Arquivo do mês: novembro 2012

12º Concurso de Poesias – CNEC Capivari (Resultado Final)

Categoria Infantil João Batista Prata 
(08 a 10 anos)
1º LUGAR :Caroline Bresciani (08 anos) = “ Chegou a primavera”
2º LUGAR: Luana Groninger Lima (09 anos) = “Algumas ações”
3º LUGAR: Denise Ortolani de Menezes (10 anos) = “ Sustentabilidade”
SELECIONADAS
Laura Bellini Alves de Souza (10 anos) = “Felicidade de uma criança” e “Para que estudar”
Danilo Ortolani Menezes (08 anos) = “Curiosidade” e “Uma flor”
Luíza Sério de Quadros (08 anos) = “Minha Família”
Luize Maria Pacheco de Carvalho (08 anos) = “Soneto para uma flor”
João Marinho de Almeida (08 anos) = “O sol”
Lívia Feres Haddad (08 anos)= “O Amor”
Gabryel Aparecido de Almeida (09 anos) = “Minhoca”
Isabela Casado Pupo (08 anos) = “Um mundo muito engraçado”
Denise Ortolani de Menezes = “Sentimentos”
Júlia Maria Souza Rossi = “A beleza do mundo está acabando”
CATEGORIA INFANTO JUVENIL Homero Dantas 
(11 a 14 anos)
1º LUGAR: Ana Carolina Silva Sampaio: “ A diferença existe?”
2º LUGAR : Caio Novaes Sandalo : “Bullying”
3º LUGAR : Marciel A. Gonçalves: “Dia das crianças”
SELECIONADAS
Vitória Veronez : “Do colorido ao branco e preto”
Beatriz Schincariol: “Sem mais encanto”
Edna Camatini: “Vida no trânsito”
Carlos Henrique Reginato Ferreira : “O dinheiro”
Marina Girardi Sanches : “ A essência”
Mary Helen Castellani: “ Adolescência”
Vitor Callegaro Veronez: “Todo fim tem um começo”
Tainá Gabriela Carvalho Dias: “Se eu fosse um herói”
Luiz Henrique Fumagalli: “História de Cordel inventada por mim”
Izabella Favarão da Silva: “Violência”
Letícia da Silva Antunes: “ Se eu fosse uma bola velha e rasgada”
Amanda Darossi: “Se eu fosse um aviãozinho de papel”
CATEGORIA JUVENIL RODRIGUES DE ABREU
 (15 a 17 anos)
1º LUGAR : Laramie Joaquina Gomes de Araújo: “ O sótão”
2º LUGAR : Yasmin de Carvalho Marrocco: “É psicológico”
3º LUGAR: Fabíola Silva: “Minha infância”
SELECIONADAS
Laramie Joaquina Gomes de Araújo: “A descoberta do amor”
Alex dos Santos: “A saudade”
Bianca Bordenali da Silva: “As eleições”
Taise Katherine Silva: “Amor”
Yasmin de Carvalho Marrocco: “Dia dos namorados”
Paulo César Martins: “Lembranças”
Cleiton Oliveira de Souza: “Meio ambiente”
Ana Paula Nicolau: “Meio ambiente”
Gustavo Cesar Carillo: “ O meio ambiente”
Marinara Souza Silva: “Uma coisa chamada amor”
Monica Montibeller: “Sonhos”
Lorena Dutra: “Vou me entregar”
CATEGORIA ADULTO AMADEU AMARAL 
(18 a 59 anos)
1º LUGAR: Reginaldo Costa de Albuquerque: “ O vestido”
2º LUGAR: Rita Do Carmo Piai Armelin: “Semeador”
3º LUGAR: Maria Luisa Cassaniga “ Vô Zé”
SELECIONADAS
José Roberto Abib: “Obscuro Caminhar”
Reginaldo Costa de Albuquerque: “Colheita”
Maria Luisa Cassaniga: “Vó Dide”
Maria Flávia Juliani Pastana: “Satisfação”
Rubens Rodrigues da Silva: “Soneto pro tempo que se repete”
Rita do Carmo Piai Armelin: “Girafa”
José Roberto Abib: “Quando isto se der”
Maria Flávia Juliani Pastana: “A família”
CATEGORIA SENIOR TARSILA AMARAL 
(acima de 60 anos)
1º LUGAR: Lídia Varela Sendin: “luz na Alma”
2º LUGAR: Maria Nerêa Baldo Calegari: “À minha terra natal”
3º LUGAR: Paulo Leite: “Poema Recordando o passado”
SELECIONADAS
Dallila Alves dos Santos: “Súplica” e “ Oi menino, esta é para você”
Wilma K. Ferraz de A. Cervi: “Solidão I” e “Solidão II”
Lídia Varela Sendin: “Corpo água”
Nelsira Michel da Silva: “A minha cachorrinha”
Paulo Leite: “Um tributo ao sertanejo Tinoco em poema”
Antonio Garcia Brabo: “A força do desejo”
Nara Pardini: “Entrega de amor”
Luzia do Carmo Cassaniga Leite: “Poema”
Olga Ricomini Pagotto: “A alma”
Maria Nerêa Baldo Calegari: “Tentar” 
Fonte:
 Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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VII Concurso "Comunidade Escolar" da APPACDM de Setúbal (Resultado Final)

1º Prémio – 
Poema Nrº 20 – “ A Poesia que há em ti é a mesma que há em mim” – 
Pseudónimo – “ Teresa Albuquerque” – 
Identificação – Ana Sofia da Conceição Alves Teixeira (Escola Secundária de Palmela)
2º Prémio – 
Poema Nrº 10 – “ És para mim poesia” – 
Pseudónimo – Bon Vivant” – 
Identificação – Flávio Henrique dos Santos Costa (APPACDM de Setúbal)
3º Prémio – 
Poema Nrº 9 – “ O que há dentro de mim” – 
Pseudónimo – “ Golfinho” – 
Identificação – Rui Alberto Santos Caleira (APPACDM de Setúbal)
MENÇÕES HONROSAS
– Poema Nº 15 – “ A poesia que há em ti” – 
Pseudónimo – “ Catarina Cordeiro” – 
Identificação – Catarina Alexandra Oliveira Cordeiro (APPACDM de Soure)
– Poema Nrº 12 – “Ser diferente…e igual” – 
Pseudónimo – Maria Mendes – 
Identificação – Adélia Maria Mendes (APPACDM de Soure)
– Poema Nrº 14 – “Tão diferente…mas tão igual a mim” – 
Pseudónimo – Tó Bento – 
Identificação – António José Bento de Carvalho (APPACDM de Soure)
– Poema Nrº 8 – “ O meu amor por ti” – 
Pseudónimo – MCC (Magnífico, Corajoso, Carinhoso) – 
Identificação – Tiago Luís Roque Severino (CSE – Centro Sócio Educativo da APPACDM de Setúbal)
– Poema Nrº 26 – “É apenas paixão” – 
Pseudónimo – “J.S” – 
Identificação – José Eduardo Nascimento Semedo (CECD Mira Sintra)
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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XVII Concurso de poesia da APPACDM de Setúbal

1º Prémio – 
Poema Nrº 21 – “Estilhaços” – 
Pseudónimo – “ Alda Fragoso” – 
Identificação – Regina dos Anjos Sousa Gouveia (Porto)
2º Prémio – 
Poema Nrº 11 –“ Canção de Mimar” – 
Pseudónimo – “ Estrela Universal” – 
Identificação – Ana Coelho (Carregado)
Menções Honrosas:
– Poema Nrº 33 – “ Síndrome” – 
Pseudónimo – “ João Mafra” – 
Identificação – João Vítor Silva (Mafra)
– Poema Nrº 27 – “Dança Encantada” – 
Pseudónimo – “Mel” – 
Identificação – Vânia Isabel Veríssimo” (Setúbal)
– Poema Nrº 62 – “Moldura” – 
Pseudónimo – “Maria da Fé” – 
Identificação – Manuela Ferreira (Ponte de Lima)
– Poema Nrº 6 – “ Encolho-me nos teus braços esculpidos no vento” – 
Pseudónimo – “ David Ferreira” – 
Identificação – Maria da Conceição Bernardino (Porto)
– Poema Nrº 69 – “As minhas mãos” – 
Pseudónimo “ Flor-de-luz” – 
Identificação – “ Teresa de Jesus Ferreira Teixeira” (Vila Nova de Gaia)
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís (Portugal) (Resultado Final)

O romance A Vida Inútil de José Homem, de Marlene Correia Ferraz, é o vencedor do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, no valor de 25.000 euros, anunciou a Estoril Sol que o instituiu há cinco anos. 
O júri escolheu, por maioria, o romance de Marlene Correia Ferraz, psicóloga de 32 anos, considerando a “apreciável desenvoltura narrativa e uma relação criativa com a língua portuguesa”, segundo a ata do júri a que a Lusa teve acesso. 
O romance “evidencia situações dramáticas da memória histórica portuguesa africana, num enquadramento interessante e, em certa medida, original”, afirmou o júri no mesmo texto. 
O júri foi presidido pelo escritor Vasco Graça Moura e integrou Guilherme d`Oliveira Martins, em representação do Centro Nacional de Cultura, José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários e, ainda, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, como convidados, e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril Sol. 
O Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís foi instituído em 2008 por ocasião dos 50 anos da Estoril Sol que estabeleceu um protocolo com a editora Gradiva, que publica a obra vencedora. 
Fonte: 
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Prêmio Uberaba de Literatura 2012 (Resultado Final)

*** CONTOS ***
1º LUGAR
TUDO O QUE HÁ NO OLHAR
JÂNSEN ALMEIDA DINIZ
2º LUGAR
SUICIDAS S.A
TIAGO OLIVEIRA DUMARD
3º LUGAR
ETERNAMENTE EM BOTAFOGO
FÁTIMA SOARES RODRIGUES
4º LUGAR
NATIMORTO
FABIANA RODRIGUES DA CUNHA FELICÍSSIMO
5º LUGAR
TODA A GLÓRIA DE UMA VIDA SEM FIM
BRUNO GARCIA TOMÁZ
6º LUGAR
SONHOS DE UM PASSADO
POLIANA VELOSO DA CRUZ
*** POESIAS ***
1º LUGAR
NA MINHA PELE
MAGDA LUCIA VILAS-BOAS
2º LUGAR
DITOS
RODRIGO FRANCISCO DE OLIVEIRA
3º LUGAR
CONVERSA DE POETA
VICENTE DE PAULO HIGINO
4º LUGAR
PESCADOR
ANDRÉ ESTEVES MARTINS PINTO
5º LUGAR
NATURAIS
WLADIMIR MOREIRA SANTOS
6º LUGAR
DESCANTO
FLAVIO AUGUSTO LANZARINI DE CARVALHO
7º LUGAR
TEMPO! ENSINA-ME A VIVER!
TERESA CRISTINA DE OLIVEIRA ROSA
8º LUGAR
CANÇÃO EM DEGRADE
PERPÉTUA AMORIM
9º LUGAR
CALARIA
THAÍS SILVA DE ASSIS
10º LUGAR
TAMBORES
CARLOS ROBERTO DA ROSA RANGEL
11º LUGAR
NÃO-EU
MARCOS ANTONIO SANTOS SOUZA
12º LUGAR
O TRISTE E CURTO CONTO QUE TE CONTO
DAVID MAGNO DE CARVALHO MENDES
13º LUGAR
ACREDITE QUE SOU TUDO, POR ISSO PEÇO SEU AMOR
SÍLVIA MARTINS PARREIRA
14º LUGAR
LUZ, ENTRE E SIRVA-SE, MAS SEJA PARCIMONIOSA E PRESERVE OS SEGREDOS DA ESCURIDÃO!
MORVAN ULHOA DE FARIA
15º LUGAR
MARIAS DO AMOR
IVANE LAURETE PEROTTI
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Trova 234 – Nei Garcez (Curitiba/PR)

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29 de novembro de 2012 · 22:02

José Maria de Almeida (Haicais)

Praia tranquila,
As gaivotas voando,
O peixe plóff…
Jangadas no mar,
Velas querendo bailar.
As redes caem.
Cachimbo na mão,
Olhar perdido no mar.
Pássaros…fiu…fiu…
Saia voando,
Pés na areia …andar.
As ondas…chuá.…
Ondas nas pedras,
Mar revolto agita.
Vento…Chuva…Chiii….
Ventos vadios,
Ondas na areia…Mar.
Mulher nadando.
Coqueiros bailam.
A jangada sai do mar.
corpos na chuva.
Saudade estou
Do canto de pássaros
De minha terra.
Saudade estou
Do barulho da água.
Rio ao lado.
Voa sabiá
Canta seu canto livre.
Tui tuiuí.
Vai cotovia
Pousa na flor da vida.
Flapi , flapi, piu.
Chorando por quê?
Hoje é outro dia.
Olhando fotos.
O passado foi,
O hoje é agora.
Vivendo feliz.
Sorriso largo,
Gargalhadas sonoras.
Circo alegre.
Palhaço no chão,
Trapezista sorrindo.
O show começou.
Palhaço feliz.
Trapezista caindo.
Palhaço que é.
Tudo nela é:
Amor e muita paixão.
Minha amada.
Entrega total,
É mulher e amante.
Minha perdição.
Amor latente,
É sensualidade.
É minha paixão
Lágrimas correm,
                   Olhar perdido no céu.
                   Alguém que partiu.
Rosa caindo
                    Das flores que balançam.
                    Vento que baila.
Rosa lilás
                    De sensual perfume.
                    Caída no chão.
Fonte:

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1º Prêmio de Trovas Humorista Chico Anísio – 2012 – UBT/Maranguape (Nacional/Internacional e Estadual) Tema: Maranguape

ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL

VENCEDORES (1º ao 5º lugares):
1º. Lugar:
 Encantando o visitante,
 com belezas tão divinas,
 Maranguape é a mais brilhante
 dessas musas nordestinas:
 Ederson Cardoso de Lima – 
Niterói/RJ.

2º. Lugar:
 Maranguape…o rio.. a serra…
 Quanta imagem na distância!
 Mundo evocado que encerra
 o mundo da minha infância!
 José Valdez de Castro Moura 
Pindamonhangaba/SP

3º. Lugar:
 Maranguape vai andando
 sempre com passo seguro.
 Com carinho, vai bordando
 os caminhos do futuro…
 Milton Souza 
Porto Alegre/RS

4º. Lugar:
 Maranguape… em teu reduto
 louva o amor que se concentre…
 Chico Anísio foi um fruto
 que acalentaste em teu ventre!
 Edmar Japiassú Maia 
Nova Friburgo/RJ

5º. Lugar:
 Maranguape entristeceu,
 pois já foi “cidade encanto”
 e assim que “Chico” morreu
 o riso tornou-se pranto.
 Ademar Macedo 
Natal/RN
MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):
6º. Lugar:
 Digo, insisto e justifico,
 pois é o que pensa a nação:
 Maranguape e o grande Chico
 pulsam num só coração.
 Antônio Augusto de Assis 
Maringá/PR

7º. Lugar:
 Bordada em sopé de serra,
 com flores em profusão,
 Maranguape é bela terra
 onde encanta a tradição.
 Eliana Ruiz Jimenez 
Itapema/SC

8º. Lugar:
 Do seu mais ilustre filho
 Maranguape honra a glória,
 inscrevendo-o com seu brilho
 para sempre em sua História!
 Renato Alves 
Rio de Janeiro/RJ

9º. Lugar:
 Maranguape, este seu filho
 trouxe o nordeste até nós,
 espalhou talento e brilho,
 do Ceará, fez-se a voz!
 Alba Helena Corrêa 
Niterói/RJ

10º. Lugar:
 Quem tem a beleza viva
 e os valores que ela tem?
 Maranguape, além de diva,
 é trovadora também:
 Ederson Cardoso de Lima 
Niterói/RJ.
MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares)

11º. Lugar:
 Quis o imprevisto destino,
 que a Maranguape das flores,
 fosse em solo nordestino
 a terra dos trovadores.
 Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho 
Juiz de Fora/MG

12º. Lugar:
 Maranguape está saudosa,
 pois seu artista partiu;
 mas logo vai, orgulhosa,
 sorrir tal qual Chico riu.
 Carlos Alberto de Assis Cavalcanti 
Arcoverde/PE

13º. Lugar:
 Maranguape, é este o nome
 de uma cidade encantada
 onde artista de renome
 teve ali sua morada.
 Eduardo Bottallo 
São Paulo/SP

14º. Lugar:
 Eu vivo ganhando flores
 que de Maranguape vêm:
 são versos de trovadores
 que um doce perfume têm.
 Maria Ignez Pereira 
Moji Guaçu/SP

15º. Lugar:
 Disse em verso o repentista:
 Maranguape foi feliz…
 Deu berço e lar ao humorista
 mais famoso do País!
 Ademar Macedo 
Natal/RN

DESTAQUES (16º ao 20º lugares):

16º. Lugar:
 Num leque de sons e cores
 que lhe conferem beleza,
 Maranguape tem valores
 esculpidos na nobreza.
 Danilo Dos Santos Pereira 
Belo Horizonte/MG

17º. Lugar:
 Maranguape terra boa
 possuis o mais belo porte,
 por ti o poeta entoa
 toda poesia do norte.
 Eduardo Lazaro de Barros 
Bauru/SP

18º. Lugar:
 Maranguape o teu “luar”
 que “Catulo” enalteceu,
 multiplicou seu brilhar
 depois que o “Chico” nasceu.
 Wandira Fagundes Queiroz 
Curitiba/PR

19º. Lugar:
 Maranguape ensolarada,
 igualando pobre e rico
 é sempre muito lembrada:
 ali nasceu nosso Chico.
 Eduardo Bottallo 
São Paulo/SP

20º. Lugar:
 Com exuberante flora,
 junto ao Pico da Rajada,
 onde a natureza aflora,
 Maranguape faz morada.
 Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho 
Juiz de Fora/MG

ÂMBITO ESTADUAL

VENCEDORES (1º ao 5º lugares):

1º. Lugar:
 Maranguape que beleza
 é teu lindo céu de anil
 Deus te fez com a certeza
 de encantares o Brasil.
 João Osvaldo Soares (Vaval) 
Maranguape/CE

2º. Lugar:
 Tuas serras são serpentes
 deitadas na imensidão
 tens cristalinas vertentes
 Maranguape, meu rincão.
 Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão 
Maranguape/CE

3º. Lugar:
 És Maranguape querida
 terra do riso e do amor;
 Por ti daremos a vida
 se um dia preciso for.
 Deusdedit Rocha 
Fortaleza/CE

4º. Lugar:
 Terra de gente importante
 que em Maranguape nasceu:
 do Chico, comediante;
 d’um Capistrano de Abreu.
 Haroldo Lyra 
Fortaleza/CE

5º. Lugar:
 Chora, Maranguape, chora
 o humorista excepcional:
 Chico Anísio foi-se embora;
 não mais terás outro igual!
 José Pereira de Albuquerque 
Fortaleza/CE

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:
 Maranguape, minha terra
 é meu prazer confessar
 que dentro do peito encerra
 do mundo o melhor lugar.
 José Aureilson Cordeiro Abreu 
Maranguape/CE

7º. Lugar:
 De Maranguape o sorriso
 não é o mesmo de outrora,
 desde que o Rei do improviso
 despediu-se e foi embora.
 José Pereira de Albuquerque 
Fortaleza/CE.

8º. Lugar:
 Maranguape não faz conta
 da natureza que a afeta,
 porém quando o sol tramonta
 mexe com todo poeta.
 Deusdedit Rocha 
Fortaleza/CE

9º. Lugar:
 Maranguape é altaneira
 em toda sua vertente
 e também hospitaleira
 por abrigar boa gente.
 Ana Maria Nascimento 
Aracoiaba/CE

10º. Lugar:
 Maranguape, Alto da Vila,
 Outra Banda vem depressa,
 no verde da clorofila,
 dorme a cidade em promessa.
 Sonia Nogueira 
Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):

11º. Lugar:
 Maranguape eu gostaria
 de manter no coração;
 Assim peço à Mãe Maria
 para lhe dar proteção.
 Ana Maria Nascimento 
Aracoiaba/CE

12º. Lugar:
 Maranguape a tua glória
 são teus filhos de valor;
 foi Capistrano, na História,
 e Chico Anísio, no Humor!
 Nemésio Prata Crisóstomo 
Fortaleza/CE

13º. Lugar:
 Maranguape envolto em sonhos
 desde o tempo de criança,
 vive momentos risonhos
 no progresso na bonança.
 Raimundo Rodrigues de Araújo 
Maranguape/CE

14º. Lugar:
 És vaidosa e altaneira
 és meu torrão, meu lugar
 Maranguape, companheira
 onde sempre vou morar.
 Luiz Carlos de Abreu Brandão 
Maranguape/CE

15º. Lugar:
 Maranguape boa terra
 de Chico, de Capistrano.
 Maranguape ao pé da serra
 bem pertinho do oceano.
 Raimundo Rodrigues de Araújo 
Maranguape/CE

DESTAQUES (16º ao 20º lugares):

16º. Lugar:
 Gosto de me divertir
 nas belas praias do Iguape,
 mas acho melhor curtir
 a serra de Maranguape.
 Haroldo Lyra 
Fortaleza/CE

17º. Lugar:
 Dentre as terras fascinantes
 Maranguape está no rol,
 pois até seus visitantes
 são de puríssimo escol.
 Deusdedit Rocha 
Fortaleza/CE

18º. Lugar:
 Maranguape inebriante
 atrativos naturais
 a serra nobilitante
 Cascatinha e cabedais.
 Maria Luciene da Silva 
Fortaleza/CE.

19º. Lugar:
 Para o carinho colher,
 por Maranguape eu passava,
 subia a serra a rever
 a noiva que ali morava.
 Haroldo Lyra 
Fortaleza/CE

20º. Lugar:
 Ilustres são os seus filhos.
 O clima bom e fecundo
 exportando sobre trilhos
 Maranguape para o mundo
 Artemiza Correia 
Ocara/CE
Fonte:
Moreira Lopes – UBT/Maranguape

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23º Concurso de Contos Paulo Leminski (Resultado Final)

1º Lugar:
FATIMA APARECIDA DUARTE DE OLIVEIRA – São Paulo – SP
Conto: A VIAGEM

2º Lugar:
FLAVIA SOUZA DIAS – Rio de Janeiro – RJ
Conto: A VAN

3º Lugar:
JOSÉ IGNACIO COELHO MENDES NETO – São Paulo – SP
Conto: MILAGROS

Melhor Conto Toledano
LUIZA POSSAMAI KONS
Conto: A CAIXA VAZIA

Menções honrosas:

ARTUR MAIA – São Paulo – SP
Conto: NATAL, DE NOVO NATAL

ALYSSON MURITIBA – Curitiba – PR
Conto: SETE MENINOS

SANDRA LUCIA ABRANO – São Paulo – SP
Conto: A MORTE DE CADA UM

EVERSON BERTUCCI – São Paulo – SP
Conto: NOVA MESMA HISTÓRIA

RODRIGO DOMIT – Rio de Janeiro – RJ
Conto: ASPIRAÇÕES

RODRIGO PETRUZZI DA SILVA – Porto Alegre – RS
Conto: SOMOS TODOS PROSTITUTOS NESSE MUNDO DE ALUGUEL

DOUGLAS MORAES PEREIRA – São Paulo – SP
Conto: A TAVERNA

Fontes:
http://www.toledo.pr.gov.br/?q=portal/23o-concurso-de-contos-paulo-leminski/resultado-do-23o-concurso-de-contos-paulo-leminski 
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Soares de Passos (A Camões)

