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Universidade Estadual de Maringá (Semana do Livro inicia dia 10 de abril)
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 5
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 4
2º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Luzmara Curcino Ferreira
Henrique Silvestre Soares
LER NA ATUALIDADE: HISTÓRIA, PRÁTICAS E DISCURSOS
A leitura é ao mesmo tempo um gesto interpretativo individual que, no entanto, é regido por diferentes formas de injunção social. Ela é também uma prática culturalmente delimitada, uma vez que se altera ao longo da história assim como de uma cultura a outra. Textos, gestos de leitores e objetos culturais são relacionados e explorados segundo crivos teóricos particulares de modo a permitirem a estudiosos da leitura oriundos de diferentes campos de saber (teóricos da comunicação, linguistas, críticos literários, professores, psicólogos, historiadores etc.) descreverem e sistematizarem essa prática que, por si só, não deixa marcas tangíveis de sua realização que possam atestar uma homogeneidade em sua prática ou uma singularidade quanto aos sentidos produzidos na apropriação dos variados textos a que estamos expostos.
A proposição deste GT visa congregar pesquisadores da leitura, especialmente aqueles voltados para a análise das representações discursivas que orientam nossas concepções sobre a leitura assim como nossa maneira de ler. Essa orientação pode se estabelecer de duas maneiras: de um lado, pela produção e reprodução de discursos sobre a leitura que elegem não somente os tipos de textos como também as formas legítimas de se ler/de se ensinar a leitura; de outro, pelo controle exercido pelos próprios textos em circulação e que, por suas estratégias de escrita, pelo modo como selecionam, priorizam ou empregam as linguagens, ordenam a maneira, enfim, o ritmo como nosso olhar leitor deve percorrê-los e os sentidos que a eles devemos ou podemos atribuir.
Nosso interesse é congregar estudiosos que abordem em seus trabalhos de pesquisa a leitura como objeto de conhecimento, em uma de suas várias dimensões – como prática educacional, estética, social, cognitiva, histórica, subjetiva, tecnológica etc. – mas especialmente em sua dimensão discursiva, ou seja, como prática de interpretação de textos historicamente orientada, de maneira a contribuir com uma melhor compreensão acerca do que faz o leitor quando lê, ou como ele exerce (ou não) essa prática, levantando as coerções ou liberdades que atuam quando do exercício da leitura, no nível da materialidade textual ou não, definindo assim os limites ou extensões da intepretação. Este GT, portanto, pretende atuar como um espaço privilegiado de debate sobre o leitor e suas práticas de leitura, especialmente em relação ao leitor brasileiro na atualidade. Para tanto, serão bem vindos trabalhos que abordem as formas peculiares de leitura de comunidades de leitores diversas, especialmente aquelas, tão heteróclitas assim como desconhecidas, que podemos designar, com base na definição dos historiadores culturais da leitura, como novos leitores. São aqueles leitores, em sua grande maioria, não pertencentes ao universo sociocultural erudito que, graças à expansão dos textos e às novas tecnologias de produção e circulação de textos impressos e eletrônicos da atualidade, têm travado contato mais freqüente com a escrita, por meio de textos da cultura de massa mas também da cultura letrada.
Objetivamos, assim, fomentar a discussão sobre os discursos sobre a leitura e seu papel na formação dos indivíduos na atualidade, as novas formas de produção e circulação de textos e seu impacto sobre a leitura, as estratégias de mercado que vêem no leitor um consumidor e as políticas públicas voltadas para a leitura, compreendendo assim as injunções de diversas ordens que determinam, em alguma medida, as condições de produção da leitura na atualidade. Essas discussões nos permitirão levantar prováveis continuidades e/ou descontinuidades nas práticas e nas representações discursivas da leitura e do leitor ao longo da história, o que pode nos permitir apreender melhor o fenômeno e suas variações e avançar hipóteses de trabalho e propostas de atuação no âmbito da pesquisa ou no âmbito político-pedagógico, junto a órgãos governamentais e a intituições escolares e universitárias, entre outros.
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Neiva Maria Jung
Cristina Marques Uflacker
LETRAMENTO, ETNOGRAFIA, INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM
Neste Simpósio, tem-se como objetivo reunir trabalhos que examinam práticas sociais letradas, mais especificamente, estudos que buscam descrever e compreender os usos sociais da escrita e as suas implicações para a aprendizagem escolar.
Os pressupostos teórico-metodológicos são os estudos sobre letramento (STREET, 1984, 1988, 2000, 2003, 2004; HAMILTON, 2000; BARTON, 1994; BARTON, HAMILTON e IVANIC, 2000; BAINHAM, 2004; KLEIMAN, 1995, 2004; OLIVEIRA, 2010), que apresentam e discutem letramento como prática social. De acordo com Street (1995), os usos da leitura e da escrita são socialmente determinados, têm valor e significado específico para cada comunidade, portanto, não podem ser tratados isoladamente como “neutros”.
Nesse sentido, os Novos Estudos de Letramento (NLS) representam uma nova tradição de pesquisa, por considerarem a natureza do letramento, pois ele pode variar de acordo com o tempo e o espaço e está articulado com as relações de poder (STREET, 2003). Para descrever esses usos sociais da escrita, Street recomenda a realização de trabalhos etnográficos, pois somente esses trabalhos seriam capazes de descrever a complexidade dos fatores envolvidos em práticas situadas de uso da escrita e compreendê-los em nível micro. Trata-se de uma metodologia que permite reconhecer os fatores culturais e sociais envolvidos nas práticas de escrita, ou seja, como as pessoas fazem uso da escrita e como elas interagem umas com as outras ao fazê-lo, e qual a relação desses modos de participação com as culturas que constituem os participantes, articulando a compreensão micro com as relações macrossociais.
Para a descrição micro, a articulação com os estudos de fala-em-interação social também tem se mostrado bastante produtivos. A perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica (ACE) (SACKS, SCHEGLOFF e JEFFERSON, 1974; LODER; JUNG, 2008, 2009) entende a fala como uma forma de ação social, isto é, como uma forma de fazer coisas no mundo. Desse modo, a ACE investiga como as pessoas envolvidas na interação compreendem o que sua fala e outras condutas estão fazendo e estas compreensões são evidenciadas nas sequências organizadas da fala. Essa compreensão permite analisar de que modo as pessoas presentes em um evento de letramento efetivamente se engajam nesse evento, mostrando a sua participação e aprendizagem, ou seja, neste viés como as pessoas por uma série de práticas operacionalizam ações e atitudes orientadas para a confirmação, modificação ou ampliação do conhecimento (ABELEDO, 2007; SCHEGLOFF, 1991).
Nesse caso, o espaço para a participação deve ser construído na escola para que todos possam participar e ter a palavra para dizer o que estão aprendendo e o que está difícil de aprender, o que possibilita que os alunos passem a ser protagonistas de seus processos de aprendizagem (SCHULZ, 2007). Em síntese, este simpósio propõe reunir trabalhos que descrevam práticas de letramento em sala de aula que evidenciem efetivamente a participação de professores e alunos, propostas de práticas para a aprendizagem escolar, que descrevam o papel das novas tecnologias nessas práticas e proporcionar um espaço para que outras práticas sociais de uso da escrita possam ser descritas e apresentadas, como práticas religiosas, procurando reconhecer a sua contribuição (ou não) para as práticas letradas escolares.
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Maria Regina Pante
Elódia Constantino Roman
LINGUÍSTICA FUNCIONAL: TENDÊNCIAS E INTERFACES
Este simpósio tem por objetivo constituir-se como espaço de discussão de trabalhos de pesquisadores de graduação e de pós-graduação da Universidade Estadual de Maringá e de outras instituições nacionais e internacionais que promovam discussões integradas das contribuições de base funcionalista, sob os mais diferentes modelos de análise textual e discursiva, relacionando tais investigações com possíveis interfaces (estudo de mudanças históricas de itens e construções; interação sociodiscursiva, em que a língua é vista como atividade estruturada e cooperativa; estudos relativos às competências básicas; estudos de contexto e contexto, associados a questões de ordem pragmática entre outros).
Com base na perspectiva que trata a linguagem como um instrumento de interação verbal e toma, dessa maneira, as propriedades formais das unidades linguísticas, descrevendo-as em termos de intenção comunicativa em que são produzidas para a descrição de língua em uso, considera-se, assim, os vários níveis de análise da língua portuguesa no Brasil e em outros países em que ela é falada. As análises aqui propostas devem ser compreendidas como manifestações complexas que concebem as atividades linguísticas de sujeitos que, primordialmente, partem de escolhas comunicativamente adequadas e operam as variáveis dentro de condicionamentos ditados pelo processo de produção de enunciados em condições reais de uso. Ou seja, as investigações avaliam as condições dessas escolhas para o cumprimento de determinadas funções; as condições de produção dessas estruturas; as estratégias e os elementos que efetivamente operam para a construção textual/discursiva.
Com base nesse pressuposto, as diferentes pesquisas a serem expostas podem considerar desde as unidades menores, como itens que, ao serem construídos e expandidos pelo uso foram integrando outras categorias (processos de gramaticalização interpretados aqui, nos termos de Hopper & Traugott (1993); Traugott, (1995,1999); Traugott & König (1991), como processo de mudança linguística em que itens ou construções menos gramaticais passam em determinados contextos a assumir traços morfossintáticos, semânticos e pragmáticos de itens ou construções mais gramaticais ainda quanto unidades maiores que a oração – um período ou uma sequência discursiva e extensões distintas). Nesse caso, considera-se tanto a mudança devido ao aumento gradual da pragmatização do significado (inferência) quanto o aumento de abstratização do item linguístico (estratégias metafóricas), evidenciando parte de um uso considerado mais concreto para um uso mais abstrato-expressivo que implica situações discursivas distintas.
Aceitam-se, no presente simpósio, trabalhos que possam apresentar e caracterizar essas possíveis interfaces com os diferentes modelos de gramática de base funcionalista – Gramática Sistêmico-Funcional, Gramática Funcional, Modelo de Halliday (1989), Dik (1989), Dik e Hengeveld (1997) Linguística Textual, Pragmática entre outros. Mediante tais análises, objetiva-se compreender como as regularidades de certas escolhas podem alterar o sistema linguístico.
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Helson Flávio da Silva Sobrinho
Maurício Beck
O CAMPO PARADOXAL DAS IDEOLOGIAS, ENTRE IDENTIFICAÇÕES, SIMETRIAS E RUPTURAS
A proposta deste Simpósio é aprofundar o debate sobre o campo paradoxal das ideologias a partir das noções de identificação, contraidentificação e desidentificação em Pêcheux e as noções freudianas de identificação. Para Pêcheux, no transcurso do século passado, persistiu certa tendência de produção-reprodução do Estado (de tipo prussiano, espécie de fortificação ocupada) nas inversões/subversões de aparelhos ideológicos dos países sede do “socialismo realmente existente”.
Nestes enclaves assimétricos no interior do desenvolvimento geral da acumulação do Capital, não deixaram de funcionar dispositivos estratégicos e práxis ideológico-discursivas de contraidentificação “simetrificantes do adversário vencido”(Pêcheux, 1982: 112). Essa leitura pecheuxtiana coloca novos problemas em relação ao estudo dos antagonismos no movimento do real, impondo-nos o questionamento sobre quais formas de inversões/subversões rompem radicalmente a ponto de não funcionar como espelho invertido do Capital-Estado? Na Análise do Discurso, as contradições são inerentes aos discursos, afinal, o dito pode ser negado e contrariado dentro de uma mesma formação discursiva, sem que, por isso, haja paradoxo no funcionamento dessa formação no âmbito de uma dada formação ideológica.
