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Clevane Pessoa (Juiz de Fora em Trovas)


As almas de muita gente
são como o rio profundo:
– A face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!…
(Belmiro Braga )

Voltaste enfim e eu confesso
que já prevejo, querida,
na alegria do regresso,
novo adeus de despedida.
(Célio Grunewald)

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isto seria
trocar tristeza somente.
(Cezário Brandi Filho)

Há na tragédia da fome
este mistério profundo:
É Cristo quem se consome
em cada pobre do mundo.
(Clevane Pessoa de Araújo)

Na Vila Rica de então,
quis o destino imprevisto,
que um pobre artista sem mão
esculpisse as mãos de Cristo.
(Dormevilly Nóbrega)

Quando a miséria desponta,
lá no morro, a garotada,
brincando de faz-de-conta,
tudo tem, não tendo nada.
(Dulcídio de Barros M. Sobrinho)

A saudade é simplesmente,
um claro espelho encantado,
mira-se nele o presente
e ele reflete o passado.
(Geralda Armond )

Não julgues pelo semblante
a honra alheia, meu filho:
– Na lua, a face brilhante
oculta a face sem brilho.
(Hegel Pontes)

Todo sonho é dolorido,
porque nele nós supomos,
que somos (sem termos sido)
o que pensamos que somos.
(José Antonio Jacob)

Relógio, legado antigo
que minhas horas recorda…
quem lhe dará corda, amigo,
quando acabar minha corda?…
(José Carlos de Lery Guimarães )

Juntamos nossos farrapos
naquele rancho sem flor:
era a miséria dos trapos
numa fartura de amor.
(J.Guedes)

Passa por mim, não me vê…
– Talvez não me olhe jamais…
Não me conhece porque
eu a conheço demais!
(Manoel de Oliveira Costa )

No boteco do Zé Galo
tanto a sujeira se agrupa
que servem bife à cavalo
com mosquito na garupa.
(Messias da Rocha)

Na hora incerta do revés,
pensa o marido nas ruas:
– Bebo duas… volto às dez
ou bebo dez… volto às duas!
(Osvaldo Mascarenhas)

Não há criança vadia…
E as que esmolam a teus pés
são anjos que Deus envia
para saber quem tu és.
(Roberto Medeiros)

A mentira é sonho lindo
neste meu mundo encantado.
Sonhando, minto dormindo,
mentindo, sonho acordado.
(Sinval Cruz)

Seu critério nas consultas
é talvez dos mais sutis:
é cobrar contas adultas,
pelas curas infantis.
(Sylvio Machado )

Fonte:
Trovas selecionadas por Clevane Pessoa, de 1960 a 1980.

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José Tavares de Lima (Caderno de Trovas)

Confesso que, fascinado
por tua graça invulgar,
se te amar foi um pecado,
não sei viver sem pecar!

Porque te dei muito amor
fiquei só… Pois não sabia
que vai perdendo o valor,
o que é dado em demasia!…

Se o amor que te dou te espanta
de tão grande, eis o motivo:
és a seiva; sou a planta;
se me faltares… não vivo!

Amar-te em segredo aceito,
mas tens que entender meu ais,
porque te amar deste jeito
é doloroso demais!…

Foi o amor que nos unia
tido como insensatez…
Mesmo assim, como eu queria
ser insensato outra vez!

Por culpa de alguns receios
e de tolos preconceitos,
somos, hoje, dois anseios
que não foram satisfeitos…

Vence o receio e confia
nos teus sonhos; pois, em suma,
sem um pouco de ousadia
não se alcança coisa alguma!

Esquecer-te? De que jeito?!…
Teu receio é sem motivo,
porque, dentro do meu peito,
tens lugar definitivo!

O receio evidencia,
às vezes, sábia conduta;
mas disfarça a covardia
de alguns que fogem da luta!

Muito te amo. Podes crer.
Mas tenho um receio louco
de que, para te prender,
todo este amor seja pouco!

O sujeito caloteiro
diz ao cobrador que insiste:
– hoje eu não tenho dinheiro,
mas volte… Milagre existe!…

Nunca dizia: “não pago”.
Mas em calote doutor,
simulava que era gago
até cansar o credor!

Lamenta-se o caloteiro:
– O meu ganho anda precário…
– Está faltando dinheiro?
– Não! Está faltando otário!