Ai do que a sorte assinalou no berço
Inspirado cantor, rei da harmonia!
Ai do que Deus às gerações envia
Dizendo – vai, padece, é teu fadário;
Como um astro brilhante o mundo o admira,
Mas não vê que essa chama abrasadora
Que o cerca d’esplendor, também devora
     Seu peito solitário.
Pairar nos céus em alteroso adejo,
Buscando amor, e vida, e luz, e glórias;
E ver passar, quais sombras ilusórias,
Essas imagens de fulgor divino:
Tais s o vossos destinos, ó poetas,
Almas de fogo, que um vil mundo encerra;
Tal foi, grande Camões, tal foi na terra
     Teu mísero destino.
A cruz levaste desde o berço à campa:
Esgotaste a amargura ate às fezes:
Parece que a fortuna em seus revezes
Te mediu pelo génio a desventura.
Combateste com ela como o cedro
Que provoca o rancor da tempestade,
Mas cuja inabalável majestade
     Lhe resiste segura.
Foste grande na dor como na lira!
Quem soube mais sofrer, quem sofreu tanto?
Um anjo viste de celeste encanto,
E aos pés caíste da visão querida…
Engano! foi um astro passageiro,
Foi uma flor de perfumado alento
Que ao longe te sorriu, mas que sedento
     Jamais colheste em vida.
Sob a couraça que cingiste ao peito
Do peito ansioso sufocaste a chama,
E foste ao longe procurar a fama,
Talvez, quem sabe? procurar a morte.
Mas, qual onda que o náufrago arremessa
Sobre inóspita praia sem guarida,
A morte crua te arrojou a vida,
     E as injúrias da sorte.
De praia em praia divagando incerto
Tuas desditas ensinaste ao mundo:
A terra, os homens, ‘té o mar profundo
Conspirados achavas em teu dano.
Ave canora em solidão gemendo,
Tiveste o génio por algoz ferino:
Teu alento imortal era divino,
     Perdeste em ser humano:
Índicos vales, solidões do Ganges,
E tu, ó gruta de Macau, sombria,
Vós lhe ouvistes as queixas, e a harmonia
Desses hinos que o tempo não consome.
Foi lá, nessa rocha solitária,
Que o vate desterrado e perseguido,
À pátria, ingrata, que lhe dera o olvido,
     Deu eterno renome.
«Cantemos!» disse, e triunfou da sorte.
«Cantemos!» disse, e recordando glórias,
Sobre o mesmo teatro das vitórias,
Bardo guerreiro, levantou seus hinos.
Os desastres da pátria, a sua queda,
Temendo já no meditar profundo,
Quis dar-lhe a voz do cisne moribundo
     Em seus cantos divinos.
E que sentidos cantos! d’Inês triste
Se ouve mais triste o derradeiro alento,
Ensinando o que pode o sentimento
Quando um seio que amou d’amores canta:
No brado heróico da guerreira tuba
O valor português soa tremendo,
E o fero Adamastor com gesto horrendo
     Inda hoje o mundo espanta!
Mas ai! a pátria não lhe ouvia o canto!
Da pátria e do cantor findava a sorte:
Aos dois juraram perdição e morte,
E os dois juntaram na mansão funérea…
Ingratos! ao que, alçando a voz do génio
Além dos astros nos erguera um sólio,
Decretaram por louro e capitólio
     O leito da miséria!
Ninguém o pranto lhe enxugou piedoso…
Valeu-lhe o seu escravo, o seu amigo:
«Dai esmola a Camões, dai-lhe um abrigo!»
Dizia o triste a mendigar confuso!
Homero, Ovídio, Tasso, estranhos cisnes,
Vós, que sorvestes do infortúnio a taça,
Vinde depor as c’roas da desgraça
     Aos pés do cisne luso!
Mas não tardava o derradeiro instante…
O raio ardente, que fulmina a rocha,
Também a flor que nela desabrocha,
Cresta, passando, coas etéreas lavas!
Que cena! enquanto ao longe a pátria exangue
Aos alfanges mouriscos dava o peito,
De mísero hospital num pobre leito,
     Camões, tu expiravas!
Oh! quem me dera desse leito à beira
Sondar teu grande espírito nessa hora,
Por saber, quando a mágoa nos devora,
Que dor pode conter um peito humano;
Palpar teu seio, e nesse estreito espaço
Sentir a imensidade do tormento,
Combatendo-te n’alma, como o vento,
     Nas ondas do Oceano!
O amor da pátria, a ingratidão dos homens,
Natércia, a glória, as ilusões passadas,
Entre as sombras da morte debuxadas,
Em teu pálido rosto já pendido;
E a pátria, oh! e a pátria que exaltaras
Nessas canções d’inspiração profunda,
Exalando contigo moribunda
     Seu último gemido!
Expirou! como o nauta destemido,
Vendo a procela que o navio alaga,
E ouvindo em roda no bramir da vaga
D’horrenda morte o funeral presságio,
Aos entes corre que adorou na vida,
Em seguro baixel os põe a nado,
E esquecido de si morre abraçado
     Aos restos do naufrágio:
Assim, da pátria que baixava à tumba,
Em cantos imortais salvando a pátria,
E entregando-a dos tempos à memória,
Como em gigante pedestal segura:
«Pátria querida, morreremos juntos!»
Murmurou em acento funerário,
E envolvido da pátria no sudário
     Baixou à sepultura.
Quebrando a lousa do feral jazigo,
Portugal ressurgiu, vingando a afronta,
E inda hoje ao mundo sua glória aponta
Dos cantos de Camões no eterno brado;
Mas do vate imortal as frias cinzas
Esquecidas deixou na sepultura,
E o estrangeiro que passa, em vão procura
     Seu túmulo ignorado.
Nenhuma pedra ou inscrição ligeira
Recorda o grã cantor… porém calemos!
Silêncio! do imortal não profanemos
Com tributos mortais a alta memória.
Camões, grande Camões; foste poeta!
Eu sei que tua sombra nos perdoa:
Que valem mausoléus antes a coroa
     De tua eterna glória?
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

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Soares de Passos (1826-18/60)

António Augusto Soares de Passos (Porto, 27 de Novembro de 1826 – Porto, 8 de Fevereiro de 1860) foi um poeta, expoente máximo do Ultra-Romantismo em Portugal.
Nascido no seio da média burguesia comerciante portuense, viveu largas temporadas da infância com o pai ausente, fugido às perseguições que lhe moveram durante as guerras civis pelas suas ideias liberais, o que terá marcado o temperamento algo soturno do jovem António Augusto. Tendo aprendido francês e inglês durante a juventude, ingressou na Universidade de Coimbra, em 1849, para cursar Direito.
Em Coimbra conviveu com outros estudantes do Porto, como Alexandre Braga, Silva Ferraz e Aires de Gouveia, com quem fundou, em 1851, a revista Novo Trovador. Em 1854, já formado, regressou ao Porto e, depois de uma passagem pelo Tribunal da Relação do Porto, decide dedicar-se exclusivamente à literatura, colaborando activamente nos jornais de poesia O Bardo (1852-1854) e A Grinalda (1855-1869) e preparando a edição em volume das suas Poesias(eBook) (1856).
Para a sua celebridade contribuiu não apenas a sua imagem de misantropo e a frequência dos salões portuenses, como também o bom acolhimento dos críticos, nomeadamente de Alexandre Herculano que, em carta, considerou Soares de Passos como “o primeiro poeta lírico português deste século” (referindo-se ao século XIX).
Sua qualidade pode ser creditada ao fato de ter escrito com autenticidade, pois os sentimentos derramados em seu texto são os que realmente viveu, já que foi pessoa extremamente sofrida, por vezes dominada por uma doença que, reza a lenda, deixou-o preso por anos em seu quarto. Isso explica a proeza de ter trabalhado muito bem com clichês que nas mãos dos outros poetas são extremamente ridículos. Melhor exemplo disso é “O Noivado no Sepulcro”.
Seus poemas são fruto de uma angústia da sensação da proximidade da morte precoce mesclada ao desgosto pela situação em que se encontrava seu país. O incrível é que sabe alternar esses aspectos soturnos a momentos de extrema confiança na mudança das condições sociais. Essas oposições dramáticas talvez sejam a causa da visão trágica com que o poeta enxerga o mundo. Quando parte para a religião, enfoca a tragédia de Deus castigando todos; quando enfoca a História, mostra uma sucessão de episódios lastimosos; quando olha o cotidiano, enxerga somente a desgraça.
Sendo um poeta muito divulgado no seu tempo, morreu precocemente aos trinta e quatro anos, vítima da tuberculose, deixando um livro único – Poesias – onde confluem todas as tendências do imaginário poético seu contemporâneo.
Fonte:

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Teatro de Ontem e de Hoje (A Pedra do Reino)

Depois das incursões de Antunes Filho pelo universo da tragédia grega nos primeiros anos de 2000, um antigo projeto de seu Grupo Macunaíma/Centro de Pesquisa Teatral – CPT, ganha forma: colocar no palco o universo ficcional de Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo paraibano.
Baseada nos livros de Suassuna Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e História do Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana, a montagem se organiza com base em conquistas estéticas e formais de outros espetáculos da companhia, lembrando particularmente a histórica encenação de Macunaíma, na gestualidade e na movimentação dos artistas. 
O protagonista, Dom Pedro Dinis Quaderna, “cruzamento de rei e de palhaço”, encarcerado numa prisão na Paraíba, na década de 1930, narra suas peripécias e aventuras que o levaram a ser perseguido e condenado pelo Estado Novo. O pai e o padrinho mortos; a seita sebastianista, o messianismo e os episódios do massacre do Reino Encantado de Pedra Bonita, em São José do Belmonte, Pernambuco; a guerra entre famílias pelo poder na Paraíba; o coronelismo e a sujeição do povo local – tudo se desenrola no discurso de Quaderna, que, segundo um corregedor, passa “a vida toda se fazendo de bufão”. Sobre a interpretação desafiadora e complexa de Lee Thalor, comenta Mariangela Alves de Lima: “A tarefa difícil de alternar o delírio criador e profético ao desencanto espiritual cabe, na encenação, ao ator incumbido de representar o narrador. Lee Thalor é um intérprete excepcional pelo fôlego digno de um cantador experiente, pela inteligência com que modula as tonalidades e intenções do texto, sobretudo, pela capacidade de revestir a personagem de maturidade atemporal”.1
No plano da encenação, a ausência de cenário reserva a atores, figurinos, adereços e à música a composição da memória de Quaderna, cuja representação e reconstrução no palco são os méritos da montagem. A porção predominantemente discursiva do espetáculo espelha-se na procissão de personagens das lembranças que o “rasgo epopéico” do protagonista demanda. O elenco, graças ao trabalho meticuloso dos anos anteriores com a voz e o coro da tragédia grega, expõe seu engenho na execução ao vivo da trilha musical. Elementos da cultura, da história e da política brasileira ganham relevo em uma atmosfera que emula a precariedade e a pobreza – para superá-las – ao enfatizar o aspecto artesanal dos objetos de cena. 
Ainda segundo a crítica Mariangela Alves de Lima, com o caráter memorialístico da montagem, “Antunes Filho optou por um formato em que a personagem-autor da história se sobrepõe aos episódios que testemunha. Em parte, essa escolha é determinada pela empatia absoluta com a perspectiva existencial que resume a finalidade do inquérito de Quaderna. Chamado a prestar contas, preparando-se para o encontro com a ‘Morte que me imortalizará’, o herói bufão deve resumir, à guisa de defesa, o credo estético em que se alicerça a obra artística”.2
O espetáculo recebe os prêmios BRAVO! e da Associação Paulista de Críticos de Artes – APCA de melhor espetáculo de 2006.
Notas

1. LIMA, Mariangela Alves de. O herói Quaderna ajusta contas no palco. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 22 ago. 2006. 
2. Ibidem.
Fonte:

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Antonio Donizeti da Cruz (A construção poética em Helena Kolody)

Resumo:

Este artigo apresenta o processo de criação poética de Helena Kolody (1912-2004), poeta brasileira, filha de emigrantes ucranianos, nascida em Cruz Machado (PR), Brasil. Os temas recorrentes na lírica de Kolody são: o tempo, a contemplação, a permanência, a solidão, a memória, a transitoriedade, entre outros. Com doze livros publicados, várias antologias e obras completas, Kolody realiza um fazer poético como busca da síntese, projetada nas formas escolhidas e no enxugamento dos textos. Os poemas sintéticos, tais como os dísticos, tercetos, quadras, epigramas, tankas e haicais (poesia de origem japonesa), são formas poéticas escolhidas pela poeta.