Talvez seja por isso que, nas tentativas esquerdistas de subversão do poder ao longo do século XX, temos mais uma troca de gestores na extração de mais-valia, que, de fato, uma negação do Capital, conforme Mészarós, a despeito de todas as conquistas sócio-históricas alcançadas, impensáveis na periferia do sistema capitalista antes do advento da Revolução de 1917. Para aprofundarmos essa questão, é preciso antes entender como funcionaram essas formas simetrificantes nas lutas antagônicas do século XX mencionadas por Pêcheux. Entre as abordagens pertinentes para esse problema, há uma via ainda pouco trabalhada: a da articulação entre as noções de indentificação, contraidentificação e desidentificação em Pêcheux, com as noções freudianas de identificação (mecanismo de defesa) e sugestão propostas em “Psicologia das Massas” e “Análise do Eu”. Além disso, as elaborações freudianas acerca do funcionamento de aparelhos como a igreja e o exército podem contribuir na investigação dos mecanismos de produção e reprodução da forma de produção capitalista.
Ao mesmo tempo, a crítica de Pêcheux à práxis do Estado de Emergência em que tudo se justifica em nome da urgência pode nos remeter aos estudos de Agamben acerca do Estado de Exceção e às formas de segregação (homo sacer) engendradas pelo aparelho de Estado em relação à população (Gulgag, no caso do stalinismo), formas de segregação essas que já foram adiantadas por Gramsci, quando tratou da divisão social do trabalho entre Homo faber e Homo sapiens. O trabalho de um fogo crítico em relação à teoria e às práticas das forças anticapitalistas do século XX condiz com a postura teórico-política desafiadora de Pêcheux e converge com a postura de Zizek de que é necessário que a autocrítica do materialismo histórico seja mais rigorosa e mais contundente que a crítica externa, a de seus adversários políticos (liberais, pós-modernos).
O desenvolvimento dessas questões, neste Simpósio, pode ajudar a compreender, de modo mais profícuo, como a língua e as linguagens são cotidianamente trabalhadas na condição de campos de força em meio aos (e não como um meio ou mero espelhamento dos) variados processos sociais de resistência-revolta-revolução, desde a atualização de fronteiras enunciativas, com a manutenção de não-ditos no silêncio, ao atravessamento dos seus limites, configurando novas posições do dizer, removendo \”ininterruptamente os pontos discursivos de assujeitamento ideológicos e os locais a partir dos quais é possível enunciar oposição, sem que a lógica dessa remoção jamais [possa] ser descrita em um sistema fechado\” (Pêcheux, 1982: 119).
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2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 2
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Vanderci de Andrade Aguilera
Catarina Vaz Rodrigues
ESTUDOS GEOSSOCIOLINGUÍSTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Os estudos dialetológicos no Brasil bem cedo despertaram a atenção de filólogos, docentes da Língua Portuguesa e até mesmo de autodidatas. Desse interesse nasceram reflexões e obras como as de Amaral (1920) e Nascentes (1923), dando o impulso inicial para que outros pesquisadores se voltassem não apenas para os fatos linguísticos do português europeu, mas para o português que se transplantou para a România Nova, seja materializado na pena do escritor, seja articulado na boca do povo. Nascentes reconhece que o Dialeto Caipira (AMARAL, 1920) foi o inspirador de O Linguajar Carioca tanto na metodologia de coleta dos dados como na estruturação da obra: ambas discutem aspectos fonéticos, lexicais e morfossintáticos das duas realidades linguísticas – a paulista e a carioca.
Nesta mesma linha teórica, e na sequência, vêm os trabalhos sobre os falares nordestinos, de Marroquim (1934) e sobre os falares mineiros e goianos, de Teixeira (1938), mostrando para a academia pelo menos uma parte do Brasil linguístico real. Essas obras dialetológicas pioneiras vão instigar pesquisadores da época para a elaboração de um atlas linguístico do Brasil. Assim é que Silva Neto (1957) e Nascentes (1958 e 1961), amparados pelo Decreto de 1952 que atribuía à Casa de Rui Barbosa a responsabilidade pela coordenação e desenvolvimento de tão ousado projeto, lançam para este fim as sementes teórico-metodológicas sob a forma de bases e guias. Se a ideia de um atlas nacional não frutificou de imediato, a proposta foi se enraizando pouco a pouco pelas Faculdades de Letras de tal modo que, em menos de 40 anos, cinco atlas afloraram sucessivamente em pontos diversos: na Bahia, em Minas Gerais, na Paraíba, em Sergipe, no Paraná enquanto outros estavam em gestação na Região Sul, no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nos últimos anos do século passado, lança-se o projeto do Atlas Linguístico do Brasil com uma proposta mais moderna que associa os princípios teórico-metodológicos da Geolinguística aos da Sociolinguística.
Dessa grande árvore, brotaram inúmeros ramos em quase todos os 26 estados brasileiros, tais como no Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Espírito Santo, entre outros. Cardoso (2002), diretora presidente do ALiB, lembra muito bem que a fusão dos princípios geolinguísticos com os sociolinguísticos nasceu de dois aspectos fundamentais:
“(i) o reconhecimento das diferenças ou das igualdades que a língua reflete e
(ii) o estabelecimento das relações entre as diversas manifestações linguísticas documentadas e circunscritas a espaços e realidades pré-fixados”.
Além desses aspectos, concordamos com Moreno Fernández (1998) quando reafirma que “as atitudes do falante influem decisivamente nos processos de variação e mudança linguística que se produzem nas comunidades de fala, pois uma atitude favorável ou positiva pode fazer
(i) uma mudança cumprir-se mais rapidamente;
(ii) que em certos contextos predomine o uso de uma língua ou de um dialeto em detrimento de outra(o);
(iii) que certas variantes linguísticas se confinem a contextos menos formais e outras predominem nos estilos cuidados.
Diante desse panorama produtivo e multifacetado e sabendo que a língua não é somente um complexo de variedades regionais, mas também uma superposição de variedades sociais que implica valores a elas atribuídos, propomos o presente Simpósio com os seguintes objetivos:
(i) congregar pesquisadores de várias IES para apresentar estudos e projetos de Geolinguística e de Sociolinguística, inclusive de crenças e atitudes sociolinguísticas, em andamento no Brasil;
(ii) descrever e discutir aspectos da variação diatópica e diastrática do português;
(iii) discutir aspectos teóricos e metodológicos relacionados aos estudos geossociolinguísticos.
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Cláudia Valéria Dona Hila
Elvira Lopes Nascimento
FERRAMENTAS DE ENSINO E PRÁTICAS EM SALA DE AULA
Na perspectiva do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2006; 2008) a atividade do professor é instrumentada. Isso quer dizer que a relação entre o docente e o seu objeto de ensino é mediada por inúmeras ferramentas, as quais:
(a) asseguram o encontro do professor com o objeto teórico a ser internalizado;
(b) contribuem para modificar os modos de pensar, agir e falar tanto dos alunos como também dos próprios professores;
(c) apresentam-se semiotizadas e
(d) conseguem promover a reflexão daqueles que delas se utilizam.
Schneuwly (2000) argumenta que as ferramentas podem ser de natureza material e discursivas. Entre as primeiras se incluem as sequências didáticas, as oficinas, os projetos temáticos e os inúmeros materiais de sala de aula que, se adequados ao planejamento do professor, funcionam como mediadores do processo de ensino-aprendizagem, tais como: os livros didáticos, os paradidáticos, os textos de divulgação cientifica, os textos literários, as obras de referência, os livros de consulta, os jornais, as revistas, os jogos, os vídeos e os próprios gêneros textuais, em diferentes mídias e linguagens. Entre as segundas, se incluem as ferramentas de natureza discursiva, como as ações e os gestos didáticos dos professores ao presentificar o objeto em sala de aula (NASCIMENTO, 2011).
Hila (2011) amplia essa discussão exemplificando outras ferramentas significativas para o movimento de internalização, tais como: as sessões reflexivas, os planos de aula, a reescrita, o estilo individual de cada professor, dentre outras. Colaborando com a discussão, Wirthner (2004;2007) compreende que as ferramentas didáticas ainda definem, em grande parte, o ensino, pela maneira como se propõem a abordar, apresentar ou recortar o objeto a ser ensinado e, nesse sentido, elas também influenciam as concepções de ensino e de linguagem daqueles que as empregam. Por isso mesmo, o uso de ferramentas em sala de aula pode ser uma fonte de aprendizagem e de desenvolvimento tanto para o professor, como para o aluno e, sendo assim, conhecer as potencialidades das inúmeras ferramentas que o docente têm a sua disposição é fundamental para o processo formativo de todos aqueles envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
Dessa forma, o objetivo desse simpósio é reunir trabalhos que, diante das práticas de linguagem, nos eixos de ensino- leitura, produção e análise lingüística- evidenciem o papel das ferramentas (de quaisquer natureza) para gerar práticas significativas em sala de aula, exatamente porque auxiliam o processo de internalização e podem gerar o desenvolvimento dos alunos. As dificuldades encontradas na formação inicial e continuada de professores de Língua Portuguesa para promoverem a internalização de diferentes objetos teóricos justificam a organização deste simpósio, por propiciar reflexões tanto sobre os subsídios prático-metodológicos que dão suporte à formação, quanto ao desenvolvimento de ferramentas didáticas, considerando a sua relação e adequação ao projeto de ensino do professor, assim como quanto à busca de identificação e compreensão dos agires realizados por professores durante o planejamento, elaboração e aplicação dessas ferramentas. O conhecimento, a discussão e a aplicação de procedimentos pedagógicos atualizados é o fio condutor dos pesquisadores integrados a este simpósio.
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Sírio Possenti
Sonia Aparecida Lopes Benites
FÓRMULAS E ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES E CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO
Textos-fórmulas, como provérbios, ditados, máximas, adivinhas, piadas e slogans são enunciados que apresentam estruturas linguísticas relativamente fixas, em geral breves, além de um determinado ritmo. Seu funcionamento se caracteriza pela repetição, que os legitima, tornando-os reconhecidos e reconhecíveis em uma comunidade de falantes. Considerando essa forma de funcionamento, Maingueneau (2006) classifica-os em:
a) fórmulas autônomas ou destacadas, independentes do contexto, com significante e significado inalteráveis, memoráveis;
b) fórmulas destacáveis, estruturas passíveis de serem destacadas de um texto e convertidas em pequenas frases que passam a circular de forma também autônoma.
De fato, algumas dessas frases são criadas exatamente para isso, como é o caso dos slogans publicitários e políticos. Embora tenham um contexto histórico bastante relevante, não possuem um contexto textual imediato imprescindível para seu “funcionamento”. Contudo, existem também aquelas que são destacadas de seus contextos textuais originais – e o são graças a essa estrutura frasal específica, somada a seu conteúdo generalizante e a um ethos solene. Nestes casos, apesar de fazerem parte de um texto, sua estrutura faz com que se sobressaiam dentre os outros enunciados e passem a ser empregadas como fórmulas.