Mas o que faz esse “artista”?
– Pensa em calo o dia inteiro.
– Quer dizer que ele é calista?
– Negativo… é caloteiro!

Que eu devo partir, urgente,
ela entende, e não replica…
mas, em súplica silente,
seus olhos me dizem: fica!

Fazer prece a todo instante
tão importante não é;
para Deus, mais importante
é o suplicante ter fé…

Partes, alheia aos meus ais,
mas te suplico, sincero:
mesmo que não venhas mais,
fala que vens… que eu te espero!

A quem, lutando, persegue
um sonho que não alcança,
suplico a Deus que não negue
o consolo da esperança!

Que não me queres, sei bem…
Suplico a Deus, mesmo assim,
que transforme o teu desdém
num pouco de amor por mim…

Diz, louquinha pra casar,
a viúva, num gemido:
só eu sei como é ficar
dez anos sem ter marido!…

No sufoco que o atormenta
geme o velhinho, intranqüilo:
a mulher com mais de oitenta
voltou a pensar naquilo!…

Gemendo, diz: meu marido
só me chama de canhão!…
E ao vê-la, alguém, distraído:
seu marido tem razão!

Passa linda… do alto, a lua
surpresa ao ver tanta graça,
ilumina mais a rua
no momento em que ela passa !

Dói-me tanto a ausência tua
que, imerso na angústia imensa,
se a noite é linda ou sem lua,
nem percebo a diferença!…

Numa imagem que revela
contrastes da vida ingrata,
a lua cobre a favela
com lindo lençol de prata!

No momento em que partiste,
a lua, no céu, sozinha,
me pareceu muito triste…
mas a tristeza era minha!

Se em meu rumo há névoa e abrolhos,
nem assim me intranqüilizo:
tenho as luas dos teus olhos;
tenho o sol do teu sorriso!

Topa um “programa” vovô?
E o velhinho, triste, fala:
– agora, borocoxô,
só topo o pé na bengala!

Uma topada incomum
a minha vizinha deu.
Não feriu dedo nenhum
mas a barriga… cresceu!

A “feia” caça um marido.
Porém ao vê-Ia, há quem diga
que só um doido varrido
pode topar essa briga!…

Veja o golpe do Clemente:
– diz que foi uma topada
que o fez cair, justamente,
lá na cama da empregada!

Não tem marido, contudo,
vai, de topada em topada,
a Maria topa-tudo,
aumentando a filharada!

O nosso amor sem recatos
é uma loucura, porém,
nós somos dois insensatos
felizes como ninguém!…

Para voltar, não me peças…
seria uma insensatez
eu crer nas tuas promessas,
e arrepender-me outra vez.

Não sei bem por que partiste;
mas para o gesto insensato
eu sei que o remédio existe:
teu regresso imediato!…

Mente quem diz que não fez
durante a vida, algum dia,
a gostosa insensatez
de amar a quem não devia…

Por amor eu sou capaz
de fazer insensatez,
daquelas que a gente faz
sem lamentar por que fez…
=================
A biografia de José Tavres de Lima se encontra em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/02/jose-tavares-de-lima.html

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Trova 124 – Arlindo Tadeu Hagen (Juiz de Fora/MG)

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11 de março de 2010 · 23:39

Trova 122 – Cícero Rocha (Juiz de Fora/MG)

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9 de março de 2010 · 21:03

Heloísa Zanconato Pinto (Juiz de Fora em Trovas)

Praça da Estação de Juiz de Fora
colagem e pintura de Sonia Rezende
Parece que um anjo arruma,
no céu, a luz das estrelas:
de dia, apaga uma a uma…
E à noite, torna a acendê-las!

Eu não sou Mago, nem Santo,
mas na magia do amor
hei de quebrar teu encanto;
Fazer-te escrava… e, eu, Senhor!

Posso doar-te a ventura
na transfusão do que anseias,
pois, mais que sangue, é ternura
o que me corre nas veias!…

Mãe, teu sangue é abençoado,
pois Deus concedeu-te os meios
de doá-lo ao filho amado
na transfusão dos teus seios!

A ofensa mais dolorida,
que à humilhação se compara,
é quando a mão estendida
leva uma “porta na cara”!

É meio a meio, eu garanto,
a culpa de meus pecados,
pois só deixei de ser santo
quando aceitei seus agrados!

