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O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 8, final


TAPAJÓS, Paulinho. Verde que te quero ver.

Aborda o tema ecologia, por meio da lenda de Luana, a menina-flor. Fabiano, um menino que ama a natureza, está descontente com o destino do planeta e decide organizar, com os amigos, uma passeata em defesa da ecologia. Na madrugada que antecede o evento, conhece Luana e sua história. Na manhã seguinte, julga ter sonhado, porém, na passeata, reencontra a menina- flor .

TELLES, Carlos Queiroz. Anhemby piá Tietê menino.

Apresenta a história poética de três curumins que assistem desolados à poluição do Tietê e de seus principais afluentes, o Tamanduateí e o Pinheiros. Inconformados, os indiozinhos resolvem agir.

TENÊ. A estrela.

Narra a lenda de um curumim que encontra uma estrela, utilizando-se de uma linguagem acessível para crianças pré-alfabetizadas.

VASCONCELOS, José Mauro de.Kuryala: capitão e Carajá.

Narra a história de Kuryala, desde seu nascimento a sua infância e adolescência, fase dos preparativos para tornar-se homem e, principalmente, futuro capitão Karajá, líder de seu povo. Orgulho dos pais, Kuryala é um menino bom e passa depressa de um rapaz bom para um homem melhor. Recebe como esposa Akurriro e entre os dois nasce um grande amor e companheirismo, além de tornar-se um grande chefe, muito respeitado e amado por todos. Até que, um dia, uma doença nos olhos o cega para sempre, levando-o à renúncia do cargo de capitão. Desse momento em diante, sua vida começa a degradar-se, ele cai no esquecimento do povo como capitão de honra, até chegar a velhice impiedosa, e com ela o frio, a fome e a morte de Akurriro, que há muito se tornara os seus olhos, a sua vida. Finalmente, Kuryala parte para as terras de Tahiná-Kan, onde só há paz e amor.

VERÍSSIMO, Érico. As aventuras de Tibicuera.

Aborda as aventuras de Tibicuera, contadas por ele próprio. O herói narra sua viagem através do tempo, a qual começa numa taba Tupinambá, antes de 1500, e termina num arranha-céu de Copacabana em 1942.

VIEIRA, Isabel. O último curumim.

Conta a história de um curumim, Tarek, que durante dois anos vaga pela floresta sozinho e ferido, até chegar a uma fazenda em Goiás. Os irmãos Lico, Hugo e Bela, de férias na fazenda do avô, são os primeiros a terem contato com Tarek, alimentando-o e curando suas feridas. Muitas brincadeiras acontecem entre as crianças, que já se comunicam com grande naturalidade, o que as auxilia na descoberta da história de Tarek. Vó Gilda é a primeira adulta a descobrir a presença do curumim, e, a partir de então, começam a tomar providências a respeito do destino do indiozinho. Fazem contato com Serviço Indigenista Nacional e, por meio de antropólogos e sertanistas, descobrem que Tarek é um sobrevivente Ubá-Uná, sendo este levado ao encontro dos seus. Na presença deles, ficam surpresos quando descobrem que o cacique, Enaré, é o pai de Tarek, do qual havia se perdido na ocasião do massacre de sua aldeia.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. Kanassa – o grande pajé.

Conta a história do velho pajé Kanassa, que, ao visitar seus amigos, determina a cada um deles uma alteração em seus corpos. O mutum fica com um enfeite de penas na cabeça, o jacaré com um ralo nas costas, os patos passam a nadar e alguns pássaros cantam bem alto ao encontrarem água na mata.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. Morená – a praia sagrada.

Conta a história de Morená, a praia sagrada, que se forma na confluência dos rios Kuluene, Ronuro e Batovi, onde o criador Mavutsinin criou os índios.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando.O rei e o menino índio.

Narra a visita do rei da Bélgica a uma aldeia do Xingu e sua relação com as crianças, em especial com Acanái, quando o menino caça um pequeno passarinho.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. Tamacavi – o gigante.

Narra a história do gigante Tamacavi, que habita as margens da lagoa de Itavununo. Tamacavi é temido e invejado pelos vizinhos, que decidem matá-lo e comê-lo a fim de adquirirem seus poderes. Porém, quando matam Tamacavi e comem sua carne, morrem envenenados.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. O Tamoin e a onça.

Narra a história do velho índio Tamoin, contador de histórias para a criançada, e seu encontro com a onça, que lhe dá de presente um jabuti.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. Xingu: os contos do Tamoin.

Mostra o diálogo entre índio e “civilizado”, acerca de sua maneira de viver, seu modo de ser, de agir e de se relacionar entre si. Os contos do Tamoin são verdadeiros e não criação dos autores.

VILLAS BÔAS, Cláudio; VILLAS BÔAS, Orlando. Xingu: os náufragos do Rio das Mortes e outras histórias.

Narra-se, em Os náufragos do Rio das Mortes, a viagem e a tragédia vivida por náufragos no Rio das Mortes, assim como o seu resgate e retorno ao povoado de São Domingos. Ao se dirigirem para o local do naufrágio, visando a resgatar as vítimas, os sertanejos Idalino e Ladislau recordam-se da par ticipação na Expedição Roncador Xingu e a terceira tentativa de contato com os índios Xavante, coordenada por Francisco Meireles, do Serviço de Proteção ao Índio. Apresenta, ainda, outras histórias, como: O bamburro do Baiano; Um conto antigo; A perdida; Monólogo do Zé Negrinho.

WATANABE, Luci Guimarães. Os fantasmas da rua do canto.

Aborda a História do Brasil e dos povos que contribuíram para a sua formação. Em destaque, um casarão construído no século XVIII e uma história de amor interrompida por um trágico acontecimento. Em 1999, Rogério e sua família vão morar nesse casarão, que um dia foi palco da história de amor de Ana e Mateus. Mas lá também habitam fantasmas, presos às histórias vividas no local. Até que é chegada a hora de eles irem embora, libertarem-se do casarão. E, num sonho, um dos fantasmas revela a Rogério como ajudá-los a fazer essa travessia.

WEISS, Mery. O peixe de olho grande.

Relata a estória de quatro crianças que saem para um acampamento na beira de um rio e lá conhecem Carolina, que tem muito medo de um tal peixe do olho grande, acusando-o de ter comido parte do corpo de Peteleca, sua boneca. As crianças conhecem também Vô Tolé, um velho índio Guarani que pretende voltar para seu povo e para isso caminha em direção ao norte. O índio faz balaios para vender, a fim de obter o dinheiro necessário para comprar uma passagem de ônibus. Para livrar Carolina de seu medo, Vô Tolé finge ter prendido o peixe do olho grande em um balaio e diz que o levará para as profundezas do rio. Com isso, Carolina não sente mais medo e Vô Tolé vai para o norte. As outras crianças voltam para casa, apesar de não desejarem voltar, pois gostaram muito da aventura.

YAZBEK, Mustafa. Os Bandeirantes.

Aborda a epopéia bandeirante, inspirando-se em documentos históricos. Relata a viagem de uma bandeira paulista imaginária, que sai em busca de índios na primeira metade do século XVII. Narra sua partida da vila de São Paulo de Piratininga, seu percurso pelos sertões do Sul do Brasil e seu ataque a uma redução, aldeia de índios Guarani administrada por missionários jesuítas espanhóis.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. – Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

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O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 7

ROCHA, Antonio. Fura-nuvens na Amazônia.

