Arquivo da categoria: Poesia

Clevane Pessoa (Encantamentos)

Imagem: Bia Tomaz
Tudo em torno parece feérico e extasiante:
a neblina
que desce num momento
de repente, qual um sonho de menina…
o canto da ave
que singra o espaço azul
qual se fosse bela nave
feita de imaginação…
a asa da borboleta
a fremir qual um pincel
cheio de tintas…
o riso do idoso que brincando
quer brincar ainda-e sempre…
a flor que sonolenta acorda
adulta e se abre inteira
ao beijo do sol…
a semente gorda
que sob a Mãe Terra, eclode
e vai romper seu ventre
em sinal verde…
Tudo é magia, encantamento
porque a ânsia criativa das criaturas
põe fiapos de luz
em cada nuance da Vida
e trabalhando o mundo
a cada instante,
o transmuta e recria…

Deixe um comentário

Arquivado em Minas Gerais, Poesia

Helena Kolody (Pássaros Libertos)

Deixe um comentário

9 de fevereiro de 2013 · 01:14

Carlos Drummond de Andrade (Adeus a Sete Quedas)

 Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta expressa sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.

 Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B.

 O sentimento ecológico do poeta reverberou em todo o país. Um mês depois, ele voltaria à carga, com a crônica “Sete Quedas poderia ser salva” (JB, 07/10/1982). Nesse texto, Drummond transcreve una carta do engenheiro Octavio Marcondes Ferraz — o projetista da hidrelétrica de Paulo Afonso. A carta fora enviada ao poeta exatamente a propósito do poema “Adeus a Sete Quedas”.

 No final, diz Drummond, que Sete Quedas vai passar às novas gerações apenas como uma pálida notícia, um cartão postal de longínquo passado. “Sete quedas por nós passaram,/ e não soubemos, ah, não soubemos amá-las”.   

Sete quedas por mim passaram,
 e todas sete se esvaíram.
 Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
 a memória dos índios, pulverizada,
 já não desperta o mínimo arrepio.
 Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
 aos apagados fogos
 de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se
 os sete fantasmas das águas assassinadas
 por mão do homem, dono do planeta.

 Aqui outrora retumbaram vozes
 da natureza imaginosa, fértil
 em teatrais encenações de sonhos
 aos homens ofertadas sem contrato.
 Uma beleza-em-si, fantástico desenho
 corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno
 mostrava-se, despia-se, doava-se
 em livre coito à humana vista extasiada.
 Toda a arquitetura, toda a engenharia
 de remotos egípcios e assírios
 em vão ousaria criar tal monumento.

 E desfaz-se
 por ingrata intervenção de tecnocratas.
 Aqui sete visões, sete esculturas
 de líquido perfil
 dissolvem-se entre cálculos computadorizados
 de um país que vai deixando de ser humano
 para tornar-se empresa gélida, mais nada.

 Faz-se do movimento uma represa,
 da agitação faz-se um silêncio
 empresarial, de hidrelétrico projeto.
 Vamos oferecer todo o conforto
 que luz e força tarifadas geram
 à custa de outro bem que não tem preço
 nem resgate, empobrecendo a vida
 na feroz ilusão de enriquecê-la.
 Sete boiadas de água, sete touros brancos,
 de bilhões de touros brancos integrados,
 afundam-se em lagoa, e no vazio
 que forma alguma ocupará, que resta
 senão da natureza a dor sem gesto,
 a calada censura
 e a maldição que o tempo irá trazendo?

 Vinde povos estranhos, vinde irmãos
 brasileiros de todos os semblantes,
 vinde ver e guardar
 não mais a obra de arte natural
 hoje cartão-postal a cores, melancólico,
 mas seu espectro ainda rorejante
 de irisadas pérolas de espuma e raiva,
 passando, circunvoando,
 entre pontes pênseis destruídas
 e o inútil pranto das coisas,
 sem acordar nenhum remorso,
 nenhuma culpa ardente e confessada.
 (“Assumimos a responsabilidade!
 Estamos construindo o Brasil grande!”)
 E patati patati patatá…

 Sete quedas por nós passaram,
 e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,
 e todas sete foram mortas,
 e todas sete somem no ar,
 sete fantasmas, sete crimes
 dos vivos golpeando a vida
que nunca mais renascerá.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. In Jornal do Brasil, Caderno B.  09/09/1982

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Helena Kolody (Cronos)

Deixe um comentário

7 de fevereiro de 2013 · 22:32

Helena Kolody (O Tesouro das Horas)

Deixe um comentário

7 de fevereiro de 2013 · 01:21

Nemésio Prata (Ao Poeta do Amanhecer!)

Bem cedo, ao quebrar da barra,
a nuvem tangida ao léu
fez lembrar-me de um alguém
que hoje só trova no céu:
nosso poeta potiguar,
dos Macedos, o Ademar,
nosso grande menestrel!

O Poeta do Amanhecer,
agora faz poesia
no meio dos querubins
levando muita alegria
através dos versos seus
ao coração do seu Deus;
como ele bem o queria!

Curta em paz grande poeta
sua nova moradia,
faça trovas e poemas
como aqui você fazia,
mas nos mande, via sonhos,
pois os dias são tristonhos
sem a sua poesia!

Fontes:
O Autor (Fortaleza/CE)

Foto de Ademar Macedo sobre foto de Marcos Estrella, Amanhecer no Rio, no jornal O Globo.

Deixe um comentário

Arquivado em homenagem, Poesia

Helena Kolody (Saldo)

Deixe um comentário

3 de fevereiro de 2013 · 19:52

Manuel Bandeira (Poética)

Estou farto do lirismo comedido
 Do lirismo bem comportado
 Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor

 Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
 Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
 Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
 Político
 Raquítico
 Sifilítico
 De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
 Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
 O lirismo dos bêbados
 O lirismo difícil e pungente dos bêbados
 O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber de lirismo que não é libertação.

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Helena Kolody (Poeta)

Deixe um comentário

2 de fevereiro de 2013 · 21:50

Helena Kolody (Invenção)

Deixe um comentário

1 de fevereiro de 2013 · 21:55

Afonso José dos Santos (Jardim Velho)

Concurso de Poesias da Biblioteca Municipal João XXIII, de Moji Guaçu
Fonte:
http://caeseubt.blogspot.no/

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Soares de Passos (Catão)

Como em tarde anuviada
Em tarde de negros véus.
Para a terra contristada
Sorri o íris dos céus;
Mas quando o sol esmorece,
O íris desaparece,
Tudo é negra escuridão;
O mar ruge e se encapela,
E nas asas da procela
Corre bramindo o trovão:

Tal ao sol da liberdade
Que sobre Roma luziu,
Qual íris em tempestade,
Catão à pátria sorriu.
Mas esse astro que fulgente
Das águias brilhara à frente,
Do Capitólio baixou;
E ele, o íris da bonança,
Ele, de Roma a Esperança,
Com seu fulgor expirou.

Contra as iras da tormenta
Ó forte lutaste em vão:
Que pode a virtude isenta
Contra a geral corrupção?
Já não luziam virtudes
Como nos séculos rudes
Dessa Roma consular;
O templo da tirania
A seus ministros abria
As portas de par em par.

Inda infante, viste Mário
De Roma o sangue beber;
E envolvida num sudário
A pobre Itália gemer.
Viste Sila, o monstro infando,
Entre as cabeças folgando,
Qual tigre, no seu festim;
E, infante, bradaste ufano:
– Dai-me um ferro, e o tirano
Livremos a pátria enfim! –

Não to deram: que lucrava
O teu valor juvenil?
Dum tirano outro brotava,
Nascia a guerra civil.
Enxuto de Roma o pranto,
Eis que envolto em negro manto
Lá surge um conspirador:
Cintila a morte, a ruína
No punhal de Catilina,
De Catilina, o traidor,

Surge, víbora gerada
Dos vícios do lodaçal!
Sobre Roma descuidada
Lança o veneno fatal!
Eia, empunha o facho ardente!
Entrega a pátria inocente
Aos punhais da tua grei!
E entre o sangue, à luz do incêndio,
Num trono de vilipêndio
Vem sentar-te como rei!

Mas treme! lá soa o brado
De Marco Túlio, orador.
Treme! Catão no senado
Já dos teus vence o furor.
Sucumbiste, algoz ferino!
Oh! mas vinga-te o destino
Que Roma jurou perder.
Catão, cobre-te de luto,
Que da Gália já escuto
A guerra civil descer.

Gerou-a o triunvirato,
Esse monstro d’ambição;
Que as eras de Cincinato,
Essas eras já lá vão.
D’olhos fitos sobre a Itália
Eis desce o leão de Gália,
E Arimino já tomou.
É César! ei-lo que assoma:
Abre-lhe as portas, ó Roma,
Que às tuas portas chegou!

Ei-lo parte, e já na Espanha
Os três legados venceu!
Só em Dyrrachio lhe ganha
A espada do grão Pompeu.
Os mortos jazem aos centos:
Sobre os seus restos sangrentos
Um homem chora: é Catão.
É ele que ali deplora
Essa guerra assoladora,
Guerra d’irmão contra irmão.

A liberdade expirava:
O coração lho prediz.
Roma, a livre Roma escrava
Ia dobrar a cerviz.
Não se enganou: lá troveja
O fragor d’alta peleja
Em Farsália inda uma vez;
Pompeu vacila e fraqueia;
A liberdade baqueia
De Júlio César aos pés.

Ei-la que expira, ei-la morta…
Oh! que não! ressurge além!
Catão é vivo: que importa
Quanto César ganho tem?
De Farsália aos naufragantes
Sobre as areias distantes
Da Líbia surge um fanal:
São dele, dele as bandeiras
Juntando as rotas fileiras
Para um combate final.

Mas César lá corre ovante,
Vence Juba e Cipião;
Tudo ante ele vacilante
Se prostra enfim maldição!
Não tarda a hora funesta:
De liberdade só resta
Dentro d’Utica um fulgor.
Inda Catão lá impera:
É lá que o vencido espera
As iras do vencedor.

Que venha, que ao seu aceno
Curvado não há-de ver
Aquele rosto sereno,
Que nunca soube tremer.
Caminha, César altivo,
E acharás em teu cativo,
Em vez de preito, o desdém!
Sabes vencer, porém corre
Vem saber como se morre,
Aprende a morrer também!

Catão, Catão, eis chegado
O momento de partir!
Com que rosto sossegado
Te vejo à morte sorrir!
Antes do golpe supremo
Tu paras inda no extremo
A meditar com Platão:
Assim a águia alterosa
D’alta penha cavernosa
Mede sublime a amplidão.

E depois, assim como ela,
Das nuvens rompendo o véu,
Adeja sobre a procela,
Deixa a terra, e busca o céu:
Tal coa dextra sempre ousada
Cravando no seio a espada,
Partiste d’alma os grilhões;
E dentre os vaivéns da sorte
Voaste, calcando a morte,
Às etéreas regiões.

César vence, e ao Capitólio
Lá sobe triunfador;
Roma cai do altivo sólio,
Rojando aos pés dum senhor.
Catão, o livre, expirara…
No suspiro que exalara
A liberdade voou.
Começava o negro império
Que um Calígula, um Tibério,
Um Nero, monstro, gerou.

Ele, entanto, sepultado
Nas praias junto do mar,
Lá dormia descansado
Sob a lájea tumular.
Ali a queixosa vaga
Vinha, rolando na plaga,
Beijar do livre a mansão;
E inda falar com saudade,
Da pátria, da liberdade,
à estátua de Catão.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Helena Kolody (Olhos de Antes)

Deixe um comentário

31 de janeiro de 2013 · 22:23

Helena Kolody (Grafite)

Deixe um comentário

30 de janeiro de 2013 · 22:44

Helena Kolody (Viagem Infinita)

Deixe um comentário

29 de janeiro de 2013 · 21:11

Helena Kolody (Poesia Mínima)

Deixe um comentário

28 de janeiro de 2013 · 22:43

Helena Kolody (Significado)

Deixe um comentário

27 de janeiro de 2013 · 22:22

Soares de Passos (Canto de Primavera)

Eis surge a quadra florida,
A quadra dos amores,
Vertendo almos fulgores
Do seio juvenil.
Tudo revive ao hálito
Que a natureza aquece;
Tudo rejuvenesce
À luz do ameno abril.