Maingueneau (2010) falará, assim, em destacamento constitutivo, para referir-se a enunciados que nascem destacados (como os provérbios e os slogans publicitários), e em destacamento por extração, para fazer menção às citações. A aforização é exatamente o regime enunciativo implicado em um enunciado destacado por extração. Em outras palavras, o regime de enunciação aforizante torna um enunciado passível de ser destacado de seu contexto original. Por fim, lembramos os estereótipos sociais, elementos também caracterizados pela cristalização, e que podem ser vitais para o funcionamento de um texto, tanto na medida em que implicam posições ideológicas ou culturais quanto por serem cruciais para o próprio gênero em que aparecem (para muitas piadas, por exemplo).
A estereotipia, segundo Amossy (2005), “é a operação que consiste em pensar o real por meio de uma representação cultural preexistente, um esquema coletivo cristalizado” (p. 125). Situando-se em certo tipo de exterior constitutivo, ela é condição (parcial, pelo menos) de funcionamento dos textos-fórmulas, e está fortemente ligada ao humor e às verdades correntes, além de desempenhar “papel essencial no estabelecimento do ethos” (AMOSSY, 2005, p. 125).
O presente simpósio tem os seguintes objetivos: reunir estudos sobre os textos-fórmulas e estereótipos e suas eventuais relações mútuas; estudar as condições de funcionamento dos textos-fórmula (sua circulação, seus sentidos, suas eventuais adaptações), relacionando-os com as verdades correntes ou com pretensas formulações de verdades. Poderão ser tomados como objetos de análise, entre outros, os provérbios, os slogans e as piadas que operam com clichês e estereótipos.
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Vera Wannmacher Pereira
Onici Claro Flôres
LEITURA E ESCRITA: ESTUDOS PSICOLINGUÍSTICOS E INTERFACES
O Simpósio “Leitura e escrita: estudos psicolinguísticos e interfaces” propõe-se a considerar as dificuldades evidenciadas por estudantes dos diversos graus de ensino (fundamental, médio e superior) em relação à leitura (compreensão/ interpretação) e à escrita. As dificuldades dos estudantes evidenciam-se nos escores alcançados em Língua Portuguesa em provas oficiais nacionais (SAEB, ENEM, ENADE) e internacionais (PISA), manifestando-se com intensidade nos comentários dos professores, dos familiares, dos empregadores e da sociedade em geral.
Nesse quadro, a leitura e a escrita constituem-se em prioridade educacional de grau máximo, exigindo espaços e financiamentos públicos para o desenvolvimento de pesquisas e demandando condições mais favoráveis para seu ensino. Em vista disso, o presente Simpósio enfoca justamente o tema – leitura e escrita, examinando cada um dos tópicos, individualmente, e em suas inter-relações. Do ponto de vista teórico, a temática situa-se na área de estudos da Psicolinguística, segundo a qual a leitura e a escrita são consideradas como processos cognitivos, que exigem do leitor e do escritor procedimentos diferenciados, embora convergentes.
Dessa forma, este Simpósio assume a relevância dos trabalhos de interfaces da Psicolinguística – internas (Estudos do Texto e do Discurso, Pragmática) e externas (Literatura, Psicologia, Sociologia, Informática, Educação, Fonoaudiologia, Neurociências). A presente proposta de trabalho relaciona as pesquisas sobre leitura e escrita que, teoricamente, tanto podem ser abordadas em separado como em conjunto, considerando-as interativamente. É útil, então, salientar que, se existem questões não respondidas em relação à leitura, apesar do número de pesquisas feitas e de pesquisadores envolvidos, há que acrescentar que as dúvidas e dificuldades se avolumam quando se aborda a escrita. Não se escreve em um só gênero nem em um só tipo de sequência.
A ocasião social que faz emergir a necessidade social da escrita tem suas exigências e elas precisam ser atendidas, a fim de que o papel da atividade social da qual a escrita faz parte seja preenchido. Assim, mesmo adultos alfabetizados têm muitas dificuldades de leitura e de escrita, mesmo profissionais têm de se esforçar bastante para compreender um texto e escrever da forma requerida. Enquanto isso a vida social prossegue em seu ritmo e avultam e se diferenciam os gêneros discursivos (BAKTHIN, 2003) em circulação. O certo é que, a partir do momento em que se assume a tarefa de escrever um texto até o momento de dar-lhe o destino para o qual se fez necessário escrevê-lo, atravessam-se distintas fases – a de pré-escrita, a de escrita, propriamente, e, por fim, a de revisão ou pós-escrita, segundo o destaca Soares (2009). Em suma, os dois processos se relacionam, mas não se reduzem um ao outro, exigindo planejamento de atividades que possam levar a bom termo tanto leitura quanto produção escrita.
Quanto à metodologia, o Simpósio ora proposto está aberto para investigações bibliográficas e de campo, assim como para estudos teóricos e aplicados. Em vista disso são oportunos trabalhos que proponham reflexões teóricas, bem como que apresentem resultados decorrentes de aplicações, configurando-se como relatos de pesquisas. Considerando o recorte teórico, são participações pertinentes as que estejam centradas exclusivamente na Psicolinguística, as que estejam assentadas em movimentos com interfaces internas (com outras áreas da Linguística) e com interfaces externas (com outros campos de conhecimento).
Desse modo configurado, o Simpósio tem como objetivo primordial ensejar o debate entre professores e pesquisadores da linguagem sobre o tema “leitura e escrita”, buscando contribuir para o desenvolvimento da Psicolinguística, para a elucidação de problemas de pesquisa, para o levantamento de caminhos produtivos para o ensino e o aprendizado tanto da leitura quanto da escrita e para o aclaramento de suas inter-relações.
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 2
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 1
2º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Edson Rosa Francisco de Souza
Ana Cristina Jaeger Hintze
A GRAMÁTICA DISCURSIVO-FUNCIONAL E OS ESTUDOS DE GRAMATICALIZAÇÃO – INTERFACES POSSÍVEIS
O objetivo deste simpósio é reunir diferentes estudos de orientação funcionalista que vêm sendo desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Especificamente, o propósito dos trabalhos é discutir questões de mudança gramatical/semântica em diferentes unidades linguísticas (orações, verbos, conjunções, advérbios), a partir de princípios teóricos provenientes tanto da Teoria da Gramaticalização (HEINE et alii, 1991; HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 1995, 1999; TRAUGOTT & KÖNIG, 1991; BYBEE et alii, 1994; BYBEE, 2003) quanto da Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997; NEVES, 2000; HENGEVELD & MACKENZIE, 2008).
Em termos gerais, a gramaticalização (GR, doravante) é definida aqui como um processo de mudança linguística de caráter unidirecional, no interior do qual itens ou “construções lexicais” (HOPPER & TRAUGOTT, 1993; TRAUGOTT, 2003) passam a exercer funções gramaticais ou, se já gramaticalizados, continuam a desenvolver funções ainda mais gramaticais. Trata-se de um processo de mudança linguística que pode afetar, de diferentes formas e em diferentes graus, a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica das línguas naturais. Como afirmam Traugott e Heine (1991), pode-se dizer que o termo se refere à parte da teoria da linguagem que tem por objeto a interdependência entre langue e parole, entre o categorial e o menos categorial, entre o fixo e o menos fixo na língua.
Na verdade, o estudo da gramaticalização põe em evidência a tensão entre a expressão lexical, por exemplo, relativamente livre de restrições, e a codificação morfossintática, mais sujeita a restrições, salientando a indeterminação relativa da língua e o caráter não discreto de suas categorias.
As análises aqui propostas, portanto, devem ser compreendidas como manifestações complexas que concebem as atividades linguísticas de sujeitos que, primordialmente, partem de escolhas comunicativamente adequadas e operam as variáveis dentro de condicionamentos ditados pelo processo de produção de enunciados em condições reais de uso. Ou seja, as investigações avaliam as condições dessas escolhas para o cumprimento de determinadas funções; as condições de produção dessas estruturas; as estratégias e os elementos que efetivamente operam para a construção textual/discursiva. Nesse caso, considera-se tanto a mudança que ocorre devido ao aumento gradual da pragmatização do significado, (inferência) quanto a que ocorre mediante o aumento de abstratização do item linguístico (estratégias metafóricas), evidenciando um processo que vai do uso mais concreto para um uso mais abstrato-expressivo.
Assim, considerando-se os pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional, que muito se assemelha à proposta de Traugott e Hopper e Traugott, e que têm servido como modelo de descrição gramatical e interpretação do processo de mudança linguística, aceitam-se, no presente simpósio, trabalhos que possam apresentar e caracterizar esta possível interface. Mediante tais análises, objetiva-se compreender como as regularidades de certas escolhas podem alterar o sistema linguístico.
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Alba Maria Perfeito
Terezinha da Conceição Costa-Hübes
CONCEPÇÃO INTERATIVA DE LINGUAGEM E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ABORDAGENS E REFLEXÕES TEÓRICO-PRÁTICAS
Entende-se neste simpósio, de acordo com as OCEM (2006) que a política curricular deve ser interpretada como manifestação de uma política cultural, ao selecionar conteúdos e práticas de uma determinada cultura para serem abordados na instituição escolar. Isso implica, no que tange à disciplina de Língua Portuguesa na educação básica, a construção gradativa de saberes textuais, que circulam socialmente, no apuro das práticas de leitura e de escrita, de fala e de escuta e no desenvolvimento da capacidade de reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem, em contínua ampliação, com a clareza de que, em um mundo de rápidas transformações, o aluno deve tornar-se sujeito construtor de sua história.
A linguagem, nesse sentido, deve ser concebida como meio de interação, como local das relações sociais em que homens atuam como sujeitos, ou, mais apropriadamente, constituem-se sujeitos. Em consequência, compreende-se que o papel da disciplina em questão é o de oportunizar ao discente, por meio de ações sistemáticas, o desenvolvimento das atividades de produção de linguagem em diversas situações interativas, perpassando formas de funcionamento da língua e modos de expressão da linguagem, ao construir seus saberes linguísticos em diferentes contextos.
Nessa perspectiva, faz-se necessário salientar, em termos de teorias linguísticas subjacentes, que a concepção de linguagem em foco recebeu contribuições de várias áreas de estudos mais recentes, buscando analisar a linguagem em situação de uso, como a Teoria da Enunciação de Benveniste, a Pragmática, a Semântica Argumentativa, a Análise da Conversação, a Análise do Discurso, a Linguística Textual, a Sociolingüística, a Enunciação Dialógica de Bakhtin. É relevante observar, inclusive, que, historicamente, há aproximadamente trinta anos, no Brasil, discute-se a visão interativa para o ensino, seja por meio da teoria piagetiana, na relação sujeito-objeto de ensino, seja pela vigostskiana: sujeito – mediador – via signo (ideológico).
Mais especificamente, em termos Língua Portuguesa, a concepção interativa no ensino foi inicialmente proposta, no país, por Geraldi (1984), sobretudo, na integração, sem artificialidade, das práticas de leitura, análise linguística, de produção e refacção textuais – fundamentado, no caso, pela teoria bakhtiniana. Após perpassarem documentos estaduais, na década de 90 do século passado, os estudos geraldianos e de seguidores foram incorporados e/ou ampliados/redimensionados em documentos nacionais e regionais e, nesse contexto, pesquisas teórico-práticas foram/são efetuadas em instituições de ensino superior.
