
Bebe a harmonia em teus cantos o Gondoleiro do Amor.

Teu amor na treva é um astro, no silêncio, uma canção
É brisa nas calmarias, é abrigo no tufão
Por isso eu te amo, querida, quer no prazer, quer na dor.
Rosa! Canto! Sombra! Estrela! Do Gondoleiro do Amor.

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Charles M. Phelan (Dizendo Adeus)

Como dizer adeus para alguém que você tanto ama? Controlar a tensão das palavras que prenunciam o fim, maquiando o inevitável, é doloroso. Saber que de tudo que será dito, apenas a última palavra permanecerá. Ficará suspensa no ar, como a fragrância de um perfume, até que o tempo faça esquecer tudo. A expressão no rosto tenta esconder a tristeza, mas são os olhos que denunciam o que a alma sente. E foi assim o adeus.

“Papai, você ‘tá me abandonando?” Disse a garota, com a sinceridade de seus seis anos de idade.

“Não, meu amor. Eu nunca vou lhe abandonar. É que a mamãe e o papai precisam se separar”. As pernas do pai tremiam discretamente por baixo da cadeira. “Eu vou viajar, mas volto em breve. Muito breve, meu amor. Mas não vou lhe abandonar. Isso, não!”

“Você não me ama mais?”

Lágrimas.

“Amo muito, meu amor. ‘Tô me separando da mamãe, meu coração. Não de você. Nunca de você!”

Ela sorriu. Brincou com os dedos. Abraçou-o com vigor, encaixando-se confortavelmente dentro de seu peito de pai. Ele a abraçou de volta. Não sabia quando iria vê-la novamente. Sentiu seu cheiro de bebê. Segurou-a nos braços mais tempo do que o normal. Sem fazer qualquer som, chorou controlado. Calado. Triste. Solitário. Fracassado.

“Você ‘tá chorando, papai? Chore não, eu ‘tô aqui”.

O pai tremeu emocionado. Ali estava sua pérola, na maturidade dos seus seis aninhos, a confortá-lo. Pior, ela não tinha idéia do que estava acontecendo. Nem o que significava separação de pais. Ela ficaria com sua mãe. Ele iria embora. E, a partir daquele momento, perderia a possibilidade de vê-la crescer. A viu nascer. Esteve lá na hora do parto. Cortou o cordão umbilical. Ouviu dele, suas primeiras palavras de amor. Recebeu dele, seu primeiro beijo. Agora, com a separação, não iria vê-la com aquele rostinho de sono perambulando pela casa todas as manhãs. Nem tampouco preparar seu lanche, ou levá-la à escola.

Lágrimas.

“Estou soluçando…” Disfarçou o melhor que pode. “Você precisa ir meu amor. Sua mãe chegou”.

Segurou-a forte pela mão, e a conduziu até a porta do carro da mãe. Agachou até poder olhar nos seus lindos olhos castanhos, viu seu reflexo pela última vez. “Tchau amor, papai te ama”, disse, contendo o tremer do queixo. Ela entrou no carro sorrindo, inocente, fechou a porta, soprou um beijo e o carro deu partida. Olhou para o pai mais uma vez, e acenou pela janela semi-aberta. O pai observou o carro se perder na distância. Acenou, dizendo adeus.
–––––––––––––-
Charles M. Phelan nasceu nos Estados Unidos,. Atualmente reside em Natal/RN, onde estuda direito e é professor de ingles.

Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" – n. 161 – maio de 2013)

Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio…
De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.
Alonso Rocha

Na distância, ao teu aceno,
quanta tristeza me invade…
O trem ficando pequeno
e, em mim, crescendo a saudade!…
Hermoclydes Franco
 
Minhas mãos cheias de amor
plantam amor pelas ruas…
E mais não plantam, Senhor,
porque só me deste duas!…
José Maria M. de Araújo

Tu me chamaste de louco,
mágoa nenhuma eu senti:
– de fato o juízo é pouco
de quem tem paixão por ti.
Luiz Simões Jesus

Seria a vida enfadonha
sem as dúvidas que tive.
Quem tem certeza não sonha,
e quem não sonha não vive…
Orlando Brito

Ao mesmo tempo em que mata,
mata e faz viver também…
Saudade é dor que maltrata,
maltrata fazendo o bem!
Pedro Emílio de Almeida e Silva
===============================
Se Deus atendesse um dia / minha prece ingênua e doce, /
quem fosse mãe não morria, / por mais velhinha que fosse.
Archimimo Lapagesse

===================== 


Promoveu grande arruaça
o marido da vizinha
ao vê-la abraçada a um “praça”
lá no banco da pracinha.
Alberto Paco – PR

Despido, ao lado da cama,
me peguei a me indagar
– Tendo nas mãos o pijama,
devo vestir ou guardar?
Amilton Maciel – SP

Deu a tantos seu carinho,
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!
Carolina Ramos – SP

O reumatismo atacava
meu avô em tal escala,
que o velho já se queixava
de dor até na bengala…
José Lucas – RN

O barulho era infernal:
trocavam-se tantos berros,
que a discussão, em Natal,
era ouvida em… Pau dos Ferros!
Mil vezes eu curtiria
José Ouverney – SP

Mil vezes eu curtiria
o samba de uma só nota…
O duro é ouvir, todo dia,
de um chato a mesma anedota!
Osvaldo Reis – PR

Garanto não ser desprezo
eu não voltar pra você…
Ocorreu que fiquei preso
na enchente do Tietê…
Pedro Melo – SP

Diz ao dançar, enfadonha:
– Você sua!!! … O Zebedeu,
bem caipira e com vergonha,
diz baixinho : – Vô sê seu!!!
Therezinha Brisolla – SP
 
O livro mudou o enredo
         da história da humanidade:
        – Antes dele, a treva e o medo, 
depois dele a liberdade.
A. A. de Assis – PR


Não irá jamais embora
quem deixou tanta amizade…
A despedida de agora
é presença na saudade …
Almir Pinto de Azevedo – RJ
 

Quero, por tudo e por nada,
esquecer-te a qualquer preço,
mas a distância danada
já sabe o meu endereço!
Antonio Colavite Filho – SP
 

Em noites frias, sem lua,
quando meus versos componho,
eu cubro a verdade nua
com meu casaco de sonho.
Antonio Juracy Siqueira – PA
 

Vou sem rumo, de partida,
nas águas do meu sonhar;
– a jangada é minha vida,
vou remando além do mar.
Ari Santos de Campos – SC

O amor, para muita gente,
é diversão perigosa.
Quem não sabe ser prudente
transforma em espinho a rosa.
Arlene Lima – PR

Eu sou vizinha do mar,
não temo aquela amplidão;
sem poder me devastar,
me ondeia, com restrição.
Cida Vilhena – PB

Hoje a vitória te alcança…
Cuidado ao virar a mesa;
a vida é eterna cobrança
num mercado de surpresa.
Conceição Abritta – MG
 
Quanto mais a idade avança
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver…
Cônego Telles – PR

Esquece do amor o canto,
não vivas nesta ilusão;
com isso afastas o pranto,
libertas teu coração!
Cyroba Ritzman – PR

Meu amor, não me abandone
que as lembranças me devassam
e eu passo as horas insone
nessas horas que não passam…
Dáguima Verônica – MG
 
Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
Diamantino Ferreira – RJ
 

Estou sentindo deveras
minha alma enternecida,
ao ver as falsas quimeras
consumindo minha vida.
Djalma da Motta – RN

Sua luz, como um farol,
me guiou na tempestade:
fez surgir um lindo sol,
que selou nossa amizade.
Eliana Jimenez – SC

Carícias íntimas, belas,
minha maior emoção
foram chutes nas costelas:
meus bebês em gestação!
Eliana Palma – PR

Que bom se a gente pudesse
fazer tudo que não fez…
e a vida a chance nos desse
de ser criança outra vez!…
Ercy Marques de Faria – SP
 
Quando na praia te aqueces,
com o sol a te queimar,
percebo que o enfraqueces
de tanto ele te admirar…
Euclymar Porto – RJ

Ó cigarra destemida
o seu disfarce me encanta,
por não ter nada na vida
e ser feliz quando canta!
Francisco Garcia – RN

O mar açoita a jangada,
que amena, em seu velejar,
sem se fazer de rogada
aceita o açoite do mar.
Francisco Pessoa – CE

Os seus lábios se juntaram
aos meus lábios, certo dia:
dois corações entoaram
um hino para a alegria.
Gasparini Filho – SP

Deus é feliz lá no Céu,
tem a Mãe junto de si!…
Por que levaste, Deus meu,
a minha também pra ti!?…
Gisela Sinfrónio – Portugal
 
O meu viver enfadonho,
só de amarguras composto,
põe as rugas do meu sonho
sobre as rugas do meu rosto!
Gislaine Canales – SC
 

Espalharemos amor
para todos os irmãos,
com a ternura e o calor
que Deus pôs em nossas mãos!
Gledis Tissot – SC

Qual um pastor diligente
cuidando do seu rebanho,
pastoreio no presente
minhas saudades de antanho!
Gutemberg de Andrade – CE
 
Quando uma lágrima cresce
e cai dos olhos de um pai,
pesa tanto que parece
ser a própria dor que cai!
Héron Patrício – SP

Tão suave é o teu carinho:
há nele a calma de um lago…
– Tem a ternura de um ninho
e a paz de um materno afago!
Hulda Ramos Gabriel – PR

Nesta terra que volteia
sob ditames divinos,
somos meros grãos de areia,
transitórios inquilinos.
Humberto Del Maestro – ES

Longe de pranto e de dores,
o nosso amor sem cobranças
tem um perfume de flores
como o de duas crianças.
Janske Schlenker – PR

Sobrepujando os conflitos
em que o mundo se compraz,
seus braços, ninhos benditos,
são meu refúgio de paz.
Jeanette De Cnop – PR
 
Teu olhar, quanta ternura!
Tuas mãos, quanto carinho!
Teu amor, oh, que ventura
pôs a vida em meu caminho.
Jessé Nascimento – SC

Quero um relógio, querida,
cujo mágico processo
atrase a tua partida
e abrevie o teu regresso.
João Costa – RJ
 
Quando a gente se endivida
com o empréstimo da idade,
quantos, no Banco da Vida,
são os juros da saudade!
José Fabiano – MG
 

Para viver todos dias
neste planeta de agruras,
visto muitas fantasias,
mergulhando nas leituras.
José Feldman – PR

Seguimos assim andando,
ela que sempre me encanta;
eu que vou acreditando
que o casal colhe o que planta.
José Marins – PR

Teu olhar tem tanta graça
e tanta meiguice inspira,
que, quando o meu ser te abraça,
mesmo o silêncio, suspira!!!
José Roberto P. de Souza – SP
 
As afrontas do passado
não guardo! Vou esquecê-las!
Pois bem sei que um céu nublado
não me deixa ver estrelas!
José Valdez – SP
=================
Se o achado é alheio, de quem é na verdade a trova?…
============
Numa vida de fracassos
a pior constatação
é ver sonhos em pedaços,
onde bate um coração!
Luiz Antonio Cardoso – SP

Não me queres… pouco importa…
Só penso no alvorecer,
pois ele sempre abre a porta
à sedução de viver!
Luiz Carlos Abritta – MG

Mãe é palavra sublime,
e foi sábio o português:
não criou outra que rime
com ela nem uma vez.
Luiz Hélio Friedrich – PR

Amizades são pedrinhas
de brilhantes verde-mar.
Conquistadas, são rainhas,
neste mundo vão reinar.
Mª Luiza Walendowsky – SC

Por mais simples, mais modesta
que nos possa parecer,
a vida é sempre uma festa
para quem sabe viver.
Mª Madalena Ferreira – RJ

Mamãe, tua idade avança
e eu, triste, não me consolo,
porque sou sempre a criança
que precisa do teu colo!…
Maria Nascimento – RJ

Esconde o pranto depressa
e finge que estás contente,
que aos outros não interessa
saber as mágoas da gente!
Mª Thereza Cavalheiro – SP

Para escrever os sentidos,
companheiros da ilusão,
não servem versos contidos:
tem que abrir o coração.
Mário Zamataro – PR
Se navegar é preciso,
se é necessário sonhar,
eu sonho no teu sorriso,
navegando em teu olhar!
Marisa Olivaes – RS

A carícia dos seus dedos
em meu corpo, com pudor,
troca todos os meus medos
pelos delírios do amor.
Maurício Cavalheiro – SP

Toda trova sintetiza
o que pensa o seu autor;
e, nos versos, simboliza
seus sentimentos – de amor!
Maurício Friedrich – PR

Numa insônia persistente
sinto a alma espedaçada,
a imprimir na noite em frente
fria e longa madrugada.
Mifori – SP
É no relógio do tempo
que vejo o tempo passar;
alegre sem contratempo
deixo a vida me levar!
Neiva Fernandes – RJ

O amor que escolhi um dia
expõe-me à língua do povo?
Dane-se o povo! Eu faria
a mesma escolha, de novo!
Newton Vieira – MG

No espaço da folha branca
o universo do escritor
torna a vida bem mais franca
se traça versos de amor.
Nilton Manoel – SP

Carrego pouca bagagem
porque, na vida, aprendi
que, mesmo longa a viagem,
preciso apenas de ti.
Olga Agulhon – PR

Eram alegres meus olhos
e tristes eram os teus;
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus.
Olympio Coutinho – MG

Se todos fossem iguais,
o que seria da gente?
– Eu posso ser um a mais,
mas você é diferente!
Raymundo Salles Brasil – BA

Doce ternura me invade
às vezes sem mais nem quê,
e me perco na saudade
quando lembro de você…
Renato Alves – RJ

Ao abrir minha janela,
inundada de luar,
mais forte a lembrança dela
fez a saudade apertar.
Roberto Acruche – RJ
O mais intenso luar
e os raios que o Sol descerra,
jamais poderão beijar
as profundezas da Terra…
Ruth Farah – RJ

Nada mais nos aproxima…
e, nessa ausência de afeto,
nós somos trova sem rima
e sem sentido completo!
Sérgio Ferreira da Silva – SP

O canto ensina que a vida
encanta em qualquer momento.
Mesmo a luta mais renhida
traz nela o seu próprio alento!
Sinclair Casemiro – PR

Do nascer à despedida,
ele é sal e sol na estrada,
ele é luz em nossa vida,
sem amor não somos nada…
Sônia Ditzel Martelo – PR

O mendigo solitário
perambula pela rua.
Ao redor, só o cenário
de uma imensa e fria lua.
Vanda Alves da Silva – PR
 
Num dos lances mais astutos
que a vida tem-me inspirado,
eu mostro os olhos enxutos
e escondo o lenço molhado.
Vanda Fagundes Queiroz – PR

Tendo um bom livro na mão,
viajo o mundo… crio asa.
Mando embora a solidão…
sem sair da minha casa!
Vânia Ennes – PR

A semente adormecida,
a sonhar com benfeitor,
pede terra umedecida
para ser a planta e a flor.
Vidal Idony Stockler – PR

Tua partida me fala
do teu desprezo… um açoite!
E a saudade não se cala
nem na calada da noite…
Wanda Mourthé – MG
===============================
Visite:
http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br/
http://aadeassis.blogspot.com/

=================================== 

Deixe um comentário

Arquivado em Revista Virtual de Trovas Trovia, Trovas

Nilto Maciel (O Público do Teatrinho de Marionetes)

O público do teatrinho de marionetes crescia dia a dia. Ao final de cada peça, Raul Marinho apresentava suas mágicas sensacionais. As crianças aplaudiam cada número do espetáculo.

Os sediciosos, no entanto, chamavam o mágico de feiticeiro e ilusionista. Para o comendador, Raul não passava de um falso milagreiro, desdenhador da religião católica, um enganador do povo, como os comunistas. Segundo padre Gregório, o homem tinha pauta com o maligno.

Chegou o dia, entretanto, de ser lembrado como um possível aliado na luta contra o inimigo poderoso e invisível. Ora, se fazia surgirem coelhos do interior de cartolas, se transformava lenços brancos em pombas voadoras, se retirava tiras e mais tiras de pano da boca, por que não poderia fazer com que os comunistas se mostrassem em carne e osso à plena luz do dia? Ana Souto se mostrou incrédula: E se não fossem de carne e osso?

Outra importante contribuição de Raul se daria após a vitória do Movimento ou quando todos os comunistas tivessem sido achados e presos. Só ele, com sua capacidade de dominar as pessoas, faria com que os bolchevistas de Palma confessassem seus planos diabólicos, suas ligações secretas com a Rússia, a China, Cuba, onde se escondiam seus arsenais etc.

O juiz contestou o plano: Ora, não precisavam de mágica para conseguir aquilo.

Toda a sala se pôs à escuta. A palavra sábia da Justiça certamente conhecia poderes maiores do que os da Magia. Com um ou dois socos na boca do estômago…

Nenhuma palavra latina saiu dos lábios do juiz.

Interrompeu-o Emílio do Vale. Queria acrescentar algumas informações de ordem científica à explanação do amigo. E durante bom tempo falou do açoite, da marcação com ferro em brasa, do tronco, da golilha, dos “anjinhos”, do cavalete, do suplício da roda e da crucificação. Durante o III Reich desenvolvemos diversas…

******
Raul Marinho se dizia conhecedor dos segredos da mente, das artes mágicas e outras antiguidades. E provava seus conhecimentos por isso mais aquilo, em palcos improvisados, para qualquer plateia. Ainda assim preferia o público de cidades, lugarejos e vielas próximas a Palma. Emílio não o via com bons olhos: Não passa de um espertalhão. Jurema completava: Um ilusionista de quinta categoria.

Convidado a demonstrar se realmente conseguia hipnotizar alguém, o mágico apresentou-se de fraque e cartola. Padre Gregório cruzou os braços diante do homem: Queremos ver para crer.

Raul se dispôs a pôr em prática seus conhecimentos, enquanto os dirigentes da entidade o crivavam de perguntas. Como Emílio: Possível também fazer uma lavagem cerebral?

O hipnotizador ou se fez de mal-entendido ou realmente não alcançou o significado da pergunta. E pediu mais clareza ao chefe do Movimento. Seria possível converter ao bom caminho os enganados, ludibriados, seduzidos pelos comunistas?

Outras e outras questões científicas surgiram: como interrogariam os vermelhos durante a hipnose, se alguém podia despertar quando se sentisse ofendido, se seria possível colher informações sigilosas do hipnotizado…
******
A primeira mágica realizada por Raul deixou todos de boca aberta: o cigarro aceso entre os lábios do juiz apareceu entre os dedos do promotor. Emílio se impacientou. Queria ver logo a sessão de hipnotismo. O mágico encarou a pequena plateia: Quem se apresentava primeiro? O prefeito olhou para trás, Eunápio baixou a vista, Aniceto cochilou, Emílio cutucou o padre, o promotor cheirou os dedos, o juiz acendeu um cigarro, e nenhum outro se fez voluntário. Raul apontou para o padre: Venha cá o senhor.

Com dois ou três sussurros ao pé do ouvido, o vigário dormia profundamente e fazia tudo o que bem queria Raul. Coce a ponta do nariz, reverendo.
******
Como as reuniões costumavam terminar pela meia-noite, após esta hora a cidade começou a se inquietar. Portas e janelas se abriam de mansinho, luzes se acendiam, cochichos zuniam. Mais uma hora, e escancaravam-se portas, iluminavam-se salas, falavam línguas sem peias. Desperta Palma, mulheres, rapazes e crianças iam e vinham pelas ruas, para cá e para lá. Uns procuravam a Casa Paroquial, outros a Delegacia, mais outros o Hospital.

Tudo em vão. A casa do padre fechada. O delegado não sabia de ninguém preso ou esfaqueado naquela noite. No hospital enfermeiras e pacientes dormiam. Para o tenente, os homens da cidade deviam estar na casa de Seu Emílio.

Hilda também andava preocupada, insone e impaciente, sem saber onde se metera o marido.

A Associação Comercial parecia mais escura e silenciosa do que o cemitério. Uma vizinha da entidade, alvoroçada diante do clamor popular, explicava: Aí não esteve ninguém hoje.

Na verdade, a reunião realizava-se aos fundos da Casa Paroquial, onde nunca acontecia nenhum encontro político do Movimento. Além disso, Raul Marinho conseguiu hipnotizar todos os presentes, tendo também dormido, até que o sol raiou de novo sobre Palma.

Naquela noite, como em muitas outras, Lucas não quis comparecer à reunião da entidade, alegando, mais uma vez, acúmulo de afazeres. A correspondência andava atrasada.

E se enfurnou em casa, depois de tomar um fogoso banho no riacho do quintal. Deu ordens à criada para o não importunar, trancou-se no quarto e debruçou-se sobre a escrivaninha. De manhã, como a porta continuasse fechada por dentro, a velha, preocupada, chamou por Lucas, bateu à porta, bateu mais, forçou a fechadura e conseguiu derrubar a chave. E pelo buraco viu o rapaz estirado ao chão. Desesperada, saiu à rua, aos gritos. Enquanto corria e chorava, alertava o povo para a nova desgraça: Luquinha parece que morreu, minha gente.

Fonte:
Nilto Maciel. Os Luzeiros do Mundo. Fortaleza/CE: Editora Códice, 2005.

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Eliana Jimenez (Participe da Trova Legenda – Prazo: 10 de Maio)

Enviem suas trovas baseadas na imagem acima para:
elianarjz@gmail.com
Prazo: 10/05/2013
Publicação: 11/05/2013


Fonte:
Eliana Jimenez

Deixe um comentário

Arquivado em Convite, trova-legenda

Eliana Jimenez (Trova-Legenda: O Turista)

Ah, belos tempos dourados,
que os sonhos não trazem mais…
Bailavam, corpos colados,
olho no olho, os casais!
A. A. de Assis – Maringá/PR

A arte da dança é linda
quando fazemos brilhar
nos passos a graça infinda
de amar quem nos faz sonhar.
Agostinho Rodrigues – Campos/RJ

Flanando pelo salão
atentos a qualquer lance,
os dois se encontram. E então…
Assim começa um romance!
Alberto Paco – Maringá/PR

Revivo o amor que eu te dei
nesta foto com surpresa
amor, mais rico que um rei…
qual me fizeste princesa!!!
Ana Maria Guerrize Gouveia – Santos/SP

Me gusta verme en tus ojos
me gusta mirarme en ellos,
porque cumples mis antojos
con la luz de sus destellos
Ángela Desirée Palacios – Venezuela

Olhando a bonita cena
do novo filme em cartaz,
revejo a artista morena
que tanto sucesso faz!!!
Angelica Villela Santos – Taubaté/SP

Como turista quis ser:
Viver sem construir laços;
mas eu só sinto prazer
após cair em seus braços.
Antonio Cabral Filho – Rio de Janeiro/RJ
 
Pequenos sóis, duas gemas
banhadas de sedução,
são os teus olhos algemas
que prendem meu coração.
Antonio Juraci Siqueira – Belém/PA

Essa cena do universo
do teatro e seus atores
me parece um belo verso
do mundo dos trovadores.
Ari Santos de Campos – Itajaí/SC
 
Pensamentos se dispersam,
como sonhos de criança;
os olhos é que conversam
no bel momento da dança.
Ary Viotti – Belo Horizonte/MG

Nossos olhos se encontraram
e em perfeita sintonia
duas almas se enlaçaram
no embalo da melodia!
Carolina Ramos – Santos/SP

Angelina, artista bela,
que tanto bem faz à vista,
para encontrar-me com ela
só mesmo sendo um…”turista”…
Colavite Filho – Santos/SP

Onde há verdadeiro amor
há também cumplicidade …
Mesmo estando ante o temor,
surgirá serenidade …
Cristina Cacossi – Bragança Paulista/SP

Quando pensei que eras meu
– no poder daquele olhar –
o imprevisto aconteceu:
Era filme o meu sonhar!
Dáguima Verônica – Santa Juliana/MG

O meu brinde é à mola mestra
da paz que entre nós se esboça,
ao som mágico da orquestra,
tocando a valsa que é a “ nossa “…
Darly O. Barros – São Paulo/SP
 
Foi num baile. Aquele olhar,
tão profundo e sedutor,
foi a forma de mostrar
toda a grandeza do amor!
Delcy Canalles – Porto Alegre/RS

Quão  tola a galanteria
que, em bailes, a multidão
exibe, falsa alegria
que não tem no coração!
Diamantino Ferreira – Campos/RJ

Olhares insinuantes
que o cupido  registrou,
flecharam  os dois amantes
que a vida não separou!
Dilva Moraes – Nova Friburgo/RJ

Ser bonita e admirada
é agradável, vale a pena;
mas vale mais ser louvada
“se a alma não é pequena”.
Dorothy Jansson Moretti – Sorocaba/SP

Quando o turista chegou
surgiu a atração singular
e a orquestra logo tocou
as notas do verbo amar.
Edite Rocha Capelo – Santos/SP

No baile dos trovadores
Angelina faz o clima:
provoca tantos calores
que até desconserta a rima.
Eliana Jimenez – Balneário Camboriú/SC
 
Depois de espalhar beleza
a Jolie com seu meneio,
foi parar, quanta tristeza!
nos braços de um cara feio!
Francisco José Pessoa – Fortaleza/CE

Você e eu naquela dança,
sonho, verdade? Dilema!
Não, não é o que a vista alcança.
Pena, é coisa de cinema!
Geraldo Trombin – Americana/SP

O baile, a dança, um olhar…
Dois seres enamorados
que, depois de se encontrar,
não ficarão separados!
Gislaine Canales – Balneário Camboriú/SC
 
Homem de olhar penetrante,
sem que a donzela resista,
está certo que, por diante,
estará feita a conquista.
Glória Tabet Marson – S. J. dos Campos/ SP
 

Comprova a fama que traz,
o casal protagonista
desse filme ora em cartaz,
intitulado turista.
Haroldo Lyra – Fortaleza/CE
 

Um grande amor nasce mudo
pois não consegue falar;
você não me disse tudo,
disse-me tudo um olhar…
Janske Niemann – Curitiba/PR

Levo-me ao som dos compassos
à procura de um olhar
vazio dos meus abraços
completos para dançar.
João Batista Xavier Oliveira – Bauru/SP
 
As mágoas do coração
Em Paris ou em Veneza
Se mitigam com paixão
Amor e muita beleza.
José Kalil Salles – Barbacena/MG

Buscar a verdade, perto,
olho a olho, frente a frente,
parece o jeito mais certo
de se falar com quem mente.
José Lucas de Barros – Natal/RN

Não se apagam da memória
os traços do seu semblante,
mesmo longe a nossa história
perdoe-me o falso brilhante.
José Marins – Curitiba/PR
 
Quando o amor fala mais alto
o mais prudente é calar;
coração em sobressalto
dá o recado pelo olhar.
Marina Valente – Bragança Paulista/SP

Olhos nus, olhos em chama…
Enquanto o baile balança,
na cabeça uma só trama:
prosseguir em outra dança.
Mário A. J. Zamataro – Curitiba/PR

O belo e jovem turista
– quando chegou ao salão
de baile – à primeira vista
conquistou meu coração!…
Mercedes Lisbôa Sutilo – Santos/SP

Linda turista elegante,
belo  jovem refinado,
fazem do baile brilhante
um brilhante “Ano Dourado”!
Myrthes Masiero – São José dos Campos/SP
 
A dança mostra o talento,
dos parceiros a bailar;
corpo e pés em movimento,
dois corações a sonhar.
Nadir Giovanelli – São José dos Campos /SP

Linda, bela, malandrinha,
que exubera potestade,
adentrou como Rainha…
Saiu feito Majestade!
Nei Garcez – Curitiba/PR
 
A dança faz bem à gente
e nos traz grande emoção.
– Quem dança exercita a mente
e alimenta o coração!
Neiva de Souza Fernandes – Campos/RJ

Os dois silentes, colados,
corações a palpitar;
olhares apaixonados…
já pensou no que vai dar?
Nemésio Prata – Fortaleza/CE

Da vida, na falsidade,
nossos olhos têm magia;
ninguém encobre a verdade,
pois o olhar a denuncia.
Olympio Coutinho – Belo Horizonte/MG

Em teu olhar fascinante,
meu coração se perdeu,
e, mantém minha alma errante,
plena do amor que é só teu…
Olga Maria Dias Ferreira – Pelotas/RS

Aos  ritos do amor se entrega
um casal apaixonado,
que até nos olhos carrega
o silêncio do pecado!
Prof. Garcia – Caicó/RN

Para o tempo… Nada alcança
a magia deste olhar
que precede a contradança.
Dois corações a sonhar!…
Renato Alves – Rio de Janeiro/RJ

Não bastando a elegância
para chamar a atenção,
um olhar de petulância
completa a provocação…
Ruth Farah Nacif Lutterback – Cantagalo/RJ
 
No cinema… entre suspiros,
e ao pulsar dos corações,
o casal, dançando em giros,
nos inflama de emoções…
Vanda Alves da Silva – Curitiba/PR
 

Olhaste… nada foi dito,
mas consegui decifrar
um conto de amor, escrito
no apelo do teu olhar!
Vanda Fagundes Queiroz – Curitiba/PR

Olhar bem firme quem há de?…
Olhos nos olhos… Com calma…
Revelar sinceridade
com aquele que sonda a alma.
Wagner Marques Lopes – Pedro Leopoldo/MG

Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Trovas

Olivaldo Junior (De Véspera)

Dizem que a véspera é melhor que o dia “D”. Depois de certo tempo, não há mais nenhuma espera, nem de véspera.

A véspera, para um homem, é motivo de trégua. Esconde os cascos e esgarça o sorriso. Mas nem todo homem. Existe um que eu bem conheço que não descansa faz tempo. O tempo não tem mais tempo para o rio que ribeira, a beira que esbarra nos pés de um poeta, um célebre das rimas, sem rumo nenhum, mas cheio de métodos. Metáforas só tem sentido quando fora.

Esse homem descobriu-se poeta para ver se era alegre ter parte com as letras e com todos os milhões de coisas que elas tocam. Mas não foi nada disso que achou. Não era um tesouro o ouro da escrita. Os outros poetas não eram sempre amistosos. Ficou desgostoso e se pôs a andar. Era hora.

Buscou quem pudesse ser o amigo que ele sempre quis. Andava a se lembrar dele mesmo aos pés da vitrola, de olho na porta, para ver se chegava alguém. Nunca chegava. O Natal estava perto. Néctar.

Olhando o chão da praça da cidade, notou que nele estavam mil e um folhetos com dizeres encantados provocando o consumo. Aquele homem se encolhia diante dos monstros que habitavam os shoppings e as lojas que só pensam no que os outros vão comprar de mais custoso. Desanimou-se. Não tinha o amigo que sempre quis. O mundo não o tinha em conta. Via Crúcis de si.

Assim que ficou noite, deitou-se num banco qualquer. Podiam tê-lo como um mendigo. Ele bem o era. Sequer sabia quem era Francisco, mas franciscano bem o seria. Sim, era véspera de Natal. O homem, pouco antes da meia-noite, deu de acordar e foi para junto da grande cruz, no meio da praça, enraizada. Ao lado dela, uma árvore um tanto maior indicava quem era o dono do mundo. O mundo dentro dele ruía, e não era, a noite, feliz. Chorou tudo o que não tinha chorado até os… Não, não contava a idade dele a ninguém. Não era do tempo. Chorou.

Deu meia-noite. O homem, de frente para a cruz, ressurreto em próprio pranto, batizado em próprias lágrimas, deitou-se de abertos braços aos pés do Cristo e, todo exangue, sangrou sem sangue toda a tristeza e todo o segredo de nunca ter sido feliz. O amigo não veio. Esquece-se dele agora.

Não nasceu nenhuma rosa no lugar em que se expôs aquele homem, Nenhuma pedra se interpôs a quem fizesse aquilo. Logo que o sol se estirou, ninguém deu pela falta do cara que se fizera desencantar.

Mas houve, em algum lugar, talvez no topo do Monte Everest, alguém que dele guardou uma lágrima num verso pernóstico, num resto de adeus, num rosto em retratos que o morto não viu. Houve um amigo.

Moji Guaçu, SP, seis de dezembro de 2012.

Fonte:
O Autor

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Franklin Jorge (Nilto Maciel: O Universo Mágico dos Gregotins)

Publiquei neste domingo na coluna que assino no Novo Jornal e o reproduzi em minha página na web, pequeno e despretensioso comentário contendo minhas impressões de leitura de Nilto Maciel, um prolífico escritor de Baturité que se recolheu à Fortaleza, de onde irradia-se em sortilégios literários de que é prova cabal esse livro que não pode faltar na biblioteca dos pesquisadores e dos amantes da literatura.

Em Gregotins de Desaprendiz [Editora Bestiário, Porto Alegre, 2013], uma compilação que creio bastante resumida da colaboração do autor em diversos veículos que acolhiam a literatura contemporânea. Nesse livro que constitui um grato reencontro com autores e companheiros de geração, escritores que estrearam naqueles anos 70 do século passado, por todo o país. À página 140 e na segunda orelha, transcreve Nilto palavras de admiração que tenho escrito sobre sua atividade intelectual ímpar e benfazeja.

Nilto leu centenas de livros, milhares talvez; leu e opinou sobre os mesmos, e agora, em edições bem cuidadas, os divulga, cônscio de que a arte começa com o exercício da generosidade. Nesse livro, reitero, o leitor arguto e sensível, perspicaz e infatigável, desperta-nos a curiosidade por esses autores circunscritos, majoritariamente, em suas províncias natais, autores sem editoras, sem distribuição, sem mídia e sem leitores, que predominam nos escritos desse escritor cearense que há mais de 40 anos difunde a literatura brasileira contemporânea.

Devotou-se o autor de Gregotins a devorar e divulgar os impressos recebidos como doação, presente, mimo, como o confessa na apresentação à pág. 7: “Poucos dos escritores por mim lidos naquele período tiveram sobras divulgadas por editoras de grande porte”. Desde aquele ano de 1976, quando pôs em circulação e editou O Saco que colocou a literatura marginal no circuito das discussões, Nilto não parou mais e com isso tem prestado inestimável serviço às letras.

Assim, graças aos seus registros sobre autores, deparei-me à pág. 14 com uma curta e perspicaz resenha sobre a escritora Socorro Trindad, enfocada a partir da leitura do livro Cada Cabeça uma Sentença e descobre, na autora nascida em nossa pacata e ilustre Nísia Floresta, a antiga Papary (RN), duas virtudes essenciais: a capacidade de misturar o trigo e o joio e esplêndida cultura literária. E fico imaginando o que diria o autor – se é que não o disse em um outro texto – sobre o livro de estreia de Trindad, Os Olhos do Lixo, que eu possuía com o autógrafo da autora.

Nessa colaboração advinda de publicações diversas, algumas já extintas, o registro de uma atividade intelectual que se destaca e encoraja-nos a pesquisar e conhecer esse movimento que deu vida à produção literária da época. Resenhas e ensaios dispersos em publicações como o Suplemento Minas Gerais; O Povo e O Unitário [Fortaleza]; Suplemento da Tribuna da Imprensa [Rio de Janeiro]; Correio Braziliense e Jornal de Brasília; Suplemento Cultural O popular, Folha de Goiaz e Opção [Goiânia]; Jornal da Semana e Diário do Comércio [Recife], estão reunidas aqui, por Nilto Maciel, que enumera 42 autores dentre os inumeráveis que perfilou em centenas de resenhas que suponho ainda inéditas em livros. São eles, assim nominados em Gregotins: Francisco Carvalho: um poeta maior; O universo fabuloso de Juarez Barroso; Socorro Trindad: misturando o joio e o trigo; Joanyr de Oliveira: um poeta quase bíblico; Miguel Jorge: veias e vinhos; Nagib Jorge Neto: cordeiros e lobos; José Alcides Pinto: ordem e desordem; Caio Porfírio Carneiro: a incandescência do sal; Adrino Aragão: o suor da escrita; O pássaro de luz de Guido Heleno; Carlos Emílio Corrêa Lima: epopeia e mito; Emanuel Medeiros Vieira: desespero e morte; O engenho poético de Batista Lima; Aguinaldo Silva: reflexos grotescos; Enéas Athanázio: histórias catarinenses; Salomão Sousa: a lógica do pessimismo; Glauco Rodrigues Corrêa: literatura policial com L maiúsculo; Silveira de Souza: nós e o fogo; Dimas Macedo: poemas das lavras de um poeta; José Lemos Monteiro: crônica de uma era monstruosa; Avarmas de Miguel Jorge; Luís Martins da Silva: a fertilidade da poesia; O filão de Luciano Barreira; Valdomiro Santana: concisão e profusão no dia do juízo; Diogo Fontenelle: um topógrafo da poesia; Naomar de Almeida: o homem como natureza; O laboratorista Paulo Nunes Batista; Ubirajara Galli: êxtase fabular; O. G. Rego de Carvalho: entranhas da alma; Wilson Pereira: narrativas poéticas; Floriano Martins: poesia da paisagem; W. J. Solha: a lucidez possível; José Peixoto Júnior: sobre o Cariri; A poesia de Sérgio Campos; Jesse Navarro Jr: o poder da síntese ou a síntese do poder; Antonio Possidônio Sampaio: documentário do ABC.

O livro conclui com a publicação de alguns pequenos e consistentes ensaios sobre temas correlatos, a saber: 64 D.C. (antologia); Elefante enjeitado; Outros poetas do Ceará; Mais nove romancistas; Outros poetas de Goiás; Outros contistas; Duas antologias de poemas; Duas antologias de contos; e, mais, informações precisas sobre o autor [dados biográficos, livros publicados, fragmentos da volumosa Fortuna Crítica que bem a merece o escritor Nilto Maciel.
(O santo ofício, http://www.osantoofício.com, 21/4/2013)

Fonte:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2013/04/o-universo-magico-dos-gregotins.html

Deixe um comentário

Arquivado em Estante de Livros, Sopa de Letras

Wagner Marques Lopes/MG (Fábula o Lobo e o Cocheiro)

À margem de uma estrada rural, um lobo abordou um cocheiro:

– Vim caçar longe de meu covil e perdi meu caminho. Moro lá nos altos rochedos e se eu continuar fora da estrada poderei me extraviar de vez… Posso acompanhá-lo até as proximidades de minha furna?

O cocheiro refletiu:

– Um lobo, bicho que possui tanto faro, perdendo o caminho de casa?!… Isso é muito estranho!…Se eu deixar ele caminhar ao lado da carruagem, com muita agilidade, ele poderá atacar um de meus cavalos!…

       E veio a solução:

– Vou ajudá-lo… Você pode me acompanhar, mantendo uma distância de cinquenta metros da carruagem, pois o caminho está muito seco. Se você me seguir muito perto do coche, seus olhos poderão ficar prejudicados pela poeira!…

Sem saída, o lobo acatou a sugestão. E lá se foram. Em paz, o cocheiro e os cavalos… Menos o lobo.

Moral em trova

Cautela tem seu lugar –
o prudente é o mais feliz.
Há lobos que vão cear
distantes de seus covis!
1

1. Trova sobre o provérbio latino:
“QUANDO O LOBO VAI FURTAR,
LONGE VAI CEAR”.

Deixe um comentário

Arquivado em Fabulas, Trovas

Alphonse Daudet (O Segredo de Mestre Cornille)

 Nossa região, meu caro leitor, não foi sempre um sítio morto e sem canções, como é hoje. Antigamente havia aqui um ativo comércio de farinha. De dez léguas ao redor, os granjeiros nos traziam seu trigo para moer. Por toda parte, à volta da aldeia, as colinas estavam cobertas de moinhos de vento. À direita e à esquerda, só se viam asas de moinhos que volteavam ao sopro do mistral; acima dos pinheiros, filas de burricos carregados de sacos, subindo e descendo ao longo dos caminhos; e a semana inteira era o prazer de ouvir o estalido dos chicotes, o ruído seco do tecido dilacerado e o “Dia hue!” dos ajudantes dos moleiros. Aos domingos, íamos em bandos aos moinhos. Lá no alto, os moleiros pagavam o muscat. As moleiras eram belas como rainhas, com seus fichus de rendas e suas cruzes de ouro. Eu levava meu pífaro, e até altas horas da noite dançavam-se farândolas. Aqueles moinhos, como o senhor vê, eram a alegria e a riqueza da nossa terra.