Os bosques odoríferos
Se cobrem de verduras:
Nos montes e planuras
Renasce a tenra flor;
Dos perfumados zéfiros
As músicas suaves
Se juntam das mil aves
Os cânticos d’amor.

Salve, estação esplêndida,
Ó luz apetecida,
Que à terra dando vida,
A tudo dás prazer!
Minha alma em doces êxtases
Festeja a tua vinda,
E se ergue à luz infinda,
Manancial do ser.

D’onde. ó calor benéfico,
Derivas teu alento?
E d’onde o movimento
Que dás à criação?
Do foco sempre vivido
Que anima a natureza
Por toda a redondeza
Da terra, e da amplidão.

Como nos campos fulgidos
Espalha essas estrelas,
Assim as flores belas
Nos campos terreais:
Quão belo, ó Providência,
É teu poder fecundo
Enchendo o vasto mundo
D’alentos imortais!

Debalde o imenso vórtice
Retoma quanto gera:
Tudo se regenera
No perenal crisol,
E tudo canta harmónico
O Ser que, das alturas,
Aos gelos dá verduras,
Às sombras novo sol.

Cantai, ó aves módulas,
Cantai em coro ledo!
Murmúrios do arvoredo,
Cantai a Jeová!
Campinas aromáticas,
Erguei-lhe os mil perfumes
Das flores em cardumes
Que a primavera dá!

Abriu-se o tabernáculo
Da terra florescente;
Todo sorri fulgente,
Todo respira amor:
Ressoem nele os cânticos
De mística harmonia,
Dizendo noite e dia:
– Hossana ao Criador!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Helena Kolody (Cantar)

Deixe um comentário

26 de janeiro de 2013 · 22:36

Helena Kolody (Âmago)

Deixe um comentário

25 de janeiro de 2013 · 22:23

Soares de Passos (Partida)

Ai, adeus! acabaram-se os dias

Que ditoso vivi a teu lado;
Soa a hora, o momento fadado:
É forçoso deixar-te e partir.
Quão formosos, quão breves que foram
Esses dias d’amor e de ventura!
E quão cheios de longa amargura
Os da ausência vão ser no porvir!

Olha em roda estas margens virentes:
Já o outono lhe despe os encantos;
Cedo o inverno com gélidos mantos
Baixará das montanhas dalém.
Tudo triste, sombrio, e gelado,
Ficará sem verdura nem flores:
Tal meu seio, privado d’amores,
Ficará de ti longe também.

Não sei mesmo, não sei se o destino
Me dará que eu te abrace na volta…
Ai! quem sabe onde a vaga revolta
Levará meu perdido baixel?
Sobre as ondas, sem norte, e sem rumo,
Açoutado por ventos funestos,
Sumirá por ventura seus restos
Nas voragens d’ignoto parcel.

Mas ah! longe esta ideia sombria!
Longe, longe o cruel desalento!
Após dias d’amargo tormento
Virão dias mais belos talvez.
Dá-me ainda um sorriso em teus lábios,
Uma esp’rança que esta alma alimente,
E na volta da quadra florente
Eu coas flores virei outra vez.

Mas se as flores dos campos voltarem
Sem que eu volte coas flores da vida,
Chora aquele que em tumba esquecida
Dorme ao longe seu longo dormir;
E cada ano que o sopro do outono
Desfolhar a verdura do olmeiro,
Lembra-te ainda do adeus derradeiro,
Deste adeus que te disse ao partir!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (O Anjo da Humanidade)

Era na estância cristalina e pura,
Que além do firmamento rutilante
Se ergue longe de nós, e está segura
Em milhões de colunas de diamante;
Jerusalém celeste, onde fulgura
Do eterno dia o resplendor constante,
E onde reside a glória e majestade
D’Aquele que povoa a imensidade.

Na mansão mais recôndita e profunda
A soberana Essência o trono encerra,
Donde a fonte de amor brota fecunda,
Os astros animando, os céus e a terra;
Um mar de luz seus penetrais circunda,
Que o próprio arcanjo deslumbrado aterra,
Luz que em triângulo ardente se condensa
Quando o Eterno os oráculos dispensa.

Por toda a parte o azul e as pedrarias
Na cidade divina resplandecem;
Mil arcadas de sóis, mil galerias
De brilhantes estrelas a guarnecem;
Os anjos em lustrosas jerarquias
Nas harpas d’ouro melodias tecem,
Outros em coros adejando voam
E d’aromas e canto o céu povoam.

Eis de repente nos umbrais divinos,
Sobre as asas pairando, um anjo entrava,
Parecendo de sítios peregrinos
Que às regiões celestes assomava;
Cruzando o empíreo, as legiões, e os hinos,
Qual rápido luzeiro perpassava,
Té que chegando ao trono do Increado,
Nus últimos degraus ficou pousado.

Pelos ebúrneos ombros o cabelo
Em aneladas ondas lhe caía;
A safira das asas sobre o gelo
Das roupagens reluzentes refulgia.
Mais brilhante não é, não é mais belo,
Comparado com ele, o astro do dia,
Ou a estrela que brilha quando a aurora
De purpurina luz o céu colora.

Ao trono augusto levantou a frente,
Mas com as asas a toldou ansioso,
Não podendo suster o brilho ardente
Que despedia o foco luminoso.
A milícia dos anjos resplendente
Fixou atenta seu irmão formoso;
Os concertos pararam, e ele entanto
Assim falou entre o geral espanto:

«Eterno Ser, que as divinais moradas
«Enches de glória em majestoso assento,
«Fonte de vida e criações variadas,
«Que dás ao mundo poderoso alento;
«A cujo aceno tremem abaladas
«As colunas do etéreo firmamento,
«E cujo nome, que o universo entoa
«No céu, na terra, e nos abismos soa!

«Por teu mando supremo destinado,
«A conduzir a humana descendência,
«Desde que a mancha do cruel pecado
«A fez cair da primitiva essência –
«Venho afinal, Senhor, de teu mandado
«Dar-te conta fiel, após a ausência;
«Fazer-te ouvir da humanidade os prantos,
«E aguardar teus preceitos sacrossantos.

«Ordenaste-me, ó Deus, que sempre atento
«Prosseguisse na terra a lei sob’rana
«Que rege, na amplidão do firmamento
«A criação que de teu seio emana:
«Essa lei do progresso e movimento
«Tenho cumprido na família humana,
«Desde que ao mundo, a combater seu fado,
«O desterrado do éden foi lançado.

«Primeiro, sobre a terra esclarecendo
«Seus duvidosos passos vacilantes;
«Depois, o justo c seu baixel sustento
«Nas águas do dilúvio sussurrantes:
«De novo à terra de pavor tremendo,
«Conduzindo mais puros habitantes:
«Mais tarde junto ao berço do Messias,
«Anunciando ao mundo novos dias.

«Agora, sobre as ruínas dum império
«Outro império de novo edificando;
«Agora, as povoações dum hemisfério
«Sobre as doutro hemisfério derramando:
«Já do teu Verbo o divinal mistério,
«Com as santas doutrinas propagando;
«Já mostrando por fim à humanidade
«Nova luz de justiça e de verdade.

«Quantos velhos sofismas desterrados!
«Quantos ídolos falsos em ruínas!
«Quantos sábios triunfos alcançados!
«Quantas conquistas imortais, divinas!
«Calcando o pó dos séculos passados,
«O homem corre ao fim que lhe destinas;
«Mas ah! Senhor, no meio da tormenta
«Seu amor esmorece e desalenta.

«Seu valor esmorece! tantas lidas,
«Tanto lutar contínuo das idades,
«Tanto sangue e martírios, tantas vidas,
«Tantas ruínas d’impérios e cidades:
«E o homem sofre, e as gerações perdidas
«Se revolvem num mar de tempestades,
«Sem ver luzir esse fanal jucundo
«Que por teu filho prometeste ao mundo.

«Quantos males ainda! a lei sublime,
«A lei d’amor que derramou teu Verbo,
«Sobre a face da terra, à voz do crime,
«Sucumbe e morre por destino acerbo.
«O férreo jugo que as nações oprime,
«Os humildes abate, ergue o soberbo,
«E o rei da terra, sobre a terra escravo,
«Sofre mesquinho seu eterno agravo.

«Por toda a parte, em lastimoso acento,
«Se ouve gemer a humanidade aflita.
«A terra, a mãe comum, nega alimento
«Dos filhos seus a à multidão proscrita:
«Enquanto folga em vícios o opulento.
«A indigência cruel na choça habita,
«E a mãe, a mãe ao peito, em desalinho,
«Aperta morto à fome o seu filhinho.

«Entanto a guerra, que a ambição ateia,
«Ensanguenta as campinas e as cidades;
«A crua peste, que ninguém refreia,
«Converte as povoações em soledades;
«Destes males cruéis a terra cheia,
«Cobre-se inda de mil iniquidades;
«O vício, o crime, a corrupção devora
«A pobre humanidade, como outrora.

«Ao ver tanta miséria, o bom padece,
«O mau blasfema de teu nome santo,
«A voz dos inspirados esmorece,
«O futuro se envolve em negro manto…
«Eu mesmo, eu mesmo, recolhendo a prece
«Que a humanidade te dirige em pranto,
«Subi confuso ao eternal assento,
«A depor a teus pés meu desalento.»

Disse, e um gemido d’aflição pungente,
Semelhante a dulcíssona harmonia,
Soltou do peito, reclinando a frente
Com celeste e ideal melancolia:
Assim pendendo ao longe no ocidente,
Se reclina saudoso o astro do dia;
Assim reclina a pálida açucena,
Açoutada do vento, a fronte amena.

Depois, continuando: «Ó Deus, quem há-de
«Sondar mistérios que teu seio esconde?
«Tuas leis divinais, tua vontade
«Cumprirei sobre a terra. Eia, responde:
«Os passos da mesquinha humanidade
«Aonde os levarei, Senhor, aonde?”
Uma voz retumbou do céu radiante.
Que ao anjo respondeu, dizendo: – AVANTE!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (O Escravo)

Tremes, escravo? baqueias
Entre os muros da prisão?
Vergado sob as cadeias
Rojas a fronte no chão?
Já da turba ao longe o grito
Pede teu sangue maldito:
Sentes, escravo proscrito,
Vacilar teu coração?

Não sinto! nada perturba
Minha alegria feroz –
Nem o bramir dessa turba,
Nem a lembrança do algoz.
Vinguei-me! nada me aterra,
Curvai-vos, homens da terra!
Contra mim juraste guerra;
Guerra jurei contra vós.

Eu era livre sem meta
Como as ondas lá no mar;
Era livre como a seta
Quando sibila no ar:
Em vossa avidez tirana
Que me algemou desumana…
Ó minha pobre choupana!
Ó florestas do meu lar!

Além, além nas florestas,
Foi além onde eu nasci;
Onde sem prisões funestas
Já venturoso vivi.
Foi dos bosques na espessura
Que eu tive amor e ternura;
Mas liberdade e ventura,
Pátria, amor, tudo perdi.

Perdi tudo! além da morte
Já não me resta ninguém.
Tinha um pai: a negra sorte
Do filho sofreu também.
Trouxe da pátria distante
O férreo jugo aviltante,
Inda eu era tenro infante
Nos braços de minha mãe.