É com essa breve configuração de abordagem da visão interativa da linguagem que se pretende no simpósio:
i) constituir um espaço congregador de propostas de ensino de Língua Portuguesa, na educação básica, que integrem as práticas de leitura, análise linguística e produção textual, subsidiadas pela concepção de linguagem em pauta;
ii) propiciar a reflexão sobre a heterogeneidade das perspectivas teóricas subjacentes à prática;
iii) analisar o processo de didatização, o qual envolve rupturas, deslocamentos e modificações – sendo, pois, (re)significado no contexto da ação.
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Fernando Felício Pachi Filho
Renata Marcelle Lara Pimentel
DISCURSIVIDADES EM DIFERENTES SUPORTES MIDIÁTICOS
Este simpósio visa questionar se é possível delinear formações discursivas em que se inscrevem os diversos acontecimentos na mídia em relação aos suportes em que as informações circulam, sejam eles digitais, impressos ou eletrônicos, ou seja, busca-se explorar discursividades midiáticas, sejam elas impressas ou digitais, de acordo com as potencialidades específicas dos meios. Dessa forma, admiti-se a instabilidade dessas formações, sua permeabilidade e contradições que se formam em seu interior, que permitem a constituição de novos sentidos.
A produção de sentidos vincula-se às possibilidades enunciativas em períodos históricos, em relação ao que é dito, a sentidos anteriores, a não-ditos, ou seja, às condições de produção, entre as quais o suporte em que se inserem os enunciados. Há ainda uma variação do sentido que deve ser captada no movimento da história e da linguagem. Esta variação só é possível porque há rupturas nos sentidos dominantes, falhas (bloqueios da ordem ideológica) que abrem à possibilidade de polissemia, deslocando sentidos e fazendo emergir o novo, o diferente, o ressignificado, o reformulável. Pergunta-se, portanto, se e como o suporte midiático deve ser levado em conta em análises não apenas em termos de condição de produção dos discursos, mas também como determinantes para a constituição de novos sentidos, logo de formações discursivas.
A observação e análise dos diversos suportes midiáticos, em termos comparativos, permite compreender o funcionamento dos discursos, delimitando-se como as interpretações para os acontecimentos são constituídas. Pretende-se, dessa forma, compreender como objetos simbólicos, por definição não-transparentes, produzem sentidos, e os gestos de interpretação realizados pelos sujeitos. Tendo em vista que a formação de corpus é também uma construção do próprio analista, que seleciona o material de acordo com os objetivos de sua análise, questiona-se se, corpus abertos, formados com materiais de diferentes suportes midiáticos, apresentam propriedades discursivas diferentes ou semelhantes.
Além disso, busca-se compreender como os sentidos são homogeneizados em determinadas formações, de acordo com o jogo de forças presentes na sociedade, cristalizando interpretações em relação a formações ideológicas que as sustentam. As temáticas de interesse para este simpósio envolvem, entre outros, sujeitos, formações discursivas e ideológicas, memória e insconsciente, contradição e resistência. A explosão tecnológica e o acesso a dispositivos de tecnologia (celulares, laptops, etc.) levaram a uma potencialização crescente de produtores informais de enunciados midiáticos na internet e também fora dela e/ou não diretamente ligada a ela, mas que também se inscrevem como co-participantes das mídias impressas e eletrônicas (jornais, revistas, etc.). Ocorre, assim, uma fragmentação crescente dos discursos produzidos no espaço público.
Frente a isso, situa-se o interesse pelo funcionamento de discursos possíveis e em circulação em novos ou nos mesmos formatos, repetíveis, reorganizados e/ou modificados, ressignificados ou não.
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Pedro Navarro
Carlos Piovezani
DISCURSO E SUJEITO: ABORDAGENS TEÓRICO-ANALÍTICAS EM TORNO DA SUBJETIVIDADE, DO CORPO E DA FALA PÚBLICA
Este simpósio, intitulado Discurso e sujeito: abordagens teórico-analíticas em torno da subjetividade, do corpo e da fala pública, tem por finalidade congregar pesquisadores que se debruçam sobre questões concernentes à formulação e à produção de discursos circulantes em espaços institucionais e em textos midiáticos. Assim, os trabalhos a serem apresentados devem girar em torno de dois eixos centrais à Análise de Discurso, quais sejam: o discurso visto como objeto histórico e em diferentes materialidades e o sujeito e as práticas discursivas de produção de identidades e de subjetivação.
Sobre o primeiro eixo, à concepção tão cara de discurso como algo da ordem da história e da língua, somam-se abordagens teóricas que consideram não somente o linguístico como parte integrante dos processos discursivos, mas também o nível imagético e sonoro. Nesse sentido, o caráter semiológico do enunciado, tal como podemos concluir do texto d’A arqueologia do saber, de Michel Foucault (1972) e as pesquisas empreendidas por Jean-Jacques Courtine (2008; 2006), sobre a história do corpo e da fala pública, configuram, atualmente, importantes dispositivos teóricos e metodológicos, com os quais é possível descrever discursos, não perdendo de vista a dispersão enunciativa que lhes é própria e a heterogeneidade de linguagens por meio das quais eles se realizam como acontecimento singular e repetível. No que concerne às pesquisas sobre a produção de subjetividade na relação com os jogos de saber/poder, considera-se oportuno discutir a produção de subejtividades, em um contexto marcado pela desestabilização das velhas identidades sólidas e pela liquidez das formações discursivas.
De um ponto de vista genealógico, a concepção de história em Foucault, pautada na filosofia de Nietzsche, não toma para si a tarefa de reencontrar aquilo que poderia ser raízes de nossa identidade. Pelo contrário, a função dessa história genealogicamente dirigida é dissipar aquilo que liga os homens a uma identidade, ao fazer aparecer todas as descontinuidades que os atravessam.
O alcance dessa perspectiva histórica para as análises discursivas impõe projetos de pesquisa que promovam uma espécie de dissociação sistemática das imagens de identidade que se projetam sobre os sujeitos, se consideramos, como o faz Foucault, que a identidade que tentamos assegurar e reunir sob uma máscara não passa de uma paródia: o plural a habita, inumeráveis almas nela disputam; sistemas se entrecruzam e dominam uns aos outros. Nesse sentido, esse segundo eixo contempla tanto a análise dos dispositivos de subjetivação, que, nos discursos, transformam os indivíduos em objeto e sujeito de um saber, por meio da regulação e do controle da vida, quanto as tecnologias do eu, por meio das quais se produz, discursivamente, a ideia de um sujeito “cuidadoso de si” (FOUCAULT, 1984).
Espera-se, assim, criar um espaço em que se discutam questões relativas à constituição, formulação e circulação de diferentes materialidades discursivas, bem como proporcionar debates acerca da produção do sujeito, a partir de enunciados que circulam nos meios de comunicação de massa.
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 5
2º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Alba Krishna Topan Feldman
Sérgio Paulo Adolfo
TRANSCULTURAÇÃO E HIBRIDISMO EM LITERATURAS PÓS-COLONIAIS
Na sociedade atual, especialmente nos últimos séculos, observa-se que o sonho da cultura ideal ou mesmo da raça pura se desvaneceu em um conjunto de contatos, quase nunca pacíficos e certamente marcantes, entre culturas e etnias originado do fenômeno que se desenvolveu, principalmente, no século XVI, sendo denominado como ‘colonização’. Dentre estes contatos, pode-se mencionar o encontro do colonizador com os nativos ditos ‘selvagens’ das Américas, Caribe, África, etc., além da descoberta de civilizações já constituídas socialmente há vários séculos, como a China e a Índia.
Tais encontros propiciaram o desenvolvimento de novas relações não só interpessoais, mas também, no que diz respeito à cultura, costumes e políticas sociais dentro das novas comunidades, sem contar o aspecto biológico, responsável pelo surgimento da miscigenação e hibridismo. Entretanto, as transformações não operaram apenas no âmbito do colonizado; o mesmo ocorreu nas sociedades colonizadoras quando os sujeitos coloniais passaram a fazer parte delas através das diásporas causadas pela própria colonização.
A proposta deste simpósio é a análise de aspectos que se tocam, se modificam e que favorecem o surgimento de indivíduos cujas identidades dialogam com outros universos culturais e experiências pós-coloniais, identidades estas, invariavelmente fragmentadas pelas questões decorrentes dos processos de inclusão/exclusão coloniais fundamentados principalmente pelo fator dérmico e, consequentemente, pelo desrespeito às diferenças, tanto na literatura em língua portuguesa quanto em língua inglesa. Para isso, considera-se a construção da identidade em ambientes de transculturação, conforme o abordado por Pratt, os aspectos de hibridismo discutidos por Bhabha e aspectos de estudos sobre a identidade desenvolvidos por diversos críticos, como, por exemplo, Hall.
A definição do termo pós-colonial, sob esse viés, torna-se mais abrangente, referindo-se ao conjunto de ideologias subjacentes aos processos de colonização e dominação, além do discurso do Outro, calcado na representação negativa do termo \”differance\”, desenvolvido por Derrida. Esse simpósio pretende discutir de que maneira os textos narrativos, poéticos, descritivos ou testemunhais representam os conceitos aqui expostos, e como demonstram a identidade em um contexto cada vez mais amplo de zona de contato, que, por vezes se mostra hostil e árido, levando em consideração as consequências advindas da ação colonizadora no que concernem todos aqueles sujeitos envolvidos nesse processo, sejam eles, homens ou mulheres, colonizados ou colonizadores.
Procura-se explorar, por meio da literatura pós-colonial, o modo como os sujeitos agem dentro de contextos multiétnicos e multiculturais para compreender, dessa forma, quais os efeitos provocados nas sociedades influenciadas pelo aparato colonial desde seus primórdios.
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Jaime Ginzburg
Alamir Aquino Corrêa
VIOLÊNCIA E TRISTEZA NA NARRATIVA DE FICÇÃO DO SÉCULO XX
Um dos temas mais constantes da literatura é aquele da tristeza, quase imensurável, muitas vezes resultante do espaço da violência. A tônica que permeia queixas, lamentos e dores passa por perdas, depressões e estados melancólicos. A proposta do simpósio é discutir o tom lamentoso e tristonho em textos narrativos no recorte temporal do século XX, por seu aspecto mais revelador da emoção com toques de reflexão, especialmente em narrativas autodiegéticas, com particular interesse sobre as relações entre autoritarismo e violência.
Questões sobre o sentido da vida e sua representação estética, as profundidades dialéticas na relação matéria/espírito sobre a finitude, a memória dilacerada pela ausência do outro e a voz diante da violência são exemplos de abordagem comparatista. Deve predominar a leitura de textos enquanto textos, sem desprezar a fortuna crítica, fundada na detecção de relações intra e intertextuais; ou seja, o aparato teórico deve ser menos importante/evidente que a explicação do texto artístico.
Entre vários textos de suporte teórico, oriundos da Antropologia , da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia/Psiquiatria ou da História, lembramos entre vários de Edgar Morin, Philippe Ariès, Norberto Elias, Mircea Eliade, Nicole Loraux, Sigmund Freud, Carl Jung, Georg Friedrich Hegel, Martin Heidegger, Abram Rosenblatt, Hannah Arendt, Primo Levi e Giorgio Agamben. Há de se tomar como premissa que o advento do Romantismo leva a percepção do tempo para outro nível – o do mundo que deveria ter sido. A tônica da fundação das nações modernas com a necessidade de construção de um pai e de uma mãe novos – um passado que possa ser glorificado a justificar o presente – vai encontrar especialmente na prosa de ficção o campo apropriado para sua efetivação. Por outro lado, essa relação com uma nova mátria ou pátria e sua afirmação também sinaliza embates entre o indivíduo e a vontade do Estado.