 Infelizmente, franceses de Paris tiveram a idéia de estabelecer uma moagem a vapor, na estrada de Tarascon. Tudo belo, tudo novo! O povo tomou o hábito de enviar o trigo aos novos moageiros, e os pobres moinhos de vento ficaram sem trabalho. Durante algum tempo tentaram lutar, mas o moinho a vapor foi o mais forte. Um após outro — pobrezinhos! — foram todos obrigados a fechar. Não se viu mais virem os burrinhos. Nada de vinho!… Nada de farândolas!… O mistral soprava forte, as asas permaneciam imóveis… Depois, um belo dia, a municipalidade mandou demolir todas essas ruínas, e semearam-se em seu lugar vinha e oliveiras.

 Entretanto, em meio à derrocada, um moinho se havia mantido e continuava a girar corajosamente, sobre a colina, nas barbas dos moageiros. Era o moinho de Mestre Cornille, este mesmo onde estamos fazendo serão, neste momento.

 Mestre Cornille era um velho moleiro. Havia sessenta anos vivia metido na farinha. A instalação das moagens a vapor tinha-o deixado como louco. Durante oito dias viram-no correr pela aldeia, a reunir em tumulto toda a gente à sua volta, e a gritar, com todas as suas forças, que queriam envenenar a Provença com a farinha dessas fábricas.

 — Não vão lá embaixo — dizia ele. — Aqueles bandidos, para fazer o pão, servem-se de vapor, que é uma invenção do diabo, enquanto que eu trabalho com o mistral e o transmontano, que são o hálito do bom Deus!…

 E ele encontrava, como estas, uma quantidade de belas palavras em louvor dos moinhos de vento, mas ninguém as escutava.

 Então, com uma raiva maligna, o velho fechou-se no moinho e viveu completamente só, como um animal selvagem. Nem mesmo quis conservar junto de si a neta, Vivette, uma menina de quinze anos, que, mortos os pais, não tinha ninguém senão o avô no mundo. A pobre pequena foi obrigada a ganhar a vida e a se empregar ora aqui, ora ali, nas fazendas, para a colheita, os bichos-da-seda ou os olivais. Entretanto o avô parecia amá-la muito. Chegava a fazer freqüentemente quatro léguas a pé, na soalheira, para ir vê-la na casa em que trabalhava. Uma vez junto dela, passava horas inteiras a contemplá-la, chorando…

 Pensava-se, na região, que o velho moleiro, deixando sair Vivette, agira por avareza. Não o honrava ter consentido que a neta assim deambulasse de uma fazenda para outra, exposta às brutalidades dos vaîles e a todas as misérias que cercam as jovens, nessas condições de trabalho. Achava-se também muito malfeito que um homem da reputação de Mestre Cornille, que até ali era respeitado, fosse agora pelas ruas como um verdadeiro boêmio, pés nus, o boné furado, a faixa da cintura em tiras… O fato é que, no domingo, quando o víamos entrar para a missa, tínhamos vergonha por ele, nós outros os velhos; e Cornille o sentia tão bem, que não mais ousava vir sentar-se no banco dos administradores da paróquia. Ficava sempre no fundo da igreja, junto à pia de água-benta, com os pobres.

 Na vida de Mestre Cornille havia alguma coisa obscura. Havia muito tempo ninguém, na aldeia, lhe levava mais trigo, e no entanto as asas do seu moinho iam sempre fazendo seu ofício, como antes. À tarde, encontrava-se pelos caminhos o velho moleiro, tangendo à sua frente o burro carregado de grandes sacos de farinha.

 — Boas tardes, Mestre Cornille! — gritavam-lhe os camponeses. — Então, sempre vai indo a moagem?

 — Sempre, meus filhos — respondia o velho com ar altivo. — Deus seja louvado, não é trabalho o que nos falta.

 Então, se lhe perguntassem de onde podia vir tanto trabalho, ele colocava um dedo sobre os lábios e respondia gravemente:

 — Silêncio! Eu trabalho para a exportação…

 Jamais se pôde tirar mais nada dele, além disso. Quanto a meter o nariz no seu moinho, nem se devia sonhar. A própria Vivette não entrava ali. Quando se passava diante dele, via-se a porta sempre fechada, as grandes asas sempre em movimento, o velho burro retouçando a erva, sobre a plataforma, e um gatão magro que tomava sol no peitoril da janela e olhava para a gente com um ar maldoso.

 Tudo isso sugeria mistério e fazia tagarelar o mundo. Cada um explicava à sua maneira o segredo de Mestre Cornille, mas o rumor geral era que ele tinha em seu moinho mais sacos de dinheiro que de farinha.

 Com o decorrer do tempo, entretanto, tudo se descobriu. Eis como:

 Fazendo dançar a mocidade com o meu pífaro, percebi um belo dia que o mais velho dos meus rapazes e a pequena Vivette se haviam enamorado um do outro. No fundo, eu não ficara nem um pouco zangado, porque, apesar de tudo, o nome de Cornille era honrado entre nós; e dar-me-ia prazer ver saltitar em minha casa essa linda avezinha de Vivette. Somente, como nossos namorados tinham freqüentemente ocasião de estar juntos, eu quis, de medo de acidentes, regular o negócio imediatamente; e subi até o moinho, para trocar sobre o assunto duas palavras com o avô.

 Ah! o velho feiticeiro! Era preciso ver de que maneira me recebeu! Impossível fazê-lo abrir a porta. Expliquei-lhe minhas razões, mal-e-mal, através do buraco da fechadura; e durante o tempo em que lhe falei, ficava esse ladrão de gato magro a soprar como um diabo, acima da minha cabeça. O velho não me deu tempo de terminar, e me gritou muito malcriadamente que retornasse à minha flauta; caso tivesse pressa de casar o rapaz, fosse procurar moças na fábrica…

 O senhor imagine como o sangue me subia, ao ouvir essas más palavras. Contudo eu tive até bastante prudência para me conter, e, deixando o velho louco em sua mó, voltei para anunciar aos jovens o meu humilhante insucesso. Os pobres cordeirinhos não podiam acreditar. Pediram-me que lhes permitisse subirem os dois juntos ao moinho, para falar ao avô. Não tive coragem de recusar, e eis os namorados a caminho.

 Justamente quando chegaram ao alto, Mestre Cornille acabava de sair. A porta estava fechada com duas voltas; mas o velho, ao sair, deixara a escada fora. Imediatamente os moços tiveram a idéia de entrar pela janela, para verem o que havia nesse famoso moinho.

 Coisa singular! O quarto da mó estava vazio. Nem um saco, nem um grão de trigo; nem a menor farinha nos muros, nas teias de aranha… Não se sentia nem mesmo esse bom cheiro quente do grão de trigo triturado, que embalsama os moinhos. A braçadeira estava coberta de pó, e o gatão dormia em cima dela.

 A peça de baixo tinha o mesmo ar de miséria e de abandono: um mau leito, alguns trapos sujos, um pedaço de pão sobre um degrau da escada; e, finalmente, num canto, três ou quatro sacos furados, de onde escapavam caliça e areia.

 Era o segredo de Mestre Cornille! Era esse entulho que ele passeava à tarde pelas estradas, para salvar a honra do moinho e fazer crer que ali se produzia farinha… Pobre moinho! Pobre Cornille! Havia muito tempo os moageiros tinham-no feito perder os últimos negócios. As asas viravam sempre, mas a mó girava no vazio.

 Os mocinhos voltaram, lavados em lágrimas, para me contar o que tinham visto. Senti o coração machucado ao ouvi-los. Sem perder um minuto, corri à casa dos vizinhos, contei-lhes a coisa em duas palavras, e concordamos todos em que era preciso levar imediatamente ao moinho de Cornille tudo que houvesse de grão em nossas casas. Tão logo foi dito, logo se fez. Toda a aldeia se pôs a caminho, e chegamos ao alto com uma procissão de burros carregados de trigo — trigo verdadeiro!

 O moinho estava completamente aberto. Diante da porta, Mestre Cornille, sentado num saco de gesso, chorava, com a cabeça entre as mãos. Acabava de perceber, entrando, que durante sua ausência alguém penetrara em sua casa e surpreendera seu triste segredo.

 — Pobre de mim! — dizia ele. — Agora não me resta senão morrer… O moinho está desonrado.

 E soluçava de cortar o coração, chamando seu moinho por todas as espécies de nomes, falando-lhe como a uma pessoa viva.

 Nesse momento os burros chegaram à plataforma, e nós nos pusemos todos a gritar bem alto, como nos belos tempos dos moleiros:

 — Eh! Ó do moinho!… Ei! Mestre Cornille!

 De súbito os sacos se acumulam diante da porta, e o belo grão ruivo rola abundantemente pela terra, de todos os lados.

 Mestre Cornille arregalava os olhos. Apanhara um pouco de trigo no côncavo da velha mão, e dizia, rindo e chorando ao mesmo tempo:

 — É trigo!… Senhor Deus! Trigo verdadeiro!… Deixem-me contemplá-lo…

 Depois, voltando-se para nós:

 — Ah! Eu sabia que vocês voltariam…

 Queríamos levá-lo em triunfo até a aldeia.

 — Não, não, meus filhos! É preciso, antes de tudo, que eu vá dar de comer ao moinho… Pensem! Há muito tempo que nada lhe pomos entre os dentes!

 E todos nós tínhamos lágrimas nos olhos, de ver o pobre velho agitar-se para a direita e para a esquerda, destripando os sacos, vigiando a mó, enquanto o grão arrebentava e a fina poeira do trigo subia para o teto.

 Justiça nos seja feita: a partir desse dia, nunca deixamos faltar trabalho ao velho moleiro. Depois, certa manhã, Mestre Cornille morreu, e as asas do nosso derradeiro moinho cessaram de virar, para sempre desta vez. Morto Cornille, ninguém continuou sua obra…

Fonte:
Alphonse Daudet. Contos. SP: Cultrix, 1993.

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Joyce Cavalccante (O Cão Chupando Manga)

Sob o provocativo título de O Cão Chupando Manga, foi publicado pela editora Bertrand Brasil mais um surpreendente romance de Joyce Cavalccante. O Cão Chupando Manga é uma expressão muito usada no nordeste para definir qualquer coisa superlativa. Zezito, personagem maior dessa história, é feio ao ponto de ofender mas incrivelmente capaz de se dar bem, daí a autora ter se apoderado dessa frase característica do colorido e imagético linguajar do povo lá de cima do mapa, para oferecer à literatura brasileira este delicioso e divertidíssimo romance que tem como cenário a cidade de São Paulo entre os anos 1971 e 1985, movimentada pela ambição dos políticos, pela ganância dos empresários, pelo amor livre dos jovens e por um audacioso garçon cearense.

Narrada em linguagem fluente e agradável, a exemplo das melhores obras clássicas, essa ficção faz seus personagens atravessarem quase quinze anos de real história brasileira, que aqui é usada como pano de fundo para as fortes emoções tecidas nos corações das personagens. O final é surpreendente, comprovando título tão bem escolhido.

Joyce sempre foi conhecida como autora de obras, no mínimo, polêmicas que envolvem temas transgressores como a sexualidade feminina, a luta da mulher para se afirmar num mercado de trabalho adverso, os problemas enfrentados por elas quando tentam sobreviver num mundo concebido apenas no masculino. Aqui, além de confirmar essa tendência, a autora confirma também seu estilo literário maduro e estimulante que vem encantando os leitores, não só do Brasil, mas também do exterior.

322 PÁGINAS.
web page da autora:
http://www.JoyceCavalccante.com

Fonte:
REBRA

Deixe um comentário

Arquivado em Estante de Livros

Samuel da Costa (Cris e o Dragão: o olhar dela postados em mim… )

pois é difícil enxergar a verdade!
Não gosto de ficar sozinha…
E não tenho tempo para joguinhos!
Patrícia Raphael 

 
Para Andersom Luis ‘’Jamaica’’ da Silva

– O que tu vai fazer, hoje de noite, Cris meu anjo? – A pergunta era um misto de pura inocência e total perdição. E Cris não soube, naquela hora, o que era pior: A pergunta moleca, o sorriso inocente ou os olhos verdes e arregalados e cheios de má intenção da moça. O cabelo cheio, vermelho claro, encaracolado e jogado para frente, as mãos pequenas postadas no joelho, as unhas pintadas de verde-musgo, os dedos finos e desnudos, no pescoço uma fina gargantilha de prata e um pingente incrustado de semi-joias, onde podias se ler a inscrição: Carolina, em fonte manuscrita e em itálico, a blusa branco celeste transparente com estampa floral, que revelava mais do que deveria revelar, o shorts jeans desbotado, os pés pequenos e delicados estavam descalços, pois, o sapato de salto alto quinze neon verde fluorescente, se encontrava no chão, a pele amendoada e delicada completavam o quadro que tirou Cris do ar, estava em êxtase.

– Cris… Cris meu anjo, acorda meu doce! – A voz aguda e irritante de Carolina explodiu nos ouvidos de Cris com toda a força do mundo.

– O que foi Diaba? Fala! – A voz de Cris era pura irritação.

– Não me chama assim, quanta mal criação meu Deus do céu. Não vai vestir as luvas? Não sei por onde, essas tuas mãos talentosas andaram voando! Hei… faz o favor de tirar as luvas do estojo na minha frente. A agulha também, nada de re-aproveitar essas coisas descartáveis, em nome da economia, Cris meu bem. O meu corpo é santo e é sagrado, Cris meu doce de gente. – A voz estridente e teatral de Carolina soou com um pesadelo ao vivo e a cores, nos ouvidos de Cris. A imaginação de Cris voou longe e transportou, aquela beldade, para um palco de teatro ou tablado qualquer, cheio de luzes, aplausos e gente gritando.

De volta para a realidade, Cris se deu conta, que o seu profissionalismo naquela altura, estava um pouco negligenciado. E uma olhada rápida, na sua mais nova cliente, sentada em cima da maca, com o contorno do dragão, em forma de serpente, tatuado na perna já pronto, que esperava o retoque final. Cris vestiu as luvas cirúrgicas, os óculos de proteção individual, também uma mascara cirúrgica e por fim tirou a agulha descartável do invólucro e anexou na máquina, tudo preparado com todo o excesso de zelo, para clientes da estirpe de Carolina.

Cris bem queria acabar com o trabalho, o mais rápido possível e da forma mais profissional possível. E de fato, a máquina de aço deu as cores no dragão, em forma de serpente, tatuado na panturrilha esquerda de Carolina. O barulho do aparelho, só era interrompido quando Cris limpava a agulha com um lenço de papel toalha não reciclado, e mergulhava a agulha, nas pequenas tinas rasas de porcelana chinesa, que continham tintas importadas do extremo oriente. Elas eram quatro e, estavam perfiladas em simetria, em uma pequena bancada de vidro ao lado da maca, as tinas tinham inscrições em uma língua oriental. Carolina pensou, na possibilidade, que fossem os nomes das cores das tintas, nas pequenas tinas rasas e na remota possibilidade de Cris poder dominar aquele idioma oriental, Carolina não estava em toda enganada. A máquina de aço, parecia leve e, ter vida própria, Cris estava em êxtase naquela altura, ao contrário de Carolina, que parecia não se importar com mais nada, além da existência de Cris, ali na sua frente e, literalmente, aos seus pés.

– Então? Tira essa mascara horrorosa da cara, esses óculos fora de moda, quero ver esse teu rostinho lindo e me responde logo. Responde de uma vez! – Cris parou o trabalho, olhou para a cliente por uns instantes, deu uma longa suspirada e voltou para finalizar o trabalho. Nessa altura, a única coisa que importava para Cris, era terminar o trabalho e mandar a criatura perturbadora e diafona embora de uma vez. Era assim que Cris pensava, naquela hora derradeira.

– Cris, tu vai para onde nessa tediosa e enfadonha noite de outono? Nãoooo! Não vai me dizer, que és uma pessoa solitária e sozinha. Se és, eu posso resolver ‘’esse’’ teu probleminha, de uma vez por todas! – Cris pareceu não se importar, com o falatório da moça, que mais parecia um texto extraído de uma peça teatral burlesca. Cris passa o lenço de papel sobre uma parte da tatuagem, para tirar o excesso de tinta, e dá o trabalho por encerrado. Sem ao menos saber, como o trabalho ficou pronto, tão rápido e como sua mais nova ‘’cliente’’, apesar da aparência delicada e frágil, ela não esboçou uma única queixa de dor, nem uma única suspiro leve sequer, como era usual, quando essas criaturas delicadas resolvem fazer uma tatuagem. Mas, o trabalho estava terminado e Carolina estava mais que pronta para se despachada para longe da vida de Cris de uma vez por todas. Cris tirou a mascara, os óculos e por fim, contemplou o trabalho finalizado, por vários ângulos. Cris, em um arrebatamento não usual e não profissional, parecia querer entender o trabalho que acabara de finalizar. Para Cris um trabalho, era sempre mais um trabalho e nada para além de um trabalho. Ou para ser mais exato, um caminhar natural para a perfeição de que um profissional, em qualquer área, naturalmente busca em seu ofício diário.

– As cores vão se definir daqui há alguns dias, e não tire este plástico, que ‘’estou’’ colocando na tua perna. Não tira até amanhã cedo, pelo menos… se bem que… te pego amanhã, as oito-e-meia, sua Diaba! Hoje não dá! Não dá mesmo. Tenho uns assuntos, não acabados para resolver hoje, que não podem ficar para depois. Se queres diversão, vou te dar uma boa ‘’dose’’ de fortes emoções, amanhã quando à noite cair, sua Diaba! Se tens crença em algum Deus, clame por ele desde já meu bem..

– Nossa! Um pouco de emoção de verdade afinal de contas. Ei! Já não te disse para ter modos? Não me chama de Diaba! Tu beijas a tua mãe com esta tua boca suja? Beija? Uhm… Uhm… e este plástico na minha perna! Até parece que eu fui comprada, no açougue do seu Maneca, ali, na esquina da minha casa. – Carolina olhou, usando um pequeno espelho, por vários ângulos, para a tatuagem como uma criança, que acabara de ganhar um brinquedo novo.
===========
Samuel da Costa é contista em Itajaí /SC

Fonte:
O Autor

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 15

CAPÍTULO CXI / CONTADO DEPRESSA

Achei-lhe graça, e não lhe nego ainda agora, apesar do tempo passado, dos sucessos ocorridos, e da tal ou qual simpatia ao rato que acho em mim; teve graça. Não me pesa dizê-lo; os que amam a natureza como ela quer ser amada, sem repúdio parcial nem exclusões injustas, não acham nela nada inferior. Amo o rato, não desamo o gato. Já pensei em os fazer viver juntos, mas vi que são incompatíveis. Em verdade, um rói-me os livros, outro o queijo; mas não é muito que eu lhes perdoe, se já perdoei a um cachorro que me levou o descanso em piores circunstancias. Contarei o caso depressa.

Foi quando nasceu Ezequiel; a mãe estava com febre, Sancha vivia ao pé dela, e três cães na rua latiam toda a noite. Procurei o fiscal, e foi como se procurasse o leitor, que só agora sabe disto. Então resolvi matá-los; comprei veneno, mandei fazer três bolas de carne, e eu mesmo inseri nelas a droga. De noite, saí; era uma hora; nem a doente. nem a enfermeira podiam dormir, com a bulha dos cães. Quando eles me viram, afastaram-se, dous desceram para o lado da Praia do Flamengo, um ficou a curta distancia, como que esperando. Fui-me a ele, assobiando e dando estalinhos com os dedos. O diabo ainda latiu, mas fiado nos sinais de amizade, foi-se calando, até que se calou de todo. Como eu continuasse, ele veio a mim, devagar, mexendo a cauda, que é o seu modo de rir deles; eu tinha já na mão as bolas envenenadas, e ia deitar-lhe uma delas, quando aquele riso especial, carinho, confiança ou o que quer que seja, me atou a vontade; fiquei assim não sei como, tocado de pena e guardei as bolas no bolso. Ao leitor pode parecer que foi o cheiro da carne que remeteu o cão ao silêncio. Não digo que não; eu cuido que ele não me quis atribuir perfídia ao gesto, e entregou-se-me. A conclusão é que se livrou.

Tal não faria Ezequiel. Não comporia bolas envenenadas, suponho, mas não as recusaria também. O que faria com certeza era ir atrás dos cães, a pedrada, até onde lhe dessem as pernas. E se tivesse um pau, iria a pau. Capitu morria por aquele batalhador futuro.

–Não sai a nós, que gostamos da paz, disse-me ela um dia. mas papai em moço era assim também; mamãe é que contava.

–Sim não sairá maricas, repliquei, eu só lhe descubro um defeitozinho gosta de imitar os outros.

–Imitar como?

–Imitar os gestos, os modos, as atitudes; imita prima Justina, imita José Dias; já lhe achei até um jeito dos pés de Escobar e dos olhos…

Capitu deixou-se estar pensando e olhando para mim, e disse afinal que era preciso emendá-lo. Agora reparava que realmente era vezo do filho, mas parecia-lhe que era só imitar por imitar, como sucede a muitas pessoas grandes, que tomam as maneiras dos outros; e para que não fosse mais longe…

–Também não vamos mortificá-lo. Sempre há tempo de corrigi-lo.

–Há, vou ver. Você também não era assim, quando se zangava com alguém…

–Quando me zangava, concordo; vingança de menino.

–Sim, mas eu não gosto de imitações em casa.

–E naquele tempo gostavas de mim? disse eu batendo-lhe na face.

A resposta de Capitu foi um riso doce de escárnio, um desses risos que não se descrevem, e apenas se pintarão, depois estirou os braços e atirou-mos sobre os ombros, tão cheios de graça que pareciam (velha imagem!) um colar de flores. Eu fiz o mesmo aos meus, e senti não haver ali um escultor que nos transferisse a atitude a um pedaço de mármore. Só brilharia o artista, é certo. Quando uma pessoa ou um grupo saem bem, ninguém quer saber de modelo, mas da obra, e a obra é que fica. Não importa; nós saberíamos que éramos nós.

CAPÍTULO CXIII / EMBARGOS DE TERCEIRO

Por falar nisto, é natural que me perguntes se, sendo antes tão cioso dela, não continuei a sê-lo apesar do filho e dos anos. Sim. senhor, continuei. Continuei, a tal ponto que o menor gesto me afligia, a mais ínfima palavra, uma insistência qualquer; muita vez só a indiferença bastava. Cheguei a ter ciúmes de tudo e de todos. Um vizinho, um par de valsa, qualquer homem, moço ou maduro, me enchia de terror ou desconfiança. É certo que Capitu gostava de ser vista, e o meio mais próprio a tal fim (disse-me uma senhora, um dia) é ver também, e não há ver sem mostrar que se vê.

A senhora que me disse isto cuido que gostou de mim, e foi naturalmente por não achar da minha parte correspondência aos seus afetos que me explicou daquela maneira os seus olhos teimosos. Outros olhos me procuravam também, não muitos, e não digo nada sobre eles, tendo aliás confessado a princípio as minhas aventuras vindouras, mas eram ainda vindouras. Naquele tempo, por mais mulheres bonitas que achasse, nenhuma receberia a mínima parte do amor que tinha a Capitu. A minha própria mãe não queria mais que metade. Capitu era tudo e mais que tudo; não vivia nem trabalhava que não fosse pensando nela. Ao teatro íamos juntos; só me lembra que fosse duas vezes sem ela, um benefício de ator, e uma estréia de ópera, a que ela não foi por ter adoecido, mas quis por força que eu fosse. Era tarde para mandar o camarote a Escobar, saí, mas voltei no fim do primeiro ato. Encontrei Escobar à porta do corredor.

–Vinha falar-te, disse-me ele.

Expliquei-lhe que tinha saído para o teatro donde voltara receoso de Capitu, que ficara doente.

–Doente de quê? perguntou Escobar.

–Queixava-se da cabeça e do estômago.

–Então, vou-me embora. Vinha para aquele negócio dos embargos…

Eram uns embargos de terceiro; ocorrera um incidente importante, e, tendo ele jantado na cidade, não quis ir para casa sem dizer-me o que era, mas já agora falaria depois…

–Não, falemos já, sobe; ela pode estar melhor. Se estiver pior, desces.

Capitu estava melhor e até boa. Confessou-me que apenas tivera uma dor de cabeça de nada, mas agravara o padecimento para que eu fosse divertir-me. Não falava alegre, o que me fez desconfiar que mentia, para me não meter medo, mas jurou que era a verdade pura. Escobar sorriu e disse:

–A cunhadinha está tão doente como você ou eu. Vamos aos embargos.

CAPÍTULO CXIV / EM QUE SE EXPLICA O EXPLICADO

Antes de ir aos embargos, expliquemos ainda um ponto que já ficou explicado, mas não bem explicado. Viste que eu pedi (cap. CX) a um professor de música de S. Paulo que me escrevesse a toada daquele pregão de doces de Mata-cavalos. Em si, a matéria é chocha, e não vale a pena de um capítulo, quanto mais dous; mas há matérias tais que trazem ensinamentos interessantes, senão agradáveis. Expliquemos o explicado.

Capitu e eu tínhamos jurado não esquecer mais aquele pregão; foi em momento de grande ternura, e o tabelião divino sabe as cousas que se juram em tais momentos, ele que as registra nos livros eternos.

–Você jura?

–Juro, disse ela estendendo tragicamente o braço.

Aproveitei o gesto para beijar-lhe a mão; estava ainda no seminário. Quando fui para S. Paulo, querendo um dia relembrar a toada, vi que a ia perdendo inteiramente; consegui recordá-la e corri ao professor, que me fez o obséquio de a escrever no pedacinho de papel.

Foi para não faltar ao juramento que fiz isto. Mas hás de crer que quando corri aos papéis velhos, naquela noite da Glória, também não me lembrava já da toada nem do texto? Fiz-me de pontual ao juramento, e este é que foi o meu pecado; esquecer, qualquer esquece.

Ao certo, ninguém sabe se há de manter ou não um juramento. Cousas futuras! Portanto, a nossa constituição política, transferindo o juramento à afirmação simples, é profundamente moral. Acabou com um pecado terrível. Faltar ao compromisso é sempre infidelidade, mas a alguém que tenha mais temor a Deus que aos homens não lhe importará mentir, uma vez ou outra, desde que não mete a alma no purgatório. Não confudam purgatório com inferno, que é o eterno naufrágio. Purgatório é uma casa de penhores, que empresta sobre todas as virtudes, a juro alto e prazo curto. Mas os prazos renovam-se, até que um dia uma ou duas virtudes medianas pagam todos os pecados grandes e pequenos.

CAPÍTULO CXV / DÚVIDAS SOBRE DÚVIDAS

Vamos agora aos embargos… E por que iremos aos embargos? Deus sabe o que custa escrevê-los, quanto mais contá-los. Da circunstancia nova que Escobar me trazia apenas digo o que lhe disse então, isto é, que não valia nada.

–Nada?

–Quase nada.

–Então vale alguma cousa.

— Para reforçar as razões que já temos vale menos que o chá que você vai tomar comigo.

–É tarde para tomar chá.

–Tomaremos depressa.

Tomamos depressa. Durante ele, Escobar olhava para mim descer fiado, como se cuidasse que eu recusava a circunstancia nova para forrar-me a escrevê-la, mas tal suspeita não ia com a nossa amizade.

Quando ele saiu, referi as minhas dúvidas a Capitu; ela as desfez com a arte fina que possuía, um jeito uma graça toda sua, capaz de dissipar as mesmas tristezas de Olímpio.

–Seria o negócio dos embargos, concluiu; e ele que veio até aqui. a esta hora, é que está impressionado com a demanda.

–Tens razão.

Palavra puxa palavra, falei de outras dúvidas. Eu era então um poço delas; coaxavam dentro de mim, como verdadeiras rãs, a ponto de me tirarem o sono algumas vezes. Disse-lhe que começava a achar minha mãe um tanto fria e arredia com ela. Pois aqui mesmo valeu a arte fina de Capitu.

–Já disse a você o que é; cousas de sogra. Mamãezinha tem ciúmes de você; logo que eles passem e as saudades aumentem, ela torna a ser o que era. Em lhe faltando o neto…

–Mas eu tenho notado que já é fria também com Ezequiel Quando ele vai comigo, mamãe não lhe faz as mesmas graças.

–Quem sabe se não anda doente?

–Vamos nós jantar com ela amanhã?

–Vamos… Não… Pois vamos.

Fomos jantar com a minha velha. Já lhe podia chamar assim, posto que os seus cabelos brancos não o fossem todos nem totalmente, e o rosto estivesse comparativamente fresco- era uma espécie de mocidade qüinquagenária ou de ancianidade viçosa, à escolha… Mas nada de melancolias; não quero falar dos olhos molhados, à entrada e à saída. Pouco entrou na conversação. Também não era diferente da costumada. José Dias falou do casamento e suas belezas, da política, da Europa e da homeopatia, tio Cosme das suas moléstias, prima Justina da vizinhança, ou de José Dias, quando este saía da sala.

Quando voltamos, à noite, viemos por ali a pé, falando das minhas dúvidas. Capitu novamente me aconselhou que esperássemos. Sogras eram todas assim; lá vinha um dia e mudavam. Ao passo que me falava, recrudescia de ternura. Dali em diante foi cada vez mais doce comigo; não me ia esperar à janela, para não espertar-me os ciúmes, mas quando eu subia, via no alto da escada, entre as grades da cancela, a cara deliciosa da minha amiga e esposa, risonha como toda a nossa infância. Ezequiel às vezes estava com ela; nós o havíamos acostumado a ver o ósculo da chegada e da saída. e ele enchia-me a cara de beijos.

CAPÍTULO CXVI / FILHO DO HOMEM

Apalpei José Dias sobre as maneiras novas de minha mãe; ficou espantado. Não havia nada, nem podia haver cousa nenhuma, tantos eram os louvores incessantes que ele ouvia “à bela e virtuosa Capitu.”

–Agora, quando os ouço, entro também no coro, mas a princípio ficava envergonhadíssimo. Para quem chegou, como eu, a arrenegar deste casamento, era duro confessar que ele foi uma verdadeira bênção do céu. Que digna senhora nos saiu a criança travessa de Mata-cavalos. O pai é que nos separou um pouco, enquanto não nos conhecíamos, mas tudo acabou em bem. Pois, sim, senhor, quando D. Glória elogia a sua nora e comadre…

–Então mamãe?…

–Perfeitamente!

–Mas, por que é que não nos visita há tanto tempo?

–Creio que tem andado mais achacada dos seus reumatismos. Este ano tem feito muito frio… Imagine a aflição dela, que andava o dia inteiro; agora é obrigada a estar quieta, ao pé do irmão, que lá tem o seu mal…

Quis observar-lhe que tal razão explicava a interrupção das visitas, e não a frieza quando íamos nós a Mata-cavalos; mas não estendi tão longe a intimidade do agregado. José Dias pediu para ver o nosso “profetazinho” (assim chamava a Ezequiel) e fez-lhe as festas do costume. Desta vez falou ao modo bíblico (estivera na véspera a folhear o livro de Ezequiel, como soube depois) e perguntava-lhe: “Como vai isso, filho do homem?” “Dize-me, filho do homem, onde estão os teus brinquedos?” “Queres comer doce, filho do homem?”

–Que filho do homem é esse? perguntou-lhe Capitu agastada.

–São os modos de dizer da Bíblia.

–Pois eu não gosto deles, replicou ela com aspereza.

–Tem razão, Capitu, concordou o agregado. Você não imagina como a Bíblia é cheia de expressões cruas e grosseiras. Eu falava assim para variar… Tu como vais, meu anjo? Meu anjo, como é que eu ando na rua?

–Não, atalhou Capitu; já lhe vou tirando esse costume de imitar os outros.

–Mas tem muita graça; a mim, quando ele copia os meus gestos, parece-me que sou eu mesmo, pequenino. Outro dia chegou a fazer um gesto de D. Glória, tão bem que ela lhe deu um beijo em paga. Vamos, como é que eu ando?

–Não, Ezequiel, disse eu, mamãe não quer.

Eu mesmo achava feio tal sestro. Alguns dos gestos já lhe iam ficando mais repetidos, como os das mãos e pés de Escobar, ultimamente, até apanhara o modo de voltar a cabeça deste, quando falava, e o de deixá-la cair, quando ria. Capitu ralhava. Mas o menino era travesso, como o diabo; apenas começamos a falar de outra cousa, saltou ao meio da sala, dizendo a José Dias:

–O senhor anda assim.

Não podemos deixar de rir, eu mais que ninguém. A primeira pessoa que fechou a cara, que o repreendeu e chamou a si foi Capitu.

–Não quero isso, ouviu?

CAPÍTULO CXVII / AMIGOS PRÓXIMOS

Já então Escobar deixara Andaraí e comprara uma casa no Flamengo, casa que ainda ali vi, há dias, quando me deu na gana experimentar se as sensações antigas estavam mortas ou dormiam só; não posso dizê-lo bem, porque os sonos, quando são pesados, confundem vivos e defuntos, a não ser a respiração. Eu respirava um pouco, mas pode ser que fosse do mar, meio agitado. Enfim, passei, acendi um charuto, e dei por mim no Catete, tinha subido pela Rua da Princesa, uma rua antiga… o ruas antigas! ó casas antigas! ó pernas antigas! Todos nós éramos antigos, e não é preciso dizer que no mau sentido, no sentido de velho e acabado.

Velha é a casa, mas não lhe alteraram nada. Não sei até se ainda tem o mesmo número. Não digo que número é para não irem indagar e cavar a história. Não é que Escobar ainda lá more nem sequer viva; morreu pouco depois, por um modo que hei de contar. Enquanto viveu, uma vez que estávamos tão próximos, tínhamos por assim dizer uma só casa- eu vivia na dele, ele na minha, e o pedaço de praia entre a Glória e o Flamengo era como um caminho de uso próprio e particular. Fazia-me pensar nas duas casas de Mata-cavalos, com o seu muro de permeio.

Um historiador da nossa língua, creio que João de Barros, põe na boca de um rei bárbaro algumas palavras mansas, quando os portugueses lhe propunham estabelecer ali ao pé uma fortaleza, dizia o rei que os bons amigos deviam ficar longe uns dos outros, não perto, para se não zangarem como as águas do mar que batiam furiosas no rochedo que eles viam dali. Que a sombra do escritor me perdoe, se eu duvido que o rei dissesse tal palavra nem que ela seja verdadeira. Provavelmente foi o mesmo escritor que a inventou para adornar o texto, e não fez mal, porque é bonita; realmente, é bonita. Eu creio que o mar então batia na pedra, como é seu costume, desde Ulisses e antes. Agora que a comparação seja verdadeira é que não. Seguramente há inimigos contíguos, mas também há amigos de perto e do peito. E o escritor esquecia (salvo se ainda não era do seu tempo) esquecia o adágio: longe dos olhos, longe do coração. Nós não podíamos ter os corações agora mais perto. As nossas mulheres viviam na casa uma da outra, nós passávamos as noites cá ou lá conversando, jogando ou mirando o mar. Os dous pequenos passavam dias, ora no Flamengo, ora na Glória.

Como eu observasse que podia acontecer com eles o que se dera entre mim e Capitu, acharam todos que sim, e Sancha acrescentou que até já se iam parecendo. Eu expliquei:

–Não; é porque Ezequiel imita os gestos dos outros.

Escobar concordou comigo, e insinuou que alguma vez as crianças que se freqüentam muito acabam parecendo-se umas com as outras. Opinei de cabeça, como me sucedia nas matérias que eu não sabia bem nem mal. Tudo podia ser. O certo é que eles se queriam muito, e podiam acabar casados, mas não acabaram casados.

CAPÍTULO CXVIII / A MÃO DE SANCHA

Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura muito tempo. Esta segunda parte não acha crentes fáceis, ao contrário, a idéia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito, dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que se não perca o costume daquelas construções quase eternas.

O nosso castelo era sólido, mas um domingo… Na véspera tínhamos passado a noite no Flamengo, não só os dous casais inseparáveis, como ainda o agregado e prima Justina. Foi então que Escobar, falando-me à janela, disse-me que fôssemos lá jantar no dia seguinte; precisávamos falar de um projeto em família, um projeto para os quatro.

–Para os quatro? Uma contradança.

–Não. Não és capaz de adivinhar o que seja, nem eu digo. Vem amanhã.

Sancha não tirava os olhos de nós durante a conversa, ao canto da janela. Quando o marido saiu, veio ter comigo. Perguntou-me de que é que faláramos- disse-lhe que de um projeto que eu não sabia qual fosse, ela pediu-me segredo e revelou-me o que era: uma viagem à Europa dali a dous anos. Disse isto de costas para dentro, quase suspirando. O mar batia com grande força na praia; havia ressaca.

–Vamos todos? perguntei por fim.

–Vamos.

Sancha ergueu a cabeça e olhou para mim com tanto prazer que eu, graças às relações dela e Capitu, não se me daria beijá-la na testa. Entretanto, os olhos de Sancha não convidavam a expansões fraterais, pareciam quentes e intimativos, diziam outra cousa, e não tardou que se afastassem da janela, onde eu fiquei olhando para o mar, pensativo. A noite era clara.

Dali mesmo busquei os olhos de Sancha, ao pé do piano; encontrei-os em caminho. Pararam os quatro e ficaram diante uns dos outros, uns esperando que os outros passassem, mas nenhum passavam. Tal se dá na rua entre dous teimosos. A cautela desligou-nos eu tornei a voltar-me para fora. E assim posto entrei a cavar na memória se alguma vez olhara para ela com a mesma expressão, e fiquei incerto. Tive um certeza só, é que um dia pensei nela, como se pensa na bela desconhecida que passa; mas então dar-se-ia que ela adivinhando… Talvez o simples pensamento me transluzisse cá fora, e ela me fugisse outrora irritada ou acanhada, e agora por um movimento invencível… Invencível; esta palavra foi como uma bênção de padre à missa, que a gente recebe e repete em si mesma.

–O mar amanhã está de desafiar a gente, disse-me a voz de Escobar, ao pé de mim.

–Você entra no mar amanhã?

–Tenho entrado com mares maiores, muito maiores. Você não imagina o que é um bom mar em hora bravia. É preciso nadar bem, como eu, e ter estes pulmões disse ele batendo no peito, e estes braços; apalpa.

Apalpei-lhe os braços, como se fossem os de Sancha. Custa-me esta confissão, mas não posso suprimi-la; era jarretar a verdade. Nem só os apalpei com essa idéia, mas ainda senti outra cousa, achei-os mais grossos e fortes que os meus, e tive-lhes inveja; acresce que sabiam nadar.

Quando saímos, tornei a falar com os olhos à dona da casa. A mão dela apertou muito a minha, e demorou-se mais que de costume

A modéstia pedia então, como agora, que eu visse naquele gesto de Sancha uma sanção ao projeto do marido e um agradecimento. Assim devia ser. mas o fluido particular que me correu todo o corpo desviou de mim a conclusão que deixo escrita. Senti ainda os dedos de Sancha entre os meus, apertando uns aos outros. Foi um instante de vertigem e de pecado. Passou depressa no relógio do tempo; quando cheguei o relógio ao ouvido, trabalhavam só os minutos da virtude e da razão.

— …Uma senhora deliciosíssima, concluiu José Dias um discurso que vinha fazendo.

–Deliciosíssima! repeti com algum ardor, que moderei logo, emendando-me: Realmente, uma bela noite!

–Como devem ser todas as daquela casa, continuou o agregado. Cá fora, não, cá fora o mar está zangado; escute.

Ouvia-se o mar forte,–como já se ouvia de casa,–a ressaca era grande e, a distancia, viam-se crescer as ondas. Capitu e prima Justina, que iam adiante, detiveram-se numa das voltas da praia, e fomos conversando os quatro, mas eu conversava mal. Não havia meio de esquecer inteiramente a mão de Sancha nem os olhos que trocamos. Agora achava-lhes isto, agora aquilo. Os instantes do Daho intercalavam-se nos minutos de Deus, e o relógio foi assim marcando alternativamente a minha perdição e a minha salvação. José Dias despediu-se de nós à porta. Prima Justina dormiu em nossa casa; iria embora, no dia seguinte, depois do almoço e da missa. Eu recolhi-me ao meu gabinete, onde me demorei mais que de costume.