Minha mãe!… oh! quantas vezes
Me vinha a triste abraçar,
E carpindo os seus reveses
Fitava os olhos no mar!
Seu pranto caía ardente,
Em bagas na minha frente;
E eu, pobre infante inocente,
Chorava de a ver chorar.

Mais tarde, quando o navio
Me trazia à escravidão,
Nas praias do mar bravio
Eu a vi cair no chão;
Vi-a através dos espaços,
Morrendo, estender-me os braços…
Sacudi meus férreos laços;
Mas, ai de mim! era em vão!

Perdi-a! só me restava
A virgem do meu amor,
Que a mulher que eu adorava
Quis partilhar a minha dor.
Mas tinha sua beleza
Só dum escravo a defesa…
Devia, oh raiva! ser presa
Do meu infame senhor.

E eu, soberbo vezes tantas,
Curvei-me daquela vez;
Arrastei às suas plantas
Minha feroz altivez.
Debalde! que o vil tirano
Escarneceu do africano;
Maldição! vaidoso, ufano,
Meu amor calcou aos pés.

– É minha, só minha a escrava:
A ti, pertence o grilhão: –
Disse, e o sangue me escaldava
No fundo do coração.
Da vingança a torva imagem
Me sorriu, me deu coragem –
No meu gemido selvagem
Rugiu irado o leão.

Era noite! – negro sonho
Que destes olhos não sai!-
Era noite! um céu medonho
Vi tua sombra, ó meu pai…
Rojando um grilhão pesado,
Teu espectro ensanguentado
Se ergueu sombrio a meu lado,
Sem dar um gemido, um ai…

Té que alçando a voz: – meu filho!
Meu filho! – bradaste enfim,
E os olhos turvos, sem brilho,
Tinhas cravados em mim…
Eu quis lançar-me em teus braços,
Quis cingir-te em doces laços;
Mas fugindo aos meus abraços,
Volvias a olhar-me assim.

Foste escravo… teu destino,
Tua morte compreendi,
E um nome, o do assassino,
Delirando te pedi;
Mas sem atender a nada,
Erguendo a dextra mirrada,
– Vingança! – com voz irada
Bradaste, e não mais te vi.

Sim, vingado foi teu sangue
Por este braço afinal,
Que um deles caiu exangue
Aos golpes do meu punhal.
Era amargo o fel da taça –
Vinguei a nossa desgraça
Num dos tigres dessa raça,
No sangue do meu rival.

Vinguei o meu e teu jugo!
Que importam férreos grilhões,
O cadafalso e o verdugo,
O suplício e as maldições?
Entre os gozos da vingança
Reluz enfim a esperança;
Já não receio a lembrança
De seus cruentes baldões.

Sinto correr-me nas veias
O fogo que lhe ateei…
Quebrai-vos, duras cadeias,
Escravo não mais serei…
Sou livre! a morte o proclama
Neste peito que se inflama…
Já nele circula a chama
Do veneno que eu tomei!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Haroldo Pereira Barboza (O Outro Lado do Natal)

Medalha de Bronze do II Concurso Oliveira Caruso

No rastro da estrela-guia
A noturna bala perdida
Ceifou mais uma vida.
Sonhou com o presente
Pedido a Papai Noel
Não ganhou nem o papel.
Dormiu tendo fé
Pela manhã sua meia
Só continha chulé.
Na vitrine, farta beleza
Dentro do barraco
“Farta” comida na mesa.
Quando ralou o joelho
Lembrou de Papai Noel
Manchado de vermelho.
Bochecha dourada e cheia
Na face do pobre menino
Ilusão do enfeite natalino.
A hipocrisia fere Papai Noel
O vermelho tinge sua roupagem
Mas não macula sua imagem.
Debaixo do pinheiro enfeitado
Deitou e tirou um soninho
Ganhou dejetos do passarinho.
Rasgou o saco vermelho
Imaginando o que iria ganhar
Só encontrou lixo hospitalar.
Fonte:
Comendador Oliveira Caruso.
http://reinodosconcursos.com/?page_id=220

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Soares de Passos (Amor e Eternidade)

Repara, doce amiga, olha esta lousa,
E junto aquela que lhe fica unida:
Aqui dum terno amor, aqui repousa
O despojo mortal. sem luz, sem vida.
Esgotando talvez o fel da sorte,
Puderam ambos descansar tranquilos;
Amaram-se na vida, e inda na morte
Não pôde a fria tumba desuni-los.
Oh! quão saudosa a viração murmura
No cipreste virente
Que lhes protege as urnas funerárias!
E o sol, ao descair lá no ocidente,
Quão belo lhes fulgura
Nas campas solitárias!
Assim, anjo adorado, assim um dia,
De nossas vidas murcharão as flores…
Assim ao menos sob a campa fria
Se reunam também nossos amores!
Mas que vejo! estremeces, e teu rosto,
Teu belo rosto no meu seio inclinas,
Pálido como o lírio que ao sol posto
Desmaia nas campinas?
Oh! vem, não perturbemos a ventura
Do coração, que jubiloso anseia…
Vem, gozemos da vida enquanto dura;
Desterremos da morte a negra ideia!
Longe, longe de nós essa lembrança!
Mas não receies o funesto corte…
Doce amiga, descansa:
Quem ama como nós, sorri à morte.
Vês estas sepulturas?
Aqui cinzas escuras,
Sem vida, sem vigor, jazem agora;
Mas esse ardor que as animou outrora,
Voou nas asas de imortal aurora
A regiões mais puras.
Não, a chama que o peito ao peito envia
Não morre extinta no funéreo gelo.
O coração é imenso: a campa fria
E pequena de mais para contê-lo.
Nada receies, pois: a tumba encerra
Um breve espaço e uma breve idade!
E o amor tem por pátria o céu e a terra,
Por vida a eternidade!
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Antonio Augusto de Assis (Era Uma Vez…)

composição artística retratando a 
Igreja Matriz de São Fidélis
(menção honrosa do I Encontro Nacional de Poesia de São Fidélis/RJ)

 Era uma vez um lugar
 que se chamava Gamboa.
 Tinha um rio que passava
 juntando as águas da serra para levá-las ao mar.
 E os índios – os coroados, os garulhos e puris.

 Um dia a canoa trouxe, trazendo as bênçãos de Deus,
 dois fradinhos de capucho, um Ângelo, outro Victório,
 e a cruz ali se fincou.

 Fez-se a capela primeira, de pau-a-pique e sapé.
 Depois, belíssima, a igreja
 dedicada a São Fidélis, o mártir de Sigmaringa,
 padroeiro e protetor.

 Em volta se fez a aldeia, da aldeia se fez a vila,
 e a vila se fez cidade, que de tão florida e bela
 de Poema se chamou.

 São Fidélis, Cidade Poema
 Do morro do Sapateiro,
 das lendas e das laranjas que vêm da Bela Joana,
 do leite vindo da Ipuca, de Colônia e Cambiasca,
 da cachacinha gostosa moída no Grumarim,
 do açúcar branquinho da Usina Pureza,
 das barraquinhas na praça em volta da maxambombas.

 São Fidélis do Bar América e do Bar Orion,
 e do Jaime Coelho na porta do Cine Império.
 Do banacaxi, do requeijão, do pão tatu
 e das rosquinhas amanteigadas.
 São Fidélis das serestas e dos grandes bailes,
 dos banhos de rio e da bola de meia.
 E das festas da lagosta do Aloísio Abreu.

 São Fidélis das bandas tocando dobrado
 que hoje escuto redobrados na retreta da saudade.

Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Soares de Passos (Saudade)

Assim, pálida lua, assim teu rosto
Fulgurava tranquilo nessa noite
Em que o adeus lhe murmurei sentido;
Quando, após os momentos preciosos
Em que inda pude vê-la, inda escutá-la,
Afoutando meu ânimo indeciso,
Sua trémula voz me disse: parte…
Entanto que uma lágrima furtiva
Lhe escorria na face melindrosa,
Mais pálida que a tua…

Astro saudoso
Astro da solidão, quanto me aprazes!
Eu amo o teu silêncio, amo o teu brilho,
Mais que do sol os importunos raios.
Que me importa desse astro a luz e a vida,
Se a luz e a vida me ficaram longe?
Se em meio do rumor que o dia espalha,
A voz não ouço que responde à minha?

Estes vales, e selvas, estes montes,
À luz do dia, são talvez formosos;
«ias não é este o ar que ela respira,
Não são estes os sítios que ela encanta
Com seu mago sorriso. O dia é mudo;
Porém tu surges, solitária amiga,
Tu vens falar-me dela, astro saudoso.

Lua, desse áureo trono onde campeias,
Tu vês os sítios caros. Que faz ela?
Acaso; como pomba fatigada,
Repousa adormecida? Verte, ó lua,
Verte-lhe em torno o perfumado alento
Que a noite rouba às orvalhadas flores.
«ias não; talvez agora em mim pensando,
Agora mesmo sobre o teu semblante
Ela fixa também os olhos tristes,
« nossos pensamentos, nossas vistas
Se confundem em ti. Oh! não podermos,
Adejando como eles nesse espaço,
Embora por momentos, confundir-nos
Em teu regaço, deslembrando a ausência!
Ao menos, astro amigo, ordena, ordena
Que o anjo da saudade, que em ti mora,
Desça, e lhe diga o que minha alma sente.

Oh! quando solto d’importunos laços,
Demandando outros céus, hei-de já livre
Vê-la, ouvi-la, falar-lhe? Quem o sabe?
Mas tu entanto, confidente meiga.
Em cada noite vem falar-me dela;
E em meu peito sombrio e solitário
Derrama, envolto no teu doce brilho,
O bálsamo suave da esperança.
Assim possas tu ser, benigna deusa,
A invocada dos tristes; e se acaso
Amas também. se algum remoto lago
Entre floridas margens escondido
Te prende as feições, possas tu sempre
No cristalino azul das suas águas
Sem nuvens espelhar teu rosto ameno!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Patativa do Assaré (A Seca e o Inverno)

Na seca inclemente no nosso Nordeste
O sol é mais quente e o céu, mais azul
E o povo se achando sem chão e sem veste
Viaja à procura das terras do Sul 
Porém quando chove tudo é riso e festa
O campo e a floresta prometem fartura
Escutam-se as notas alegres e graves
Dos cantos das aves louvando a natura
Alegre esvoaça e gargalha o jacu
Apita a nambu e geme a juriti
E a brisa farfalha por entre os verdores
Beijando os primores do meu Cariri

De noite notamos as graças eternas
Nas lindas lanternas de mil vaga-lumes
Na copa da mata os ramos embalam
E as flores exalam suaves perfumes
Se o dia desponta vem nova alegria
A gente aprecia o mais lindo compasso
Além do balido das lindas ovelhas
Enxames de abelhas zumbindo no espaço
E o forte caboclo da sua palhoça
No rumo da roça de marcha apressada
Vai cheio de vida sorrindo e contente
Lançar a semente na terra molhada
Das mãos deste bravo caboclo roceiro
Fiel prazenteiro modesto e feliz
É que o ouro branco sai para o processo
Fazer o progresso do nosso país

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

Deixe um comentário

Arquivado em Conto, Contos, Poesia

Nilton da Costa Teixeira (Ano Novo, Acenos Novos)

Nilton da Costa Teixeira (Monte Alto/SP, 3 de maio de 1920 – Ribeirão Preto/SP, 5 de novembro de 1983) 
——————

Ano novo chegou,
o ano velho partiu,
a fé que vicejou
aonde a dor existiu.
doze meses se foram,
alegres, talvez não,
uns riem, outros choram,
dias que foram, que vão,
no fim de ano o espetáculo
da folhinha termina,
consulto o meu oráculo
E ele não desanima;
promete-me venturas,
dinheiro, amor, saúde,
O progresso, as farturas,
nada disso me ilude,
pois o último dia do ano,
passei em casa sozinho,
contando os desenganos,
pondo-os num papelzinho,
vi tantos e a última hora,
de contá-los demovo,
rezo à Nossa Senhora,
não os quero de novo;
e agora o ano se foi,
só espero o porvir,
pois, o passado dói,
com o futuro a sorrir…
alguém bate na janela,
levanto e vou abrir,
eu pensei que fosse ela,
vejo o vento a bramir;
hoje, do ano, primeiro,
deixo os meus desenganos,
estou fazendo planos,
que eu farei o ano inteiro,
a casa para morar,
boa saúde, animação,
são planos a exaltar,
constante o coração,
eu quero uma cabocla,
singela e recatada
que me tire a ânsia louca,
na louca caminhada;
pois a vida oferece
sonhos acolhedores,
quem seu caminho esquece,
magoado terá dores.
Eu indago o horizonte,
confio na imensidão,
encontro numa ponte,
vazio, desolação…
são os anos que passaram
na vida de cada um,
os sonhos que vicejaram,
sem proveito nenhum,
por isso começo o ano,
com o meu plano estudado,
não quero os desenganos,
iguais do ano passado.