Seja cobrado… ou de graça,
num paradoxo profundo,
por melhor que algo se faça,
não se agrada a todo mundo!

A tristeza mais pungente…
aquela que ninguém vê,
é a que dói dentro da gente
e a gente sabe por quê!

A saudade me garante,
já que a tristeza persiste,
que eu devo, de agora em diante,
me acostumar a ser triste!

Ao ser preso lamentou
o português trambiqueiro:
– Em meu trambique faltou
o “jeitinho brasileiro”!…

Porque a Suíça distante
Veio às terras brasileiras,
No peito dessa imigrante
Tremulam duas bandeiras!

– Como manter a esperança?…
Indago a Deus, de mãos postas.
E Ele, de andança… em andança,
vai me mostrando as respostas!

Segue a neta, em gesto terno,
com o avô pelas calçadas:
– É a Primavera… e o Inverno
passeando de mãos dadas!…

Porque, sempre, nas vitórias,
logrei o apoio de alguém,
eu reparto as minhas glórias
com meus amigos também!

Brota emoção com fartura
e o peito explode à vontade,
sempre que o amor se mistura
à essência de uma saudade!…

Considerando-se a essência
de quem não faz o que diz,
sua distinta aparência
é simplesmente “verniz”.

Se ao romance eu me refiro,
a moçada de hoje em dia
me responde que suspiro
se encontra… em Confeitaria!

Quando a mão de Deus descerra
o inverno que a neve traz,
esconde o verde da Terra,
mas dá-lhe o branco da paz!…

Compositor caipirinha
foi à praia no verão…
E em vez da ousada sunguinha,
levou seu “Samba-Canção”!

No verão, em grande estilo,
o biquíni bem mostrava:
nas gordas sobrando “aquilo”
que nas magrelas faltava!

Verão pra gordo é tortura,
pois ao dobrar-se em si mesmo,
nas preguinhas da gordura
derrete que nem torresmo!

A sorte faz que eu prefira,
talvez de modo incomum,
qualquer amor de mentira,
a não ter amor nenhum…

Feito a chama de uma vela
que se esvai no alvorecer,
qualquer poder se esfacela
ante o Supremo Poder! …

Padece a Nação inteira
e explodem forças armadas,
quando a Sorte põe, arteira,
o poder em mãos erradas! …

Por entender que ela o escuta,
seu canto pode alcançá-la…
por isso a lua se enluta
quando um boêmio se cala!…

Expulsou-me!… E por castigo
eu feri sua vaidade,
pois, fui, levando comigo
tudo o mais… menos, saudade!

O Destino irreverente,
pôs no mundo, por capricho,
bicho com cara de gente,
gente com “jeito” de bicho!

Eternos não são os meus risos;
nem meus momentos tristonhos…
Mas, sendo bem mais precisos,
serão eternos meus sonhos!

– Se um dia eu virar defunto,
vou ser na rede, enterrado.
– Que melhor caixão, pergunto,
pra quem viveu “pendurado”?…

Nosso conflito, suponho,
deu-se em razão de um defeito:
coração, é que o teu sonho
era maior que o meu peito!

Dois seres entrelaçados
no amor da eterna união,
são corações afinado
pelo mesmo diapasão!

O galo mostrava a zanga
ciscando de lá pra cá,
depois de “pegar” a franga
no ninho do carcará!…

O solitário modera
seus passos no viajar.
Quem não tem ninguém à espera,
não tem pressa de chegar!…

O nosso amor clandestino,
vivendo à mercê da sorte,
viaja pelo Destino
sem carimbar passaporte!…

Superando a hora prevista,
viaja o trem a correr.
– Subornei o maquinista
pela pressa de te ver!…

O Destino se afigura
aquela torre elevada
que oferta o gozo da altura
pelo suplício da escada!…
————-

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores/ Juiz de Fora,MG
Pintura = Estação em tres tempos – de Sonia Rezende

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Heloísa Zanconato Pinto

Heloísa Zanconato Pinto é fluminense, de Resende, mas residente em Juiz de Fora-MG desde a juventude. É casada com Romero Tostes Pinto, sendo pais de Paulo Romero e Marcelo, ambos Trovadores, e, atualmente, Vovó-coruja de Francisco, que é filho do Marcelo, e que provavelmente, seguirá os passos dessa família que traz, no sangue, o abençoado vírus da Trova.