O retrato de Escobar, que eu tinha ali, ao pé do de minha mãe, falou-me como se fosse a própria pessoa. Combati sinceramente os impulsos que trazia do Flamengo, rejeitei a figura da mulher do meu amigo, e chamei-me desleal. Demais, quem me afirmava que houvesse alguma intenção daquela espécie no gesto da despedida e nos anteriores? Tudo podia ligar-se ao interesse da nossa viagem. Sancha e Capitu eram tão amigas que seria um prazer mais para elas irem juntas. Quando houvesse alguma intenção sexual, quem me provaria que não era mais que uma sensação fulgurante, destinada a morrer com a noite e o sono? Há remorsos que não nascem de outro pecado, nem têm maior duração. Agarrei-me a esta hipótese que se conciliava com a mão de Sancha, que eu sentia de memória dentro da minha mão, quente e demorada, apertada e apertando…

Sinceramente, eu achava-me mal entre um amigo e a atração. A timidez pode ser que fosse outra causa daquela crise; não é só o céu que dá as nossas virtudes, a timidez também, não contando o acaso, mas o acaso é um mero acidente; a melhor origem delas é o céu. Entretanto, como a timidez vem do céu, que nos dá a compleicão, a virtude, filha dela, é, genealogicamente, o mesmo sangue celestial. Assim refletiria se pudesse, mas a princípio vaguei à toa. Paixão não era nem insinuação. Capricho seria ou quê? Ao fim de vinte minutos era nada, inteiramente nada. O retrato de Escobar pareceu falar-me- vi-lhe a atitude franca e simples, sacudi a cabeça e fui deitar-me.

CAPÍTULO CXIX / NÃO FAÇA ISSO, QUERIDA!

A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo.

CAPÍTULO CXX / OS AUTOS

Na manhã seguinte acordei livre das abominações da véspera; chamei-lhes alucinações, tomei café, percorri os jornais e fui estudar uns autos. Capitu e prima Justina saíram para a missa das nove, na Lapa. A figura de Sancha desapareceu inteiramente no meio das alegações da parte adversa, que eu ia lendo nos autos, alegações falsas, inadmissíveis, sem apoio na lei nem nas praxes. Vi que era fácil ganhar a demanda- consultei Dalloz, Pereira e Sousa…

Uma só vez olhei para o retrato de Escobar. Era uma bela fotografia tirada um ano antes. Estava de pé, sobrecasaca abotoada, a mão esquerda no dorso de uma cadeira, a direita metida ao peito, o olhar ao longe para a esquerda do espectador. Tinha garbo e naturalidade. A moldura que lhe mandei pôr não encobria a dedicatória, escrita embaixo, não nas costas do cartão: “Ao meu querido Bentinho o seu querido Escobar 20-4-70.” Estas palavras fortaleceram-me os pensamentos daquela manhã, e espancaram de todo as recordações da véspera. Naquele tempo a minha vista era boa; eu podia lê-las do lugar em que estava. Tornei aos autos.
–––––––––-
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

2a. Antologia “Logos” da Fénix (Convite para Participação até 3 de Maio)

Queridos Amigos,

Após o êxito da nossa 1ª Antologia “LOGOS” de Março último, voltamos a ter o prazer
de endossar-lhes o nosso Convite de participação

na 2ª Antologia “LOGOS” DA FÉNIX.

Agradecemos o seu envio imediato com data limite até 3 de Maio próximo.

Leia abaixo as respectivas instruções no texto integral do nosso CONVITE.

Esperamos por vós, prezados Poetas e Prosadores!

Com o nosso abraço.
Carmo Vasconcelos e Henrique Lacerda Ramalho

Fénix
DE
CARMO VASCONCELOS
E
HENRIQUE LACERDA RAMALHO

Convite

2ª ANTOLOGIA “LOGOS”
Ano 2013

Prezados Escritores, Poetas e Amigos,
É com muito prazer que vimos convidá-los a participarem da 2ª Antologia “LOGOS” da “Fénix” – Ano 2013.

(COMO SEMPRE, PARTICIPAÇÃO GRATUITA)

A Antologia será sob TEMA LIVRE, EM PROSA OU VERSO (1 único trabalho), em Word, sem formatação, acompanhado duma foto do autor, em anexo. Quem já enviou foto para a 1ª Antologia, fica dispensado deste envio.

As participações deverão ser remetidas, se possível com aviso de recepção, e unicamente para o seguinte e-mail
carminhov@hotmail.com
até ao dia 03 de Maio de 2013

A Fénix aguarda os vossos trabalhos, e desde já agradece a gentil participação.

Fonte:
Carmo Vasconcelos

Deixe um comentário

Arquivado em Convite, participação

22º Concurso Poemas no Ônibus e no Trem de Porto Alegre (Prazo: 17 de Maio de 2013)

Organização:
Prefeitura de Porto Alegre – SMC
EPTC, Companhia Carris Porto-Alegrense, ATP e Trensurb
Regulamento:

1. DA FINALIDADE:

Estimular e divulgar, de forma abrangente, a produção poética. Para tanto, o Município de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal da Cultura (SMC) e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), em parceria com a Companhia Carris Porto-Alegrense, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) e a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A – Trensurb, propõem a 22ª edição do Concurso Poemas no Ônibus e 10ª edição do Poemas no Trem, que selecionará até 50 (cinquenta) poemas, de acordo com a demanda por parte das empresas de transporte coletivo, para veiculação na frota de ônibus de Porto Alegre e nos trens da Empresa Trensurb, ressaltando a soberania do Júri na seleção dos mesmos.

2. DA ORGANIZAÇÃO:

O concurso será organizado pela PMPA, através da Secretaria Municipal da Cultura.

3. DA INSCRIÇÃO:

3.1. As inscrições podem ser feitas de 01 de abril a 17 de maio de 2013, e podem ser feitas de três formas:

3.1.1. INSCRIÇÃO NA COORDENAÇÃO DO LIVRO E LITERATURA (CLL): cada candidato deverá entregar 06 (seis) cópias do trabalho inscrito e trazer os dados para preencher sua ficha de inscrição (anexo 1). As inscrições podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h, na Coordenação do Livro e Literatura / Editora da Cidade (Av. Erico Verissimo, 307 – Bairro Menino Deus. Porto Alegre – RS).

3.1.2. INSCRIÇÃO PELO CORREIO: cada candidato deverá enviar 06 (seis) cópias do trabalho inscrito e a ficha de inscrição preenchida (anexo 1). A postagem deverá ser efetuada até o dia 18 de maio (será considerada a data do carimbo dos Correios), para o seguinte endereço:

Concurso Poemas no Ônibus e no Trem Edição 2012
Coordenação do Livro e Literatura
Av. Erico Verissimo, 307, Bairro Menino Deus
Porto Alegre / RS CEP: 90160-181

A confirmação da inscrição pode ser feita pelo telefone 0xx 51 3289.8074 ou pelo e-mail poemasonibus@smc.prefpoa.com.br

3.1.3. INSCRIÇÃO PELA INTERNET:

Cada candidato poderá inscrever APENAS um poema, sob pena de anulação, que deverá ser enviado em formato Word junto com a ficha de inscrição, disponível no site da Prefeitura, preenchida com todos os dados solicitados nela: nome completo, endereço completo, telefone para contato, e-mail, profissão, como ficou sabendo do concurso, título do trabalho. Se não houver título, o autor deverá identificar o poema com o primeiro verso.

As inscrições só poderão ser feitas até às 18h (horário de Brasília) do dia 17 de maio, depois desse horário, o acesso será bloqueado. Se por ventura o sistema aceitar o ingresso de inscrição, a mesma não será considerada válida após o horário estipulado acima. Os trabalhos inscritos no site serão impressos pela Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa).

A confirmação da inscrição pode ser feita pelo telefone 0xx 51 3289.8074 ou pelo e-mail poemasonibus@smc.prefpoa.com.br.

Site para inscrição:
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=172

IMPORTANTE: Cada participante só poderá realizar uma única inscrição pela internet, mais de uma implicará na desclassificação automática do candidato no concurso.

ATENÇÃO: quando for feito o anexo do arquivo do poema, o mesmo deverá conter apenas o poema e título, se houver.

3.2. As inscrições SOMENTE serão efetivadas mediante a entrega do poema de acordo com as seguintes regras:

3.2.1. cada candidato poderá inscrever somente 1 (hum) único poema que deve ser inédito; entende-se como inédito o poema nunca antes publicado em QUALQUER veículo, seja impresso ou eletrônico (sites, blogs etc).

3.2.2. o poema deverá ter no máximo 14 (quatorze) versos (linhas), em Língua Portuguesa;

3.2.3. entregar 06 (seis) cópias do poema, quando efetuada a inscrição na CLL ou pelo Correios. A inscrição pela Internet obedecerá outra norma.

3.2.4 não serão aceitas cópias manuscritas; os poemas inscritos deverão ser entregues datilografados ou digitados em folha de papel A4 ou ofício, em fonte 12, espaçamento de linha 1,5, no formato vertical e sem imagens, contendo no máximo 45 toques cada verso. Leia-se toque qualquer tecla acionada no teclado no ato da digitação do texto: pontuação, espaço, etc. Não serão aceitas inscrições de poemas no formato horizontal da folha.

3.2.5 em cada cópia constará, além do poema, APENAS o título do trabalho.

3.2.6 no caso de inscrições pelos Correios e/ou pessoalmente, NÃO serão aceitos trabalhos que não estiverem estritamente de acordo com este REGULAMENTO e, em envelope anexo, o candidato deverá enviar a ficha de inscrição (anexo 1) preenchida com todos os dados solicitados:

• Nome completo.
• Dados de documento de identidade (número, órgão expedidor, local de expedição);
• Endereço completo;
• Telefone para contato;
• E-mail, se houver;
• Profissão;
• Como ficou sabendo do concurso e por que está participando;
• Título do trabalho; se não houver título, o autor deverá identificá-lo com o primeiro verso.

3.3. A organização do concurso não se responsabiliza por eventuais problemas de revisão de poemas cuja ficha de inscrição não apresente os dados completos (artigo 3.2.6)

3.4. Os poemas enviados que não estiverem de acordo com o REGULAMENTO terão automaticamente suas inscrições invalidadas.

3.5. As inscrições que não estiverem de acordo com o REGULAMENTO serão automaticamente invalidadas.

Obs: Caso ocorra qualquer problema na inscrição do candidato pela internet , em hipótese alguma deverá ser enviado um novo trabalho, isso implicará numa nova inscrição, não permitida pelo REGULAMENTO. Neste caso, o participante deve procurar a organização do concurso pelos contatos: 51 3289.8074 ou pelo e-mail poemasonibus@smc.prefpoa.com.br

4. DA PARTICIPAÇÃO:

4.1. O Concurso é aberto a todos os interessados, exceto aos funcionários da PMPA, de acordo com a LC 133/85 (CC´s, estagiários, terceirizados e funcionários de autarquias), e dos parceiros da ATP, Carris e Empresa Trensurb. Essa exceção não se aplica aos aposentados.

Os trabalhos inscritos não serão devolvidos.

O ato da inscrição de todos os trabalhos implica automaticamente na cessão dos direitos autorais para publicação (adesivos, coletânea Poemas no Ônibus e no Trem e meios eletrônicos) ou utilização em qualquer outra forma de veiculação do Projeto, sempre que assim for decidido pela SMC.

5. DA SELEÇÃO:

5.1. A Secretaria Municipal da Cultura, através da Coordenação do Livro e Literatura (CLL), designará um júri composto por 5 (cinco) pessoas representativas da área da literatura, nomeado pelo Secretário Municipal da Cultura através de Portaria. A este júri confere-se o poder soberano de seleção de até 50 poemas.

5.2. A Comissão de Seleção terá como critérios:
Criatividade, Ineditismo, Qualidade do Texto (ortografia, normas da língua oral e escrita, estilo).

5.2.1 A Comissão Julgadora atribuirá a cada trabalho pontuação na escala de 1 a 5 para cada critério supracitado, sendo que a nota mínima, 1, deverá ser atribuída ao critério que menos se adequar aos objetivos deste concurso e a nota máxima, 5, àquele que melhor se adequar ao mesmo. Os premiados serão aqueles que atingirem os maiores valores no somatório de pontos.

5.2.2. As pontuações não serão divulgadas. A decisão do Júri é soberana e estará alicerçada pelos critérios que balizam sua escolha.

5.3. A arte gráfica da matriz onde o poema será impresso é elaborada por uma equipe especializada e, uma vez inscrito o poema, o autor concorda com essa condição, isentando-se de qualquer questionamento quanto à apresentação gráfica da matriz. OBS: a disposição visual do poema será mantida tal qual o autor inscreveu no concurso.

5.4. O corpo de jurados receberá a título de cachê pelo trabalho de seleção dos poemas o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) a cada jurado.

6. DA DIVULGAÇÃO DO RESULTADO:

O resultado do Concurso será divulgado durante o mês de setembro de 2013, e pode ser conhecido através do telefone 156 (número de informações da PMPA), do site da PMPA (www.portoalegre.rs.gov.br, entrar em Secretarias, clicar em Cultura, depois em Literatura e Poemas no Ônibus) e terá publicação no Diário Oficial de Porto Alegre e em jornal de grande circulação na Cidade.

Os autores selecionados serão avisados por telefonema ou e-mail, em momento oportuno. A coletânea dos poemas selecionados/2013 será lançada na 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.

7. DOS RECURSOS:

7.1.Os interessados poderão impugnar este Edital/Regulamento até 05 (cinco) dias úteis antes da abertura das inscrições com base na Lei 8666/93, artigo 41. Os pedidos de impugnação devem ser protocolados na Coordenação do Livro e Literatura (haverá formulário específico a ser preenchido no local), mesmo endereço das inscrições. Perderá o direito de impugnar o presente Regulamento quem não o fizer no prazo previsto. Os inscritos, portanto, estarão, automaticamente, em concordância com os termos deste Regulamento.

7.2 Da decisão da Organização do Concurso que inabilitar as inscrições apresentadas, em razão de documentos exigidos ou apresentados em desconformidade com o exigido, caberá recurso administrativo de 05 (cinco) dias úteis, a contar da publicação do resultado no DOPA e protocolados na Coordenação do Livro e Literatura. O recurso apresentado será julgado no prazo máximo de 05 (cinco) dias úteis.

8. DA PREMIAÇÃO:

O prêmio aos selecionados será a veiculação dos poemas nos ônibus de Porto Alegre e trens da Trensurb, e a edição e lançamento de livro com os poemas selecionados, mais uma cota de livros equivalente 30% do total da edição, valor a ser dividido entre os autores selecionados a título de quitação de direitos autorais.

9. DA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA:

As despesas decorrentes do presente Concurso correrão por conta da dotação orçamentária n° 1003.2429.339036;1003.2429.339039;1003.2429.339031.

10. DAS OUTRAS DISPOSIÇÕES:

A inscrição dos trabalhos neste concurso implica conhecimento integral dos termos do presente Regulamento. Casos omissos serão resolvidos pela SMC, observada a legislação pertinente.

11. DO CRONOGRAMA:

11.1 Inscrições: de 01 de abril a 17 de maio de 2013.

11.2 Seleção: primeira quinzena de agosto de 2013.

11.3. Divulgação do resultado: segunda quinzena de agosto de 2013.

11.4. Lançamento do livro: em dia a confirmar, durante a 59ª Feira do Livro de Porto Alegre.

INFORMAÇÕES e obtenção do inteiro teor do Regulamento.

Coordenação do Livro e Literatura
Centro Municipal de Cultura
Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues
(Av. Erico Verissimo, 307; CEP: 90.160-181)
e-mail: poemasonibus@smc.prefpoa.com.br;
http://www.portoalegre.rs.gov.br/smc
Telefone: 0xx 51 3289 8074
Horário: das 09h às 12h e das 14h às 18h.

Porto Alegre, 27 de março de 2013.

Roque Jacoby
Secretário Municipal da Cultura

Contato e Dúvidas:
poemasonibus@smc.prefpoa.com.br

Fonte:
http://coordenacaodolivro.blogspot.com.br/2013/04/o-concurso-poemas-no-onibus-e-no-trem.html

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

XXI Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista (Prazo: 5 de Maio de 2013)

Organização:


Academia de Letras de São João da Boa Vista

Regulamento:

XXI CONCURSO DE POESIA E PROSA da ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Patrono: Antônio “Nino” Barbin
2013

OBJETIVOS

Revelar poesias e trabalhos em prosa, inéditos; aprimorar o gosto pela arte literária; e incentivar novos talentos.

Tornar enaltecidos imortais da Academia de Letras de São João da Boa Vista, que dão nome aos prêmios do primeiro colocado, em cada categoria literária do concurso, bem como o patrono de cada edição.

Poesia – Prêmio Emílio Lansac Toha
Prosa – Prêmio Fábio de Carvalho Noronha
PRÊMIO ESPECIAL – 3ª Idade – Prêmio Otávio Pereira Leite

CONCORRENTES

Podem se inscrever todos os interessados, em ambas as categorias, COM APENAS UM TRABALHO EM CADA CATEGORIA.

Cada trabalho deverá ser digitado ou datilografado EM TRÊS VIAS, espaço um e meio, de um só lado do papel (A4), contendo, NO MÁXIMO, TRÊS FOLHAS, fonte Arial 12.

O tema é livre, sendo exigido texto inédito.

O concurso, vedado aos Membros da Academia de Letras de São João da Boa Vista, envolverá QUATRO FAIXAS ETÁRIAS:

– ATÉ 12 ANOS.
– DE 13 A 18 ANOS.
– DE 19 ANOS EM DIANTE
– MAIORES DE 60 ANOS

INSCRIÇÕES

Os trabalhos deverão ser enviados para:
Academia de Letras de São João da Boa Vista, Rua Romeu Nhola, 155 – Colinas da Mantiqueira – CEP: 13874-377 – São João da Boa Vista – SP, aos cuidados de Silvia Ferrante.

Ou via Internet, pelo e-mail – secretariaalsjbv@gmail.com

Os textos enviados pelo correio deverão ser remetidos em dois envelopes. O primeiro, maior, deve ter, por fora, no alto, a identificação da categoria literária a que se está concorrendo (poesia ou prosa), além do endereço da Academia. Dentro desse envelope, o trabalho do autor, não identificado, (apenas com pseudônimo) e outro envelope menor, fechado, onde constem, na face externa: a idade, o pseudônimo do autor e o nome da obra; dentro desse envelope menor, a ficha de inscrição devidamente preenchida. (vide modelo no final do edital). Não será necessário enviar currículo ou cópias de documentos.

O prazo para a entrega dos trabalhos será de 15 de fevereiro a 05 de maio de 2013. Em caso de remessa pelo correio, a data do carimbo postal deverá respeitar o prazo supracitado.

JULGAMENTO

Será realizado entre os dias 25 de maio a 30 de junho de 2013, pelas Comissões Julgadoras.

PREMIAÇÃO

Os prêmios serão remetidos pelo correio, sendo que os premiados serão convidados a comparecer em Reunião Ordinária da Academia de Letras, que será realizada em data e local a serem definidos, quando serão homenageados. Os trabalhos de cada gênero serão classificados até o terceiro lugar, sendo que os primeiros classificados de cada categoria receberão Placas com seus nomes e o nome do Patrono. Receberão, também, Diploma com suas classificações.
Os segundos classificados de cada gênero receberão Placas com seus nomes e Diplomas com suas classificações.

Os terceiros classificados receberão Diplomas de Classificação.

Os três primeiros classificados, de cada categoria, terão seus trabalhos publicados numa Antologia a ser patrocinada pela Academia de Letras e no site da Academia, facultada a esta a publicação de outros classificados.

Não serão expedidos certificados de participação aos demais concorrentes. Aos premiados de cada categoria, será solicitado o envio das obras em versão digitada, via e-mail.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

A simples remessa de trabalhos significa aceitação completa deste regulamento. Os casos omissos serão julgados pela Comissão Organizadora, a quem cabe decisões definitivas e irrecorríveis. Os trabalhos remetidos, premiados ou não, passarão a pertencer à Academia de Letras e estarão arquivados por 1 (um) ano. Recomenda-se ao autor manter uma cópia em seu poder. Dados incompletos na ficha de inscrição implicarão na desclassificação do concorrente.

Mais informações no site http://www.alsjbv.com.br ou pelos e-mails:
silviaferrante@hotmail.com / secretariaalsjbv@gmail.com;
São João da Boa Vista, janeiro de 2013.

Lucelena Maia
Presidente

Silvia Ferrante
Coordenadora Geral

Ficha de Inscrição:
http://www.alsjbv.com.br/index_arquivos/ficha_de_inscricao.htm

Contato e Dúvidas:
secretariaalsjbv@gmail.com

Fonte:
http://www.alsjbv.com.br/index_arquivos/Edital.htm

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

26.º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba (Prazo: 03 de Maio de 2013)

Organização:
Prefeitura de Araçatuba
Secretaria Municipal de Cultura

Regulamento:

Art. 1º – A Secretaria Municipal de Cultura torna público o 26.º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba (internacional, mundo lusófono), destinado a escritores lusófonos de países que têm o português como idioma oficial.

§1.º – As inscrições se darão de 15 de janeiro a 03 de maio de 2013;

§ 2.º – Durante o concurso de 2013, será homenageado, o escritor Célio Pinheiro, professor de Literatura, fundador da Academia Araçatubense de Letras, ex-presidente do Conselho Municipal de Cultura de Araçatuba. Atualmente, sob forte enfermidade.

Da Participação

Art. 2º – Para concorrer, os interessados deverão mandar um conto inédito digitado, com pseudônimo, para o e-mail: contosaracatuba@gmail.com, na forma de dois anexos (postagem eletrônica):

ANEXO 1: o conto, com pseudônimo (Word)

ANEXO 2: título de seu conto, seu nome, R.G., e endereço de correio (rua, CEP, cidade, estado, telefone (fixo e celular) e pseudônimo usado no conto (Word)

§1.º: entende-se por inédito o conto que não participou de nenhuma coletânea de vários autores, nem de livro do participante como autor único e/ou tenha sido premiado em outro concurso literário realizado no seu país;

§2.º: os textos devem ser escritos em português, de acordo com o novo acordo ortográfico;

§3.º: serão desclassificados os contos postados após 03 de maio de 2013. Apenas serão aceitas inscrições e textos remetidos por e-mail. O recebimento será confirmado também eletronicamente;

§4.º: serão desclassificados os textos que a Comissão Julgadora considerar plágio evidente.

§5º: serão desclassificados os textos digitados em qualquer outra formatação que não a recomendada nos Art. 3º , 4º e 5º.

Da Apresentação

Art. 3º – Os textos (dois anexos) deverão ser digitados em corpo 14, espaço duplo, NÃO ultrapassar 10 (dez) páginas (mínimo duas), papel A4, margens de 2,0 cm, fonte “Times New Roman”.

Art. 5º. – A falta de algum dado que impossibilite identificar o autor do conto, caso seja premiado, desclassificará o concorrente.

§1.º: mais informações: http://www.concursodecontos.blogspot.com,

§2.º: o telefone (18) 3636 1270, e o e-mail secretariacult@gmail.com, serão canais de comunicação entre contistas e Secretaria Municipal da Cultura de Araçatuba.

Art. 6.º – Caso o conto do participante for premiado, este deverá apresentar em 10 (dez) dias fotocópia do R.G e do CPF (ou documento similar, se for estrangeiro), número da conta bancária (caso receba prêmio em dinheiro);, comprovante de residência (conta de luz, água, telefone fixo) para os concorrentes da categoria C; autorização de publicação, assinada, de seu conto premiado pelo concurso em coletânea dos contos vencedores.

§1.º – caso não cumpra tais exigências no prazo estipulado, o participante será desclassificando, sendo chamado o subsequente

Dos critérios básicos de julgamento

Art. 7.º – Ser um texto narrativo com viés literário, centrado num só conflito, com espaço e tempo concentrados conforme o gênero “conto”, apresentando:

a) a figura da personagem central;

b) verossimilhança (externa): relação com a condição humana;

c) focalização coerente e perceptível.

Art. 8º – Será instituída Comissão Julgadora composta por escritores e professores de Literatura, convidados pelo secretário municipal da Cultura de Araçatuba.

§único – a comissão terá liberdade e autonomia de organizar seu trabalho de leitura e julgamento, tendo o prazo para entregar os resultados até 15 de julho de 2013.

Das premiações

Art. 9.º – Haverá três categorias de concorrentes:

a) contistas nacionais (exceto os contistas da região administrativa de Araçatuba)

1.º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais)

2.º lugar: R$ 1.500,00 (mil reais)

3.º lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais)

Até cinco menções honrosas

b) contistas estrangeiros (mundo lusófono)

1.º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais)

2.º lugar: R$ 1.500,00 (mil reais)

3.º lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais)

Até cinco menções honrosas.

Observação: a remessa do prêmio está condicionada às leis e regras

bancárias vigentes no Brasil.

c) contistas regionais (região administrativa de Araçatuba)

1.º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais)

2.º lugar: R$ 1.500,00 (mil reais)

3.º lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais)

Até cinco menções honrosas

§1.º – entende-se por mundo lusófono os seguintes países: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Timor Leste, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde;

§2.º – entende-se por região administrativa de Araçatuba os seguintes municípios: Araçatuba, Birigui, Penápolis, Guararapes, Andradina, Brejo Alegre, Buritama, Auriflama, Bilac, Bento de Abreu, Rubiácea, Valparaíso, Mirandópolis, Lavínia, Guaraçaí, Murutinga do Sul, Castilho, Ilha Solteira, Itapura, Nova Independência, Sud Mennuci, Pereira Barreto, Suzanápolis, Santo Antônio do Aracanguá, Guzolândia, São João de Iracema, General Salgado, Nova Castilho, Gastão Vidigal, Lourdes, Turiúba, Nova Luzitânia, Coroados, Gabriel Monteiro, Piacatu, Clementina, Santópolis do Aguapeí, Alto Alegre, Avanhandava, Glicério, Luiziânia, Braúna e Barbosa;

§3.º – o participante natural da categoria “c” poderá renunciar a esta condição e optar por participar da “a”. Isso deve estar expresso na sua inscrição, ficando dispensado de apresentar comprovante de residência;

Art. 12.º – Os contistas premiados, inclusive com menção honrosa terão direito a 05 exemplares da coletânea “Contos vencedores” e serão convidados a participar da 5.ª Jornada de Literatura de Araçatuba, de 2 a 13 de setembro de 2013.

Art. 13.º – Os contos premiados, inclusive com menção honrosa, farão parte da coletânea “Contos vencedores”.

Art. 14.º – A entrega dos prêmios se dará em Araçatuba, no dia 13 de setembro (sexta-feira) à noite.

Art. 15.º – Os casos omissos serão resolvidos pelo Secretário Municipal de Cultura.

Araçatuba, 16 de janeiro de 2013.

Hélio Consolaro
Secretário Municipal de Cultura

Contato e Dúvidas:
secretariacult@gmail.com

Fonte:
http://concursodecontos.blogspot.com.br/2013/01/concurso-de-contos-cidade-aracatuba-26.html

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

VIII Jogos Florais de Cantagalo (Prazo: 1.º de Maio de 2013)

Organização:
Trovadora Ruth Farah

Temas (valendo palavras cognatas):

PERDÃO – Estado do Rio de Janeiro

OFENSA – para os demais Estados

Máximo: duas trovas Líricas ou Filosóficas

VIII JOGOS FLORAIS DE CANTAGALO – 2013
Rua Dr Nagib Jorge Farah, 204
Cantagalo/RJ – CEP 28.500-000

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

José Feldman (Universo de Versos n. 14)

A trova central é nova a cada postagem. As laterais são as anteriores.
Trova do Paraná

DINAIR LEITE – Paranavaí
 
A trova quando é sentida
viaja em nossa emoção
Nos faz fiéis toda a vida,
une os povos, faz irmãos

Trova Lírica/Filosófica

LICÍNIO COSTA – Nova Iguaçu/RJ
Vejo no céu as estrelas
e fico triste a sonhar…
Porque não sei em qual delas
você, meu bem, foi morar!…

Trova Humorística

THEREZINHA TAVARES – Nova Friburgo-RJ
Correu atrás de estrupício
e o tropeço foi fatal,
conseguiu só sacrifício:
mais um belo pré-natal!

Trova do Feldman
 

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Ontem plantaste uma flor,
na rocha da solidão.
Hoje, dou-te com amor
um rosal do coração!

Trova Hispânica

GISELA CUETO LACOMBA – Cuba
Reverdece la sabana,
es vergel de bendiciones,
si se cubre en la mañana
con arpegios y emociones.

Trova de Portugal

MARIA JOSÉ FRAQUEZA – Fuseta
Não me dêem mais ofertas,
 que não seja a Amizade.
 Coração – portas abertas
 Amigos em Unidade!

Trovadores que deixaram Saudades
 

WALDIR NEVES – Rio de Janeiro/RJ
1924 – 2007

Saudade!… foto em pedaços
 que eu colei com mão tremida,
 tentando compor os traços
 de quem rasgou minha vida…

Haicai

ALBERTO MARSICANO – São Paulo/SP
Cumes
de cumulus
se acumulam

Poesia

PEDRO CÉSAR BATISTA – Brasília/DF
Candeeiro do Tempo

 Olhos cerrados não veem a manhã
Sustentam-se na escuridão do medo e do passado
Bocas enganam ouvidos
Alegram fantasmas que submergem em mentes
Bailam em cantos iludidos com o brilho das luzes
Voos arrastam almas em frágeis desejos supérfluos
Ouvidos se animam ao tilintar de 30 moedas
Falam em suas crenças
Cantam desilusões e dores
Nada crêem no amor e em Iris brilhantes
Acham que todos os olhares são cinzentos
Todos os abraços falsos
A manhã se suicida com medo do dia
Prefere a escuridão da solidão do poder
Desiste de receber a luz das flores e dos pássaros
O dia se vai
Nem noite vem
Deixa-se inebriar no tempo de dor
Onde estou que ainda sonho
Preciso acordar e voar ao infinito
Retirar as folhas que abafam meu canto
Pássaros não alimentam mais sonhos
A dor de quem não sonha
Passos sobrevoa oceanos
Desejam ser brilho nessa escuridão

Moirão que Você Cai

É um gênero muito apreciado, com versos de sete sílabas, como nos demais, onde as estrofes aparecem com doze linhas, havendo quatro versos comuns a elas: terceiro, sexto, nono e décimo segundo. O iniciante é responsável pela formação dos versos: primeiro, segundo, terceiro, sétimo, oitavo, décimo, décimo primeiro e décimo segundo. Ficando os demais a cargo do parceiro intercalante. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Com Lourival e Otacílio, um Moirão que você cai:

L. Meu irmão, a hora é esta,
De travar-se um desafio!
Lá vai uma, duas e três …
O. Mas, em luta eu não confio
Porque desanima a festa!
Lá vai quatro, cinco e seis …
L. Meus versos ninguém detesta
Porque desafio distrai!
O. Cuidado que você cai…
L. Caio tomando sorvete,
Você levando cacete,
Se for por dez pés lá vai!

Setilha Sobre o Mar

RICARDO ARAGÃO – Ipu/CE

Quando criança eu ouvia
Muitas vezes uma canção
Anunciando a profecia
Sobre o meu pobre sertão
Que iria se transformar
Todinho em um grande mar
E o mar num vasto torrão.


Trova Ecológica

Soneto

BERNARDO SÁ BARRETO PIMENTEL TRANCOSO – ES
A Rosa Branca

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.

Galope a Beira-Mar

DIMAS BATISTA – Itapetim/PE
Gênero muito apreciado pelos apologistas da Poesia Popular que, juntamente com o Martelo, recebeu a denominação de Décima de versos compridos. O Galope é assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros. È constituído de uma estrofe de dez versos de onze sílabas, com o estribilho cuja palavra final é mar.
Foi criado pelo violeiro cearense José Pretinho (não o da peleja do cego Aderaldo), filho de Morada Nova, vaqueiro do “coronel” José Ambrósio, falecido em Lavras da Mangabeira. Contam que José Pretinho, após levar uma surra, em Martelo, de Manoel Vieira Machado, Cantador piauiense, veio a Fortaleza e, na Praia de Iracema, observou o mar, cujo movimento das ondas se parecia com o galope dos cavalos da fazenda do “coronel” Ambrósio. Criado o estilo, procurou o adversário para a desforra. Deixou-o aniquilado. Mergulhão de Sousa divulgou o gênero por todo o Nordeste. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)
Dimas Batista, cantando no Teatro Santa Isabel, em Recife, improvisou sob aplausos:

Eu cantando a Galope ninguém me humilha,
Tudo que existe no mar eu aproveito,
Na ilha, no cabo, península, estreito,
Estreito, península, no cabo, na ilha,
Em navio, em proa, em bússola e milha!
Medindo a distância para viajar,
Não quero, da rota, jamais me afastar,
Porque me afastando o destino saí torto;
Confio em Deus avistar o meu porto,
Cantando Galope na beira do mar!

Poesia de Longe

WALLACE STEVENS – Reading/ Estados Unidos
1879 – 1955
O Homem da Neve

É preciso uma mente de inverno
 Para olhar a geada e os ramos
 Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
 Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
 Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
 Em qualquer miséria no som do vento,
 No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
 Cheia do mesmo vento
 Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
 E, ausente, observa
 Nada que não está lá e o nada que é.

Trova Popular

Sonhei contigo esta noite,
mas oh! que sonho atrevido!
Sonhei que estava abraçado
à forma do teu vestido !

Poesia em Música

BELCHIOR
Como Nossos Pais (1976)

Uma canção irônica e discursiva, “Como Nossos Pais” critica a acomodação dos jovens diante dos problemas da vida, que Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes, Ex-universitário, que abandonou o curso de medicina para se dedicar à música) canta de forma agressiva com sua voz veemente: “Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos e vivemos / (…) / ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais…” Esta canção passou incólume, mas o autor teve que modificar outras músicas do disco para obter a aprovação da censura. ( Site Cifrantiga)

Não quero lhe falar meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos.
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo que aconteceu comigo.

Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor é urna coisa boa,
mas também sei
Que qualquer canto é menor que a vida
de qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem
há perigos na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado
pra nós que somos jovens

Para poder abraçar meu irmão
e beijar minha menina,
na rua
É que se fez o meu lábio, o meu braço,
e a minha voz

Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado
com urna nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade,
não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento,
o cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
do meu coração

Já faz tempo eu vi você na rua,
cabelo ao vento
gente jovem reunida
Na parede da memória
essa lembrança é o quadro que dói mais

A Minha dor é perceber que
apesar de termos feito tudo,
tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos,
ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais

Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não.
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém.
Você pode até dizer
Que eu estou por fora
ou então que eu estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que é ama o passado
e que não vê que o novo sempre vem

Hoje eu sei que quem me deu a idéia
De uma nova consciência e juventude,
está em casa guardada por Deus
Contado os seus metais

Minha dor é perceber
que apesar de termos feito tudo,
tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos,
ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Gislaine Canales (Caderno de Trovas)

A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!

Amor à primeira vista,
foi isso, mar, que eu senti!
Ninguém há que te resista,
quando está diante de ti!

Caminhei pelo infinito,
vaguei por milhões de espaços…
Até lá estava escrito
o meu regresso aos teus braços!

É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida!
 

É mais que um deslumbramento
ver o sol nascer no mar,
é mágico esse momento
que vem as águas dourar!

Eu gosto de navegar
nesse mar de azul infindo
formado por teu olhar.
Não existe mar mais lindo!

Não posso viver em vão,
eu preciso um filho ter,
plantar em fecundo chão
e um livro bom, escrever!

Nesta vida tão inquieta,
o meu consolo é pescar.
Sou pescadora – poeta,
que pesca versos no mar!

Numa troca de carinhos,
dois sorrisos se irmanaram,
e os dois, antes, tão sozinhos,
juntos, pra sempre, ficaram !

O brigadiano velhinho
gemia e quase chorava,
quando a velha, de mansinho,
seu cacetete… lustrava!  
 
Olhando o mar, eu diviso,
a areia branca a esperar
um beijo feito sorriso,
que as mansas ondas vêm dar!

Olhava o mar com temor,
numa espera preocupada:
nem peixes…nem pescador!
Tão só o vazio do nada!

O magro e a magra dançando…
Osso com osso batia…
E quem estava escutando
pensava ser bateria…
O magro era tão magrinho,
magrinho de fazer dó…
seu pijama listradinho
era de uma listra só!
O mais bonito sorriso,
que eu ganhei, cheio de afeto,
revelar nem é preciso !
Foi do meu primeiro neto!

O meu viver enfadonho,
só de amarguras composto,
põe as rugas do meu sonho
sobre as rugas do meu rosto!

O trovador que em verdade,
faz da trova uma oração,
coloca com amizade
“A trova no Coração”!

Para mim, não há segredos,
meu mar, de infinito azul,
nós convivemos sem medos,
nas belas praias do Sul!

Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
Trova é prece em meu viver!

Sou pescador de ilusões,
e nesse pescar me ponho,
conquistando corações
com os anzóis do meu sonho!

Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!


Um bombeiro consciente,
alto, loiro, bonitão,
apaga o fogo da gente
mesmo sem água na mão!
Um gemido de dar medo,
eu ouvi… que coisa estranha!
Cravou o espeto no dedo,
em vez de ser na picanha! 
 Um segredo que me assusta:
-Não saber, se após a morte,
há uma vida boa e justa,
que não dependa da sorte!

Vamos a vida encantar
com nossa Trova querida,
e na Trova, então cantar,
um hino de amor à vida!

Deixe um comentário

Arquivado em Santa Catarina, Trovas

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 14

CAPÍTULO CV / OS BRAÇOS

No mais, tudo corria bem. Capitu gostava de rir e divertir-se, e, nos primeiros tempos, quando íamos a passeios ou espetáculos, era como um pássaro que saísse da gaiola. Arranjava-se com graça e modéstia. Embora gostasse de jóias, como as outras moças, não queria que eu lhe comprasse muitas nem caras, e um dia afligiu-se tanto que prometi não comprar mais nenhuma; mas foi só por pouco tempo.

A nossa vida era mais ou menos plácida. Quando não estávamos com a família ou com amigos, ou se não íamos a algum espetáculo ou serão particular (e estes eram raros) passávamos as noites à nossa janela da Glória, mirando o mar e o céu, a sombra das montanhas e dos navios, ou a gente que passava na praia. As vezes, eu contava a Capitu a história da cidade, outras dava-lhe notícias de astronomia; notícias de amador que ela escutava atenta e curiosa, nem sempre tanto que não cochilasse um pouco. Não sabendo piano, aprendeu depois de casada, e depressa, e daí a pouco tocava nas casas de amizade. Na Glória era uma das nossas recreações; também cantava, mas pouco e raro, por não ter voz; um dia chegou a entender que era melhor não cantar nada e cumpriu o alvitre. De dançar gostava, e enfeitava-se com amor quando ia a um baile; os braços é que… Os braços merecem um período.

Eram belos, e na primeira noite que os levou nus a um baile, não creio que houvesse iguais na cidade, nem os seus, leitora, que eram então de menina, se eram nascidos, mas provavelmente estariam ainda no mármore, donde vieram, ou nas mãos do divino escultor. Eram os mais belos da noite, a ponto que me encheram de desvane acontecimento. Conversava mal com as outras pessoas, só para vê-los, por mais que eles se entrelaçassem aos das casacas alheias. lá não foi assim no segundo baile; nesse, quando vi que os homens não se fartavam de olhar para eles, de os buscar, quase de os pedir, e que roçavam por eles as mangas pretas, fiquei vexado e aborrecido. Ao terceiro não fui, e aqui tive o apoio de Escobar, a quem confiei candidamente os meus tédios, concordou logo comigo.

–Sanchinha também não vai, ou irá de mangas compridas; o contrário parece-me indecente.

–Não é? Mas não diga o motivo; hão de chamar-nos seminaristas. Capitu já me chamou assim.

Nem por isso deixei de contar a Capitu a aprovação de Escobar.

Ela sorriu e respondeu que os braços de Sanchinha eram mal feitos, mas cedeu depressa, e não foi ao baile; a outros foi, mas levou-os meio vestidos de escumilha ou não sei que, que nem cobria nem descobria inteiramente, como o cendal de Camões.