Narra a aventura de Luizinho, Loca e Tramela, numa grande viagem pelo Brasil, visitando vários estados, até chegarem à Amazônia, onde convivem com os índios Munduruku, seguindo viagem até se embrenharem pela ilha de Marajó, onde vivem a mais extraordinária das aventuras. Quem foi capaz de construir um avião de caixote, vassoura e escada coberta por pedaços de pano – um avião que voa de verdade, com seu motor-segredo – também é capaz de enfrentar os mistérios de um disco-voador e da grande cobra de boiúna, devoradora de gente. São terríveis mistérios que Luisinho, Loca e Tramela irão enfrentar e decifrar.

ROSA NETO, Ernesto. Geometria na Amazônia.

Trata da aplicação prática dos conceitos de geometria, por meio de construções geométricas. Tudo começa quando André, sua irmã, Isabela, e o comandante Wander são envolvidos numa aventura na Amazônia, após a queda do monomotor em que viajam. Perdidos na floresta, são capturados por estranhos índios e levados como escravos para as
minas, onde índios de diversas etnias estão submetidos à escravidão. Isabela é levada separadamente do irmão, sem que este saiba de seu paradeiro. Aliados aos outros escravos, André e Wander fogem para a aldeia dos Iaumuara. A convivência com este povo acaba por ser um grande aprendizado a respeito de geometria, aplicada à sobrevivência na selva e à construção de um balão, que os levará de volta para casa, após o reencontro com Isabela, resgatada dos Astepec por Aukê, chefe Iaumuara.

SALDANHA, Paula. Um sonho na Amazônia.

Relata a experiência de migrantes vindos do Sul do país para a Amazônia, na pontinha de Rondônia, quase no limite com o Acre. No início, tudo se passa como num sonho. Depois vêm as dificuldades, a falta de dinheiro, de comida e de saúde. A experiência de colonos no Sul não se aplica às terras fracas, protegidas pela floresta tropical densa. As lavouras fracassam. Mas a luta por um ideal acaba se transformando num lindo projeto agrícola, o Projeto Reca.

SALES, Herberto. O mistério das sete estrelas.

Conta a história de sete indiazinhas Makuxi que estão sendo preparadas para as suas funções de mulheres adultas. A vida na mata e seus aprendizados transcorrem normalmente, até que, um dia, tem início uma grande seca. O rio seca e a comida começa a acabar na roça e na mata. Mas, numa certa noite, as sete indiazinhas, de mãos dadas, começam a cantar e dançar, para agradar Ueré, a estrela, pedindo que esta as auxilie. Assim, as sete de mãozinhas dadas vão subindo para o céu, ficando perto de Ueré. Recebem, dos Makuxi, o nome Tamecã, e de “outras gentes”, Sete-Estrelo.

SALOMÉ, Vovó. Rói-Rói,o último índio Pé Verde.

Aborda a questão da preservação da natureza, por meio da história de Rói-Rói, o último índio Pé-Verde, vítima da ambição dos homens brancos, que dizimam seu povo em busca de pedras verdes. Rói-Rói fica só, vagando pela floresta sem sua gente, até que encontra uma família das terras secas que o acolhe. Para ajudar sua nova família, Rói-Rói põe em risco o segredo dos Pé-Verde, mas não o revela nem quando os homens brancos o prendem. Quando recupera a liberdade, Rói-Rói, por meio de um sonho com seus antepassados, descobre que sua missão é replantar o mundo outra vez.

SANTOS, Durvalina. Como apareceu a noite.

Mostra como os índios, em sua cultura, explicam o aparecimento da noite, quando rios cantam, pássaros piam, bichos berram, insetos zumbem, criando um ambiente cheio de mistério e magia, complementado pela lua e pelas estrelas, a dançar sua eterna trajetória no céu.

SANTOS, Joel Rufino dos. O curumim que virou gigante.

Conta a história de um menino indígena, chamado Tarumã, que sonha em ter uma irmã. Ele fica imaginando como ela poderia ser, e começa a agir como se ela existisse. A meninada acredita nele e escolhe presentes para ela. Porém, quando os meninos chegam em sua casa, Tarumã avisa que vai chamá-la e não volta mais. No próximo dia, ele diz que sua irmã foi carregada por um monte de formigas. Mas ninguém acredita. Envergonhado, sai pelo mundo e deita-se na beira do mar. Vira um gigante – seus pés são o Corcovado, seu corpo as montanhas e, em seu rosto, uma estrela, que é a sua irmã.

SANTOS, Joel Rufino dos. Cururu virou pajé.

Narra a história de Baíra, um corajoso índio Kaiowá, que está disposto a roubar o fogo, o qual é guardado pelo urubu-rei, para que seu povo cozinhe os alimentos.

SANTOS, Joel Rufino dos. O Saci e o Curupira.

Narra a divertida história de um casal que faz acordo com o Saci e o Curupira para conseguir alimento.

SCLIAR, Moacyr. Câmera na mão, o Guarani no coração.

Relata aventura de um grupo de adolescentes que participa de um concurso de vídeo, filmando O Guarani, de José de Alencar. Para isso, estudam a obra e a comparam com nossa atualidade.

SIERRA, Ione Maria Artigas de. (Coord.). Contos,mitos e lendas para crianças da América Latina.

Apresenta mitos, lendas e contos populares característicos dos países latino-americanos, para crianças. Cada história contém um pequeno glossário de palavras não conhecidas apresentadas no texto.

SILVA, Aracy Lopes da; RODRIGUES, Maria Carolina Young. Histórias de verdade.

Narra a experiência de Pedro e sua mãe, que vão viver entre os índios, com o objetivo de ensiná-los a cantar, a escrever, a ler, e, em troca, querem aprender com eles sobre sua cultura e o seu jeito de viver.

SILVEIRA, Marcelo Renato da. Taigoara, quer dizer: árvore que floresce.

Mostra as conseqüências devastadoras dos primeiros contatos de índios com não-índios. Taigoara é o principal personagem desta narrativa, um menino indígena que vive feliz e livre em sua aldeia, até o dia em que chegam “os esquisitos homens brancos”, violentando e destruindo a vida de Taigoara e de seu povo.

SOUSA, Maurício de. Manual do índio Papa-Capim.

Conta um pouco da história dos povos indígenas e sua maneira de viver. Fala sobre os índios do Brasil e de povos indígenas de outros lugares, como os Navajos, da América do Norte, os Esquimós do Ártico, entre outros. Também ensina brincadeiras e jogos muito divertidos.

SOUZA, Iza Ramos de Azevedo. Pequenos contos para gente pequena.

Apresenta contos da tradição popular, incluindo alguns de origem indígena, como: Cantor das matas, Lenda do fogo, Lenda do guaraná, Árvore curupira, entre outros.

TAPAJÓS, Paulinho. Amor de índio.