Há uma desvinculação do passado, substituído por outro – imaginado como objeto de consolação também. O olhar de Orfeu para o passado faz com que ele tenha de procurar, por compensação, outra saída, uma outra história, um outro tempo. A perda é irrecuperável – aquele passado não pode mais estar presente, pois não mais pertence ao mundo, Eurídice se desvincula por completo do mundo de Orfeu. Não mais em busca de uma glória divina, não mais a imagem e semelhança de Deus, há de se buscar no passado um Outro. A tristeza ou a melancolia daí resultante, própria de um passado idealizado e irrealizado, provoca a contemplação do mundo que deveria ter sido – o distanciamento ou a fuga dolorida em direção ao passado pensado se torna a saída compensatória diante do mundo que é. Busca-se assim ler o passado, não mais com a sua força normativa, para sustentar a compreensão histórica das coisas.
O mundo perfeito, idealizado da Antiguidade, não existe mais; imitar é normatizar, mas nisso reside a impossibilidade, pois não é possível reproduzir. No século XX, a prosa de ficção se torna cada vez mais capaz de lidar com o inimaginável – a ausência de consolo futuro diante da industrialização da guerra e seu forte conjunto de interesses econômicos, e com o imponderável – a presunção de fruição da arte e o desprezo pelo homem. As atitudes ou emoções são o arrependimento, o pesar, a confusão, a raiva, a ansiedade, a dúvida, a alienação e o desespero. Se a morte por si já era um mundo contrário aos desejos, as perdas e embates no século XX tornam tudo inconsolável, o que exige da voz literária uma dureza acima das forças antes pensadas.
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 5
2º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
Diariamente estão sendo postados Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Lúcia Osana Zolin
Nincia Cecilia Ribas Borges Teixeira
REPRESENTAÇÃO/CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA BRASILEIRA
No âmbito dos estudos literários contemporâneos e, de modo especial, dos estudos de gênero, a noção de representação ocupa um espaço de incontestável importância. Isso porque, nas últimas décadas, a crítica literária tem refletido acerca de seu objeto a partir de vieses teóricos que problematizam insistentemente a relação texto-contexto. O conceito aponta significações múltiplas, entre elas, para o ato de fazer as vezes da realidade representada; ou para o de tornar uma realidade visível, exibindo-lhe a presença (GINZBURG, 2001).
De acordo com Chartier (1990), é “instrumento de um conhecimento mediador que faz ver um objeto ausente através da substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o figurar como ele é”. As representações são variáveis e determinadas pelos grupos ou pelas classes que as edificam; sendo que o poder e a dominação estão sempre presentes. Também para Bourdieu (1998), uma das principais problemáticas que envolvem a questão da representação reside nas imposições e lutas pelo monopólio da visão legítima do mundo social. O fato é que a identidade do ser ou da coisa representada, não raro, se resume à aparência dela, escamoteada que está por configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída.
O conceito foucaultiano de discurso, relacionado com o desejo e com o poder, traz, igualmente, importantes contribuições ao trabalho de identificação do modo como as “verdades” são edificadas. Tem contribuído com a crítica literária no sentido de investigar as fronteiras entre o real e o ficcional e refletir acerca do tema da representação dos seres e das coisas pela linguagem. Consideradas como “fatos”, as práticas discursivas e os poderes que as permeiam ligam-se a uma ordem imposta, cujas redundâncias de conteúdos reproduzem o sistema de valores das tradições de uma dada sociedade, em uma determinada época, autorizando o que é permitido dizer, de que maneira se pode dizê-lo, quem o pode dizer e a que instituição o que está sendo dito se vincula.
Para reverter esse estado de coisas, há que se promover o desnudamento das condições de funcionamento do jogo discursivo e de seus efeitos (Foucault, 2001). Se representar significa dar visibilidade ao outro, no dizer de Chartier (1990), pode significar, também, falar em nome do outro. Para ter assegurado o direito de falar, enquanto o outro é silenciado, o sujeito que fala se investe de um poder que lhe é doado por circunstâncias legitimadas pelo lugar que ocupa na sociedade, delimitado em função de sua classe, de sua raça e, entre outros referentes, de seu gênero os quais o definem como o centro, a referência, o paradigma, enfim, do discurso proferido. Historicamente, esse sujeito imbuído do direito de falar – e falar com autoridade – é de classe média-alta, branco, e pertencente ao sexo masculino. No âmbito da arte literária, até meados do século passado, os discursos dominantes vinham circunscrevendo espaços privilegiados de expressão e, consequentemente, silenciando as produções ditas “menores”, provenientes de segmentos sociais “desautorizados”, como as das minorias e dos/as marginalizados/as. No limite, o quadro comportava, de um lado, a visibilidade das obras canônicas, a chamada “alta cultura”, cujas formas de consagração guardam relações bastante estreitas com o modo de o mundo ser representado, com a ideologia aí veiculada e, também, é claro, com quem o está representando. De outro, o apagamento da diversidade proveniente das perspectivas sociais marginais, que incluem mulheres, negros, homossexuais, não-católicos, operários, desempregados…
Tendo isso em vista e, sobretudo, a tradição literária de mulheres que, no Brasil, nasce na segunda metade do século XIX, bem como as reflexões teóricas acerca da representação literária, empreendidas pelos teóricos/as empenhados em debater o tema, este simpósio propõe o debate da representação/construção de identidades na literatura de autoria feminina.
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Cecil Jeanine Albert Zinani
Salete Rosa Pezzi dos Santos
REPRESENTAÇÕES DO SUJEITO FEMININO: GÊNERO, SEXUALIDADE, IDENTIDADE, HISTÓRIA
No contexto cultural da pós-modernidade, destaca-se a voz feminina, na medida em que, apropriando-se da palavra, denuncia sua exclusão e defende seu direito de falar e de representar-se nos diferentes domínios tanto público quanto privado. Nos estudos sobre a mulher, ressalta a questão da sexualidade feminina, no sentido de verificar a relação existente entre sexualidade e dominação.
Para Foucault (1988, p. 46), a sociedade burguesa oitocentista é \”uma sociedade de perversão explosiva e fragmentada\”. Nesse aspecto, complementa Giddens (1993, p. 30), \”o estudo e a criação de discursos sobre o sexo levaram ao desenvolvimento de vários contextos de poder e de conhecimento”. Rita Schmidt, em “Repensando a cultura, a literatura e o espaço da autoria feminina”(1995), destaca a importância da inserção da prática discursiva feminina no espaço do logos, classificando-a como um ato político, na medida em que a mulher desconstrói a sua imagem negativa projetada pelas práticas culturais masculinas que constituem a norma, o padrão.
Considerando essa perspectiva, assoma a relevância da obra literária, na medida em que ela faculta uma nova consciência receptora, visto abrir-se para o leitor outra possibilidade de percepção do mundo, tanto da realidade externa quanto interna. Assim, é possível pensar que narrativas que se movimentem em torno da representação do sujeito feminino poderão favorecer a problematização de vivências da mulher, desestabilizando mecanismos de poder e colocando em pauta a hierarquização de gêneros, cujas relações se estabelecem não apenas a partir da noção de diferença, mas também da concepção de inferioridade, marcadamente, feminina.
A identidade de gênero, como qualquer outro aspecto da identidade cultural, configura-se dentro de um processo socioistórico, não constituindo um componente fixo, permanente, mas móvel e transitório. Na medida em que os elementos formadores da cultura operam o movimento de articulação/desarticulação, a identidade modifica sua configuração, como também os próprios sujeitos, que, devido a sua vivência e experiência, re-inventam, ressignificando a sua identidade.
A construção da identidade feminina, num território periférico como a América Latina, está mediada por um sistema de representações culturais de características patriarcais e androcêntricas, tidas como naturais, ou seja, fundadas numa dominação legítima que precisa ser subvertida para que essa construção se efetive. Assim, é impraticável pensar essa identidade sem levar em consideração o sistema de gênero, uma vez que é esse sistema que vai codificar o comportamento e o desempenho dos sujeitos sociais tendo como base o fator biológico. Essa modalidade de representação, além de posicionar o sujeito no espectro social, caracteriza e dá significado ao sujeito, condicionando uma organização social assimétrica, em que o masculino define-se a partir do centro, do positivo, restando para o feminino a posição marginal (SCHNEIDER, 2000).
Questões fundamentais ligadas à história da literatura e às representações de gênero, identidade e sexualidade, perpassadas, transversalmente, pelo olhar da história e da psicanálise, constituem o objeto de problematização do presente simpósio.
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Márcio Roberto do Prado
Jaime dos Reis Sant Anna
SOB O SIGNO DA CONVERGÊNCIA: ARTICULAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICAS DE SALA DE AULA NO ENSINO DE LITERATURA
Quando pensamos nos aspectos ligados ao estudo da literatura, sobretudo no meio universitário, não é raro que tenhamos uma cisão entre uma abordagem eminentemente teórica e outra de viés prático, voltada para a aplicação de conteúdos em sala de aula. Assim, a abordagem teórica destacaria a pesquisa e a produção de conhecimento científico para divulgação por meio de publicações de livros e periódicos especializados, ao passo que a prática visaria questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como foco a otimização de tal processo e o estabelecimento de estratégias e planos capazes de contribuir para semelhante cenário de eficiência.
Todavia, essa separação não existe em termos tão radicais, de modo que as questões ligadas à Teoria da Literatura e aquelas que lançam mão de uma prerrogativa didático-pedagógica acabam por se articular, cruzando-se várias vezes. De modo mais incisivo, podemos ainda destacar que semelhante “contaminação” contribui para o avanço nas duas frentes, uma vez que permite que se lance luz sobre aspectos que, diante de uma idealizada (e impossível) segmentação inquestionável, seriam, no mínimo, negligenciados. Tendo em vista este panorama, cumpre destacar que se trata de algo em perfeita consonância com as demandas atuais em termos que não se limitam ao contexto de pesquisa científica academicamente considerada e da sala de aula no âmbito do ensino de literatura. Nomes como Henry Jenkins apontam para a natureza de convergencial de nossa cultura (atingindo, assim, a atividade docente), na qual mídias, interesses e indivíduos encontram pontos de contato teleologicamente organizados, o que abarca inclusive a convergência teórico-prática. Outros, como Pierre Lévy, destacam o contexto cultural que emerge do impacto das tecnologias de informação e comunicação em nossas vidas, em suas mais variadas frentes (a “cibercultura”), mostrando como há uma urgência e uma obrigatoriedade de modificações em diversos de nossos paradigmas, não escapando dessa condição o próprio professor que, instigado por uma verdadeira revolução na dinâmica comunicacional, vê-se impelido a buscar novas possibilidades que, por seu turno, têm como condição incontornável uma reflexão teórica mais pormenorizada capaz de dar base a essas possibilidades que se abrem.
Assim, impõe-se um cenário em que o professor deve ir além (sem desconsideração) do tradicional tripé “giz-lousa-saliva” e lançar mão de recursos tecnológicos e das mídias deles emergentes, além de propostas de ensino e de verificações de aprendizagem capazes de utilizá-los de modo eficiente. Por seu turno, o pesquisador não pode fechar os olhos para tais inovações, uma vez que seu reflexo até mesmo em nossa concepção de arte e, portanto, de literatura, é por demais evidente, destacando a importância de inovações equivalentes em termos de instrumental teórico e crítico.