CAPÍTULO CVI / DEZ LIBRAS ESTERLINAS

Eu já disse que era poupada, ou fica dito agora, e não só de dinheiro mas também de cousas usadas, dessas que se guardam por tradição, por lembrança ou por saudade. Uns sapatos, por exemplo, uns sapatinhos rasos de fitas pretas que se cruzavam no peito do pé e princípio da perna, os últimos que usou antes de calçar botinas, trouxe-os para casa, e tirava-os de longe em longe da gaveta da cômoda, com outras velharias, dizendo-me que eram pedaços de criança. Minha mãe, que tinha o mesmo gênio, gostava de ouvir falar e fazer assim. Quanto às puras economias de dinheiro, direi um caso, e basta.

Foi justamente por ocasião de uma lição de astronomia, à Praia da Glória. Sabes que alguma vez a fiz cochilar um pouco. Uma noite perdeu-se em fitar o mar, com tal força e concentração, que me deu ciúmes.

–Você não me ouve, Capitu.

–Eu? Ouço perfeitamente.

–O que é que eu dizia?

–Você…você falava de Sírius.

–Qual Sírius, Capitu. Há vinte minutos que eu falei de Sírius.

–Falava de… falava de Marte, emendou ela apressada.

Realmente, era de Marte, mas é claro que só apanhara o som da palavra, não o sentido. Fiquei sério, e o ímpeto que me deu foi deixar a sala, Capitu, ao percebê-lo, fez-se a mais mimosa das criaturas, começou-me na mão, confessou-me que estivera contando, isto é, somando uns dinheiros para descobrir certa parcela que não achava. Tratava-se de uma conversão de papel em ouro. A princípio supus que era um recurso para desenfadar-me, mas daí a pouco estava eu mesmo calculando também, já então com papel e lápis, sobre o joelho, e dava a diferença que ela buscava.

— Mas que libras são essas? perguntei-lhe no fim.

Capitu fitou-me rindo, e replicou que a culpa de romper o segredo era minha. Ergueu-se, foi ao quarto e voltou com dez libras esterlinas, na mão; eram as sobras do dinheiro que eu lhe dava mensalmente para as despesas.

— Tudo isto?

–Não é muito, dez libras só; é o que a avarenta de sua mulher pôde arranjar, em alguns meses, concluiu fazendo tinir o ouro na mão.

— Quem foi o corretor?

— O seu amigo Escobar.

–Como é que ele não me disse nada?

–Foi hoje mesmo.

— Ele esteve cá?

–Pouco antes de você chegar; eu não disse para que você não desconfiasse.

Tive vontade de gastar o dobro do ouro em algum presente comemorativo, mas Capitu deteve-me. Ao contrário, consultou-me sobre o que havíamos de fazer daquelas libras.

–São suas, respondi.

–São nossas, emendou.

–Pois você guarde-as.

No dia seguinte, fui ter com Escobar ao armazém, e ri-me do segredo de ambos. Escobar sorriu e disse-me que estava para ir ao meu escritório contar-me tudo. A cunhadinha (continuava a dar este nome a Capitu) tinha-lhe falado naquilo por ocasião da nossa última visita a Andaraí, e disse-lhe a razão do segredo.

–Quando contei isto a Sanchinha, concluiu ele, ficou espantada:

“Como é que Capitu pode economizar, agora que tudo está tão caro?”–“Não sei, filha; sei que arranjou dez libras.”

–Vê se ela aprende também.

–Não creio; Sanchinha não é gastadeira, mas também não poupada; o que lhe dou chega, mas só chega.

Eu, depois de alguns instantes de reflexão:

–Capitu é um anjo!

Escobar concordou de cabeça, mas sem entusiasmo, como quem sentia não poder dizer o mesmo da mulher. Assim pensarias m também, tão certo é que as virtudes das pessoas próximas nos dão te ou qual vaidade, orgulho ou consolação.

CAPÍTULO CVII / CIÚMES DO MAR

Se não fosse a astronomia, não descobriria eu tão cedo as dez libras de Capitu; mas não é por isso que torno a ela, é para que não cuides que a vaidade de professor é que me fez padecer com a desatenção de Capitu e ter ciúmes do mar. Não, meu amigo. Venho explicar-te que tive tais ciúmes pelo que podia estar na cabeça de minha mulher, não fora ou acima dela. É sabido que as distrações de uma pessoa podem ser culpadas, metade culpadas, um terço, um quinto, um décimo de culpadas, pois que em matéria de culpa a graduação é infinita. A recordação de uns simples olhos basta para fixar outros que os recordem e se deleitem com a imaginação deles. Não é mister pecado efetivo e mortal, nem papel trocado, simples palavra, aceno, suspiro ou sinal ainda mais miúdo e leve. Um anônimo ou anônima que passe na esquina da rua faz com que metamos Sírius dentro de Marte, e tu sabes, leitor, a diferença que há de um a outro na distancia e no tamanho, mas a astronomia tem dessas confusões. Foi isto que me fez empalidecer, calar e querer fugir da sala para voltar, Deus sabe quando; provavelmente, dez minutos depois. Dez minutos depois, estaria eu outra vez na sala, ao piano ou à janela, continuando a lição interrompida:

–Marte está a distancia de…

Tão pouco tempo? Sim, tão pouco tempo, dez minutos. Os meus ciúmes eram intensos, mas curtos; com pouco derrubaria tudo, mas com o mesmo pouco ou menos reconstruiria o céu, a terra e as estrelas.

A verdade é que fiquei mais amigo de Capitu, se era possível, ela ainda mais meiga, o ar mais brando, as noites mais claras, e Deus mais Deus. E não foram propriamente as dez libras esterlinas que fizeram isto, nem o sentimento de economia que revelavam e que eu conhecia, mas as cautelas que Capitu empregou para o fim de descobrir-me um dia o cuidado de todos os dias. Escobar também se me fez mais pegado ao coração. As nossas visitas foram-se tornando mais próximas, e as nossas conversações mais íntimas.

CAPÍTULO CVIII / UM FILHO

Pois nem tudo isso me matava a sede de um filho, um triste menino que fosse, amarelo e magro, mas um filho, um filho próprio da minha pessoa. Quando íamos a Andaraí e víamos a filha de Escobar e Sancha, familiarmente Capituzinha, por diferençá-la de minha mulher, visto que lhe deram o mesmo nome à pia, ficávamos cheios de invejas. A pequena era graciosa e gorducha, faladeira e curiosa. Os pais, como os outros pais, contavam as travessuras e agudezas da menina, e nós, quando voltávamos à noite para a Glória, vínhamos suspirando as nossas invejas, e pedindo mentalmente ao céu que no-las matasse…

…As invejas morreram, as esperanças nasceram, e não tardou que viesse ao mundo o fruto delas. Não era escasso nem feio, como eu já pedia, mas um rapagão robusto e lindo.

A minha alegria quando ele nasceu, não sei dizê-la; nunca a tive igual, nem creio que a possa haver idêntica, ou que de longe ou de perto se pareça com ela. Foi uma vertigem e uma loucura. Não cantava na rua por natural vergonha, nem em casa para não afligir Capitu convalescente. Também não caía, porque há um deus para os pais novos. Fora, vivia com o espírito no menino; em casa, com os olhos a observá-lo, a mirá-lo, a perguntar-lhe donde vinha, e por que é que eu estava tão inteiramente nele, e várias outras tolices sem palavras, mas pensadas ou deliradas a cada instante. Talvez perdi algumas causas no toro por descuido.

Capitu não era menos terna para ele e para mim. Dávamos as mãos um ao outro, e, quando não olhávamos para o nosso filho, conversávamos de nós, do nosso passado e do nosso futuro. As horas de maior encanto e mistério eram as de amamentação. Quando eu via o meu filho chupando o leite da mãe, e toda aquela união da natureza para a nutrição e vida de um ser que não fora nada, mas que o nosso destino afirmou que seria, e a nossa constância e o nosso amor fizeram que chegasse a ser. ficava que não sei dizer nem digo; positivamente não me lembra, e receio que o que dissesse me saísse escuro. Escusai minúcias. Assim que, não é preciso contar a dedicação da minha mãe e de Sancha, que também foi passar com Capitu os primeiros dias e noites. Quis rejeitar o obséquio de Sancha; respondeu me que eu não tinha nada com isso; também Capitu, em solteira, fora tratá-la à Rua dos Inválidos.

–Não se lembra que o senhor foi lá vê-la?

–Lembra-me; mas Escobar…

–Eu virei jantar com vocês, e às noites sigo para Andaraí; oito dias, e está tudo passado. Bem se vê que você é pai de primeira viagem.

–Também você- onde está a segunda?

Usávamos então estas graças em família. Hoje, que me recolhi à minha casmurrice, não sei se ainda há tal linguagem, mas deve haver. Escobar cumpriu o que disse; jantava conosco, e ia-se à noite. Sobre tarde descíamos à praia ou íamos ao Passeio Público, fazendo ele os seus cálculos, eu os meus sonhos. Eu via o meu filho médico, advogado, negociante, meti-o em várias universidades e bancos, e até aceitei a hipótese de ser poeta. A possibilidade de político foi consultada, e cri que me saísse orador, e grande orador.

–Pode ser, redargüia Escobar; ninguém diria o que veio a se Demóstenes.

Escobar acompanhava muita vez as minhas criancices; também interrogava o futuro. Chegou a falar da hipótese de casar o pequeno com a filha. A amizade existe; esteve toda nas mãos com que apertei as de Escobar, ao ouvir-lhe isto, e na total ausência de palavras com que ali assinei o pacto, estas vieram depois, de atropelo, afinadas pelo coração, que batia com grande força. Aceitei a lembrança, e propus que os encaminhássemos a este fim, pela educação igual e comum, pela infância unida e correta.

Era minha idéia que Escobar fosse padrinho do pequeno; a madrinha devia ser e seria minha mãe. Mas a primeira parte se trocou por intervenção do tio Cosme, que, ao ver a criança, disse-lhe entre outros carinhos:

–Anda, toma a bênção a teu padrinho, velhaco.

E, voltando-se para mim:

–Não desisto do favor; e há de ser depressa o batizado, antes que a minha doença me leve de vez.

Contei discretamente a anedota a Escobar, para que ele me compreendesse e desculpasse; riu-se e não se magoou. Fez mais, quis que o almoço do batizado fosse na chácara dele, e foi. Eu ainda tentei espaçar a cerimônia a ver se tio Cosme sucumbia primeiro à doença, mas parece que esta era mais de aborrecer que de matar. Não houve remédio senão levar o menino à pia, onde se lhe deu o nome de Ezequiel; era o de Escobar, e eu quis suprir deste modo a falta de compadrio.

CAPÍTULO CIX / UM FILHO ÚNICO

Ezequiel, quando começou o capítulo anterior, não era ainda gerado; quando acabou era cristão e católico. Este outro é destinado a fazer chegar o meu Ezequiel aos cinco anos, um rapagão bonito, com os seus olhos claros, já inquietos, como se quisessem namorar todas as moças da vizinhança, ou quase todas.

Agora, se considerares que ele foi único, que nenhum outro veio, certo nem incerto, morto nem vivo, um só e único, imaginarás os cuidados que nos deu, os sonos que nos tirou, e que sustos nos meteram as crises dos dentes e outras, a menor febrícula, toda a existência comum das crianças. A tudo acudíamos, segundo cumpria e urgia, cousa que não era necessário dizer, mas há leitores tão obtusos, que nada entendem, se lhes não relata tudo e o resto. Vamos ao resto.

CAPÍTULO CX / RASGOS DA INFÂNCIA

O resto come-me ainda muitos capítulos; há vidas que os têm menos, e fazem-se ainda assim completas e acabadas.

Aos cinco e seis anos, Ezequiel não parecia desmentir os meus sonhos da Praia da Glória- ao contrário, adivinhavam-se nele todas as vocações possíveis, desde vadio até apóstolo. Vadio é aqui posto no bom sentido, no sentido de homem que pensa e cala; metia-se às vezes consigo, e nisto fazia lembrar a mãe, desde pequena. Assim também, agitava-se todo e instava por ir persuadir às vizinhas que os doces que eu lhe trazia eram doces deveras; não o fazia antes de farto deles, mas também os apóstolos não levam a boa doutrina senão depois de a terem toda no coração. Escobar, bom negociante, opinava que a causa principal desta outra inclinação, talvez fosse convidar implicitamente as vizinhas a igual apostolado, quando os pais lhe trouxessem doces; e ria-se da própria graça, e anunciava-me que o faria seu sócio.

Gostava de música, não menos que de doce, e eu disse a Capitu que lhe tirasse ao piano o pregão do preto das cocadas de Matacavalos…

–Não me lembra.

–Não diga isso; você não se lembra daquele preto que vendia doce, às tardes…

–Lembra-me de um preto que vendia doce, mas não sei mais da toada.

— Nem das palavras?

–Nem das palavras.

A leitora, que ainda se lembrará das palavras, dado que me tenha lido com atenção, ficará espantada de tamanho esquecimento, tanto mais que lhe lembrarão ainda as vozes da sua infância e adolescência haverá olvidado algumas, mas nem tudo fica na cabeça. Assim me replicou Capitu, e não achei tréplica. Fiz, porém, o que ela não esperava; corri aos meus papéis velhos. Em S. Paulo, quando estudante, pedi a um professor de música que me transcrevesse a toada do pregão; ele o fez com prazer (bastou-me repetir-lho de memória), e eu guardei o papelinho; fui procurá-lo. Daí a pouco interrompi um romance que ela tocava, com o pedacinho de papel na mão. Expliquei-lho- ela teclou as dezesseis notas.

Capitu achou à toada um sabor particular, quase delicioso- contou ao filho a história do pregão, e assim o cantava e teclava. Ezequiel aproveitou a música para pedir-me que desmentisse o texto dando-lhe algum dinheiro.

Fazia de médico de militar, de ator e bailarino. Nunca lhe dei oratórios; mas cavalos de pau e espada à cinta eram com ele. Já não falo dos batalhões que passavam na rua, e que ele corria a ver; todas as crianças o fazem. O que nem todas fazem é ter os olhos que esta tinha. Em nenhuma vi as ansias de gosto com que assistia à passagem da tropa e ouvia tocar a marcha dos tambores.

— Olha, papai! olha!

–Estou vendo, meu filho!

— Olha o comandante! Olha o cavalo do comandante! Olha os soldados!

Um dia amanheceu tocando corneta com a mão- dei-lhe uma cornetinha de metal. Comprei-lhe soldadinhos de chumbo, gravuras de batalhas que ele mirava por muito tempo, querendo que lhe explicasse uma peça de artilharia, um soldado caído, outro de espada alçada, e todos os seus amores iam para o de espada alçada. Um dia (ingênua idade!), perguntou-me impaciente:

— Mas, papai, por que é que ele não deixa cair a espada de uma vez?

— Meu filho, é porque é pintado.

— Mas então por que é que ele se pintou?

Ri-me do engano e expliquei-lhe que não era o soldado que se tinha pintado no papel, mas o gravador, e tive de explicar também o que era gravador e o que era gravura: as curiosidades de Capitu, em suma.

Tais são os principais rasgos da infância: mais um e acabo o capítulo Um dia. na chácara de Escobar, deu com um gato que tinha um rato atravessado na boca. O gato nem deixava a presa, nem via por onde fugisse. Ezequiel não disse nada, deteve-se, acocorou-se, e ficou olhando. Ao vê-lo assim atento, perguntamos-lhe de longe o que era; fez-nos sinal que nos calássemos. Escobar concluiu:

–Vão ver que é o gato que apanhou algum rato. Os ratos continuam a infestar-me a casa, que é o diabo. Vamos ver Capitu quis também ver o filho; acompanhei-os. Efetivamente, era um gato e um rato, lance banal, sem interesse nem graça. A única circunstancia particular era estar o rato vivo, esperneando, e o meu pequeno enlevado. De resto, o instante foi curto. O gato, logo que sentiu mais gente, dispôs-se a correr; o menino, sem tirar-lhe os olhos de cima, fez-nos outro sinal de silêncio; e o silêncio não podia ser maior. Ia dizer religioso, risquei a palavra, mas aqui a ponho outra vez, não só por significar a totalidade do silêncio, mas também porque havia naquela ação do gato e do rato alguma cousa que prendia com ritual. O único rumor eram os últimos guinchos do rato, aliás frouxíssimos- as pernas mal se lhe moviam e desordenadamente. Um tanto aborrecido, bati palmas para que o gato fugisse, e o gato fugiu. 0s outros nem tiveram tempo de atalhar-me, Ezequiel ficou abatido.

–Ora, papai!

–Que foi? A esta hora o rato está comido.

–Pois sim, mas eu queria ver.

Os dous riram-se; eu mesmo achei-lhe graça.
–––––––––––
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

José Feldman (Universo de Versos n. 13)

Trova do Paraná
 

JOSÉ WESTPHALEN CORRÊA – Lapa
Nas águas mansas do lago,
nas verdes ondas do mar,
nas delícias de um afago,
vejo a mão de Deus pairar.

Trova Lírica/Filosófica

LISETE JOHNSON – Porto Alegre/RS
Quando criança, eu ficava
olhando o céu, a cismar:
– quem, tão alto, a luz ligava
para acender o luar!

Trova Humorística

DJALDA WINTER SANTOS – Rio de Janeiro/RJ
Houve muita confusão
quando o morto, no velório,
dando um tapa no caixão,
reclamou do falatório …

Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Hoje, a saudade me envolve
e me cobre com seu manto…
meu coração se dissolve,
implorando o teu encanto!

Trova Hispânica

FABIANA PICEDA – Argentina
La ciencia viene de Dios
que alumbra nuestro camino.
Marchando de dos en dos
haremos grande el destino.

Trova de Portugal
 

ANTÓNIO BARROSO (TIAGO) – Portugal
Não há nada, nesta vida,
 que acabe com o penar
 da tristeza da partida
 com lenço branco a acenar.

Trovadores que deixaram Saudades

RAUL PEDERNEIRAS – Rio de Janeiro/RJ
(1874 – 1953)

O Filho do Carpinteiro
 foi um Artista profundo…
 Com três cravos e um madeiro
 fez a reforma do mundo!

Haicai

FRANCISCO HANDA – SP
Dentro da favela
por uma única fresta
o céu ilumina-se.

Poesia

ROGÉRIO SALGADO – Belo Horizonte/MG
Conceito

Para Otávio de Campos

Sou o que representa
a febre, a dor
a expressão exata
a corda que desata
todos os nós acorrentados
aos conceitos do que
querem que a poesia seja.

Canto a canção ferida
daquilo que é doído

tenho olhos de vidros partidos
e a imensidão de compor.

Não me estabeleço
amanheço, entardeço, anoiteço
na forma mais concreta.

Moirão Trocado

        A diferença deste gênero para o anterior está exclusivamente no aparecimento de palavras que se alternam nas quatro primeiras linhas da estância. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Lourival Batista e Severino Pinto dão uma demonstração deste estilo:
     LB. Eu, da graça, faço o riso,
           E, do riso, faço a graça!
       SP. E da massa, faço o pão,
           E do pão, eu faço a massa!
       LB. Você desgraçou a peça:
           Que u’a misturada dessa
           Não há padeiro que faça!

Setilha Sobre o Mar
 

GERALDO OLIVEIRA ARAGÃO – Nossa Senhora da Gloria/SE

O mar parece distante…
Prá quem no Sertão nasceu
eu como um viajor
Que o seu rumo não perdeu
Aportei no mar de rosa
Cidade maravilhosa
O segundo berço meu

Martelo Agalopado

LIRA FLORES – PB

Esse gênero belo e difícil via crucis dos fracos repentistas, é empregado não só nos grandes debates, mas nos trabalhos escritos, em geral. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)
O estilo atual, variante da Décima, criação do violeiro Silvino Pirauá Lima, conforme estrofe do poeta Lira Flores, citada pelo Dr. Ariano Suassuna, num trabalho sobre os cantadores:

     Quando as tripas da terra mal se agitam,
     E os metais derretidos se confundem,
     E os escuros diamantes que se fundem,
     Da cratera ao ar se precipitam.
     As vulcânicas ondas que vomitam
     Grossas bagas de ferro incendiado,
     Em redor, deixam tudo sepultado
     Só com o som da viola que me ajuda,
     Treme o sol, treme a terra, o tempo muda,
     Eu cantando Martelo agalopado.

Trova Ecológica
 

Soneto
 

ANTONIO ROBERTO FERNANDES
Sem Medida

Quem diz que ama muito ou pouco, mente
ou não conhece o amor, na realidade,
pois não se mede o amor em quantidade,
se ama, ou não se ama, simplesmente.

Quem ama, embora sonhe com a eternidade,
ainda assim não sonha o suficiente
e em nada modifica o amor que sente,
seja na dor ou na felicidade.

Não há um meio olhar ou um meio beijo.
Ninguém tem dez por cento de um desejo
nem existe carícia desmedida.

E o amor, sem ter tamanho, é tão profundo
que podemos achá-lo num segundo
ou procurá-lo, em vão, por toda a vida.

Poesia de Longe

WILLIAM CARLOS WILLIAMS – Rutherford/ Estados Unidos
1883 – 1963

Prelúdio ao Inverno

A mariposa sob as goteiras
 com asas como
 a casca de um tronco, estende-se

e o amor é uma curiosa
 coisa suavemente alada
 imóvel sob as goteiras.

Trova Popular

Hei de fazer um relógio
de um galhinho de poejo,
para contar os minutos
do tempo que não te vejo.

Poesia em Música

JOÃO DO SUL (letra) – CANHOTO (música)
Abismo de Rosas (1925)

O grande violonista Canhoto tinha apenas 16 anos quando compôs “Abismo de Rosas”, em 1905. A composição era um desabafo a uma decepção amorosa, pois o autor acabara de ser abandonado pela namorada, filha de um escravo. Canhoto realizou três gravações desta valsa: a primeira, com o nome de “Acordes do Violão”, lançada no disco Odeon, em meados de 1916; a segunda, já como “Abismo de Rosas”, no disco Odeon, em 1925; e, finalmente, a terceira no disco Odeon- a que fazia parte do suplemento de agosto de 1927, um dos primeiros da era da gravação elétrica no Brasil.

 Ressalta nesta terceira gravação seu vibrato característico e inigualável, que ele tirava de um violão de corpo mais fino com braço não muito rígido. (http://cifrantiga3.blogspot.com.br)

Ao amor em vão fugir
Procurei pois tu
 Breve me fizeste ouvir
Tua voz, mentira deliciosa
 E hoje é meu ideal
Um abismo de rosas
 Onde a sonhar
Eu devo, enfim, sofrer e amar !

 Mas hoje que importa
Se tu’alma é fria
 Meu coração se conforta
Na tua própria agonia
 Se há no meu rosto
Um rir de ventura
 Que importa o mudo desgosto
 De minha dor assim,
Sem fim

 Se minha esperança
O que não se alcança
 Sonhou buscar
Devo calar
 Hoje, meu sofrer
E jamais dele te dizer
 O amor se é puro
Suporta obscuro
 Quase a sorrir a dor de ver,
 A mais linda ilusão morrer.

 Humilde, bem vês que vou,
 A teus pés levar,
 Meu coração que jurou,
Sempre ser, amigo e dedicado,
 Tenha, embora, que viver,
Neste sonho enganado,
 Jamais direi,
Que assim vivi, porque te amei !

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Elisabeth Souza Cruz (Caderno de Trovas)

A minha luz se consagre
nos momentos de tristeza…
Não peço a Deus um milagre…
peço apenas… fortaleza!

Bebo lembranças em tragos,
ao ponto da embriaguez,
para curar os estragos
que a tua ausência me fez!

Cabelo é um negócio louco…
Há divergências fatais:
– Na cabeça, um fio é pouco;
mas… na sopa… ele é demais!!!

Declarar-me não me atrevo,
com palavras mais ousadas…
E assim os versos que escrevo
são propostas camufladas!…

Deixo a roça na estação,
trouxe os sonhos na bagagem,
mas a cidade é a impressão
de que eu perdi a viagem!

Do nosso amor resta o embate
neste deserto onde eu morro,
pois teu regresso é o resgate
que não chega em meu socorro!

Essa renúncia inimiga
que diz não, se eu quero sim,
é uma voz fazendo intriga
quando responde por mim!

É surpresa repetida,
surpresa mesmo… e bendigo
cada instante em minha vida
me repetindo contigo!

Eu não me prendo à verdade
e à razão sempre me imponho,
porque toda a realidade
antes de tudo foi sonho!

Eu não temo o breu da estrada
 se a tristeza não transponho,
 porque há sempre uma alvorada
 na alegria do meu sonho!

Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!

Lá na praça do Suspiro,
o vovô, todo em genérico:
-Eu tento, assanho e transpiro,
mas quem sobe é o Teleférico!

Na angústia que me consome
neste amor de insanidade,
a minha pressa tem nome
e ela se chama…saudade!

Não quero fama nem glória,
dispenso os bens de valor,
para ter na minha história
o prêmio do teu amor!

Nem mesmo a ilusão remenda,
com seus fios de saudade,
os velhos sonhos de renda
que eu teci na mocidade!

No desfile à fantasia,
de um carnaval de ilusão,
a saudade é a alegoria
que enfeita meu coração!

Nosso amor chegou no estágio
 de pouca briga e… eu pressinto
 que esse marasmo é presságio
 de amor… que está quase extinto!

Num recanto bem singelo,
 sem luxo ou bens de valor,
 meu rancho vira um castelo
 quando reina o teu amor!

Orgulho bobo… vaidade,
capricho do amor sobejo…
Eu morrendo de saudade,
fingir que não te desejo!

O trânsito interrompido,
muitas frutas pelo chão…
E o bebum, ao ser punido:
-“Foi batida de limão!”

Por mais que eu seja refém
da pressa do teu abraço,
meu sonho não vai além
da pequenez do meu passo!

Pouco importa que tu venhas
apressado, em teu fulgor,
pois trazes contigo as senhas
para os feitiços do amor!

Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!

Quando o orgulho é o timoneiro
 das viagens da paixão,
 qualquer que seja o roteiro,
 não encontra a direção!

Saudade, velho retrós,
 guarda os fios, dia a dia…
 Quando quer soltar a voz,
 desenrola a nostalgia!

Sendo a voz de toda gente,
a Imprensa firme não cala
e quanto mais coerente
bem mais forte é a sua fala!

Se o teu amor foi miragem
no deserto da paixão,
que importa… me deu passagem
para o oásis da ilusão.

Tu me propões cessar fogo
e eu te proponho atiçar,
porque o nosso amor é um jogo
que é fogo de se apagar!

Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
– Meu sonho alcança o infinito,
meus pés… tropeçam no chão!

Fontes:
José Feldman (org.). Rio de Janeiro Trovadoresco. Coleção Memória Viva.
Resultados de Concursos.

Deixe um comentário

Arquivado em Trovas

Anônimo (Contos do Tio Emmett: Cinderbella)

Era mais um dia de chuva na casa dos Cullen. Eu estava feliz, é claro.

O motivo?

Simples!

Meu irmão havia voltado a confiar em mim. Então éramos só eu e minha pequena sobrinha, Renesmee.

A coisa fofa do titio estava fissurada por livros. Culpa de Bella. Essas crianças de hoje em dia e essa mania por livros… Se eu tivesse um filho (e que Rosalie não leia isto), eu daria um videogame. Boa época do Super Nintendo. Eu ficava horas jogando com a Rose. Quer dizer… Ela gostava de Mortal Kombat, Street Fighter. Eu gostava mesmo é de Super Mario. Nossa, eu amava aquele dinossaurozinho, o Yoshi. Eu sempre quis um, mas eles não existem.

Aí Carlisle me deu umas tartaruguinhas pra compensar. Como ele não me deixou pintar os cascos de vermelho, azul, verde e amarelo, eu fiz umas roupinhas legais e dei nome a elas: Donatello, Rafael, Leonardo e Emmett. Edward me perguntou por que eu não coloquei o nome de Michelangelo no último… É que certa vez eu e Rose fomos pro Vaticano, eu vi a tal Capela Sistina e achei aquilo uma ofensa… Eu pinto melhor que aquele cara!

Ahhh, o Vaticano… Foi bem legal. Até certo ponto. Eu estava entediado, e resolvi fazer umas configurações no local… Resolvi apontar várias obras de arte interligadas. A última foi uma pomba apontada pra uma Igreja cheia de anjos… Gostos de anjos, me lembram a Rose… Mas, enfim. Depois de alguns anos um cara aí, Brown… Brown… Carlinhos Brown, creio eu, escreveu uma história sobre a minha obra de arte e disse que um tal de Illumi sei lá o quê que fez um caminho pra a Igreja de não sei das quantas … Eu deveria ter escrito, afinal… Eu sou o melhor contador de histórias…

E falando em contar histórias… Bom, Renesmee estava entediada. Desde a nossa última visita a Disney, a tia louca dela (também conhecida por Alice) resolveu encher a menina dessas coleções princesas. Acho tudo sem sentido… Nenhuma é mais bonita que a Rose.

Ai, a Rose… Ela é tão linda… Tão loira, tão alta, tão esguia, tão bruta… Nem parece com aquela Amélia da Cinderella. Renesmee devia estar pensando a mesma coisa. Estava lendo o livro quando deu um grande suspiro e disse:

– Tio Emmett, mas que coisa sem graça, não é? Acho que podemos fazer melhor…

– Também acho. – eu respondi. – Quer ouvir a história da Cinderbella?

– É pra isso que eu estou aqui, não é? – ela sorriu.

– Então, vamos lá. “Era uma vez uma menininha muito desastrada chamada Cinderbella. Após sua mãe ter partido…”

– A mãe dela morreu, tio Emmett? – Renesmee me interrompeu.

– Não… Ela foi embora pra casar com um rapaz mais novo, forte e atlético. Mas, por favor, não interrompa o titio, está bem? – eu pedi. Ela balançou a cabeça, concordando. – Então, tudo bem… “Após ter o coração partido, o pai da Cinderbella casou com uma mulher de pele vermelha chamada Sue. Sue possuía duas filhas chatas: Leah e Setheah…”

– Seth é um menino, tio Emmett. – Renesmee disse.

– É um mero detalhe… Queria que eu colocasse quem no lugar, Pocahontas, Paraguaçu, Iracema? Além do mais, Seth ficaria mais bonitinho vestido de mulher do que seu tio Jazz. – eu disse na segurança de que meu irmão não estaria em casa para ouvir e ficar depressivo novamente. Da última vez Edward ficou meia hora falando “você é uma mulher bonita, forte e poderosa” para ele se acalmar. Antes que vocês pensem “Jasper virou gay?”. Não… Ele não virou. Mas acho Jasper tem problema de auto-estima, aí precisamos incentivá-lo.

– E o Jake? Vai entrar na história? – Nessie me perguntou.

– Talvez quando eu ler os três porquinhos… – eu disse, sabendo que no final o lobo acabava com o traseiro queimado pela chaminé do último porquinho… Não sei se na história verdadeira é assim, mas a minha com certeza é mais divertida. – Agora, por favor, não interrompa o titio, está bem? Onde eu estava? Bem… “Como o seu pai passava o dia trabalhando e os finais de semana em um reino não tão distante, mas menos legal chamado La Push, Cinderbella passava o dia inteiro lavando, passando, cozinhando, e lendo livros antigos e empoeirados a mando da sua madrasta.”

– Ah, tio, a Sue é legal.

– Meu anjo, eu sei que a Sue verdade é legal… Assim como a Rose de verdade é um amor de pessoa… Mas você não quer que a história renda? Eu sei que há Quileutes piores do que ela…

– Como quem? – ela perguntou, cruzando os bracinhos e me olhando feio.

– Prefiro não comentar… Posso continuar? – eu disse, olhando um tanto quanto nervoso para ela. Ela fez que sim. – “Cinderbella tinha duas irmãs, como eu já disse, antes que a minha sobrinha me interrompa para dizer ‘você já falou isso antes, tio Emmett’.” – eu disse, enquanto ela abria a boquinha para interromper. Eu não precisava ser Alice ou Edward. Nessie era tão previsível… – “Leah, a mais velha, era a criatura mais mal amada do reino. Nada agradava a menina… Tudo era feio, amargo, cinza… Já a pequena Setheah, bem, esta era uma pirralha chata e curiosa, mas tinha um bom coração e tinha um objetivo na vida… Ser a melhor amiga do príncipe Edward.”

– Gostei bastante desse nome. Príncipe Edward. – Nessie falou. Claro… Nós assistimos Encantada juntos. Ai Ai, o Pip era um esquilinho muito fofinho…

-É… É…dá pro gasto. “Então, Cinderbella, por causa da fumaça da lareira, ficou intoxicada e começou a ter alucinações. Acreditava que falava com os animaizinhos da casa e a eles deu os nomes de Rose, uma ratinha branca e rabugenta; Emmett, um rato castanho e bem forte e Jasper, um rato amarelo claro que não interagia e ficava no seu canto, com medo dos humanos… Certo dia veio um decreto do rei Carlisle e da Rainha Esme. O príncipe Edward convidaria todas as moças do reino para o baile.

‘Vou conhecer o príncipe Edward! Vou virar a melhor amiga dele e poderemos brincar juntos, caçar, pescar, nos divertir, conversar até a hora de dormir…’ …”

– A Setheah parece com tia Alice falando… – Renesmee riu. Uma ótima colocação… Ambos eram extremamente empolgados. Isso me assustava.

– Sua colocação foi pertinente, Renesmee… – eu disse, um tanto pomposo.

– Aprendeu essa palavra quando titio? – ela me perguntou.

– Ontem, quando Carlisle disse que não era pertinente eu construir um túnel que fosse daqui até a casa de Mike Newton…

– E porque você quer ir até a casa dos Newton? – ela me perguntou.

– Nessie, porque você acha que Mike Newton tem tanto medo da nossa família? Eu passei dois anos indo todos os domingos até a casa dele enquanto ele dormia. Mas não para olhar ele dormir, como seu pai fazia com sua mãe… Eu ia até o quarto dele e dizia: Os Cullen vão te pegar…

– Ai que maldade, titio… – ela disse, me lançando um olhar desaprovador. Maldade, nada… Engraçado foi quando eu disse que Bella gostaria dele se ele fosse sem pentear os cabelos pra escola. Todos achavam que ele estava imitando Edward… Patético. Uma pena Edward e Alice terem barrado a outra etapa do meu plano: fazer Mike Newton se vestir como Rosalie…

– Pois bem, você quer que eu continue a história ou não? “Leah também decidiu ir para acompanhar a sua irmã e sua mãe, na intenção de estragar a festa alheia.

‘Você não vai ao baile, Cinderbella’ A Madrasta disse.

‘Mas eu nem pedi pra ir… Eu tenho que ir a Seattle e…’ Cinderbella começou a dizer.

‘ Não insista, você ficará em casa, ouvindo seus ratinhos que não falam igual ao Pip, o esquilo da casa da vizinha’.

‘Mas… Mas…’ – ela tentou contestar. ‘Ai, esquece, vou visitar o Jasper. Talvez ele me influencie a chorar a desgraça do mundo. ’ Cinderbella seguiu até o sótão e se pôs a falar com os ratinhos. ‘Eu nem queria ir a essa festa, sabe? Eu nem gosto de bailes… Mas eu queria conhecer o príncipe Edward… Dizem que ele tem um topete bronze tão bonito, uma cara de tédio tão misteriosa e um nariz tortinho bastante charmoso.’

‘Sua idiota, fuja de casa, vá e não me amole’ Cinderbella imaginou que a ratinha Rose disse. De repente, surgiu uma coisa maravilhosamente brilhante no ar.”

– A fada madrinha? – Os olhinhos de Nessie brilharam…

– Nessie, qual foi a única pessoa da família que não apareceu na história? – Tia Alice? – ela perguntou, adivinhando.

– Sim. Sua tia Alice tem porte físico pra ser a fada Madrinha? Claro que não. Quem apareceu foi a Aliceninho, a fada do Peter Pan.

– Ah… E o Peter Pan?

– Calma… “Então a Aliceninho apareceu, juntamente com Peter Pan.

‘Não chore, minha criança.’ Aliceninho disse. ‘Estamos aqui pra te ajudar. Eu, a fada minúscula e Peter Pan, o menino que nunca irá envelhecer…’

‘Ele nunca vai envelhecer?’ Cinderbella perguntou, ao ver a cara de alegria do garoto vestido de verde em sua frente.

‘Não!’ ele respondeu empolgado.

‘MISERÁVEL!!!!!!’ Cinderbella disse, pegando um taco de baseball e correndo atrás do menino voador.

‘Ela é sempre agressiva assim?’ a fada perguntou ao rato Emmett.

‘Só quando ela conversa com a Rose. Ou quando falam de seres que não vão envelhecer’ o charmoso rato Emmett disse.

‘Ah’. A fada suspirou.

Quando finalmente conseguiu tacar o bastão na cabeça do Peter Pan, Cinderbella concordou que a fada a arrumasse para o baile.

‘Vai usar sua varinha de condão? Seu pó de pirlimpimpim?’ Cinderbella perguntou.

‘Melhor. Vou usar meus contatos com etilistas famosos e um cartão de crédito ilimitado. ’ A fada disse, enquanto discava em seu celular dourado. ‘Alô, Donatella? Oi meu bem, aqui é a fada Aliceninho… Preciso de um vestido pra agora. As referências? Alta, magra, branca e desengonçada. Preciso de um salto fino, urgente…’

‘Prefiro um All Star…’ a Cinderbella resmungou.

‘Então separa um All Star de Cristal, por gentileza. Estou indo buscar agora. Beijos. – ela disse, desligando o telefone. – Você pode ficar bem, por cinco minutos.’

‘Sem problemas, vou conversar com meus amigos ratinhos…’

‘Leve-me com você, pelo amor de Deus’. O rato Jasper implorou a fada, mas esta já havia ido. Ao se deparar na presença de uma humana, Jasper entrou em pânico e correu para sua toca, permanecendo até o fim da noite.

Passados cinco minutos, a fada Aliceninho chegou, trazendo um vestido vermelho rendado com preto e um All Star de cristal cano longo.

‘Hum… Está bem. ’ Aliceninho disse. ‘Mas tem que voltar para casa a meia noite’.

‘Meia noite por quê?’ Cinderbella quis saber.

‘Tome vergonha, o que uma moça de família quer no castelo dos outros mais de meia noite? Você volte pra cá esse horário e pronto.E não beba. Você já é desorientada sem álcool, imagine bebendo’. A rata Rosalie resmungou.

‘Meia noite, então’. Cinderbella concordou. ‘Então… Quer uma abóbora ou algo assim para transformar em carruagem, ou precisa dos ratinhos para transformar em cavalos?’

‘Veja lá quem você chama de égua, eu sou uma rata de nível’ a rata Rose se ofendeu. ‘Vamos embora daqui, Emmett’. Ela disse, chamando o grande rato bonito com ela.

‘Então, vamos de quê?’ Cinderbella quis saber.

‘De porsche, lógico.’ A fada Aliceninho disse. “E leve esse pozinho aí com você’ ela disse, atirando o pó de pirlipimpim.

Então, as duas entraram no Porsche e foram até o castelo.

Ao chegar ao castelo, uma garota de cabelos vermelhos estava dançando com o príncipe.

‘Lá em Andalásia, é tudo maravilhosamente lindo. Nós cantamos, dançamos, fazemos lindos duetos de canções para aquecer o coração dos aflitos. Mas não há tristeza em Andalásia, oh não! Só há alegria, música e cores’

‘Socorro’ O príncipe Edward sibilou.

‘Pra trás, ô ruiva’ Cinderbella disse, empurrando a coitada. Uma ruiva se manifestou no fundo do salão. ‘Você não, Victoria, fica na sua.’

‘Você não sabe quanto tempo esperei por você’ o príncipe Edward disse.”

– Tia Rose está certa, isso já é tão clichê. – Renesmee interrompeu.

– Puxa vida, Nessie, você estava se saindo tão bem… – eu disse, ao ser interrompido por minha sobrinha. – E você devia ter visto, foi tão bonito quando seu pai disse isso a sua mãe.

– E você estava lá?

– Bem… – Eu comecei a dizer…

– Estava, não estava?

– Sim, mas em minha defesa, estava preocupado com o bem estar de sua mãe. – … Aposto que você filmou. – ela concluiu.