Palavras-chave: Lírica. Fazer poético. Síntese. Helena Kolody.
A poeta Helena Kolody nasceu a 12 de outubro de 1921, em Cruz Machado (PR), e faleceu em 14 de fevereiro de 2004, em Curitiba. A obra poética de Helena Kolody e a crítica literária referente à sua obra é vasta, ou seja, publicou doze livros de poesia e oito antologias e obras completas, além de inúmeros poemas publicados em revistas e jornais. Desde o aparecimento de sua primeira obra, Paisagem interior, vem recebendo destaque por sua produção poética junto à crítica paranaense e brasileira. Ocupa assim, um lugar de destaque na história da literatura do Paraná, por sua poesia expressar extrema sensibilidade, engenho poético e lirismo contido.
A literatura faz parte de uma constelação sincrônica de obras que se interligam tal como o emaranhado de uma rede. Sendo assim, qualquer elemento material que entre no sistema literário transforma-se em função que integra os outros elementos através da construção artística. A literatura está ligada à história. Não é possível entendê-la desvinculada do contexto integral de toda a cultura de uma determinada época.
Para Iuri Tinianov, a história da literatura – que traz à luz o caráter de uma obra literária e dos seus fatores – é como uma espécie de “arqueologia dinâmica”. O autor vê a obra de arte como uma combinação complexa de numerosos fatores. Os períodos, no desenvolvimento da poesia, ocorrem, evidentemente, segundo uma certa alternância, caracterizando–se ora por prevalecer o aspecto acrítico na criação poética, ora por enfatizar outros componentes do verso, passando a um segundo plano, períodos nos quais prevalece o elemento acústico (TINIANOV, 1975, p. 17-20). É mediante a essa multiplicidade de ocorrências que a literatura se configura no amplo quadro da arte e da vida.
Segundo Mikhail M. Bakhtin, a contemporaneidade conserva sua importância decisiva: sem ela não existiria a obra em si mesma. A obra literária revela-se, principalmente, na unidade diferenciada da cultura da época de sua criação, mas não se pode aprisioná-la dentro dessa época: sua plenitude apenas mostra-se tão somente na grande temporalidade (BAKHTIN, 1997, p. 366). Consoante o pensamento de Bakhtin, todo poeta, escritor, criador, por mais criativo que seja, é sempre “fruto” de sua época. A obra literária constitui um processo consecutivo em que as novas formas, por mais inusitadas que sejam, se apóiam nas precedentes.
As afirmativas de Bakthin revelam a literatura como um fenômeno de múltiplas “faces” e complexo. Muitas vezes os “processos literários” de uma determinada época, com suas análises e estudos de correntes literárias, ficam reduzidos, em alguns trabalhos, a uma visão superficial das correntes literárias e, quando se trata dos tempos modernos (de maneira particular do século XIX), as “profundas e poderosas” correntes da cultura (em especial, as populares), que efetivamente determinam a obra dos escritores, permanecem ocultas (BAKHTIN, 1997, p. 362-363).
Conforme Bakhtin, os críticos, geralmente, se esforçam por explicar um escritor e sua obra a partir de sua contemporaneidade e de seu passado próximo (geralmente inseridos nos limites de “época”). Entretanto, às vezes, é preciso um afastamento no tempo, em relação ao fenômeno estudado, pelo fato de a obra ter, muitas vezes, suas raízes num passado longínquo. As grandes obras literárias preparam-se durante séculos e, na época de sua criação, apenas recolhem os frutos de uma prolongada e complexa gestação. No dizer do autor, a obra não pode sobreviver nos séculos futuros se não recolhe dentro de si, de alguma maneira, também, os séculos passados. Tudo o que pertencer apenas ao presente morre com ele. Bakhtin assinala que Belinski já afirmava em seu tempo sobre o fato de que “cada época sempre descobre algo novo nas grandes obras do passado” (BAKHTIN, 1997, p. 364-365).
O significado da produção literária, a reação do material escrito com sua época, a intemporalidade da obra de arte se imbricam e tomam formas a partir de uma tomada de consciência por parte do artista, fundamentada na questão estética tendo como eixo norteador da relação do eu com o mundo. Nessa perspectiva, a história está interligada à vida e ao fazer poético, uma vez que a produção literária se insere no campo da história literária.
Em relação ao processo histórico da literatura no Paraná, Marilda Binder Samways, em Introdução à literatura paranaense (1988), afirma que a bibliografia sobre a matéria historiográfica paranaense é escassa e são poucos os autores, tais como Octávio de Sá Barreto e Erasmo Pilotto, que delinearam uma proposta no que tange à questão do estabelecimento do processo literário no Paraná. Para Samways, Joaquim – revista publicada em 1946, pelos diretores Dalton Trevisan, Antônio Walger e Erasmo Pilotto – é o ponto culminante no processo histórico da literatura paranaense. Para a autora, é difícil imaginar a nova geração de escritores paranaenses desconhecendo o papel histórico de Erasmo Pilotto, Dalton Trevisan, Rodrigo Júnior, Helena Kolody e tantos outros construtores da herança cultural paranaense (SAMWAYS, 1988, p. 10-12).
O movimento modernista, em âmbito nacional, legou à poesia brasileira o verso livre, a “liberdade de linguagem” sem estar presa às regras da gramática e da retórica, o humor, a naturalidade e a sinceridade de expressão, uma maior “humanização” através do aproveitamento lírico do cotidiano. Helena Kolody é uma representante em potencial dessas tendências, uma leitora da tradição brasileira, européia e oriental e, ainda, uma observadora atenciosa do falar coloquial, das coisas simples, mas essenciais que, através do verso livre, ganham expressão. Kolody reflete muito sobre a poesia e o fazer poético. Tendo optado pelo verso livre, suas fontes são, todavia, a lírica de Fernando Pessoa, Camões, a poesia de Rabindranath Tagore, a poesia de Cecília Meireles, entre outros. A presença do Oriente em sua poesia, deve-se, no dizer de Kolody, às suas leituras “prediletas”, em sua juventude, das obras de Tagore. “Talvez aí também esteja a influência do meu sangue eslavo, porque esse pessoal é muito místico. Eu sou de origem ucraniana, mas li mais os orientais do que propriamente os ucranianos. Vejo que a espiritualidade de Tagore me marcou muito”, afirma Kolody (KOLODY. In: VENTURELLI, 1995, p. 23-24).
Na base da criação kolodyana estão o senso de trabalho poético e a noção de ritmo, entre outros procedimentos. Optar pelo verso livre, no final da década de 30 e início da de 40, quando começa a escrever e publicar, quando boa parte da poesia escrita no Paraná se resumia à arte poética metrificada e do soneto, significou para a poeta questionar a rigidez da métrica parnasiana e, ao mesmo tempo, levar adiante as pesquisas da musicalidade e do simbolismo brasileiro. Nesse sentido, nota-se em seus primeiros livros uma maior ênfase na linguagem simbólica. Grandes nomes da poesia modernista brasileira como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Ronald de Carvalho, Mario Quintana, entre outros, iniciaram suas incursões poéticas compondo versos com influências simbolistas. Kolody também vivenciou estas experiências. Dessa forma, assumir o verso livre foi para ela uma maneira de refletir sobre o que pode haver de trabalho efetivamente poético, ou seja, que vai além das simples resposta a imposição e regras dos versos metrificados. Afirma Helena Kolody: Venho de um tempo em que a poesia era rigorosamente metrificada, do tempo do soneto, embora sempre procurando caminhos novos. Hoje, meus versos são polimétricos e, ainda, têm ritmo. Embora não pareça, o verso moderno é muito mais sutil do que o tradicional. 
Na poesia moderna, os ritmos são livres, nascidos da idéia a expressar-se; o poema tem um ritmo interno, ajustado ao corpo da idéia. Esse modo de versejar não é tão novo como parece. Até os versos da Bíblia são de ritmo leve. (KOLODY, 1986, p. 15)
Assim, na obra kolodyana, nota-se uma firme deliberação por parte da poeta em não ficar presa a técnicas precedentes. Os textos de Helena Kolody, estando, muitas vezes, aparentemente calcados no prosaico e no cotidiano, apresentam uma visão de mundo marcada pela aspiração à transcendência.
Paisagem interior é uma obra que se insere na estética modernista, mas nota-se, também, que ela traz marcas daquilo que Fábio Lucas denomina conexão “simbolismo-modernismo”, pois o modernismo na literatura brasileira “constitui um prolongamento dentro da corrente inovadora da literatura brasileira” (LUCAS apud MURICY, 1987, p. 8). Para o crítico Andrade Muricy, o modernismo, ao engendrar uma ruptura radical com a tradição, impregnou-se de tendências e atitudes espirituais que poderiam ser denominadas de simbolistas Manuel Bandeira, Henrique Lisboa, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Guilherme de Almeida, em cuja poesia se percebe a musicalidade, a expressão diáfana. 
Também o “Grupo Festa” se insere no referido quadro, representado pelos escritores Tasso da Silveira, Cecília Meireles, Murilo Araújo e Andrade Muricy, com uma poesia em que sobressai a economia dos meios, os contornos intimistas, a motivação social, entre outros (MURICY, 1987, p. 8).
As primeiras obras de Helena Kolody, tais como Paisagem interior, Música submersa e A sombra no rio, inserem-se na estética modernista com uma temática acentuada pelo registro do cotidiano, as angústias frente à passagem temporal, a valorização do passado, a busca do subconsciente e do inconsciente. A poeta, por conhecer Tasso da Silveira, tem contato com a produção literária do grupo Festa, liderado pelo referido escritor e poeta. O grupo visava, segundo Bella Josef, “redefinir em termos de reespiritualização, o Modernismo. A poesia passou a ocupar-se dos conflitos interiores do homem, com seus dramas íntimos, através da obra de Jorge de Lima, Murilo Mendes e Cecília Meireles” (1986, p. 140). A autora observa ainda:
Da poesia de Mário de Andrade, com seu elogio do sentimento e do subconsciente, com a valorização do papel desempenhado pela subjetividade na deformação à obra de arte e a poesia contida e reduzida ao essencial de Oswald de Andrade, chegou-se, passando por Carlos Drummond de Andrade na década de 30 à engenharia poética de João Cabral de Melo Neto e à poesia concreta. (JOSEF, 1986, p. 140-141)
A concretude do modernismo no processo histórico, segundo Josef, ocupou um espaço literário acentuado pela visão e adesão ao “hoje”, dando o devido valor à temática do efêmero e do momento presente. A busca do essencial, na poesia de Kolody, está centrada na questão da transcendência e também na prática poética que visa à síntese. Ao mesmo tempo, em suas produções literárias verificam-se influências de poetas, de movimentos literários, porém, é importante realçar que a poeta realizou uma trajetória poética sem estar ligada a qualquer grupo ou corrente literária.
Em relação à estética kolodyana, o escritor Temístocles Linhares afirma que Helena Kolody é “uma voz que o Brasil precisa ouvir”, pois, a sua trajetória de poeta já percorreu várias estradas. Não porque tenha vindo do romantismo, ainda presente em muitos de nossos poetas, ou porque tenha desembocado em qualquer tipo de poesia de vanguarda. As suas mudanças têm sido realizadas mais através de suas hesitações secretas, à custa de muito esforço, com a sua arte reduzida a alguns raros signos concretos: a estepe que ela não viu, a infância, a solidão, a voz das raízes, entre outros. (LINHARES, 1969, p. 1 )
Para o crítico Hélio C. Teixeira, a mensagem poética de Kolody se apresenta “atual”, com uma linguagem marcada pela “concisão”. “Até mesmo os versos da mocidade da autora já revelam a força de sua sensibilidade e inspiração” (TEIXEIRA, 1977, p. 17). O autor salienta que:
A poetisa, tendo recebido influência das diversas escolas ou correntes literárias, teve o talento de adaptar ao seu artesanato o que lhe pareceu o melhor dessa influência. Por isso, observamos, na sua coletânea de produções de várias décadas, os diferentes aspectos de seus nomes, que revelam ser a poetisa algumas vezes clássica e parnasiana, outras vezes, lírica e simbolista; e, diversas vezes, moderna, sem adotar, no entanto, os excessos do modernismo desvairado daqueles que deturparam o objetivo do movimento de 1922. (TEIXEIRA, 1977, p. 17)
Essas afirmativas dos autores traduzem opiniões relacionadas à estética kolodyana. Note-se que mais que situar a produção literária de Kolody dentro de movimentos ou correntes literárias, os críticos observam que a sua poesia não fica presa às regras e modelos estabelecidos, mas vai além, pois sua lírica de uma vertente mais universal se encaminha para a concisão, para a economia dos meios de expressão poética.
Ao observar o conjunto de obra de Kolody, verifica-se a constante condensação e burilamento da linguagem tendo em vista a síntese do poema. Se na década de 40 os poemas kolodyanos se “derramavam em versos longos” na forma do verso livre e com uma aproximação da linguagem da prosa, esse procedimento justifica-se pelo fato de a poeta estar conjugando uma poiesis bem aos moldes do movimento modernista brasileiro. Basta comparar poetas da tradição brasileira dessa década para notar procedimentos estéticos comuns nesse período, tais como o verso livre, a aproximação com a linguagem em prosa, em que se conjuga a regularidade e as variações construtivas dos poemas, tendo em vista os modelos fixos e as formas livres.
Helena Kolody – herdeira da uma tradição modernista e poeta da modernidade – procura constantemente no quotidiano a matéria de sua lírica, a realidade entrelaçada à maneira de compor as relações entre poesia e vida. Em relação ao quotidiano e à lírica, Solange Fiuza Cardoso Yokozawa tece o seguinte registro sobre tal procedimento na obra de Mario Quintana, assinalando que, […] o poeta não reproduz o olhar automatizado que lançamos sobre a vida de todo dia. Trata-se de um olhar que reinventa o quotidiano. Nessa reinvenção, o poeta recorre muita vez ao humor, a uma ironia sutilíssima, de modo a apresentar uma visão desestabilizadora da vidinha diária aparentemente estabilizada, das verdades assentadas do senso comum, ou ainda dos valores estabelecidos pela tradição literária. O quotidiano também é muita vez reinventado em flagrantes poéticos originais que lembram os haikus japoneses. (YOKOZAWA, 2000, p. 55)
Assim, pode-se inferir que há, tanto na obra de Kolody quanto na de Quintana, o olhar projetado no cotidiano e nas suas reinvenções, em suas transmutações da realidade convertidas em matéria verbal capaz de refletir e de dar novos direcionamentos à vida e à arte, como bem lembra Paulo Leminski, ao comparar a obra de Kolody e a de Quintana.
Cumpre lembrar que Kolody, já em sua primeira obra, Paisagem interior, demonstra uma tendência para a poesia sintética, pois nesta aparecem três haicais publicados que remetem à “poesia-síntese” de origem japonesa. Segundo Reinoldo Atem, “os primeiros publicados no Paraná e demonstram sua tendência permanente e contínua para a brevidade reflexiva” (ATEM, 1990, p. 159). Em relação à arte do haicai, Kolody declara: 
Os literatos e os críticos simplesmente ignoraram essa poesia que ninguém, ainda, estava fazendo no Paraná. No entanto, meus alunos, alunas principalmente, decerto porque eram muito jovens, e os jovens adoram novidades, gostaram muito. Tanto que a turma de 1943, se não me engano, ofereceu-me, como presente de aniversário, seis quadros, em pergaminho, com ilustrações dos três ‘hai-kais’ de Paisagem interior: três quadros de Guido Viaro e três iluminuras de Garbácio. Meus alunos sempre amaram minha poesia; divulgaram-na pelo Paraná afora. (KOLODY, 1986, p. 27)
A poeta assinala que a comunicação com outros centros culturais é por demais relevante. Ela destaca que foi através do Jornal de Letras e da correspondência com a escritora paulista Fanny Dupré que teve conhecimento do poema miniatural japonês.
Os haicais de Kolody registram momentos privilegiados na percepção da paisagem do mundo e/ou da realidade comum. Os poemas são marcados pela brevidade e pela concentração intensa de uma linguagem esteticamente organizada. Neles, a poeta instaura um jogo de cumplicidades com o leitor. No olhar do poeta e do leitor, a linguagem ganha contornos e se torna “poesia-revelação”. Nesse sentido, a poesia kolodyana opera como “caminho-síntese” de uma tensa jornada em busca do euoutro-cosmo. Daí a relação e valorização da natureza circundante e a serenidade a sublimar. Para a poeta Alice Ruiz, “Helena nos mostra, como um mestre zen, que a poesia está nas coisas, é só acertar o olhar”, pois “poesia não é perfumar a flor. Poesia é o perfume da flor. Tal como a poesia de Helena Kolody” (RUIZ. In: VENTURELLI, 1995, p. 50-51). Com admiração confessa para sua cúmplice em poesia, Ruiz declara que recebeu juntamente com Helena Kolody a outorga de nome haicaísta em 1993. Afirma ainda:
Vivi, com Helena Kolody, a maior homenagem que meu coração de poeta já recebeu. O nome de haicaísta, tradicionalmente dado pela comunidade nipônica aos que se destacam nesta poesia, nos foi outorgado na mesma cerimônia, em 13 de junho de 1993. Talvez, pela primeira vez, para duas ocidentais. Homenagem ainda maior por ter sido ao lado de nossa poeta mais amada. Ela, Reika e eu, Yuuka. O Ka dos dois nomes significa flor. Os prefixos Rei e Yuu são adjetivos/virtudes específicas da flor. Ambos apontam para formas de grandeza. Superlativos para quem pratica a poesia mínima. […] Helena é mestra desta grandeza desde 1941, quando publicou seus primeiros haikais, até os dias de hoje, num aperfeiçoamento em que espírito e técnica se fundem para deixar em nós, definitivamente, o perfume da mais autêntica poesia. (RUIZ. In: SINFONIA da vida, 1997, p. 15)
Em suas três primeiras obras, Kolody se encaminha cada vez mais para a poesia intimista, confessional e auto-indagadora em que predomina o subjetivismo, a introspecção e o “mergulho” no mundo interior, no qual o eu-lírico vai se desdobrando em imagens, deixando transparecer uma consciência de mundo projetada na questão pessoal e social. A partir de Vida breve verifica-se, ainda mais, a condensação e a síntese, que será a marca atual de sua poesia, ou seja, ocorre uma “progressiva essencialização” (MURICY. In: RUMO paranaense, [197-], p. 6) em sua obra, consoante afirmativa de Andrade Muricy. Em relação à evolução de sua poesia, Helena Kolody declara:
Minha poesia foi crescendo no sentido da síntese. No meu primeiro livro há poemas com três páginas, eu me derramava muito nas palavras. Hoje busco a síntese para traduzir o pensamento. Os meus melhores livros são aqueles em que digo muito em poucas palavras. (KOLODY. In: JORNAL do livro. 1985, p. 5)
Entre os primeiros críticos a apresentar a poesia Helena Kolody estão Rodrigo Júnior e Andrade Muricy. A poeta teve orientação muito especial de Andrade Muricy. Ela declara que na sua formação escolar seu contato era com textos literários simbolistas e parnasianistas, e que chegou à literatura modernista através da obra A nova literatura brasileira, de Andrade Muricy. “Por ser amigo de meus amigos, ele me ofereceu o livro e para mim foi uma descoberta. Eu não conhecia nenhum daqueles autores, porque nada do que eu lia ia além de Olavo Bilac (KOLODY. In: VENTURELLI, 1995, p. 20)”. Kolody afirma ainda que o crítico Muricy lia seus textos, mas “não mexia no que a gente escrevia. […] Uma vez ele me falou: ‘reparei que você chega mais ao objetivo nos poemas curtos. Você tem talento para a síntese. Os seus poemas mais breves são os melhores’” (loc. cit.).
Consoante as afirmações de Helena Kolody e a evolução de sua obra, nota-se que na lírica kolodyana ocorre um “enxugamento” dos textos, encaminhando-se cada vez mais para um estilo direto, privilegiando a economia dos meios de expressão. A poeta realiza um fazer poético marcado por uma linguagem densa, sutil, registrando o instantâneo, o fugaz e as coisas mais simples. Tal como o tecelão que vai escolhendo os fios e emaranhando-os no tear, da mesma forma Kolody constrói seus poemas – tecidos de palavras – com precisão e arte. 
No texto “Invenção”, com seus versos metafóricos, nota-se que o sujeito lírico é capaz de inventar uma “lua cheia”. O eu-lírico salienta que o fazer poético é puro engenho criativo e contemplação: 
Invento uma lua cheia. 
Clareia a noite em mim. 
(KOLODY, 1991, p. 33)
Para o poeta, inventar é uma maneira de instaurar um diálogo do eu com o mundo. O ato de inventar um farol para iluminar a noite interior, através de “uma lua cheia”, indica, de antemão, um dos traços característicos da poeta: a criação literária como jogo de palavras, ou seja, o ato poético implica sempre o plano ontológico, tendo em vista a essência das coisas.
“Rodeio” (IP), poema dístico, apresenta a luta incessante do sujeito lírico com as palavras:
Travo um combate sem tréguas
com palavras indomáveis.
(KOLODY, 1980, p. 49)
Os versos revelam que as palavras tomam forma e proporções a ponto de se tornarem fortes oponentes. Ao poeta cabe a tarefa de remodelálas, de resistir à luta e transformá-las de pedra bruta em “brilhante”. A palavra é elemento essencial, vital, que tem o poder de imortalizar o momento. Ela é força que redimensiona o querer do poeta. Através de sua imaginação criadora, ele constrói um mundo de sentidos, com palavras que se interligam e apontam para o caráter efêmero da vida.
O haicai “Alquimia”, com seu caráter ideográfico expandido, aponta para o caráter revelador da poesia:
Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.
(KOLODY, 1993, p. 27)
Esse é mais um texto kolodyano a afirmar o poder das palavras e jogo metafórico da linguagem. Nos versos do poema, o sintagma “mãos inspiradas” remete ao esforço do poeta perante o fazer poético. Esta metáfora aponta para o trabalho do poeta, cujo ofício é ser intérprete da consciência e vivências humanas. Aqui o artesão se apresenta objetivamente. A mão (metonímia de corpo) reconduz para o ato criador do poeta na tarefa de dar forma e sentidos à vida. No eixo sintagmático, a sonoridade rítmica fica patente: “mãos inspiradas”; “antigas palavras” e “novo matiz”. Os vocábulos no eixo paradigmático são apresentados pelas palavras: “mãos”, “palavras” e “matiz”. O trabalho da criação poética reside em o poeta dar novo matiz às antigas palavras.
No poema dístico intitulado “Poeta”, o sujeito lírico declara:
O poeta nasce no poema,
inventa-se em palavras.
(KOLODY, 1980, p. 38)
O poeta “inventor” é capaz de dar sentido a tudo que toca. No momento da criação o poeta deixa aflorar à consciência, como parte mais secreta, sua maneira de ver e de dar sentido às coisas e à vida. Aí está a essência do fazer poético: transformar o poema em mediador da relação entre o eu e o mundo. Os versos desse poema dístico transmitem uma carga de sentidos estritamente peculiar, comprovando que “as palavras” mostram que a linguagem é uma condição da existência humana e não apenas um objeto, um organismo ou um sistema puramente convencional de signos, os quais se pode aceitar ou rejeitar.
O poema “Captura”, com seus três versos, expressa toda uma associação imagética revelando as magias que há nas palavras:
Ao dizer PÁSSARO
sinto a palavra fremir,
alada e prisioneira.
(KOLODY, 1999, p. 115)
O poder da palavra fascina o sujeito poético, pois ela é capaz de agitar o “eu”, a consciência do poeta. O signo “pássaro”, em versais, remete às palavras “alada” e “prisioneira”, pautadas no jogo da antítese. O ânimo que a poesia empresta à palavra, se revela nas características de pássaro, pois, embora alada, ela fica retida, até que num sopro articulado, ganha o espaço e adquire vida própria no mundo dos significados. A temática da palavra como ser animado e livre, após a eclosão, ganha novos elementos, isto é, sentimentos de posse e de perda no poema “Pássaros libertos” e expressa todo um conceito em relação à palavra e ao poema, que uma vez criado ganha independência: 
Palavras são pássaros.
Voaram!
Não nos pertencem mais.
(KOLODY, 1985, p. 17)
É um texto que aborda o fazer poético, explicando a relação poesia/linguagem. A palavra “pássaro”, nos versos, simboliza o poema ou a palavra poética, cuja associação imagética justifica-se pelo fato de o pássaro e outros seres alados simbolizarem a “espiritualização”. O vocábulo “pássaros” associado a “palavras” refere-se, também, ao fazer poético, ou seja, uma vez capturadas, elas deixam de pertencer ao poeta. 
O título “Pássaros libertos” apresenta toda uma correspondência de sentido com a recepção do poema por parte do leitor. O poeta sabe que depois que escreve, a razão de ser do poema é o leitor. “Aquarela” é um tanka que apresenta marcas da rica imaginação da poeta ao elaborar a linguagem e dar contornos às imagens, integrando– as de forma harmoniosa:
Sol de primavera.
Céu azul, jardim em flor.
Riso de crianças.
Na pauta de fios elétricos,
uma escala de andorinhas.
(KOLODY, 1993, p. 55)
A conjugação vital integrada aos elementos da natureza direciona para uma permanente renovação cíclica da vida. No “âmago” do poema, destaca-se o verso “riso de criança”, que simboliza a espontaneidade, a simplicidade natural. As imagens visuais relacionadas à estação da primavera se destacam nos três primeiros versos. Os versos são marcados pela justaposição. Na última estrofe, o vocábulo “andorinhas” remete de imediato à referida estação. As palavras do mesmo campo semântico são escolhas motivadas e intencionais por parte da poeta.
Cumpre destacar que o projeto do livro Reika (composto por tankas e haicais) foi anterior à outorga recebida por Helena Kolody, em 1993, ou seja, os poemas que fazem parte desta obra já estavam sendo escritos na década de 80 e mesmo nas anteriores, conforme pode ser comprovado com o haicai intitulado “Noite”, já apresentados em momentos anteriores. Um outro haicai ilustrativo desta questão é “Flecha de sol”, da obra Reika:
A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.
(KOLODY, 1993, p. 17)
A sutileza das imagens, o registro do instantâneo, o encadeamentodos dois primeiros versos, a duplicidade (reflexo das estrelas na vidraça), a imagem da “flecha de sol” e do dia que finda são artifícios da linguagem e da imaginação de Kolody, ao construir o minúsculo haicai, que traz o máximo de informação e criatividade em três versos. A imaginação é o suporte da construção textual e a marca de um pensamento capaz de reinventar a linguagem.
Os poemas kolodyanos possuem uma relação de sentido que os mantêm interligados a uma constante temática: a construção do poema, o fazer poético e o uso de seu material, discutindo o valor das palavras, frases, linguagem, as dificuldades encontradas pela poeta na construção de seus poemas. Nota-se, também, a tentativa de Kolody em transpor muros e barreiras através do trabalho da linguagem, tendo em vista a livre expressão de seus anseios e desejos.
Helena Kolody surge para a poesia brasileira na década de 40, com Paisagem interior (reunião dos textos escritos na década anterior), numa época pautada pela desilusão com o presente sem visão de perspectivas, num contexto social marcado pela falta de liberdade, por crises das democracias liberais e pela Segunda Grande Guerra. É nesse contexto que surge a geração de 45. A poesia kolodyana, publicada na década de 40, revela uma obra repleta de símbolos de descrença, mostrando o mundo submerso, a preocupação com o presente, com a violência de sua época, tal como a II Guerra Mundial, que não permitia que os jovens de 45 vivessem despreocupados. Esse panorama histórico e social sombrio se reflete na fase inicial da poesia de Kolody.
A escritora Maria Lúcia Pinheiro Sampaio, em História da poesia modernista, afirma que a geração de 45 nasceu oprimida pelo Estado Novo, pelas ameaças de prisão, exílio e tortura, desesperançada com a falta de perspectiva do presente. Assim, a fase dos anos 40 é marcada pela seriedade, pelas preocupações políticas, pela angústia, pela descrença no presente, pelo medo, pela hostilidade a 22, pela recuperação dos valores do passado (SAMPAIO, 1991, p. 76). Para a autora, a geração de 45 conseguiu o equilíbrio entre o social e a elaboração requintada do poema. Entre as características da geração de 45 estão o primado da forma, a preocupação com o fazer poético e com a linguagem. Esta geração recriou artisticamente o contexto histórico de 40, com suas perplexidades e tensões (id., ibid., p. 77-93). Sampaio observa que a geração de 45 cultivou os temas eternos da poesia bem como os temas considerados antipoéticos pela poesia clássica. Com relação à linguagem de 45, não há uma uniformidade. A linguagem despojada, precisa, exata, sem ornamentos inúteis é uma das características marcantes da geração de 45 (ibid., p. 79).
Em relação ao perfil de uma geração, Sampaio destaca que o diálogo com os mestres do passado iniciado em 30 se intensifica em 45 e os integrantes da geração buscam sua inspiração na tradição clássica da poesia, mesclando o passado com o presente e criando novos ritmos e formas, inovando a poesia brasileira que segue a trajetória normal de sua evolução. No dizer da autora, não há uma radicalização para o social, mas a coexistência de vários tipos de poesia, que está centrada em temas existenciais e comprometida com o social. Presente na maioria dos poetas de 45, a temática social é tratada de forma diferente pelos poetas (loc. cit.).
A visão de mundo do sujeito e a pluralidade de temas dão configurações próprias às obras de Kolody, inseridas na tradição, na universalidade e no testemunho amoroso que direciona para o “espetáculo do mundo”, cuja contemplação reconduz ao amor e à poesia em um mundo aprazível aos sentidos. É por isso que a melhor forma de “testemunhar a contemplação” é, no dizer de Darcy Damasceno, “fazer do mundo matéria de puro canto, apreendendo-o em sua inexorável mutação e eternizando a beleza perecível que o ilumina e se consome” (DAMASCENO. “Poesia do sensível e do imaginário”. In: MEIRELES, 1983, p. 17).
A respeito da obra kolodyana, Marly Catarina Soares afirma que desde seu primeiro livro, verificam-se “tendências temáticas e formais que irão permear toda a sua obra, e, sobretudo, determinar o rumo que a poesia paranaense tomará nas décadas seguintes. Sua importância reside no fato de representar o início de uma geração de poetas que surgiram na década de 60” (SOARES, 1997, p. 8). A autora observa ainda que, “Helena Kolody é a precursora da poesia paranaense contemporânea, por ter sido ela uma das primeiras a iniciar o itinerário da sintetização de linguagem e pensamento. Atualmente, muitos são os escritores paranaenses que se filiam a esta prática, tanto na poesia quanto na prosa” (idem, ibidem). As afirmativas de Soares confirmam a constante preocupação de Kolody em relação à poesia sintética, condensada, pois no trabalho de criar e “re-criar” os poemas, a autora dá provas de que sua poesia é uma constante busca da palavra essencial.
O universo poético de Helena Kolody se apóia nos aspectos lúdicos, rítmicos e imaginários da linguagem, cuja função poética funciona como um vetor constitutivo da natureza humana. É pela palavra que a poeta se lança no plano expressivo e transforma sua arte em matéria dinâmica, capaz de nomear o mundo, com uma linguagem que tem o poder de “conter a surpreendente variedade do real”, isto é, que abre múltiplos espaços de “comunicação e de nominação dos objetos” (GONZALEZ, 1990, p. 156– 157), no dizer de Gonzalez.
Pode-se concluir que a construção poética e o projeto estético kolodyano, como busca do essencial, residem nos procedimentos e nas formas escolhidas, nos ritmos, no enxugamento dos textos. Assim, seus poemas sintéticos registram o teor de modernidade e contemporaneidade.
Na poesia de Kolody, verifica-se a preocupação do eu poético em relação à elaboração precisa da linguagem, registrada na maneira de interpretar o mundo e as coisas. Tais procedimentos poéticos e estéticos de Helena Kolody se concretizam de maneira harmoniosa, em que prevalece a síntese, a economia dos meios, a linguagem singela e vigorosa, as imagens e os símbolos. Com sua maneira própria de atuação, a poeta apresenta o ato criador como um exercício e comprometimento perante a vida e a arte. Por meio da efetivação de um pensamento capaz de reinventar universos imaginários, Kolody elabora uma poesia essencial, singela, lúdica e, acima de tudo, participativa e reveladora da condição humana.
Referências:

ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia contemporânea em Curitiba. Curitiba, 1990. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, 1990.
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (Coleção ensino superior).
DAMASCENO, Darcy. Poesia do sensível e do imaginário. In: MEIRELES, Cecília. Flor de poema. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1983 (Coleção poiesis).
GONZALEZ, Javier. El cuerpo y la letra: la cosmología poética de Octavio Paz. México – Madrid – Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 1990.
JORNAL do livro, Curitiba, abr./ jun. 1985, n. 7, p. 4-5.
JOZEF, Bella. A máscara e o enigma. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
KOLODY, Helena. Infinito presente. Curitiba: 1980.
KOLODY, Helena. Sempre palavra. Curitiba: Criar Edições, 1985.
KOLODY, Helena. Helena Kolody: um escritor na Biblioteca. Curitiba: BPP/SECE, 1986.
KOLODY, Helena. Viagem no espelho. Curitiba: Criar Edições, 1988.
KOLODY, Helena. Ontem agora. Curitiba: SEEC, 1991.
KOLODY, Helena. Reika. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba: Ócios do ofício, 1993 (Série Buquinista).
KOLODY, Helena. Viagem no espelho. 5ª ed. Curitiba: Editora da UFPR, 1999.
LINHARES, Temístocles. A poesia de Helena Kolody (I). Gazeta do Povo, Curitiba, 16 fev. 1969, p. 1.
MURICY, ANDRADE. Panorama do movimento simbolista brasileiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 1987.
RUIZ, Alice. Opiniões da crítica. In: VENTURELLI, Paulo (Org.). Helena Kolody. Curitiba: Ed. da UFPR, 1995. p. 50-51.
RUIZ, Alice. In: SINFONIA da vida: Helena Kolody (Antologia poética organizada por Tereza Hatue de Rezende). Curitiba: Pólo Editorial do Paraná – Letraviva, 1997. p.15.
RUMO paranaense, Curitiba, ano II, n. 35, p. 1-14, nov. [197-].
SAMPAIO, Maria Lúcia Pinheiro. História da poesia modernista. São Paulo: João Scortecci Editora, 1991.
SAMWAYS, Marilda Binder. Introdução à literatura paranaense. Curitiba: HDV, 1988.
SINFONIA da vida: Helena Kolody (Antologia poética organizada por Tereza Hatue de Rezende). Curitiba: Pólo Editorial do Paraná – Letraviva, 1997.
SOARES, Marly Catarina. Helena Kolody: uma voz imigrante na poesia paranaense. Campinas, 1997. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 1997.
TEIXEIRA, Hélio C. Poemas do Paraná. Diário popular. Curitiba, 1 ago. 1977, p. 17.
TINIANOV, Iuri. O problema da linguagem poética I: o ritmo como elemento construtivo do verso. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
VENTURELLI, Paulo (Org.) Helena Kolody. Curitiba: Ed. da UFPR, 1995 (Série paranaense, n. 6).
YOKOZAWA, SOLANGE FIUZA CARDOSO. A memória lírica de Mário Quintana. Porto Alegre, 1991. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
Fonte:
Revista Ciênc. Let., Porto Alegre, n.39, p.264-278, jan./jun. 2006. Disponível em:

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Walmir Cardoso (Lenda grega recontada: O Leão de Neméia)

Era uma vez um homem chamado Anfitrião, que vivia em Tebas, cidade da Grécia Antiga. Ele era casado com Alcmena, neta de Perseu. Tão linda era Alcmena, que Zeus, o poderoso deus dos deuses gregos, caiu de amores por ela. Alcmena, porém, era fiel ao marido. Mas, um belo dia, Anfitrião teve de viajar por alguns dias e não avisou à mulher quando ia voltar. Aproveitando-se disso, Zeus assumiu a forma física do esposo e passou a viver com Alcmena como se fossem casados. 
Algum tempo depois, ao tomar conhecimento de que Alcmena estava grávida, Zeus, imaginando que o bebê fosse seu filho, declarou que o próximo descendente de Perseu seria o soberano da Grécia. Porém, antes que Alcmena tivesse seu nenê, uma artimanha de Hera, a ciumenta esposa de Zeus, fez nascer antes outra criança que tinha o sangue de Perseu — Euristeu — que então tornou-se rei.
Logo em seguida Alcmena deu à luz não um, mas dois bebês: Hércules, filho de Zeus, e Íficles, filho de Anfitrião. Quando os bebês tinham oito meses de vida, a deusa Hera, morrendo de ciúmes de Alcmena e do filho que ela havia tido com seu amado, decidiu eliminar o pequeno Hércules mandando colocar em seu berço duas imensas serpentes. Felizmente, o bebê já tinha a força de um semi-deus e deu cabo dos dois bichos com as próprias mãozinhas! 
Anfitrião e Alcmena deram a Hércules e Íficles a melhor educação que se podia ter na época: eles aprenderam a dirigir carruagens, a usar o arco e flecha, a usar a lança e a tocar lira. Aos 18 anos, Hércules destacava-se entre todos os outros rapazes, por ser de longe o mais alto e o mais forte. Nunca errava uma flechada ou um golpe de lança e seu olhar resplandecia. Com o tempo, tornou-se um herói que todos chamavam quando precisavam de proteção ou de alguém que lhe garantisse o sucesso numa luta. Foi depois de uma dessas lutas vitoriosas que Hércules casou-se com Megara, uma das princesas do reino vencido, e com ela teve vários filhos. 
Do Monte Olimpo, a morada dos deuses gregos, Zeus observava a vida aventurosa do filho com ternura, o que deixava Hera cega de ódio. Por fim, ela decidiu destruir a reputação de Hércules para que Zeus o desprezasse. Hera fez com que o herói tivesse um ataque de loucura e matasse a mulher e os próprios filhos. Quando voltou a si e viu o que tinha feito, Hércules ficou desesperado e correu a consultar uma sacerdotisa para saber que castigo poderia purificá-lo de seu terrível crime.
A sacerdotisa disse-lhe que devia servir ao rei Euristeu por doze anos. A cada ano, Hércules deveria realizar um trabalho dificílimo. Quando os trabalhos estivessem completos, ele estaria livre de seu crime, tornaria-se imortal como o pai e poderia viver com este no Olimpo. O primeiro trabalho que Euristeu deu a Hércules foi trazer-lhe a pele do leão de Neméia, um monstro terrível, com fama de indestrutível, que vinha aterrorizando a região há um certo tempo. 
Hércules aceitou o encargo e partiu para Neméia, levando um arco, uma lança e uma clava que ele mesmo havia feito. Ao avistar a fera, o herói disparou uma flecha em sua direção. Mas a flecha nem sequer arranhou a pele do animal. Hércules decidiu então atacar o monstro com a clava, atraindo-o para uma caverna que tinha duas entradas. Tapou uma delas com pedras, entrou pela outra e, depois de uma luta feroz, conseguiu estrangular a fera, passando a usar sua pele como manto. A bravura do animal, porém, foi reconhecida por Zeus, que o transformou na constelação do Leão, que hoje brilha no céu do hemisfério Sul na entrada do outono.
Fonte:
Revista Nova Escola

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.742)

Uma Trova de Ademar  
Igualmente aos nossos pais, 
nos cabelos brancos temos 
as impressões digitais 
dos anos que já vivemos. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  
Poesia, essa voz sagrada, 
vertida do coração, 
que da emoção foi clonada, 
para servir de oração. 
–Ayda Bochi Brum/RS– 

Uma Trova Potiguar  
Trago n’alma juventude,
vigor e tagarelice,
vivendo com plenitude
minha garrida velhice. 
–Pedro Grilo/RN– 

Uma Trova Premiada  
1995   –   Nova Friburgo/RJ 
Tema   –   POETA   –   1º Lugar 
Quando esta lua indiscreta, 
me traz lembranças sem fim 
eu choro o velho poeta 
que morreu dentro de mim. 
–Rita Mourão/SP– 

…E Suas Trovas Ficaram  
Sonha sim, pobre, com festa!
Que a fantasia, afinal,
é tudo que ainda te resta
neste mundo desigual!
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  
Não pode nunca morrer 
nesse nordeste da gente, 
nem o coco de zambê 
nem cantador de repente; 
e da cultura popular 
não vou deixar se apagar 
o fogo da lamparina, 
do fogão, nem da fogueira; 
pra iluminar a bandeira 
da cultura nordestina! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

DOAÇÃO INFELIZ. 
–José Tavares de Lima/MG– 
Não me censures se não te procuro, 
nem tentes entender meu desamor… 
Mataram cedo o sentimento puro 
que havia no meu peito sonhador! 
Este meu jeito indiferente e duro 
somente esconde um natural temor, 
porque sofri demais; e, te asseguro: 
morre a ternura em quem sofreu de amor… 
Doei-me inteiro para alguém, um dia; 
acreditei nas juras que fazia, 
e em paga só colhi desilusão… 
Hoje, ferido por tão rude espinho, 
acostumei-me tanto a ser sozinho 
que até me sinto bem na solidão!