Heloísa pertence à UBT de Juiz de Fora, onde ocupa o cargo de Vice-Presidente de Cultura. É Escritora, Poetisa Clássica e Trovadora, tendo conquistado várias premiações no Brasil e em Portugal. É membro da Acadenia Mineira de Trovas, Cadeira 26 – Patrono Graziela Lydia Monteiro.

Fez-se Trovadora em 1988, e, como tal, conquistou vários troféus, inclusive o prêmio “Menestrel da Trova”, na categoria “A Trova Mais Criativa de 1995”. Já foi nome de Troféu em Barra do Piraí e em Porto Alegre. Foi premiada muitas vezes em todos os concursos e Jogos Florais. Ela, além de grande Trovadora , é muito simpática e querida por todos os Trovadores. Acima de tudo é incansável batalhadora pela Trova.

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores/ Juiz de Fora,MG

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José Tavares de Lima (Juiz de Fora em Trovas)

Estação Ferroviária de Juiz de Fora antes de 1955

Não merece glória tanta
quem só vence… O mais valente
é quem perde e se levanta
para lutar novamente.

Quem por ser pobre reclama,
precisa entender, também,
que a flor nascida na lama
não perde a essência que tem…

Crê na voz sábia e madura,
porque na vida, em essência
erra menos quem procura
ouvir mais a experiência

Conserva do amor a chama
dentro do peito, acendida,
porque quem vive e não ama
não vive a essência da vida!

Quando alguém não tem desculpa
para a sua insensatez,
o destino paga a culpa
por coisa que nunca fez!…

Amo-a muito, porem preso
ao meu destino severo,
me obrigo a fingir desprezo
pela mulher que mais quero…

Esquece a luta perdida
porque, mais que insensatez,
lembrar fracassos na vida é
fracassar outra vez!

Sem ter carícias tuas,
nas longas noites, sem sono,
sou boêmio pelas ruas
cantando o meu abandono.

Espero-a… A noite está fria,
mas não desisto… Ouço passos…
E o prêmio da teimosia
vem se acolher nos meus braços!…

Raimunda trabalha em venda,
mas agora não se cansa
de dizer que aumenta a renda
movimentando a “poupança”…

Não foi musa de um momento…
Desde que a vi, deslumbrado,
alugou meu pensamento
por tempo indeterminado!

Se em meus poemas dispersos
falo sempre de fracassos,
é que a musa dos meus versos
vive ausente dos meus braços!

Sozinho, não desespero,
pois no verso encontro alento…
Não tenho a musa que eu quero,
mas tenho a musa que invento!

Musa, depois que partiste,
sem teu carinho, perdido,
o meu verso de tão triste
parece mais um gemido.

Sem ter ninguém, pela rua
eu faço a minha seresta,
cantando versos à lua:
a musa que ainda me resta!…

Na praia, alguém grita: gente,
dois carecas se afogando !
– Outro diz: calma, é somente
um nudista mergulhando…

Nortista careca é triste
e é justo que se entristeça,
porque nem peruca existe
que caiba em sua cabeça

Por quem não me quer, carrego,
no peito um DESEJO infindo
desejo que, de tão cego,
nem vê que estou me iludindo…

Tenho ambições, mas ciente
de que tudo tem limite,
DESEJO aquilo somente
que o meu alcance permite

Outros desejos profundos
não superam meu DESEJO
de transformar em segundos
as horas que não te vejo

Pelo teu sonho peleja,
sem desistência ou cansaços
Ninguém colhe o que deseja
apenas cruzando os braços

Ser feliz sem tua estima
nem tento que não tem jeito…
Felicidade não rima
com DESEJO insatisfeito

Deu trambique sim senhor!
Não negue que estou sabendo…
— Responde o Salim: “Doutor,
eu nunca dei nada… Eu vendo!”

Pequei. Fiz a insensatez
de amar a quem não devia…
Mas, por amor, outra vez,
sem remorso eu pecaria!

Sei que o remorso é pungente”
não ter remorso, porém,
se consegue facilmente.
Basta só fazer o bem!

Parti cego a seus acenos…
Hoje, o remorso me diz
que por motivos pequenos
eu sou um grande infeliz!

Porque a deixei, hoje, triste,
a viver só me sujeito…
E o remorso, dedo em riste,
me condena e diz: bem feito!

Quem magoa um sernelhante
não vê, na sua cegueira,
que a ofensa dura um instante,
e o remorso… a vida inteira!