– Então, e a história? Onde eu parei? – eu disse, mudando de assunto. “Cinderbella ficou encantada com a beleza do príncipe Edward e logo se apaixonou por ele. O príncipe Edward ficou encantado com o som que o coração de Cinderbella fazia, mas na realidade, era o ruído que o All Star de cristal fazia ao entrar em contato com o chão. Eles ficaram tão deslumbrados um com o outro que o príncipe esqueceu de perguntar o nome da Cinderbella… Ao soar meia noite, Cinderbella disse que precisava ir embora.

‘ Por favor, não vá ainda. Fique aqui comigo para sempre!’

‘Tudo bem!’ ela respondeu, feliz. Mas aí, seu celular acusou uma mensagem de texto. ‘Um torpedo, a essa hora? De quem será?’

‘Está pensando que aqui é a Casa da mãe Joana, que você entra a hora que quiser? Venha agora, se não eu tranco a casa e você dormirá na rua. Emmett pediu para trazer docinhos da festa. Você levou uma bolsa… Se vire! Rose’. A mensagem dizia.

‘Tenho que ir…’ ela disse, descendo as escadas e tomando uma queda, rolando escadaria abaixo, atravessando uma janela e caindo sentada no Porsche de sua fada.

‘Recebi uma mensagem da Rose.’ Cinderbella disse.

‘É, eu sei… Vamos?’ a fada disse, arrancando o carro.

Príncipe Edward desceu as escadas atrás da Cinderbella, mas não encontrou nada além do All Star de Cristal. Ele cheirou e percebeu que o chulé da Cinderbella cheirava a flores.

‘Façam uma busca no reino… Vamos encontrar a dona do sapatinho.’

Então eles correram todos os cantos do reino… Subiram montanhas, desceram para a praia, foram ao deserto, mas nada de encontrar a casa da Cinderbella.

‘E agora, o que eu faço? Onde encontro a menina que deixou o tênis de aroma floral na minha escada?’

‘Ela está na casa atrás de você, idiota’. A vozinha miúda da ratinha branca disse.

‘Ahm… Obrigado criaturinha da floresta’. O príncipe agradeceu.

‘Da floresta? Eu sou uma rata elitizada, por favor… Esses humanos, eu não sei não’.

‘ Não sou humano, sou vampiro’. Ele disse.

Um longo minuto de silêncio se fez, enquanto a ratinha o encarava.

‘Problema dela…’ a ratinha disse, saindo.

O príncipe Edward bateu na casa da Cinderbella. Ao atender, Setheah disse:

‘Meu Deus, meu Deus, é o príncipe Edward. Eu sabia, eu sabia que você vinha aqui. Eu deixei um scrap ontem pra você, pedindo para você vir e tomar chá com bolachas comigo.’

‘Espera, espera, criatura pequena e empolgada que não se chama Alice, … Não tenho Orkut?’

‘Msn? Facebook? Twitter?’

‘Não…’

‘Malditos fakes’. Ela disse, correndo para o computador para apagar os convites para o príncipe e as fotos que havia mandado.

‘Cara senhora… Bom dia’. O príncipe se dirigiu à madrasta. ‘Venho procurar a dona desse tênis de cristal. Poderia testar nas suas filhas?

‘Eu primeiro’ a pequena Setheah disse.

‘Melhor não.’ O príncipe barrou.

Leah se sentou e calçou, mas seu pé era extremamente grande para caber no sapato.

‘Que seja, não queria morar naquela droga de castelo mesmo, seu fedorento’. Ela disse.

‘Há uma outra moça aqui nessa casa’.

‘Tem a Cinderbella… A Cinderbella, mamãe, chama ela, ela é uma moça e mora nessa casa. A Cinderbella está lá em cima, não quer que eu a chame? Ela vem num instantinho…’ Setheah

‘Não tem outra moça aqui.’ A madrasta disse, ignorando a filha.

‘Então, muito obrigado’. O príncipe disse, saindo.

‘Espera, príncipe Edward. Eu posso calçar o sapato?’ ouviu-se uma voz no alto da escada.

‘Eu não falei que tinha outra moça?’ Setheah disse, tomando um cascudo da mãe.

‘Fica quieta, guria.’ O príncipe disse. ‘Sim, você pode descer até aqui e calçar esse tê-ê-êee…’ ele disse, quando Leah pegou o sapato e atirou no chão, quebando-o. ‘Por que você fez isso?’

‘Estragar a felicidade alheia faz meu dia mais feliz.’ Ela disse, secamente.

‘Não tem problema, eu tenho outro…’ Cinderbella disse, descendo a escada com o sapato na mão. Mas, por uma força maior chamada gravidade, ela caiu uma a uma jaca madura, rolando até chegar ao chão, em cima do sapato, quebrando-o. ‘E agora? O que fazer?’

‘Deixa eu cheirar seu pé?’ o príncipe pediu.

‘Ihhh, podolatria aqui não’ A rata gritou de sua toca.

Ignorando os comentários da ratinha, ele cheirou o pé da menina.

‘É você!’ Ele disse, sorrindo.

‘Sim… Agora poderemos ficar juntos para sempre’.

‘Na verdade, não. Sou um vampiro… Não vou envelhecer…’

‘Você… não…não… não…. não… vai envelhecer?’

‘Bem…não’

‘Peter Pan, seu infeliz, venha aqui’

‘Por favor, não me bate, não me bate’ O Peter Pan chegou, voando de maneira fraca, como se fosse um pássaro com a asa quebrada.

‘Não quero envelhecer… Como faz?’

‘Bom…há três opções.

1) Pensamentos felizes…’
‘Esse é com a vizinha aí do lado, a tal da Giselle de Andalásia…Próximo’

‘2) O príncipe pode te morder…’

‘Sem chances’ o príncipe resmungou.

‘E tem o pó que você roubou ontem de mim…’

Sem pensar duas vezes, a menina jogou metade do saco em cima de sua cabeça.

‘Pó parar com o pó, minha filha… Vai acabar… Acha que é fácil arranjar pirlimpimpim?’ Peter Pan disse, tomando o saquinho e saindo de cena.

A pele da Cinderbella começou a ficar mais branca, fazendo sumir os hematomas da última noite. O príncipe não teve outra opção a não ser levá-la ao castelo, já que uma vez vampira, a família não aceitaria a menina de volta por causa do cheiro. Então eles foram e viveram felizes para sempre. ’”

Olhei a figurinha adormecida no sofá. Não é a toa que a menina não interrompeu. Dormiu a história toda…

Como tinha a madrugada inteira pra fazer, resolvi fazer algo de legal.

Abri a janela de casa e entoei uma linda melodia.

– Ahhhh, ahhhhh, ahhhhhhhhhh.

Vários animaizinhos da floresta vieram até a nossa casa… Mas quando me viram foram embora… Não sei por que animais não gostam dos Cullen…

Então resolvi assistir o filme que fiz de quando Bella e Edward trocaram suas primeiras juras de amor.

– Divertido isso, né? – A voz de Edward surgiu atrás de mim.

– Oh… oh…

Bom, o que Edward disse, eu vou privá-los disso. Edward pela primeira vez não foi nada cavalheiro. Acho que tem andado muito com Rose… Aprendendo palavras feias. Ainda bem que Nessie estava dormindo, imagine só. Ela é uma criança, acordar ouvindo isso… Não quero nem pensar.

Meu castigo?

– Já que você gosta tanto de escrever, vai escrever por seis dias. – disse Edward.

Então, comecei a escrever “A vida íntima de Bella e Edward não me interessa”. Mas o castigo ficou pior… Ele descobriu que eu joguei o vídeo na internet…

– EMMETT! – Edward gritou.

Então, estou eu agora, vestido de Giselle, sentado no meio da floresta, escrevendo “A vida íntima de Bella e Edward não me interessa e também a mais ninguém”… Toda vez que uma buzina toca, eu tenho que cantar Happy Working Song. Melhor começar a esconder a coleção “Bella humana”. Vai que Edward ache o filme da Ilha Esme?

Bem, Monstrinhos e Monstrinhas. A buzina vai tocar em alguns instantes, então, eu me despeço.

Com muito amor, músculos e lindos pensamentos musicais (essa roupa não está me fazendo bem)

Tio Emmett, de Andalásia.

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 13

CAPÍTULO XCVI / UM SUBSTITUTO
Expus a Capitu a idéia de José Dias. Ouviu-me atentamente. e acabou triste.

–Você indo, disse ela, esquece-me inteiramente.

–Nunca!

–Esquece. A Europa dizem que é tão bonita, e a Itália principalmente. Não é de lá que vêm as cantoras? Você esquece-me, Bentinho. E não haverá outro meio? D. Glória está morta para que você saia do seminário.

–Sim, mas julga-se presa pela promessa.

Capitu não achava outra idéia, nem acabava de adotar esta. De caminho, pediu-me que, se acaso fosse a Roma, jurasse que no fim de seis meses estaria de volta.

–Juro.

–Por Deus?

–Por Deus, por tudo. Juro que no fim de seis meses estarei de volta.

Mas se o papa não tiver ainda soltado a você? Mando dizer isso mesmo.

E se você mentir?

Esta palavra doeu-me muito, e não achei logo que lhe replicasse Capitu meteu o negócio à bulha, rindo e chamando-me disfarçado Depois, declarou crer que eu cumpriria o juramento, mas ainda assim não consentiu logo; ia ver se não haveria outra cousa. e eu que visse também por meu lado.

Quando voltei ao seminário, contei tudo ao meu amigo Escobar que me ouviu com igual atenção e acabou com a mesma tristeza da outra. Os olhos, de costume fugidios, quase me comeram de contemplação. De repente, vi-lhe no rosto um clarão, um reflexo de idéia e ouvi-lhe dizer com volubilidade:

–Não, Bentinho, não é preciso isso. Há melhor, –não dizia melhor, porque o Santo Padre vale sempre mais que tudo,–mas ha cousa que produz o mesmo efeito.

— Que é?

–Sua mãe fez promessa a Deus de lhe dar um sacerdote não é? Pois bem, dê-lhe um sacerdote, que não seja você. Ela pode muito bem tomar a si algum mocinho órfão, fazê-lo ordenar à sua custa, está dado um padre ao altar, sem que você…

–Entendo, entendo, é isso mesmo.

–Não acha? continuou ele. Consulte sobre isto o protonotário: ele lhe dirá se não é a mesma cousa, ou eu mesmo consulto, se quer e se ele hesitar, fala-se ao Sr. bispo.

Eu, refletindo:

–Sim, parece que é isso; realmente, a promessa cumpre-se, não se perdendo o padre.

Escobar observou que, pelo lado econômico, a questão era fácil minha mãe gastaria o mesmo que comigo, e um órfão não precisaria grandes comodidades. Citou a soma dos aluguéis das casas, … 1.070$000, além dos escravos…

–Não há outra cousa, disse eu.

–E saímos juntos.

–Você também?

–Também eu. Vou melhorar o meu latim e saio; nem dou teologia. O próprio latim não é preciso; para que no comércio?

–In hoc signo vinces, disse eu rindo.

Sentia-me pilhérico. Oh! como a esperança alegra tudo. Escobar sorriu, parecendo gostar da resposta. Depois ficamos a cuidar de nós mesmos, cada um com os seus olhos perdidos, provavelmente. Os dele estavam assim. quando tornei de longe, e agradeci de novo o plano lembrado; não podia havê-lo melhor. Escobar ouviu-me contentíssimo.

— Ainda uma vez, disse ele gravemente, a religião c a liberdade fazem boa companhia.

CAPÍTULO XCVII / A SAÍDA

Tudo se fez por esse teor. Minha mãe hesitou um pouco, mas acabou cedendo, depois que o Padre Cabral, tendo consultado o bispo. voltou a dizer-lhe que sim, que podia ser. Saí do seminário no fim to ano.

Tinha então pouco mais de dezessete… Aqui devia ser o meio do livro, mas a inexperiência fez-me ir atrás da pena, e chego quase ao fim do papel, com o melhor da narração por dizer. Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre capítulo, pousa emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta página vale por meses, outras valerão por anos, e assim chegaremos ao fim. Um dos sacrifícios que faço a esta dura necessidade é a análise das minhas emoções dos dezessete anos. Não sei se alguma vez tiveste dezessete anos. Se sim, deves saber que é a idade em que a metade do homem e a metade do menino formam um só curioso. Eu era um curiosíssimo, diria o meu agregado José Dias, e não diria mal. O que essa qualidade superlativa me rendeu não poderia nunca dizê-lo aqui, sem cair no erro que acabo de condenar; a análise das minhas emoções daquele tempo é que entrava no meu plano. Posto que filho do seminário e de minha mãe, sentia já, debaixo do recolhimento casto, uns assomos de petulância e de atrevimento; eram do sangue, mas eram também das moças que na rua ou da janela não me deixavam viver sossegado. Achavam-me lindo, e diziam-mo; algumas queriam mirar de mais perto a minha beleza, e a vaidade é um princípio de corrupção.

CAPÍTULO XCVIII / CINCO ANOS

Venceu a razão; fui-me aos estudos.

Passei os dezoito anos, os dezenove, os vinte, os vinte e um; aos vinte e dous era bacharel em Direito.

Tudo mudara em volta de mim. Minha mãe resolvera-se a envelhecer; ainda assim os cabelos brancos vinham de má vontade, aos poucos e espalhadamente; a touca, os vestidos, os sapatos rasos e surdos eram os mesmos de outrora. Já não andaria tanto de um lado para outro. Tio Cosme padecia do coração e ia descansar. A prima Justina apenas estava mais idosa. José Dias também, não tanto que me não fizesse a fineza de ir assistir à minha graduação, e descer comigo a serra, lépido e viçoso, como se o bacharel fosse ele. A mãe de Capitu falecera, o pai aposentara-se no mesmo cargo em que quis dar demissão da vida.

Escobar começava a negociar em café depois de haver trabalhado quatro anos em uma das primeiras casas do Rio de Janeiro. Era opinião de prima Justina que ele afagara a idéia de convidar minha mãe a segundas núpcias; mas, se tal idéia houve, cumpre não esquecer a grande diferença de idade. Talvez ele não pensasse em mais que associá-la aos seus primeiros tentamens comerciais, e de fato, a pedido meu, minha mãe adiantou-lhe alguns dinheiros, que ele lhe restituiu, logo que pôde, não sem este remoque: “D. Glória é medrosa e não tem ambição.”

A separação não nos esfriou. Ele foi o terceiro na troca das cartas entre mim e Capitu. Desde que a viu animou-me muito no nosso amor. As relações que travou com o pai de Sancha estreitaram as que já trazia com Capitu, e fê-lo servir a ambos nós, como amigo. A princípio, custou-lhe a ela aceitá-lo, preferia José Dias, mas José Dias repugnava-me por um resto de respeito de criança. Venceu Escobar posto que vexada, Capitu entregou-lhe a primeira carta, que foi mãe e avó das outras. Nem depois de casado suspendeu ele o obséquio… Que ele casou,–adivinha com quem,–casou com a boa Sancha a amiga de Capitu, quase irmã dela, tanto que alguma vez, escrevendo-me, chamava a esta a “sua cunhadinha.” Assim se formam as afeições e os parentescos, as aventuras e os livros.

CAPÍTULO XCIX / O FILHO É A CARA DO PAI

Minha mãe, quando eu regressei bacharel quase estalou de felicidade Ainda ouço a voz de José Dias, lembrando o evangelho de São João, e dizendo ao ver-nos abraçados:

— Mulher, eis aí o teu filho! Filho, eis aí a tua mãe!

Minha mãe, entre lágrimas:

— Mano Cosme, é a cara do pai, não é?

–Sim, tem alguma cousa, os olhos, a disposição do rosto. É o pai, um pouco mais moderno, concluiu por chalaça. E diga-me agora mana Glória, não foi melhor que ele não teimasse em ser padres Veja se este peralta daria um padre capaz.

–Como vai o meu substituto?

–Vai indo, ordena-se para o ano, respondeu tio Cosme. Hás de ir ver a ordenação; eu também, se o meu senhor coração consentir. É bom que te sintas na alma do outro, como se recebesses em ti mesmo a sagração.

–Justamente! exclamou minha mãe. Mas veja bem, mano Cosme, veja se não é a figura do meu defunto. Olha, Bentinho, olha bem para mim. Sempre achei que te parecias com ele, agora é muito mais. O bigode é que desfaz um pouco…

–Sim, mana Glória, o bigode realmente… mas é muito parecido.

E minha mãe beijava-me com uma ternura que não sei escrever Tio Cosme, para alegrá-la, chamava-me doutor, José Dias também, e todos em casa, a prima, os escravos, as visitas, Pádua, a filha, e ela mesma repetiam-me o título.

CAPÍTULO C / “TU SERÁS FELIZ, BENTINHO”

No quarto, desfazendo a mala e tirando a carta de bacharel de dentro da lata, ia pensando na felicidade e na glória. Via o casamento e a carreira ilustre, enquanto José Dias me ajudava calado e zeloso. Uma fada invisível desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: “Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz.”

–E por que não seria feliz? perguntou José Dias, endireitando o tronco e fitando-me.

–Você ouviu? perguntei eu erguendo-me também. espanta

–Ouviu o quê?

–Ouviu uma voz que dizia que eu serei feliz?

–É boa! Você mesmo é que está dizendo…

Ainda agora sou capaz de jurar que a voz era da fada; naturalmente as fadas, expulsas dos contos e dos versos, meteram-se no coração da gente e falam de dentro para fora. Esta, por exemplo, muita vez a ouvi clara e distinta. Há de ser prima das feiticeiras da Escócia: “Tu serás rei, Macbeth!” — “Tu serás feliz, Bentinho!” Ao cabo, é a mesma predição, pela mesma toada universal e eterna. Quando voltei do meu espanto, ouvi o resto do discurso de José Dias:

— Há de ser feliz, como merece, assim como mereceu esse diploma que ali está, que não é favor de ninguém. A distinção que tirou em todas as matérias é prova disso; já lhe contei que ouvi da boca dos lentes, em particular, os maiores elogios. Demais, a felicidade não é só a glória, é também outra cousa… Ah! você não confiou tudo ao velho José Dias! O pobre José Dias está aí para um canto, é caju chupado, não vale nada; agora são os novos, os Escobares… Não lhe nego que é moço muito distinto, e trabalhador, e marido de truz; mas, enfim, velho também sabe amar…

–Mas que é?

–Que há de ser? Quem é que não sabe tudo?… Aquela intimidade de vizinhos tinha de acabar nisto, que é verdadeiramente uma bênção do céu, porque ela é um anjo, é um anjíssimo… Perdoe a cincada, Bentinho, foi um modo de acentuar a perfeição daquela moça. Cuidei o contrário, outrora; confundi os modos de criança com expressões de caráter, e não vi que essa menina travessa e já de olhos pensativos era a flor caprichosa de um fruto sadio e doce… Por que é que não me contou também o que outros sabem, e cá em casa está mais que adivinhado e aprovado?

–Mamãe aprova deveras?

–Pois então? Temos falado sobre isso, e ela fez-me o favor de pedir a minha opinião. Pergunte-lhe o que é que eu lhe disse em termos claros e positivos; pergunte-lhe. Disse-lhe que não podia desejar melhor nora para si, boa, discreta, prendada, amiga da gente… e uma dona de casa, que não lhe digo nada. Depois da morte da mãe, tomou conta de tudo. Pádua, agora que se aposentou, não faz mais que receber o ordenado e entregá-lo à filha. A filha é que distribui o dinheiro, paga as contas, faz o rol das despesas, cuida de tudo, mantimento, roupa, luz; você já a viu o ano passado. E quanto à formosura você sabe melhor que ninguém…

–Mas, deveras, mamãe consultou o senhor sobre o nosso casamento?

–Positivamente, não; fez-me o favor de perguntar se Capitu não daria uma boa esposa; eu é que, na resposta, falei em nora. D. Glória não negou e até deu um ar de riso.

–Mamãe sempre que me escrevia, falava de Capitu.

–Você sabe que elas se dão muito, e por isso é que sua prima anda cada vez mais amuada. Talvez agora case mais depressa.

–Prima Justina?

–Não sabe? São contos, naturalmente; mas enfim, o Doutor João da Costa enviuvou há poucos meses, e dizem (não sei, o protonotário é que me contou) dizem que os dous andam meio inclinados a acabar com a viuvez, entre si, casando-se. Há de ver que não ha nada, mas não é fora de propósito, contanto ela sempre achasse que o doutor era um feixe de ossos… Só se ela é um cemitério, comentou rindo; e logo sério: Digo isto por gracejo…

Não ouvi o resto. Ouvia só a voz da minha fada interior, que me repetia mas já então sem palavras: “Tu serás feliz, Bentinho!” E a voz de Capitu me disse a mesma cousa, com termos diversos, e assim também a de Escobar, os quais ambos me confirmaram a notícia de José Dias pela sua própria impressão. Enfim, minha mãe, algumas semanas depois, quando lhe fui pedir licença para casar, além do consentimento, deu-me igual profecia, salva a redação própria de mãe: “Tu serás feliz, meu filho!

CAPÍTULO CII/ NO CÉU

Pois sejamos felizes de uma vez, antes que o leitor pegue em si, morto de esperar, e vá espairecer a outra parte; casemo-nos. Foi em 1865, uma tarde de março, por sinal que chovia. Quando chegamos ao alto da Tijuca, onde era o nosso ninho de noivos, o céu recolheu a chuva e acendeu as estrelas, não só as já conhecidas, mas ainda as que só serão descobertas daqui a muitos séculos. Foi grande fineza e não foi única. S. Pedro, que tem as chaves do céu, abriu-nos as portas dele, fez-nos entrar, e depois de tocar-nos com o báculo, recitou alguns versículos da sua primeira epístola: “As mulheres sejam sujeitas a seus maridos… Não seja o adorno delas o enfeite dos cabelos riçados ou as rendas de ouro, mas o homem que está escondido no coração… Do mesmo modo, vós, maridos, coabitai com elas, tratando-as com honra, como a vasos mais fracos, e herdeiras convosco da graça da vida…” Em seguida, fez sinal aos anjos, e eles entoaram um trecho do cântico, tão concertadamente, que desmentiriam a hipótese do tenor italiano, se a execução fosse na terra; mas era no céu. A música ia com o texto, como se houvessem nascido juntos, à maneira de uma ópera de Wagner. Depois, visitamos uma parte daquele lugar infinito. Descansa que não farei descrição alguma, nem a língua humana possui formas idôneas para tanto.

Ao cabo, pode ser que tudo fosse um sonho, nada mais natural a um ex-seminarista que ouvir por toda a parte latim e Escritura. A verdade que Capitu, que não sabia Escritura nem latim, decorou algumas palavras, como estas, por exemplo: “Sentei-me à sombra daquele que tanto havia desejado.” Quanto às de S. Pedro, disse-me no dia seguinte que estava por tudo, que eu era a única renda e o único enfeite que jamais poria em si. Ao que eu repliquei que a minha esposa teria sempre as mais finas rendas deste mundo.

CAPÍTULO CII / DE CASADA

Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de maneira que não se vissem as horas escritas. O pêndulo iria de um lado para outro mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do tempo. Tal foi aquela semana da Tijuca.

De quando em quando, tornávamos ao passado e divertíamo-nos em relembrar as nossas tristezas e calamidades, mas isso mesmo era um modo de não sairmos de nós. Assim vivemos novamente a nossa longa espera de namorados, os anos da adolescência, a denúncia que está nos primeiros capítulos, e ríamos de José Dias que conspirou a nossa desunião, e acabou festejando o nosso consórcio. Uma ou outra vez, falávamos em descer, mas as manhãs marcadas eram sempre de chuva ou de sol, e nós esperávamos um dia encoberto, que teimava em não vir.

Não obstante, achei que Capitu estava um tanto impaciente por descer. Concordava em ficar, mas ia falando do pai e de minha mãe, da falta de notícias nossas, disto e daquilo, a ponto que nos arrufamos um pouco. Perguntei-lhe se já estava aborrecida de mim.

–Eu?

–Parece.

–Você há de ser sempre criança, disse ela fechando-me a cara entre as mãos e chegando muito os olhos aos meus. Então eu esperei tantos anos para aborrecer-me em sete dias? Não, Bentinho; digo isto porque é realmente assim, creio que eles podem estar desejosos de, ver-nos e imaginar alguma doença, e, confesso, pela minha parte, que queria ver papai.

–Pois vamos amanhã.

–Não; há de ser com tempo encoberto, redargüiu rindo.

Peguei-lhe no riso e na palavra, mas a impaciência continuou, e descemos com sol.

A alegria com que pôs o seu chapéu de casada, e o ar de casada com que me deu a mão para entrar e sair do carro, e o braço para andar na rua, tudo me mostrou que a causa da impaciência de Capitu eram os sinais exteriores do novo estado. Não lhe bastava ser casada entre quatro paredes e algumas árvores; precisava do resto do mundo também. E quando eu me vi embaixo, pisando as ruas com ela, parando, olhando, falando, senti a mesma cousa. Inventava passeios para que me vissem, me confirmassem e me invejassem. Na rua, muitos voltavam a cabeça curiosos, outros paravam, alguns perguntavam: “Quem são?” e um sabido explicava: “Este é o Doutor Santiago, que casou há dias com aquela moça, D. Capitolina, depois de uma longa paixão de crianças; moram na Glória, as famílias residem em Mata-cavalos.” E ambos os dous: “A uma mocetona!”

CAPÍTULO CIII / A FELICIDADE TEM BOA ALMA

Mocetona é vulgar; José Dias achou melhor. Foi a única pessoa cá de baixo que nos visitou na Tijuca, levando abraços dos nossos e palavras suas, mas palavras que eram músicas verdadeiras; não as ponho aqui para ir poupando papel, mas foram deliciosas. Um dia. comparou-nos a aves criadas em dous vãos de telhados contíguos. Imagina o resto, as aves emplumando as asas e subindo ao céu, e o céu agora mais largo para poder contê-las também. Nenhum de nós riu, ambos escutávamos comovidos e convencidos, esquecendo tudo, desde a tarde de 1858… A felicidade tem boa alça.

CAPÍTULO CIV / AS PIRÂMIDES

José Dias dividia-se agora entre mim e minha mãe, alternando os jantares da Glória com os almoços de Mata-cavalos. Tudo corria bem.

Ao fim de dous anos de casado, salvo o desgosto grande de não ter um filho, tudo corria bem. Perdera meu sogro, é verdade, e o tio Cosme estava por pouco, mas a saúde de minha mãe era boa; a nossa excelente.

Eu era advogado de algumas casas ricas, e os processos vinham chegando. Escobar contribuíra muito para as minhas estréias no foro. Interveio com um advogado célebre para que me admitisse à sua banca, e arranjou-me algumas procurações, tudo espontaneamente.

Demais, as nossas relações de família estavam previamente feitas; Sancha e Capitu continuavam depois de casadas a amizade da escola, Escobar e eu a do seminário. Eles moravam em Andaraí, aonde que riam que fôssemos muitas vezes, e, não podendo ser tantas como desejávamos, íamos lá jantar alguns domingos, ou eles vinham fazê-lo conosco. Jantar é pouco, íamos sempre muito cedo, logo depois do almoço, para gozarmos o dia compridamente, e só nos separávamos às nove, dez e onze horas, quando não podia ser mais. Agora que penso naqueles dias de Andaraí e da Glória, sinto que a vida e o resto não sejam tão rijos como as Pirâmides.

Escobar e a mulher viviam felizes, tinham uma filhinha. Em tempo ouvi falar de uma aventura do marido, negócio de teatro, não sei que atriz ou bailarina, mas se foi certo, não deu escândalo. Sancha era modesta, o marido trabalhador. Como eu um dia dissesse a Escobar que lastimava não ter um filho, replicou-me:

–Homem, deixa lá. Deus os dará quando quiser, e se não der nenhum é que os quer para si, e melhor será que fiquem no céu.

–Uma criança, um filho é o complemento natural da vida.

–Virá, se for necessário.

Não vinha. Capitu pedia-o em suas orações, eu mais de uma vez dava por mim a rezar e a pedi-lo. Já não era como em criança; agora pagava antecipadamente, como os aluguéis da casa.
–––––––––––––––
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Concurso de Poesias do Centenário do Contestado (Prazo: 05 de Maio de 2013)

Organização:
Fundação Memória Viva do Contestado

Inscrições:
http://contestadodesvendandopoesias.wordpress.com/inscricoes/

EDITAL Nº 001/2013

A FUNDAÇÃO MEMÓRIA VIVA DO CONTESTADO DA REGIÃO DO IRANI (CNPJ 04.169.893/0001-54) – Entidade Filantrópica, fundada 01/11/2000, sediada na Rodovia 153 Km 64 – Banhado Grande – Irani SC, em Conjunto com a Comissão Executiva do Projeto Contestado: Desvendando os cem anos da Guerra, torna pública a abertura de inscrições para a participação dos interessados no concurso: “Contestado desvendando os 100 anos da Guerra poesias“. O presente concurso tem amparo, no que couber, no art. 22, § 4º, da Lei nº 8.666/93 e demais legislação pertinente, e ainda, será regido pelas normas do Regulamento abaixo estabelecido.

REGULAMENTO

I. APRESENTAÇÃO

 O Concurso de poesias aqui apresentado compõe uma das doze grandes ações (ou subprojetos) construídas no projeto “Contestado: Desvendando os cem anos da Guerra” proposto e construído por uma Coordenação Executiva com representantes das seguintes instituições parceiras/executoras: UFFS – Universidade Federal da Fronteria Sul, UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária da Região de Chapecó – CEOM (Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina), UFSC – Universidade Federal da Santa Catarina/Campus Curitibanos, UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina e UnC – Universidade do Contestado, Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Chapecó e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – Campus de Concórdia.

 A realização deste concurso de poesias alusivas ao Centenário do Contestado configura-se numa oportunidade de publicação e divulgação de produções artísticas, históricas e literárias. Constitui-se em estímulo a criatividade e a produção de material didático de estudos históricos, artísticos e de literatura catarinense. Poderá participar neste concurso toda a comunidade escolar e acadêmica das instituições que elaboraram e executam o projeto, bem como toda a rede pública e privada de ensino catarinense, poetas e escritores.

 O concurso viabilizará o conhecimento e o aprofundamento dos estudos sobre a História da Região do Contestado. Este concurso propiciará aos autores: estudos e produção de poesias inspiradas nos temas: paisagem, fauna, águas, trilhas e veredas, ocupação humana, religiosidade, ferrovia, extração de madeira, cidades e a Guerra do Contestado.

 Cada participante poderá concorrer somente com 01 (uma) poesia em cada tema proposto (totalizando 05 poesias para cada categoria). As poesias inscritas serão submetidas a uma Comissão Julgadora que selecionará as duzentas poesias que melhor se enquadram às condições deste regulamento.

 Depois de selecionadas, as duzentas poesias serão publicadas em um livro que reunirá todas as poesias classificadas. Os autores de poesias publicadas receberão 1 (um) exemplar do livro. A Escola onde o estudante está matriculado também receberá 5 (cinco) exemplares do livro de poesias para serem disponibilizados na biblioteca (Em caso de mais de uma poesia selecionada pela mesma escola não muda o número de exemplares para cada instituição). A Escola do aluno regularmente matriculado e selecionado também receberá cópia de um DVD do Concurso, com o recital das poesias nos eventos de lançamento do livro e entrega de premiações.

 No título da poesia selecionada constará, além do nome do autor, a identificação da instituição e dos professores de História e Lingua Portuguesa. Estes docentes orientadores também receberão um exemplar do livro, entregues no dia do lançamento.

 A entrega dos livros, bem como de medalhas e diplomas, ocorrerá durante as solenidades que serão realizadas pela Comissão Executiva do Projeto nas cidades a seguir: Irani, Chapecó, Porto União, Joaçaba, Mafra, Canoinhas, Curitibanos, Caçador, Lebon Régis e Timbó Grande em data já definidas. Nestas cidades e datas serão lançados os livros e ocorrerá a entrega da premiação aos autores selecionados e material produzido para as instituições. As instituições de ensino e os premiados que não se fizerem presentes poderão nomear um representante legal (através de procuração) para receber prêmios e exemplares dos livros.

II. OBJETIVOS

II. 1Objetivo Geral: incentivar a produção de poesias e realizar concurso de seleção das 200 poesias abordando as temáticas proposta no projeto maior, para publicação em livro, recitação em evento, produção de DVD e disponibilização nas instituições escolares catarinenses participantes do concurso e selecionadas.

II. 2 Objetivos Específicos:

Entre os objetivos que este concurso pretende alcançar com a realização do mesmo:

II.2.1 Estimular a participação e o estudo da História do Contestado;

II.2.2 Provocar reflexões sobre o Centenário do Início da Guerra do Contestado;

II.2.3 Fomentar diferentes olhares sobre o Movimento do Contestado;

II.2.4 Aproximar a sociedade, poetas e escritores da comunidade escolar;

II.2.5 Incentivar o espírito criativo dos participantes;

II.2.6 Registrar em poesias a luta histórica do movimento do contestado no Estado de Santa Catarina;

II.2.7 Selecionar 150 poesias nas temáticas propostas na categoria escolar e acadêmica;

II.2.8 Selecionar 50 poesias nas temáticas propostas na categoria livre, sendo amadora ou profissional;

II.2.9 Publicar um livro com as 200 poesias selecionadas;

II.2.10 Realizar eventos com recitação das poesias selecionadas e lançamento do livro;

II.2.11 Distribuir exemplar do livro aos autores das poesias, orientadores e instituições de ensino com alunos classificados;

II.2.12 Distribuir DVDs da recitação, durante todos os lançamentos, para as instituições dos alunos classificados;

II.2.13 Instigar a curiosidade, estudos e reflexões nas instituições de ensino e na sociedade sobre a História da Região do Contestado.

III. CONDIÇÕES PARA PARTICIPAÇÃO

III.1 Poderão participar os estudantes regularmente matriculados no Ensino Fundamental (do 4º ao 9º ano) no Ensino Médio e no Ensino Superior (Cursos de graduação: licenciatura e bacharelado) na categoria escolar e acadêmica. Também poderão participar poetas, escritores profissionais e amadores na categoria livre.

III.2 Não será cobrado qualquer valor a título de taxa de participação/inscrição no concurso.

III.3 Os participantes poderão apresentar poesia(s) que sejam relacionadas exclusivamente aos temas propostos, como reflexões sobre o Centenário:

Paisagem (floresta ombófila mista, clima, relevo…);
Fauna (animais, pássaros, peixes, insetos…);
Águas (Rios Iguaçu, Uruguai e suas bacias, nascentes…)
Trilhas e veredas (caminhos antigos e atuais);
Ocupação humana (grupos étnicos diversos);
Religiosidade (Monges, frades, ordens religiosas, messianismo…);
Ferrovia (EFSP-RG, ramais, estações, ruínas…);
Extração de madeira (Madeireiras antigas e atuais, a Lumber, indústrias….)
Cidades (Povoados, vilas, distritos, localidades, redutos, cidades santas…);
Guerra do Contestado (Conflito armado, movimento bélico, exército republicano brasileiro, exército de São Sebastião…).

III.4 A(s) poesia(s) deverá(ão) ser inédita(s) e o autor indicará em qual tema está se inscrevendo conforme a numeração anterior. Cada autor poderá se inscrever com 05(cinco) poesias, mas obrigatoriamente será somente uma poesia sobre cada um dos 05 temas de cada categoria.

III.5 Os alunos do Ensino Fundamental (4º ao 9º ano) e Ensino Médio, poderão participar inscrevendo até 05 (cinco) poesias nos seguintes temas (somente uma poesia em cada tema):

01. Paisagem (floresta ombófila mista, clima, relevo…

03. Águas (Rios Iguaçu, Uruguai e suas bacias, nascentes…)

05. Ocupação humana (grupos étnicos diversos);

07. Ferrovia (EFSP-RG, ramais, estações, ruínas…);

09. Cidades (Povoados, vilas, distritos, localidades, redutos, cidades santas…).

III.6 Os alunos do Ensino Superior (Licenciatura e Bacharelado) e poetas (escritores amadores ou profissionais sem vínculo com instituições de ensino), poderão participar inscrevendo até 05 (cinco) poesias nos seguintes temas (somente uma poesia em cada tema):

02. Fauna (animais, pássaros, peixes, insetos…);

04. Trilhas e veredas (caminhos antigos e atuais);

06. Religiosidade (Monges, frades, ordens religiosas, messianismo…);

08. Extração de madeira (Madeireiras antigas e atuais, a Lumber, indústrias….)

10. Guerra do Contestado (Conflito armado, movimento bélico, exército republicano brasileiro, exército de São Sebastião…).

III.7 Cada participante poderá ter no máximo 5 (cinco) inscrições efetivadas e somente nos temas indicados anteriormente (III.5 e III.6) e com indicação do local de premiação (VII – do VII.1 ao VII.10) onde também irá recitar a(s) poesia(s) em caso de classificação.

III.8 O(a) autor(a) somente poderá participar do concurso mediante assinatura do “Termo de Concordância e Autorização” assinado, (ANEXO I – para estudantes e para poetas) que é parte integrante deste edital, através do qual declara conhecer e concordar expressamente com os seus termos, além de autorizar a publicação de sua(s) poesia(s) pela Fundação Memória Viva do Contestado, conforme as condições aqui apresentadas.

IV. PROCEDIMENTOS PARA PARTICIPAÇÃO

IV.1 Os participantes deverão acessar o BLOG

contestadodesvendandopoesias.wordpress.com e acessar o campo INSCRIÇÕES: escolher a categoria (estudantes ou poetas), preencher os dados solicitados e enviar. Ou baixar o formulário (ANEXO II – Formulário de inscrição para estudantes de Ensino Fundamental e Médio, Estudantes de Ensino Superior e para Poetas), preencher e enviar, por e-mail, para poesias.contestado@gmail.com. Duas cópias da(s) poesia(s) deverão ser encaminhadas impressas via postal (carta simples) para a FUNDAÇÃO MEMÓRIA VIVA DO CONTESTADO DA REGIÃO DO IRANI (Concurso Poesias) – Rod. BR 153 Km 64, Banhado Grande, Cep: 89680-000 – Irani SC. Importante: das duas cópias da(s) poesia(s) inscrita(s), somente uma virá identificada com o nome, a outra será reproduzida para envio aos avaliadores e terá outra identificação, ficando resguardada a autoria durante o processo de classificação (ANEXO III – poesias inscritas).

IV.2 A(s) poesia(s) deverá(ão) ser enviada(s) até às 24:00 horas, horário de Brasília, do dia 05 de maio de 2013 através do e-mail poesias.contestado@gmail.com, e postadas no correio até às 18hs do mesmo dia.

IV.3 O “Termo de Concordância e Autorização” (Anexo I) deverá também ser encaminhado para o e-mail junto com a(s) poesia(s) inscrita(s) e devidamente assinado. Deverá ser postado no correio junto com a(s) poesia(s) no endereço indicado acima (Fundação Memória Viva do Contestado da Região do Irani SC).

IV.4 O “Termo de Concordância e Autorização” também poderá ser entregue assinado, pessoalmente até a data (05/05/2013) na Fundação Memória Viva do Contestado do Irani, mediante assinatura de protocolo específico no local do recebimento do termo.

IV.5 Nas Escolas/Colégios/Universidades, o “Termo de Concordância e Autorização”, bem como os demais anexos (I, II e III), poderão ser recolhidos pela própria instituição (auxiliando e orientando principalmente os alunos de Ensino Fundamental) e enviadas num único envelope, mediante encaminhamento também do protocolo numerado do recebimento das poesias e assinatura dos autores.

IV.6 Atenção: nos casos em que o participante do concurso de poesias é menor de idade (até 18 anos) a autorização deverá também ser assinada pelos pais ou responsáveis.

IV.7 As poesias enviadas para este concurso, após a classificação das que serão publicadas, ficarão à disposição da Fundação Memória Viva do Contestado da Região do Irani, podendo ser expostas e divulgadas amplamente em eventos próprios promovidos e/ou eventos apoiados pela Fundação.

IV.8 As poesias enviadas para este concurso, após a classificação das que serão publicadas, também poderão ser cedidas, a critério da Fundação Memória Viva do Contestado da Região do Irani, para utilização com finalidade didática nas escolas participantes, principalmente nos componentes curriculares de História, Geografia, Literatura e Lingua Portuguesa.