Deste modo, o presente simpósio pretende abordar variadas facetas de abordagem das questões suscitadas pela articulação entre Teoria da Literatura e Metodologia do Ensino de Literatura, destacando em especial aquelas que enfoquem a mediação de leitura e a formação do leitor, bem como as atuais demandas tecnológicas e comunicacionais, com o intuito de apresentar reflexões e experiências ilustrativas nesse sentido. Por fim, tomará forma uma visão mais colaborativa e interativa do professor e do pesquisador, visão esta capaz de ilustrar com eloquência que a prática sem teoria é diletantismo, ao passo que a teoria sem a prática é alienação.
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 4
Diariamente estão sendo postados Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.
O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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José Nicolau Gregorin Filho
Thiago Alves Valente
LITERATURA INFANTIL E ENSINO: ROTAS, DESVIOS E DESAFIOS
As discussões sobre a natureza de qualquer campo de estudos são constantes e necessárias. Entretanto, nota-se, quanto aos estudos sobre literatura infantil ou juvenil, a estabilidade no meio acadêmico referente à ideia de existência de subsistemas literários ou culturais que têm nas crianças e jovens suas marcas mais evidentes. A mesma situação ocorre com a relação entre o literário e o pedagógico, discussão que, por mais pertinente que seja, aponta para o predomínio, nos meios legitimadores do “literário”, da obra de caráter estético.
Apesar dessas duas situações de estabilidade que podem indicar a conquista efetiva do espaço acadêmico e cultural por parte dos estudos em literatura “infantil”, foco deste simpósio, observa-se que essas discussões ainda estão distante das escolas de Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio). O quadro se torna ainda mais agravante à medida que a articulação entre obras de reconhecido valor literário, estudadas e devidamente abordadas por metodologias atualizadas, encontram-se à disposição nas bibliotecas e não são lidas pelo público escolar. A isso se acrescenta a ausência de mecanismos de veiculação da crítica literária voltada à literatura infantil no meio midiático. Observa-se, porém, uma situação anterior à escola como espaço de divulgação e concretização do texto literário. Trata-se do papel da pesquisa, isto é, no Brasil, do meio acadêmico majoritariamente universitário frente ao problema de se divulgar, mas, sobretudo, de constituir e manter uma crítica literária ativa, engajada com a árdua tarefa de trazer ao público não especializado questões de qualidade literária quando o assunto é livro para crianças.
É notória a ausência de publicações de ampla circulação sobre o tema. Também é perceptível que o mercado ocupa esta posição num processo de autopromoção das qualidades de seus produtos, conclamando para isso, contraditoriamente, a própria academia e agentes culturais muito próximos dela. Surgem, assim eventos de divulgação de livros, palestras com escritores, projetos de leitura institucionalizados ou não, entre muitas outras práticas muitas vezes custeadas pelas próprias editoras.
Este simpósio, enfim, busca discutir justamente a ocupação deste espaço, lançando questionamentos sobre:
1) a relação entre a universidade e a sociedade de modo geral, o que traz à baila o problema dos limites entre o conhecimento desinteressado e a ausência de engajamento ou alienação dos problemas sociais;
2) o engajamento do meio acadêmico com o “direito à literatura”, premissa posta à margem de discussões aparentemente mais substanciais para a educação brasileira;
3) a relação entre texto literário de qualidade reconhecida com as práticas de leitura realizadas em sala de aula;
4) as perspectivas artísticas, culturais e educacionais para o tratamento do texto literário infantil como espaço de emancipação pessoal e formação do leitor;
5) as tendências estéticas, temáticas e formais, quanto à produção nacional e internacional direcionada ao público infantil.
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Paulo Astor Soethe
Wolf-Dietrich Sahr
LITERATURA SEM MORADA FIXA – ESPAÇOS E MOBILIDADES
As expressões literárias muitas vezes conformam, além do seu conteúdo estético e social, a construção de espacialidades sociais. Dessa maneira, configurações de trajetos temporal-espaciais ambientam e interligam elementos textuais e realidades vividas.
A partir do século XVIII, na fase da globalização capitalista, desenvolveu-se uma gama de textos cujos recortes temáticos e princípios estruturadores concentram-se sobre espaços que ultrapassam largamente o lugar fixo: são romances e relatos de viagem (em parte marcados pela dicção científica), baladas e dramas sequenciais, ensaios e diários. Inspiradas por abordagens de Friedrich Nietzsche (Geofilosofia) e reflexões mais recentes como as de Gilles Deleuze e Félix Guattari, estabelecem-se noções, como desterritorialização e reterritorialização, espaço liso e espaço estriado, que permitem refletir sobre a relação entre texto e paisagem, entre formas textuais e tradições culturais, entre atitudes de leitura e lugares de enunciação.
Assim, esperamos poder discutir uma Geoliteratura que se propõe criar, acompanhar, aprofundar e criticar espaços literários e seu diálogo com diferentes vivências socioespaciais. Inclui-se nessa perspectiva a reflexão do romanista alemão Ottmar Ette (Universidade de Potsdam), que, sobretudo em sua trilogia ÜberLebenswissen [SaberSobreViver], ZwischenWeltenSchreiben [EscreverEntreMundos] e Zusammenlebenswissen [SaberConviver], propõe a concepção de uma “literatura sem morada fixa”. A fim de superar as limitações metodológicas e conceituais presentes no par opositivo “literatura nacional” / “literatura mundial” (Weltliteratur), e para evitar classificações identitárias excludentes como “literatura de migração”, Ette propõe privilegiar no exercício da leitura os elementos textuais e contextuais ligados à mobilidade de personagens, mercadorias, tecnologias, ideias, linguagens.
Os textos em si mesmos, ao transitar e fazer transitar, provocam mobilidades e trajetos reflexivos no interior de sua arquitetura e orquestração formal. Para além de aspectos temáticos ou formais intrínsecos, os textos transitam de uma comunidade interpretativa para outra (por exemplo, por meio da tradução) e criam com isso dinâmicas de comunicação e não-comunicação diferenciais que projetam novas espacialidades. Nessas configurações, inserem-se novas formas textuais e consolidam-se novas bases midiáticas, tais como literatura virtual, street poetry, manifestações performáticas (presenciais ou midiáticas), que se movem de maneira imediata no espaço físico e virtual, onipresente e ilimitado.
Em síntese, o simpósio pretende discutir, a partir de exemplos e considerações teóricas, tendências interpretativas e de pesquisa acerca das categorias de espacialidade e mobilidade em textos literários (seja de matriz hermenêutica, seja de matriz descontrucionista, seja de matriz não-representacional), a fim de apontar traços comuns e disparidades entre essas tendências, os ganhos reflexivos ou as incompatibilidades que resultem da tentativa de se estabelecer um tal diálogo.
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Divanize Carbonieri
Alvany Rodrigues Noronha Guanaes
NARRATIVAS DE SUPERAÇÃO E DE ANIQUILAÇÃO NAS LITERATURAS AMERÍNDIAS, AFRICANAS E AFRO-DESCENDENTES
Este simpósio pretende enfocar a prosa de ficção das literaturas ameríndias, africanas e afrodescendentes, preferencialmente, mas não de forma exclusiva, nas línguas portuguesa e inglesa. O recorte empreendido nessa ampla produção literária abrange as narrativas que representam situações individuais ou coletivas de violência ou sofrimento. De que estratégias esses autores lançam mão para ir além do que seus personagens e/ou coletividades vivenciam historicamente? É possível alguma transcendência do trauma histórico? Ou, ao contrário, existe um esgotamento de todos os recursos, inclusive os narrativos, aniquilando qualquer possibilidade de redenção, qualquer esperança de futuro, qualquer retorno a um passado mais feliz? O ato de narrar confirma ou contraria a ideia de que a obra literária pode ser vista como um mecanismo de compensação para a imobilidade da vida extraliterária?
Diante desses questionamentos, a abordagem teórica proposta para essa análise é, em grande parte, dada pelo referencial dos estudos pós-coloniais. Apesar das diversas possibilidades de definição, é possível entender as literaturas pós-coloniais no seu aspecto amplo, que envolve tanto as manifestações literárias de grupos oprimidos espalhados pelo mundo quanto aquelas produzidas pelas culturas que passaram e foram além do jugo da colonização imposto a elas pelas nações europeias. A existência de fluxos e deslocamentos constantes parece marcar essas produções, desestabilizando certezas a respeito da construção de identidades e da experiência de tempos e espaços. Partindo da conceituação de Zygmunt Bauman (1998) de uma pós-modernidade líquida, em que existe a necessidade de não se adotar nenhuma identidade com excessiva firmeza porque todas elas estão em processo de liquefação, pensamos que o atributo do transitório é um traço característico dessas realizações estéticas.
Assim, as experiências temáticas e estilísticas dos movimentos, trânsitos e fluxos tornam-se também um objeto de estudo especial neste simpósio. Se esses deslocamentos geram verdadeiras transformações ou se apenas aniquilam o já existente é uma das questões que se levantam no exame dessas obras. Em outras palavras, o que pretendemos é o exame de alguns eixos temáticos principais, como as questões de pertencimentos e não pertencimentos, movimentações, trânsitos e mesmo imobilismos de diversas naturezas, identificações e diluição das identidades, resistências, transformações e abandonos da agência transformadora.
No campo estilístico e formal, busca-se o desvendamento das configurações espaciais e temporais dessa produção literária, com o escrutínio dos novos cronotopos propostos, além do delineamento de seus modos, estratégias e soluções narrativas. Ainda são levados em consideração os elementos contextuais que surgem das relações entre literatura, história, política e sociedade.
Portanto, serão aceitos trabalhos que tratem dessas relações e que reflitam sobre os processos de mudança ou estagnação sofridos por sujeitos que se encontram em situações de opressão. Investigações a respeito das possíveis pedagogias estabelecidas pelos autores em suas tentativas de demonstrar caminhos de saída viáveis aos leitores também são esperadas. Além disso, como não poderia deixar de ser, também serão contempladas discussões acerca da impossibilidade de superação diante de alguns tipos de devastação histórica e psicológica.
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Antonio Carlos de Melo Magalhães
Salma Ferraz
O DEMONÍACO NA LITERATURA
Na relação que se estabelece entre os diferentes estilos, gêneros e tradições de textos literários, um dos temas recorrentes é o do demoníaco na literatura, mesmo na literatura que pode ser interpretada como crítica da religião. Seja na literatura antiga, chamada muitas vezes de religiosa, como são os textos da Bíblia,do Alcorão, da Bíblia hebraica e cristã em suas diferentes versões, da vastíssima literatura hebraica fora da circunscrição teológico-literária mais institucional, dos textos denominados apócrifos, etc, seja na literatura considerada não religiosa, a presença do tema do demoníaco e suas mais diversas representações, tais como o diabo, o mal, satanás, o demônio, etc. são constantemente retomadas, reescritas, ampliadas, criticadas.