Fonte:
Nilton Manoel

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Ribeirão Preto

Manoel Santos Neto (Universo Poético da Cidade de São Luís do Maranhão V)

Canção de Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Coimbra, julho de 1843)
——–

|| LARGO DOS AMORES ||

A memória do amor e da humilhação do poeta maior

Antigo Largo dos Amores, depois Largo dos Remédios, a Praça Gonçalves Dias já foi o cenário de uma das festas religiosas mais importantes do Maranhão: a Festa dos Remédios, que é descrita no enredo de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913), e na prosa de diversos cronistas, mas nenhum o fez de modo tão evocador e pitoresco como João Lisboa, observa Domingos Vieira Filho, no livro Breve História das Ruas de São Luís.

Nove anos após a morte de Gonçalves Dias, foi inaugurada a estátua do poeta, em 7 de setembro de 1873. Posteriormente, a Câmara Municipal de São Luís aprovou, em 1900, a Resolução nº 13, passando a denominar a parte norte do Largo dos Amores, de Praça Gonçalves Dias, e a parte oeste, de Praça dos Remédios.

Com a estátua de Gonçalves Dias (1823-1864) voltada para o mar, lá se tem uma das mais belas vistas de São Luís: por cima dos telhados e dos mirantes, o campanário inconfundível das velhas igrejas, sobressaindo as duas torres da Sé. Em redor, circundando a ilha, o mar. À esquerda, a ponte que liga a cidade velha à cidade nova, na Ponta de São Francisco. As ruínas do Forte da Ponta d’Areia. O encontro dos dois rios que banham São Luís. E sob o céu estriado de azul e rosa, o recorte triangular dos barcos e das igarités de pesca.

Há, no Largo dos Remédios, as palmeiras que ali foram plantadas em homenagem ao poeta que as celebrou na Canção do exílio e que, na hora do cair da tarde, agitam os leques verdes com a viração que sopra da Baía de São Marcos. Ao centro, a estátua de Gonçalves Dias, voltada para os baixios em que o poeta foi tragado pelas ondas em 1864, no naufrágio do Ville de Boulogne, que o trazia de volta da França.

A História do Maranhão conta que Gonçalves Dias, por ser mestiço e bastardo, foi vítima de um preconceito brutal. O poeta, amigo íntimo de Teófilo Leal, apaixonou-se por uma cunhada deste, Ana Amélia Ferreira Vale, e a pediu em casamento à dona Lourença Vale, mãe da moça. Já àquela época, Gonçalves Dias não era um homem qualquer; era o maior poeta do Brasil e amigo pessoal do Imperador. O Maranhão não tinha glória mais alta, mas nada disso teve o menor significado para dona Lourença, diante deste fato, de que Gonçalves Dias não tinha culpa: ser ele mestiço e filho bastardo. E respondeu ao poeta, numa carta seca, com um não redondo. Não dava a filha a um mestiço.

O infortúnio do poeta aparece numa das cenas capitais do romance Os tambores de São Luís, de Josué Montello, que sustenta a tese de que Gonçalves Dias, se quisesse, podia vir a São Luís, e levar Ana Amélia, que estava disposta a fugir com ele.

Mas não foi isso que ele fez. Humilhado, guardou a mágoa. E, ao chegar ao Rio, casou numa das mais importantes famílias da Corte. Ana Amélia, coitada, não perdoou a família. E quando Domingos Porto, que é também bastardo e mestiço, lhe arrastou a asa, não hesitou em casar com ele, amparada pela Justiça. O casamento dela, em São Luís, foi um deus-nos-acuda. Parecia que o mundo estava vindo abaixo. As amigas de dona Lourença passaram a andar de preto, solidárias com o luto fechado da família Vale. O pai da Ana Amélia, instigado por dona Lourença, foi ao cartório do Raimundo Belo e deserdou a filha, sob a alegação de que a moça tinha casado com o neto da negra Eméria, antiga escrava do coronel Antônio Furtado de Mendonça. Domingos Vale deserdou a filha, por escritura pública, apenas porque o genro, vice-presidente da Província e comandante da Guarda Nacional, é neto de uma escrava.

A família Vale não se deu por satisfeita. Fez mais. Decidiu levar Domingos Porto à ruína, na sua casa de comércio. De um dia para o outro, Domingos Porto se viu com todos os seus créditos cortados. Ninguém quis mais negociar com ele. O resultado foi a falência, tendo sido obrigado a sair do Maranhão às pressas, para não cair nas unhas de seus perseguidores. Nem o presidente da Província pôde fazer nada para ampará-lo. Só encontrou negativas. Era a cidade inteira contra um homem. E tudo isso porque Domingos Porto, que era um homem de primeira ordem, culto, educado, finíssimo, teve a desgraça de ser neto de uma escrava.

Por ocasião do I Centenário da morte de Gonçalves Dias, no ano de 1964, o escritor Mário Meireles (1915-2003) publicou o livro Gonçalves Dias e Ana Amélia, com o propósito de esclarecer controvérsias relacionadas ao grande amor do poeta maior. Nesta obra, o professor Mário Meireles chega à conclusão de que o casamento de Ana Amélia com o comerciante Domingos Porto foi uma deliberada represália ao matrimônio de Gonçalves Dias, a quem quis dar, então, uma vez que já era impossível insistir em qualquer esperança, a certeza cruel de que era muito capaz do que lhe propusera e tanto que o fazia com outro, a quem não amava, e como ele mestiço e bastardo! Ao mesmo tempo, desforrava-se da família, que a este outro também se opôs, e com muito mais fereza porque no caso nem laços de amizade existiam. Neste livro Mário Meireles sustenta a tese de que Ana Amélia casou-se com Domingos Porto por “capricho ofendido”. E é o romancista Josué Montello, com Os tambores de São Luís, quem retrata esse drama de forma magistral, traduzido pelo próprio poeta Gonçalves Dias, num de seus mais célebres poemas:

–––––––––-
Continua…

Fonte:
Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante
Edição 119. 20 de janeiro de 2006

Deixe um comentário

Arquivado em Maranhão, Poesia, Sopa de Letras

Soares de Passos (O Canto do Livre)

Ao meu amigo Alexandre Braga.

Gema embora a terra inteira
Acurvada a iníquas leis;
Esta fronte sobranceira
Jamais de rojo a vereis.
Oh! ninguém, ninguém a esmaga,
Que eu sou livre como a vaga,
Que sacode sobre a plaga
O jugo d’altos baixéis.

Liberdade é o mote escrito
No céu, na terra, e no mar!
Di-lo a fera no seu grito,
E as aves cruzando o ar;
Di-lo o vento da procela,
A vaga que se encapela,
E nos espaços a estrela
Em seu contínuo girar.

Di-lo tudo! mas ainda
Mais livre me criou Deus
Que os astros da altura infinda,
Os ventos, e os escarcéus.
Eu tenho mais liberdade
Desta alma na imensidade,
Pois tenho nela a vontade,
Tenho a razão, luz dos céus.

Eu sou livre! erguendo a fronte
Diz-mo uma voz na amplidão,
Quando de pé sobre o monte
Me elevo rei da soidão;
Quando além do firmamento
Alçando meu pensamento,
Solto nas asas do vento
Meu canto d’inspiração.

Eu sou livre! eis minha crença,
Nem força contra ela vale.
Que um tirano enfim me vença –
Triunfarei por seu mal.
Triunfarei, que algemado
E diante dele arrastado,
Sou livre! será meu brado
Té ao momento final.

E que importa que o tirano,
Jurando vingança atroz,
Faça erguer, sorrindo ufano,
Um cutelo à sua voz?
Minha fronte sempre erguida
Há-de encará-lo atrevida,
E só cair abatida
Ao rolar aos pés do algoz.

Mas nunca! pois fora um preito
Dar os pulsos ao grilhão.
Tenho um ferro, e neste peito
Tenho um livre coração!
Não! jamais serei cativo!
Se vencido restar vivo,
Cairei, sorrindo altivo,
Sob o punhal de Catão!

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (Infância e Morte)

«Ó mãe, o que fazes? em cama tão fria

«Não durmas a noite… saiamos daqui…
«Acorda! não ouves a pobre Maria,
«Pequena, sozinha, chorando por ti?

«Porque é que fugiste da nossa morada,
«Que alveja saudosa no monte dalém?
«Depois que tu dormes na terra gelada,
«Quão só ficou tudo, mal sabes, ó mãe.

«A nossa janela não mais foi aberta,
«O fogo apagou-se na cinza do lar,
«As pombas são tristes, a casa deserta,
«E as flores da Virgem se vão a murchar.

«Oh! vamos, não tardes… mas tu não respondes…
«Em vão todo o dia meu pranto correu;
«No fundo da cova teu rosto me escondes,
«Não ouves, não falas… que mal te fiz eu?

«Escuta! na torre de frestas sombrias
«O sino da ermida começa a tocar…
«Acorda! que o toque das Avé-Marias
«À imagem da Virgem nos manda rezar.

«A lâmpada exausta de Nossa Senhora
«Ficou apagada, precisa de luz:
«Oh! vem acendê-la, e à Mãe que se adora
«Ali rezaremos, e ao Filho na cruz.

«Depois à costura, sentada a meu lado,
«Tu hás-de contar-me, bem junto de mim,
«Aquelas histórias dum rei encantado,
«De fadas e mouras, dalgum querubim.

«A d’ontem foi triste, pois triste falavas
«De vida e de morte, dum mundo melhor;
«E o rosto cobrias, e muda choravas,
«Lançando teus braços de mim ao redor.

«Depois em silêncio teus olhos fechaste,
«Tão pálida e fria qual nunca te vi;
«Chamei-te era dia, mas não acordaste,
«E enquanto dormias trouxeram-te aqui.

«Oh! vamos, não tardes, que as noites sombrias.
«Sem ti a meu lado, me causam pavor!
«Acorda! que o toque das Avé-Marias
«Nos diz que rezemos à Mãe do Senhor.»

Tais eram as queixas da pobre Maria…
O sino da ermida cessou de tocar…
E a mãe entretanto dormia, dormia;
Do sono da morte não pôde acordar.

Três dias, três noites a filha sozinha
No adro da igreja por ela chamou…
Ao fim do terceiro já forças não tinha;
Da mãe sobre a campa, gemendo, expirou.

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (Últimos Momentos de Albuquerque)

Ao meu amigo A. Aires de Gouveia.

Companheiros, sinto a morte
Pairando já sobre mim;
Cessaram vaivéns da sorte,
Desço à terra donde vim…
Do cálice da desventura
Eis esgotada a amargura;
No leito da sepultura
Terei descanso por fim.