V. SELEÇÃO DAS POESIAS

V.1 O material enviado por e-mail até às 24:00h do dia 05/05/2013, será encaminhado para a Comissão Julgadora composta por profissionais das instituições parceiras do projeto (citados no ítem I. Apresentação). Serão distribuídas conforme a área geográfica de abrangência, para classificação de 20 poesias em cada um dos locais onde se farão os lançamentos.

V.2 As Comissões Julgadoras serão formadas por professores de História, Geografia, Literatura, Lingua Portuguesa e áreas afins. Todos profissionais titulados (mestres ou doutores) e pertencentes ao corpo docente das instituições que auxiliaram na construção do projeto “Contestado: Desvendando os cem anos da Guerra” ou profissionais de outras instituições nomeados para este fim pela Coordenação Executiva, Conselho Deliberativo e responsáveis pelo subprojeto 4,objeto deste edital.

V.3 As poesias somente serão avaliadas pelas Comissões Julgadoras quando a mesma possuir o respectivo “Termo de Concordância e Autorização”, devidamente assinado, pelo participante ou seu responsável em caso de menores de idade e estar dentro da classificação disposta nos ítens III.5 e III.6.

V.4 As Comissões Julgadoras deverão selecionar 200 (duzentas) poesias  dentre as concorrentes (150 na categoria escolar/acadêmica e 50 na categoria livre – amadora ou profissional).

V.5 A divulgação do resultado das 200 poesias selecionadas, será no dia 10 de julho de 2013, através do blog “Contestado desvendando os 100 anos da Guerra poesias”, na imprensa e os selecionados receberão comunicado via correio eletrônico.

V.6 As escolas, cujos alunos foram classificados também serão comunicadas para que possam se organizar para participar no evento de premiação e entrega dos livros.

V.7 As poesias que não atenderem as condições e exigências deste edital serão excluídas do processo de seleção.

V.8 Na avaliação de seleção das poesias a Comissão Julgadora observará os seguintes critérios:

a) Originalidade e expressividade;

b) Criatividade;

c) Capacidade de síntese e de expressão sobre o significado “Centenário da Guerra do Contestado”.

V.9 Cada poesia, deverá ter no mínimo 3 (três) e, no máximo 12 (doze) estrofes1.

V.10 Cada estrofe, deverá ter no mínimo 3 (três) e, no máximo 9 (nove) versos2.

V.11 Os autores, necessariamente, deverão indicar o tema da(s) sua(s) poesia(s) (escolhido(s) entre os 5 (cinco) sugeridos para cada categoria – ítens III.5 e III.6, respeitando a numeração indicada) e inscrevendo individualmente, somente uma poesia para cada um dos 5 (cinco) temas propostos.

V.12 A classificação geral será atribuída pela Comissão Julgadora, composta por profissionais das áreas do concurso e que receberá as poesias para classificação, sem identificação de autoria, selecionadas pelos temas e indicadas na respectiva categoria. Cada poesia receberá avaliação numérica de, no mínimo, três avaliadores titulados (mestres ou doutores). Todo processo de seleção será acompanhado pela Coordenação Executiva, Conselho Deliberativo e responsáveis pelo subprojeto objeto deste concurso, podendo também ser acompanhada e conferida pelos autores.

VII. LANÇAMENTOS DO LIVRO

VII.1 O primeiro lançamento do livro com premiação dos classificados inscritos no Irani, acontecerá no dia 18 de outubro de 2013 (quatro dias antes do aniversário de 101 anos do Combate do Irani), durante evento organizado pela Fundação Cultural Memória Viva do Contestado da Região do Irani, nesta mesma cidade. Serão convidados os 20 autores das poesias classificadas para recitar seus versos e receber a premiação, bem como as instituições de ensino dos alunos classificados. Dos 20 autores selecionados, 15 (quinze) serão da categoria estudantes ( 5 do Ensino Fundamental, 5 do Ensino Médio e 5 do Ensino Superior) e 5 (cinco) poetas/escritores da comunidade na categoria livre, que recitarão e terão suas poesias expostas no local.

VIII.2 O segundo lançamento será na cidade de Chapecó na mesma dinâmica do primeiro, bem como todos os demais lançamentos (20 poesias classificadas), e ocorrerá no dia 23 de outubro de 2013.

VIII.3 O terceiro lançamento será na cidade de Porto União e ocorrerá no dia 24 de outubro de 2013.

VIII.4 O quarto lançamento ocorrerá na cidade de Joaçaba e ocorrerá no dia 25 de outubro de 2013.

VIII.5 O quinto lançamento será na cidade de Mafra e ocorrerá no dia 07 de novembro de 2013.

VIII.6 O sexto lançamento será na Cidade de Canoinas e ocorrerá no dia 08 de novembro de 2013.

VIII.7 O sétimo lançamento será na cidade de Curitibanos e ocorrerá no dia 21 de novembro de 2013.

VIII.8 O oitavo lançamento será na cidade de Caçador e ocorrerá no dia 22 de novembro de 2013.

VIII.9 O nono lançamento será na cidade de Lebon Régis e ocorrerá no dia 28 de novembro de 2013.

VIII.10 O décimo e último lançamento será na cidade de Timbó Grande, local onde o exército republicano brasileiro encerrou sua campanha militar, também palco do último grande reduto da Guerra do Contestado (Santa Maria, cidade santa que ficava no interior deste Município) e ocorrerá no dia 29 de novembro de 2013.

VIII.11 A comissão executiva reserva-se o direito de transferir/mudar as datas dos lançamentos em casos necessários por motivos alheios a vontade da Coordenação Executiva. Porém, caso ocorra qualquer alteração no calendário acima, será amplamente divulgado e todos os interessados diretos serão comunicados em tempo.

VIII.12 Importante: ao realizar a inscrição o candidato deverá indicar uma das cidades/locais acima, da sua preferência, para receber a premiação e participar do lançamento do livro, caso tenha a sua poesia classificada.

VIII. PREMIAÇÃO

VIII.1 Cada um dos autores selecionados que publicará sua poesia receberá uma medalha, um certificado de participação e um exemplar do livro.

VIII.2 Na categoria estudante, as instituições onde o aluno com poesia selecionada foi publicada, receberá cinco exemplares do livro para a biblioteca.

VIII.3 Os professores de História e Lingua Portuguesa/Literatura (orientadores) também receberão um exemplar.

VIII.4 A entrega da premiação (medalhas, certificados e livros) será feita no dia do lançamento do livro onde o(s) autor(es) se inscreveu. Caso não compareça o autor, um procurador poderá retirar os prêmios.

IX.5 Irão compor o livro as duzentas poesias classificadas, sendo 20 poesias de cada uma das cidades que se farão os lançamentos, na ordem: Irani (Sede da Fundação Memória Viva do Contestado), Chapecó, Joaçaba (antigo Cruzeiro), Mafra e Porto União (Municípios catarinenses criados pela mesma Lei (N° 1.147) no ano de 1917, logo após o acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná). Canoinhas, Caçador, Curitibanos, Lebon Régis e Timbó Grande (locais de antigas cidades santas ou redutos e palcos de alguns combates durante a Guerra do Contestado). Os locais e datas dos lançamentos serão amplamente divulgadas na internet (blog), imprensa, escolas e todos os classificados receberão aviso no endereço postal e através do endereço eletrônico.

IX. CONSIDERAÇÕES FINAIS

IX.1 As inscrições estão diretamente vinculadas ao envio das poesias, do “Termo de Concordância e Autorização” assinado, nas condições aqui estabelecidas. A inscrição implica no conhecimento do Regulamento contido neste edital e na concordância e aceitação de todas as condições e seus termos, pelo participante.

IX.2 Não serão aceitas poesias enviadas fora do prazo estabelecido neste Edital.

IX.3 Todos os participantes deste concurso garantem (através de termo escrito e assinado), que são os exclusivos autores das poesias enviadas ao Concurso. O candidato é inteiramente responsável pela autoria do seu trabalho. Qualquer desrespeito a direitos autorais de terceiros, cópias ou plágio é de responsabilidade exclusiva do participante.

IX.4 A Fundação Memória Viva do Contestado da Região do Irani, a Coordenação Executiva, o Conselho Deliberativo e os responsáveis pelo subprojeto objeto deste concurso não se responsabilizarão pela utilização, sem a sua autorização por escrito, dos poemas expostos no blog contestadodesvendandopoesias.wordpress.com.

IX.5 Do resultado da seleção e classificação das duzentas poesias previstas nos itens II.3 e II.4 não caberá qualquer tipo de recurso. Todo processo será acompanhado pela Coordenação Executiva, Conselho Deliberativo e responsáveis pelo subprojeto objeto deste concurso.

IX.6 Os casos omissos e/ou controversos originados deste edital serão dirimidos pelo Comissão executiva.

IX.7 Os participantes do concurso autorizam o uso de seu material nos eventos de lançamento do livro, nas escolas participantes, em exposições a serem organizadas pelas instituições de ensino, divulgação no blog contestadodesvendandopoesias.wordpress.com, em materiais gráficos e em quaisquer outros veículos de comunicação pertencentes ou não a Fundação Memória Viva do Contestado, desde que por essa autorizada e respeitada a autoria da(s) poesia(s) com a indicação do nome do autor e em caso de estudante a citação também da instituição de ensino.

IX.8 A assinatura do “Termo de Concordância e Autorização” (Anexo I) pelo participante do concurso implica na sua expressa e incondicional anuência a todas as normas previstas neste Edital.

IX.9 Outras informações ou pedidos de esclarecimentos poderão ser encaminhados para o e-mail poesias.contestado@gmail.com

IX.10 A cópia impressa deste Edital poderá ser solicitada na sede da Fundação Memória Viva do Irani, sediada na Rodovia 153 Km 64 – Banhado Grande – Irani SC.

IRANI SC, 20 de dezembro de 2013

Coordenação Executiva, Conselho Deliberativo e responsáveis pelo subprojeto objeto deste concurso e do Projeto: “Contestado – desvendando os 100 anos da Guerra”

Fundação Memória Viva do Contestado da Região do Irani.

1ESTROFE: conjunto de versos de um poema (sugestão: no máximo 500 caracteres cada estrofe)

2VERSO: cada uma das linhas de um poema (sugestão: no máximo 100 caracteres cada linha)

“Prezado poeta, querido estudante, admirado professor;

Escreva seu verso, relembre a história, nos mostre façanhas de compositor;

Imagine o passado, revele memórias, conteste a história;

Revele alegrias, afague tristezas, nos conte riquezas deste chão cobiçado;

Participe deste concurso escrevendo poesias da História e da Guerra do Contestado”.

Meramente ilustrativo esta estrofe é composta de cinco versos e tem um total de 338 caracteres. O Primeiro verso tem 52 e o último tem 81 caracteres)

Contato e Dúvidas:
Departamento de Cultura (49) 3432-3200
poesias.contestado@gmail.com

Fonte:
http://contestadodesvendandopoesias.wordpress.com/

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

Concurso Literário Padre João Maia 2013 (Prazo: 16 de Maio de 2013)

Organização:
Município de Vila de Rei

NORMAS

Art.º 1.º – Âmbito

Este concurso destina-se a promover a produção literária, estimulando o envolvimento da população, através da realização de textos em prosa ou em poesia.

Art.º 2.º – Objectivos

São objectivos deste concurso:

a) Incentivar a criação literária;

b) Promover a escrita criativa;

c) Criar hábitos de leitura e de escrita na população.

Art.º 3.º – Entidade promotora

A entidade promotora é a Câmara Municipal de Vila de Rei.

O concurso será dinamizado pelo Centro de Estudos Padre João Maia.

Art.º 4.º – Destinatários

O concurso destina-se a qualquer pessoa de nacionalidade portuguesa, que não tenha nenhum livro publicado na área da literatura.

Art.º 5.º – O trabalho

1. Cada participante pode apresentar apenas um trabalho;

2. O mote do trabalho a apresentar deverá ser “Rota dos elementos: a água – fontes de mergulho e moinhos”, sob qualquer perspetiva ou interpretação do autor alusivo ao concelho de Vila de Rei;

3. Os participantes podem constituir-se por grupos;

4. O texto não deverá ultrapassar as 10 páginas A4 (incluindo ilustrações), com margens de 2,5 centímetros, espaçamento 1,5 entre as linhas, com letra Times New Roman, tamanho 12;

5. As ilustrações utilizadas deverão ser acompanhadas de informação sobre a sua fonte.

Art.º 6.º – Entrega dos trabalhos

1. Os trabalhos deverão ser entregues até às 18:00 horas do dia 16 de Maio de 2013, do edifício Biblioteca Municipal José Cardoso Pires, ou por correio para: Biblioteca Municipal José Cardoso Pires – Rua da Biblioteca – 6110/174 Vila de Rei;

2. Os trabalhos enviados por correio devem ser registados e com aviso de recepção. Será entregue uma declaração comprovativa, a quem entregar os trabalhos pessoalmente, na Biblioteca Municipal;

3. Não serão aceites trabalhos cuja data do carimbo dos correios seja posterior à data limite;
No exterior de todos os envelopes, deverá constar apenas o pseudónimo e o ano de nascimento do autor. No exterior de todos os envelopes, deverá constar apenas o pseudónimo e o ano de nascimento do autor. No exterior de todos os envelopes, deverá constar apenas o pseudónimo e o ano de nascimento do autor.

4. Os trabalhos deverão, obrigatoriamente, ser entregues num envelope, contendo no seu interior outros dois envelopes: num deles deve constar o trabalho original em formato papel não encadernado, e no outro (devidamente fechado) deve constar uma disquete ou um CD (identificado com o pseudónimo e ano de nascimento) contendo um documento com o texto e outro documento separado onde conste as indicações do autor, nomeadamente: nome, morada, número contribuinte, contacto telefónico, pseudónimo, género literário do trabalho, e-mail (se tiver) e ano de nascimento.

No exterior de todos os envelopes, deverá constar apenas o pseudónimo e o ano de nascimento do autor.

Art.º 7.º – Critérios de apreciação

1. Todos os textos apresentados têm de fazer alusão a “Rota dos elementos: a água – fontes de mergulho e moinhos”, ficando o mesmo ao critério do autor, sendo apreciados de acordo com o seguinte:

a) Criatividade;
b) Qualidade literária;
c) Organização;
d) Coerência e coesão do texto.

2. Só serão aceites textos a concurso em Língua Portuguesa, que nunca tenham sido editados;

3. A Câmara Municipal de Vila de Rei reserva o direito da reprodução dos trabalhos apresentados a concurso, mencionando sempre o seu autor.

Art.º 8.º – Júri

1. Compete à Câmara Municipal nomear o júri composto por três elementos, sendo o presidente do júri, um representante da autarquia;

2. Caberá ao júri decidir sobre os casos omissos nestas normas de concurso.

Art.º 9.º – Prémios

1. Será premiado o melhor trabalho em prosa e o melhor trabalho em poesia;

2. Ao autor de cada trabalho premiado será atribuído um cheque-prenda no valor de € 75,00 (setenta e cinco euros);

3. O júri reserva-se ao direito de nomear Menções Honrosas;

4. Os trabalhos premiados serão publicados, em suplemento, do Boletim Informativo da Câmara Municipal de Vila de Rei.

Contato e Dúvidas:
geral@cm-viladerei.pt

Fonte:
http://www.cm-viladerei.pt/upload/files/noticias/2013/Cultura/Concurso%20Literario/Normas_2013.pdf

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

Concurso Literário “Acordando as Palavras” – 115 anos de Agudos (Prazo: 16 de Maio de 2013)

Organização:
Prefeitura de Agudos – SP

Regulamento:

A Prefeitura de Agudos, por meio da Secretaria de Educação e Cultura, promove o Concurso Literário “Acordando as Palavras”, em comemoração aos 115 anos de Agudos, que serão completados no próximo mês de julho. O objetivo é incentivar e desenvolver a cultura da poesia no município, e publicar uma antologia poética.

Todo agudense está convidado a participar. Basta escrever um poema sobre qualquer tema. Os inscritos serão divididos entre as categorias Infantil (até 9 anos e 11 meses), Infanto-Juvenil (10 anos até 14 anos e 11 meses), Juvenil (15 anos até 20 anos e 11 meses), Sênior (21 anos até 24 anos e 11 meses) e Adulto (acima de 25 anos).

Cada autor pode enviar até dois poemas inéditos, sem ultrapassar uma lauda. Os textos devem ser entregues na Biblioteca Municipal “Professor Gama e Silva”, aos cuidados de Tino ou Mônica, das 8h às 12h e das 14h às 17h, entre 15 de abril e 10 de maio. O julgamento das obras ocorrerá no dia 16 de maio, às 19h, na biblioteca municipal. Os cinco primeiros classificados de cada categoria serão diplomados e terão seus poemas publicados na “Antologia Poética – Agudos, 115 anos”.

Contato e Dúvidas:
educacao@agudos.sp.gov.br

Fonte:
http://agudos.agenciavisavis.com/site/noticias/abertas-inscricoes-para-concurso-literario-de-agudos

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

Concurso Novos Talentos Fnac Literatura /Portugal (Prazo: 20 de Maio de 2013)

Organização:
Fnac Portugal

Regulamento:

Âmbito e aplicação

Aos Novos Talentos FNAC Literatura podem concorrer todas as obras inéditas em língua portuguesa e no género literário do conto.

Podem participar autores com idade igual ou superior a 18 anos.

Formato dos trabalhos

Cada conto deve ter entre 10 e 15 páginas A4 e, no máximo, 25.000 carateres com espaços.

Entrega dos trabalhos

Preencher o formulário e transferir o conto, (formato Word), no local assinalado para o efeito:
http://www.novostalentosfnac.com/literatura/2013/convocatoria/participe.php

Cada participante só poderá concorrer com um conto.

Prazo limite para recepção dos trabalhos: 20 de Maio de 2013.

Obras a premiar

A votação será constituída por duas fases:

Na primeira fase, o júri selecionará 10 contos que ficarão disponíveis no site culturafnac.pt e no Facebook FNAC.

Na segunda fase, serão premiados os 5 contos mais votados pelos internautas.

Os nomes dos vencedores serão divulgados nos suportes de comunicação FNAC e na imprensa nacional.

Prémio

O prémio consiste na publicação dos 5 contos vencedores. Caso o júri conclua não existir o nível de qualidade mínima exigido, a FNAC reserva-se ao direito de não os publicar.

O premiado aceita como condição a celebração de um contrato de utilização da obra nos termos do artigo 41º do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.

Composição do Júri
Carlos da Veiga Ferreira, editor
Dóris Graça Dias, crítica literária
Valter Hugo Mãe, escritor

O facto de concorrer implica a aceitação do regulamento na sua totalidade.

Contato e Dúvidas:
https://www.facebook.com/FnacPortugal

Fonte:
http://www.novostalentosfnac.com/literatura/2013/convocatoria/regulamento.php

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

7º Prêmio UFF de Literatura de Contos, Crônicas e Poesias (Prazo: 02 de Julho de 2013)

Organização:
Editora da UFF

Regulamento:

7º PRÊMIO UFF DE LITERATURA CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS

No ano em que se comemora o centenário de nascimento de Vinicius de Moraes, nosso grande poeta será o homenageado pelo Prêmio UFF de Literatura. “A vida é a arte do encontro,/embora haja tantos desencontros pela vida” são os célebres versos que servirão de tema para nosso concurso.

I – Do objetivo

Promovido pela Editora da Universidade Federal Fluminense (EdUFF), este concurso tem como objetivo estimular a produção literária e incentivar a cultura, premiando contos, crônicas e poesias.

II – Das condições

1 – Poderão participar do PRÊMIO UFF DE LITERATURA escritores de língua portuguesa, editados ou inéditos, independentemente de sua nacionalidade.

2 – O texto apresentado deverá ser rigorosamente inédito, seja na forma impressa, seja na forma eletrônica.

3 – Serão automaticamente desclassificados textos que se descubra já terem sido publicados em blogs, sites ou em quaisquer outras formas de divulgação.

4 – Não serão aceitas obras póstumas nem assinadas por grupos.

5 – É vedada a participação de membros da comissão organizadora do 7o PRÊMIO UFF DE LITERATURA.

6 – Cada concorrente poderá participar com apenas 1 (um) texto, em cada categoria, sendo vedada a coautoria.

7 – Os participantes poderão concorrer em mais de uma categoria, enviando os trabalhos nas várias categorias com um único pseudônimo, num mesmo envelope.

8 – Celebrando o centenário do poeta Vinicius de Moraes, o tema proposto é: “A vida é a arte do encontro,/embora haja tantos desencontros pela vida”.

9 – CONTO: Os autores deverão utilizar fonte Times New Roman tamanho 12, com espaçamento 1,5 entre as linhas e todas as margens medindo 2cm. Os contos não poderão ultrapassar o limite de 4 (quatro) páginas. Cada página deverá ter no máximo 30 linhas.

10 – As crônicas e poesias não poderão exceder 3 (três) páginas, cada página com no máximo 30 linhas. Os autores deverão utilizar fonte Times New Roman tamanho 12, com espaçamento 1,5 entre as linhas e todas as margens medindo 2cm.

III – Da inscrição

1 – As inscrições estarão abertas até 2 de julho de 2013.

2 – Os trabalhos deverão ser enviados pelo correio em carta registrada ou via Sedex para: 7o PRÊMIO UFF DE LITERATURA – EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (EdUFF), RUA MIGUEL DE FRIAS, 9, ANEXO, SOBRELOJA, ICARAÍ, NITERÓI, CEP – 24220-900, ou entregues neste endereço. Os textos deverão ser remetidos a tempo de chegarem à EdUFF até o dia 2 de julho de 2013.

3 – Serão automaticamente desclassificados os textos que chegarem à editora após o dia 2 de julho de 2013.

4 – Os textos, em 4 (quatro) vias impressas, com as páginas numeradas e grampeadas, deverão apresentar apenas o título do trabalho e o pseudônimo do autor. O pseudônimo escolhido não pode permitir a identificação do autor. Logo, é vedada a utilização dos nomes literários, que o autor utilize ao publicar seus textos.

5 – As cópias impressas deverão vir acompanhadas de um CD com: versão digital (compatível com o Word do Windows) do(s) texto(s) e dos dados do autor (NOME, ENDEREÇO, E.MAIL, TELEFONES PARA CONTATO).

6- O concorrente deve escrever no próprio CD, com caneta adequada para que não se apague, o título do trabalho e o seu pseudônimo.

7 – Junto com este material deve ser encaminhado um envelope lacrado, identificado externamente apenas com CATEGORIA do(s) texto(s) (conto, crônica ou poesia) inscritos, TÍTULO (S) do(s) trabalho(s) e PSEUDÔNIMO do autor. Internamente, deve conter um documento informando: título(s) e categoria(s) do(s) trabalho(s), pseudônimo, nome completo do autor, nome que deve constar na antologia (em caso de classificação), além de endereço completo do mesmo, telefones e e.mail para contato, números de RG e CPF, bem como um minicurrículo de no máximo 1.000 (mil) caracteres ou 170 palavras.

IV – Da seleção

1 – O julgamento será feito por uma comissão julgadora composta por intelectuais de saber amplamente reconhecido e comprovado em literatura.

2 – A avaliação dos textos será realizada com base nos critérios de adequação ao tema proposto, originalidade, criatividade, qualidade técnica empregada e respeito à limitação de caracteres especificada nos itens 9 e 10, da parte II (Das Condições).

3- As decisões da comissão julgadora serão irrecorríveis.

4 – Serão selecionados 20 (vinte) textos em cada categoria para publicação de uma antologia pela EdUFF.

5 – A classificação final será divulgada em solenidade realizada em dezembro de 2013, em Niterói.

V – Da premiação

1 – O autor classificado em primeiro lugar em cada categoria receberá como prêmio um notebook. A editora se reserva o direito de definir marca e configurações do equipamento. Os vencedores farão jus também ao troféu Itapuca.

2 – A publicação dos textos selecionados se constituirá no prêmio para os primeiros lugares e demais classificados.

3 – Os autores classificados em primeiro lugar em cada categoria receberão 10 (dez) exemplares da antologia; os segundos colocados, 8 (oito); os terceiros, 5 (cinco). Os demais 17 autores selecionados receberão 3 (três) exemplares da coletânea.

4 – Ao inscrever-se, os participantes concordam em ceder os direitos autorais dos textos à EdUFF, para publicação ou divulgação por meio eletrônico.

5 – A EdUFF não será responsável por nenhuma despesa referente ao comparecimento dos participantes à cerimônia de premiação.

VI – Das disposições finais

1 – A Fundação Euclides da Cunha, a Pró-Reitoria de Extensão da UFF e a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro são os patrocinadores deste concurso.

2 – Após o término do concurso, os textos recebidos não serão devolvidos.

3 – A participação neste concurso implica a aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

4 – Casos omissos serão resolvidos pela comissão julgadora e organização do concurso.

Contato e Dúvidas:
http://www.editora.uff.br/contato/fale-conosco

Fonte:
http://www.editora.uff.br/editais

Deixe um comentário

Arquivado em Concursos Literários

9º Concurso de Poesias Expresso das Letras (Resultado Final)

VENCEDORES

1o. Lugar
AMOR EM ESTADO BRUTO – Renata Cristina Alves
 

2o. Lugar
PERPLEXIDADE DO AMOR – Rosalva Rocha
 
3o. Lugar
AMOR DE MENINO – Itajari Azevedo Da Rosa

MENÇÕES  HONROSAS

RESPOSTA DA VIDA – Alda Borges

IMPAR – Evanilda Padilha

POESIA SEM TÍTULO – Fernanda Lisbôa De Siqueira

RETORNO DO AUDAZ NAVEGANTE – Lívia Petry Jahn

AMAR – Zilah Gonçalves Fernandes

O AMOR PRECISA SER LIVRE – Fernanda Resende Ramos

POESIA SEM TÍTULO – Luiza Paes De Souza Lima

AMOR – Marcelina Padilha

OCASO – Karin Kreismann Carteri

SOU TUA MADRUGADA – Katia Chiappini

DO AMOR- Marina De Lima Mohallem

O MISTÉRIO DO AMOR – Merari Dos Santos Tavares

Fonte:
http://encontrodeescritores.com.br/wp/9-concurso-literario-expresso-das-letras-resultado-oficial/#ixzz2R0l0CmZF

Deixe um comentário

Arquivado em Resultados de Concursos

José Feldman (Universo de Versos n. 12)

A Trova Central muda a cada dia. As laterais são as anteriores.
Trova do Paraná

ADILSON DE PAULA – Joaquim Távora
Pôr-do-sol, campos desertos,
e o pinheiro então parece
estar de braços abertos
a sussurrar uma prece.

Trova Lírica/Filosófica
 
CLEVANE PESSOA – Juiz de Fora/MG
As avós são contadoras,
 das histórias mais charmosas,
 Mas as que são trovadoras,
 fazem isso em suas trovas…

Trova Humorística
MESSIAS DA ROCHA – Juiz de Fora/MG
 
Padre Bento bebe tanto…
Bebe dez copos num tapa,
não joga nada pro santo
e diz que é ordem do Papa!

Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Meu coração, em pedaços,
tinha um céu todo estrelado,
a esperança , em teus braços
e brisa de apaixonado!

Trova Hispânica
 
ESTHER DE SANTANDER – España
Si no me puedes amar,
 ¡vete! salte de mi vida,
 y yo la quiero cerrar,
 que tu amor es una herida.

Trova de Portugal

JORGE ALARCÃO POTIER – Portugal
Quando olho pra mim eu rio
 embora por dentro chore
 sou como um poço vazio
 casa adonde ninguém more.

Trovadores que deixaram Saudades
 

DURVAL MENDONÇA – Rio de Janeiro/RJ
(1906 – 2001)

Ao beijar a tua mão,
 que o destino não me deu,
 tenho a estranha sensação
 de estar roubando o que é meu…

Haicai

BENEDITA AZEVEDO – Magé/RJ

O clarão da Lua
ressalta a torre da igreja–
sombra na pracinha.

Trova Ecológica

 
Poesia

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA – ES
e
SILVIAH CARVALHO – PR
Perdão

É como se fosse um poço profundo
é como se a questão maior do mundo
fosse apenas o fim do poço

No poço sem fundo, um mundo sem poço
um sem fim de mundo mas tudo é simples…
só o fim do mundo no fundo do poço,
tudo faz parte da vida do sofrimento

Até a alegria o espaço finito
entre dois sentimentos
é o burburinho misterioso
de todos os outros momentos

E todos os momentos
também passam e tem fim
infinita é apenas a eternidade
Mas inexorável é a vida
posto que tudo voa de repente
alucinadamente, irrevogavelmente
mas eu te perdôo

“Eu também te perdôo
por que fostes embora
deixando este vazio em mim
saiu pelo mundo a fora”
Eu te perdôo
por teres me dado a vida
me teres feito frágil e covarde

eu te perdôo
por teres mostrado a mim
apenas coisas da natureza
e no misterioso universo
te escondeu de mim
É pouco…? Mas eu te perdôo

Por teres me feito guloso e insaciável
por viveres tão oculta
e não me teres revelado tantos
segredos que quero desvendar
Mas eu te perdôo
sobretudo e principalmente
por me teres deixado
te amar

“Palavras que me dão liberdade
eu,
você
e nunca nós e, eu também te perdôo
por ter me feito acreditar
na felicidade, na existência do amor
E agora não creio mais
todas as possibilidades você me tirou
mas eu também te perdôo”

Então moça…
canta vitória
com riso chorado
e mata a vitima de amor
“Quem é a vitima?”

Eu…
“Se falasse comigo agora
não saberia quem sou
posto que de tanto amor por ti
minha vida evaporou”

Por isso moço…
meu coração te perdoou.

Moirão de Sete Pés

O Moirão de sete pés é o mais usado atualmente. Formado por uma estrofe de sete linhas, cabendo, ao iniciante, a formação de cinco versos, isto é, os dois primeiros e os três finais; enquanto a cargo do segundo cantador ficam os versos de ordem três e quatro. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) Os pernambucanos Agostinho Lopes dos Santos e José Bernardino de Oliveira assim iniciam um duelo:

     A.L. Não vã você achar ruim
               Este Mourão a doer!
       J.B.  Eu acredito, Agostinho
               Naquilo que posso ver!
       A.L.Companheiro, não se gabe,
               Que a pessoa que não sabe,
               Agrava a Deus sem querer!

Setilha Sobre o Mar

CREUSA MEIRA – Dom Basílio/BA
 
Primeiro dia do ano
As flores eu vou levar
São as minhas oferendas
Para a rainha do mar
Jogo gotas de alfazema
Leio um belo poema
Nas ondas a caminhar

Soneto

FRANCISCO MIGUEL DE MOURA – Jenipapeiro/PI
QUERENÇAS

Quero ter a vaidade dos caminhos:
dão passagem mas pouco dão abrigo.
Quero ter o orgulho do tufão,
Quero ter a tristeza do jazigo.

Quero sentir da tarde a lassidão
e a solidão da noite no deserto,
das pobrezinhas flores – o perfume,
como as nuvens – ficar no céu aberto.

Quero ter emoções de amor secreto,
sentir como se sente uma paixão,
pra cantar glórias e chorar amores.

Quero viver do ideal concreto,
quero arrancar de mim o coração,
incapaz de conter todas as dores.

Martelo Agalopado

FRANCISCO  OTAVIANO DE ALMEIDA ROSA – Rio de Janeiro/RJ
(1825 – 1889)

Depois, como variante, apareceu o Martelo com rimas destacadas, também denominado de Martelo solto ou de Sextilha em decassílabo. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html) O diplomata brasileiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa utilizou-se deste gênero para cantar suas “Ilusões da Vida”:

     Quem passou pela vida em branca nuvem,
     Num plácido repouso, adormeceu;
     Quem não sentiu o trio da desgraça,
     Passou pela vida e não sofreu:
     Foi espectro de homem, não foi homem,
     Só passou pela vida e não viveu.

Poesia de Longe

YVES BONNEFOY – Tours/França
1923
A Espuma, O Arrecife

Solidão a não escalar, quantos caminhos!
 Vestes vermelhas, horas tantas sob as árvores!
 Adeus, nesta alva fria, minha água pura,
 Adeus, mesmo apesar do grito, o ombro, o sono.
 Escuta, nunca mais as mãos que se retomam
 Como perpetuamente a espuma e o rochedo,
 Nem mesmo aqueles olhos que buscam a sombra,
 Amando antes o sono ainda partilhado.
 Nunca mais se tentar unir voz e oração,
 Noite e esperança, anseios do abismo e do porto.
 Vê, não é Mozart que luta em tua alma,
 Mas o gongo, contra a arma disforme da morte.
 Adeus, semblante em maio.
 O azul do céu é tíbio neste dia, aqui.
 Do astro da indiferença o gládio fere ainda
 Uma vez mais a terra do que está dormindo.

Trova Popular

Acordei antes da aurora
dando suspiros por ti,
suspirei o dia inteiro,
suspirando adormeci.

Poesia em Música

VICENTE CELESTINO –
O Ébrio

O sucesso permanente da canção “O Ébrio” inspiraria, dez anos depois de seu lançamento, a realização do filme homônimo, recordista de bilheteria em todo o país. Impressionado com o personagem, o público chegaria mesmo a identificá-lo com seu criador, o abstêmio Vicente Celestino.

Com efeito, o tema e principalmente a forma declamada da interpretação foram fatores decisivos para que se chegasse a tal exagero. A letra dramática, repleta de desventuras e imagens beirando a pieguice, é uma perfeita sinopse para o enredo de um filme, desde o prólogo falado à parte musical propriamente dita. Nesta, o contraste da primeira parte, no modo menor, com a segunda, no modo maior, contribui para ressaltar a tragédia do protagonista. “O Ébrio”, que também inspirou uma peça de teatro (em 1936) e uma novela de televisão (na TV Paulista, em 1965), foi lançado no terceiro disco de Vicente Celestino na Victor, gravadora onde ele permaneceu por 33 anos, até sua morte em 1968. (http://cifrantiga3.blogspot.com)

Tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer
Aquela ingrata que eu amava, e que me abandonou
Apedrejado pelas ruas, vivo a sofrer
Não tenho lar, e nem parentes, tudo terminou
Só nas tabernas é que encontro o meu abrigo
Cada colega de infortúnio, um grande amigo
Que embora tenham como eu seus sofrimentos
Me aconselham, e aliviam os meus tormentos

Já fui feliz e recebido com nobreza até
Nadava em ouro, e tinha alcova de cetim
E a cada passo um grande amigo em que depunha fé
E nos parentes . . . confiava sim . . .
E hoje ao ver-me na miséria, tudo vejo então
O falso lar que amava, e a chorar deixei
Cada parente, cada amigo, um ladrão
Me abandonaram, e roubaram o que amei.

Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar
Quando eu morrer a minha campa nenhuma inscrição
Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar
Este ébrio triste, e este triste coração

Quero somente na campa em que eu repousar
Os ébrios loucos como eu venham depositar
Os seus segredos, ao meu derradeiro abrigo
E suas lágrimas de dor ao peito amigo

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

José de Arimatéa Filho (Caderno de Trovas)

Ao aplicar a injeção,
surge ligeiro embaraço:
– diz o doente – “Aí não!
só tomo se for no braço!…

A Rosa mente, doutor,
não passa de uma farsante,
pois onde já se viu flor
que usasse desodorante?…

Às seis da tarde, meu Deus,
quando o sino exorta à prece,
quanta tristeza no adeus
do sol que desaparece.

Branco lençol que me aquece
a noite do desencanto:
– tens o calor de uma prece
rezada em tom de acalanto.

Com a profissão de cego,
enxerga longe Zé França…
– Põe o ouro todo no “prego”
e o produto na poupança.

Com rica e bela mulher,
como anda triste o Gouveia!
– Se tem tudo “de colher”,
será que ela nega… ceia?

Da vida, no verde espaço,
onde, de ouro, o sonho medra,
quem não se fez de palhaço,
atire a primeira pedra…

Léo se queixa da inflação,
pelo próprio desmazelo,
pois nem mesmo à prestação
pode cortar o cabelo…
 

Louvo a Deus pelo papel
branco e simples em que ponho,
com tintas da alma, o painel
maravilhoso do sonho!…

Lúcia chega-se ao gerente,
pede empréstimo… afinal,
a “garantia”, presente,
nem precisou de outro aval…

Machucado o “para-lama”,
rebentados os “faróis”,
Topa-Tudo está de cama,
envolvido em maus lençóis!

No inverno há milagres, filho,
como nas eras antigas:
– Um só punhado e milho
se abre em milhares de espigas!

O Chicão só vive às turras,
sempre arrotando vantagem…
– No corpo a marca das surras,
ele diz que é tatuagem…

Porte-se o amor, bem contido,
sob impulso controlado,
pois quanto mais “colorido”,
tanto mais preto é o pecado…

Pra manter em forma a plástica,
rebolando-se, a mulata,
de tanto fazer “ginástica”,
nasceu-lhe um filho acrobata.

Quando falta gasolina,
o velho chofer de praça,
com uma sede canina,
enche o “tanque” de cachaça.

Queixa-se a Dalva (que artista!)
de choques no coração…
– Vem o noivo, eletricista,
e conserta a “instalação”.

Sambista, lépida, incrível,
campeã, sagra-se, Aurora,
sem gasto de combustível,
se exibindo a “sem por hora”!…

Sempre que se erguem teus braços,
em prece, unidos aos meus,
a fé revigora os laços
do amor que nos prende a Deus.

Sinto, junto ao mar, sereia,
quanto me prendes ainda,
no branco lençol de areia
de minha saudade infinda!…

Fonte:
José Feldman (org). Ceará Trovadoresco. Coleção Memória Viva.

Deixe um comentário

Arquivado em Ceará., Trovas

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 12

CAPÍTULO LXXXVII / A SEGE

Chegara ao último degrau, e uma idéia me entrou no cérebro, como se estivesse a esperar por mim, entre as grades da cancela. Ouvi de memória as palavras do pai de Manduca pedindo-me que fosse ao enterro no dia seguinte. Parei no degrau. Refleti um instante; sim, podia ir ao enterro, pediria a minha mãe que me alugasse um carro…

Não cuides que era o desejo de andar de carro, por mais que tivesse o gosto da condução. Em pequeno, lembra-me que ia assim muita vez com minha mãe às visitas de amizade ou de cerimônia e à missa, se chovia. Era uma velha sege de meu pai, que ela conservou o mais que pôde. O cocheiro, que era nosso escravo, tão velho como a sege, quando me via à porta, vestido, esperando minha mãe, dizia-me rindo:

–Pai João vai levar nhonhô!

E era raro que eu não lhe recomendasse:

–João, demora muito as bestas; vai devagar.

–Nhã Glória não gosta.

–Mas demora!

Fica entendido que era para saborear a sege, não pela vaidade, porque ela não permitia ver as pessoas que iam dentro. Era uma velha sege obsoleta, de duas rodas, estreita e curta, com duas cortinas de couro na frente, que corriam para os lados quando era preciso entrar ou sair. Cada cortina tinha um óculo de vidro, por onde eu gostava de espiar para fora.

–Senta, Bentinho!

–Deixa espiar, mamãe!

E em pé, quando era mais pequeno, metia a cara no vidro, e via o cocheiro com as suas grandes botas, escanchado na mula da esquerda, e segurando a rédea da outra; na mão levava o chicote grosso e comprido. Tudo incômodo, as botas, o chicote e as mulas, mas ele gostava e eu também. Dos lados via passar as casas, lojas ou não, abertas ou fechadas, com gente ou sem ela, e na rua as pessoas que iam e vinham, ou atravessavam diante da sege, com grandes pernadas ou passos miúdos. Quando havia impedimento de gente ou de animais, a sege parava, e então o espetáculo era particularmente interessante; as pessoas paradas na calçada ou à porta das casas, olhavam para a sege e falavam entre si, naturalmente sobre quem iria dentro. Quando fui crescendo em idade imaginei que adivinhavam e diziam: “É aquela senhora da Rua de Mata-cavalos, que tem um filho, Bentinho…”

A sege ia tanto com a vida recôndita de minha mãe, que quando já não havia nenhuma outra, continuamos a andar nela, e era conhecida na rua e no bairro pela “sege antiga.” Afinal minha mãe consentiu em deixá-la, sem a vender logo; só abriu mão dela porque as despesas de cocheira a obrigaram a isso. A razão de a guardar inútil foi exclusivamente sentimental; era a lembrança do marido. Tudo o que vinha de meu pai era conservado como um pedaço dele, um resto da pessoa, a mesma alma integral e pura. Mas o uso, esse era filho também do carrancismo que ela confessava aos amigos. Minha mãe exprimia bem a fidelidade aos velhos hábitos, velhas maneiras, velhas idéias, velhas modas. Tinha o seu museu de relíquias, pentes desusados, um trecho de mantilha; umas moedas de cobre datadas de 1824 e 1825, e, para que tudo fosse antigo, a si mesma se queria fazer velha; mas já deixei dito que, neste ponto, não alcançava tudo o que queria.