Narra a lenda de Jaci, a lua. No tempo em que a noite era escuridão, sem lua nem estrela, havia uma indiazinha que, à noite, ia banhar-se nas águas calmas de um certo lago das almas. Por lá também vivia Guaraci, um indiozinho que também gostava do lago. Certa noite, encontram-se e se apaixonam. Mas não podem se ver direito e Guaraci, como forma de descobrir quem é sua amada, pinta-lhe o rosto com tinta bem forte, para de manhã reconhecê-la. Quando a encontra, descobre que está prometida, sendo seu amor impossível. Então, Guaraci, com suas flechas, forma uma escada até o céu, por onde Jaci sobe. Hoje, toda vez que anoitece, lá no céu a tal menina ilumina a noite e do seu pranto se formam as estrelas.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. – Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

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O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 6


MOTT, Odete de Barros. Marco e os índios do Araguaia.

Conta a aventura de Marco, um menino paulistano, viajando de férias às margens do Rio Araguaia. Ele visita os índios Karajá, Tapirapé e Gorotire e descobre como vivem. Descobre, ainda, que os índios são pessoas sensíveis e inteligentes e que possuem sua própria cultura. O livro traz descrições da região do Araguaia, da natureza, fauna, flora e população.

MOTT, Odete de Barros. Nas margens do Araguaia.

Apresenta três lendas dos índios Karajá, que são transmitidas aos mais jovens como um fator importante de preservação da sua cultura. A primeira história: De onde veio o povo Carajá, refere-se à origem desse povo; a segunda, Como Kananchiué levou o sol para a terra Carajá; e a terceira, Como Kati-Bené – o jabuti – maliciou Budoé – o veado, são algumas das histórias contadas pelos Karajá, à noite, ao pé do fogo.

MUNDURUKU, Daniel. Histórias de índio.

Conta a história de Kaxi, um garoto Munduruku que tem uma infância feliz. Brinca, nada, pesca, faz artesanato e ouve histórias. Mas Kaxi é especial, pois o pajé o escolheu para ser seu sucessor. Fala da iniciação à vida adulta, apresentando a cultura indígena a partir do ponto de vista de um narrador pertencente a ela. Na segunda parte, o autor relata suas experiências no mundo dos brancos e, na terceira, descreve a atual situação dos povos indígenas no Brasil, assim como alguns dos seus hábitos, ritos, música, lendas e diversidade cultural e lingüística.

MURAT, Heitor Luiz. Morandubetá (fábulas indígenas).

Reúne várias lendas indígenas, com um tratamento mais próximo da fala do próprio índio. Traz também lições riquíssimas da moral praticada por eles, quando ainda eram donos e senhores da Terra Brasilis.

NEAIME, Lica. De como o dia virou noite e a noite virou dia e noite.

Narra um contos de fadas, em que o herói e a heroína partem em missão sagrada: trazer de volta o sol que deixou de brilhar, fazendo descer uma noite imensa sobre a floresta, bichos e homens. Nessa busca, cruzam com leões, cobras, aranhas, a lua e também seres mágicos que, apoiando ou afrontando, participam da empreitada. Cheio de sustos, algum humor e muito movimento, o enredo acaba colocando os heróis no cume de uma montanha, onde devem convencer o sol a voltar a brilhar.

NICOLELIS, Giselda Paporta. Macapacarana.

Aborda a questão do choque cultural. É o que vive Gerson, um garoto que sai de São Paulo para morar com o pai no Amapá. Ali ele descobre outro Brasil: o dos rios, das matas, dos garimpos e dos animais em extinção. É com o índio José que Gerson aprende a amar e a entender esse outro país.

NISKIER, Arnaldo. Aventura do Curupira.

Narra uma história cujo herói é o Curupira, uma lendária figura das matas amazônicas, uma mistura de diabinho e índio Tapuia, protetor dos animais e da natureza e inimigo feroz dos caçadores clandestinos.

NOSSOS índios. Porto Alegre: Editora Kuarup

Apresenta ilustrações sobre a cultura dos índios do Xingu, para as crianças colorirem.

NUNES, Marconde Rangel; BARRETO, Felicitas.Oku-Cúri: arco-íris,indiozinho brasileiro.

Aborda a diversidade no âmbito das culturas, hábitos, costumes e brincadeiras dos povos indígenas, numa linguagem acessível às crianças.

OLIVEIRA, Alan Roberto de. Amazônia.

Conta a aventura de Caco e Mister David, seu padrinho, que se perdem na Amazônia e acabam conhecendo de perto os conflitos entre índios e garimpeiros. Nasce uma grande amizade, transformando a relação entre os dois em amor de pai e filho.

OLIVEIRA, Jô. Kuarup: a festa dos mortos – lenda dos povos indígenas do Xingu.

Aborda o tema Kuarup, festa em homenagem aos mortos realizada pelos índios do Xingu, por meio da arte seqüencial, ou seja, a arte de contar história com imagens.

OLIVEIRA, Rui de. A lenda do dia e da noite.

Apresenta a adaptação de uma lenda dos índios Karajá sobre a criação do dia e da noite. A referência visual adotada nas ilustrações foi a arte plumária, a cestaria e pintura corporal.

OLIVIERI, Antônio Carlos. Uiramirim contra os demônios da floresta.

Narra a aventura de Uiramirim, índio Tupi de 15 anos que, após se embrenhar na mata com um pirata – capitão Lafitte, vê-se em apuros, tendo de enfrentar três demônios da floresta: a Mula-sem-cabeça, a Boiúna e o Capelobo. E tudo isso para salvar sua pele e libertar seu amigo, aprisionado por indígenas.

OLIVIERI, Antônio Carlos. Uiramirim contraos piratas.

Narra uma aventura do tempo em que o Brasil se dividia em capitanias hereditárias e o açúcar era sua principal riqueza. Prisioneiro em um navio pirata, Uiramirim, um índio Tupi de 15 anos, envolve-se numa incrível aventura, em que aparecem piratas, um padre traidor, uma mocinha prisioneira e o jovem Dom Manoel Gorducho, um português de 12 anos, vaidoso e mimado, do qual o indiozinho era escravo. Uiramirim é o grande herói dessa história de piratas.

PATRIOTA, Margarida. Olhando a terra,arregalado:contos do índio brasileiro.

Apresenta dez mitos dos povos indígenas brasileiros, entre os quais os Bororo, Pareci e Apinajé. Compõem o livro as seguintes histórias: Olhando a terra, arregalado; O papagaio que faz Kra; Ahã, venceremos; O mundo subterrâneo; Canção do derradeiro Kupe – dyeb; O maguari e o sono; Coisa de anta; Artimanhas de Bahira; O roubo do fogo e História de índio ninguém entende.

PEREIRA, André; VILAÇA, Aparecida. Nós e os índios.

Apresenta os costumes de algumas sociedades indígenas brasileiras. Os autores estimulam uma comparação destes com os hábitos dos moradores das grandes cidades. As diferenças e semelhanças entre a vida do leitor e a dos indígenas, a existência de características particulares em diferentes aldeias e o reconhecimento e respeito às culturas
diferenciadas são temas tratados nesta obra.

PONTES NETO, Hildebrando. Mikai Kaká.

Narra uma história adaptada de uma lenda do povo Maxakali, que vive em Bertópolis, no estado de Minas Gerais.