Da literatura antiga, o primeiro grande exemplo é o texto bíblico hebraico e cristão, mas também os muitos textos denominados apócrifos, já que não importa ao simpósio nenhum tipo de canonicidade prévia, até porque o canônico manifesta tradições afins a outras tradições consideradas não-canônicas. Além destes textos, o simpósio acolherá trabalhos para análise que contemplem textos chamados religiosos ainda não amplamente conhecidos, mas que já tenham recebido ou que possam receber interpretações baseadas na crítica e na teoria da literatura. Abre-se, portanto, a possibilidade de sermos confrontados com textos religiosos em novas versões literárias e culturais. Nas muitas literaturas recentes não faltam exemplo da temática do demoníaco. Assim sendo, o demoníaco não está circunscrito à religião formal e institucional, antes se tornou um tema constitutivo de muitas narrativas literárias, além de fazer parte de imaginários e representações das mais diferentes camadas da cultura brasileira.
O tema deste simpósio assume a tarefa de trabalhar o tema do demoníaco no chamado texto religioso e no texto literário, ou também na relação entre ambos, ainda que seja necessário e importante destacar que alguns dos textos antigos, denominados de religiosos, sejam em sua constituição, escrita, formação, desenvolvimento e recepção textos literários e, por conseguinte, passíveis de serem compreendidos na vasta história da literatura e a partir de enfoques teóricos da crítica e da teoria da literatura.
Os trabalhos do simpósio estarão focados nas diversas manifestações do demoníaco na literatura e poderão ser desenvolvidos e apresentados a partir de textos de diferentes épocas, estilos e gêneros. O foco será o tema, não o período, não o estilo, não o gênero. Parte-se do pressuposto que os textos a serem apresentados incluirão enfoques teóricos oriundos de correntes como os da intertextualidade, da interdiscursividade, da literatura comparada, de teorias da cultura voltadas para literatura marcada pela oralidade no Brasil,assim como as teorias voltadas para os textos clássicos religiosos, como são os textos bíblicos e os chamados apócrifos.
O fundamental será desenvolver leituras e interpretações que garantirão competência e domínio do tema, além de busca de acuidade e profundidade na análise literária, na crítica e na teoria da literatura. Outrossim, é importante destacar que o demoníaco evoca os resquícios do mítico na história do pensamento, ainda que a alusão a ele se dê em esferas não tradicionalmente religiosas, como pode ser o caso do pensamento filosófico e mesmo científico.
O demoníaco permite, portanto, esta fronteira do pensamento, esta linha tênue entre o religioso, o literário, outras formas de criar e desenvolver o pensamento e sedimentar as culturas. Se as figuras do diabo, de satanás são figuras tradicionalmente religiosas, em grande parte cultivadas e interpretadas na história das religiões, o demoníaco, por sua vez, estabelece uma fronteira criativa com essas figurações do mal, mas também continua a constituir a criatividade em outras tradições do pensamento, sem deixar de manter certo vínculo com as muitas formas de sua representação na história da cultura, das civlizações e da religião.
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Alexandre Villibor Flory
Allan Valenza da Silveira
O PAPEL DO TEATRO NA LITERATURA BRASILEIRA
Quando estudamos a teoria dos gêneros literários, nenhum pesquisador cogitaria deixar de lado o gênero dramático, até mesmo porque a teoria literária não prescinde da Poética, de Aristóteles, para ficar apenas em um exemplo eloquente.
Mas o teatro brasileiro não goza do mesmo prestígio, ficando relegado a um papel meramente indicativo na maioria dos cursos de Letras. Isso levaria a pensar que, no Brasil, o teatro não estaria à altura da poesia e da narrativa. Porém, com um olhar mais acurado sobre a qualidade da produção dramática brasileira, esse rebaixamento mostra-se falso. Mas, não podemos negar que a qualidade do texto teatral brasileiro não lhe rendeu, academicamente, o mesmo espaço que os outros gêneros receberam tanto em termos de história como de teoria e crítica.
Entretanto, esse pouco interesse sobre a dramaturgia brasileira não é diretamente proporcional a uma baixa qualidade de investigação, bem pelo contrário. O jovem Machado de Assis, na quadra dos vinte anos, estava tomado pelas perspectivas formadoras do teatro no Brasil, desdobrando-se como autor teatral, crítico e parecerista do Ginásio Dramático; José de Alencar e Gonçalves Dias também participaram ativamente de nossa vida teatral, em capítulos pouco estudados de nossa história literária. Tudo isso corrobora a autoavaliação de Antonio Candido, em um dos prefácios de sua Formação da literatura brasileira, de que faltou o teatro em suas páginas.
O século XX, dentro de sua característica metalinguística, viu o surgimento, especialmente a partir dos anos 40, de grupos relativamente estáveis, com propostas estéticas ousadas e uma busca formal incessante, discutindo a função social da arte por obras de elevado interesse formal e temático. Essa perspectiva não se restringe ao eixo São Paulo – Rio de Janeiro, mas também ocorre um diálogo importante no interior do Brasil e em outras regiões, como no Nordeste. Esses são alguns poucos exemplos do que costuma ficar à margem de nossa história literária, até mesmo porque sua ênfase recai sobre autores individuais e obras específicas. Essa historiografia se vê diante de enormes dificuldades – metodológicas, epistemológicas e, por que não, ideológicas – no trato com o teatro vivo, seja entendido como processo criativo (concepção do texto dramático), como organização da atividade artística (processo de trabalho em grupo) e encenação propriamente dita (com recepção imediata), níveis esses dificilmente isoláveis no campo teatral.
Como se vê por esse breve apanhado, por vários motivos ocorre uma espécie de apagamento dessa história que precisa ser compreendida, e essa lacuna, paulatinamente, preenchida, o que é dificultado pelo espaço reservado nos cursos de Letras à literatura dramática. Esse Simpósio pretende contribuir para essa atualização de nossa história literária, ao abrir um espaço para discutir o papel do teatro em nossa literatura, em todas as frentes em que ela se desdobra: como história, crítica, teoria e interpretação de obras ou de encenações.
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Rosana Cássia Kamita
Regina Célia dos Santos Alves
O ROMANCE BRASILEIRO
Considerado híbrido, em constante transformação, ora um gênero menor, ora visto como possuidor de um caráter político com atuação direta na sociedade, o romance tornou-se referencial devido ao seu caráter livre e multiforme, com intensa capacidade de se modificar ao longo do tempo, adaptando-se a diferentes momentos e lugares. Bakhtin pensava o romance como um gênero em constante renovação, e se pode compreender sua posição ao apontar que a teoria dos gêneros serve como critério e é constantemente reavaliada a partir das obras produzidas e não o contrário. Ou seja, é a própria produção dos textos literários em suas variadas formas que impulsiona o estudo dos gêneros.
Numa outra linha de investigação, mas também tentando compreender o gênero, Ian Watt (A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.) aponta o realismo formal, embora também responsável pelo aspecto amorfo do romance, como um de seus principais traços distintivos, que se faz observar, por exemplo, na visão circunstancial e cotidiana da vida, com alto grau de individualização das personagens e detalhamento de seu ambiente. O ser humano e a vida são, portanto, suas preocupações centrais, vinculando romance à determinada sociedade, em dado tempo e lugar.
No Brasil, não obstante as controvérsias acerca da origem do romance, é sem dúvida a partir do século XIX, com o movimento romântico, que o gênero toma fôlego, passando a ser uma das formas literárias mais importantes no país não só naquele momento, mas também nos subsequentes.
No século XIX, em especial durante o Romantismo, passa a ser um importante instrumento na descoberta do país, na medida em que toma como uma de suas principais tarefas não só o entretenimento ou a fruição estética, mas o conhecimento do Brasil no tocante ao passado histórico, mítico e lendário, bem como aos costumes, às paisagens e vidas quase desconhecidas do sertão e à vida urbana, a qual, no país daquele momento, se resumia à vida na corte. Os romances de Alencar são flagrantes nesse sentido e nessa espécie de missão em que parecia se achar envolvido o gênero quando, então, a nação carecia com urgência de formas de identidade e de legitimação.
O final do século XIX acentua o traço analítico já ensejado no romance romântico. O apoio, não raro, no arsenal científico e filosófico que formava as bases do pensamento ocidental à época – afastando-se portanto da visão idealizante romântica -, leva o gênero a acentuar as preocupações acerca das mazelas sociais, expondo um mundo repleto de vícios e corrupções. Não apenas os romances naturalistas apontam para essa direção, mas inclusive, e certamente de maneira muito mais aguda, os romances machadianos.
Distante dos preceitos ortodoxos naturalistas, o romance de Machado de Assis, como afirma João Alexandre Barbosa, inaugura a modernidade do romance brasileiro, ao trazer para primeiro plano a tensão entre realidade e representação. Sua singularidade, assim, estaria na capacidade de transformar “a linguagem da realidade em realidade da linguagem” (A modernidade do romance. IN: PROENÇA FILHO, Domício (org.) O livro do seminário. São Paulo:LR Editores, 1983, p.25.). Essa consciência do fazer literário acompanharia, ora em grau maior, ora menor, toda a produção romanesca do século XX, desde aquelas formas mais radicais e experimentais àquelas de traçado mais convencional e conservador.
No cenário nacional, portanto, o romance mostra-se em constante processo de transformação, como parece ser próprio do gênero, mesmo quando se evidenciam alguns traços que o marcaram fortemente no século XIX e também em alguns momentos do século XX, como o naturalismo e o regionalismo. Na dinâmica de sua evolução, abre-se para diferentes possibilidades, revela-se fluido e de difícil caracterização, adaptando-se a diferentes intenções, mimetizando finalidades diversas.
No século XXI, o gênero apresenta alguns contornos e características ao mesmo tempo em que se mostra ainda em formação, difuso em suas várias potencialidades, o que incentiva seu estudo. Nesse sentido, a proposta para este simpósio é a de tentar compreender as manifestações de obras no gênero romance, de autores brasileiros, e procurar estabelecer as características assumidas pelo gênero, sua construção e elaboração, experimentações, traços que possam vir a ser considerados específicos em determinados períodos, além das principais temáticas abordadas.
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Raquel Lazzari Leite Barbosa
Sérgio Fabiano Annibal
O SUJEITO LEITOR, A LEITURA E O ATO DE LER NA LITERATURA, NA EDUCAÇÃO E NAS MÍDIAS
Procuraremos trazer a discussão acerca da leitura como habilidade capaz de contribuir na performance do sujeito na cultura. Trata-se de uma proposta ampla, que visa compreender de que forma os estudos da leitura e as representações sociais sobre o ato de ler vêm sendo discutidos em diversas áreas:
Educação, no que diz respeito à formação de professores e gestores, nas abordagens feitas pelos livros didáticos e nas relações didáticas implícitas neste processo;
Literatura, uma vez que, a partir da leitura literária, sua análise e refração em ambientes escolares, suas contribuições para a estética e para o fomento do gosto literário estarão em voga para se pensar o ato de ler;
Linguística, ciência de que lançaremos mão para entender de que maneira o texto é arquitetado pela linguagem, no que tange à produção do ato de ler tanto nos aspectos sintáticos quanto semânticos da língua e seus efeitos de sentido tanto para quem ensina como para quem aprende, ou seja, como a leitura é engendrada no texto a fim de produzir um sentido na cultura;
Comunicação, que será utilizada para situar de que maneira a leitura midiática se processa e vem sendo representada nesta área do conhecimento;
Educomunicação, campo novo e em pleno debate tanto na Comunicação como na Educação, e que consistirá na busca de compreensão da leitura neste novo campo e o olhar sobre o sujeito que lê as mídias e sua constituição linguística e cultural.