CAPÍTULO LXXXVIII / UM PRETEXTO HONESTO

Não, a idéia de ir ao enterro não vinha da lembrança do carro e suas doçuras. A origem era outra: era porque, acompanhando o enterro no dia seguinte, não iria ao seminário, e podia fazer outra visita a Capitu, um tanto mais demorada. Bis aí o que era. A lembrança do carro podia vir acessoriamente depois, mas a principal e imediata foi aquela. Voltaria à Rua dos Inválidos, a pretexto de saber de sinhazinha Gurgel. Contava que tudo me saísse como naquele dia. Gurgel aflito, Capitu comigo no canapé, as mãos presas, o penteado…

–Vou pedir a mamãe.

Abri a cancela. Antes de transpô-la, assim como ouvira da memória a palavra do pai do morto, ouvi agora a da mãe, e repeti a meia voz:

–Coitado de Manduca!

Minha Mãe ficou perplexa quando lhe pedi para ir ao enterro.

–Perder um dia de seminário

Fiz-lhe notar a amizade que o Manduca me tinha, e depois era gente pobre… Tudo o que me lembrou dizer, disse. Prima Justina opinou pela negativa.

–Você acha que não deve ir? perguntou-lhe minha mãe.

–Acho que não. Que amizade é essa que eu nunca vi?

Prima Justina venceu. Quando referi o caso ao agregado, este sol riu, e disse-me que o motivo escondido da prima era provavelmente não dar ao enterro “o lustre da minha pessoa”. Fosse o que fosse, fiquei amuado; no dia seguinte, pensando no motivo, não me desagradou; mais tarde achei-lhe um sabor particular.

CAPÍTULO XC / A POLÊMICA

No dia seguinte, passei pela casa do defunto, sem entrar nem parar –ou, se parei, foi só um instante, ainda mais breve que este em que vo-lo digo. Se me não engano, andei até mais depressa, receando que me chamassem como na véspera. Uma vez que não ia ao enterro antes longe que próximo. Fui andando e pensando no pobre-diabo.

Não éramos amigos, nem nos conhecíamos de muito. Intimidade que intimidade podia haver entre a doença dele e a minha saúde? Tivemos relações breves e distantes. Fui pensando nelas, recordando algumas. Reduziam-se todas a uma polêmica, entre nós, dous anos antes, a propósito… Mal podeis crer a que propósito foi. Foi a guerra da Criméia.

Manduca vivia no interior da casa, deitado na cama, lendo por desfastio. Ao domingo, sobre a tarde, o pai enfiava-lhe uma camisola escura, e trazia-o para o fundo da loja, donde ele espiava um palmo da rua e a gente que passava. Era todo o seu recreio. Foi ali que o vi uma vez, e não fiquei pouco espantado; a doença ia-lhe comendo parte das carnes, os dedos queriam apertar-se; o aspecto não atraía decerto. Tinha eu de treze para quatorze anos. Da segunda vez que o vi ali, como falássemos da guerra da Criméia, que então ardia e andava nos jornais, Manduca disse que os aliados haviam de vencer, e eu respondi que não.

–Pois veremos, tornou ele. Só se a justiça não vencer neste mundo, o que é impossível, e a justiça está com os aliados.

–Não, senhor, a razão é dos russos.

Naturalmente, íamos com o que nos diziam os jornais da cidade transcrevendo os de fora, mas pode ser também que cada um de nós tivesse a opinião do seu temperamento. Fui sempre um tanto moscovita nas minhas idéias. Defendi o direito da Rússia, Manduca fez o mesmo ao dos aliados, e o terceiro domingo em que entrei na loja tocamos outra vez no assunto. Então Manduca propôs que trocássemos a argumentação por escrito, e na terça ou quarta-feira recebi duas folhas de papel contendo a exposição e defesa do direito dos aliados, e da integridade da Turquia, concluindo por esta frase profética:

“Os russos não hão de entrar em Constantinopla!”

Li-a e meti-me a refutá-la. Não me recorda um só dos argumentos que empreguei, nem talvez interesse conhecê-los, agora que o século está a expirar; mas a idéia que me ficou deles é que eram irrespondíveis. Fui eu mesmo levar-lhe o meu papel. Fizeram-me entrar na alcova, onde ele jazia estirado na cama, mal coberto por uma colcha de retalhos. Ou gosto da polêmica ou qualquer outra causa que não alcanço, não me deixou sentir toda a repugnância que saía da cama e do doente, e o prazer com que lhe dei o papel foi sincero. Manduca, pela sua parte, por mais nojosa que tivesse então a cara, o sorriso que a acendeu dissimulou o mal físico. A convicção com que me recebeu o papel e disse que ia ler e responderia é que não tem palavras nossas nem alheias que a digam de todo e com verdade; não era exaltada, não era ruidosa, não tinha gestos, nem a moléstia os permitiria, era simples, grande, profunda, um gozo infinito de vitória, antes de saber os meus argumentos. Tinha já papel, pena e tinta ao pé da cama. Dias depois recebi a réplica; não me lembra se trazia cousas novas ou não; o calor é que crescia, e o final era o mesmo:

“Os russos não hão de entrar em Constantinopla!”

Trepliquei, e daí continuou por algum tempo uma polêmica ardente, em que nenhum de nós cedia, defendendo cada um os seus clientes com força e brio. Manduca era mais longo e pronto que eu. Naturalmente a mim sobravam mil cousas que distraíam, o estudo, os recreios, a família, e a própria saúde, que me chamava a outros exercícios. Manduca, salvo o palmo de rua ao domingo de tarde, tinha só esta guerra, assunto da cidade e do mundo, mas que ninguém ia tratar com ele. O acaso dera-lhe em mim um adversário; ele, que tinha gosto à escrita, deitou-se ao debate, como a um remédio novo e radical. As horas tristes e compridas eram agora breves e alegres; os olhos desaprenderam de chorar, se porventura choravam antes. Senti esta mudança dele nas próprias maneiras do pai e da mãe.

–Não imagina como ele anda agora, depois que o senhor lhe escreve aqueles papéis, dizia-me o dono da loja, uma vez, à porta da rua. Fala e ri muito. Logo que eu mando o caixeiro levar-lhe os papéis dele, entra a indagar da resposta, e se demorará muito, e que pergunte ao moleque, quando passar. Enquanto espera, relê jornais e toma notas. Mas também, apenas recebe os seus papéis, atira-se a lê-los, e começa logo a escrever a resposta. Há ocasiões em que não come ou come mal; tanto que eu queria pedir-lhe uma cousa, é que não os mande à hora do almoço ou de jantar…

Fui eu que cansei primeiro. Comecei a demorar as respostas, até que não dei mais nenhuma- ele ainda teimou duas ou três vezes depois do meu silêncio, mas não recebendo contestação alguma, por fadiga também ou por não aborrecer, acabou de todo com as suas apologias. A última como a primeira, como todas, afirmava a mesma predição eterna:

“Os russos não hão de entrar em Constantinopla!”

Não entraram, efetivamente, nem então, nem depois, nem até agora. Mas a predição será eterna? Não chegarão a entrar algum dia? Problema difícil. O próprio Manduca, para entrar na sepultura, gastou três anos de dissolução, tão certo é que a natureza, como a história, não se faz brincando. A vida dele resistiu como a Turquia se afinal cedeu foi porque lhe faltou uma aliança como a anglo-francesa, não se podendo considerar tal o simples acordo da medicina e da farmácia. Morreu afinal, como os Estados morrem; r nosso caso particular, a questão é saber, não se a Turquia morre porque a morte não poupa a ninguém, mas se os russos entrara algum dia em Constantinopla; essa era a questão para o meu vizinho leproso, debaixo da triste, rota e infecta colcha de retalhos…

CAPÍTULO XCI / ACHADO QUE CONSOLA

É claro que as reflexões que aí deixo não foram feitas então, a caminho do seminário, mas agora no gabinete do Engenho Novo Então não fiz propriamente nenhuma, a não ser esta: que servi de alívio um dia ao meu vizinho Manduca. Hoje pensando melhor, acho que não só servi de alívio, mas até lhe dei felicidade. E o achado consola-me; já agora não esquecerei mais que dei dous ou três meses de felicidade a um pobre-diabo, fazendo-lhe esquecer o mal e o resto. É alguma cousa na liquidação da minha vida. Se há no outro mundo tal ou qual prêmio para as virtudes sem intenção, esta pagará um ou dous dos meus muitos pecados. Quanto ao Manduca, não creio que fosse pecado opinar contra a Rússia, mas, se era, ele estará purgando há quarenta anos a felicidade que alcançou em dous ou três meses,–donde concluirá (já tarde) que era ainda melhor haver gemido somente, sem opinar cousa nenhuma.

CAPÍTULO XCII / O DIABO NÃO É TÃO FEIO COMO SE PINTA

Manduca enterrou-se sem mim. A muitos outros aconteceu a mesma cousa, sem que eu sentisse nada, mas este caso afligiu-me particular mente pela razão já dita. Também senti não sei que melancolia ao recordar a primeira polêmica da vida, o gosto com que ele recebia os meus papéis e se propunha a refutá-los, não contando o gosto do carro… Mas o tempo apagou depressa todas essas saudades e ressurreições. Nem foi só ele; duas pessoas vieram ajudá-lo, Capitu, cuja imagem dormiu comigo na mesma noite, e outra que direi no Capítulo que vem. O resto deste Capítulo é só para pedir que, se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção mais da que lhe exigir o preço do exemplar, não deixe de concluir que o Diabo não é tão feio como se pinta. Quero dizer…

Quero dizer que o meu vizinho de Mata-cavalos, temperando o mal com a opinião anti-russa, dava à podridão das suas carnes um reflexo espiritual que as consolava. Há consolação maiores, decerto e uma das mais excelentes é não padecer esse nem outro mal algumas a natureza é tão divina que se diverte com tais contrastes, e aos mais nojentos ou mais aflitos acena com uma flor. E talvez saia assim a flor mais bela, o meu jardineiro afirma que as violetas, para terem um cheiro superior, hão mister de estrume de porco. Não examinei, mas deve ser verdade.

CAPÍTULO XCIII / UM AMIGO POR UM DEFUNTO

Quanto à outra pessoa que teve a força obliterativa, foi o meu colega Escobar que no domingo, antes do meio-dia, veio ter a Mata-cavalos. Um amigo supria assim um defunto, e tal amigo que durante cerca de cinco minutos esteve com a minha mão entre as suas, como se me não visse desde longos meses.

–Você janta comigo, Escobar?

–Vim para isto mesmo.

Minha mãe agradeceu-lhe a amizade que me tinha, e ele respondeu com muita polidez, ainda que um tanto atado, como se carecesse de palavra pronta. Já viste que não era assim, a palavra obedecia-lhe, mas o homem não é sempre o mesmo em todos os instantes. O que ele disse, em resumo, foi que me estimava pelas minhas boas qualidades e aprimorada educação; no seminário todos me queriam bem, nem podia deixar de ser assim, acrescentou. Insistia na educação, nos bons exemplos, “na doce e rara mãe” que o céu me deu… Tudo isso com a voz engasgada e trêmula.

Todos ficaram gostando dele. Eu estava tão contente como se Escobar fosse invenção minha. José Dias desfechou-lhe dous superlativos, tio Cosme dous capotes, e prima Justina não achou tacha que lhe pôr; depois, sim, no segundo ou terceiro domingo, veio ela confessar-nos que o meu amigo Escobar era um tanto metediço e tinha uns olhos policiais a que não escapava nada.

–São os olhos dele, expliquei.

–Nem eu digo que sejam de outro.

–São olhos refletidos, opinou tio Cosme.

–Seguramente, acudiu José Dias; entretanto, pode ser que a senhora D. Justina tenha alguma razão. A verdade é que uma cousa não impede outra, e a reflexão casa-se muito bem à curiosidade natura. Parece curioso, isso parece, mas…

–A mim parece-me um mocinho muito sério, disse minha mãe.

–Justamente! confirmou José Dias, para não discordar dela.

Quando eu referi a Escobar aquela opinião de minha mãe (sem lhe contar as outras naturalmente) vi que o prazer dele foi extraordinário. Agradeceu, dizendo que eram bondades, e elogiou também minha mãe, senhora grave, distinta e moça, muito moça… Que idade teria?

–Já fez quarenta, respondi eu vagamente por vaidade.

–Não é possível! exclamou Escobar. Quarenta anos! Nem parece trinta- está muito moça e bonita. Também a alguém há de você sair, com esses olhos que Deus lhe deu; são exatamente os dela. Enviuvou há muitos anos?

Contei-lhe o que sabia da vida dela e de meu pai. Escobar escutava atento, perguntando mais, pedindo explicação das passagens omissas ou só escuras. Quando eu lhe disse que não me lembrava nada da roça, tão pequenino viera, contou-me duas ou três reminiscências dos seus três anos de idade, ainda agora frescas. E não contávamos voltar

–Não, agora não voltamos mais. Olhe, aquele preto que ali vai passando, é de lá. Tomás!

–Nhonhô!

Estávamos na horta da minha casa, e o preto andava em serviço; chegou-se a nós e esperou.

–É casado, disse eu para Escobar. Maria onde está?

— Está socando milho, sim, senhor.

–Você ainda se lembra da roça, Tomás?

–Alembra, sim, senhor.

— Bem, vá-se embora.

Mostrei outro, mais outro, e ainda outro, este Pedro, aquele José, aquele outro Damião…

–Todas as letras do alfabeto, interrompeu Escobar.

Com efeito, eram diferentes letras, e só então reparei nisto; apontei ainda outros escravos, alguns com os mesmos nomes, distinguindo-se por um apelido, ou da pessoa, como João Fulo, Maria Gorda ou de nação como Pedro Benguela, Antônio Moçambique…

— E estão todos aqui em casa? perguntou ele.

–Não, alguns andam ganhando na rua, outros estão alugados Não era possível ter todos em casa. Nem são todos os da rosa: a maior parte ficou lá.

— O que me admira é que D. Glória se acostumasse logo a viver, em casa da cidade, onde tudo é apertado; a de lá é naturalmente grande.

–Não sei, mas parece. Mamãe tem outras casas maiores que esta; diz porém que há de morrer aqui. As outras estão alugadas. Algumas são bem grandes, como a da Rua da Quitanda…

–Conheço essa, é bonita.

–Tem também no Rio Comprido, na Cidade-Nova, uma no Catete…

–Não lhe hão de faltar tectos, concluiu ele sorrindo com simpatia.

Caminhamos para o fundo. Passamos o lavadouro; ele parou um instante aí, mirando a pedra de bater roupa e fazendo reflexões a propósito do asseio; depois continuamos. Quais foram as reflexões não me lembra agora; lembra-me só que as achei engenhosas, e ri, ele riu também. A minha alegria acordava a dele, e o céu estava tão azul, e o ar tão claro, que a natureza parecia rir também conosco. São assim as boas horas deste mundo. Escobar confessou esse acordo do interno com o externo, por palavras tão finas e altas que me comoveram; depois, a propósito da beleza moral que se ajusta à física, tornou a falar de minha mãe, “um anjo dobrado”, disse ele.

CAPÍTULO XCIV / IDÉIAS ARITMÉTICAS

Não digo o mais, que foi muito. Nem ele sabia só elogiar é pensar, sabia também calcular depressa e bem. Era das cabeças aritméticas de Holmes (2 + 2 = 4). Não se imagina a facilidade com que ele somava ou multiplicava de cor. A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim, era para ele como nada: cerrava um pouco os olhos, voltados para cima, e sussurrava as denominações dos algarismos: estava pronto. Isto com sete, treze, vinte algarismos. A vocação era tal que o fazia amar os próprios sinais das somas, e tinha esta opinião que os algarismos, sendo poucos, eram muito mais conceituosos que as vinte e cinco letras do alfabeto.

–Há letras inúteis e letras dispensáveis, dizia ele. Que serviço diverso prestam o d e o t? Têm quase o mesmo som. O mesmo digo do b e do p, o mesmo do s, do c e do z, o mesmo do k e do g, etc. São trapalhices caligráficas. Veja os algarismos: não há dous que façam o mesmo ofício; 4 é 4, e 7 é 7. E admire a beleza com que um 4 e um 7 formam esta cousa que se exprime por 11. Agora dobre 11 e terá 22; multiplique por igual número, dá 484, e assim por diante. Mas onde a perfeição é maior é no emprego do zero. O valor do zero é, em si mesmo, nada; mas o ofício deste sinal negativo é justamente aumentar. Um 5 sozinho é um 5; ponha-lhe dous 00, é 500. Assim, o que não vale nada faz valer muito, cousa que não fazem as letras dobradas, pois eu tanto aprovo com um p como com dous pp.

Criado na ortografia de meus pais, custava-me a ouvir tais blasfêmias, mas não ousava refutá-lo. Contudo, um dia. proferi algumas palavras de defesa, ao que ele respondeu que era um preconceito, e acrescentou que as idéias aritméticas podiam ir ao infinito, com a vantagem que eram mais fáceis de menear. Assim que, eu não era capaz de resolver de momento um problema filosófico ou lingüístico, ao passo que ele podia somar. em três minutos, quaisquer quantias.

–Por exemplo… dê-me um caso, dê-me uma porção de números que eu não saiba nem possa saber antes… olhe, dê-me o número das casas de sua mãe e os aluguéis de cada uma, e se eu não disser a soma total em dous, em um minuto, enforque-me!

Aceitei a aposta, e na semana seguinte levei-lhe escritos em um papel os algarismos das casas e dos aluguéis. Escobar pegou o papel, passou-os pelos olhos a fim de os decorar. e enquanto eu fitava o relógio, ele erguia as pupilas, cerrava as pálpebras, e sussurrava… Oh! o vento não é mais rápido! Foi dito e feito; em meio minuto bradava-me:

–Dá tudo 1:070$000 mensais.

Fiquei pasmado. Considera que eram não menos de nove casas, e que os aluguéis variavam de uma para outra, indo de 70$000 a 180$000. Pois tudo isto em que eu gastaria três ou quatro minutos, –e havia de ser no papel,–fê-lo Escobar de cor, brincando. Olhava-me triunfalmente, e perguntava se não era exato. Eu, só por lhe mostrar que sim, tirei do bolso o papelinho que levava com a soma total, e mostrei-lho; era aquilo mesmo, nem um erro: 1:070$000.

–Isto prova que as idéias aritméticas são mais simples, e portanto mais naturais. A natureza é simples. A arte é atrapalhada.

Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental do meu amigo, que não pude deixar de abraçá-lo. Era no pátio; outros seminaristas notaram a nossa efusão; um padre que estava com eles não gostou.

–A modéstia, disse-nos, não consente esses gestos excessivos podem estimar-se com moderação.

Escobar observou-me que os outros e o padre falavam de inveja e propôs-me viver separados. Interrompi-o dizendo que não inveja, tanto pior para eles.

–Quebremos-lhe a castanha na boca!

— Mas…

— Fiquemos ainda mais amigos que até aqui.

Escobar apertou-me a mão às escondidas, com tal força que ainda me doem os dedos. É ilusão, decerto, se não é efeito das longas horas que tenho estado a escrever sem parar. Suspendamos a pena por alguns instantes…

CAPÍTULO XCV / O PAPA

A amizade de Escobar fez-se grande e fecunda; a de José Dias não lhe quis ficar atrás. Na primeira semana disse-me este em casa:

–Agora é certo que você vai sair já do seminário.

–Como?

–Espere até amanhã. Vou jogar com eles que me chamaram, amanhã, lá no quarto, no quintal, ou na rua, indo à missa, conto-lhe o que há. A idéia é tão santa que não está mal no santuário. Amanha, Bentinho.

— Mas é cousa certa?

–Certíssima!

No dia seguinte revelou-me o mistério. Ao primeiro aspecto confesso que fiquei deslumbrado. Trazia uma nota de grandeza e de espiritualidade que falava aos meus olhos de seminarista. Era não menos que isto. Minha mãe, ao parecer dele, estava arrependida do que fizera, e desejaria ver-me cá fora, mas entendia que o vínculo moral da promessa a prendia indissoluvelmente. Cumpria rompê-lo, e para tanto valia a Escritura, com o poder de desligar dado aos apóstolos. Assim que, ele e eu iríamos a Roma pedir a absolvição do papa… Que me parecia?

— Parece-me bem, respondi depois de alguns segundos de reflexão. Pode ser um bom remédio.

–É o único, Bentinho, é o único! Vou já hoje conversar com D. Glória, expondo-lhe tudo, e podemos partir daqui a dous meses, ou antes…

— Melhor é falar domingo que vem; deixe-me pensar primeiro…

— Oh! Bentinho! interrompeu o agregado. Pensar em quê? Você o que quer… Digo? Não se amofina com o seu velho? Você o que quer é consultar a uma pessoa.

Rigorosamente, eram duas pessoas, Capitu e Escobar, mas eu neguei a pés juntos que quisesse consultar ninguém. E que pessoa, o reitor? Não era natural que lhe confiasse tal assunto. Não, nem reitor, nem professor, nem ninguém; era só o tempo de refletir, uma semana, no domingo daria a resposta, e desde já lhe dizia que a idéia não me parecia má.

— Não?

–Pois resolvamos hoje mesmo.

–Não se vai a Roma brincando.

–Quem tem boca vai a Roma, e boca no nosso caso é a moeda. Ora, você pode muito bem gastar consigo… Comigo, não; um par de calças, três camisas e o pão diário, não preciso mais. Serei como S. Paulo, que vivia do ofício enquanto ia pregando a palavra divina. Pois eu vou, não pregá-la, mas buscá-la. Levaremos cartas do internúncio e do bispo, cartas para o nosso ministro, cartas de capuchinhos… Bem sei a objeção que se pode opor a esta idéia; dirão que é dado pedir a dispensa cá de longe; mas, além do mais que não digo, basta refletir que é muito mais solene e bonito ver entrar no Vaticano, e prostrar-se aos pés do papa o próprio objeto do favor, o levita prometido, que vai pedir para sua mãe terníssima e dulcíssima a dispensa de Deus. Considere o quadro, você beijando o pé ao príncipe dos apóstolos; Sua Santidade, com o sorriso evangélico, inclina-se, interroga, ouve, absolve e abençoa. Os anjos o contemplam, a Virgem recomenda ao santíssimo filho que todos os seus desejos, Bentinho, sejam satisfeitos, e que o que você amar na terra seja igualmente amado no céu…

Não digo mais, porque é preciso acabar o capítulo, e ele não acabou o discurso. Falou a todos os meus sentimentos de católico e de namorado. Vi a alma aliviada de minha mãe, vi a alma feliz de Capitu, ambas em casa, e eu com elas, e ele conosco, tudo mediante uma pequena viagem a Roma, que eu só geograficamente sabia onde ficava; espiritualmente, também, mas a distancia que estaria da vontade de Capitu é que não. Eis o ponto essencial. Se Capitu achasse longe, não iria- mas era preciso ouvi-la, e assim também a Escobar, que me daria um bom conselho.
––––––-
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

José Feldman (Universo de Versos n. 11)

Obs: A Trova central é sempre diferente a cada número. As anteriores estão nas laterais.
Trova do Paraná

ÁUREO BAIKA – Campo Largo
Eu curto todo momento
e não perco um só segundo.
Num minuto em pensamento
posso estar em outro mundo!

Trova Lírica/Filosófica
 

ABIGAIL SAMPAIO – Paracuru/CE
Quando tu falas comigo,
a tua fala me encanta,
creio que tens, meu amigo,
um rouxinol na garganta.

Trova Humorística

ALOISIO ALVES DA COSTA – Umari/CE
Enquanto o Zé Liberato
sai em busca da gatinha,
pela janela entra um gato
que janta a sua sardinha!

Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Num imenso palco, o amor
        destaca nos jardins meus
um carvalho, com fulgor,
que é ponte entre mim e Deus!…

Trova Hispânica

JAVIER FERNANDO GARCÍA PÁSARA – Okinawa/Japão
Te quiero mi bella flor
 sos mi bella inspiración
 y en mis días de calor
 cantándote mi canción.

Trova de Portugal

FERRER LOPES – Queluz
As sementes da mentira,
e da calúnia também,
giram num mundo que gira
na lama que o mundo tem.

Trovadores que deixaram Saudades

FLORESTAN JAPIASSÚ MAIA – Rio de Janeiro
1915 – 2006

Perdeu voto o candidato
 no churrasco lá no morro,
 porque o espetinho de gato
 tava duro pra cachorro!

Haicai

ALVARO POSSELT – Curitiba/PR

A vida não tem fim
Entre túmulos e flores
uma caveira acenou pra mim

Trova Ecológica
 

Poesia

ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE – São Francisco de Itabapoama/RJ
Caminhos

Caminhos… Caminhos!
Cada um com a sua história,
cada um com um destino!…
Caminhos que levam e trazem;
caminhos cruzados, esquecidos, abandonados;
caminhos que se encontram;
caminhos que se perdem!…
Caminhos do medo, da incerteza e da revolta;
caminhos dos enganos e dos desenganos,
onde durante anos aguardei a sua volta!…
Caminho da insensatez, da vaidade;
pelo qual você foi
deixando de vez
um peito angustiado,
sofrendo de saudade.

Martelo Agalopado

JOSÉ CAMELO DE MELO REZENDE – Pilõezinhos/Distrito de Guarabira/PB
(1885 – 1964)

        O Martelo atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é uma estrofe de dez versos, em decassílabos, obedecendo à mesma ordem de rima dos versos da Décima. Todavia, sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os contadores se martelarem durante suas pugnas. Sua significação está ligada ao nome do diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do século XVII, que foi professor de literatura na Universidade de Bolonha, portanto, o criador do primeiro estilo. Jaime de Martelo suprimiu duas linhas finais da Oitava de Ariosto, ou Oitava camoniana, formando o que se denominou de Martelo cruzado, isto é, no Martelo antigo a primeira linha rima com a terceira e a quinta; a segunda, com a quarta e a sexta. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)
O exemplo deste gênero está na estrofe (setilha) do paraibano José Camelo de Melo Rezende:

     O orgulho nasceu em noite escura,
     E é filho da triste ignorância,
     Ao descer o seu corpo à sepultura,
     Cai-lhe verme por cima, em abundância,
     E seu todo se torna uma figura,
     Que nos causa a maior repugnância.

Setilha Sobre o Mar

JOSENIR LACERDA – Crato/CE

Fim de tarde, “mar” revolto
As ondas beijando a praia
No horizonte luminoso
O sol cansado desmaia
É cena da natureza
Plena de garbo e Beleza
Que um novo dia ensaia

Moirão de Cinco Versos

No Moirão de cinco versos, que veio depois do de seis, havia um revezamento dos cantadores, nas duas linhas iniciais da estrofe, cabendo ao primeiro os três últimos versos para o fechamento da estância. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)Do encontro entre os paraibanos Romano Elias da Paz e Francisco Pequeno, colheu-se:

    F.P. –  No Moirão não deixo nó!
     R.E. –  O meu eu lavro de enxó!
     F.P. –  Colega, estou pesaroso …
                No recinto primoroso,
                Sei que fico a cantar só!

Soneto

IALMAR PIO SCHNEIDER – Porto Alegre/RS
Da Condição Humana

Jamais eu te direi que estou feliz
e me reservo agora este direito
de sofrer por aquilo que não fiz,
pois este é o meu destino e assim o aceito.

Não quero que me julgues satisfeito
e nem tampouco um mísero infeliz,
o meu caminho embora seja estreito
tem amplitudes que sonhei e quis.

Se desejarmos merecer a vida
profundamente além da concebida
iremos naufragar em dissabores…

Por isso aonde eu for e aonde fores
não é preciso conseguir extremos:
sejamos o que somos e seremos…

Poesia de Longe

WILLIAM BUTTLER  YEATS – Dublin/Irlanda
1865 – 1939
Leda e o Cisne

 Súbito golpe: as grandes asas a bater
 Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
 Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
 O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.

Dedos incertos de terror, como empurrar
 Das coxas bambas o emplumado resplendor?
 Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
 O coração estranho não sentir pulsar?

Um tremor nos quadris engendra incontinenti
 A muralha destruída, o teto, a torre a arder
 E Agamêmnon, o morto.

 Capturada assim,
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
 Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
 Antes que a abandonasse o bico indiferente?

Trova Popular
 
Quem me dera estar agora
onde está meu coração,
lá no campo da saudade,
onde meus suspiros vão.

Poesia em Música

CHICO BUARQUE DE HOLANDA – Rio de Janeiro/RJ
Construção/Deus Lhe Pague (1971)

Esta composição tem uma melodia repetitiva, desenvolvida apenas sobre dois acordes, e uma letra extraordinária, de qualidade rara numa canção popular.
É a elegia para um operário morto no exercício da profissão e narra o seu último dia, da saída de casa para o trabalho (“Beijou sua mulher como se fosse a última”), até o momento da queda fatal (“E se acabou no chão feito um pacote flácido”). Nessa letra moderna e requintada, o autor emprega ousados processos de construção poética como, por exemplo, a alternância das proparoxítonas finais, “como se fossem peças de um jogo num tabuleiro”, segundo o próprio Chico em entrevista concedida na época: “Dançou e gargalhou como se ouvisse música / e tropeçou no céu como se fosse um bêbado / (…) / Dançou e gargalhou como se fosse o próximo / e tropeçou no céu como se ouvisse música…”
(http://cifrantiga3.blogspot.com)

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou prá descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
E agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou prá descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
E agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Deus lhe pague

Por esse pão prá comer, por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos

Flávio Roberto Stefani (Caderno de Trovas)

Abaixo a guerra entre irmãos!
 Plantemos a paz somente.
 – Quem tem sementes nas mãos
 não tem granadas na mente.

Brancos, negros e amarelos,
se a causa é justa e loquaz,
juntam braços, que são elos
forjando as cores da Paz!

Brinquedos bons eu não tinha,
mas sabia achar maneira,
e com latas de sardinha
eu tinha uma frota inteira.

Brinquedos de guerra, não,
pois quem brinca de matar,
amanhã – de arma na mão -,
vai matar para brincar!

Chuta o balde a Dona Mima
porque o marido, Vavá,
em vez de partir pra cima,
vai pra baixo do sofá…

Com malícia, a lua cheia
vestiu de luz nosso leito
ao te ver desnuda, alheia,
aconchegada em meu peito.

Destino cruel se encerra
neste turismo obsoleto:
quando o frango sobe a serra,
não desce – vira galeto!…

De surpresa, muitas vezes,
 vinha o noivo da vizinha…
 e depois de nove meses,
 nasceu uma surpresinha…
 

È mais feliz a criança
que recebe amor profundo,
pondo luzes de esperança
no quarto escuro do mundo.

Embora rudes e escassos
os bons atos, em geral,
o Natal recria laços
num simples “Feliz Natal!”

Em ternura plena e extrema,
 nossos sonhos se cruzaram.
 E a noite se fez poema…
 E os versos também se amaram!

Entre os licores mais puros
que a vida me fez provar,
estão os lábios escuros
que me deixaste beijar.

É tão nojenta a franguinha,
tão cheia de blablablá,
que se um dia for galinha,
nem raposa a comerá…

Eu, boêmio sem comando,
 nos dias mais enfadonhos,
 passo os dias chimarreando
 na varanda dos meus sonhos!

Ganha contornos de festa,
de festa vira euforia,
quando Deus se manifesta,
abrindo os olhos do dia!

Garibaldi, esses vinhedos
dão vinhos com tal sabor,
que o licor dos teus segredos
está no próprio licor.
 

Gerador de paz e calma,
 que dispensa cerimônia,
 o livro é o jantar da alma
 nas noites claras de insônia.

Já velhinho, o marinheiro,
que foi das ‘gatas’ xodó,
hoje só e sem dinheiro,
levanta a âncora… e só!…

Não tem cura, é de matar,
bebe tanto o Zebedeu,
que outro dia foi trocar
seu nome pra “Zebebeu”…

Na pescaria, de fato,
notei teu jeito chinfrim,
mas o olhar era de gato:
um no peixe e outro em mim…

Nascedouro de certezas
 e ninho de inspiração,
 a lua afasta as tristezas,
 pondo paz no coração.

No abandono das marquises,
meninos dormem de mão,
fingindo que são felizes
nos braços da solidão.

Quando a euforia me invade,
nas luzes do amanhecer,
puxo a corda da saudade
para esticar meu viver.

Queres falar de bem perto
 à mãe da sabedoria?
 Procura o balcão aberto
 de uma boa livraria.
 

Se a violência é demais,
num mar que não se detém,
pega o rumo de outro cais,
onde o amor ancore o bem.

Sendo forte, sendo inquieta,
com requintes de magia,
a trova é o cais do poeta,
onde se amarra a poesia!

Sendo mal utilizada,
 a liberdade, no fundo,
 não dá tiros, não dá nada,
 mas fura os olhos do mundo!…

Vendo a franga em sério apuro,
grita o guri, na janela:
– Mamãe, o galo, eu lhe juro,
vem vindo a cavalo nela…

Deixe um comentário

Arquivado em Rio Grande do Sul, Trovas

Anônimo (Contos do Tio Emmett: Bella de Neve)

Era quarta-feira à noite. Podia ser quinta também, eu nunca fui muito bom com dias da semana. Estava chovendo e o cachorro não podia entrar em casa. Às vezes eu gostava da presença dele aqui, mesmo com aquele fedor que ele exalava, mas era divertido ver a luta travada entre ele e Rose para conseguir a atenção de Nessie. Sério. Rose, por incrível que pareça, podia ser bem agressiva quando queria, mas na maioria do tempo ela é a criatura mais doce da face da Terra… (Na verdade estou com medo que ela me desmembre igual à última vez. Edward também, então ele me comprou um caderninho para escrever todas as minhas historinhas.) Mas, voltando, era uma noite de Sábado… Eu tinha dito Sábado antes? Bom, era noite e não havia ninguém em casa com exceção de uma criança meio humana, meio vampira que estava assistindo desenhos comigo. Branca de Neve tinha acabado. Cara, eu adoro aquele desenho. Sério, aquelas coisinhas pequenininhas me lembram a Alice. Principalmente aquele Feliz. Alice era bem empolgada quando queria. Ela comprou os preparativos de Natal e acabamos de celebrar o 4 de Julho…

Aparentemente, minha sobrinha não pareceu muito feliz com a história da Branca de Neve.

– Que coisa chata, tio Emmett. – ela disse.- O príncipe veio, deu um beijo e ela acordou. Esperava mais desse final.

Sabia que era a deixa. Quando Renesmee começava com “que coisa chata, tio”, é porque ela queria um toque especial na história.

– Olha a hora, hora de dormir. – Eu disse a ela, olhando para o relógio.

Seus olhinhos brilharam quando eu disse isso. Sabia que com seu pai, sua hora de dormir era baseada em melodias de ninar. É CLAAAARO que uma criança vai dormir com aquilo. Sonífero não funcionaria melhor. Se eu pudesse dormir, com certeza dormiria toda vez que Edward decide tocar a música de Bella. Esse negócio de piano é muito chato. Eu prefiro bateria… Mas Carlisle me proibiu de tocar… Só porque eu quis destruir aquela cruz de madeira pra fazer baquetas… Pra que ele quer lembrar do pai? O velho nem gostava de vampiros… Se soubesse que o filho tinha virado um teria expulsado ele de casa. Ou caçado até a morte… Mas isso não vem ao caso agora. Eu a coloquei na cama e sentei-me na cadeira de costume.

– E se eu contasse a verdadeira história da Branca de Neve? – eu perguntei.

– Desculpe tio, não entendi. A verdadeira história de quem? – ela rebateu. – … Da Bella de Neve?

– Bem melhor. – Ela sorriu.

– Então está bem. Era uma vez, num reino distante chamado Forks, uma humana desengonçada chamada Bella. Sua pele era quase tão branca,mas tão branca e os hematomas de suas quedas apareciam tão claramente que os demais a apelidaram de Bella de Neve. Bella de Neve ia num castelo chamado Forks High, controlado por uma rainha má. A rainha Jéssica. – Aí Renesmee fez uma careta. – O que foi?

– Não gosto desse nome… Não gosto dessa menina.

– Você não gosta dela, de Tanya, de Mike Newton. Alguém mais que você não goste na cidade ou nos arredores?

– Hum… Não que eu lembre…

– Bem… Acho que só.

– Tem certeza? Eu não quero ficar parando minha história o tempo inteiro para você ficar dando nomes aos personagens.

– Está bem. Mas a rainha se chamará Jéssica e ponto. – eu disse. Minha história não teria sentido sem uma rainha do mal e ninguém melhor para ser uma rainha do mal dentro de Forks que a própria “gossip girl”. Ela concordou e eu prossegui. – Bom, como eu dizia, a rainha controlava tudo e todos, então quando seu espelho mágico, loiro frustrado de cabelos espetados-que-tentavam-imitar-os-de-um-certo-vampiro revelou que Bella de Neve era a menina mais linda do reino, ela se enfureceu e chamou seu capataz Eric para que desse um sumiço na coitada. Então, ele chegou para Bella de Neve e perguntou. “Vamos para La Push, Baby? La Push.”

– Quer parar de falar assim? – Renesmee me perguntou.

– Eu tenho que entrar no personagem, dá licença? – eu respondi. E Eric estava certo, falar La Push era bem legal! – Então, Bella de Neve, ingênua como só, saiu atrás do capataz nipônico pelo bosque de La Push. Ao chegar ao bosque, antes dos limites de La Push eles…

– Viram um lobo? – ela me perguntou.

– Nessie, quantas vezes eu tenho que te explicar que não existem contos de fadas com lobos?

– Mas tia Alice me contou Os Três Porquinhos e…

– Sua tia Alice só sabe de roupas, de reinos longínquos e como destruir O Anel. – eu disse. – Ela não entende de contos de fadas. Posso continuar?

– Pode. – ela disse fechando um beicinho.

– Então, ta. QUANDO ELES CHEGARAM AO BOSQUEEE… – eu falei mais forte para ver se ela iria me interromper mais uma vez. – Bella de Neve caiu uma centena de vezes. O Capataz, ciente que a menina acabaria morrendo sozinha a qualquer hora, poupou-se de qualquer esforço físico e resolveu ir embora, deixando-a na floresta. “Vai ser como se eu nunca tivesse existido”…

– Tio Emmett?

– Ah, sim, história errada, desculpe. Dessa vez Bella só foi deixada na floresta, sem choros, sem policiais a procura dela… Ela caminhou por um bom tempo e achou estranho não ter encontrado animais silvestres ao decorrer do caminho. Foi aí que ela avistou uma grande casa branca. Ela tocou a campainha e ninguém atendeu. A porta estava aberta e curiosa como ela só, Bella de Neve resolveu entrar. Aparentemente estava vazia. Foi o que ela pensou. De repente surgiram sete figuras e uma disse: Quem é você?

– Sete figuras? Os Sete anões?

– Não, puff, claro que não. Sete vampiros vegetarianos.

– Ah. – ela disse.

– O mais velho deles se chamava Carlisle e era o líder do grupo.

– Isso. A mais tímida e carinhosa se chamava Esme. A mais ranzinza se chamava Rose. O mais feliz chamava-se Alice. O dorminhoco e imprestável que não fazia nada de útil além de dormir se chamava Jasper.

– Ei, não fale assim… – ela cruzou os bracinhos e me olhou feio.

– Hum… Tá. O mais quieto e na dele chamava-se Jasper. Melhorou? – ganhei um sinal de aprovação. – O praticamente mudo porque ninguém deixava falar absolutamente nada chamava-se Emmett.

– E o papai? – ela perguntou.

– Seu pai é o que espirra sempre que chega perto da Bella de Neve.

– Por quê?

– Pois ele tem alergia ao sangue dela. Satisfeita?

– Mais ou menos… Mas continue.