PRADO, Lucília Junqueira de Almeida. Vá pentear macacos.

Narra a estória de um menino cheio de esperteza e muito curioso, chamado Japi, cujo pai já não sabe mais como responder a tantas perguntas que o menino lhe faz. Até que, um dia, manda que ele vá pentear macacos. Ao procurá-lo, arrependido, e encontrá-lo rodeado por macacos, compreende: “para filho obediente, não se pode dar ordem sem tino”.

RIBEIRO, José Hamilton. A vingança do índio cavaleiro.

Narra a história de uma nação indígena muito especial: os Kadiwéu, da Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. Sua ar te, principalmente o desenho e a pintura, aproxima-os dos Incas. O uso do cavalo fez deles os “índios cavaleiros” do Brasil, pastores e guerreiros. Depois de quase dizimados pela “peste branca”, os Kadiwéu estão agora se organizando em torno de um plano de vingança contra o “civilizado”.

RIOS, Rosana. O passado nas mãos de Sandra.

Narra a aventura de Sandra, seu primo e sua avó, no litoral, nas férias de julho. Sandra tem um estranho poder psíquico: ao tocar nos objetos, consegue visualizar cenas do passado, em que aqueles objetos estiveram presentes. Sandra revive momentos da história do Brasil
do século XVI, até que, aos poucos, uma importante missão lhe é apresentada: descobrir a localização das terras pertencentes aos índios Guarani, evitando assim que um homem chamado seu Abílio avance sobre elas com seu empreendimento imobiliário. O grupo enfrenta diversos perigos, muitas coisas ruins acontecem, mas, para cumprir sua missão, Sandra conta com a ajuda do último descendente dos Guarani, o velho índio Iruma.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. – Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

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O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 5


LOIBL, Elisabeth. O mistério do índio voador.

Narra a aventura dos irmãos Nando e Pituca, que viajam com seus pais, arqueólogos, para uma excursão ao Vale do Serido. Nesta aventura, outros arqueólogos pesquisam pinturas rupestres, e um estranho índio, que aparece e desaparece, dá um tom de mistério à história.

MACHADO, Ana Maria. De olho nas penas.

Narra a história de um menino, chamado Miguel, que vive dois dramas: o fato de os pais serem separados e de ser uma criança exilada. Miguel faz uma viagem magnífica mundo afora, nas costas de um maravilhoso pássaro amigo, que se transmuta e lhe dá a possibilidade de desvendar os segredos do mundo, das florestas às savanas, dos rios às selvas. Nessa viagem, o menino descobre que os segredos e as histórias são guardados numa imensa cabaça.

MACHADO, Ana Maria. Uma arara e sete papagaios.

Conta a história do indiozinho Poti, que encontra na mata uma bonita arara e a leva para sua casa. A arara, na companhia de sete papagaios, faz um tremendo barulho. Assim, Poti conclui que lugar de araras e papagaios é no mato, libertando-os.

MACHADO, Angelo. O velho da montanha: uma aventura na Amazônia.

Narra a aventura vivida pelo menino João, nascido na cidade e que descobre a floresta por intermédio das crianças Tiryó. Com a convivência, João aprende a respeitar a sabedoria indígena de Mopi, indiozinho Tiryó, os costumes, as lendas e sua capacidade de conviver com a selva em estado puro. Compreende o problema do povo Tiryó, que vê invadidas suas terras pelos homens brancos à procura da riqueza mineral, e aprende que é preciso preservar o meio ambiente.

MARINS, Francisco. O mistério dos morros dourados.

Apresenta uma história sensacional, que retrata o interior do Brasil no século passado. Procurando os Martírios, as fabulosas minas de ouro brasileiras, Tonico, Perova e o índio Pixuíra vivem uma extraordinária aventura, atravessando matas e enfrentando seus perigos.

MARINS, Francisco. A montanha das duas cabeças.

Apresenta a história de Tonico e Perova, dois grandes aventureiros que enfrentam a mata virgem brasileira no século XIX. O sonho de encontrar riquezas coloca os dois em meio a uma revolta de escravos e guerras indígenas. Muitos são os desafios enfrentados no caminho para a montanha das duas cabeças.

MARINS, Francisco. Território de bravos: uma epopéia na Amazônia.

Conta as aventuras e lutas de Plácido Castro, jovem idealista que, à frente de seringueiros, combateu nas florestas virgens da Amazônia, para impedir que terras habitadas por brasileiros fossem entregues a estrangeiros. Era o começo da conquista do território do Acre, e parte da luta que segue até os dias de hoje para manter a hegemonia nacional e a soberania do Brasil sobre a Amazônia.

MATUCK, Rubens. A Amazônia.

Aborda informações diversas sobre a Amazônia, numa linguagem acessível às crianças, mostrando como, entre rios, igarapés e lagoas que entremeiam a vegetação, muitos e variados animais convivem no maior santuário ecológico do planeta.

MATUCK, Rubens. O gavião.

Aborda o cotidiano dos índios Araweté, que vivem às margens do igarapé Ipixuna, na floresta amazônica. Como é comum, as crianças Araweté também gostam de animais de estimação. Porém isso pode causar alguns problemas na aldeia, se o bicho escolhido for, por exemplo, um feroz gavião.

MATUCK, Rubens. Pescaria.

Narra uma aventura vivida por crianças Araweté que se sentem completamente à vontade no meio da floresta, onde, muitas vezes, vão brincar. Entretanto, mesmo para quem está acostumado a ela, a natureza pode trazer surpresas.

MORAES, Antonieta Dias de. Contos e lendas dos índios do Brasil.

Apresenta uma coletânea de doze contos baseados em lendas indígenas, especialmente voltados para crianças. São eles: Como a noite apareceu; Os dois papagaios; Japim cantava bonito; Veado-pardo e onça; Mauari e o sono; O papagaio que faz crá-crá; O jogo dos olhos; Juruva salvou o fogo; Ciuci; O roubo do fogo; Astúcias do Jaboti e Caru-Sacaibê e Rairu.

MORAES, Antonieta Dias de. Três garotos na Amazônia.

Narra a história do jovem Iraí, que tem perfeito conhecimento dos costumes de seu país. Ensina-nos muito sobre a vida dos índios amazonenses e suas superstições. Descreve a preparação do curare e a fabricação de uma canoa com explicações precisas e detalhadas. O real e o imaginário se confundem, aceitos tranqüilamente pela idade dos três heróis e pelo caráter supersticioso dos índios.
Inclui glossário com as palavras indígenas apresentadas no texto.

MOREIRA, Balthazar de Godoy. Curumim sem nome.

Apresenta duas histórias, a primeira delas sobre um indiozinho Guarani, chamado Sapotê, que se torna prisioneiro dos índios Guaicuru. A outra é sobre a fundação da cidade de São Paulo.

MOTT, Odette de Barros. O chamado do meu povo.