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Concurso Literário “A Arte de contar e poetizar o pão" (Resultado Final)

A Secretaria de Estado da Educação (SEED) e o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná (SIPCEP) divulgaram o resultado do concurso literário “A Arte de contar e poetizar o pão”:
Poema
1º – O pão…Que delícia!
Maria Eduarda Gallo, 6º ano – Colégio Estadual Dom Pedro I – Pitanga
Professora: Maria Cândida Vitor
2º – Pão Nosso
Gabriel Saturno Bezerra, 6º ano – Colégio Estadual Elvira Balani dos Santos – Maringá
Professora: Rosangela Aparecida Silva Scaramal
3 – Pão: alimento que dá vida
Igor Santos Zanquetta, 6º ano – Colégio Estadual do Campo Terra Boa – Campina Grande do Sul
Professora: Zuleica Cardoso Araújo.
Conto
1º – Ingrediente mágico do ser humano
Rita Cecíllia Budke Link, 9º ano – Colégio Estadual Ieda Baggio Mayer – Cascavel
Professora: Daniele Bertollo
2º – A receita perdida
Lucas Ribeiro Mendes, 9º ano – Colégio Estadual Unidade Polo – Campo Mourão
Professora: Geni Engelmann Viletti
3º – O fermento da Vida
Guilherme Hemetério, 9º ano – Colégio Estadual Borell Du Vernay – Ponta Grossa
Professora: Taciane Szymezak Inácio.
Os alunos que ficaram em primeiro lugar receberam tablet; os do segundo uma máquina fotográfica e os do terceiro um mp3. A premiação acontecerá em local e data a serem divulgados.
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Jornais e Revistas do Brasil (Conferências Populares)

Período disponível: 1876 a 1876 
Local: Rio de Janeiro, RJ 
  
Lançado em janeiro de 1876 na capital do Império, Conferências Populares foi um periódico científico criado e editado pelas Conferências Populares da Glória. Iniciadas em 23 de novembro de 1873, sob a coordenação do senador e conselheiro imperial Manoel Francisco Correia, as “ Conferências Populares” eram realizadas por intelectuais e estudiosos em escolas públicas da freguesia carioca da Glória, com a finalidade de despertar o interesse público para temas e debates variados e difundir o campo das ciências no Brasil. Apesar da intenção principal ser a democratização do conhecimento, a iniciativa – que ficou conhecida também como “Tribuna da Glória”, por seus intensos debates e polêmicas – acabou formando um público seleto, composto pela família real, a aristocracia da corte, profissionais liberais e estudantes.
Dirigido pelo próprio Manoel Francisco Correia, o órgão de divulgação das palestras teve periodicidade mensal e formato pequeno, com mais de cem páginas por edição. Era impresso na Typographia Imperial e Constitucional de J. de Villeneuve & Cia., no nº 65 da rua do Ouvidor.
Do nº 1 ao nº 10, Conferências Populares publicou estudos sobre disciplinas e assuntos ao mais diversos: ciências naturais, ciências sociais e políticas, gestão pública e da cultura, educação, evolucionismo, instrução da mulher e papel feminino na sociedade, indústria, literatura (sobretudo história da poesia), teatro, história e historiografia brasileira, história medieval, história de Portugal, legislação (inclusive a que concerne à área científica), saúde pública, biologia, mineralogia, espiritualismo e materialidade, adaptação a mudanças climáticas, peculiaridades de províncias brasileiras, ensino moral, positivismo, bases para um sistema de tradução de línguas no Brasil, marinha mercante nacional, menores abandonados, sistemas penitenciários, sociedades de socorro mútuo e outros. Estima-se que o conteúdo destas edições tenha sido composto de palestras proferidas nas Conferências entre 1873 e 1876.
O periódico publicou estudos de Manoel Francisco Correia, João Manoel Pereira da Silva, A. C. de Miranda Azevedo, Affonso Celso Júnior, Tristão de Alencar Araripe, Joaquim José Teixeira, Nuno de Andrade, Antônio Felício dos Santos, João Pizarro Gabiso, Manoel Jesuíno Ferreira, José Martins da Cruz Jobim, José Liberato Barroso, José Thomaz da Porciúncula, Antônio Limoeiro, Misael Ferreira Penna, Luiz Corrêa de Azevedo, Francisco Ignacio de Carvalho Rezende, Hermann Luiz Gade, Bento Gonçalves Cruz, Joaquim Monteiro Caminhoá, Feliciano Pinheiro Bittencourt, Cunha Ferreira e Rodrigo Octávio.
Apesar de as Conferências Populares da Glória terem ocorrido entre 1873 e 1888, com breve retomada em 1891, a publicação científica, aparentemente, só circulou até a décima edição, datada de outubro de 1876. 
O Jornal do Commercio publicava semanalmente anúncios das palestras programadas pelas Conferências Populares da Glória e transcrevia resumos de cada uma. Algumas conferências foram publicadas na íntegra e separadamente pelos próprios autores.
Referencias
 1. Conferências Populares da Glória. Brasiliana – A divulgação científica no Brasil. Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.ht… Acesso em 20 ago. 2012.
 2. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. As ‘Conferências Populares da Glória’: a divulgação do saber científico. História, ciências, saude-Manguinhos vol.2 no.3, Rio de Janeiro, nov./feb. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59701996000400007&script=sci_a… Acesso em 20 ago. 2012.
 3. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. Contato via e-mail, em 20 ago. 2012.
Fonte:

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José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 18 de março: Semana de Aniversários

A semana que passou foi a dos aniversários felizes.
Domingo festejaram-se os anos da nossa Princesa, que trocou a bela terra do Brasil pelo poético céu da Itália.
Quarta-feira teve lugar a solenidade do aniversário da nossa Imperatriz, que deixou as lindas ribeiras de Nápoles pela majestosa baía do Rio de Janeiro.
Assim, logo após da saudade, veio uma lembrança prazenteira. Se perdermos por algum tempo uma flor graciosa da nossa coroa imperial, ganhamos para sempre um anjo de bondade, um exemplo das belas virtudes.
E isto me faz lembrar do quanto somos devedores àquela boa terra de Itália, que nos confiou com tanto prazer a filha de seus reis, e acolheu com tanto amor a irmã do nosso monarca.
Sem falar dos artistas que daí nos têm vindo, e das belas noites de teatro que devemos à sua escola e aos seus gênios musicais, lembremo-nos que é lá, nessa terra clássica das artes e do belo, que muitos brasileiros se têm ilustrado e adquirido os conhecimentos que atualmente são aproveitados em bem do país.
Foi ainda no meio dessas ruínas seculares de tantas gerações que passaram, no solo onde viveu o povo rei, na terra em que nasceu Virgílio, que um poeta brasileiro foi beber as últimas inspirações do seu poema nacional, como que para imprimir-lhe esse cunho de grandeza e de sublimidade que o tempo tem deixado na história daquele povo.
Tudo isto  deve o Brasil à Itália; porém mais que lhe devesse o pagaria com o amor e a dedicação que consagra à sua Imperatriz, e da qual ainda quarta-feira deu uma prova bem solene.
Todo este  dia foi votado às graças. De manhã apareceu a lista daqueles cujos serviços a munificência  imperial, julgou dever remunerar. Logo depois vieram as graças daqueles que, não vendo seus nomes contemplados, motejavam dos outros e especialmente dos ministros. Á noite tiveram os dilettanti as graças do D. Pascoale, que é de crer fossem engraçadas.
Estive alheio inteiramente a tudo isto; mas uma coisa me deu que pensar seriamente. Acho o direito de agraciar uma das mais belas instituições da monarquia; compreendo que os homens possam ser crismados em barões, condes e marqueses; mas há uma coisa a que decididamente não me ajeito, e é como se poderá fazer um sujeito feio, desengraçado e sem elegância, um gentil-homem.
Está bem entendido que isto se refere a nenhum dos últimos agraciados, que são perfeitos cavalheiros, servidores antigos, e que todos mereciam o favor do monarca. É uma simples hipótese que por ora não tem aplicação, e que o espírito e bom-senso imperial repelem para não haver ocasião de se parodiar o dito de D. Pedro I a respeito do cavaleiro.
Um sujeito, contando-me ontem os festejos do dia quatorze, disse-me: “Houve graças, des-graças, e sem-graças. As graças os jornais publicaram; as des-graças sabem os que ficaram logrados; e as sem-graças foram as daqueles que esperavam uma coisa e tiveram outra”.
Até que ponto isto é exato não sei; apenas me lembro que já os nossos antigos diziam que não podia haver graça sem sal; razão esta porque naturalmente se inventaram os emolumentos, que algumas vezes são bem salgados.
Já é tempo de passar adiante e acabar por hoje com as graças, tanto mais quando já me saí mal por ter tido o arrojo de dizer que o país devia dar justiça de graça.
Como me escapou semelhante blasfêmia? Pois num tempo em que tudo se compra e se vende, em que até se trafica com o pensamento e com a consciência, é possível fazer-se coisa alguma gratuita?
Tudo tem um preço. A honra, a probidade, o dever, a reputação essas coisas sagradas que Deus confiou ao coração humano, têm a sua cotação. Porque a justiça sairá da regra geral, e deixará de receber a sua espórtula?
Já se vê que foi um absurdo em caí. Não há coisa mais razoável e mais sábia, como disse um correspondente do Jornal do Comércio, do que obrigar-se as partes a pagarem aos magistrados e oficiais de justiça, visto que estes empregados são instituídos para utilidade pública.
Ora, os ministros de estado, os presidentes de província, os militares, todos os funcionários públicos enfim são criados para utilidade pública; por conseguinte, em vez de ordenado, dêem-se-lhes custas. O ministro ganhará dois mil réis por cada nomeação, privilégio, ou graça que conceder; dez tostões por cada aviso ou portaria, etc..
Não vêem como simplifica-se de repente todo este mecanismo administrativo, que a França e a Prússia – nações ignorantes e atrasadas – tanto têm estudado, e tanto se esforçam para regularizar? Deixará de haver tesouro, repartição de fazenda e leis de orçamento, e sistema de impostos, e receita e despesa pública. Tudo isto é burla. Quem precisar do empregado que o pague; o governo o nomeia, o país o tolera, e nisto já fazem muito.
Quem diria que a ciência administrativa, tão desenvolvida na Europa, tinha de ser completamente aperfeiçoada por um gênio brasileiro que oculta modestamente o seu nome com receio de assombrar o mundo?
Que força de dialética, que lógica de aço! Os franceses têm as epices; logo nós devemos conservar as custas. Pobre genuense! Que eras tu à vista deste portento?
E eu animei-me a tocar na arca santa, no sagrado paládio, no regimento das custas? Uma obra elaborada pelas sumidades pretorianas pode ser discutida aí por qualquer moço que ainda não tem, e nem quer ter, o cHarlatanismo necessário para se fazer alguma coisa?
Fechem-se as câmaras; mandem-se os senadores e deputados passear à Europa em missão especial ou geral; acabe-se de uma vez com a imprensa e com a tribuna. Não percamos o tempo, que é precioso. O ministro fará as leis, e, tendo-as feito, não haverá que retrucar, magister dixit.
Santo regime! Quando te veremos em inteiro vigor, para felicidade do país, para sossego e a paz do governo? Então a marcha da administração se aperfeiçoará. Os ministros serão os únicos que terão o direito de saber alguma coisa; e, depois deles, só os que estiverem dispostos a defende-los cegamente, sem critério e sem consciência.
Os outros, aqueles que julgam do seu dever expor francamente  uma opinião contrária, mas que nada tem de ofensiva ao caráter do ministro, aqueles que entendem que a censura leal é a prova mais evidente da sinceridade de uma aliança de idéias e de princípios, estes serão classificados no rol dos ignorantes, porque não receberam de algum gênio engarrafado o placet da ciência e do estudo.
Assim, pois, o dito por não dito. O regimento das custas é uma obra perfeita, tão perfeita, que, sendo publicado a cinco deste mês, no dia oito, isto é, três dias depois, o presidente da relação se viu obrigado a oficiar três vezes ao ministro da justiça sobre a inteligência de algumas de suas disposições.
A razão disto não é a que muita gente supõe, não é o sentido dúbio e confuso das palavras empregadas. Qual! os homens são imperfeitos; e por isso não podem compreender toda a sabedoria daquele novo mandamento do monte Sinai, daquela lei das Doze Tábuas.
Querem ver outra perfeição do regimento de custas, que é  muito sublime para ser compreendida por inteligência como a nossa?
Diz o art.169 que o porteiro dos auditórios perceberá meio por cento sobre o valor dos objetos arrematados. Suponhamos que o mínimo das arrematações civis e comerciais feitas nesta corte seja dois mil contos, o que é um cálculo muito restrito. Temos uma percentagem de dez contos de réis, que por três porteiros dá só por si um ordenado três vezes superior ao que tem qualquer juiz municipal, qualquer deputado, qualquer juiz de direito ou oficial de secretaria.
Pode-se duvidar da sabedoria de semelhante disposição?
É possível ainda negar a conveniência, a necessidade das custas, que produzem tantas vantagens práticas?
Lede o Art. 61, e comparai-o com o Art. 167. O presidente da relação tem por cada sentença que transitar pela chancelaria o mesmo que seu porteiro, isto é 300 rs. Como é belo para a justiça e para o prestígio da magistratura este exemplo de igualdade, que manda que o chanceler e o seu porteiro – os dois elos quase extremos da hierarquia judiciária – se toquem e estendam a mão para receber seis ou oito moedas de cobre!
Que emblemas, que símbolos inventados pelos povos da antiguidade valem semelhante lição? Que invenção moderna pode substituir a harmonia e a uniformidade desta sublime instituição das custas, que alguns vindouros querem que se reforme?
A princípio, quando comecei a escrever sobre o regimento tinha a idéia de que se deviam acabar com as custas, os emolumentos, e dar-lhes o caráter de uma contribuição percebida, como qualquer imposto, pela repartição competente. Assim, sobre as causas se cobraria, em vez de dízimos de chancelaria, uma percentagem que se julgasse acertada, e que a parte pagaria no ato de levantar o dinheiro da execução; e com isto remunerasse o Estado os seus empregados de justiça.
Hoje já nem me lembro de tal coisa. Era uma extravagância, que me passou, apenas pude  apreciar as inúmeras belezas que formigam no regimento das causas.
E por hoje basta de tanta maçada; não achais, meu benévolo leitor? Deixemos em paz a justiça, que irá tranqüilamente fazendo seu negociozinho aos duzentos e trezentos réis, e vamos falar de outras coisas, tristes e alegres, por que esta é a ordem do mundo.
Já deveis saber que o Sr. Conselheiro Eusébio de Queirós foi acometido, na noite de segunda-feira, de uma moléstia grave, da qual felizmente já se acha melhor. S. Ex.ª tem sido visitado por seus numerosos amigos, que deram ainda mais uma prova de grande consideração que votam ao distinto estadista brasileiro.
Desejamos de coração o pronto restabelecimento de S. Ex.ª tanto mais quando também acabamos de curtir à beira de um leito de dor todos  os transes cruéis de sofrimento e de angústia.
São páginas negras do livro da nossa vida, que devemos voltar com paciência e resignação, para chegar às folhas brancas e douradas, às imagens risonhas de dias mais felizes e mais tranqüilos. A dor, disse Lamartine, remoça o homem, dá-lhe nova força, novo vigor. Tu fais l’homme, ô douleur! 
Parece que, depois de uma crise de sofrimento, a  alma se apura, adquire um tato finíssimo, capaz de sentir as mais delicadas impressões, uma sensibilidade esquisita para os menores prazeres.
A enfermidade tem um quer que seja das viagens.
É uma viagem um pouco perigosa, muito incômoda, e que, em lugar de ser feita em um vapor ou em um vagão, o é sobre um leito ou sobre uma enxerga. Às vezes naufraga-se, salta-se com explosão do vapor; mas, se chegamos ao porto, se saltamos em terra, tudo nos parece novo, tudo nos sorri, tudo é cor-de-rosa e perfumado. A água é uma bebida do céu, o pão é um manjar dos deuses, o dia é uma festa de reis, o sono é uma voluptuosidade do paraíso, sibaritismo do sultão.
Talvez seja por esta semelhança que se dá a coincidência de cair no mesmo tempo a quadra das moléstias e das viagens. Tudo parte, tudo vai mar em fora, ver novos climas, correr terras, para ter na volta o que contar.
Queixam-se por aí que tudo vai para a exposição. De Paris, menos os nossos produtos. Quem sabe? Talvez que a par da Estrela do Sul apareçam na exposição muitos outros produtos brasileiros, muitas raridades dignas de menção.
Os novos viajantes vão achar em Paris uma verdadeira epidemia bailante. Tem havido para mais de 500 bailes. A febre é geral: dança-se nos palácios, nas embaixadas, nos hotéis, nas casas, nos salões e nos prados, sobre a relva e sobre os tapetes.
Além da dança, a única coisa em que os franceses presentemente se ocupam é na conjugação do verbo fiar e seus compostos.
Assim, os homens fiam seu dinheiro por subscrição; as mulheres desfiam pano para os feridos da Criméia; o imperador confia nos seus generais e no seu exército; a gente timorata desconfia do feliz êxito da guerra; Bosquet enfia balas pelo corpo dos russos; Canrobert porfia no seu projeto de arrasar  Sebastopol.  
A guerra pode dizer-se que está reduzida a fios. Onde passou o fio da espada, aplicam-se fios de linho. Os homens incumbiram-se do primeiro; as mulheres do segundo. Que fases não tem tomado essa luta de gigantes?!
Antes de vos deixarmos, temos ainda um triste dever a cumprir. Celebrou-se a missa por alma do Deputado Aprígio, e, apesar de tantos amigos que o finado tinha nesta corte, aquele ato foi muito pouco concorrido.
Não é fácil explicar-se semelhante fato, pois que o aviso para a missa foi feito pela folha oficial, que a anunciou nas suas colunas como um holocausto do governo. É verdade que, não tendo os membros do gabinete feito um convite em seu nome, talvez entendessem os amigos do falecido que se tratava de uma solenidade muito particular, a que só deviam assistir as sumidades; e por isso guardaram a conveniente reserva, e não compareceram.
Não há remédio, pois, senão reunirem-se os amigos do Dr. Aprígio, e pagarem à sua memória o devido tributo de saudade e de estima, fazendo dizer uma missa solene, ou um ofício sem caráter político, sem reserva de pessoas; a este ato estamos certos que assistirá um numeroso concurso das pessoas mais distintas desta corte.
Acabamos por onde começamos, pelas graças. Temos algumas pequenas observações a fazer sobre os estilos oficiais em voga neste ponto.
Assim, nos parece mais regular desenglobar os despachos e cometer a cada ministério a referenda das graças concedidas por serviços feitos nas suas respectivas repartições, ou em objetos que lhe são anexos.
Conviria igualmente criar-se uma ordem destinada exclusivamente a premiar o merecimento literário, assim como existe uma para os serviços militares. Chame-se esta ordem a Estrela do Sul, à imitação do Cruzeiro, ou a Plêiade Imperial; demos-lhe enfim um nome que tenha alguma significação, e acabemos com o costume de premiar a inteligência com a mesma graça com que se remuneram serviços de uma ordem muito diversa.
Esta idéia, realizada com a sabedoria e a prudência que é de esperar, traria grandes vantagens, porque excitaria os estímulos, criaria, uma emulação salutar, e daria assim  incremento ao nosso progresso literário. Apreciamos todos os serviços feitos ao país, qualquer que seja a sua natureza; estimamos que todos sejam galardoados; mas desejamos que se dê ao talento, à inteligência, às ciências e às artes essa nobreza e essa distinção, que lhes cabe por todos os títulos.
E deixai-me dizer-vos uma coisa. Esta idéia me sorri ainda mais, porque o grão-mestre da ordem merecia sê-lo, ainda quando não tivesse uma coroa. Quanto aos dignitários, que seriam sete, no caso de adotar-se o título de Plêiade Imperial, deviam ser escolhidos de entre os que temos de mais distinto e de mais ilustre.               
Para dar à condecoração maior merecimento e para tirar-se dela grande utilidade, podia fazer-se com que formasse uma verdadeira ordem, trabalhando em sessões regulares como o Instituto de França, e sob a presidência de Sua Majestade como grão-mestre, ou do dignitário mais antigo. Quem sabe daqui a alguns anos que importância não teria semelhante instituição, e que glória não daria ela ao nosso país?
Agora é que me lembro! Estou a perder o meu tempo! Não há dúvida que esta minha idéia é bela, é digna de um monarca erudito, e de um povo que tanto se distingue pela sua aptidão literária; mas não foi lembrada por um homem que já tenha alguns cabelos brancos e uma dose de importância e de morgue; portanto  não presta decididamente.     
Dizem que aos vinte anos se pode pensar assim por si, nem ter uma boa idéia. Entendem que a inteligência vigorosa e ardente dos moços deve estar ao serviço dos velhos, os quais brilham como essas flores parasitas que sugam das árvores novas e robustas a seiva com que alimentam a sua vegetação raquítica.
De que servem esses lampejos brilhantes, essas centelhas de fogo, que passam às vezes pelas almas jovens e iluminam de repente um mundo de idéias, ou desenham um horizonte vasto e imenso? É preciso que estas faíscas do talento sofram o bafo frio e enregelado dos velhos? Por que esta chama da inteligência, em vez de expandir-se livremente, há de ser condenada a aquecer a alma gasta e consumida de um corpo vergado pelos anos?
Não foi deus que estabeleceu esta tutela despótica e sem limites que a idade quer exercer. Não: Deus mandou respeitar os velhos, como as mulheres, porque são fracos; Deus mandou consultar aos velhos, como aos livros, porque neles se encerra a história da experiência; porém Deus deu à mocidade a força, a esperança, a ambição, confiou dela o trabalho, a ação, o progresso, e apontou-lhe o futuro.
Ninguém venera mais a velhice do que eu; ninguém sabe melhor compreender o que há de respeitável numa grande inteligência que alimenta ainda um corpo gasto pelos anos; mas o que acho irrisório é que pense que toda a ruga é um poço de ciência, que todo o cabelo branco é um título de capacidade.
Felizmente o tempo dos desenganos aí vai chegando; o círculo de ferro já se quebrou; e o país já começa a aborrecer-se dessas patentes de capacidade e de ilustração dadas num salão de baile, ou numa antecâmara de ministro.
Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

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Resultado – 15º Prémio Literário Fernando Namora (Portugal)

O “extraordinário domínio da língua portuguesa”, com “elegância e mestria”, levaram o júri a distinguir com o Prémio Fernando Namora/Estoril Sol o romance Domínio Público, de Paulo Castilho, disse o presidente do júri, Vasco Graça Moura.
As obras finalistas foram 
Anatomia dos Mártires’ (João Tordo), 

‘Cartas Vermelhas’ (Ana Cristina Silva), 

‘A Noite das Mulheres Cantoras’ (Lídia Jorge), 

‘Domínio Público (Paulo Castilho) e 

‘O Retorno’ (Dulce Maria Cardoso). 
Recorde-se que o Júri do Prémio Literário Fernando Namora, instituído pela Estoril Sol, tem como presidente o escritor e ensaísta Vasco Graça Moura, mas inclui ainda os nomes de Guilherme D’Oliveira Martins (Centro Nacional de Cultura), José Manuel Mendes (Associação Portuguesa de Escritores), Manuel Frias Martins (Associação Portuguesa dos Críticos Literários), Maria Carlos Gil Loureiro (Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas), Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu (Estoril Sol) e, a título individual, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz.
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Prêmio Sesc-DF de Contos Machado de Assis (Resultado Final)

Adônis Dias Tarallo – Título Provisório

Ana Cristina de Souza Luiz de Melo – Primaveras

Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos – A Importância Das Pernas

Berilo da Paz Carvalho e Silva Filho – Boneca de Milho

Débora Laís Ferraz dos Santos – O Filhote de terremoto

Guilherme Giugliani – Rumo ao Uruguai

Hudson Okada – Fantasmas

Kiara Domit Vieira – Fôlego

Lauro Roberto Elme – A Cacimba

Luis Cunha Pimentel – Irmandade

Lygia Roncel de Rodrigues Ferreira – João e Marias

Marta de Mattos Vieira Barcellos Costa – Contradança

Mirian da Silva Cavalcanti – Na Casca De Laranja

Regina Nadaes Marques – O Anjo de Jaqueta Coral

Turido Anderson Marangoni – O Conto

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

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Prêmio Sesc-DF de Crônicas Rubem Braga (Resultado Final)

Athos Ronaldo Miralha da Cunha – Hipopotomonstrosesquipedaliofogia

Bruno Fernandes Zenobio De Lima – Uma Tarde

Carlos Alberto da Silva Júnior – Diferenças Iguais

Eloí Elisabete Bocheco – Aos Retalhos

Flávio Luís Sousa Silva – Luz de Cozinha

Gerson Augusto Gastaldi – Entre “Sua” E “Tua”, Eis A Questão

João Paulo Lopes de Meira Hergesel – Era uma Vez

Karen Vaz Siqueira Alvares – Essa Tal Nova Opinião

Kássia Neves Monteiro – Um Dia Perdido

Lilian Da Silva Almeida – Menino de Sábado

Lygia Roncel de Rodrigues Ferreira – Para O Mar Não Fugir

Paola Cristina Ribeiro Marcellos – O Ritmo dos Meninos E Dos Pássaros

Regina Nadaes Marques – Chova ou faça Sol

Rodrigo Batista Balthazar – O Companheiro de Estudo

Thiago Pereira Majolo – Coração De Menino

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

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Prêmio Sesc-DF de Contos Infantis Monteiro Lobato (Resultado Final)

Ana Carolina Da Silva Rocha – Mila

Ana Cristina de Souza Luiz de Melo – Dandi e a árvore palavreira

André Telucazu Kondo – Papel de Bala

Cinthia Nunan Baptista Kriemler – Aníbal, o peru que não morreu de Véspera

Cristina Maria Ramos Lobo – A Bruxa Onete

Éder Rodrigues da Silva – Ópera Dindinha

Elaíse Maria de Mello Barbosa – Princesa Valentina E o Dragãozinho

Geraldo Ramieire Oliveira Silva – O Astronauta Que Não Sabia Andar de Bicicleta

Gisele Maria Franchi – Tá no Papo

João Paulo Lopes de Meira Hergesel – Como Calar a Boca de um Dragão

Lauro Roberto Elme – A Pedra

Luis Cunha Pimentel – Pirilampo

Odemir Paim Peres Júnior – O Lampiro Que Não Lambeu Lâmpada

Roberta Garcia da Costa – Chico Miúdo, o Grande!