Terei: a campa é um asilo
Que ao ímpio deve aterrar,
Mas eu dormirei tranquilo
Sob a lájea tumular.
Eu… desgraçado, que digo!
Nem lá espero um abrigo,
Que os meus restos no jazigo
Irão talvez insultar.

Murmurando: «aqui repousa
Um desleal português»,
Irão partir minha lousa,
Meu nome calcar aos pés;
E o guerreiro que descansa
Não poderá, por vingança,
Brandir na dextra uma lança,
Cingir ao peito um arnês…

Quais foram, rei, os meus crimes
Para haver tal galardão?
Porque a fronte assim me oprimes
Com a tua ingratidão?
De vis intrigas cercado
Ouviste seu ímpio brado,
E sobre as cãs do soldado
Lançaste negro baldão.

Não merecia tal prémio
Quem debaixo deste céu,
Da roxa aurora no grémio
Um novo império te deu;
Quem à custa duma vida
Nas batalhas consumida,
Ante as quinas abatida
A Índia inteira rendeu.

Por dar-te a c’roa brilhante
Que em tua fronte reluz,
Fiz a meus pés arquejante
Cair a opulenta Ormuz:
Malaca sentiu meu raio,
E em Goa, roto o Sabaio,
Entre o sangue, entre o desmaio,
Alcei o pendão da cruz.

Então desde o Nilo ao Ganges
Cem povos armados vi,
Erguendo torvas falanges
Contra mim e contra ti;
Vi os filhos do deserto
Em ondas rugindo perto;
Mas com ferro em campo aberto
Às suas iras sorri.

Contra as lanças portuguesas
A Índia lutou em vão,
Que em troca d’ouro e riquezas
Veio comprar seu grilhão.
Aos golpes dos meus soldados
Vi seus tronos abalados,
Vi ante mim ajoelhados
Reis d’Onor e de Sião.

Mas d’Ásia não pôde o ouro
Cegar-me com seu fulgor,
Porque a honra ó o tesouro
Dos meus passados, senhor.
Eu quis adornar-te a frente
Cum diadema refulgente:
Ganhei o ceptro do Oriente,
E a teus pés o fui depor.

Nesses campos de batalha,
Onde audaz o conquistei,
Das armas sob a mortalha
Porque exangue não findei?
Entre os louros da vitória
Morrera ao menos com glória;
Do teu soldado a memória
Não a mancharas ó rei.

Eu desleal?! se meus brados
Podem chegar até vós,
Erguei-vos, restos sagrados
De meus extintos avós!
Erguei-vos da campa fria,
E com sangue, à luz do dia,
Lavai a nódoa sombria
Que arrojaram sobre nós!

Eu desleal?! mas ao mundo
Que vale queixas mandar?
As vozes dum moribundo
Não vão na terra ecoar…
Surge, ó morte!… e vós, amigos,
Sócios de tantos perigos,
Vinde… nem só inimigos
Me restam ao expirar.

No reino vos deixo um filho –
N ossos feitos lhe ensinai;
Dizei-lhe qual foi o trilho
Que em vida seguiu seu pai…
Dizei-lhe qual foi meu norte;
Mas, enquanto à minha sorte,
Oh! não lhe aponteis a morre,
A vida só lhe apontai…

E se falardes um dia
A dom Manuel, o feliz,
Dizei-lhe que na agonia
Albuquerque o não maldiz;
Que à beira da sepultura,
Para um filho sem ventura,
Invoco sua ternura,
Se alguns serviços lhe fiz.

E vós… e vós, portugueses,
Nossa pátria defendei;
Dai-lhe os peitos por arneses,
Seja a pátria vossa lei.
Num trono que ela não tinha
Eu vo-la deixo rainha,
Mas não sei o que adivinha
Meu pensamento… não sei…

Entre as sombras do futuro,
Meu Deus! a pátria em grilhões!…
Pelo mar em vão procuro
Seus orgulhosos pendões…
Coberta d’amargo pranto,
Lá se envolve em negro manto…
Lá roja a face em quebranto…
Ela, a grande entre as nações!…

Oh! se este braço pudera
A fria lousa quebrar,
Este braço inda se erguera
Da tumba, para a salvar;
Apontando-lhe a vingança;
Inda lhe dera esperança,
E empunhando a antiga lança,
À morte a fora arrancar.

Mas eis marcado o momento
No livro d’além dos céus…
Eis a morte… o passamento…
São findos os dias meus…
Companheiros da vitória,
De tantos dias de glória,
Guardai… guardai na memória,
D’Albuquerque o extremo adeus…

A morte… a morte… que anseio!
Sinto um gelo sepulcral…
Abre-me, ó terra, o teu seio,
Quero o repouso final.
Desce, guerreiro cansado,
Desce ao túmulo gelado…
Mas a afronta… desonrado…
Índia… filho… Portugal!…
Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Manoel Santos Neto (Universo Poético da Cidade de São Luís do Maranhão II)

A velha São Luís – antes cantada em verso e prosa por seus largos, espaçosos, e por suas ruas, estreitas e íngremes – não ostenta mais apenas aquele verde luxuriante do capim e das ervas daninhas que se encontram no relato de cronistas do século XIX. Hoje a cidade, em pleno século XXI, tem uma vida complexa – como um prisma de mil faces, refletindo e coruscando todas as cores, simultaneamente, misturadas, mas não tão bem arrumadinhas, uma por vez, como no arco-íris. Essa maneira cromática e dinâmica de ver e sentir São Luís talvez seja a mais abrangente, a que melhor ilustre a percepção que a São Luís quase quatrocentona inspira a quem aqui chega ou aos que refletem sobre sua cidade. Bernardo Coelho de Almeida (1927-1996) foi quem, através de suas crônicas, mostrou muitas dessas cores e seus contrastes: o cinza-chumbo do desânimo causado nos são-luisenses, principalmente em função da miséria e do desemprego; o marrom do medo da violência, predominante entre os mais pobres; o púrpura da irritação com os engarrafamentos no trânsito; o verde-escuro do temor das doenças causadas pela sujeira e pelo risco de a Ilha vir a ser tomada pela poluição de grandes empreendimentos industriais.

As crônicas de Bernardo Coelho de Almeida, reunidas no livro Éramos felizes e não sabíamos, são autênticas memórias do passado de São Luís, cidade muito amada, onde o autor viveu, durante 69 anos, como estudante, boêmio, poeta, romancista, radialista, jornalista e homem público.

Éramos felizes e não sabíamos é um livro interessante, rico em reminiscências, capaz de registrar momentos memoráveis do passado de um homem sensível e preso aos encantos de uma cidade que, ainda hoje, não quer perder a fama de Atenas Brasileira. No livro são relembrados os bares, os cabarés, os folguedos populares, os acontecimentos políticos, a vida intelectual, as velhas amizades, os tipos inesquecíveis, enfim, os flagrantes de um tempo feliz, e aqueles que foram protagonistas do romance desse tempo, na parceria de nossos destinos. Destinos que foram traçados nas ruas, nas praças e nos logradouros minuciosamente catalogados pelo escritor Domingos Vieira Filho (1924-1981), no livro Breve História das Ruas de São Luís, publicado no ano de 1962. Nesta obra, construída com impressionante paciência e obstinação, o autor, que foi, entre outras funções, diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite e presidente da antiga Fundação Cultural do Maranhão, aponta, como caminhos iniciais da cidade, a Rua Formosa, a Rua do Egito e a Rua dos Remédios, “mandada abrir por Joaquim de Melo e Póvoas no meio dos matos e que conduzia à ermida dessa invocação construída na ribanceira que deita para o Jenipapeiro”. 

Domingos Vieira Filho faz referência a caminhos grandes, como a própria Rua Grande, a Rua da Paz e a Rua das Violas (ou Rua dos Afogados). 

Ele recorda que, na São Luís daqueles velhos tempos, as ruas eram antes simples linhas de comunicação do que vias de transportes. Por isso podiam ser estreitas, uma vez que por elas não transitavam carros. Imperavam a cadeirinha, a rede, acolhedora, sensual, leito de prazer ou de dor, carro e esquife, a serpentina, o palanque, aparelhos esses que dispensavam rodas e eram conduzidos nos ombros de robustos escravos.

No mesmo patamar que Domingos Vieira Filho e Bernardo Coelho de Almeida, um outro escritor renomado, Erasmo Dias, cantou São Luís em prosa, de forma magistral. Em seu mais novo livro – São Luís em PreAmar: ainda assim, há um Azul! –, o jornalista e poeta Herbert de Jesus Santos também abre uma janela lúcida e criativa sobre São Luís, retratando-a nos nossos dias. 

Com cinco livros publicados, Herbert de Jesus Santos produz uma obra cada vez mais amadurecida, convencido de que São Luís está no detalhe e por isso mesmo ainda se mostra inesgotável como veio poético. Nas páginas deste seu recém-lançado livro de poesia São Luís em PreAmar: ainda assim, há um Azul!, o escritor Herbert de Jesus Santos, que também é cronista, contista e novelista, faz uma contundente declaração de amor a São Luís, pois voltou para ela todos os poemas, com características lírica e social, sem esconder as feridas da cidade, seus maiores valores, entre riqueza de espírito, tipos populares, humanistas, poetas e prosadores beneméritos, o ser e o estar maranhense, a decadência em todos os campos, mas a esperança de um amanhecer com melhor horizonte para o Maranhão, por abrangência, e sua gente. 

O texto apreciativo ficou a cargo do jornalista e poeta Cunha Santos Filho. Na obra ousou ter como prefácio um poema de Luís Augusto Cassas, como apresentação, um poema de Nauro Machado, posfácio de Erasmo Dias (trecho de uma crônica), e epígrafes com soneto de Alex Brasil, poema de Bandeira Tribuzi e fragmentos de poemas de José Maria Nascimento e de Luís Alfredo Neto Guterres, todos relativos a São Luís.

Erasmo Dias ressurge na página final do novo livro de Herbert Santos, com uma de suas crônicas sobre o espírito da terra natal. Enfocando a alma romântica da Cidade dos Bardos e dos Rapsodos, assim escreve Erasmo Dias: 

“As cidades não valem simplesmente pelo seu aspecto material. Como os homens, elas, também, possuem uma alma. A alma das cidades é a soma de todas as vibrações dos seus habitantes, que se misturam e confundem, numa grande e única vibração. 

Quando se pretende retratar com palavras uma cidade, mister se faz que, antes da descrição das suas ruas e das suas praças, se compreenda a sua alma. 

São Luís tem a sua alma: alma de Cidade Romântica, onde dezenas de grandes poetas cantaram, nos ritmos claros da poesia excelsa, todo o esplendor da natureza tropical. 

São Luís é a Cidade da Inteligência e sobre os seus destinos vela impávida, serena e eterna, Atenas Palas Minerva. Gerações e gerações de gigantes do pensamento aqui se formaram, forma e formarão, sempre, escutando os cantares rústicos que se escapam dos bairros pobres, onde Xangô e Afefé recebem o seu culto, ou a prosa castiça e erudita das rodas intelectuais, que se sucedem, gloriosas, numa ciranda abençoada, pelos anos afora”.

No canto destes grandes poetas de que fala Erasmo Dias, ganha realce – entre inúmeros autores – a figura do poeta Ferreira Gullar, que celebra São Luís em muitos de seus poemas, inclusive em Poema Sujo que é, sem dúvida nenhuma, uma das obras mais importantes surgidas no panorama poético brasileiro do século XX. Opinião que é corroborada por intelectuais do porte de Nelson Werneck Sodré, Antonio Callado e Otto Maria Carpeaux, entre outros. E é fácil concordar com isso ao se ler o poema, que é tão forte, comovente e evocativo, que chega mesmo a incomodar, a excitar, a aguçar a sensibilidade. Trata-se de obra que exprime autenticamente a verdade típica da poesia, ou seja, “a verdade que comove”, para usar um conceito do próprio poeta. 