Narra a história de Maria, menina índia que cresce feliz, junto aos missionários. Com eles, aprende o modo de ser dos brancos. Mas ela nasceu indígena e tem consciência de que seu povo ainda vive livre como os pássaros, na mata, com outros costumes, outro modo de viver, outra religião. Então ela compreende que aquela liberdade está ameaçada. Que a própria sobrevivência de seu povo está por um fio. A partir daí, parece ouvir o chamado do seu povo, os Korubo, indo, finalmente, ao seu encontro.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. – Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

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Daniel Munduruku (Literatura Indígena e o Tênue Fio entre Escrita e Oralidade)

A escrita é uma conquista recente para a maioria dos 230 povos indígenas que habitam nosso país desde tempos imemoriais. Detentores que são de um conhecimento ancestral aprendido pelos sons das palavras dos avôs e avós antigos estes povos sempre priorizaram a fala, a palavra, a oralidade como instrumento de transmissão da tradição obrigando as novas gerações a exercitarem a memória, guardiã das histórias vividas e criadas.

A memória é, pois, ao mesmo tempo passado e presente que se encontram para atualizar os repertórios e encontrar novos sentidos que se perpetuarão em novos rituais que abrigarão elementos novos num circular movimento repetido à exaustão ao longo de sua história.

Assim estes povos traziam consigo a memória ancestral. Essa harmônica tranqüilidade foi, no entanto, alcançada pelo braço forte dos invasores: caçadores de riquezas e de almas. Passaram por cima da memória e foram escrevendo no corpo dos vencidos uma história de dor e sofrimento. Muitos dos atingidos pela gana destruidora tiveram que ocultar-se sob outras identidades para serem confundidos com os dasvalidos da sorte e assim poderem sobreviver. Estes se tornaram sem-terras, sem-teto, sem-história, sem-humanidade. Estes tiveram que aceitar a dura realidade dos sem-memória, gente das cidades que precisa guardar nos livros seu medo do esquecimento.

Por outro lado – e graças ao sacrifício dos primeiros – outro grupo pode manter sua memória tradicional e continuar sua vida com mais segurança e garantia. Estes povos foram contatados um pouco mais tarde quando os invasores chegaram à Amazônia e tentaram conquista-la como já haviam feito em outras regiões. Tiveram menos sorte, mas também ali fizeram relativo estrago nas culturas locais e as tornaram dependentes dos vícios trazidos de outras terras. Foram enfraquecidos pela bebida, entorpecidos pela divindade cristã e envergonhados em sua dignidade e humanidade.

Estes povos – uns e outros – estão vivos. Suas memórias ancestrais ainda estão fortes, mas ainda têm de enfrentar uma realidade mais dura que de seus antepassados. Uma realidade que precisa ser entendida e enfrentada. Isso não se faz mais com um enfrentamento bélico, mas através do domínio da tecnologia que a cidade possui. Ela é tão fundamental para a sobrevivência física quanto para a manutenção da memória ancestral.

Claro está que se estes povos fizeram apenas a “tradução” da sociedade ocidental para seu repertório mítico, correrão o risco de ceder “ao canto da sereia” e abandonar a vida que tão gloriosamente lutaram para manter. É preciso interpretar. É preciso conhecer. É preciso se tornar conhecido. É preciso escrever – mesmo com tintas do sangue – a história que foi tantas vezes negada.

A escrita é uma técnica. É preciso dominar esta técnica com perfeição para poder utiliza-la a favor da gente indígena. Técnica não é negação do que se é. Ao contrário, é afirmação de competência. É demonstração de capacidade de transformar a memória em identidade, pois ela reafirma o Ser na medida em que precisa adentrar no universo mítico para dar-se a conhecer ao outro.

O papel da literatura indígena é, portanto, ser portadora da boa noticia do (re)encontro. Ela não destrói a memória na medida em que a reforça e acrescenta ao repertorio tradicional outros acontecimentos e fatos que atualizam o pensar ancestral.

Há um fio muito tênue entre oralidade e escrita, disso não se duvida. Alguns querem transformar este fio numa ruptura. Prefiro pensar numa complementação. Não se pode achar que a memória não se atualiza. É preciso notar que ela – a memória – está buscando dominar novas tecnologias para se manter viva. A escrita é uma dessas técnicas, mas há também o vídeo, o museu, os festivais, as apresentações culturais, a internet com suas variantes, o rádio e a TV. Ninguém duvida que cada uma delas é importante, mas poucos são capazes de perceber que é também uma forma contemporânea de a cultura ancestral se mostrar viva e fundamental para os dias atuais.
Pensar a Literatura Indígena é pensar no movimento que a memória faz para apreender as possibilidades de mover-se num tempo que a nega e que nega os povos que a afirmam. A escrita indígena é a afirmação da oralidade. Por isso atrevo-me a dizer como a poeta indígena Potiguara Graça Graúna:

Ao escrever,
dou conta da minha ancestralidade;
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo.

Diversidade e riqueza cultural

O Brasil é detentor de uma riqueza cultural muito expressiva quando falamos das populações indígenas. São reconhecidos atualmente 230 povos diferentes habitando todos os estados brasileiros com exceção do Piauí. São faladas 180 línguas e dialetos divididos em troncos, famílias e línguas isoladas.

Segundo o IBGE existem cerca de 750 mil indígenas por todo o Brasil e a situação de cada povo é peculiar com relação ao tempo de contato, situação fundiária, atendimento às necessidades básicas.

A Funai acredita que ainda haja entre 30 e 50 grupos indígenas considerados isolados do contato com a sociedade brasileira.

As principais dificuldades que enfrentam estão ligadas à terra, mas hoje há uma crescente demanda por cursos superiores e projetos de economia autosustentável.
A literatura indígena é um fenômeno relativamente recente, mas já é possível identificar vários autores com projeção nacional e internacional. Alguns livros já fazem parte de acervos de bibliotecas internacionais.

Alguns autores com destaque nacional e internacional:
Daniel Munduruku, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Kaká Werá Jekupé, Kanátyo Paraxó, Ailton Krenak.

Fonte:
http://www.rodadehistoriasindigenas.com.br/historias/literatura_indigena.pdf

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Eliane Potiguara (A Mulher que Despertou nas Asas do Criador )

Todos na comunidade, esperavam a volta de Jurupiranga. Muitos séculos haviam passado, mas na simbologia da volta deste homem viriam à sua trilha, vários outros homens de outros séculos que a mesma dor passaram.

Cunhataí convocou uma Assembléia Geral para definir como recepcionariam os guerreiros e ela, no seu interior de mulher, pensava como receberia Jurupiranga depois de tanto tempo’Quantos séculos! Filhos, netos, tataranetos, todos os ancestrais antes dos tataranetos estariam na grande festa’ Havia as plumagens e tintas mais lindas de toda a eternidade. As estradas pululavam de alegria, enlouquecidas para receberem e serem pisadas pelos guerreiros. As árvores, os frutos, os rios, os mares, os animais silvestres, as chuvas, os raios solares, as flores, as cachoeiras, as lagoas, as noites enluaradas e estreladas cantavam e despejavam húmus, néctar do amor e da prosperidade para endossar e adoçar a chegada de Jurupiranga. As notas musicais saltitavam no ar e as músicas se faziam por si só no espaço. Enfim, os cajueiros explodiam de risadas e soltavam belíssimos cajus amarelos e avermelhados pelo chão afora.

Cunhataí preparou uma grande festa nordestina, convocou todas as crianças da comunidade de todas as idades, convocou as velhas, as tias, as vizinhas e os homens para infra-estruturarem a festança.