Sidiney De Souza Breguêdo – João Chapelão

Fonte:
 Http://concursos-literarios.blogspot.com

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Prêmio Sesc-DF de Poesias Carlos Drummond de Andrade (Resultado Final)

Adelaide Ribeiro Jordão
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira
Alberto Pereira de Araújo Filho
Alexandre Pastre Gonçalves
Ana Flávia de Melo Mendes Carvalho
Ania Reis de Aragão
Antonio Heriberto Catalão Junior
Auiri Tiago Nogueira dos Santos
Bernardo Guadalupe dos Santos Lins Brandão
Biagio Pecorelli Filho
Bruna Marta Avelar Ferreira
Carlos Alberto de Assis Cavalcanti
Ceuline Maria Medeiros Santiago
Cristina Garcia Lopes
Daniel Retamoso Palma
Daniella Ribeiro de Sousa Longuinho
Danilo Augusto de Athayde Fraga
Éder Rodrigues da Silva
Fátima Soares Rodrigues
Guilherme Henrique Bonin Salomone
Juliana Klinko
Luiz Carlos Mariano da Rosa 
Luiz Renato Dantas de Almeida
Nédia Sales de Jesus
Nina Lorena Hollander Correia
Nina Ferreira Barreto
Odemir Paim Peres Júnior
Pedro Diniz de Araujo Franco
Reinaldo Ramos da Silva
Ricardo Carranza
Ricardo Mendonça Petracca
Roberta Andressa Villa Gonçalves
Rui Werneck de Capristrano
Simão Augusto Lopes Fernandes dos Santos
Viviane Maria Vilela de Vasconcelos
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

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Alerta aos Colaboradores

Prezados Colaboradores

Tenho recebido os e-mails com seus textos, e muitos estão em atraso.
Devido a descoberta de diabetes recente, a minha visão para perto está muito prejudicada, o que tem me causado cansaço frente ao monitor devido o esforço.
Contudo podem continuar a enviar seus textos, que gradativamente os estarei publicando. 
Agradeço a compreensão
José Feldman

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Gaveta de Haicais I

No prato com leite

a língua rosada
faz chap chap
 Eugénia Tabosa
Abro o armário e vejo
nos sapatos meus caminhos.
Qual virá no séquito?
 Anibal Beça
Vento de primavera:
Sobre uma antena, um pardal
Trina e defeca
 Edson Kenji Iura
Entre as ruas, eu,
e em mim, eu em outras ruas,
sob a mesma noite.
 Alexei Bueno
mostro o passaporte
minha sombra espera
depois da fronteira
 George Swede
Tradução de Carlos Seabra
serra nevada,
cumes tocam o céu –
nuvem furada
 Carlos Seabra
Vento de inverno:
O gato de olho vazado
Procura seu dono
 Edson Kenji Iura
De uma casa branca
No meio da encosta da montanha
Sobe um fio de fumaça.
 Paulo Franchetti
panela velha
no avarandado novo
vaso de avencas
 Alexandre Brito
Me comovem
tuas mãos limpas
e tua boca suja
 Eliane Pantoja Vaidya
o ruído
de um rato sobre o prato
como resulta frio!
 Buson
Tradução de Olga Savary
Voa bem-te-vi,
enquanto o sol é promessa
e eu tenho as janelas.
 Yberê Líbera
e um vaga-lume
lanterneiro que riscou
um psiu de luz
 Guimarães Rosa
A jabuticabeira.
Através de líquida cortina
olhos negros espiam.
 Yeda Prates Bernis
lua crescente
na sua barriga
uma estrela
 Ricardo Portugal
O corpo é um caminho:
ponte, e neste efêmero abraço
busco transpor o abismo.
 Thiago de Mello
o vento lambe teu corpo,
ainda morno o bebo:
parece vapor de licor
 Alaor Chaves
Noite fria.
Mundo em silêncio.
Tosse ao longe…
 Gustavo Alberto Corrêa Pinto
briga de gatos
na sala de jantar –
vaso em cacos
 Carlos Seabra
Que outra lua anda
mais lua do que a nua
lua de Luanda?
 Luciano Maia
Longa chuvarada…
Nos matos e nas lagoas,
um canto de vida.
 Humberto del Maestro
A lua passa pelos pinheiros
e o olhar de súbito detêm
uma outra imóvel lua.
 Hokushi
A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen
 Eugénia Tabosa
Sobe a piracema –
ano que vem outros peixes
nadarão de novo.
 Anibal Beça
pote virado –
a terra e o gato bebem
o leite derramado
 Milijan Despotovic
Tradução de Carlos Seabra
uma pétala de rosa
no vento
ah, uma borboleta
 Rogério Martins
As nuvens do céu –
o céu do infinito
eu de nenhum lugar
 Stefan Theodoru
Tradução de Carlos Seabra
Gotas de sangue
estão prestes a pingar:
pitangas maduras.
 José N. Reis
O silêncio, sim,
interrompendo o canto
dos pássaros.
 María Pilar Alberdi
lua de setembro
lá fora o vento claro
varre as estrelas
 Rogério Martins
Caminha a folha
morta,
pálio sobre formigas.
 Yeda Prates Bernis
Crescem mais pêlos
Nas minhas orelhas –
Mais um ano chega ao fim…
 Paulo Franchetti
há colcha mais dura
que a lousa
da sepultura?
 Millôr Fernandes
Fonte:

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Haicai ou Haikai

Haikai (俳句 Haiku ou Haicai) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas). [1] Em português é escrito haicai.
Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo[2]. Muitas vezes, há uma pintura a acompanhar o haicai (ela é chamada de haiga). “Haijin” é o nome que se dá aos escritores desse tipo de poema, e principal haijin (ou haicaísta), dentre os muitos que destacaram-se nessa arte, foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer do haikai uma prática espiritual.
Haikai no Brasil
Segundo Goga (1988), o primeiro autor brasileiro de Haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:
“Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos… de encanto intraduzível”[3].
Quem o popularizou, porém, foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título. No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil.
Outra corrente do haikai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda. Esta corrente define haikai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturado em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo. Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa, que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: “sakura”, “flor de cerejeira”, é associada à Primavera).
Como fonte nipônica do ainda haiku, em sua forma original, GOGA [3] atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908. Nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu. Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku:
A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.
Foi na década de 1930 que aconteceu o intercâmbio e difusão do haiku entre haicaístas japoneses e brasileiros, constituindo-se, assim, outro caminho do haikai no Brasil. Foi naquela década também que apareceu a mais antiga coletânea de haikais chamada simplesmente Haikais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haikais. Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro de haikais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento – Haicais. As rotas do haikai no Brasil podem ser resumidas cronologicamente da seguinte forma:
Em 1879, através do livro Da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
Em 1908, através da chegada dos imigrantes japoneses ao porto de Santos.
Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colônia por Keiseki e Nenpuku.
Na década de 1930, através do intercâmbio entre haicaístas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga.
Em 1983, Paulo Leminski escreveu uma biografia de Matsuô Bashô. Também publicou diversos haikais.
Com a ambientação e a difusão do haiku em língua portuguesa, algumas correntes de opinião [3] sobre este se formaram:
A corrente dos defensores do conteúdo do haiku;
A corrente dos que atribuem importância à forma;
A corrente dos admiradores da importância do kigo.
Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como a concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaísta que aderiu a essa corrente.
Os que consideram a forma (teikei) a mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu a essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haikais “guilherminos”. Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:
_______________ X
 ___ O ______________ O
 _______________ X
Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haikais. Exemplo (GOGA, 1988, p. 49):
Histórias de algumas vidas
Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.
Os admiradores da importância do kigo respeitam em seus haikais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior é um deles. Apesar de existirem essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como os de Afrânio Peixoto, Millôr Fernandes, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, José Maurício Mazzucco, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Osman Matos, Abel Pereira e Fanny Luíza Dupré são importantes na história do haikai no Brasil.
Referências
1 Lanoue, David G. Issa, Cup-of-tea Poems: Selected Haiku of Kobayashi Issa, Asian Humanities Press, 1991, ISBN 0-89581-874-4 p.8
2 van den Heuvel, Cor. The Haiku Anthology, 2nd edition, Simon & Schuster, 1986, ISBN 0-671-62837-2 p.11
3 a b c GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.
Fonte:

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1º Concurso de Trovas da UBT de San Antonio- Texas / Estados Unidos (Lingua Portuguesa e Hispanica) Tema: Estrela

TEMA: 
“ESTRELA”
VENCEDORAS
Minha amada é meiga e doce,
 dela emana a luz do bem.
 Ela é assim como se fosse
 minha estrela de Belém…
 ANTONIO  AUGUSTO DE  ASSIS
Natal! Que o planger do sino,
 não seja de pranto e dor,
 mas seja o toque divino,
 da voz da “Estrela” do amor!
 FRANCISCO GARCIA DE ARAUJO (Prof. Garcia)
Os Magos, seguindo a trilha
 de uma estrelinha do além…
 Acham a luz que mais brilha
 noutra “Estrela” de Belém!
 FRANCISCO GARCIA DE ARAUJO (Prof. Garcia)
Seguindo a estrela, os três Reis
 viram Jesus em Belém.
 Também vós a Luz vereis,
 seguindo a estrada do Bem!
 ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS
Homem da terra!… No entanto,
 por sua sabedoria,
 meu pai resplendia tanto
 que se fez estrela – guia.
 RELVA DO EGYPTO RESENDE SILVEIRA
Asas, em lugar dos braços
 e, de alma leve, a estendê-las,
 voo, vencendo os espaços,
 até tocar as estrelas..
 DARLY O. BARROS
Ante a imensidão dos campos,
 divago, olhando ao redor:
 Estrelas são pirilampos,
 num campo muito maior…
 DARLY O. BARROS
MENÇÕES HONROSAS
Num dos raros sonhos meus
 e, talvez, no mais bonito,
 fomos juntos, eu e Deus,
 ver estrelas no infinito…
 ANTONIO COLAVITE FILHO
Para pescar as estrelas,
 no espaço azul do universo,
 neste Natal, para tê-las,
 eu jogo o anzol do meu verso!
 DELCY RODRIGUES CANALLES
Milhões de estrelas brilhando
 num céu azul, sem igual…
 Elas vão  iluminando
 a  noite do  meu  Natal!
 GISLAINE CANALES
Brilhou na noite, bem tarde,
 e iluminou minha vida…
 E se tornou, sem alarde,
 minha estrela preferida…
 MILTON SOUZA
Ah! Senhor, que a Estrela Guia
 que anunciou o Salvador,
 mostre que a Paz, fugidia,
 só pede um berço de Amor!
 CAROLINA RAMOS
 Paz na Terra, para tê-la
 busque amar sem restrição;
 quem ama planta uma estrela
 e forma a constelação.
 OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
As lágrimas das meninas,
 Deus, não podendo contê-las,
 recolhe nas mãos divinas
 e com elas faz estrelas…
  ANTONIO COLAVITE FILHO
MENÇÕES ESPECIAIS
Os meus dias são risonhos
 e venturosa a jornada.
 São estrelas os meus sonhos
 a encher de luz minha estrada.
 JOÃO COSTA
Nos meus versos amparada,
 caminho léguas , sem vê-las
 e a poeira de minha estrada
 é toda feita de estrelas!…
  CAROLINA RAMOS
A estrela guia parece
 aos meus olhos de criança,
 minha mãe dizendo, em prece:
 Não me abandone, Esperança!
 WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
Quem vive a paz, o carinho,
 segue a Estrela e Seu sinal,
 faz do seu próprio caminho
 um verdadeiro Natal!
 ELISABETH SOUZA CRUZ
És a minha estrela guia,
 sempre espargindo explendor…
 E me levas todo dia
 pelos caminhos do amor…
 MILTON SOUZA
Leva a estrela benfazeja
 os Reis Magos a Belém.
 Que em nossa  vida ela seja
 estrela guia também!
 WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Foi uma estrela que guiou,
 os três magos a Belém;
 foi ela que noticiou:
 que nasceu Jesus também.
 MARIA INEZ FONTES RICCO
TEMA: “ESTRELLA”
(no idioma hispânico)
VENCEDORAS
Navidad es noche bella
 plena de luz y alegría
 porque da lumbre la estrella
 que en nuestras vidas es guía.
 HÉCTOR JOSÉ CORREDOR CUERVO / COLOMBIA
Te ruego estrella divina!
 nos brindes siempre tu luz
 y en cada hogar ilumina,
 la bendición de Jesús.
 PASCUAL CLEMENTE TOLEDO / MÉXICO
En el árbol navideño
 brillan  luces  de esperanza,
  cada estrella  lleva un sueño
 y en  las flores  alabanza.
 MARTHA SENOVIA VELÁSQUEZ VÉLEZ / COLOMBIA
Más grande que el infinito
 donde vemos esa estrella,
 es el alma del niñito
 que alumbra la noche bella.
 CARLOS E. RODRÍGUEZ SÁNCHEZ / VENEZUELA
Una estrella con su luz
 trae un mensaje profundo
 la llegada de Jesús
 el Rey Salvador del mundo.
 DIOSELINA IVALDY DE SEDAS / PANAMÁ
MENCIONES HONROSAS
Que brille esta Navidad
 cual estrella de Belén,
 y que reine la hermandad
 en Año Nuevo también.
 ALICIA BORGOGNO / ARGENTINA
Divina estrella de oriente
 joya de la Navidad,
 ahuyenta el pesar doliente
 que hoy sufre la humanidad.
 ELIZABETH LEYVA RIVERA / MÉXICO
Navidad  dulce esperanza
 brillante estrella angelina,
 eres siempre  la bonanza
 de acercar la paz divina.
 ADY YAGUR / ISRAEL
Corazón,  aquí muy  dentro
 hay  estrellas navideñas
 brillando  en su casto centro
 se siente la paz que  sueñas.
 STELLA MARIS TABORO/ ARGENTINA
Estrella guía mis pasos,
 hacia el portal de Belén;
 quiero tener en mis brazos
 al Niñito yo también.
 CATALINA MARGARITA MANGIONE /ARGENTINA
MENCIONES ESPECIALES
Cuando cuento las estrellas
 las cuento de dos en dos,
 del niño Jesús son huellas
 reflejos de  amor de Dios!
 BLANCA LUZ RAMÍREZ VALENCIANO / COLOMBIA
La estrella de Navidad
 es señal que Dios dejó
 de amor a la humanidad,
 a Cristo nos regaló.
 MARÍA CRISTINA FERVIER / ARGENTINA
La Navidad entre hermanos
 es la comunión más  bella
 donde Dios da a los cristianos
 la paz en forma de estrella…
 ALMENDRA VICTORIA AGUIRRE / ARGENTINA
Ya se oyen los villancicos
 canta una estrella de amor,
 une a mendigos y ricos
 porque nació el Redentor.
 SUSANA STEFANIA CERUTTI / ARGENTINA
Vida mía las estrellas
 si no brillaran en mi alma
 una navidad sin ellas
 me robarían la calma.
 MARTHA LUCÍA JIMENEZ / COLOMBIA
DESTAQUES
Si cada vez que en ti pienso
 nacieran lindas estrellas,
 el cielo, de brillo intenso,
 tendría joyas más bellas.
 RENÉ B. ARRIAGA DEL CASTILLO / MÉXICO
Qué precioso nacimiento,
 ¡el Niño Dios ha nacido!…
 la estrella alumbra el portento
 ¡el Amor ha florecido!
 TERESA DE JESÚS RODRÍGUEZ LARA / ESPAÑA
Cuando una estrella te alcanza,
 con su inocente esplendor,
 se transforma en dulce danza,
 bailando a tu alrededor!
 MIGUEL ANGEL ALMADA/ ARGENTINA
Lucero  del alto cielo
 imprégname tu gran paz,
 mis alas emprendan vuelo
 vuelo de  estrella fugaz.
 ROSANA JACQUELINE VERA VIDAL – CHILE
Tu fiel mirada es mi estrella
 fogatas de mi verdad,
 enciendes como doncella
 el alma de mi ansiedad.
 MIGUEL ÁNGEL MUÑOZ CORTÉS / ESPAÑA
¡Navidad rebasa el alma
 todo es tan maravilloso
 que solo mirar con calma
 una estrella…es tan hermoso…!
 MARGARITA DIMARTINO DE PAOLI / ARGENTINA
Un ángel mira la estrella
 que alumbra todo el camino
 es una noche muy bella
 ya nació el Niño Divino.
 ANA MARÍA DI BERT / ARGENTINA
En el mesón de mi vida
 para Jesús hay lugar
 su estrella vive encendida
 nadie la podrá apagar!
 LIBIA BEATRIZ CARCIOFETTI / ARGENTINA
Tal cual estrella fugaz
 se miró en el firmamento
 pregonera de la ¡Paz!
 en su mágico momento.
 CARLOS IMAZ ALCAIDE / FRANCIA
Ojalá brille la estrella
 la Noche Buena mi Niño
 porque siendo grande y bella
 siempre tendré tu cariño.
 LUIS PÉREZ QUINTANA / ESPAÑA
Fonte:
Luiz Eduardo A. Figueiredo

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Walmir Cardoso (Lenda Grega Recontada: A Lenda de Órion)

Dizem que na Grécia Antiga, muito tempo atrás, um jovem caçador chamado Órion apaixonou-se por uma princesa de nome Mérope. Era filha do rei Enopião, com quem morava numa ilha do Mar Mediterrâneo. Dona de grande beleza, Mérope era muito amada pelo pai, que impedia os rapazes de se aproximarem da filha e namorá-la.
Acontece que Órion não era um jovem qualquer, mas filho do deus grego Posêidon, conhecido na Roma Antiga como Netuno. Muito poderoso, esse deus reinava sobre os mares. Com receio de deixar Posêidon zangado, Enopião permitiu a Órion achegar-se à filha, com uma condição: devia capturar todos os animais ferozes que infestavam seu reino. Sendo um hábil caçador, nosso herói aceitou a proposta, pedindo a mão da princesa como prêmio pela façanha. Enopião nada respondeu e Órion interpretou seu silêncio como consentimento.
Durante um bom tempo o caçador enfrentou as feras, que por fim conseguiu aprisionar e transportar para outra ilha, desabitada. Terminada a missão, ele imaginou que pudesse, enfim, casar-se com Mérope. Contudo, os ciúmes de Enopião em relação à filha falaram mais alto e ele escondeu-a do noivo num castelo.
Inconformado, Órion começou a trazer os animais caçados de volta à ilha de Enopião. Numa de suas viagens foi capturado pelos soldados do rei, que o cegaram e em seguida o abandonaram numa praia deserta. Felizmente, o caçador cego foi encontrado por um ciclope, gigante mitológico de um olho só, que o conduziu até Aurora, a deusa do amanhecer. Apaixonada que era por Órion, ela restituiu-lhe a visão, fazendo-o olhar para onde o sol nasce. Porém, mesmo com a vista totalmente recuperada, o caçador não conseguiu casar-se com Mérope.
Tempos depois apaixonou-se por Ártemis, a deusa da caça, conhecida entre os romanos como Diana. Mas Ártemis tinha um irmão gêmeo, Apolo, muito ciumento dela.
Numa bela tarde, os dois irmãos saíram para um torneio de arco e flecha. No caminho, Apolo desafiou Ártemis a acertar um alvo no mar, perto da linha do horizonte. Excelente arqueira, Ártemis aceitou prontamente o desafio e retesou o arco na direção indicada pelo irmão.
Mal sabia ela estar apontando para Órion, que nadava à distância e foi trespassado por sua flecha certeira. No dia seguinte, andando a beira-mar, a deusa encontrou o corpo morto do amado, com uma de suas flechas cravada no coração. Pôs-se a chorar, mas era tarde, o mal estava feito.
Penalizado com sua dor, Zeus, o maior dos deuses gregos, ofereceu-se para transformar Órion numa constelação. Ártemis aceitou a oferta porque assim, pelo menos, poderia ver seu amado no céu. A mesma sorte não coube aos dois cães fiéis de Órion, que ganiam desesperados ao ver seu dono brilhando no céu noturno. Assim, também eles foram transformados por Zeus em constelações. São elas Cão Maior e Cão Menor, que podem ser vistas no céu junto ao gigante caçador nas noites quentes de verão do hemisfério Sul.
Fonte:
Revista Nova Escola

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Teatro de Ontem e de Hoje (A Maldição do Vale Negro)

Encenação de Luiz Arthur Nunes, para o Teatro Vivo, de texto de sua autoria em parceria com Caio Fernando Abreu. A proposta resgata criticamente o melodrama, gênero dramático que reina no século XIX e, posteriormente, nas novelas de rádio e televisão. Um esboço desse espetáculo transparece em algumas cenas de Sarau das Nove às Onze, também escrita em parceria com Caio Fernando Abreu e montado por Luiz Arthur Nunes em 1976, com o Grupo de Teatro Província.
A história é sobre uma órfã criada num castelo, sob o rígido controle do tio, o velho Conde Maurício, e da governanta, ambos personagens que guardam um segredo que pode mudar a vida da garota. A jovem é seduzida pelo Marquês D’Allençon, credor da hipoteca do conde. Quando o tio descobre o relacionamento dos dois, expulsa a menina do castelo e lança as mais terríveis maldições sobre ela. No acampamento de ciganos onde é acolhida, a pobre órfã descobre seu passado e os segredos que envolvem o Vale Negro. Ambientada no século XIX, a ação dramática se passa em 1834 e utiliza características do gênero melodramático, como o sofrimento e o final feliz.
Na montagem, protagonizada por Mirna Spritzer, em elogiada e premiada atuação, o melodrama é levado a sério, sem deboche, e com todos os ingredientes comuns aos dramas do gênero: o escapismo, o maniqueísmo, o simplismo e a intervenção decisiva da providência divina. O gênero ultrapassado, como técnica de atuação, é resgatado com um olhar contemporâneo e uma temática mais ousada do que a habitualmente tratada pelo melodrama. Nas palavras de Flávio Mainieri, o texto e a montagem “são perpassados por traços indeléveis de outros textos, como os da pós-modernidade”.1
A encenação utiliza não só os clichês do texto, mas também cenários, figurinos e adereços de época, tentando recuperar a forma usada no tempo em que o melodrama predomina nos teatros. Os três ambientes em que transcorre a narrativa são recriados por telões reversíveis, pintados em perspectiva, dando forma aos castelos, paisagens, criptas e corredores em que as personagens vivem suas angústias e glórias.
A representação tem um tom exacerbado e emocional, levando os atores a reconstituir as atuações dos grandes atores do melodrama. O diretor comenta que a encenação é carregada de inflexões vocais, gesticulações enfáticas e cenas de violência, e que “apesar da peça ser uma paródia do gênero, o comportamento cênico está longe do deboche. Os atores trabalham com seriedade, acontece que como se está lidando com uma acumulação de clichês, muitas vezes o espetáculo provoca o riso”.2
Sobre a encenação, o crítico Cláudio Heemann observa que o “resultado é excelente. Uma piada intelectual do melhor nível, apresentada com capricho. A direção de Luiz Arthur mostrou-se inspiradíssima ao criar uma sugestão divertida do artificialismo da ópera, com telões pintados, figurinos fantasiados e poses enfáticas. […] O resto fica por conta da habilidade do elenco, cujos integrantes jogam-se com alma no trapézio sem rede de agudos dós-de-peito interpretativos. Valquíria Peña, como a cigana, merece o elogio maior. Ela consegue o impossível, dá veracidade sem caricatura, a um tipo que não passa de um deslavado chavão. Ida Celina defende o papel com força e a beleza de uma grande primadona, realizando o pastiche da ária-clímax de uma soprano coloratura. Sua entrada em cena, pelo alçapão, é um golpe de teatro digno do ‘grandguinol’. Mirna Spritzer é outra intérprete com destaque especial. Ela parece a típica órfã-na-tempestade dos primeiros anos do cinema mudo. Uma heroína à maneira de Lilian Bish, que ela faz com elaborada composição”.3
Em sua crítica, Yan Michalski compara a produção do Teatro Vivo ao que de melhor se faz no eixo Rio-São Paulo: “Os autores Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes mergulharam fundo na herança cultural do melodrama clássico, e escreveram um espirituoso texto que reúne, despudoradamente, vários dos mais batidos clichês e arquétipos do gênero. E Luiz Arthur encenou esse texto com a maior seriedade e com total respeito às convenções do seu anacrônico estilo cênico. Essa seriedade e esse respeito produziram, é claro, um resultado de notável poder cômico”.4
——————-
Notas

1. MAINIERI, Flávio. A maldição do vale negro e os outros textos. In: Teatro: textos e roteiros. Porto Alegre: IGEL / IEL, 1988.