Poema Sujo fala de São Luís, retrata, com a particularidade do reflexo estético, a experiência de vida do poeta nesta cidade, até os 21 anos de idade. Mas, na verdade, o poema é muito mais do que isso: é um retrato de corpo (e alma) inteiro de Gullar, que abarca sua vida, suas idéias políticas e filosóficas, sua saudade de exilado e suas perplexidades. 

Ao falar de São Luis, Gullar fala do Brasil. E falando do Brasil, fala da condição humana. Ele parte do homem mesmo, deste “ser que responde” a situações historicamente dadas, parte de suas experiências vitais, das contradições sociais que o determinam e são por ele determinadas. E isto é o que ele trata de esteticamente (poeticamente) refletir. O homem maranhense, o próprio Gullar: este o ponto de partida, a fonte do Poema Sujo: este, também o elemento que faz a poesia chegar ao universal, o “alimento” do artista. Gullar com ele opera como só os grandes poetas sabem e podem fazer, transformando o real em algo mais real, o mais simples no mais belo e significativo, reconstruindo o mundo, nas ruas e becos de sua infância:

Me extravio
na Rua da Estrela, escorrego
no Beco do Precipício.
Me lavo no Ribeirão.
Mijo na Fonte do Bispo.
Na Rua do Sol me cego,
na Rua da Paz me revolto
na do Comércio me nego
mas na das Hortas floresço;
na dos Prazeres soluço
na da Palma me conheço
na do Alecrim me perfumo
na da Saúde adoeço
na do Desterro me encontro
na da Alegria me perco
na Rua do Carmo berro
na Rua da Direita erro
e na Aurora adormeço.
–––––––––-
Continua…

Fonte:
Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante
http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina653.htm. Edição 115. 20 de janeiro de 2006

Deixe um comentário

Arquivado em Maranhão, Poesia, Sopa de Letras

Soares de Passos (Sócrates)

Já próximo do ocaso vai descendo
O sol ao mar inquieto,
Os moribundos raios estendendo
Nas alturas do Hymeto;
E Sócrates, sentado sobre o leito,
Inda aos alunos fala,
No silêncio geral notando o efeito
Da razão que os abala.
A verdade sublime lhes revela
Em palavras ignotas,
Suaves como a voz de Filomela
Ou do cisne do Eurotas.
Cebes, o próprio Cebes emudece,
Simias já não duvida:
Nus olhos do inspirado resplandece
Um Deus e a eterna vida!

Mas o sol expirava: era o momento
Que Atenas decretara:
Cumpre os deuses vingar: o sábio atento
À morte se prepara.
Os discípulos tremem, contemplando
O dia já no resto;
Eis o servo das onze entra chorando
No cárcere funesto.
O círculo cruzando, a brônzea taça
A Sócrates estende;
O filósofo a empunha com a graça
Que nos festins resplende.
«Ergamos, disse, nossa prece Aquele
«Que ao longe nos convida,
«Por que seja feliz por meio d’Ele
«A viagem temida.»
E aproximando intrépido e sereno
A líquida cicuta,
Como néctar a esgota, e do veneno
Entrega a taça enxuta.

Um lamento geral, um só transporte
Percorre em torno o bando
Dos alunos fiéis, chorando a sorte
Do mestre venerando.
Apolodoro geme; sucumbindo,
Críton lhe responde;
Fédon abaixa os olhos, e carpindo
No manto o rosto esconde.
Ele sem vacilar, ele somente,
Sorrindo á turba ansiada:
«Amigos, que fazeis? um sol fulgente
«Me luz em nova estrada.

«De presságios felizes rodeemos
«Os últimos instantes!
Chore quem não tem fé – nós que já cremos,
«Nós sejamos constantes!»
Disse, e deixando o leito em que jazia,
Sereno move o passo,
Que o veneno letárgico devia
Obrar pelo cansaço.
Das grades se aproxima, olha o Pártenon,
Olha os muros d’Atenas,
O Falero, o Pireu e as que lhe acenam,
Regiões tão serenas;
Olha os céus, olha a terra, a luz do dia
Expirando nas vagas,
E de harmonias tais se ergue à harmonia
De mais ditosas plagas.
Depois, volvendo ao leito, diz a tudo
O adeus de despedida:
Cobre o rosto co manto e aguarda mudo,
O instante da partida.

O veneno progride, e já do efeito
Redobra a intensidade;
Dos membros se apodera, sobe ao peito,
E o coração lhe invade.
Estremeceu! do gélido trespasse
Era enfim a agonia…
O executor lhe descobriu a face:
Sócrates não vivia!

Triunfa, cega Atenas, ao martírio
O sábio condenaste,
E d’olímpicos deuses no delírio
A razão enjeitaste;
À voz do Areópago, à voz de ferro
Sufocaste a doutrina:
A verdade sucumbe, a sombra do erro
No mundo predomina.

Mas que estrela futura se levanta
Rasgando a escuridade?
Que palavra ressoa, e o mundo espanta
Pregando a alta verdade?
E ele, e ele, o prometido às gentes
Na voz das profecias!
Curvai, ó gerações, curvai as frentes
Ao Verbo do Messias!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (Anelos)

Que imenso vácuo neste peito sinto!
Que arfar eterno de revolto mar!
Que ardente fogo, que jamais extinto
Somente afrouxa para mais queimar!
Ai, esta sede que meu peito rala,
Talvez a apague mundanal prazer:
Ali ao menos poderei fartá-la,
Ou num letargo sem paixões viver.

Mas dessa taça já provei… não quero!
Quero deleites que inda não senti…
A luta, os riscos dum combate fero!
Talvez encantos acharei ali.

A luta, os riscos, em acção travadas
Guerreiras hostes disputando o chão;
O sangue em jorros, o tinir d’espadas,
O fogo e o fumo do voraz canhão!
Ali os gozos dum feroz delírio,
À luz das armas, sentirei em mim,
Ou numa delas o funéreo círio
Que à paz dos mortos me conduza enfim.

Mas não, não quero sobre a terra escrava
A vis tiranos imolar o irmão…
O mar, o mar, que em sua fúria brava
Ninguém domina com servil grilhão!

O mar, o mar! sobre escarcéus revoltos
Em frágil lenho flutuar me apraz,
Ao som das vagas e dos ventos soltos,
E das centelhas ao clarão fugaz.
Ali sorrindo da feroz tormenta,
E dos abismos que me abrir aos pés,
Dentro desta alma de prazer sedenta
Sublime gozo sentirei talvez.

Mas o mar livre tem um leito ainda
Que os meus anelos poderá suster…
O espaço, o espaço! na amplidão infinda
Talvez que possa o coração encher.

O espaço, o espaço! qual ligeiro vento
Irei lançar-me nesse mar sem fim,
E a longos tragos aspirar o alento,
Sentir a vida que desejo em mim…
Ora águia altiva, desprezando o solo,
O rei dos astros buscarei então
Ora entre as neves do gelado pólo
Voarei nas asas do veloz tufão.

Mas solitário, sem cessar errante,
De que valera na amplidão correr?…
A glória, a glória, que em painel brilhante
Me of’rece a imagem dum maior prazer!

A glória, a glória! mil troféus ganhados,
Mil verdes palmas e lauréis também;
Triunfos, c’roas e sonoros brados
Da turba – é ele! – repetindo além…
Então em sonhos duma vida infinda
Verei a chama d’imortal farol,
Que eu meu sepulcro resplandeça ainda,
Bem como a lua, quando é morto o sol.

Mas não, que a inveja com a voz mentida
A luz em sombras poderá tornar…
O amor, o amor, que redobrando a vida,
A vida noutrem me fará gozar!

O amor, o amor, celestial perfume
Que a mão dos anjos sobre nós verteu,
Doce mistério que num só resume
Dois pensamentos aspirando ao céu!
O amor, o amor, não mentiroso incenso
Que em frios lábios só no mundo achei,
Mas imutável, mas sublime e imenso
Qual em meus sonhos juvenis sonhei…

O amor! só ele poderá nesta alma
Risonhas crenças outra vez gerar,
De minha sede mitigar a calma,
E inda fazer-me reviver, e amar.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Soares de Passos (Enfado)

Dos homens, ai quem me dera
Longe, bem longe viver!
Junto de mim só quisera,
Como eu sonho, um anjo ter.
Que esse anjo surgisse agora,
E o mundo folgasse embora
Em seu nefando prazer.

Que vista! cede a inocência
À voz do crime traidor;
Folga a devassa impudência,
Nas faces não há rubor.
Traz o vício a fronte erguida,
E a virtude, sem guarida,
Geme transida de dor.

Vão ao templo da cobiça,
Vão todos sacrificar:
Consciência, fé, justiça,
Tudo lhe deixam no altar.
Devora-os a sede d’ouro;
O seu deus é um tesouro,
Porque o viver é gozar.

E que importa que o infante
Morra à fome, e o ancião?
Que importa que gema errante
O proletário, sem pão?
Oh! que importa que o talento
Esmoreça ao desalento?
Que vale do génio o condão?

Proclamou-se a lei do forte:
A lei do fraco é gemer.
Ai do triste a quem a sorte
Fez entre espinhos nascer!
É um dogma a tirania,
A liberdade heresia,
A servidão um dever.

Que tempos, que tempos estes!
Quem há-de viver assim
No mundo que rasga as vestes
Do justo; no seu festim?
Quem há-de? mas esperança!
Um dia foge; outro avança,
E a redenção vem no fim.

Hoje, porém, quem me dera
Longe dos homens viver!
Junto de mim só quisera,
Como eu sonho, um anjo ter.
Que esse anjo surgisse agora,
E o mundo folgasse embora
Em seu nefando prazer.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Paulo Vinheiro (Tremor)

Uma dose a mais, a última, a primeira do dia
 Um deslizar constante para onde não sei
 O quente e macio gesto do adeus demorado
 A sangria e o cheiro do mato cortado
 A chuva e uma tristeza que não sacia

 Descer a serra se faz fácil e rápido
 O destino não há, mas a vontade de se ir
 Assim, embriagado, mergulhado no fim
 De mim nem haverá lembranças
 Por certo não haveria de haver
O sonho de se sentir acordado
 A percepção de ser diferente
 Sinto o tempo encolhendo, vacilante
 Abro a porta de meus olhos
 E mudo as cores do espectro

Trocando as pernas pelas ruas
 Como quem anda, à toa, achando
 Já não sou mais o que pensei
 Isto é, não sei nada de mim
 Hoje ando mais tonto que ontem


Feliz e aceitando tudo que não entendo
 Abraço outros bêbados como fui e sou
 Acreditamos num mesmo deus
 Lutamos as mesmas guerras
 Somos imbecilmente apaixonados

O que me embriaga é de outra natureza
 Minha natureza foi a das choças
 Hoje não sei mais, por mais que busque
 O que anda por dentro é morno
 Acredito no que a maioria quer
 E não sei mais o que quero… de mim

Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Ialmar Pio Schneider (O Jogador de Bocha)