Convidou todas as tribos brasileiras e estrangeiras. Os imensos cajus foram transformados, felizes, em uma grande caldeirada de doce. A comida foi preparada com amor para milhares de pessoas.

Mas quando a caldeirada do doce de caju ficou pronta, a calda escura começou a ferver de forma tão estranha, que aquela calda foi se multiplicando, triplicando tão rapidamente que numa fração de segundos inundou, como um rio, a escota onde faziam a comida. A escola estava empregnada dos vícios do neocolonizador. Cunhataí ao ver a escola totalmente coberta com a calda do caju desesperou-se. E agora? O que vamos fazer para que os guerreiros não vejam essa imundície?

Faltava apenas uma hora para a chegada de todos… Cunhataí convocou todas as crianças e jovens da comunidade para secar toda aquela calda. Era impossível secar todo o chão. As crianças alegres com a tarefa e lambendo os dedos, besuntaram-se naquela calda quente, que crescia cada vez mais, escorrendo como um rio e formando um grande lago. Cunhataí observava todo aquele fato e se perguntava porque acontecera aquilo, depois de tanto trabalho que tivera para recrutar as pessoas e estruturar seu povo? Cunhataí, naquele momento estava seca, sua pele enrugara, suas mãos amoleceram, suas carnes desapareceram, seus olhos comoriram-se com uma película azul enevoada. Estava enfraquecida, porque estava em pele e osso. Seus ossos jaziam no fundo do mar. Não havia mais nada a fazer. Estava em estado de choque brutal Totalmente esfacelada, aniquilada. Nunca mais veria seu amado!

No entanto, alguma coisa acontece fora de sua razão e consciência. Pensando que havia voltado à escola minutos depois, depara-se com uma surpresa. Sua mãe Alzael e sua filha Monaí coordenaram juntos com as lideranças e limparam toda aquela lambança da calda de caju. Limparam tudo, a festa foi um sucesso, os amigos, ficaram mais amigos, os inimigos esqueceram suas diferenças.

Cunhataí, pensando que ainda faltavam poucos minutos para o começo da festa se deparou com sua mãe e filha já efetuando outro trabalho de re-organizar as sobras da festa. A mãe lhe disse: Foi bom você não ter vindo, Cunhataí. Você dormiu, mas vieram todos os chefes e guerreiros. Todos foram recebidos pelas esposas e famílias, nós recebemos Jurupiranga. Foi feita uma grande homenagem a ele e ele se emocionou muito e chorou e chorou e chorou. Jurupiranga agora está na casa dos homens confabulando o nosso futuro e cada coisa está no seu devido lugar, não há nenhum problema. A alma foi lavada e as crianças e jovens cantam os cânticos sagrados. As crianças já podem comer a caldeirada de caju, tranqüilas.

Estagnada, perplexa, espantada, iluminada começou a soluçar por não ter assistido à festa que tanto queria e organizara anteriormente.

Era a chegada de seu marido depois de séculos, mas o povo assistiu e o povo trabalhou para isso. Todos os povos indígenas compareceram à festa e muitas horas, minutos, segundos, enfim… dias se passaram e Cunhatai dormira profundamente, o sono do descanso merecido, o sono da mulher. Ela descansara durante toda aquela situação de sujeira da calda do caju e da própria festança para receber os guerreiros.

A mulher, ainda tonta com o sono e com os olhos marejados de lágrimas, pensando que se havia passado alguns minutos, compreendeu que nào era importante estar presente, quando o povo está organizado, consciente.

Por um lado, as lágrimas de Jurupiranga foram derramadas pelo sofrimento e pela emoçào da chegada à sua terra natal e por outro lado as lágrimas de Cunhataí foram derramadas pela consciência de que seu povo realmente estava forte consciente, tranqüilo em suas convicções, povo ético e construtor da paz. Ambas as lágrimas _UNIDAS_ devolveram as carnes, as peles frescas e suaves de Cunhataí. Seus ossos se constituíram de novo e ela pôde realmente sentir suas costas livres, soltas. Havia se libertado de seu casco grosso e pesado, seu fardo.., e pela primeira vez uma grande alegria inundou seu coração e espírito _a felicidade da mulher indígena_ pois todos haviam trabalhado por esse objetivo.

Fonte:
Literatura Indígena: Sol do Pensamento. Organizado pelo Grumin/Rede de Comunicação Indígena e o Nei (Núcleo de Escrtitores Indígenas do INBRAPI)/Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual)

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Eliane Potiguara

Eliane é escritora indígena, professora, mãe, avó, 54 anos, remanescente Potiguara. É Conselheira do Inbrapi, (Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena.

Eliane foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz. É uma das 52 brasileiras indicadas.

Formada em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Onu, organizações governamentais e Ongs nacionais e internacionais.

Eliane Potiguara foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988”, pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e por ter trabalhado pela Educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país e por ter trabalhado na elaboração da Constituição Brasileira. Com a bolsa que conquistou da ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) mais seu salário de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava Nelson Mandela ), ela pôde prosseguir sua luta, além de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje adultos.

Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma PETIÇÃO no 47º. Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada às Nações Unidas. Neste Congresso, havia mais de 1500 índios. Por isso, participou durante anos, da elaboração da ”Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na ONU, Genebra, por essa razão recebeu em 96 , o título “Cidadania Internacional”, concedido pela filosofia Iraniana “Baha´i”, que trabalha pela implantação da Paz Mundial.

Defensora dos Direitos Humanos, além de vários Encontros, e criadora do primeiro Jornal Indígena e Boletins conscientizadores e cartilha de alfabetização indígena no método Paulo Freire com apoio da Unesco, organizou em Nova Iguaçu/RJ, em 91 outro Encontro inédito e histórico, onde participaram mais de 200 mulheres indígenas de várias regiões, tendo como convidados especiais a cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas internacionais. Organizou vários cursos referentes à Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e foi consultora de outros encontros sobre o tema.

Em 92 foi Co-Fundadora/Pensadora do Comitê Inter-Tribal 500 Anos (kari-oka), por ocasião da Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos Terena, Idjarruri Karajá e muitos outros líderes do país, além de ter participado de dezenas de Assembléias indígenas em todo o país.

Discutiu a questão dos Direitos Indígenas em vários fóruns nacionais, e internacionais, governamentais e não governamentais, diversas diretrizes, estratégias de ordem político-econômica, inclusive no fórum sobre o Plano Piloto para a Amazônia, em Luxemburgo/1999.

No final de 92, por seu espírito de luta, traduzido em seu livro “A Terra é a Mãe do Índio”, foi premiada pelo PEN CLUB da Inglaterra, no mesmo momento em que Caco Barcelos (“Rota 66”) e ela estavam sendo citados na lista dos “Marcados para Morrer”, anunciados no Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, para todo o Brasil, por terem denunciado esquemas duvidosos e violação dos direitos humanos e indígenas.