Por preguiça, o sêo Ramalho
fecha um olho ao se deitar,
para não ter o trabalho
de abrir dois quando acordar!

Volta… põe no rumo certo
minha vida sem comando…
Terás um portão aberto
e dois braços te esperando!

Se quer vencer, lute então
Com todo o empenho que possa;
Deus nos aponta o portão…
Abri-lo é tarefa nossa!

No teu adeus, com desgosto
do portão eu te acenava…
Havia um riso em meu rosto,
porém meu peito chorava.

O vício, ilusão malvada
que arruina qualquer vida,
tem largo portão na entrada,
porém, estreita saída!…

Meu peito, embora magoado
porque partiste, confesso:
é portão escancarado
aguardando o teu regresso!

Colonizou-te o suíço.,
Mas, Friburgo hospitaleira,
Tua raça, teu feitiço,
Têm, a marca brasileira!

Escolha a pessoa certa
para entregar-se, querida.
– Mamãe, quando a fome aperta,
não dá pra escolher comida!…

Tô num aperto tremendo!…
É por falta de dinheiro?
E o amigo se contorcendo:
É por falta de banheiro!…

Chorando os seus desacertos,
a solteirona assanhada
diz que precisa de “apertos”
e não de vida apertada!

Tanto ele aperta a pequena
que o guarda, voz pouco amiga,
pergunta, assistindo à cena:
isto é namoro ou é briga!

O Zé que vive apertado,
mas sonha um viver tranquilo,
de tanto “esperar sentado”
já criou calo “naquilo”!

Meu coração não resiste
e adora não resistir
a essa magia que existe
no teu jeito de sorrir!…

O amor que é paixão, que é febre,
põe, com a sua magia,
na nobreza de um casebre
a riqueza da alegria!

Tem ela poderes tantos
de sedução, de magia,
que, escravo dos seus encantos,
nem me lembro de alforria!

Da viagem, dos cansaços,
depois eu falo à vontade;
primeiro deixa em teus braços
que eu mate a minha saudade!

Sabe quem perde e não para
de lutar, sempre otimista,
que a derrota nos prepara
para a futura conquista …

Não falar de coisa triste
com muito agrado eu queria…
Porém, depois que partiste,
como falar de alegria?…

Só peço a Deus uma graça:
que nunca uma despedida
destrua este nó que enlaça
minha vida à tua vida!

Não falar de coisa triste
com muito agrado eu queria…
Porém, depois que partiste,
como falar de alegria?…

Não fales mal de quem trilha
um venturoso caminho…
Se a tua estrela não brilha,
não tem culpa a do vizinho.

“Sua estrela brilha forte;
o que eu vejo não me engana…”
– Coitada, ao ler minha sorte,
nunca errou tanto a cigana!

Nosso motel não tem cama,
mas tem rede … Vão topar?
E o jovem casal exclama:
– Nós não viemos pescar…

Planta, a cada frustração,
outro sonho em tua estrada…
Antes crer numa ilusão
do que não crer mais em nada!…

Luta, e com mão destemida
traça teu rumo e conduta,
antes que sejas na vida
um derrotado sem luta!…

Viva a vida; mas, cuidado!
Precavido, não se esqueça
de construir seu telhado
antes que a chuva aconteça!..

Tarda a chuva; e, por Deus chama
o nordestino apreensivo,
vendo a seca armar seu drama
com cenas de fome ao vivo!

Não fales com toda gente
dos teus tormentos e anseios…
Pois há quem fique contente
ouvindo os dramas alheios!

Sangue azul não tenho, sei;
de um plebeu sei que não passo,
mas sou feliz como um rei
no momento em que te abraço!

Ofensa dói, reconheço;
mas a tua indiferença
ao amor que eu te ofereço…
Dói muito mais que uma ofensa!

Não queiras, na desavença,
ofender quem te ofendeu,
pois quem revida uma ofensa
merece a que recebeu!

Para ver-te, de tão louco
nem meço a distância imensa…
A viagem cansa um pouco,
mas o prêmio, recompensa!

O inverno que acinza os dias,
insiste em mostrar, sem dó,
que em noites longas e frias
sofre mais quem vive só!…

Pode ventar ou chover…
eu, nos teus braços agora,
nem perco tempo em saber
se tem inverno lá fora!