Poesia premiada em 2º Lugar pela Estância da Poesia Crioula 
3º Concurso Literário de Poesia Exaltando o Rio Grande – 2012
Cancha do jogo de bocha
transformada em tradição,
onde encontro a diversão
para as horas de lazer,
eu não posso te esquecer
e te trago na lembrança
desde quando fui criança
e começava a entender.
Pois até sinto saudade
das façanhas que eu fazia,
quando no braço soerguia
uma bocha e arremessava
num estilo de tuxava
que desfere com certeza,
a boleadeira na presa
e uma clavada na tava.
E mesmo jogando a ponto
sempre fazia por mim,
pois colava no bolim
uma riga ou uma lisa
e como quem não precisa
de seguir por mão alheia,
não provocava peleia:
que briga não dá camisa.
Por estes pagos então,
neste jogo de campanha,
dono de muita façanha,
era muito respeitado,
porque dentro do tablado
que neste verso retrato
jogava até por barato,
nunca apostava fiado.
Outro princípio que trago
desde os tempos de piazote:
quem se atira de garrote
contra touro colmilhudo
e de chifre pontiagudo,
nunca consegue vantagem,
mesmo que tenha coragem
acaba perdendo tudo.
Mas até por passatempo
a bocha tem muita graça,
por um copo de cachaça
ou um maço de cigarro,
que o guasca feito de barro
nesta terra se apresilha
ao moirão de coronilha
do velho pago bizarro.
Hoje os recuerdos me trazem
grandes partidas de bocha
e como uma acesa tocha
certa doença me invade,
queimando barbaridade
no peito meu coração,
quero voltar ao rincão
onde me leva a saudade!
E numa sombra campeira
reviver meu jogo antigo;
e se outra coisa não digo
neste sentimento adverso,
para encerrar o meu verso
minh’alma xucra se plancha
junto ao mistério da cancha
que envolve todo o Universo!…
Fonte:
O Autor

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Soares dos Passos (Canção)

Que noite d’encanto!
Que lúcido manto!
Que noite! amo tanto!
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzela;
Não temas, ó bela,
Que a noite só vela
Quem sonha d’amor.
A luz infinita
Dos astros, crepita,
Arqueja e palpita,
Serena a brilhar:
Assim o teu seio,
De casto receio,
De tímido enleio
Costuma pulsar.
A lua, qual chama,
Que os seios inflama,
Fanal de quem ama,
Desponta no céu;
E a nítida fronte
Retrata na fonte
E estende no monte
Seu cândido véu.
E a fonte murmura
Por entre a verdura,
E ao longe d’altura
Lá desce a gemer:
Que sons, que folguedos!
Parece aos rochedos
Dizer mil segredos
D’infindo prazer.
Silêncio! o trinado
Lá volta enlevado,
Das noites o amado,
Da selva o cantor;
E o hino que entoa
No bosque ressoa
E ao longe revoa,
Gemendo d’amor.
O facho da lua
Coa sombra flutua,
Avança e recua
No chão do jardim;
Nas asas da aragem,
Que agita a folhagem,
Recende a bafagem
Da rosa e jasmim.
Que noite d’encanto!
Que lúcido manto!
Que noite! amo tanto
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzela;
Não temas, ó bela,
Que à noite só vela
Quem sonha d’amor.
Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia

Andreia Domingos (Vila de Rei – Rostos… Olhares de alma)

Oh Vila de Rei bem coroada
Que d’outros olhares tiveste reitor
Por Isabel Santa foste amada
Elevada por D. Dinis o Lavrador

No alto Picoto vejo serras
Montes, vales e riqueza
Nem santo, nem rainha, nem rezas
Tiram do olhar tão rara beleza

Tens história, pessoas e artes,
Tens escritos p’ra não esquecer
Rostos, encantos e olhares
Desta gente que te viu nascer

Oh Vila de Rei inebriada
Com séculos de tradição,
Desde sempre abençoada
Por gente de grande coração

Um rosto, um olhar, um ensejo
Coragem escrita na ladainha
Vejo-te crescer com desejo,
De hoje e sempre seres Rainha.

Tens alma de lutador,
E em tudo buscaste sustento
Tens gente que na terra trabalha,
Hoje e sempre com grande alento

Olho, admiro e sonho,
Ó Vila de Rei bela princesa
Tens lagar, moinho e conho
Que sempre trouxeram riqueza.

Rostos e olhares do Mundo
Não conhecem tão nobre terra
Aqui hoje deixo o testemunho
Da rara beleza que ela encerra.

Neste meu cartão de visita,
Hoje de rosto renovado,
Olho para ti com amor
Nobre concelho encantado.

Fonte:
http://www.cm-viladerei.pt/

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

Luís Lucas Francisco (Rostos e olhares)

Naqueles olhares algo distantes
Há rostos ainda bem risonhos
Mas no futuro pouco confiantes
E no qual não alimentam sonhos.

Da sua terra grandes amantes
Porque a ela se submeteram,
Lutaram por ela como gigantes
E seus braços nunca se renderam.

Rostos flácidos e macilentos
Que duros anos foram moldando,
Ao progresso estiveram atentos
Que quase tudo lhes foi negando.

P’lo sol, seus rostos foram curtidos,
P’ra tirarem da terra magro sustento,
Mas eles não se deram por vencidos
Nem se lhes ouviu nenhum lamento.

Assim por detrás de cada rosto
Há uma bem apurada memória
Que conta com requintado gosto
Lindos trechos da sua história.

Estes beirões rijos e valentes
Habituados aos rigores da serra
Foram “peças” muito influentes
No desenvolvimento da sua terra.

É para estes rostos e olhares
Que aos quatro ventos cantarei;
Eles que habitam aldeias e lugares
Deste concelho de Vila de Rei!

Fonte:
http://www.cm-viladerei.pt/

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Portugal

José Feldman (O Corvo)

Porque voas tão macambúzio,
Mergulhado na embriaguez
de teus sonhos?
Porque pousas no alto da árvore,
Olhando por sobre o mundo
Em busca de sonhos vãos?

Voas…
Voas como um presságio de mau agouro,
Alçando-se acima das tentações,
Abandonando sentimentos.
Um peregrino perdido
Em meio ao universo de ilusões.

Asas negras por sobre cabeças,
O espectro de um espírito solitário
Mergulhado no lago do desamor.

Oh! Grasnar de melancolia,
Entregue ao vento de incertezas
Desfazendo as nuvens do existir.

Vem!!!…
Vem, meu pequenino pássaro preto,
Acolha-se entre meus braços.
Seja este momento de tristeza,
Funda-se em meu angustiante ser –
Vem!!!
Peregrino da solidão.

Voa!!!
Voa por sobre o mundo.
Voa!!!
Voa, pois não estás só
Eu voo junto de ti.
Voa!!!!
Ave da infelicidade
Pois não és apenas um pássaro,
És um eu!…

Deixe um comentário

Arquivado em Paraná, Poesia

Olga Agulhon (Sou o Que Sou)

clique sobre a imagem para melhor visualização

Fonte:
AGULHON, Olga. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

Deixe um comentário

Arquivado em Maringá, Paraná, Poesia

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poesia, Soneto e Trova) v. 6

Delírio
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ – “Cidade Poema”

Aço forjado a fogo,
Cana que virou bagaço,
Carta rejeitada do jogo,
Nó apertado de um laço.

Fera ferida de morte,
Ave presa na gaiola,
Errante, sem tino, sem norte,
Cantador sem ter viola.

Vida sem eira, nem beira,
noite sem brisa a soprar,
fogo brando de fogueira,
peixe morto à beira mar!

Sino sem tanger seu toque,
vontade ardente de ter,
imagem sem foco ou enfoque,
pedra atirada em bodoque,
aprendiz sem aprender.

Passo sem rumo ou espaço,
cena que virou rotina,
fama que virou fracasso,
água parada da tina!

Rio sem leito ao relento,
pipa perdida no ar,
corpo pedindo acalento,
alma louquinha pra amar.

Pelo caminho de teus olhos
Ives Gandra Martins

O recesso intocável de tua alma
Invadi, repentina e mudamente,
Através de momento, cuja palma
Cruzou pelos teus olhos, diferente.

A profundeza longínqua foi semente
Do sucesso que trouxe após a calma.
E a conquista desfeita, docemente,
Conquistou o senhor que hoje te ensalma.

Do assalto não mais resta que o caminho,
Onde, silente, entrei, despercebido,
Cuidando retirar-me por inteiro.

Perdi-me, todavia, e não sozinho
Retomei-o, muito estranho e sem sentido,
De teu recesso eterno prisioneiro.

Ives Gandra Martins: Professor de Direito na Escola de Magistratura do Rio de Janeiro,integrador de bancas de exames universitários,ensaísta, músico e poeta. O poema aqui publicado foi extraído do Livro de Ruth,em homenagem à esposa.

TROVAS 

É tanto o amor que me invade
quando em teus braços estou,
que cada instante é saudade
do instante que já passou! 
Newton Meyer Azevedo/MG 

Amanhece… e a luz dourada,
num leve e sutil açoite,
traça o perfil da alvorada
no rosto negro da noite. 
Aloísio Alves da Costa/CE 

“Não há pão – Comam brioche!”,
disse a rainha ao seu povo.
Antes um pão que o deboche,
de preferência… com ovo. 
Diamantino Ferreira / RJ

Fonte:
Seleção enviada pelo autor

Deixe um comentário

Arquivado em Poesia, Soneto., Trova

Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura (Prazo: 16 de Agosto)