Em 95, na China, no Tribunal das Histórias não contadas e Direitos Humanos das Mulheres/Conferência da ONU, Eliane Potiguara narrou a história de sua família que emigrou das terras paraibanas nos anos 20 por ação violenta dos neo-colonizadores e as conseqüências físicas e morais desta violência à dignidade histórica de seu bisavô, avós e descendentes. Contou também o terror físico, moral e psicológico pelo qual passou ao buscar a verdade, além de sofrer abuso sexual, violência psicológica e humilhação por ser levada pela polícia federal, por estar defendendo os povos indígenas, seus parentes, do racismo e exploração. Seu nome foi jogado na lama nos jornais do Estado da Paraíba. Tudo isso à frente de suas três crianças na época.

Eliane no último governo foi Conselheira da Fundação Palmares/Minc, é FELLOW da organização internacional ASHOKA, dirigente do Grumin e membro do Women´s Writes World. Eliane participou de 56 fóruns internacionais e para mais de 100 nacionais culminando na Conferência Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001 e outro fórum sobre Povos Indígenas em Paris, 2004.

Eliane é do Comitê Consultivo do Projeto Mulher_ 500 anos atrás dos panos que culminou no Dicionário Mulheres do Brasil.

É autora de seu mais recente livro ‘Metade cara, metade máscara, Global, pela GLOBAL EDITORA que aborda a questão indígena no Brasil.

Fonte:
http://www.elianepotiguara.org.br/aautora.html

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Eliane Potiguara (Oração pela Libertação dos Povos Indígenas)

Parem de podar as minhas folhas e tirar a minha enxada
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz.
Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razão
Chega de matar minhas cantigas e calar a minha voz.
Não se seca a raiz de quem tem sementes
Espalhadas pela terra pra brotar.
Não se apaga dos avós – rica memória
Veia ancestral: rituais pra se lembrar
Não se aparam largas asas
Que o céu é liberdade
E a fé é encontra-la.
Rogai por nós, meu pai-Xamã
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós – terra nossa mãe
Pra que essas roupas rotas
E esses homens maus
Se acabem ao toque dos maracás.
Afastai-nos das desgraças, da cachaça e da discórdia,
Ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças,
Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.
Dai-nos luz, fé, a vida nas pajelanças,
Evitai, Ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé.
Nas noites de lua cheia, ó MARÇAL, chamai
Os espíritos das rochas pra dançarmos o Toré.
Trazei-nos nas festas da mandioca e pajés
Uma resistência de vida
Após bebermos nossa chicha com fé.
Rogai por nós, ave-dos-céus
Pra que venham onças, caititus, siriemas e capivaras
Cingir rios Juruena, São Francisco ou Paraná.
Cingir até os mares do Atlântico
Porque pacíficos somos, no entanto.
Mostrai nosso caminho feito boto
Alumiai pro futuro nossa estrela.
Ajudai a tocar as flautas mágicas
Pra vos cantar uma cantiga de oferenda
Ou dançar num ritual Iamaká.
Rogai por nós, ave-Xamã
No Nordeste, no Sul toda manhã.
No Amazonas, agreste ou no coração da cunhã.
Rogai por nós, araras, pintados ou tatus,
Vinde em nosso encontro
Meu Deus, NHENDIRU !
Fazei feliz nossa mintã
Que de barrigas índias vão renascer.
Dai-nos cada dia de esperança
Porque só pedimos terra e paz
Pra nossas pobres – essa ricas crianças.

*Nhéndiru: Deus
*Mintã: criança
*Boto: um mamífero que mostra o caminho

Fonte:
http://www.elianepotiguara.org.br/canticos.html

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Eliane Potiguara (Cunhataí, a menina sagrada contra o suicídio)

Quando Cunhataí era criança, ouvia os espíritos da mata, ela via a mãe das águas. Os sonhos eram o seu direcionamento. Sua clarividência era ancestral. Cunhataí tinha o poder da cura. Onde colocava as mãos, o bem se fazia. Sua mãe, insatisfeita com as invasões dos estrangeiros, tomou erva má, para que a semente que ouvia o espírito da mata, morresse. A erva fez muito mal à pequena Cunhataí; não a matou, tirou um pedaço dela… A mãe desesperançada com sua aldeia, não queria mais as coisas do espírito, negava a terra e a raiz. Ela queria o suicídio. Mas a avó da menina era mais guerreira. A mãe ficou cega e muda. Tempos depois a mãe renasceu da mudez e da cegueira por uma prova divina e se tornou pajé, sacerdotisa das águas. E a triste avó, cansada das dores, do peso do tempo e do sacrifício, morreu. Mas sua essência permaneceu.

O homem branco, naquela época ria e incutia maus valores em alguns membros do povo… A semente ferida e mutilada nasceu triste e com uma estrela no olho direito. Era Cunhataí. Foi o lado direito que quase morreu. Só ficou roxo como uma marca, um sinal e… Sobreviveu para ouvir os espíritos, os antepassados e as velhas mulheres enrugadas pelos séculos. Sobreviveu para compreender o significado das três velhas, cujas seis mãos se transformam em cobras. O velho espírito disse a Cunhataí: Vai ave-menina e mulher! Cria asas e enxergue, um dia, quem sabe, seremos livres! Ela foi pra longe sofrer.

Por isso quando ela retornou à sua aldeia de origem, o cacique, a pajé e os segmentos do povo a reconheceram, porque ela já era esperada por decisão dos ancestrais, há muitos séculos. O seu olho direito roxo_ o espiritual_ foi identificado pelos líderes conectados com a ancestralidade e pelo pitiguary, o pássaro que ANUNCIA. Os que não reconheceram estão muito além, mas muito além de qualquer tipo de compreensão do que seja essência, transcendência indígena. Estavam cegos, por isso traíam seus próprios conterrâneos e incentivavam a discórdia, a inveja, a mentira, a intriga, a luta pelo poder e desconheciam o verdadeiro sentimento de paz, solidariedade, amor ao próximo, companheirismo e cooperação, por isso muitas meninas sofriam. Foram contaminados pelo poder dos neocolonizadores. Só vislumbravam o materialismo, por isso não podiam perceber os sinais dos deuses, dos ancestrais, do Grande Espírito_ a Poderosa Força Cósmica_ existente dentro de todas as boas almas.

Mas Cunhataí, em toda a sua vida seguiu o boto e as ordenações de seus sagrados ancestrais. Muitas mulheres indígenas que ouviram a história de Cunhataí, desenvolveram um útero sadio, porque entendiam que a cosmovisão indígena estava sagradamente vinculada a Mãe-Terra. E começaram a trabalhar e a lutar para melhorar as condições de vida do povo. Ninguém mais se suicidou, porque o amor e o respeito prevaleciam nas famílias, entre o homem e a mulher. A palavra fome nunca mais se ouviu naquele povo, quando também os homens perceberam o mal que haviam adquirido.

Cunhataí deixou a mensagem para que todos os homens e todas mulheres prestassem bem a atenção nos seus sonhos e deles fizessem seus caminhos a partir do respeito pelos velhos e velhas e pelos ancestrais e pelas boas relações de igualdade e respeito entre homens e mulheres!

Fonte:
http://www.elianepotiguara.org.br/

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Eliane Potiguara (Em Memória ao ìndio Chico Sólon)

O texto é o testemunho das lágrimas de uma indígena vendedora de bananas, sua avó a refugiada Maria de Lourdes de Souza, filha do índio Chico Sólon, desaparecido das terras indígenas paraibanas por volta de 1920, quando se instalava ali, a neocolonização da agricultura algodoeira causando a fuga de famílias indígenas, oprimidas pela escravidão moderna.