Da mulher muito carente
seu Brochado anda arredio:
no verão, porque está quente
no inverno porque está frio!

Quando me abraças e dizes:
“-Vivo do amor que te dou…”
O mais feliz dos felizes
não é feliz como eu sou!

Dói-me não estar contigo
e ter que abafar meus ais;
mas, deste amor que eu não digo,
guardar segredo dói mais!

Na dor, não lamente a sina…
Quem no peito a fé conduz,
por entre a densa neblina
descobre raios de luz !

Depois que te foste embora,
eu vejo, ante o amor desfeito,
que o sol resplende lá fora…
Mas há neblina em meu peito!

Meu coração que sofria,
finalmente hoje se solta
das amarras da agonia
feliz com a tua volta!

Muitos sonhos de venturas
são cascatas de ilusão:
encantam, lá das alturas,
mas se desfazem, no chão…

Em cascatas de poesias
eu transformo, comovido,
o rio de águas sombrias
que a minha vida tem sido…

Quando a Graça na lambada
requebra seu corpo jovem,
a turma fica assanhada,
vendo as “graças” que se movem.

Partir grilhões eu não quis …
Com teu amor, todavia,
sou um escravo feliz
que não reclama alforria! …

A beleza que estonteia
não é tudo, mas eu digo:
– cafuné de mulher feia
não é carinho… é castigo!

Esquece o triste passado
que te deixa descontente…
Se o teu “ontem” foi nublado,
põe um sol no teu “presente”!
———–

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Trova 112 – Manoel Martins de Oliveira (Juiz de Fora/MG)

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28 de janeiro de 2010 · 14:00

Trova 103 – José Tavares de Lima (Juiz de Fora/MG)

Trova montada sobre desenho de Pedro Emmanuel

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Trova LII

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13 de setembro de 2009 · 23:03

Cecy Barbosa Campos (Cristais Poéticos)

ÁLBUM

Desfolhando o velho álbum de retratos,
que jazia abandonado em alguma prateleira,
relembrei pessoas, que estavam esquecidas,
e não reconheci imagens que eram minhas.
O tom amarelado esmaecia
sorrisos jovens que ficaram tristes:
tirava o viço de vidas tão distantes
e que, um dia, foram parte de minha vida.
Entre as velhas amizades retratadas,
revi amigos dos quais eu lembro os nomes
e outros, dos quais, nada mais resta,
porque ficaram perdidos pelo tempo.
Ao contemplar aquelas fotos desbotadas,
vou rejuntando, aos poucos, os pedaços
de uma história que nem sei se já vivi.

(poesia classificada com menção honrosa no Concurso Nacional Amizade em Prosa &Verso)
––––––––––––––––
CENA COTIDIANA

O cidadão de bem foge aterrorizado –
tenta escapar de seus perseguidores
que não sabe quem são.
Sente-se acuado por sombras indistintas
que espalham a morte
sem alvo definido e sem motivo algum.
A mãe, levando o filho à escola,
tem a rotina diária interrompida
e, escondendo-se atrás de uma barraca,
tenta proteger com seu corpo magro
a criança que chora, apavorada.
Por outro lado surgem mais atiradores,
misturam-se bandidos e policiais
não identificáveis como seres humanos
e irreconhecíveis como animais.
O fogo cruzado vai se intensificando
e a bala perdida atinge mais alguém
no dia a dia de terror, na cidade grande.
Esse crime é mais um que não será computado
nas listas estatísticas, de tão banalizado.
A bala perdida que hoje mata
um cidadão de bem,
torna-se apenas
uma repetitiva notícia de jornal.
================

Cecy Barbosa Campos é natural de Juiz de Fora, MG. Graduada em Direito e em Letras – Inglês, pela UFJF, especialista em Teoria da Literatura – UFRJ e Mestre em Letras, Teoria da Literatura – UFJF. Professora aposentada da UFJF, atualmente leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, disciplinas Língua Inglesa, Literatura Norte Americana e Literatura Inglesa. Publicações: artigos em revistas especializadas e anais de Congressos e os livros The iceman cometh: a carnavalização na tragédia e O reverso do mito e outros ensaios.

Fontes:
http://poetasencena.blogspot.com/
– ALBUQUERQUE, Aníbal (org.). Amizade em prosa & verso. Vargina, MG: Edições Alba, 2007.

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Trova XLIV

Trova sobre cartoon do Nani

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