2. BARBOSA, Luiz Carlos. Explosão de riso na volta do melodrama. Gazeta Mercantil Sul, Porto Alegre, 9 maio 1986.
3. HEEMANN, Cláudio. A maldição…, melodrama divertido. Zero Hora, Porto Alegre, 23 maio 1986.
4. MICHALSKI, Yan. 1º Encontro Renner de Teatro. Boletim Informativo do Inacen, ano II, no 5, p. 9, 
Fonte:

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 741)

Uma Trova de Ademar
Mesmo sentindo os rancores,
de um mar de dor que me escolta,
eu, afogando essas dores,
nada impede a minha volta!
–Ademar Macedo/RN–
 Uma Trova Nacional
Inspiração, sonho, rima,

fantasia e alma de esteta,

eis toda a matéria prima
com que se faz um Poeta!
–Héron Patrício/SP–

 Uma Trova Potiguar
Com frases que vêm do peito,
meu coração se declara,
ao verso, mais que perfeito:
– A trova, esta joia rara!
–Fabiano Wanderley/RN–
 Uma Trova Premiada
1982   –   Fortaleza/CE
Tema   –   VAQUEIRO   –   6º Lugar
Já fui vaqueiro e o destino
foi rude, mas não desfez
o sonho de ser menino
e ser vaqueiro outra vez!
–Clenir Neves Ribeiro/RJ–
 …E Suas Trovas Ficaram
Eu me entrego apaixonada
e tanto amor vem depois
que até mesmo a madrugada
sente inveja de nós dois…
–Eugênia Maria Rodrigues/MG–
  U m a    P o e s i a 
Em todos anos vividos
meus sonhos foram perdidos
além do brilho no olhar;
e a triste morte das cartas
fez as nossas mentes fartas
Excluir o termo amar.
–Isaac Jordão/RN–
 Soneto do Dia
ESTRELA CADENTE.
–Darly O. Barros/SP–
O palco é o céu que a vista descortina
em seu passeio, quando, de repente,
depara-se com bela bailarina,
a deslizar, esguia, reluzente…
A lua, por um palmo de cortina,
também a espia e então, infelizmente,
desaparece a etérea peregrina
que já não baila mais, à minha frente…
Para onde foi? Que fim levou a estrela?
indago de mim mesmo, sem revê-la,
frustrado e, além de tudo, arrependido
por não lhe ter de todo deslumbrado
com ela e a perfeição do seu bailado
feito, naquele instante, o meu pedido…

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José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 4 de março: A Notícia da Tomada de Sebastopol

A notícia da tomada de Sebastopol, a abertura das academias, a representação da Linda de Chamounix, duas procissões de quaresma, e a chuvinha aborrecida de todas as tardes, são os fatos mais importantes da semana.
Resta saber, entre tanta coisa interessante, por qual delas começaremos.
Pela notícia da Criméia, ou antes da Bahia – não. Estou pouco disposto hoje a fazer conjeturas e suposições sobre a probabilidade deste fato. Pelas procissões – ainda menos. A chuva declarou-lhes guerra este ano; e os anjinhos, com receio do tempo, encolheram as asas, e não desceram do céu onde habitam.
Ora, para mim, procissões sem anjinhos é coisa que se não pode ver. Os outros pensarão o contrário: estão no seu direito: cada um é livre de ter mau gosto.
Deixando, pois, de parte as procissões, não há remédio senão irmo-nos sentar nalguma das cadeiras do Teatro Lírico, e passar três ou quatro horas bem agradáveis a ver a Linda de Chamounix, ou qualquer outra linda mesmo aqui da nossa bela terra.
O primeiro ato é uma música simples e encantadora, que traduz as impressões da vida tranqüila da ladeia, e que termina com o belo dueto do baixo e da barítono, e com a despedida de LINDA.
Esperemos, porém, pelo segundo ato; deixemos passar algumas cenas cômicas; cheguemos ao momento terrível em que a palavra de maldição expira nos lábios paternais. LINDA, a pobrezinha inocente, a menina iludida, que se ajoelhara para implorar o perdão, ergue-se louca.
Vede como lutam naquele espírito desvairado as recordações alegres de um belo tempo, com a lembrança tremenda da maldição paterna, e com a ameaça terrível da cólera celeste.
De repente esta voz suave e harmoniosa, cuja doçura todos nós conhecemos, estala num grito de dor, numa agonia atroz; mas bo fundo da alma brilha um raio de luz, uma idéia risonha, uma reminiscência de gozos passados; e, quando pensais que aquela angústia chega ao seu último paroxismo, lá se desprende dos lábios, de envolta com um sorriso, uma melodia graciosa, umas notas feiticeiras, que vêm brincar docemente com o vosso ouvido arrebatado.
Vem afinal o terceiro ato, o desenlace feliz desta história simples da vida de uma moça.
A filha torna ao lar paterno; e a graça de Deus faz voltar a alegria, a paz e o sossego ao coração de toda esta pobre gente, que experimentara por algum tempo todas as provanças da fortuna. O final é magnífico, como vos dirá com toda a sua graça costumada o folhetim lírico de terça-feira.
Eis o que é para mim a representação da Linda  Chamounix; uma noite de emoções deliciosas, e mais positivamente, uma ou duas páginas de revista em uma semana, sobre a qual sou obrigado a confessar que não há muito de tratar.
Além de ser tempo de quaresma, tempo de provações, de jejum, de expiação de pecados, ainda em cima aí vêm todos os dias uma chuvinha miúda, umas nuvens cinzentas e carregadas tirar-nos o belo azul do céu, os raios do sol, e as lindas noites de luar que a folhinha nos tinha prometido.
Quem não está disposto a ser regado pelas águas do céu como as ruas desta heróica cidade, ou como as flores dos jardins, passa o dia inteiro a resolver a importante questão, se deve sair ou ficar em casa. Afinal vem uma estiada, decide-se, veste-se, e chega-se à porta, justamente quando começa de novo a chover. Não há remédio senão despir-se e resignar-se a desfiar as horas e os momentos sozinho, e a conversar com os seus botões.
Ora, se há tempo em que a solidão seja insuportável, é este de agora, em que não se fala, não se trata, nem se pensa senão em companhia. Janta-se em companhia dos amigos, passa-se a noite em boa companhia, e ganha-se dinheiro em companhia.
Nada hoje se faz senão por companhia. A iluminação a gás, as estradas, os açougues, o asseio público, a construção de ruas,tudo pe promovido por este poderoso espírito de associação que agita atualmente a praça do Rio de Janeiro.
Se encontrardes por aí algum sujeitinho de chapéu rapado, de laço de gravata à bandida, roendo as unhas, ou coçando a ponta da orelha, não penseis que é um poeta ou um romancista à cata de uma rima ou de um desfecho para seu último romance. Nada! o tempo destas bagatelas já passou. Podeis apostar que o tal sujeitinho rumina o projeto de uma empresa gigantesca, e calcula na ponta dos dedos o ganho provável de uma companhia qualquer.
E assim tudo o mais. Vê-se hoje pelos salões, pelas ruas  a cada canto, certos indivíduos a segredarem, a trocarem palavras ininteligíveis e a falar à mezza você uma linguagem incompreensível, cabalística. Um homem pouco experiente tomá-los-ia por carbonários ou membros de alguma sociedade invisível de alguma  confraria secreta. Qual! são finórios que farejam a criação de uma companhia, e que tratam de se arranjarem para não ficarem sós, isto é, sem dinheiro.
Até a nova empresa lírica, que se criou nesta corte há coisa de dois meses, assentou de organizar uma companhia para a construção de um novo teatro apropriado à cantoria, e conta-nos que já pediu ao governo  a competente autorização.
Com a facilidade que há atualmente em conceder-se semelhante favor, parece-nos que o governo não deixará de autorizar a incorporação de uma companhia para fim tão útil e tão vantajoso para esta corte.
Somente lembraríamos a necessidade de exigirem-se para a construção do edifício condições de grandeza e capacidade proporcional à população desta corte. O Teatro lírico que possuímos presentemente não pode durar muito; e, se outro não o substituir, breve teremos de nos vermos reduzidos ao acanhado salão de S. Pedro de Alcântara.
Assim como neste, podia o governo aproveitar em muitos outros objetos de serviço público o espírito de empresa e associação que tão rapidamente se desenvolveu no nosso comércio.
Porque, em vez de esperar que os interesses individuais especulem sobre a utilidade pública, não promove ele mesmo a criação das companhias que entender convenientes para o pais?
A limpeza pública, as postas, os correios urbanos, e muitos outros objetos de interesse vital, exigem essa solicitude da administração.
Uma coisa, por exemplo, de que ainda não vimos o governo se ocupar seriamente é da carestia progressiva dos gêneros alimentícios, tanto nacionais como estrangeiros. O trigo está por um preço exorbitante, segundo dizem. O pão diminui, e diminui no século de progresso em que tudo vai em aumento, em que as menores coisas tomam proporções gigantescas. Quanto ao pão de rala, célebre em outros tempos, este desapareceu do mercado: pertence hoje à história.
Os ministros, os grandes, os ricos, não sabem disto; mas o pobre o sente, o pobre que, no meio de toda essa agitação monetária, de todo esse jogo de capitais avultados, vê as grandes fortunas crescerem e formarem-se, absorvendo os seus pequenos recursos, e elevando o preço dos gêneros de primeira necessidade a uma taxa quase fabulosa.
Se os capitais são para o país um poderoso agente de progresso e desenvolvimento, cumpre-nos não esquecer que em todos os países é na classe pobre que se encontram as grandes inteligências, as grandes almas e os grandes espíritos.
A Providência parece tê-los lançado no mundo sem recursos para prova-los e fortalecê-los com essa luta constante da fortuna, na qual, ou morrem sacrificados como mártires, ou se elevam às sumidades da hierarquia social para comunicarem ao país a atividade do seu espírito e as forças de sua inteligência.
Tão desprezível, tão digna de compaixão, como parece esta classe aos ricos enfatuados que rodam no seu cupê, a ela pertence o futuro; nela está a alma, a força, a inteligência, a esperança do país.
Quereis saber o que são e o que valem esses cresos modernos, ou esses capitais amontoados, essas somas de dinheiro de que o rico tanto blasona e tanto se desvanece? Uma matéria brutal, uma alavanca inerte a que um dia algum homem sem fortuna, mas cheio de ambição e de talento vem dar o impulso de sua atividade, e fazer trabalhar para um grande fim.
Esta classe, pois, merece do governo alguma atenção; o que hoje é apenas carestia e vexame, se tornará em alguns anos miséria e penúria. É preciso, ao passo que o país engrandece, prevenirmos a formação dessa classe de proletários, dessa pobreza, que é a chaga e ao mesmo tempo a vergonha das sociedades européias. Apliquem-se os nossos espíritos econômicos a este estudo digno de uma grande inteligência e de um grande povo.
Porque a Europa ainda não conseguiu chegar à solução deste grande problema social, não é razão para desanimarmos. Somos um país novo; o progresso espantoso da atualidade deve ter reservado alguma coisa para nós; o mundo velho eleva a indústria a um desenvolvimento admirável; talvez que os segredos da ciência tenham de nos ser revelados na marcha da nossa própria sociedade.
O que é verdade é que não devemos deixar de concorrer com as nossas forças  para essa obra filantrópica da extinção da pobreza proletária. E isto, não porque receemos tão cedo a existência deste cancro social, mas porque semelhante estudo deve-se guiar nos meios de prevenir os vexames e misérias por que pode passar a classe pobre no nosso país.
Agora é que percebo que este folhetim vai muito grave demais; porém lembro-me também que não devo distrais as minhas leitoras do seu exame de consciência para a próxima confissão da quaresma.
Que interessante coisa não deve ser o exame de consciência de uma menina pura e inocente, quando à noite, entre as alvas cortinas de seu leito, com os olhos fitos numa imagem, perscruta os refolhos mais profundos de sua alma à cata de um pecadinho que lhe faz enrubescer as faces cor de…
Arrependi-me! Não digo a cor. Reflitam e adivinhem se quiserem. Tenham ao menos algum trabalho em lerem, assim como eu tenho em escrever.
Mas, voltando ao nosso exame de  consciência, estou certo que, se algum dos anjos que cercam o trono de Nossa Senhora pudesse descer do céu nesse momento, viria beijar aquele rostinho adormecido, e dizer-lhe em sonho que os anjos não pecam.
Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

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Geraldo Majela Bernardino Silva (Funções da Mensagem Literária) Parte final

FUNÇÕES SECUNDÁRIAS:
5- FUNÇÃO DE SUPORTE DE PENSAMENTO:
            O homem também se comunica consigo mesmo. É o uso intra-subjetivo da linguagem que se apresenta ora como suporte ou estímulo das reflexões pessoais, ora  como apelo interior.
            Vejamos o exemplo:
“Brincava a criança
  com um carro de bois.
  Sentiu-se brincando
  E disse: eu sou dois”.
(PESSOA, Fernando)
6- FUNÇÃO FÁTICA ou DE CONTATO:
            Procura estabelecer uma aproximação, manter a comunicação, controlar sua eficiência e eficácia, prender a atenção, sondar o ânimo entre os interlocutores. Exige uma participação na mesma situação social em que se encontram destinador e destinatário. É o que acontece no início de um diálogo ou nas chamadas telefônicas. Suas expressões são de conteúdo bastante reduzido: alô!, não é?, Bem!, Sabe!? , etc… É a função das relações sociais.
            Exemplos:
Bom dia! Boa tarde! Boa Noite! Como vai?
7- FUNÇÃO METALINGUÍSTICA:
            Centrada no código. Seu objetivo é a própria linguagem. É a decifração do código, a inquirição e explicação do significado das palavras. O locutor explica seu sistema linguístico. Uma Gramática é altamente dotada da função METALINGUÍSTICA.
            Como estamos tratando do assunto “Funções da Linguagem” ao definirmos o que é função neste momento é um bom exemplo de função metalinguística:
Função é a relação que existe entre dois elementos da comunicação.
8- FUNÇÃO MÁGICA ou ENCANTATÓRIA:
            Uso de palavras cabalísticas em rituais secretos, na feitiçaria e na magia.
            Alguns exemplos:
“Abra Cadabra!”- “Alacazém-Alacazam”- “Abra-te Sézamo!”
“Ignoratus tuum vos assegnatarum meo”.
“Velai! Velai! linda Esmeralda, para que me seja descortinado o meu porvir!”
9- FUNÇÃO LÚDICA:
            Com finalidade de divertir: nas charadas, adivinhações, nos trocadilhos, e também, nas rimas soantes, com a única finalidade de fazer um jogo de fonemas:  Exemplos:
– O que é que é?
Cai da torre
Não se lasca
Cai na água
Se espapaça
D’água nasce
N’água cresce
Se botar  n’água
Desaparece
Campo grande
Gado miúdo
Moça bonita
Velho carrancudo
Uma caixinha
de bom parecer
nenhum carapina
pode fazer
Meu destino é abre e fecha
vivendo sempre a cantar;
mas quando o fôlego acaba
me calo, faltando o ar.
10- FUNÇÃO CRÍPTICA:
            Faz uso do palavrão. Palavras de baixo calão, com objetivo de ofender o interlocutor.
================
FIM

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Erasmo Figueira Chaves (Poemas Escolhidos)

TEMA 1:

Quem do passado pretérito
vem com zelo a labutar
abrindo  seu peito emérito
a tentar certo acertar,
também é  quem tem o mérito,
a certeza lapidar,
sem sofisma e sem inquérito,
de amar e ter o que amar
TEMA 2:
Quem é livre para errar
livre  o é para aprender,
é livre para acertar
 livre pois para o dever
e mais ainda pra amar e tornar Vida um Prazer !  . . . 
TEMA 3:
Não basta o aspeto estético,
a aparência pulcra e sã,
Importante é o sentir ético,
a palavra, a ação cristã
que cura e afasta o tétrico
pensar que a vida é tão vã,
sem haver sistema métrico
que a difira da pagã,
do egoísmo  patético,
de ironia charlatã ! . . .

SAUDADE

Esta palavra “saudade”,
que a lusa língua domina
e a distingue, na verdade
doutamente nos inclina
às sutilezas da alma,
à vocação de amizade
plena, como simples raridade,
cujo fluir é a calma,
doce expressão da bondade,
o amor, a tristeza,  fruir
carinho,  beleza,
intimidade, certeza,
ansiedade, grandeza,
um sentir puro e estranho,
tal dimensão e tamanho
que outra língua não ensina
nem tem  a expressividade
ou a concisa lição.
Por isso é que nunca deixo
de cultivar amizade,
na mais pura singeleza,
– com brio, com qualidade
e sentimentos perfeitos,
 com toda a profundidade,
delicadeza,  resguardo, –
sem  o que, só o desleixo
e a ausência de humano anseio,
falta à espontaneidade,
à sutileza,  à verdade,
e explica a temeridade
que é viver sem o receio
de ao descuidar da bondade
menosprezando amizade,
desprezar língua e saudade ! . . .
MÃOS
Mãos não mentem
 quando moldam
quando esculpem
quando instigam,
quando mostram,
quando assentam
tateando a forma afeita
ao espaço indivisível,
à dimensão sem menção
por tão grande e indizível;.
mãos não mentem
quando afagam,
quando tentam,
quando ajeitam,
quando curam,
quando aplaudem,
quando acenam,
quando indicam,
quando aliciantes argúem,
quando afirmam,
quando assentem,
quando intentam descobrir,
o que n’ alma já vem feito;
Quando criativamente
Ao aludir não se iludem.
Mãos não mentem,
Usando melhor o  seu jeito,
ao mostrar
mais que perfeito
que Amor
arfando no peito
do autor
ou do
sujeito
tem
arcabouço  escorreito
                                                
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
Que atire a primeira pedra
quem tiver muita coragem
pra manter sua viagem
em preito de vassalagem
ao mundo dos que só agem
por medo ou por abordagem
a padrões que ao ego fazem
.render qualquer homenagem.
Que atire a primeira pedra
quem se sentir sem pecado
ou nunca tiver andado
por caminho que não medra
e não ache, desgraçado,
que assim esconde o passado.
Que atire a primeira pedra
quem nunca tiver sentido
a consciência pesada,
a injustiça vivido,
ou jamais tenha sofrido
por traição à sua amada,
por caprichos do azar,
por um amor escondido
sem jamais o confessar
que eram favas contadas
a viver alma enganada
no néctar de mau lagar.
Que atire a primeira pedra
quem não saiba perdoar,
quem nunca tenha aprendido
a sentir dor por amar,
nem jamais se arrependido
pela pressa em prejulgar
ou espere que de pedra
venha um dia a se livrar ! . . .

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Erasmo Figueira Chaves

Nasceu na cidade de Niteroi no Rio de Janeiro.
Fez seu curso “científico”, pré universitário, na A.C.M. do Rio de Janeiro.
Cursou a Escola Superior de Guerra. Adesguiano.
Pós-graduado M.D. em Filosofia da Educação e Teologia – U.P. Princeton, USA – Sociologia – Administração – Educação Física, no Inst.Técnico da Y.M.C.A. em Montevidéu- Uruguai. (diplomação em seu poder).
Casado com Beatriz Sylvia Areco Chaves, professora. Uruguaia. Tem três filhos e três netos.
Reside em Cabreúva, SP. onde há mais de vinte e cinco anos, exerce sua cidadania e colabora em seus programas culturais e projetos cívicos.
Durante a sua vida desenvolveu destacadas atividades culturais, educacionais e administrativas no campo nacional e internacional, ajudando a infância e a juventude.
Por períodos, lecionou e treinou líderes e voluntários, no Brasil e em Portugal.
Posteriormente, de regresso ao Brasil, aceitando o desafio e convite de uma nova experiência professional e rumo vivencial, orientou cursos e leccionou em várias empresas, preparando liderança.
Participou de extensas e repetidas viagens e congressos, na Europa, EUA, América Latina, África e Oriente.
Autor da pesquisa e livro “Cesário Motta – Paladino da Educação”.
Coordenou algumas publicações e 4 Antologias para a APML.
Colaborou como membro da Secretaria de Cultura da GLESP, editando duas Antologias.
Participa como “colunista” da publicação eletrônica semanal www.itu.com.br.
É membro de várias entidades culturais, cívicas ou educacionais, com participação ativa, entre elas
Academia Ituana de Letras,
Academia Pan Americana de Letras,
Academia Paulistana Maçônica de Letras, da qual foi seu presidente por dois períodos consecutivos.
Foi Presidente da Academia Maçônica Internacional de Letras,
Membro da Academia MilitarTerrestre do Brasil,
Membro da Secretaria de Cultura da Glesp, do Rotary Clube de Itu,
Participou ativamente do Conselho Cultural da Secretaria de Cultura do Governo da Prefeitura de Cabreúva.
Foi galardoado com o título de cidadão cabreuvence, e com a comenda Eurothydes de Campos, pela Câmara Municipal de Cabrerúva.
Membro da Casa do Poeta,
Associação Cristã de Moços, (YMCA) da qual foi membro de sua diretoria na Lapa,S.P.,
Sociedade Cabreuvana de Cultura, da qual foi seu presidente e fundador;
Associado do IHGGS Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, tendo como patrono Gonçalves Ledo.
Membro da Secretaria de Cultura da GLESP, para a qual coordenou duas antologias,
Foi também agraciado com diversas outras comendas e homenagens cívicas e públicas, nacionais e regionais, pelo IHGGS, e outras entidades culturais.
Site: www.apml.org.br= Linguagem Viva – www.itu.com.br (visitar colunistas = Análises, Penas Temas e Lemas)

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José Maria de Almeida (Tankas)

Sol queimando-me,
Praia vazia…bela…
Peixes alegres.
      Vento e maresia,
      Ondas chegando…chuááá…
————————————
Som do riacho,
Os pássaros voando,
Criança rindo.
      O cachorro latindo.
      Um som,um sonho,a paz.
————————————
Águas límpidas,
peixe nadando feliz,
Areia clara.
       O canto de pássaros,
       Borboleta voando.
————————————
Olhar perdido,
pensamento vadio,
Rosto sofrido.
Em pé olha o rio,
vento passa bem frio.
————————————
Vida sofrida,
mão calejada está.
Pensa na vida.
Marejar de lágrimas.
Gotas brotam bem calmas.
————————————
Silêncio está,
um pássaro voando
se põe a cantar.
Passa peixe nadando,
passa vida passando.
————————————
Um sol a raiar.
Vida surgindo feliz.
Calor a chegar.
A voz suave te diz,
viva e seja feliz.
————————————
Vela acesa,
Oração para santo.
Mulher rezando.
         É pedido de amor,
         Para o Nosso Senhor.
————————————
Um abrir de mãos,
A oração à Deusa.
Coração puro.
        A oferenda no mar,
        Barco branco vai levar.
————————————
A mulher nua,
Na areia a andar.
A nudez crua.
        Sem nada incomodar,
        As ondas chegam do mar.
————————————
Noite de lua,
Céu todo estrelado.
Grilo cri cri cri.
        
   Amanhecendo com sol.
   O cantar do rouxinol.
————————————
Vento ventando
Balança as árvores.
Folhas no rio.
        Canta ,canta, sabiá,
        Canta, canta,sem parar.
————————————
A borboleta
Pousa na rosa branca.
Jardim florido.
       Rio passa passando
       Melro passa voando.
—————————————

Em pensamento
Viajo em alto-mar…
Sinto o vento.

      Eu estou a velejar,
      Mas  estou a beira-mar.
————————————

Fonte:

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Tanka

Estilo de poesia japonesa. Literalmente tanka significa “poema curto” (tan – curto, breve; e ka – poema ou múscia) e é formada por 31 sílabas (versos de 5 – 7 – 5 – 7 – 7 sílabas respectivamente). Sua origem está no waka, termo genérico para designar a poesia aristocrática (também de 31 sílabas).
Esta forma poética foi muito utilizada entre os séculos VI e VIII, no Japão. 
A mais antiga coletânea dessa modalidade de poesia do Japão foi compilada no século 8 (743-759). Trata-se da “Man’Yoo Shuu”, coletânea composta de 20 volumes, 4.516 poemas, escritos por mais de 400 praticantes, do imperador ao simples camponês. A família imperial realiza ainda hoje, no início do ano, uma reunião cerimoniosa em que o imperador, a imperatriz, os príncipes e as princesas apresentam seus tankas. Chama-se “Shin-nen-uta gyotai” ou “uta gyokai – hajime”. O povo participa enviando seus tankas feitos a partir do tema previamente anunciado pelo imperador.
Para ilustrar a importância do tanka na história do Japão, lembremos que o Hino Nacional, o “Kimigayo”, é um poema tanka: “Kimiga yo wa (5)/ chiyoni tachiyoni (7)/ sazareishino (5)/ iwa o to narite (7)/ koke no musumade (7)”.
Há mais de 4 mil poemas no estilo. 
Como já citado acima, é composto de 5-7-5-7-7 sílabas ou poema de 31 sílabas. Chama a atenção porque ele se divide em duas estrofes: a primeira formada por 5-7-5 sílabas, chamada de kami no ku (“primeiro verso”) e a segunda, com 7-7 sílabas, chamada de shimo no ku (“último verso”). 
Depois de um tempo o tanka passou a ser composto por 2 pessoas. Uma ficaria encarregada pela primeira estrofe( denominada: hokku) e outra pela segunda estrofe (denominada wakiku). Segundo textos essa forma de poema tornou-se uma coqueluche nos anos de 1186-1339, no Japão.
A forma poética ficou tão disseminada que passou a ligar-se a outras estrofes da mesma medida, somando centena de versos. E a nova forma passou a chamar-se “renga” e, em seguida, “renga haikai, ou “renku”. 
Depois de mais algum tempo e passando pelo seguimento dos monges, representantes da burguesia e artistas populares, a temática de simplificação do cotidiano foi enfatizada e o minimalismo passou a ser uma tendência seguida em várias formas da cultura japonesa (daí a expressão “poema curto”). 
Este movimento fez com que o hokku (primeira estrofe do renga haikai, ou simplesmente haikai) se tornasse autônoma. Surgindo então os Haikais (Haikai).
Fontes: 
Livro Haicais | Organizado por Rodolfo Witzig Guttilla. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tanka

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Contos Africanos (Lenda do Tambor Africano)

Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.
Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.
A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. 
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. 
Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
Fonte: 

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 740)

Uma Trova Nacional 
Um mundo melhor… queria, 
para deixar aos meus netos, 
onde imperasse a alegria 
numa transfusão de afetos! 
–Gislaine Canales/SC– 

Uma Trova Potiguar  
Eu pus a minha jangada 
no mar revolto da vida, 
onde, às vezes, foi “quebrada”, 
mas logo, reconstruída. 
–Tarcício Fernandes/RN– 

Uma Trova Premiada  
1998   –   Ribeirão Preto/SP 
Tema   –   SONHO   –   2º Lugar 
Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez! 
–Dorothy Jansson Moretti/SP– 

…E Suas Trovas Ficaram  
Quanto mais disciplinado, 
mais valor terá seu filho; 
o diamante lapidado 
se conhece pelo brilho. 
–Carorina A. de Castro/PE– 

U m a P o e s i a  
A jura do amor primeiro 
a gente nunca se esquece, 
fica gravada na mente 
vez por outra ela aparece… 
Se compara a uma semente, 
que regada, brota e cresce. 
–Hélio Pedro/RN– 

Soneto do Dia  

A ALMA DA PEDRA.
–Hegel Pontes/MG– 
Longa pesquisa. E o mestre hindu descobre 
que existe uma fadiga nos metais; 
que o descanso renova, do ouro ao cobre, 
o reino singular dos minerais. 
Eu também sinto que a matéria encobre 
estranhas vibrações emocionais. 
É que a pedra tem alma, simples, nobre, 
sonhando evoluções espirituais. 
E a alma da pedra imóvel é a energia 
que evolui, na ilusória letargia, 
entre seres gigantes e pigmeus. 
E sonha, nos milênios que a consomem, 
ser um cacto que sonha ser um homem, 
ser um homem que sonha ser um Deus. 