Nosso ancestral dizia: Temos vida longa!
Mas caio da vida e da morte
E range o armamento contra nós.
Mas enquanto eu tiver o coração acesso
Não morre a indígena em mim e
E nem tão pouco o compromisso que assumi
Perante os mortos
De caminhar com minha gente passo a passo
E firme, em direção ao sol.
Sou uma agulha que ferve no meio do palheiro
Carrego o peso da família espoliada
Desacreditada, humilhada
Sem forma , sem brilho, sem fama.
Mas não sou eu só
Não somos dez, cem ou mil
Que brilharemos no palco da História.
Seremos milhões unidos como cardume
E não precisaremos mais sair pelo mundo
Embebedados pelo sufoco do massacre
A chorar e derramar preciosas lágrimas
Por quem não nos tem respeito.
A migração nos bate à porta
As contradições nos envolvem
As carências nos encaram
Como se batessem na nossa cara a toda hora.
Mas a consciência se levanta a cada murro
E nos tornamos secos como o agreste
Mas não perdemos o amor
Porque temos o coração pulsando
Jorrando sangue pelos quatro cantos do universo.
Eu viverei 200, 500 ou 700 anos
E contarei minhas dores pra ti
Oh!!! Identidade
E entre uma contada e outra
Morderei tua cabeça
Como quem procura a fonte da tua força
Da tua juventude
O poder da tua gente
O poder do tempo que já passou
Mas que vamos recuperar.
E tomaremos de assalto moral
As casas, os templos, os palácios
E os transformaremos em aldeias do amor
Em olhares de ternura
Como são os teus, brilhantes, acalentante identidade
E transformaremos os sexos indígenas
Em órgãos produtores de lindos bebês guerreiros do futuro
E não passaremos mais fome
Fome de alma, fome de terra, fome de mata
Fome de História
E não nos suicidaremos
A cada século, a cada era, a cada minuto
E nós, indígenas de todo o planeta
Só sentiremos a fome natural
E o sumo de nossa ancestralidade
Nos alimentará para sempre
E não existirão mais úlceras, anemias, tuberculoses
Desnutrição
Que irão nos arrebatar
Porque seremos mais fortes que todas a células cancerígenas juntas
De toda a existência humana.
E os nossos corações?
Nós não precisaremos catá-los aos pedaços mais ao chão!
E pisaremos a cada cerimônia nossa
Mais firmes
E os nossos neurônios serão tão poderosos
Quanto nossas lendas indígenas
Que nunca mais tremeremos diante das armas
E das palavras e olhares dos que “chegaram e não foram”.
Seremos nós, doces, puros, amantes, gente e normal!
E te direi identidade: Eu te amo!
E nos recusaremos a morrer
A sofrer a cada gesto, a cada dor física, moral e espiritual.
Nós somos o primeiro mundo!
Aí queremos viver pra lutar
E encontro força em ti , amada identidade!
Encontro sangue novo pra suportar esse fardo
Nojento, arrogante, cruel…
E enquanto somos dóceis, meigos
Somos petulantes e prepotentes
Diante do poder mundial
Diante do aparato bélico
Diante das bombas nucleares
Nós, povos indígenas
Queremos brilhar no cenário da História
Resgatar nossa memória
E ver os frutos de nosso país, sendo dividido
Radicalmente
Entre milhares de aldeados e “desplazados”
Como nós.

Fonte:
Eliane Potiguara
Textos do livro “METADE CARA, METADE MÁSCARA” Global editora
http://www.elianepotiguara.org.br/

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Eliane Potiguara (Literatura Indígena: Instrumento de Conscientização)

Avanços na luta do movimento indígena brasileiro têm se dado de forma concreta. Apesar de algumas dificuldades, e apesar de alguns pontos isolados como falta de apoio das políticas públicas ainda, a Educação Indígena _ hoje_ no Brasil já é uma realidade. É uma Educação diferenciada, onde a cosmologia indígena está ali inserida no seu sentido mais amplo. Dentro deste aspecto, há de se situar a Literatura Indígena como um instrumento de conscientização, força e libertação.

Essa Literatura deve ser incentivada através da Educação Indígena, no dia a dia das escolas, para que os próprios indígenas sejam realmente os interlocutores de suas culturas, tradições e visões de vida. No entanto, outro aspecto de fundamental importância há de se considerar. É a tradicionalidade do discurso oral pelos componentes mais idosos, idosas e pajés da comunidade que não pode, de forma alguma, ser ignorado. Na realidade, esse discurso é a base sólida, é a conceituação, são os princípios primordiais étnicos que fundamentam essa tradição e que fundamentarão a escrita, a partir de valores lingüísticos próprios de cada povo indígena.

Diante do mundo moderno e de alguns aspectos maléficos da neocolonização e globalização, se reforça que é necessário o registro escrito, realizado pelos próprios indígenas como uma medida de precaução e cuidado para que o “contar” e historiografia indígenas, não caiam no domínio público, ou que terceiros ou instituições sejam beneficiados nos aspectos financeiro, histórico e moral pelos direitos autorais.

Povos indígenas do mundo inteiro lutam, através dos fóruns nacionais e internacionais pela conservação da cosmologia, contra predadores naturais ou impostos, no caso de filosofias burguesas, religiosas, filosofias de cunho “pátreo-pseudo-moral”, filosofias coloniais ou imperialistas. O empobrecimento social das etnias também é um fator que causa a perda dos valores culturais, espirituais, éticos. Ali as mulheres, as crianças e os velhos e as velhas acabam sendo muito mais sobrecarregados pelo peso da discriminação social e racial, como é o caso da situação de fome e suicídio no Mato-Grosso do Sul/Brasil. O empobrecimento e a destruição das terras indígenas também são fatores de alto risco. Centenas de exemplos se têm dessa situação.

A literatura indígena cumpre o papel de resgate, preservação cultural, fortalecimento das cosmovisões étnicas.O futuro escritor indígena deve ser já incentivado, na aprendizagem da Educação bilíngüe e Educação em geral, desde pequeno. O escritor indígena é o futuro antropólogo, aquele que vê, enxerga e registra. Povos indígenas devem caminhar com seus próprios pés.

Núcleos de pensadores e escritores devem ser também incentivados e capacitados dentro das Organizações indígenas, assim como muitas vezes, falou-se em discutir a questão de gênero, de raça e etnia nas Assembléias. Os problemas identificados devem ser imediatamente direcionados para estudos objetivando estratégias, mecanismos que busquem a solução das dificuldades, dos conflitos e das diferenças.

Quando a rosa desabrocha, as abelhas vêm espontaneamente sugar-lhe o mel. Deixemos que a rosa de nosso coração, de nossa alma e caráter desabroche completamente na sociedade brasileira, a partir de um testemunho de nossa capacidade, auto-gestão, diálogo e ética, para que essa sociedade desconstrua, rapidamente, o discurso e prática atuais que causam a exclusão de povos indígenas. Os resultados e o respeito aparecerão.
Pensadores e escritores indígenas: Contem e criem então!

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Fonte:

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