– Ok. Bella de Neve ficou encantada com a beleza dos sete vampiros, principalmente com a força do vampiro Emmett.

– Mentira. Ela ficou encantada por Edward. – Renesmee falou.

– Você se apega muito aos detalhes…

– É para isso que estou aqui. – Ela sorriu.

– Se quiser, eu paro de contar… – Eu ameacei…

– Não, por favor continua…

– Sem interrupções… Pois bem, Rose perguntou mais uma vez: “Não se faça de sonsa, menina, responde logo o que Carlisle perguntou. Quem é você?” “Eu sou Bella de Neve. Eu estava tropeçando pela floresta quando eu vim parar aqui”. Alice, a menor deles implorou para Carlisle para que Bella de Neve vivessem com eles. Ele concordou, apesar de Rose e Edward discordarem. A vida com ela não se tornou mais fácil, na verdade. Mas com certeza se tornou mais divertida. Principalmente pra Emmett, que ria sempre que Bella de Neve tropeçava em suas próprias pernas.

– Não vejo muita graça em alguém ficar tropeçando por aí.

– É porque você não viu sua mãe humana caindo por aí. Era divertido. Eu deixava as coisas de propósito no caminho. Certa vez eu joguei cera no corredor da escola. Alice estava caçando mais Edward nesse dia, então ninguém pra ler meus pensamentos ou impedir que eu fizesse isso.

– E qual foi o propósito? – ela me olhou, cruzando os bracinhos.

– Filmar, é claro. – eu disse, lembrando da cena de Bella caindo pelo corredor da Forks High. Renesmee não aprovou. – Você vai tocar no rosto de seu pai amanhã e mostrar nossa conversa, não é mesmo?

– Com certeza.

– Se eu continuar a história você pode amenizar minha situação?

– Vamos ver…

– Então… Tudo bem. Onde paramos?

– Você dizia que Bella de Neve tinha ido morar na dos sete vampiros vegetarianos.

– Pois é. Só que aí a Rainha Jéssica descobriu…

– Como?

– Ela tinha um perfil falso no Twitter e viu quando o Emmett twittou “Bella de Neve está morando conosco agora. Acho que a Rose devia pintar seu cabelo igual ao dela, ficaria mais bonito…” Mas como Alice tinha esta coisa chata de ver o futuro, eles decidiram irem embora antes que a bruxa viesse.

– E o que eles fizeram?

– Entraram no Guarda-Roupa, é claro.

– No Guarda-Roupa?

– É… E foram parar em Nárnia.

– Onde fica isso? – ela me perguntou.

– Não sei. – Eu respondi. Ela não sabia como era frustrante. Quantas vezes eu já entrei no guarda-roupa pra poder ir a Nárnia? Eu sempre quis um amigo igual ao Sr. Tumnus. – Só sei que eles foram parar lá. Aí eles encontraram um grande coelho branco e Alice saiu correndo atrás dele.

– E por que ela fez isso? – Renesmee me perguntou.

– Aff… E precisa justificar os acessos de loucura de Alice? Ela saiu correndo atrás do coelho branco e todos os vampiros (e Bella de Neve um pouco mais atrás, tropeçando) foram atrás dela. O coelho entrou em uma toca e eles caíram… caíram…caíram…caíram…caíram…caíram…(meia hora depois)…caíram…

– A intenção era me fazer dormir? Estou quase dormindo.

– É pra dar mais ênfase ao tamanho do poço dentro da toca…

– Sim, mas não bastava falar “caíram por meia hora?” – ela me perguntou.

– Hum…lembrarei disso na próxima vez. Então, eles chegaram ao fundo do poço… Literalmente, sabe, não como sua mãe ficou quando seu pai a abandonou e…

– Vamos esquecer essa história? – ela me lembrou, erguendo sua mãozinha… Sabia que era chantagem, era seu jeito de falar: “Não fale sobre coisas que meus pais fizeram ou eu mostro a eles e você vai passar um mês sem os dedos das mãos”.

– Então eles chegaram ao fundo do poço. “Como sair daqui?!” Esme perguntou. “Não tema senhora, eu sei por onde sair”, Disse o coelho.

– Coelho fala? – ela colocou as mãozinhas na cintura.

– … Você vive numa casa com vampiros, seu melhor amigo é um lobo e você vem me questionar UM COELHO QUE FALA? Por favor, hein? “Que bom, o coelho vai nos ajudar e…” BUUUUURP.

– Que som foi esse? – ela perguntou.

– Sonoplastia…

– Sim, mas parecia um arroto.

– Mas foi a sonoplastia de um arroto.

– E quem arrotou? – ela perguntou.

– … Emmett…

– Ele comeu o coelho, não foi?

– …

– Não fooooi?

– … Foi! Mas em sua defesa, era um coelho muito gordinho e apetitoso e ele estava com sede. “Oh não, e agora, o que vamos fazer?” Bella de Neve perguntou, enquanto os outros seguravam Rose que se enfureceu com o pobre “mudinho”. Nesta hora apareceu um gato sorridente e disse que sabia o caminho de volta para sua casa. “Mantenham Emmett afastado do gato!” Carlisle gritou. “Vocês devem seguir a trilha de rosas até o palácio da rainha.” O Gato disse, sumindo no ar. “Como ele fez…” Emmett perguntou. “Cala a boca, Emmett, vamos!” Rose saiu na frente. À medida que o caminho ia se estreitando, eles viram uma plantação imensa de rosas até o castelo. Mas algo ruim aconteceu: Rose teve uma crise.

– Por quê?

– Havia uma placa na entrada dizendo “*these roses belong to the queen and the king.”

– E o que aconteceu?

– Rose começou a espumar pela boca… “King… Rosas… King…Rosas… King… King… ROSE…? EU VOU MATAR TOOOOOODAS!”E saiu arrancando uma por uma, destruindo, despetalando, pisando, massacrando, triturando… Uma verdadeira “roseficina”.

– Hum… Isso não deve ter terminado bem.

– Puff, e como… A rainha era louca por suas flores. Quando ela viu o que Rose fez com suas flores começou a gritar “Corrrrrrrtem a cabeça”. Jasper se meteu: “Corta a minha também? Primeiro os pulsos, depois a cabeça”, ele pediu, mas foi impedido por Alice. “A looooira, cortem a cabeça delaaaaaa”. A rainha gritou. “Eu vou cortar a sua, seu inseto insignificante”, Rose disse, indo para cima da rainha. Quando a rainha viu o olhar enfurecido de Rose, ela ficou com medo… Escondeu-se atrás de um dos seus guardas e disse… “Ah, meu bem, o que são umas florzinhas… Né? Não precisamos nos exaltar… Na verdade, hoje é o dia do ‘Cortem a cabeça’… Preciso de uma cabeça para ser cortada.” Rose pensou e logo em seguida disse “Por mim, usa da humana aí”. Bella de Neve, que estava distraída olhando para Edward, nem se deu conta que sua vida estava em risco. Um dos guardas a puxou para longe do seu amado e só aí ela se deu conta deque algo estava acontecendo. “Han, o quê, estão me levando para longe de Edward? Não, Edwaaaard, Edward?!” “Não tema Bella de Neve, sol da minha existência, luz da minha vida, cometa da minha galáxia, água da minha lagoa, amora da minha árvore… Eu vou te salv… opa, um piano! Irei te salvar depois de compor esta sinfonia em sua homenagem.” Bella de Neve parou, olhou incrédula para o vampiro de cabelos bronze sentado ao grande piano branco da rainha tocando uma melodia. “O quê? EEEEEEEEEdward”. Então, ela acordou e descobriu que tudo era um pesadelo e que na verdade estava na casa do seu pai, Chefe Swan, abraçada a Edward que estava cantando sua canção de ninar para afastar seus pesadelos. E fim!

Olhei a criaturinha deitada na cama, dormindo igual a um anjinho. Caramba, de novo? Eu aqui me matando para poder inventar esta história e Renesmee dorme? Fui procurar o que fazer. Não estava passando nada de legal na TV, aí me lembrei do vídeo que tinha feito de Bella ainda humana. Caí na besteira de assistir na televisão da sala. Estava tão entretido, vendo Bella escorregando e descendo corredor abaixo de bunda que nem senti a presença de Edward atrás de mim.

– Divertido isso, Emmett? – ele perguntou.

– Você não tem noção, precisa ver o que eu fiz do último aniversário dela quando Jasper pulou em ciii… Ops.

– Emmett…

– Calma, cara, foi só brincadeira.

– Emmett… – ele disse um pouco mais firme.

– Calma, mano, Não precisa ficar tão nervoso comigo.

– EMMETT!!!!!!!!!!!!!!!

A última coisa que eu lembro foi do vulto de Edward pulando em cima de mim. Bella estava logo atrás e Alice, com uma câmera de vídeo na mão. Já é a sexta vez que eles assistem à fita de como Edward arrancou meus braços… Ele disse que só vai devolvê-los quando eu estiver realmente arrependido. Porém Renesmee acordou. E isso piorou um pouco minha situação. Em casa nós temos dois assuntos proibidos: Royce King e o dia em que Edward deixou Bella. Então incluir isso na historinha de dormir da filha deles não foi aceitável. Agora estou eu, aqui, uma cabeça flutuante no meio da sala… Ainda bem que eu aprendi a escrever com a boca! Mas esta não será a última vez que vou colocar Renesmee para dormir. Mas para isso vou precisar ler mais… Rose trouxe alguns livros para eu ler… Tem um estranho, com a capa preta, uma maçã nas mãos de uma pessoa… Deve ser chato, não vou ler… Então, meus queridos monstrinhos, vejo vocês na próxima hora de dormir.

Com amor,
Tio Emmett!
——
 

Quem se lembra, o noivo de Rose (Rosa) se chamava Royce KING… e lhe enviava rosas todos os dias… entendeu a implicância?

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

Machado de Assis (Dom Casmurro) Parte 11

CAPÍTULO LXXVI / EXPLICAÇÃO

Ao fim de algum tempo, estava sossegado, mas abatido. Como me achasse estirado na cama, com os olhos no tecto, lembrou-me a recomendação que minha mãe fazia de me não deitar depois do jantar para evitar alguma congestão. Ergui-me de golpe, mas não saí do quarto. Capitu ria agora menos e falava mais baixo; estaria aflita E com a minha reclusão, mas nem por isso me abalou.

Não ceei e dormi mal. Na manhã seguinte não estava melhor, estava diferente. A minha dor agora complicava-se do receio de haver ido além do que convinha, deixando de examinar o negócio. Posto que a cabeça me doesse um pouco, simulei maior incômodo, com o fim de não ir ao seminário e falar a Capitu. Podia estar zangada comigo, podia não querer-me agora e preferir o cavaleiro. Quis resolver tudo, ouvi-la e julgá-la; podia ser que tivesse defesa e explicação.

Tinha ambas as cousas. Quando soube a causa da minha reclusão da véspera, disse-me que era grande injúria que lhe fazia; não podia crer que depois da nossa troca de juramentos, tão leviana a julgasse que pudesse crer… E aqui romperam-lhe lágrimas, e fez um gesto de separação; mas eu acudi de pronto, peguei-lhe das mãos e beijei as com tanta alma e calor que as senti estremecer. Enxugou os olhos com os dedos, eu os beijei de novo, por eles e pelas lágrimas; depois suspirou, depois abanou a cabeça. Confessou-me que não conhecia o rapaz, senão como os outros que ali passavam às tardes, a cavalo ou a pé. Se olhara para ele, era prova exatamente de não haver nada entre ambos; se houvesse, era natural dissimular.

–E que poderia haver, se ele vai casar? concluiu.

–Vai casar?

Ia casar, disse-me com quem, com uma moça da Rua dos Barbonos. Esta razão quadrou-me mais que tudo, e ela o sentiu no meu gesto; nem por isso deixou de dizer que, para evitar nova equivocação, deixaria de ir mais à janela.

–Não! não! não! não lhe peço isto!

Consentiu em retirar a promessa, mas fez outra, e foi que, à primeira suspeita da minha parte, tudo estaria dissolvido entre nós Aceitei a ameaça, e jurei que nunca a haveria de cumprir; era a primeira suspeita e a última.

CAPÍTULO LXXVII / PRAZER DAS DORES VELHAS

Contando aquela crise do meu amor adolescente, sinto uma cousa que não sei se explico bem, e é que as dores daquela quadra, a tal ponto se espiritualizaram com o tempo que chegam a diluir-se no prazer. Não é claro isto, mas nem tudo é claro na vida ou nos livros A verdade é que sinto um gosto particular em referir tal aborrecimento, quando é certo que ele me lembra outros que não quisera lembrar por nada.

CAPÍTULO LXXVIII / SEGREDO POR SEGREDO

De resto, naquele mesmo tempo senti tal ou qual necessidade de contar a alguém o que se passava entre mim e Capitu. Não referi tudo, mas só uma parte, e foi Escobar que a recebeu. Quando voltei ao seminário, na quarta-feira, achei-o inquieto; disse-me que era sua intenção ir ver-me, se eu me demorasse mais um dia em casa. Perguntava-me com interesse o que é que tivera, e se estava bom de todo.

–Estou.

Ouvia, espetando-me os olhos. Três dias depois disse que me estavam achando muito distraído; era bom disfarçar o mais que pudesse. Ele, à sua parte, tinha razões para andar distraído também, mas buscava ficar atento.

–Então parece-lhe?…

–Sim, você às vezes está que não ouve nada. olhando para ontem; disfarce, Santiago.

–Tenho motivos…

–Creio; ninguém se distrai à toa.

–Escobar…

Hesitei; ele esperou.

–Que é?

–Escobar, você é meu amigo, eu sou seu amigo também; aqui ao seminário você é a pessoa que mais me tem entrado no coração, e lá fora, a não ser a gente da família, não tenho propriamente um amigo.

–Se eu disser a mesma cousa, retorquiu ele sorrindo, perde a graça; parece que estou repetindo. Mas a verdade é que não tenho aqui relações com ninguém, você é o primeiro e creio que já notaram, mas eu não me importo com isso.

Comovido, senti que a voz se me precipitava da garganta.

–Escobar, você é capaz de guardar um segredo?

–Você que pergunta é porque duvida, e nesse caso. ..

–Desculpe, é um modo de falar. Eu sei que é moço sério, e faço de conta que me confesso a um padre.

–Se precisa de absolvição, está absolvido.

–Escobar, eu não posso ser padre. Estou aqui, os meus acreditam, e esperam; mas eu não posso ser padre.

–Nem eu, Santiago.

–Nem você?

–Segredo por segredo; também eu tenho o propósito de não acabar o curso; meu desejo é o comércio, mas não diga nada, absolutamente nada- fica só entre nós. E não é que eu não seja religioso; sou religioso, mas o comércio é a minha paixão.

–Só isso?

–Que mais há de ser?

Dei duas voltas e sussurrei a primeira palavra da minha confidência, tão escassa e surda, que não a ouvi eu mesmo; sei porém que disse “uma pessoa…” com reticência. Uma pessoa?… Não foi preciso mais para que ele entendesse. Uma pessoa devia ser uma moça. Nem cuides que pasmou de me ver namorado; achou até natural e espetou-me outra vez os olhos. Então contei-lhe por alto o que podia, mas demoradamente para ter o gosto de repisar o assunto Escobar escutava com interesse; no fim da nossa conversação declarou-me que era segredo enterrado em cemitério. Deu-me de conselhos que não me fizesse padre. Não podia levar para a igreja um coração que não era do céu, mas da terra; seria um mau padre, nem seria padre. Ao contrário, Deus protegia os sinceros; uma vez que eu só podia servi-lo no mundo, aí me cumpria ficar.

Não calculas o prazer que me deu a confidência que lhe fiz. Era como que uma felicidade mais. Aquele coração moço que me ouvia e me dava razão, trazia a este mundo um aspecto extraordinário. Era um grande e belo mundo, a vida uma carreira excelente, e eu nem mais nem menos um mimoso do céu; eis a minha sensação. Nota que eu não lhe disse tudo, nem o melhor; não lhe referi o Capítulo do penteado, por exemplo, nem outros assim; mas o contado era multo.

Que voltamos ao assunto, não é preciso dizê-lo. Voltamos uma e muitas vezes: eu louvava as qualidades morais de Capitu, matéria adequada à admiração de um seminarista, a simpleza, a modéstia. O amor do trabalho e os costumes religiosos. Não lhe tocava nas graças físicas, nem ele me perguntava por elas; apenas insinuei a conveniência de a conhecer de vista.

–Agora não é possível, disse-lhe na primeira semana, ao voltar de casa; Capitu vai passar uns dias com uma amiga da Rua dos Inválidos. Quando ela vier, você irá lá; mas pode ir antes, pode ir sempre; por que não foi ontem jantar comigo?

–Você não me convidou.

— Pois precisa convidar? Lá em casa todos ficaram gostando muito de você.

–Também eu fiquei gostando de todos, mas é possível fazer distinção, confesso-lhe que sua mãe é uma senhora adorável.

–Não é verdade? retorqui cheio de alvoroço.

CAPÍTULO LXXIX / VAMOS AO CAPÍTULO

Com efeito, gostei de ouvi-lo falar assim. Sabes a opinião que eu tinha de minha mãe. Ainda agora, depois de interromper esta linha para mirar-lhe o retrato que pende da parede, acho que trazia no rosto impressa aquela qualidade. Nem de outro modo se explica a opinião de Escobar, que apenas trocara com ela quatro palavras Uma só bastava a penetrar-lhe a essência íntima; sim, sim, minha mãe era adorável. Por mais que me estivesse então obrigando a uma carreira que eu não queria, não podia deixar de sentir que era adorável, como uma santa.

E porventura era certo que me obrigava à carreira eclesiástica? Aqui chego a um ponto, que esperei viesse depois tanto que já pesquisava em que altura lhe daria um Capítulo. Realmente, não cabia dizer agora o que só mais tarde presumi descobrir, mas, uma vez que toquei no ponto, melhor é acabar com ele. É grave e complexo, delicado e sutil, um destes em que o autor tem de atender ao filho, e o filho há de ouvir o autor, para que um e outro digam a verdade, só a verdade, mas toda a verdade. Cabe ainda notar que esse ponto é que torna justamente a santa mais adorável, sem prejuízo (ao contrário!) da parte humana e terrestre que havia nela. Basta de prefácio ao Capítulo; vamos ao Capítulo.

CAPÍTULO LXXX / VENHAMOS AO CAPÍTULO

Venhamos ao Capítulo. Minha mãe era temente a Deus; sabes disto, das suas práticas religiosas, e da fé pura que as animava. Nem ignoras que a minha carreira eclesiástica era objeto de promessa feita quando fui concebido. Tudo está contado oportunamente. Outorgam, sabes que para o fim de apertar o vínculo moral da obrigação, confiou os seus projetos e motivos a parentes e familiares. A promessa, feita com fervor, aceita com misericórdia, foi guardada por ela, com alegria, no mais íntimo do coração. Penso que lhe senti o sabor da felicidade no leite que me deu a mamar. Meu pai, se vivesse, é possível que alterasse os planos, e, como tinha a vocação da política, é provável que me encaminhasse somente à política, embora os dous ofícios não fossem nem sejam inconciliáveis, e mais de um padre entre na luta dos partidos e no governo dos homens. Mas meu pai morrera sem saber nada, e ela ficou diante do contrato, como única devedora.

Um dos aforismos de Franklin é que, para quem tem de pagar na páscoa, a quaresma é curta. A nossa quaresma não foi mais longa que as outras, e minha mãe, posto me mandasse ensinar latim e doutrina, começou a adiar a minha entrada no seminário. É o que se chama, comercialmente falando, reformar uma letra. O credor era arquimilionário, não dependia daquela quantia para comer, e consentiu nas transferências de pagamento, sem sequer agravar a taxa do juro. Um dia. porém, um dos familiares que serviam de endossantes da letra, falou da necessidade de entregar o preço ajustado; está num dos Capítulos primeiros. Minha mãe concordou e recolhi-me a S. José.

Ora, nesse mesmo Capítulo, verteu ela umas lágrimas, que enxugou sem explicar, e que nenhum dos presentes nem tio Cosme, nem prima Justina, nem o agregado José Dias entendeu absolutamente: eu, que estava atrás da porta, não as entendi mais que eles. Bem examinadas, apesar da distancia, vê-se que eram saudades prévias, a mágoa da separação, — e pode ser também (é o princípio do ponto), pode ser que arrependimento da promessa. Católica e devota, sentia muito bem que as promessas se cumprem; a questão é se é oportuno e adequado fazê-las todas, e naturalmente inclinava-se à negativa. Por que é que Deus a puniria, negando-lhe um segundo filho? A vontade divina podia ser a minha vida, sem necessidade de lhe dedicar ab ovo. Era um raciocínio tardio: devia ter sido feito no dia em que fui gerado. Em todo caso, era uma conclusão primeira; mas, não bastando concluir para destruir, tudo se manteve, e eu fui para o seminário.

Um cochilo da fé teria resolvido a questão a meu favor, mas a fé velava com os seus grandes olhos ingênuos. Minha mãe faria, st pudesse, uma troca de promessa, dando parte dos seus anos para conservar-me consigo, fora do clero, casado e pai: é o que presumo, assim como suponho que rejeitou tal idéia, por lhe parecer uma deslealdade. Assim a senti sempre na corrente da vida ordinária.

Sucedeu que a minha ausência foi logo temperada pela assiduidade de Capitu. Esta começou a fazer-se-lhe necessária. Pouco a pouco veio-lhe a persuasão de que a pequena me faria feliz. Então (é o final do ponto anunciá-lo), a esperança de que o nosso amor, tornando-me absolutamente incompatível com o seminário, me levasse a não ficar lá nem por Deus nem pelo Diabo, esta esperança íntima e secreta entrou a invadir o coração de minha mãe. Neste caso, eu romperia o contrato sem que ela tivesse culpa. Ela ficava comigo sem ato propriamente seu. Era como se, tendo confiado a alguém a importância de uma dívida para levá-la ao credor o portador guardasse o dinheiro consigo e não levasse nada. Na vida comum, o ato de terceiro não desobriga o contratante; mas a vantagem de contratar com o céu é que intenção vale dinheiro.

Hás de ter tido conflitos parecidos com esse, e, se és religioso, haverás buscado alguma vez conciliar o céu e a terra, por modo idêntico ou análogo. O céu e a terra acabam conciliando-se; eles são quase irmãos gêmeos, tendo o céu sido feito no segundo dia e a terra no terceiro. Como Abraão, minha mãe levou o filho ao monte da Visão, e mais a lenha para o holocausto, o fogo e o cutelo. E atou Isaac em cima do feixe de lenha, pegou do cutelo e levantou-o ao alto. No momento de fazê-lo cair, ouve a voz do anjo que lhe ordena da parte do Senhor: “Não faças mal algum a teu filho; conheci que temes a Deus”. Tal seria a esperança secreta de minha mãe.

Capitu era naturalmente o anjo da Escritura. A verdade é que minha mãe não podia tê-la agora longe de si. A afeição crescente era manifesta por atos extraordinários. Capitu passou a ser a flor da casa, o sol das manhãs, o frescor das tardes, a lua das noites; lá vivia horas e horas, ouvindo, falando e cantando. Minha mãe apalpava-lhe o coração, revolvia-lhe os olhos, e o meu nome era entre ambas como a senha da vida futura.

CAPÍTULO LXXXI / UMA PALAVRA

Assim contado o que descobri mais tarde, posso trasladar para aqui uma palavra de minha mãe. Agora se entenderá que ela me dissesse, no primeiro sábado, quando eu cheguei a casa, e soube que Capitu estava na Rua dos Inválidos, com sinhazinha Gurgel:

–Por que não vais vê-la? Não me disseste que o pai de Sancha te ofereceu a casa?

–Ofereceu.

–Pois então? Mas é se queres. Capitu devia ter voltado hoje para acabar um trabalho comigo; certamente a amiga pediu-lhe que dormisse lá.

–Talvez ficassem namorando, insinuou prima Justina.

Não a matei por não ter à mão ferro nem corda, pistola nem punhal- mas os olhos que lhe deitei, se pudessem matar, teriam suprido tudo. Um dos erros da Providência foi deixar ao homem unicamente os braços e os dentes, como armas de ataque, e as pernas como armas de fuga ou de defesa. Os olhos bastavam ao primeiro efeito. Um mover deles faria parar ou cair um inimigo ou um rival, exerceriam vingança pronta, com este acréscimo que, para desnortear a justiça, os mesmos olhos matadores seriam olhos piedosos, e correriam a chorar a vítima. Prima Justina escapou aos meus; eu e que não escapei ao efeito da insinuação, e no domingo, às onze horas, corri à Rua dos Inválidos.

O pai de Sancha recebeu-me em desalinho e triste. A filha estava enferma- caíra na véspera com uma febre, que se ia agravando. Como ele queria muito à filha, pensava já vê-la morta, e anunciou-me que se mataria também. Eis aqui um Capítulo fúnebre como um cemitério, mortes, suicídios e assassinatos. Eu ansiava por um raio de luz clara e céu azul. Foi Capitu que os trouxe à porta da sala, vindo dizer ao pai de Sancha que a filha o mandara chamar.

–Está pior? perguntou Gurgel assustado.

–Não, senhor, mas quer falar-lhe.

–Fique aqui um bocadinho, disse-lhe ele; e voltando-se para mim: E a enfermeira de Sancha, que não quer outra; eu já volto.

Capitu trazia sinais de fadiga e comoção, mas tão depressa me viu, ficou toda outra, a mocinha de sempre, fresca e lepida, não menos que espantada. Custou-lhe a crer que fosse eu. Falou-me, quis que lhe falasse, e efetivamente conversamos por alguns minutos, mas são tão baixo e abafado que nem as paredes ouviram, elas que têm ouvidos. De resto, se elas ouviram algo, nada entenderam, nem elas nem os móveis, que estavam tão tristes como o dono.

CAPÍTULO LXXXII / O CANAPÉ

Deles, só o canapé pareceu haver compreendido a nossa situação moral, visto que nos ofereceu os serviços da sua palhinha, com tal insistência que os aceitamos e nos sentamos. Data daí a opinião particular que tenho do canapé. Ele faz aliar a intimidade e o decoro, e mostra a casa toda sem sair da sala. Dous homens sentados nele podem debater o destino de um império, e duas mulheres a graça de um vestido- mas, um homem e uma mulher só por aberração das leis naturais dirão outra cousa que não seja de si mesmos. Foi o que fizemos, Capitu e eu. Vagamente lembra-me que lhe perguntei se a demora ali seria grande…

–Não sei- a febre parece que cede… mas…

Também me lembra, vagamente, que lhe expliquei a minha visita à Rua dos inválidos, com a pura verdade, isto é, a conselho de minha mãe.

–Conselho dela? murmurou Capitu.

E acrescentou com os olhos, que brilhavam extraordinariamente — Seremos felizes!

Repeti estas palavras, com os simples dedos, apertando os dela. O canapé, quer visse ou não, continuou a prestar os seus serviço às nossas mãos presas e às nossas cabeças juntas ou quase juntas.

CAPÍTULO LXXXIII / O RETRATO

Gurgel tornou à sala e disse a Capitu que a filha chamava por ela. Eu levantei-me depressa e não achei compostura; metia os olhos pelas cadeiras. Ao contrário, Capitu ergueu-se naturalmente e perguntou-lhe se a febre aumentará.

–Não, disse ele.

Nem sobressalto nem nada, nenhum ar de mistério da parte de Capitu; voltou-se para mim, e disse-me que levasse lembranças a minha mãe e a prima Justina, e que até breve, estendeu-me a mão e enfiou pelo corredor. Todas as minhas invejas foram com ela. Como era possível que Capitu se governasse tão facilmente e eu não?

–Está uma moça, observou Gurgel olhando também para ela.

Murmurei que sim. Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras as formas arredondavam-se e avigoravam-se com grande intensidade moralmente a mesma cousa. Era mulher por dentro e por fora, mulher à direita e à esquerda, mulher por todos os lados, e desde os pés até à cabeça. Esse arvorecer era mais apressado, agora que eu a via de dias a dias; de cada vez que vinha a casa achava-a mais alta e mais cheia; os olhos pareciam ter outra reflexão, e a boca outro império. Gurgel, voltando-se para a parede da sala, onde pendia um retrato de moça, perguntou-me se Capitu era parecida com o retrato.

Um dos costumes da minha vida foi sempre concordar com a opinião provável do meu interlocutor, desde que a matéria não me agrava, aborrece ou impõe. Antes de examinar se efetivamente Capitu era parecida com o retrato, fui respondendo que sim. Então ele disse que era o retrato da mulher dele, e que as pessoas que a conheceram diziam a mesma cousa. Também achava que as feições eram semelhantes, a testa principalmente e os olhos. Quanto ao gênio, era um, pareciam irmãs.

— Finalmente, até a amizade que ela tem a Sanchinha- a mãe não era mais amiga dela… Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas.

CAPÍTULO LXXXIV / CHAMADO

No saguão e na rua, examinei ainda comigo se efetivamente ele teria desconfiado alguma cousa, mas achei que não e pus-me a andar. Ia satisfeito com a visita, com a alegria de Capitu, com os louvores de Gurgel, a tal ponto que não acudi logo a uma voz que me chamava:

–Sr. Bentinho! Sr. Bentinho!

Só depois que a voz cresceu e o dono dela chegou à porta é que eu parei e vi o que era e onde estava. Estava já na Rua de Matacavalos. A casa era uma loja de louça, escassa e pobre: tinha as portas meio cerradas, e a pessoa que me chamava era um pobre homem grisalho e mal vestido.

–Sr. Bentinho, disse-me ele chorando; sabe que meu filho Manduca morreu?

–Morreu?

–Morreu há meia hora, enterra-se amanhã. Mandei recado a sua mãe agora mesmo, e ela fez-me a caridade de mandar algumas flores para botar no caixão. Meu pobre filho! Tinha de morrer, e foi bom que morresse, coitado, mas apesar de tudo sempre dói. Que vida que ele teve!… Um dia destes ainda se lembrou do senhor, e perguntou se estava no seminário… Quer vê-lo? Entre, ande vê-lo…

Custa-me dizer isto, mas antes peque por excessivo que por diminuto. Quis responder que não, que não queria ver o Manduca, e fiz até um gesto para fugir. Não era medo; noutra ocasião pode ser até que entrasse com facilidade e curiosidade, mas agora ia tão contente! Ver um defunto ao voltar de uma namorada… Há cousas que se não ajustam nem combinam. A simples notícia era já uma turvação grande. As minhas idéias de ouro perderam toda a cor e o metal para se trocarem em cinza escura e feia, e não distingui mais nada. Penso que cheguei a dizer que tinha pressa, mas provavelmente não falei por palavras claras, nem sequer humanas, porque ele, encostado ao portal, abria-me espaço com o gesto, e eu, sem alma para entrar nem fugir, deixei ao corpo fazer o que pudesse, e o corpo acabou entrando.

Não culpo ao homem; para ele, a cousa mais importante do momento era o filho. Mas também não me culpem a mim; para mim, a cousa mais importante era Capitu. O mal foi que os dous casos se conjugassem na mesma tarde, e que a morte de um viesse meter o nariz na vida do outro. Eis o mal todo. Se eu passasse antes ou depois, ou se o Manduca esperasse algumas horas para morrer, nenhuma nota aborrecida viria interromper as melodias da minha alma. Por que morrer exatamente há meia hora? Toda hora é apropriada ao óbito; morre-se muito bem às seis ou sete horas da tarde.

CAPÍTULO LXXXV / O DEFUNTO

Tal foi o sentimento confuso com que entrei na loja de louça. A loja era escura, e o interior da casa menos luz tinha, agora que as janelas da área estavam cerradas. A um canto da sala de jantar vi a mãe chorando; à porta da alcova duas crianças olhavam espantadas para dentro, com o dedo na boca. O cadáver jazia na cama; a cama…

Suspendamos a pena e vamos à janela espairecer a memória. Realmente, o quadro era feio, já pela morte, já pelo defunto, que era horrível… Isto aqui, sim, é outra cousa. Tudo o que vejo lá fora respira vida, a cabra que rumina ao pé de uma carroça, a galinha que marisca no chão da rua, o trem da Estrada Central que bufa, assobia, fumega e passa, a palmeira que investe para o céu, e finalmente aquela torre de igreja, apesar de não ter músculos nem folhagem. Um rapaz, que ali no beco empina um papagaio de papel, não morreu nem morre, posto também se chame Manduca.

Verdade é que o outro Manduca era mais velho. Teria dezoito ou dezenove anos, mas tanto lhe darias quinze como vinte e dous, a cara não permitia trazer a idade à vista antes a escondia nas dobras da… Vá, diga-se tudo; é morto, os seus parentes são mortos, se existe algum não é em tal evidência que se vexe ou doa. Diga-se tudo, Manduca padecia de uma cruel enfermidade, nada menos que a lepra. Vivo era feio- morto pareceu-me horrível. Quando eu vi, estendido na cama, o triste corpo daquele meu vizinho, fiquei apavorado e desviei os olhos. Não sei que mão oculta me compeliu a olhar outra vez, ainda que de fugida; cedi, olhei, tornei a olhar, até que recuei de todo e saí do quarto.

–Padeceu muito! suspirou o pai.

–Coitado de Manduca! soluçava a mãe.

Eu cuidei de sair, disse que era esperado em casa, e despedi-me O pai perguntou-me se lhe faria o favor de ir ao enterro; respondi com a verdade, que não sabia, faria o que minha mãe quisesse. E rápido saí, atravessei a loja, e saltei à rua.

CAPÍTULO LXXXVI / AMAI, RAPAZES!

Era tão perto, que antes de três minutos me achei em casa. Parei no corredor, a tomar fôlego- buscava esquecer o defunto, pálido e disforme, e o mais que não disse para não dar a estas páginas um aspecto repugnante, mas podes imaginá-lo. Tudo arredei da vista, em poucos segundos; bastou-me pensar na outra casa, e mais na vida e na cara fresca e lépida de Capitu… Amai, rapazes! e, principalmente, amai moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto, trocam a morte pela vida… Amai, rapazes!
––––––
continua…

Deixe um comentário

Arquivado em Magia das Palavras

José Feldman (Universo de Versos n.10)

Trova do Paraná

MAFALDA DE SOTTI LOPES – Irati
Toda semente que eu planto
nos sulcos da minha dor,
germina regada em pranto,
mas, desabrocha em amor!

Trova Lírica/Filosófica

IZO GOLDMAN – São Paulo/SP
A raiz do mal, eu creio,
não está no que eu te digo,
está naquilo que anseio
te fizer… mas não consigo…

Trova Humorística

ELIANA RUIZ JIMENEZ – Balneário Camboriú/SC
Cai de tapa a Januária
no traste do maridão,
ao saber que a funcionária
ficou “gorda” de um serão.

Trova do Feldman

JOSÉ FELDMAN – Maringá/PR
Amor! És como uma rosa,
cuja corola ao  se abrir,
exibe a mulher formosa
que é o meu mais doce elixir!

Trova Hispânica

NORA LANZIERI – Buenos Aires/Argentina
Entendimiento mi amor
hay entre nosotros dos
como luz de unicolor
que siempre me abraza a vos.

Trova de Portugal

DEODATO PIRES – Olhão
Dentre as flores de Jardim,
solitárias ou aos molhos,
é a rosa, para mim,
a “menina” dos meus olhos…

Trovadores que deixaram Saudades

ALFREDO DE CASTRO – Pouso Alegre/MG
1922 – 2011

Eu creio em Deus, com profundo
sentido de lucidez…
Mas, no Deus que fez o mundo,
não no Deus que o mundo fez!

Haicai

SHUHEI UETSUKA – Japão
Primeiro Haicai Japonês no Brasil (1908)

A nau imigrante
chegando: vê-se lá no alto
a cascata seca

Poesia

ALICE RUIZ – Curitiba/PR
Saudação da Saudade

minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vinda
só é possível
noutra vida

aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz

ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento

aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim

Trova Ecológica
 

Décima
 

UGOLINO DO SABUGI – Teixeira/PB
1830 – 1893
As Obras da Natureza

As obras da Natureza
     São de tanta perfeição,
     Que a nossa imaginação
     Não pinta tanta grandeza!
     Para imitar a beleza
     Das nuvens com suas cores,
     Se desmanchando em louvores
     De um manto adamascado,
     O artista, com cuidado,
     Da arte, aplica os primores.

Brilham, nos prados, verdumes
     De um tapete aveludado;
     Brilha o rochedo escarlado,
     Das penhas seus altos cumes;
     Os montes formam tais gumes,
     Que a gente, os observando,
     Vê como que se alongando,
     Sumir-se na imensidade …
     Nossa visibilidade
     os perde se está olhando.

Setilha Sobre o Mar
 

Maria Rosário Pinto – Bacabal/MA
 

É bom pegar uma onda
É bom nos banhar no mar.
O mesmo mar que atraí
Sempre vem nos assustar
Nele nos purificamos
Por Yemanjá clamamos
Mãe! Vem nos ajudar.

Soneto

PEDRO MELLO – Santo André/SP
Pequeno Tratado Sobre a Dor

A dor do infarto, dor que chama a morte,
a dor que ataca um mal cuidado dente,
a dor pós-cirurgia, a dor do corte,
a dor da cãibra, o músculo torcente…

o chute acidental… e um homem forte
da partida-batalha sai dormente…
a dor do câncer faz perder o norte,
a dor do parto abala quem a sente…

Mas entre dores tantas, afinal,
qual é a que faz alguém perder o sono
e despencar o pranto sem contê-lo?

…É a dor de todos, dor universal,
amargo resultado do abandono,
a dor pior… é a dor de cotovelo…

Moirão de 6 Linhas
        
Dentro da contextura da Poesia Popular, o Moirão tem sido o gênero a sofrer grandes variações ao longo do tempo. É uma modalidade, onde os cantadores se revezam dentro da mesma estrofe. No século passado, o Moirão em quintilha substituiu o Moirão de seis versos, ambos em desuso. No Moirão de seis linhas, um Cantador fazia dois versos, o outro intercalava com dois, e o iniciante fechava a estrofe.

Moirão de seis linhas, cantado por Romano e Inácio:

     I –  Seu Romano, estão dizendo
           Que nós não cantamos bem!
     R-  Pra cantar igual a nós,
           Aqui, não vejo ninguém!
     I –  E o diabo que disse isto
           É o pior que aqui tem!

Poesia de Longe

CÉSAR VALLEJO – Santiago de Chuco/Perú
1892 – 1938
Os Anéis Fatigados

Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.

Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!

Há ânsias de… não ter ânsias, Senhor,
a ti aponto-te com o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.

A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.

Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de ficar plantado neste verso!

Trova Popular
 
Saudade consumidora,
eterna sócia de amor,
serás minha companheira,
irás comigo onde eu for.

Poesia em Música
 

ALVARENGA, RANCHINHO E CHIQUINHO SALES
Romance de Uma Caveira

(Valsa Humorística – 1940)
A canção “Romance de uma Caveira”, de autoria da dupla Alvarenga e Ranchinho com o compositor Chiquinho Sales, foi lançada no mês de março do ano de 1940. O disco de 78 rpm contava como lado B a canção “Muié pra cada um” (Alvarenga/Ranchinho). 1 Napolitano,2005:77
Nos primeiros segundos da gravação da dupla Alvarenga e Ranchinho, escutam-se gritos e uivos de certo modo fantasmagóricos acompanhados por sons dissonantes e intencionalmente sombrios vindos de um acordeom que além de preparar o ouvinte para o tema central da canção mostra um dos fatores fortes da dupla: a questão da performance.

Eram duas caveiras que se amava
e à meia-noite se encontrava
pelo cemitério os dois passeava
e juras de amor então trocava.

 Sentado os dois em riba da lousa fria
a caveira apaixonada assim dizia 

que pelo caveiro de amor morria
e ele de amores por ela vivia.

 Ao longe uma coruja cantava alegre
de ver os dois caveiro assim feliz
e quando se beijavam em tom fúnebre
a coruja batendo as asa pedia bis.

 Mas um dia chegou de “pé junto”
um cadáver, um defunto
E a caveira pr’ ele se apaixonou
e o caveiro antigo abandonou.

 O caveiro tomou uma bebedeira
e matou-se de modo romanesco
por causa dessa ingrata caveira
que trocou ele por um defunto fresco.

Deixe um comentário

Arquivado em Universo de Versos