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Teatro de Ontem e de Hoje (Bugiaria – O Processo de João Cointa)

Com dramaturgia formada por fragmentos de documentos históricos, Moacir Chaves concebe uma linguagem que confronta dois tipos de estética para falar de colonizadores e colonizados.
A pesquisa histórica que dá origem ao espetáculo parte do processo movido pela inquisição brasileira contra o luterano João Cointa.
Os documentos selecionados são de basicamente duas fontes: os arquivos do processo, que relatam depoimentos e procedimentos – como a tortura, por exemplo – com relatos de historiadores sobre o Brasil Colônia. O diretor Moacir Chaves vê neste material a possibilidade de confrontar duas éticas: a dos selvagens brasileiros e a das instituições colonizadoras. A cada trecho histórico corresponde uma cena independente, cada cena com sua própria técnica de teatralização. Esta diversificação cênica ajuda a delinear uma narrativa, na medida em que o texto do espetáculo é desprovido de ação dramática e a linguagem dos documentos se repete. O contraste entre uma cena e outra faz com que a platéia passe por vários modos de fruição.
Há sempre dois discursos em curso, o da palavra e o da ação, que nunca são uníssonos. O texto que se ouve pertence a um português de muitos termos em desuso e de termos técnicos do meio judiciário. A história de João Cointa se oculta em vários momentos por trás de textos que não dão pistas da trajetória do dito protagonista. Ao mesmo tempo, o discurso da ação traz um alto grau de teatralidade – seja por meio do circo, do elemento musical, da comicidade rasgada, do humor chulo, do histrionismo do ator. O resultado deste confronto é que a maior parte do público tende a desistir de extrair uma história daquilo que se passa em cena – e se diverte com as macaquices (bugiarias) dos atores. Para o público que insiste e, além de perseguir a história, procura extrair um sentido do confronto entre o texto e a cena, o espetáculo oferece algumas surpresas. Um exemplo dos mais claros é a cena em que a única atriz do elenco, Josie Antello, no meio de uma roda de homens, é inesperadamente erguida do chão e rodopiada no ar. O texto descreve o processo de tortura. O susto da atriz se repete. Até que ela começa a temer a repetição. Mas tudo se realiza sem nenhum clima de seriedade. Pelo contrário, toda a cena é preparada de forma a se tornar o mais hilariante possível. Os movimentos da atriz a fazem parecer uma boneca; seu grito agudíssimo no final, surpreende e faz rir pela sua impotência.
Em alguns poucos momentos o contraste se inverte – a palavra passa a ser a portadora da bugiaria enquanto a cena é construída com solenidade. O exemplo mais evidente é a música pornográfica cantada com arranjo vocal e posição empostada de quem entoa um madrigal; ou o hino nacional tocado em um serrote. 
Enfim, a linguagem de Bugiaria se forma pela investigação das possibilidades de confronto entre o grotesco e o elevado, por meio do texto e da interpretação. O desempenho dos atores é o que dá sustentação a uma proposta que necessita ser francamente cômica e teatralmente irresistível para atingir seu objetivo. Alberto Magalhães, que também atua como pianista, e Cláudio Baltar, que assina a preparação corporal, se encarregam dos trechos circenses e de virtuosismo físico. Cândido Damm, Cláudio Mendes e Orã Figueiredo compõem os vários tons de comicidade do espetáculo. O cenário de Fernando Mello da Costa acompanha a proposta da direção, construindo um espaço caótico, composto de pedaços de outros cenários, de restos de objetos, de volumes sem identificação.
O crítico Macksen Luiz observa que: “Os hábitos antropofágicos dos índios, o processo contra o francês João Cointa, julgado pela simpatia pelo luteranismo, e os rituais de execução da Santa Inquisição saltam dos relatórios para o palco sem qualquer preocupação de torná-los atuais ou com linguagem acessível. Conservam-se a terminologia empolada e o detalhamento de minudências, e apenas quando uma palavra soa desconhecida recorre-se a uma pausa didática, sempre bem-humorada, para revelar seu significado. É a única concessão ao “didatismo”, já que Bugiaria deixa tudo evidente sem recorrer a explicações desnecessárias sobre os ritos de aniquilação dos índios e dos europeus”.[1]
O espetáculo recebe o Prêmio Governador do Estado do Rio de Janeiro.
Notas
1. LUIZ, Macksen. Relatório irreverente e empolado. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 dez. 1999.
Fonte:

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Carla Caruso (O Segredo da Vó Maria)

Outro dia, eu estava na casa da vovó Maria e, enquanto ela assistia à novela, aproveitei para brincar em seu quarto. Estava brincando de cabeleireira de minhas bonecas na penteadeira da vó quando vi pelo espelho o velho guarda-roupa onde eram guardados os lençóis e as toalhas. Sempre tivera vontade de abrir aquele móvel. Fui até ele, escancarei a porta e vi que era grande, tão grande que eu podia até entrar e sentar em seu interior. E foi o que fiz. Fechei a porta por dentro e tudo ficou escuro e em silêncio, um silêncio abafado que me isolou do resto da casa. Fui me ajeitando entre os lençóis e as toalhas. Tateando no escuro descobri uma lâmpada bem pequena e consegui acendê-la. Vi então duas gavetinhas com puxadores de metal. Tentei abri-las, mas estavam emperradas, como se não fossem usadas há muito tempo. Precisei usar toda minha força para conseguir puxar uma delas. A primeira coisa que vi lá dentro foi um envelope com uma carta e uma foto de meu avô Pedro quando era moço. Eu tinha uma vaga lembrança dele, velhinho, magro e alto. Uma lembrança distante, porque quando ele morreu, eu era muito pequena. Tentei ler a carta, mas não entendi a letra, toda enfeitada. Como os antigos escreviam diferente! Só entendi o final: “…com afeto e saudades, Pedro, 1928”. Acho que era uma carta de amor para a minha vó, escrita há 70 anos! 
Logo depois, achei um bolo de fotos de gente que nunca ouvi falar. As pessoas pareciam de cera. As fotos eram todas em marrom e branco, e estavam desbotadas, algumas rasgadas. As mulheres de chapéu e os homens de bengala. As crianças bem penteadas: as meninas com fitas no cabelo e os meninos com o cabelo repartido de lado. Foi estranho pensar que hoje esses meninos e meninas deviam ser velhinhos iguais à minha vó. 
Continuei remexendo a gaveta, que era bem comprida e funda. Não podia ver direito as coisas porque a lampadinha a toda hora se apagava. Eu só podia sentir os objetos com as mãos. Foi num desses momentos de escuridão total que peguei um saquinho pequeno, que parecia de veludo e era bem leve. Dentro dele senti que havia papéis enroladinhos como se fossem canudinhos e amarrados com uma fita. Quando enfim consegui acender de novo a lâmpada, vi que os canudinhos eram pedaços de papel amarelados, roídos pelo tempo e pelas traças. A fitinha era velha, toda desfiada. Fui desenrolando um dos canudinhos com muito cuidado, pois tinha medo que se rasgasse. Nesse primeiro papelzinho estava escrito, com letra de criança, o seguinte:
Segredo de Amabília
Tenho um  segredo que ninguém  pode saber: morro de medo do escuro
Era o segredo de uma criança que vivera em outro tempo, bem distante, e que eu nem sabia quem tinha sido. Será que essa Amabília era uma irmã da vó? Uma prima? Uma amiga? Resolvi fechar esse primeiro segredo enrolando devagar o papel. Em seguida, abri todos os outros, um a um. 
Segredo de Henrieta
Detesto a  tia Adélia. Principalmente quando ela vem nos beijar.
Ela tem cheiro de naftalina.
Segredo de Giulia
Gosto do meu primo Tadeu. Mas ninguém pode saber disso nunca!
Segredo de Maria
Tenho um esconderijo secreto na minha casa: é dentro do guarda-roupa de lençóis e toalhas. Lá eu passo horas e ninguém me encontra. Acendo a lanterninha e leio os livros de histórias que eu mais gosto.
Tomei um susto. Não sei, a única coisa que fiz foi guardar aqueles velhos segredinhos dentro do saquinho de veludo, apagar a lâmpada e sair de fininho daquele guarda-roupa cheio de histórias.
Depois disso, toda vez que olho pra vó Maria tenho vontade de contar que descobri o segredo dela. Mas logo desisto, porque agora o segredo também é meu.
Beatriz
Fonte:
Revista Nova Escola

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Jornais e Revistas do Brasil (Città di Caxias – periodico semanal)

Período disponível: 1913 a 1922 
Local: Caxias do Sul, RS 
Fundado em Caxias do Sul (RS) em 1º de janeiro de 1913, Città di Caxias se definia como “periodico settimanale d’interesse coloniale”, ou seja, um semanário voltado para os interesses da colônia italiana, em especial aquela formada no Sul do Brasil. Foi dirigido inicialmente por Ernesto Scorza, embora o proprietário tenha sido sempre Emilio Fonini. Circulando tanto em italiano quanto em português, era impresso em tipografia própria, primeiro a vapor e depois elétrica, em tamanho standard.
Desde que foi lançado, o jornal teve boa aceitação de público e grande adesão de anunciantes. Inicialmente com quatro páginas por edição, em pouco tempo aumentou o número para seis. Um ano depois de sua fundação, quando engrossou sua cobertura internacional por causa da Primeira Guerra Mundial, Città di Caxias já circulava com oito ou dez páginas. Em geral, eram publicados artigos, reportagens, crônicas, editais municipais, telegramas internacionais, informes a pedidos, discursos de autoridades italianas, além de muitos anúncios.
Crítico e opinativo, sempre enaltecendo o labor e os valores morais da colônia italiana, o semanário abordou assuntos diversos, em geral de interesse local – sobretudo em seus primeiros tempos. Tiveram destaque em suas páginas questões relativas ao sistema de trabalho em cooperativas, aplaudindo-se o empreendedor cooperativista local Giuseppe de Stefano Paternò, e o deficiente transporte férreo regional, na série “La compagnia della morte”, que criticava provavelmente a belga Compagnie Auxiliare, a qual desde 1905 administrava a ferrovia que ligava Porto Alegre a Caxias. Por ocasião de grandes acontecimentos na Europa ou, sobretudo, na Itália, o foco se voltava para o velho continente. Durante a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, Città di Caxias acompanhou detidamente o conflito, porém sob ponto de vista italiano. Isto o levou a divulgar propaganda de guerra, como a suposta notícia de que marinheiros da frota alemã teriam oferecido um berço tingido de sangue francês a uma princesa da família imperial germânica (edição de 30 de agosto de 1916). 
O jornal tratava de economia e comércio, agricultura (sobretudo viticultura), enologia, indústria, impostos, serviços, variedades em colônias dos arredores de Caxias (Nova Milão, Nova Pádua, Nova Vicenza etc.), cotidiano administrativo oficial e forense, infraestrutura, política brasileira, saúde e atendimento médico, educação e instrução pública, eventos e festividades, questões ligadas à infraestrutura e peculiaridades urbanas de Caxias, futebol, cultura e entretenimento, atualidades científicas, personalidades ilustres regionais, casos de polícia, lições morais e comportamento, acontecimentos políticos e variedades internacionais, religião, turismo, entre outros assuntos.
Simpático à intendência municipal do major José Penna de Moraes, o periódico chegou a lançar em 1915 um suplemento de cerca de 40 páginas “dedicato all’Esimo Presidente dello Stato Del Rio Grande do Sul”, Antônio Augusto Borges de Medeiros, autoridade sempre louvada pelo jornal. Ali, entre registros fotográficos de Caxias e informações gerais sobre os municípios de Bento Gonçalves, Alfredo Chaves e Antônio Prado, aplaudia-se ainda a figura de Pinheiro Machado e diversas iniciativas comerciais locais. 
A partir da edição nº 137, de 20 de outubro de 1915, o jornal passou a ter Silvio Dal Zotto como gerente. No nº 165, de 18 de maio de 1916, ainda com Ernesto Scorza como diretor-geral, o cargo passou a Mario Rey Gil. Pouco tempo depois, novas mudanças: com o falecimento de Scorza, em 14 de julho de 1916, Giuseppe Buzzoni e Luigi Bancalari assumiram a direção da folha. Rey Gil também não figurava mais ali, tendo a gerência ficado diretamente com o proprietário Emilio Fonini. No nº 185, de 16 de novembro do mesmo ano, Ercole Donadio acabou substituindo a dupla Buzzoni-Bancalari. Mesmo mantendo-se em seu cargo, Donadio desapareceria do expediente do jornal em outubro de 1917, momento em que nenhum nome aparecia como responsável pela direção.
Città di Caxias terminou 1917 fazendo campanha para a reeleição de Borges de Medeiros à presidência do Rio Grande do Sul. Nesse momento, seu expediente vinha apenas com Ernesto Scorza como fundador e com o endereço da redação: o nº 28 da rua Sinimbú. 
Iniciando 1918, o periódico deixava de lado questões mais ligadas ao cotidiano colonial e à economia agrícola locais, dando maior atenção à realidade italiana e à política brasileira e europeia. O número de páginas reduzira-se para quatro e a quantidade de anúncios não era a mesma, embora ainda tomassem boa parte das edições.
Ercole Donadio mudou-se para Porto Alegre, deixando a direção do semanário a José Joaquim de Vargas. Com a morte deste último em outubro do mesmo ano (ver edição do dia 19), o jornal passou a ser dirigido por Adolpho Peña, que cerca de um mês depois deixou o cargo para Benício Dantas. Na ocasião, M. Marchetinni tornou-se o redator principal.
Em 1919, Benício Dantas substituiu Marchetinni no cargo de redator-chefe por Ulysses Castagna, até então responsável principalmente pela coluna de viticultura e enologia do jornal (mesmo com a promoção, a coluna continua sendo publicada, com mais destaque). No ano seguinte, a direção passou a Arthur de Lavra Pinto.
Segundo as informações disponíveis, Città di Caxias circulou apenas até 30 de setembro de 1922, quando foi publicada edição nº 464. Em seus últimos momentos, a folha publicava mais textos em português do que em italiano. 
Foram também colaboradores do jornal Giuseppe de Stefano Paternò, Octavia Paternò, V. Bornancini, Guido d’Andrea, Antonio Casagrande, Mario Mariani, Silvio Becchia, Jacintho Godoy, Samorim Gustavo de Andrade, entre outros.
Fontes
 1. Acervo: edições do nº 1, ano 1, de 1º de janeiro de 1913, ao nº 464, ano 10, de 30 de setembro de 1922. Disponível em http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/città-di-caxias

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 739)

Uma Trova de Ademar  
Eu, num desejo medonho, 
quis tê-la, mas nunca pude… 
Transformar desejo em sonho, 
foi minha grande virtude! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  
Na primavera, cheguei…
Neste inverno, te aqueci…
No outono, te desfrutei,
veio o verão… Te esqueci.
–Ester Figueiredo/RJ– 

Uma Trova Potiguar  
Pelo teu rosto risonho,
eu pensei que era virtude
o sortilégio de um sonho
que a vida inteira me ilude!
–José Lucas de Barros/RN– 

Uma Trova Premiada  
1991   –   Acad. Bras. de Trovas/RJ 
Tema   –   CONQUISTA   –   4º Lugar 
Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas,
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.
–Carolina Ramos/SP–

…E Suas Trovas Ficaram  
Cidade grande, e o pirralho, 
nos trapos do desafeto,
parece um pobre espantalho 
na lavoura de concreto!… 
–Paulo Cesar Ouverney/RJ– 

U m a P o e s i a  
Quando o mundo Deus fazia, 
para cumprir sua meta, 
viu que faltava a poesia 
e que a obra estava incompleta; 
depois da luz fez a terra 
e nela pôs o poeta. 
–Hélio Pedro/RN– 

Soneto do Dia  

…E O AMOR SE FEZ SONETO. 
–Francisco Macedo/RN– 
Sono esquecido, a acolho, nos meus braços, 
ouço o teu respirar, lindo, ofegante, 
nos seus carinhos, mil beijos e amassos, 
instante lindo, não mais que um instante! 
Tomo-te, assim, vasculho teus espaços, 
orgasmos loucos, sonhos fascinantes! 
Por tudo que fizemos, os cansaços, 
se fazem adrenalina nos amantes. 
Respiração… A voz que enleva a gente, 
agora se faz terna, mas, ardente. 
Voz que em louco prazer se faz dueto. 
Onde estiver, é certo estar presente, 
cada suspiro, que trará na mente, 
este momento, que se fez soneto! 

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José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 25 de fevereiro: Foi-se o Carnaval

Foi-se o carnaval. Passou como um turbilhão, como sabá de feiticeiras, ou como um golpe infernal.
Nesses três dias de frenesi e delírio a razão fugiu espavorida, e a loucura, qual novo Masaniello, empunhou o cetro da realeza.
Ninguém escapou ao prestígio fascinador desse demônio irresistível: cabeças louras, grisalhas, encanecidas, tudo cedeu à tentação.
Entre as amplas dobras do dominó se disfarçava tanto o corpinho gentil de uma moça, travessa, como o porte grave de algum velho titular, que o espírito remoçava.
Dizem até que a política – essa dama sisuda e pretensiosa – se envolveu um momento nas intrigas do carnaval, e descreveu no salão uma parábola que ninguém talvez percebeu.
Deixemos, porém, dormir no fundo do nosso tinteiro esses altos mistérios que se escapam à pena do folhetinista. Já não estamos no carnaval, tempo de livre pensamento – tempo em que se pode tudo dizer – em que é de bom gosto intrigar os amigos e as pessoas que se estimam.
Agora que as máscaras caíram, que desapareceu o disfarce, os amigos se encontram, trocam um afetuoso aperto de mão e riem-se dos dissabores que causaram mutuamente uns aos outros.
O nosso colega do Jornal do Comércio, que se disfarçou com três iniciais que lhe não pertenciam, compreende bem essas imunidades do carnaval.
Hoje, que o reconhecemos, não é preciso explicações: ele tem razões de sobra para acreditar que sinceramente estimamos o seu valioso auxílio na realização de uma idéia de grande utilidade para o país.
Nunca desejamos o monopólio; ao contrário, teríamos motivos de nos felicitar, se víssemos geralmente adotada pela imprensa do nosso país uma tentativa, um ensaio de publicação, cuja falta era por todos sentida.
Quando deixamos cair do bico da pena um ligeiro remoque à publicação do colega, não era que temêssemos uma imitação;não era porque receássemos uma emulação proveitosa entre os dois mais importantes órgãos da imprensa da corte.
Esta luta, mantida com toda a lisura e toda lealdade, nós a desejamos em bem do pais, embora nos faltem os recursos para sustenta-la com vantagem. É dela, é do calor da discussão, do choque das idéias, que têm nascido e que hão de nascer todos os progressos do jornalismo brasileiro.
O que nós receávamos era a reprodução de uma dessas lutas mesquinhas, indignas de nós ambos, e das quais a história da nossa imprensa apresenta tão tristes exemplos. Era um desses manejos impróprios de jornalistas, e aos quais o mecanismo complicado da nossa administração tanto favorece. Era enfim uma representação dessa ridícula farça de publicidade tão em voga nas nossas secretarias, nas quais se dão por favor as cópias dos atos oficiais ao jornal que quer fazer um favor publicando-as.
Temíamos uma luta desta natureza, porque não estamos ainda afeitos à chicana; porque, do momento em que ela se tornasse necessária, seríamos forçados a abandonar uma idéia, pela qual trabalhamos com todo o amor que nos inspira a nossa profissão.
É tempo, porém, de voltarmos ao carnaval, que preocupou os espíritos durante toda a semana, e deu matéria larga às conversas dos últimos dias.
Entre todos os festejos que tiveram lugar este ano cabe o primeiro lugar à sociedade Congresso das Sumidades Carnavalescas, que desempenhou perfeitamente o seu programa, e excedeu mesmo a expectativa geral.
No domingo fez esta sociedade o seu projetado passeio pelas ruas da cidade com a melhor ordem; foi geralmente recebida, nos  lugares por onde passou, com flores e buquês lançados pelas mãozinhas mimosas das nossas patrícias, que se debruçavam graciosamente nas janelas para descobrirem entre a máscara um rosto conhecido, ou para ouvirem algum dito espirituoso atirado de passagem.
Todos os máscaras trajavam com riqueza e elegância. Alguns excitavam a atenção pela originalidade do costume; outros pela graça e pelo bom gosto do vestuário.
Nostradamus – uma das mais felizes idéias deste carnaval – com o seu  longo telescópio examinava as estrelas, mas eram estrelas da terra. Um Merveilleux dandinava-se na sua carruagem, repetindo a cada momento o seu c’est admirable! quando a coisa mais incrível deste mundo é a existência de um semelhante tipo da revolução francesa.
Luis XIII, livre do Cardeal de Richelieu, tinha ao lado uma Bayadère, e parecia não dar fé do seu rival Lord Buckingham, que o seguia a cavalo no meio de um bando de cavaleiros ricamente vestidos.
Esquecia-me dizer que ao lado do Merveilleux ia um Titi de marinha, que atirava concetti em vez de confetti. Era o mais fácil de conhecer, porque a máscara dizia o que ele seria se as moças que o olhavam fossem cordeirinhos.
Em uma das carruagens iam de companhia Temistovles, Soulouque, Benevenuto Cellini, Gonzalo Gonzáles, quatro personagens que nunca pensaram se encontrar neste mundo, e fazerem tão boa amizade.
Se fosse  possível que Temístocles e Benevenuto Cellini passassem esta tarde por uma das ruas por onde seguiu o préstito, estou persuadido que o artista florentino criaria uma nova Hebe mais linda que a da Canova; e que o general antigo rasgaria da história a página brilhante da batalha de Salamina por um só desses sorrisos fugitivos que brincam um momento numa boquinha mimosa que eu vi, e que apenas roçam os lábios como um sopro da aragem quando afaga o seio de uma rosa que se desfolha.
Quanto a Van Dick – que seguia-se logo após – este quebraria o seu pincel de mestre, desesperado por não achar na sua paleta essas cores suaves e acetinadas, essas linhas puras, esses toques sublimes que o gênio compreende, mas que não pode imitar.
Eram tantos os máscaras e os trajes ricos que se apresentaram, que me é impossível lembrar de todos; talvez que aqueles que agora esqueço sejam os mais geralmente lembrados; e, portanto, está feita a compensação.
Como foi este o primeiro ensaio da sociedade, de propósito evitamos fazer antes algumas observações a respeito do seu programa, com receio de ocasionar, ainda que involuntariamente, dificuldades e embaraços à realização de suas idéias. Hoje, porém, essas reflexões são necessárias, a fim que não se dêem para o futuro os inconvenientes que houve este ano.
O entrudo está completamente extinto; e o gosto pelos passeios de máscaras tomou este ano um grande desenvolvimento. Além do Congresso, muitos outros grupos interessantes percorreram diversas ruas, e reuniram-se no Passeio Público, que durante os três dias esteve literalmente apinhado.
Entretanto, como os grupos seguiam diversas direções, não foi possível gozar-se bem do divertimento; não se sabia mesmo qual seria o lugar, as ruas, donde melhor se poderia aprecia-lo.
A fim de evitar esse dissabor, a polícia deve no ano seguinte designar com antecipação o círculo que podem percorrer os máscaras, escolhendo de preferência as ruas mais largas e espaçosas, e fazendo-as preparar convenientemente para facilidade do trânsito.
Desta maneira toda a população concorrerá para aqueles pontos determinados: as famílias procurarão as casas do seu conhecimento: os leões arruarão pelos passeios; e o divertimento,  concentrando-se, tomará mais calor e animação.
Tomem-se estas medidas, preparem-se as ruas com todo esmero, e não me admirarei nada se no carnaval seguinte aparecerem pelas janelas e sacadas grupos de moças disfarçadas, intrigando também por sua vez os máscaras que passarem, e que ficarão desapontados não podendo conhecer através de um loup preto o rostinho que os obrigou a todas estas loucuras. 
Se o Sr. Desembargador chefe de polícia entender que deve tomar essas providências, achamos conveniente que trate quanto antes de publicar um regulamento neste sentido, designando as ruas por onde podem  circular os máscaras, e estabelecendo as medidas necessárias para a boa ordem e para a manutenção da tranqüilidade pública.
Estas últimas medidas são fáceis de prescrever, quando se tem um povo sossegado e pacífico, respeitador das leis e da autoridade, como é o desta corte. Nestes três dias que passaram, o divertimento e a animação foi geral; e entretanto numa população de mais de trezentas mil almas não tivemos um só desastre a lamentar. Exemplos como estes são bem raros, e fazem honra à população desta cidade.
Na terça-feira sobretudo houve no Passeio Público uma concorrência extraordinária. Grande parte das Sumidades Carnavalescas aí se achava; e a curiosidade pública não se cansava de vê-los, a eles e a muitos outros máscaras que também tinham concorrido ao rendez-vous geral deste dia.
Às oito horas da noite o Teatro de São Pedro abriu os seus salões, nos quais por volta de meia-noite passeavam, saltavam, gritavam ou conversavam perto de cinco mil pessoas; era um pandemônio, uma coisa sobrenatural, uma alucinação fantástica, no meio da qual se viam passar figuras de todas as cores, de todos os feitios e de todos os tamanhos.
Muitas vezes julgareis estar nos jardins do profeta, vendo brilhar entre a máscara os olhos negros de uma huri, ou sentindo o perfume delicioso que se exalava de um corpinho de lutin que fugia ligeiramente.
Foi numa dessas vezes que, ao voltar-me, esbarrei face a face com Lorde Raglan, que acabava de chegar da Criméia e que deu-me algumas balas, não das que costuma dar aos russos; eram de estalo. Conversamos muito tempo; e o nobre deixou-me para voltar de novo à Criméia, onde naturalmente não deram pela sua escapula.
À meia-noite em ponto serviu-se no salão da quarta ordem uma bela ceia, que o Congresso ofereceu aos seus convidados e sócios. A mesa estava brilhantemente preparada; e no meio das luzes, das flores, das moças que a cercavam, e dos elegantes trajes de fantasia dos sócios, apresentava um aspecto magnífico, um quadro fascinador.
Bem queria vos dizer todas as loucuras deste último baile até as derradeiras arcadas do galope infernal; mas na quarta-feira de cinzas esqueci tudo, como manda a religião. Por isso ficais privados de muita crônica interessante, de muito segredo que soube naquela noite, mas que já não me lembro.
Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