Ademais, outras áreas podem contribuir para este debate, como, por exemplo, a Fonoaudiologia, a Psicologia e a Neurociência, dentre muitas outras áreas dispostas a pensar o ato de ler, o sujeito leitor e suas representações. Para tanto, a metodologia também será hibrida e advinda destas áreas: História, Comunicação, Semiótica, Estudos Literários, dentre outras.
Neste contexto, o ato de ler apresenta relação direta com as representações sociais dos sujeitos, podendo produzir um movimento de construção e reconstrução destas representações por meio da leitura e, consequentemente, interferindo nas maneiras pelas quais o sujeito enfrenta e concebe o espaço cultural em que transita. Esta abertura nas apresentações sobre Leitura é justificável pelas tentativas demonstradas por meio das produções acadêmicas oriundas de diversos campos do conhecimento. São opções teóricas para se conhecer mais sobre o assunto e, dessa forma, ampliar a pesquisa e o debate sobre o tema, configurando várias entradas teóricas para a leitura, cada uma com suas particularidades e sistematizações, pois não basta nos debruçarmos apenas sobre os resultados, isto é, se o indivíduo apresenta ou não um bom desenvolvimento de leitura. É preciso mapear os processos que conduzem ao ato de ler em vários suportes e, sobretudo, captar quais os sentidos que estes estudos e seus impactos apresentam e até que ponto eles conseguem corroborar os esforços de entendimento e desenvolvimento da leitura como prática social capaz de oferecer maior transito social para o sujeito.
Portanto, dentre os resultados esperados estão a tentativa de se repensar velhos paradigmas – muitas vezes restritos e reducionistas –, a possibilidade de rever o conceito de leitura e a dinâmica do ato de ler e também compreender o que se chama de dificuldades de leitura e, talvez, com isso, buscar caminhos para superá-las. Este debate sobre leitura e as relações implícitas em seus processos tanto no suporte digital quanto no impresso espera reunir pesquisadores de diferentes regiões e instituições brasileiras para que tenhamos oportunidades de discussão sobre a concepção da leitura como resultado de um processo histórico materializado pela linguagem e suas possibilidades de operar em gêneros.
Logo, este trabalho busca compreender de que forma o ato de ler, independentemente do suporte, refrata as práticas culturais. Finalmente, parece se encontrar nestas reflexões a chance de se ver o leitor como mediador e regulador da linguagem que o constitui, deixando-o, talvez, menos vulnerável aos não ditos do discurso social e cultural.
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Rosana Cristina Zanelatto Santos
Susylene Dias de Araújo
PSICANÁLISE E TEORIA CRÍTICA ARTICULADAS PARA A LEITURA E ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO: O MAL ESTAR E A VIOLÊNCIA EM QUESTÃO
Freud, desde seu ensaio Além do Princípio do Prazer (1920), dá indícios do encaminhamento e da confirmação da Psicanálise como um campo crítico acerca do humano e que se estendia para além do âmbito do indivíduo, alcançando as relações pertinentes para uma crítica da Cultura, como se lerá adiante em suas formulações encontradas em ensaios como Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921), O Futuro de uma Ilusão (1927), O Mal-Estar na Civilização (1930) — esta última que se constituiu no eixo central de suas discussões — e Moisés e o Monoteísmo (1939). Suas considerações têm sido pertinentes para os estudos que pretendem dar conta dos limites representacionais tanto da “catástrofe” quanto de sua dissolução no cotidiano do mundo contemporâneo, chegando ao esvaziamento de significados.
Sem dúvida, delineia-se uma linha de pensamento sobre um “mal-estar” que contém em seu campo semântico-discursivo as diferentes configurações da violência e da agressividade. Por outro lado, a Teoria Crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt apresenta uma percepção que possibilita, pela aliança entre a teoria e a prática, o esclarecimento, sem o cunho iluminista, e uma visão alargada dos conflitos e dos debates em sociedade. Sendo assim, em hipótese, a Teoria Crítica ofereceria bases para estudos críticos e de autocrítica no que concerne às múltiplas faces da política, da ética, da cultura e da arte e ao entrelaçamento delas.
Esses estudos colocarão em crise inclusive alguns postulados psicanalíticos, não para negar sua importância para a leitura da humanidade senão para – a partir de sua posição epistemológica – relacionar-se com a metapsicologia naquilo que aproxima Psicanálise e Teoria Crítica e, principalmente, no que as faz “olhar diferente” para o ser e sua presença no e como mundo. Adorno e Horkheimer, na Dialética do Esclarecimento (1947), dirão que Freud tinha muito mais razão do que supunha quando disse que a civilização produz a anticivilização e a reforça progressivamente, tendo em vista que os impulsos encontram-se longe da satisfação de suas necessidades, que são cotidianamente subordinadas aos anseios do consumo.
Como podemos compreender que a “dialética do esclarecimento” diz respeito a todo progresso material e espiritual obtido mediante a divisão social do trabalho (a qual, por sua vez, não caminhou numa “rua de mão única”, pois a humanidade, apesar de cada vez mais esclarecida, é forçada a assumir posturas próximas da barbárie e esquecer-se de como devem ser lidos os vestígios deixados pelo passado), não se pode deixar de pensar no conceito de pulsão de morte, desenvolvido por Freud, que carrega em si a metáfora do movimento em direção ao estado primitivo como elemento fundamental para a constituição da subjetividade e, por extensão, da cultura e de suas ramificações em sociedade, incluindo-se aí a literatura.
Este Simpósio pretende, portanto, propiciar debates no entre-lugar entre as relações de Psicanálise e Teoria Crítica para a leitura e análise da obra de arte literária, de modo a dar lugar a trabalhos que objetivem tratar desse “mal-estar” e também da violência. Serão aceitos trabalhos que busquem estabelecer relações entre as perspectivas teóricas adotadas ou que se vinculem a apenas uma delas (Psicanálise ou Teoria Crítica) contanto que tenham como objeto o texto literário.
Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá
2. CIELLI e 5. CELLI na Universidade Estadual de Maringá
Antonio Ozaí da Silva (Revista Espaço Acadêmico – da UEM – v.11 – n. 131)
Revista Espaço Acadêmico acaba de publicar o número mais recente em http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico. Convidamos a navegar no sumário da revista para acessar os artigos e itens de interesse.
Agradecemos seu interesse em nosso trabalho,
Antonio Ozaí da Silva
UEM, Maringá
aosilva@uem.br
Revista Espaço Acadêmico
v. 11, n. 131 (2012): Revista Espaço Acadêmico, nº 131, abril de 2012
Sumário
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/view/608
DOSSIÊ – Psicanálise e Contemporaneidade (Orgs.: Sergio Sklar)
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Bullying: ato esburacado na angústia (01-07)
Maria de Lourdes Soares Ornellas
Adolescência e laço social: uma busca no tempo (08-16)
Roselene Gurski, Marcelo Andrade Pereira
A pedagogia como técnica: psicanálise e rentabilização dos saberes
(17-24)
Rinaldo Voltolini
Transferência, sedução e autoridade na relação pedagógica (25-31)
Maria Aparecida Morgado
Traços, lacunas e retalhos na formação docente para a diversidade (32-42)
Margareth Diniz
Psicanálise e Educação: um percurso de inquietações (43-51)
Mônica Maria Farid Rahme
O sintoma ou o que o sujeito tem de mais real (52-59)
Marcelo Ricardo Pereira
Freud, Educação, Mitologia: entre o psíquico e o lendário (60-67)
Estrella Bohadana, Sergio Sklar
O que toca a subjetividade do professor? Um estudo de psicanálise aplicada à educação na contemporaneidade (68-75)
Margarete Parreira Miranda
ADMINISTRAÇÃO
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Recrutamento e seleção de pessoal: análise comparativa entre a iniciativa privada e a pública (76-80)
Adriano Sergio da Cunha, Fernando Rossoni Cavalcanti
Teoria Geral dos Sistemas e Dinâmica de Sistemas – Similaridades e possibilidades em Administração (81-88)
Renata Laíse Reis de Souza
Desempenho do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) Sob a Perspectiva do Retorno Ajustado ao Risco: Sustentabilidade Gera Retorno? (89-96)
Cinthya Muyrielle da Silva Nogueira, Anna Cecília Chaves Gomes
CIÊNCIA & TECNOLOGIA
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Século XXI – O Século da Educação (97-100)
Antonio Mendes Silva Filho
CULTURA & SOCIEDADE
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Os miseráveis e as lutas sociais no Brasil: repressão e resistência (101-108)
Veralúcia Pinheiro
DIREITO
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Degradação ambiental e consciência da história efeitual: contribuições de Hans-Georg Gadamer ao diálogo intergeracional (109-119)
Haide Maria Hupffer
Arbitragem nos litígios empresariais (120-126)
Luciano Alves Rodirgues dos Santos, Fábio Ricardo Rodrigues Brasilino
DIREITOS HUMANOS
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Identidade e diversidade sexual no Município do Rio de Janeiro: o caso das travestis e transexuais (127-137)
Denise dos Santos Rodrigues, Cristiane da Silva Santana
ENSINO
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Mapas conceituais como instrumentos de avaliação em uma disciplina de Física no curso de Engenharia de Produção (138-144)
Wilson Leandro Krummenauer
ESCRITOS HETERODOXOS
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Sobre a morte… e a vida! (145-148)
Antonio Ozaí da Silva
FILOSOFIA POLÍTICA
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Apontamentos sobre Economia Política em Rousseau (149-157)
Antônio Marcos Alves Sá
FRANÇA.COM
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Comment j’ai pourri le web (158-164)
Loys Bonod
Como eu estraguei a Web (165-171)
Loys Bonod
GEOGRAFIA
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Desenvolvimento Territorial e Economia Solidária: das concepções e práticas entre o Estado brasileiro e os coletivos organizados no Território do Sisal-BA (172-180)
Jamille da Silva Lima
Da amplitude de usos e significações do conceito de rede na ciência contemporânea (181-189)
Agripino Souza Coelho Neto
HISTÓRIA DO BRASIL
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A importância dos recursos pesqueiros no processo de colonização na América Portuguesa quinhentista. (190-197)
Gisele Cristina da Conceição
POLÍTICA INTERNACIONAL
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Israel versus Irã: Apocalipse now! (198-215)
Luiz Alberto Moniz Bandeira
RESENHAS & LIVROS
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A classe trabalhadora se faz a si mesma (216-218)
Silvia Beatriz Adoue
Contribuições da “Escola de Vigotski” para a concretude de Vigotski na escola (219-221)
Rafael Egidio Leal Silva
Antonio Jose Romera Valverde (Org) Maurício Tragtenberg: 10 anos de encantamento. São Paulo: EDUC; FAPESP, 2011 (208 p.) (222)
REA Editor
Edited by Eva Paulino Bueno and María Claudia André. The Woman in Latin American and Spanish Literature – Essays on Iconic Characters (223)
REA Editor
Friedrich Engels e Karl Kautsky. O Socialismo Jurídico. São Paulo: Boitempo, 2012 (80 p.) (224-225)
REA Editor
REVISTAS
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OPSIS, v.11, nº 1, jan.-jun. 2011 (226)
REA Editor
CONSULTORES AD HOC
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agradecimento aos consultores ad hoc (227)
REA Editor
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Antonio Ozaí da Silva [editor]
Revista Espaço Acadêmico
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico
blog: http://espacoacademico.wordpress.com
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