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Geraldo Majela Bernardino Silva (Funções da Mensagem Literária) Parte 5

4- FUNÇÃO ESTÉTICA, POÉTICA, RETÓRICA ou TEXTUAL:
Aqui a atenção se dirige para os elementos da mensagem utilizados; o signo chama a atenção ou provoca uma reação pelo que ele é, não pela função prática que desempenha ou para que serve. É uma ruptura da norma, não uma ruptura do código. A intenção é produzir obra de arte e não informar. Não cabe aqui explicar as elaborações lingüísticas mas tão somente compreendê-las, fluí-las. É a função do discurso literário. Ela pode, inclusive, englobar as outras funções da linguagem.
Veja-se o seguinte exemplo:
Parolagem da Vida  C.Drummond de A.
“Como a vida muda.
     Como a vida é muda.
    Como a vida é nuda.
    Como a vida é nada.
     Como a vida é tudo.”
Você pode observar que as palavras foram selecionadas e combinadas de maneira que pudessem ser obtidos efeitos sonoros especiais. Para tanto, o poeta utilizou os seguintes recursos:
– a repetição, no início de cada verso da expressào: “como a vida…”
= o emprego, no final dos três primeiros versos, de palavras com finais idênticos: “muda”(verbo), muda (adjetivo) e “nuda”(adjetivo);
– o emprego, no 4o verso, da palavra “nada”(advérbio), de diferente vogal tônica, mas com os demais fonemas idênticos aos da palavra “nuda”, empregada no final do verso precedente;
– o emprego, no último verso, da palavra “tudo”, cuja vogal tônica coincide com as vogais tônicas das palavras finais dos três primeiros versos.
Além de combinar as palavras de forma pouco usual, visando à produção de efeitos sonoros na comunicação da mensagem, o poeta teve ainda o cuidado de selecioná-las a partir de sua expressividade significativa, conforme pode ser observado na antítese nada/tudo, nos dois últimos versos. Esse recurso procura sugerir o sentido contraditório da vida – ao mesmo tempo que “é nada”, “é tudo”, pois é a única coisa concreta de que dispomos.
Vamos agora comentar um aspecto morfossintático observado na estrofe. No 1o verso, o poeta empregou o vocábulo “muda” como verbo (intransitivo), para, no 2o verso, repeti-lo, mas como adjetivo, funcionando como predicativo do sujeito “vida”. É de grande efeito estilístico essa construção sintática, ainda mais quando conjugada com os aspectos de sonoridade e significação, já anteriormente comentados.
Os aspectos relacionados com sonoridade, significação e estruturação sintática, observados na construção da estrofe, não devem, pois, ser vistos dissociados, mas como elementos que se completam para veicular, de uma forma especial, a mensagem a ser comunicada.
Quando as palavras são selecionadas e combinadas segundo critérios semelhantes aos observados na estrofe de C.D.A. que acabamos de comentar, atribui-se à Linguagem a função denominada “estética” (ou “poética”). Esta é a função dominante na linguagem literária (sobretudo nos textos em verso), mas pode ser observada em outras situações de comunicação lingüística, como em ditados populares, letras de música e na linguagem publicitária.
A função estética traduz a intenção deliberada do autor em realçar a mensagem. A linguagem é, portanto, trabalhada de forma especial, a fim de que produza no recebedor os efeitos esperados pelo emissor. Esses efeitos podem ser de naturezas variadas.
Com a função estética a associação não é tão simples e imediata como foi vista nas outras três funções da linguagem estudadas anteriormente.
No trecho do poema de C.D.A. que comentamos, por exemplo, as palavras foram empregadas para exteriorizar o pensamento do autor. Já vimos que foram selecionadas, combinadas e organizadas cuidadosamente, de maneira a sugerir, indiretamente, que o recebedor se detenha na mensagem e reflita sobre ela. O texto não deixa, portanto, de ser uma espécie de “apelo”, se bem que subentendido.
Retomando a classificação de Bühler, podemos considerar, então que a função estética é determinada pelo arranjo especial das palavras, que são usadas simultaneamente como “exteriorização” e “apelo”.
Vejamos mais um exemplo da função estética na literatura. Desta vez, vamos encontrá-la num texto em prosa, extraído do romance GABRIELA, CRAVO E CANELA, de Jorge Amado:
   “Gabriela ia andando, aquela canção ela cantara em menina. Parou a escutar, a ver a roda rodar. Antes da morte do pai e da mãe, antes de ir para a casa dos tios. Que beleza os pés pequeninos no chão a dançar! Seus pés reclamavam, queriam dançar. Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar. Arrancou os sapatos, largou na calçada, correu pros meninos. De um lado Tuísca, de outro lado, Rosinha. Rodando na praça, a cantar e a dançar”.
A função poética se faz presente no texto:
– no ritmo progressivo e ascendente observado na seqüência dos períodos, sugerindo o desejo de Gabriela, crescente e incontido, de brincar de roda com as crianças. Desejo que acaba por se concretizar, conforme se lê nos dois últimos períodos do texto.
– na seleção de palavras terminadas em -ar: escutar, rodar, dançar, brincar.
– na estrutura sintática de alguns trechos:“Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar”
– nas combinações de vocábulos do mesmo radical: “roda rodar”, “brinquedo de roda adorava brincar”.
– nas repetições: “antes da morte… antes de ir…”, “de um lado, Tuísca de outro lado, Rosinha”.
Observação importante: A função estética pode perfeitamente existir no texto, ao lado de outras funções da linguagem. No trecho de Jorge Amado, comentado acima, ocorrem, por exemplo, mais duas funções da linguagem: a INFORMATIVA (“Gabriela ia andando…”) e a EMOTIVA (“Que beleza os pés pequeninos no chão a dançar!”).
Outros exemplos da função estética da linguagem:
– em ditados populares:
“Quem casa, quer casa”.
“Quem não tem cão, caça com gato”.
– em letras de música:
Há muito tempo
que eu sei o que eu quero
Preparo, planto, espero,
Reviro, viro, arreviro (Virá!)
(Gonzaga Jr. – “Meu Segredo”)
Das considerações feitas e dos exemplos dados, podemos concluir que:
a função da linguagem será ESTÉTICA, quando, na veiculação de uma MENSAGEM, for observada a preocupação do emissor em selecionar e combinar as palavras de FORMA ESPECIAL, a fim de se obter maior efeito na comunicação dessa mensagem.
Duas observações importantes:
a)- Do que concluímos acima, pode-se deduzir que a função estética está orientada para a própria MENSAGEM.
b)- Quando estudamos as outras funções, vimos que uma outra relacionava-se diretamente com a mensagem – a função informativa. Temos, portanto, duas funções da linguagem orientadas para a MENSAGEM – a estética e a informativa.
Convém ter em mente que a diferença entre ambas se explica pelo tratamento que o emissor dá à linguagem empregada na formulação da mensagem. Para que fique bem clara essa diferença, vamos retomar um pequeno trecho do texto de Jorge Amado que comentamos anteriormente:
“Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar”.
  Só que o efeito não seria o mesmo observado no texto original. Na segunda construção, a função observada é a INFORMATIVA.
Continua…

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Paraná Poético (Revista Virtual de Poesia do Paraná n.1 = nov/dez 2012)

Prezado Leitor
Você pode fazer o download desta nova Revista Virtual, que terá publicação mensal, com o intuito de divulgar os poetas do Paraná de ontem e de hoje. Sempre um poeta de destaque com sua biografia e poesias de diversos poetas paranaenses, sejam nascidos ou radicados no estado do Paraná.
Neste primeiro número Euclides Bandeira (Curitiba), Antonio Augusto de Assis (Maringá), Lairton Trovão de Andrade (Pinhalão), Nei Garcez (Curitiba) e este que vos escreve, José Feldman (Maringá).
Este primeiro numero possui tão somente 8 páginas, em virtude de que estou com a visão afetada pela diabetes. Mas, para o proximo numero, estarei já restabelecido (tenho fé) e haverá um conteúdo maior. 
Faça o download da Revista clicando AQUI.
Obrigado,
José Feldman

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Yana Moura (Haicais)

Yana é de Picos/PI
SER(VEJA)
etílico olhos
salivando os corpos
solidão em goles
PROTOCOLO
paginam-se os olhos
rodapés em branco
destinatário refúgio
COLIBRI
polinizando a flor
lambuzou o néctar
deixou seu cheiro
SERTÃO GUARIBAS
secos sorrisos
esfarelando o verde
comendo as cinzas
LAPA

descalço no samba
meus olhos levados
alísios das rosas
ACIMA DA CHUVA
quando fui chuva,
olhos fizeram água
desbotaram arco-íris
FOLHAS SECAS
feito cacto resisto
esfarelando as horas
adubando o tempo
SECA
silêncio das cores
folhas secando
olhares de prece
VERNISSAGE
Como uma madeira polida
versos e arte envernizados
na escultura de um poetar
DEVIR
Muda o fluxo
estações e rios
correnteza da essência
SARA-ME
na febre do corte
cicatriz e mertiolate
uma dor de saudade.
SERPENTINAS
Folia de Colombina
no sabor do carnaval
são batuques de samba.
BAÚ
Guarneço nossos recortes
Em palavras que versam o mar
Dentro de paginas fechadas.
BOLAS DE SABÃO
Cores de Nefertite
fantasias de primavera
digerindo amores de outono.
OS BARCOS
Velho olhar anda sobre a luz
derivam os olhos
no fluxo do adeus.
HAIKAI DA SAUDADE SUBITA
Meus passos respiram
saudade terrena
súbita vontade de ti.
Fonte:

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Contos Africanos (Ananse)

Ananse, ou Anansi, é uma lenda africana. Conta um caso interessante, no qual no mundo antigo não havia histórias e por isso viver aqui era muito triste.
Houve um tempo em que na Terra não havia histórias para se contar, pois todas pertenciam a Nyame, o Deus do Céu. Kwaku Ananse, o Homem Aranha, queria comprar as histórias de Nyame, o Deus do Céu, para contar ao povo de sua aldeia, então por isso um dia, ele teceu uma imensa teia de prata que ia do céu até o chão e por ela subiu.
Quando Nyame ouviu Ananse dizer que queria comprar as suas histórias, ele riu muito e falou: – O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu.
Ele pensava que com isso, faria Ananse desistir da idéia, mas ele apenas respondeu: – Pagarei seu preço com prazer, ainda lhe trago Ianysiá, minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
Novamente o Deus do Céu riu muito e falou: – Ora Ananse, como pode um velho fraco como você, tão pequeno, tão pequeno, pagar o meu preço?
Mas Ananse nada respondeu, apenas desceu por sua teia de prata que ia do Céu até o chão para pegar as coisas que Deus exigia. Ele correu por toda a selva até que encontrou Osebo, leopardo de dentes terríveis. – Aha, Ananse! Você chegou na hora certa para ser o meu almoço. – O que tiver de ser será – disse Ananse – Mas primeiro vamos brincar do jogo de amarrar? O leopardo que adorava jogos, logo se interessou: – Como se joga este jogo? – Com cipós, eu amarro você pelo pé com o cipó, depois desamarro, aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa. – disse Ananse. – Muito bem, rosnou o leopardo que planejava devorar o Homem Aranha assim que o amarrasse.
Ananse, então, amarrou Osebo pelo pé, pelo pé e pelo pé, e quando ele estava bem preso, pendurou-o amarrado a uma árvore dizendo: – Agora Osebo, você está pronto para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu uma cabaça com água e atravessou o mato alto até a casa de Mmboro. Lá chegando, colocou a folha de bananeira sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si, e o resto sobre a casa de Mmboro dizendo: – Está chovendo, chovendo, chovendo, vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas? – Muito obrigado, Muito obrigado!, zumbiram os marimbondos entrando para dentro da cabaça que Ananse tampou rapidamente.
O Homem Aranha, então, pendurou a cabaça na árvore junto a Osebo dizendo: – Agora Mmboro, você está pronto para encontrar Nyame, o Deus do Céu.
Depois, ele esculpiu uma boneca de madeira, cobriu-a de cola da cabeça aos pés, e colocou-a aos pés de um flamboyant onde as fadas costumam dançar. À sua frente, colocou uma tigela de inhame assado, amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça, e foi se esconder atrás de um arbusto próximo, segurando a outra ponta do cipó e esperou. Minutos depois chegou Moatia, a fada que nenhum homem viu. Ela veio dançando, dançando, dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até aos pés do flamboyant. Lá, ela avistou a boneca e a tigela de inhame. – Bebê de borracha. Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?
Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecesse que a boneca dizia sim com a cabeça, a fada, então, comeu tudo, depois agradeceu: – Muito obrigada bebê de borracha.
Mas a boneca nada respondeu, a fada, então, ameaçou: – Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou te bater.
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando com sua mão presa na sua bochecha cheia de cola. Mais irritada ainda, a fada ameaçou de novo: – Bebê de borracha, se você não me responde, eu vou lhe dar outro tapa.”
E como a boneca continuasse parada, deu-lhe um tapa ficando agora, com as duas mãos presas. Mais irritada ainda, a fada tentou livrar-se com os pés, mas eles também ficaram presos. Ananse então, saiu de trás do arbusto, carregou a fada até a árvore onde estavam Osebo e Mmboro dizendo: – Agora Mmoatia, você está pronta para encontrar Nyame o Deus do Céu.
Aí, ele foi a casa de Ianysiá sua velha mãe, sexta filha de sua avó e disse: – Ianysiá venha comigo vou dá-la a Nyame em troca de suas histórias.
Depois, ele teceu uma imensa teia de prata em volta do leopardo, dos marimbondos e da fada, e uma outra que ia do chão até o Céu e por ela subiu carregando seus tesouros até os pés do trono de Nyame. – Ave Nyame! – disse ele -Aqui está o preço que você pede por suas histórias: Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, os marimbondos que picam como fogo e Moatia a fada que nenhum homem viu. Ainda lhe trouxe Ianysiá minha velha mãe, sexta filha de minha avó.
Nyame ficou maravilhado, e chamou todos de sua corte dizendo: – O pequeno Ananse, trouxe o preço que peço por minhas histórias, de hoje em diante, e para sempre, elas pertencem a Ananse e serão chamadas de histórias do Homem Aranha! Cantem em seu louvor!
Ananse, maravilhado, desceu por sua teia de prata levando consigo o baú das histórias até o povo de sua aldeia, e quando ele abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo vindo chegar até aqui.
Fonte: 

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 738)

 – Uma Trova de Ademar  – 
Já quase louco de amor, 
envolto num triste enlevo 
ponho toda a minha dor 
no papel…quando eu escrevo! 
–Ademar Macedo/RN– 

 – Uma Trova Nacional  – 
Duas culpas, um pecado
e um remorso a nos doer:
você- que escolheu errado;
eu- que nem pude escolher…
–José Ouverney/SP– 

 – Uma Trova Potiguar  – 
Há uma sombra em meu caminho 
que me segue…e, mesmo assim… 
Nem quer me deixar sozinho 
nem diz o que quer de mim! 
–Prof. Garcia/RN–

 – Uma Trova Premiada  – 
2001   –  Nova Friburgo/RJ 
Tema   –  DETALHE   –  1º Lugar 
Meu perdão foi um tributo
A uma lágrima suspensa:
– um detalhe diminuto
Mas, que fez a diferença…
–Darly O. Barros/SP–

 – …E Suas Trovas Ficaram  – 
No prazer que envolve a gente 
há tanta proximidade, 
que me sinto intimamente 
parte da tua metade. 
–Analice Feitoza de Lima/SP– 

 – U m a P o e s i a  – 
Eu queria a ponteira e o pião 
uma lata de óleo como carro, 
a peteca, uma bola, um boi de barro 
e a gaiola que prendia um azulão; 
tudo isso trago na recordação 
onde age a saudade persistente, 
só o peito percebe o quanto é quente 
a ferrada das letras da lembrança; 
“Eu queria de novo ser criança, 
Pra brincar de criança novamente”. 
Wellington Vicente/PE– 

 – Soneto do Dia  – 

VIDA ESCURA. 
–Cruz e Souza/SC– 
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silencio escuro
a vida presa a trágicos deveres 
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos,
sei que cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!

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Teatro de Ontem e de Hoje (Buffet Glória)

Buffet Glória, escrito por Ilana Kaplan e Élcio Rossini, destaca o trabalho de interpretação de Ilana Kaplan, calcado na caracterização dos tipos e na versatilidade em representar as mais diversas personagens. A comédia marca uma nova parceria da atriz com Élcio Rossini, após o êxito de Passagem para Java, em 1986. Por sua atuação, a atriz recebe indicações e premiações em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
A ação da peça se passa em uma festa da alta sociedade. A ausência da anfitriã na recepção, que se encontra trancada em um quarto da casa, é uma das situações cômicas apresentadas no espetáculo e permite à atriz mostrar sua habilidade em caracterizar os diferentes tipos que se encontram no local, entre eles uma madame esnobe, um executivo, uma bêbada e uma empregada doméstica. Na comédia, André Boll aparece no papel do garçom durante as rápidas trocas das personagens interpretadas por Ilana Kaplan. Em uma cena, em meio à correria dos preparativos, se destaca a riqueza visual dos pratos que são servidos na recepção (enormes frutos do mar criados pelo artista Elton Manganelli). Élcio Rossini, que também é artista plástico, assina a cenografia e a direção do espetáculo. O espaço é composto de três grandes colunas de metal, e são criados elementos cênicos especialmente para a encenação. 
O escritor Luis Fernando Verissimo comenta, logo após a estreia do espetáculo, a interpretação de Ilana: “Ilana Kaplan não surpreende, quem viu Passagem para Java sabe como ela é ótima. Mas acho que em Buffet Glória ela transcende o ótima. É uma comediante para fazer sucesso em Nova York ou Paris ou qualquer outra dessas porto alegres do Norte. Mas, como acontece com os restaurantes que a gente tem medo de recomendar muito e depois não conseguir lugar, fica-se com medo de elogiar demais a Ilana. Numa dessas descobrem que uma das melhores atrizes do Brasil está aqui e nos levam ela embora. Portanto, vá ver o Buffet Glória, ria, aplauda, grite, role no corredor, mas na saída, se alguém perguntar, diga ‘Médio’ “.1
Para o escritor Moacyr Scliar: “O espetáculo é tudo o que dizem, e mais ainda. Trata-se de um ‘one-woman show’: Ilana Kaplan mostra seu talento histriônico interpretando os vários personagens de uma típica festa da classe média alta brasileira. Eis aí uma grande atriz, que faz aquele humor escrachado tão típico do país”.2
Em suas temporadas de 1991 e 1992, em Porto Alegre, Buffet Glória torna-se sucesso de público, sendo um dos espetáculos gaúchos mais assistidos nessa década. Por seu trabalho na montagem, Ilana Kaplan recebe o troféu do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated/RS) de melhor atriz, em 1991.
Em 1993, o espetáculo cumpre longa temporada paulistana nos teatros Hilton e João Caetano. Nelson de Sá comenta sobre a montagem: “Ilana Kaplan é uma humorista. Menos uma atriz, muito mais uma criadora de tipos, ela está o tempo todo a incorporar seres patéticos, confusos. Talvez seja esta a razão pela qual Buffet Glória não funcione tanto quanto prometia: a humorista Ilana Kaplan não cabe num roteiro. Como quase todo comediante, ela é melhor quando ocupa o palco inteiro, sem trama, sem ação, só riso. Fazer rir é o que faz melhor; nada de buscar densidade psicológica nas palavras ou plasticidade nos gestos; já tem muita gente fazendo isso. O que Ilana Kaplan faz melhor é o ridículo, não o belo. […] A comédia de Élcio Rossini, também com André Boll, sobre uma festa em que aparecem personagens como a bêbada ninfomaníaca e uma sogra chata, é um bom cenário para a comediante. Mas Ilana Kaplan é ela, sozinha, o espetáculo”.3 Em São Paulo, em 1993, ela ganha o prêmio de atriz revelação da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp).
No ano de 1994, Buffet Glória realiza uma temporada carioca, primeiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), depois no Teatro Ipanema. No Rio de Janeiro, Ilana Kaplan é indicada ao Troféu Oscarito. Em janeiro de 1995, são realizadas as últimas apresentações da peça Buffet Glória em Porto Alegre. No mesmo ano, Ilana Kaplan se muda para São Paulo, e começa a carreira no teatro paulistano.
Notas
1. VERISSIMO, Luis Fernando. Gente boa. Zero Hora, Porto Alegre, 16 abr. 1991.
2. SCLIAR, Moacyr. Diário de bordo. Zero Hora, Porto Alegre, 30 jun. 1991.
3. SÁ, Nelson de. Diversidade: um guia para o teatro dos anos 90. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 160.
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Eliezer Demenezes (Poemas Escolhidos)

Nasceu em Fortaleza, Ceará, a 11 de Março de 1910. Filho de Francisco Simões da Costa e Maria de Menezes Costa.


Residiu no Rio Grande do Sul desde os 17 anos de idade, onde fundou e dirigiu a revista “Clímax”, de feição tipicamente moderna. Pertenceu ao grupo chamado do Sul, ligado à Editora Globo, colaborando na “Revista do Globo” e “ Província de São Pedro”, e nas outras revistas e jornais daquele Estado. 

Em 1942 foi para o Rio de Janeiro.

Bibliografia
“Poemas da Hora Amarga”, 1943 – Porto Alegre.

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” CANTIGA DE AGORA E SEMPRE “
Veio o vento. Veio a chuva.
Foi-se a lava. Onde o céu.
Um chão riscado de mágoas.
Um mar revolto de sonhos.
Perdido alguém sem razão.
Caiu a estrela no fundo.
Fundiu-se o astro nas algas.
Luziu o fogo, – por quem.
Estradas de não sei onde
cruzando o destino meu.
Apelos de toda parte
– caindo em brasa nas almas,
torcendo as rotas do mundo.
Cantiga de agora e sempre.
A! Meu amigo sem face,
meu irmão que não tem nome,
– tão em mim e além eu, –
murchou a rosa dos ventos
no caule de tuas mãos!
” DULCE, – MAR, ESTRELA E SONHO “
Dulce, – mar, estrela, sonho.
Mar de estranhas águas e roteiros.
Estrela e sonho em minha mão.
Que primeiro barco te singrara.
Que primeiro gesto te colhera.
Estrela e sonho em minha mão.
Mar de aventuras e naufrágios,
longas vozes ressoam no teu corpo,
e há tesouro submerso e navios perdidos em ti.
De que longínquo céu caíste em chamas.
Estrela e sonho em minha mão.
Há em tuas margens enseadas e abrigos,
Há no teu seio, – ilhas.
E passeio neles como um peixe ou uma nuvem,
Mar que mergulho, e afloro, e navego.
Estrela e sonho em minha mão.
” ELEGIA À BRANCA IRMÃ “
É, inútil inscrever o teu nome
na pauta perdida do sonho.
Correm lágrimas na face das esfinges
e no rosto dos mortos.
Agora a desolação.
Talvez, algum dia,
possa se inscrever com a mão pesada e dolorida de séculos
o teu simples nome de três letras, ingênuo e promissor.
Agora o insossego.
Agora a devastação.
As fontes secaram na alma dos homens.
Agora é inútil o teu nome.
Estou triste e desolado
como o leito sem água de um rio, abrasado de sol.
” POEMA À AMADA CONSTANTE “
Teus olhos estão lânguidos.
E nascem cardos e urzes no meu pensamento.
Teus lábios falam promessas e pedem consolo.
E sou a árvore muda destroçada pela tempestade do mar.
Me convidas para a viagem da tua ternura.
E me obstino em ignorar a tua presença compassiva,
em comer os frutos maus e amargos da terra,
em procurar o teu oposto e a tua negação,
quando tudo em mim arde por ti, minha paz e meu bálsamo.
Minha vida e meu chão estão cheios de cinzas, –
não manches a tua túnica límpida
pois quero-te assim branca e pura.
Meus ouvidos transbordam de gritos.
Minha garganta sufoca-se de brados.
E no meu mar interior
andam barcos de velas negras,
e feios pássaros de bico recurvo,
e é noite, sempre noite sobre as águas…
Espera,
que voltarei com meu lado melhor, redimido e teu.
” POEMA A MINHA MÃE MORTA QUE NÃO CONHECI “
A tua mão pálida e ausente
tracejando bênçãos sobre meus sonhos aflitos.
Onde estas que apenas te suponho.
Na raiz dos meus pensamentos
Na força obscura dos meus desejos melhores
És talvez esse vôo desgarrado de esperanças,
que há em mim.
És talvez esse veleiro em mar alto à procura de náufragos,
que há em mim.
Na minha vida és como uma ficção ou a lenda de um milagre.
Algo que ficou intangível e suspenso.
Entretanto,
eu guardo na boca a impressão do teu seio
e o gosto do teu leite e do teu sangue.
As palavras, a ternura, os devaneios teus
que se fundiram no silêncio
repousaram na minha carne, certamente.
A tua face esta voltada para mim em mim mesmo,
e talvez só agora que a reconheci
eu possa me chamar de teu f ilho.
Fonte:
 Antologia da Nova Poesia Brasileira.  J.G . de  Araujo Jorge – 1a ed.   1948 . 

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