Organização:
Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves

Informações e Dúvidas:
gped@fcptn.pa.gov.br
(91) 3202-4375; 3202-4376
Regulamento:
A FUNDAÇÃO CULTURAL DO PARÁ TANCREDO NEVES – FCPTN, instituição criada pelo Decreto Instituidor n°4.437, de 20 de agosto de 1986, nos termos da Lei n°5.322, de 26 de junho de 1986, modificada pela Lei n°6.576, de 03 de setembro de 2003, inscrita no CNPJ/MF sob o n°14.662.886/0001-43, com sede nesta cidade de Belém, Estado do Pará, na Av. Gentil Bittencourt – 650, bairro de Nazaré, CEP : 66035-340, torna público que se encontram abertas as inscrições do CONCURSO para seleção e concessão do PRÊMIO DALCÍDIO JURANDIR DE LITERATURA-2012 , instituído pelo Decreto n° 741, de 27 de dezembro de 2007, para atender a finalidade da Lei 6.576, de 03 de setembro de 2003, que criou a FCPTN, que é valorizar a produção cultural do Estado do Pará, estimulando o conhecimento, a interação e a divulgação dessa produção por meio das diversas linguagens, assegurando a preservação da memória e do acervo dos bens históricos, artísticos e socioculturais acumulados no universo da cultura paraense.
1 – DO OBJETIVO
O PRÊMIO DALCÍDIO JURANDIR DE LITERATURA, instituído pelo Decreto nº. 741 de 27 de dezembro de 2007, promovido pela FUNDAÇÃO CULTURAL DO PARÁ TANCREDO NEVES, tem como finalidade premiar obras inéditas, em língua portuguesa, nas categorias romance, poesia, crônica e conto.
2 – DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
2.1 – A categoria romance é de âmbito nacional, podendo ser disputada por todo e qualquer autor brasileiro nato ou naturalizado, com idade mínima de 18 anos.
2.2 – As categorias poesia, crônica e conto poderão ser disputadas apenas por autores paraenses ou residentes e domiciliados no Estado do Pará há mais de cinco anos, respeitada a idade mínima de 18 anos.
2.3 – É vedada a participação de servidores vinculados à Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.
2.4 – Cada autor concorrente poderá inscrever apenas uma obra em cada categoria listada neste Edital.
2.5 – Os documentos exigidos para a inscrição e os originais das obras não serão devolvidos.
2.6 – É de responsabilidade exclusiva do autor a observância e regularização de toda e qualquer questão relativa a direitos autorais e demais disposições deste Regulamento.
2.7 – O autor premiado permitirá o uso de sua imagem, bem como de sua obra selecionada pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, para divulgação da obra e da premiação.
2.8 – O autor compromete-se a participar dos eventos oficiais da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves na área literária até a entrega do Prêmio.
2.9 – O autor deverá obedecer como força contratual preliminar os tópicos deste edital, devendo assinar contrato formal com a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, logo após a divulgação dos resultados.
2.10. O autor ficará responsável pela revisão final da obra, assinando termo de responsabilidade autorizando a impressão, juntamente com a fundação.
3 – DAS OBRAS E DOCUMENTOS
3.1 – As obras devem, obrigatoriamente, ser inéditas, não tendo sido publicadas em parte ou em sua totalidade e escritas em língua portuguesa, ficando automaticamente eliminadas, em qualquer etapa do concurso, aquelas já publicadas ou divulgadas por qualquer meio, no todo ou em parte. Os textos inscritos deverão ser inéditos, ou seja, nunca terem sido publicados. Entende-se por publicação o processo de edição de uma obra literária e sua distribuição em livrarias ou pela internet, ainda que não possuam número de registro no ISBN.
3.2 – As obras deverão ser encaminhadas, obrigatoriamente, sob pseudônimos, não podendo conter, nos originais e nos envelopes, nada que identifique os autores.
3.3 – As obras deverão ser digitadas em papel tamanho A4, fonte Arial, corpo 12, modo retrato, com espaço entre linhas de 1,5 cm, margem esquerda e superior 3,0 cm e direita e inferior 2,0 cm.
3.4 – Na página de rosto de cada cópia deverão constar o nome do concurso, o título da obra, o pseudônimo do autor e a categoria. As demais páginas deverão estar seqüencialmente numeradas na parte inferior centralizada.
3.5 – Cada obra deverá ser apresentada em 03 (três) vias encadernadas em espiral; não serão aceitos exemplares grampeados. Tais vias deverão ser entregues obedecendo ao seguinte procedimento: em um envelope lacrado, colocar o nome do Concurso, o título da obra, o pseudônimo do autor e a categoria. Dentro desse mesmo envelope deverá ter um envelope menor, lacrado, identificado da mesma forma, contendo em seu interior, informações biobibliográficas do autor, cópia da carteira de identidade, cópia do CPF e comprovante de residência. As informações necessárias para postagem via correios deverão ser feitas em embalagem externa, que será descartada pela comissão organizadora do concurso no momento em que receber o pacote.
3.6 – Para todas as categorias, as obras inscritas devem ter o limite mínimo de 50 (cinqüenta) páginas e limite máximo de 200 (duzentas) páginas.
4 – DAS INSCRIÇÕES
4.1 – As inscrições são gratuitas e estarão abertas no períodode 18 de junho de 2012 a 16 de agosto de 2012, de segunda a sexta-feira, exceto feriados, no horário das 9h às 12h, e deverão ser feitas na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, diretamente na Gerência de Promoção Editorial – GPED, 4º andar do CENTUR – situada a Av. Gentil Bittencourt, 650 –Bairro de Nazaré, CEP66035-340, Belém-Pará, ou enviadas pelo Correio, via Sedex ou carta registrada com AR, ao endereço acima especificado, identificadas pelo nome do Concurso e da categoria a que concorre.
4.2 – As inscrições feitas pelo Correio só serão consideradas válidas e aceitas se postadas até o último dia de inscrição, valendo como comprovante o carimbo da agência postal expedidora.
4.3 – A Comissão Organizadora do Concurso não retirará os originais em agências do Correio, transportadoras ou similares.
4.4 – Não serão aceitas inscrições feitas fora do prazo ou enviadas por fax, internet ou similares.
4.5 – Efetivada a inscrição, não poderão ser feitas quaisquer alterações nas obras e documentos.
5 – DA PREMIAÇÃO
5.1 – As obras selecionadas serão editadas pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. As vencedoras e as indicadas com Menção Honrosa terão uma tiragem de 1000 (mil) exemplares para cada modalidade. Desta tiragem, 600 (seiscentos) exemplares ficarão com cada autor e 400 (quatrocentos) serão da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, para acervo próprio.
5.2 – Cada vencedor das categorias poesia, conto e crônica fará jus a uma premiação no valor de R$ 3.000,00 cada. Já na categoria romance a premiação será de R$ 5.000,00. Não haverá premiação em dinheiro para os indicados com Menção Honrosa.
5.3 – As Comissões Julgadoras indicarão em cada categoria uma menção honrosa.
5.4 – A criação da identidade visual e do projeto gráfico final das obras vencedoras ficará sob total responsabilidade e decisão da comissão técnica da Gerência de Promoção Editorial da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.
6 – DO JULGAMENTO
6.1 – Cada categoria contará com uma comissão julgadora, formada por três profissionais com notória proficiência e saber relacionado à modalidade que analisará. Todos os julgadores serão indicados pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.
6.2 – As decisões das Comissões Julgadoras são soberanas e irrecorríveis.
6.3 – As Comissões poderão deixar de indicar um vencedor em uma ou todas as categorias, bem como as Menções Honrosas, desde que justifiquem sua decisão.
6.4 – Os integrantes das Comissões Julgadoras poderão ser substituídos a qualquer tempo, por impossibilidade de participação decorrente de caso fortuito ou força maior, por outros profissionais igualmente qualificados.
7 – DO RESULTADO
Os resultados deste Concurso serão publicados no Diário Oficial do Estado do Pará e no site http://www.fcptn.pa.gov.br, em setembro de 2012.
8 – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
8.1 – Caberá à comissão organizadora do concurso receber as obras inscritas, conferir a documentação exigida, organizar todo o processo de distribuição das cópias das obras para os membros das comissões julgadoras, providenciar a divulgação do resultado do concurso e solucionar quaisquer controvérsias ou pendências advindas da realização do concurso, inclusive aquelas decorrentes de omissões deste Edital.
8.2 – Este Edital encontra-se à disposição dos interessados, na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves e no site http://www.fcptn.pa.gov.br.
8.3 – Informações complementares ou esclarecimentos poderão ser obtidos no período e horário das inscrições, na sede da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves / Gerência de Promoção Editorial, pelo e-mail gped@fcptn.pa.gov.br ou pelos fones (91) 3202-4375; 3202-4376.
8.4 – O mero ato de inscrição pressupõe que o autor manifesta plena e irretratável anuência com relação a todos os itens do presente Edital.
8.5 – Fica eleito o Foro da Comarca de Belém, Estado do Pará, para dirimir quaisquer dúvidas ou controvérsias oriundas do presente Edital. 
Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Concurso Literário, Conto, Cronica, Inscrições Abertas, Magia das Palavras, Poesia, Romance

Prêmio Lauro de Freitas de Literatura (31 de Julho)

REGULAMENTO 
Em virtude da realização do cinquentenário do município de Lauro de Freitas em 31.07.2012, a Editora Livro.com e a ALALF – Academia de Letras, Artes e Cultura de Lauro de Freitas lançam o Prêmio Lauro de Freitas de Literatura. O Prêmio Lauro de Freitas de Literatura é uma realização da Livro.com em co-produção com a ALALF e com o apoio da Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas. Este Prêmio será realizado na cidade de Lauro de Freitas-BA, no período de 01.06.2012 a 31.07.2012.
  
 O Prêmio Lauro de Freitas de Literatura tem como objetivo colaborar com os festejos comemorativos do cinquentenário de Lauro de Freitas (31.07.2012), promovendo os poetas regionais, favorecendo o intercâmbio de ideias na busca de espaços para divulgação dos mesmos, fomentando a discussão entre artistas e população, criando espaços para manifestações literárias com o intuito de descobrir novos talentos da literatura baiana.
  
DO PRÊMIO
 Serão selecionados 4 melhores escritores em cada uma das seguintes categorias: Cordel, Conto e Poesia. Os melhores classificados terão seus textos publicados na I Antologia Lauro de Freitas de Literatura e receberão 20 livros cada. O Tema é Livre, não será cobrada taxa de inscrição e não será oferecida premiação em dinheiro. No entanto, os 12 melhores colocados terão seus poemas publicados na ANTOLOGIA acima citada.
  
 As obras devem ser inéditas e escritas no idioma português.
  
DAS INSCRIÇÕES
 Poderão se inscrever no Prêmio Lauro de Freitas de Literatura escritores amadores ou profissionais maiores de 18 anos, residentes em Lauro de Freitas e região metropolitana: Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica, Madre de Deus, Salinas das Margaridas, Salvador, Simões Filho e Vera Cruz, exceto os escritores que fazem parte da ALALF e servidores do município de Lauro de Freitas.
  
 As inscrições serão feitas exclusivamente através do site da editora Livro.com (www.editoralivro.com) até às 18h do dia 01.07.2012. inscrições enviadas após esse prazo não serão aceitas. Os textos devem ser digitados em espaço simples (Word), fonte Arial tamanho 12, acompanhados da identificação do autor (Nome, endereço completo, telefone, e-mail e um breve currículo) para qualquer categoria.
  
 Cada autor poderá inscrever apenas um texto, seja em qual categoria for. Os participantes deverão observar:
  
 Cordel – mínimo de 4 páginas em Word e máximo de 8 páginas;
  
 Conto – mínimo de 4 páginas em Word e máximo de 10 páginas;
  
 Poesia – mínimo de 1 página em Word e máximo de 4 páginas.
  
  
 Os promotores do evento não se obrigam a devolver o material utilizado para as inscrições, ficando os mesmos na guarda da Comissão Julgadora.
  
 O ato de inscrição implica automaticamente na aceitação integral por parte dos concorrentes dos termos deste Regulamento.
  
DO JULGAMENTO E SELEÇÃO
 O julgamento das obras será feito por uma comissão formada por quatro jurados de reconhecida experiência comprovada na cultura regional, acadêmicos da ALALF – Academia de Letras, Artes e Cultura de Lauro de Freitas, que atribuirão notas de 0 a 10 ao material inscrito, sendo sua decisão soberana, não cabendo qualquer manifestação contrária.
  
 Em caso de empates entre os três primeiros colocados o desempate se dará pela nota do 1º jurado, persistindo o empate os jurados serão contactados para atribuírem novas notas aos referidos trabalhos.
  
 O nome dos selecionados será divulgado no site http://www.editoralivro.com até o dia 15.07.2012.
  
DA PREMIAÇÃO
 A premiação acontecerá no dia 31 de julho, a partir das 19h, no Cine Teatro Lauro de Freitas, na praça da Matriz, Centro, Lauro de Freitas-BA.
  
 Os melhores colocados no Prêmio Lauro de Freitas de Literatura receberão os seus textos publicados em livro durante a noite de premiação, quando receberão 20 livros cada um. Os autores que não puderem comparecer ao evento, deverão enviar representantes ou, em último caso, poderão retirar os exemplares na sede da Livro.com, na Avenida Luís Tarquínio, Edf. Joana Marques, loja 02, Lauro de Freitas-BA.
  
DO USO DA IMAGEM E DOS DIREITOS AUTORAIS
 Ao se inscreverem no Prêmio Lauro de Freitas de Literatura, os participantes autorizam, automaticamente, o uso da sua imagem e nome em todo o tipo de material promocional, eletrônico, impresso ou televisivo e radiofônico, além de cederem gratuitamente e sem ônus o direito autoral dos textos especificamente para a publicação da Antologia Lauro de Freitas de Literatura não havendo necessidade de formalização contratual, pois os direitos autorais são dos autores.
Fonte:

Deixe um comentário

Arquivado em Concurso Literário, Conto, Inscrições Abertas, Literatura de Cordel, Poesia

Heloísa Crespo (Poesia In Memoriam de Sérgio Roberto Diniz Nogueira: Saudade Antecipada)


A Sérgio Roberto Diniz Nogueira

O sol não apareceu.
A cidade ficou triste,
chorou nos pingos da chuva
que insistia em cair,
enquanto a notícia crua
corria ruas e bairros,
anunciando a partida
repentina e inesperada
do poeta e professor
Sérgio Nogueira Diniz.

A dor do último adeus,
estampada em cada rosto,
revelava o amor sentido,
a saudade antecipada,
o orgulho de ter vivido
tão perto de um amigo,
de um homem ético e digno,
de um exímio educador.

Na Terra a perda sentida.
No céu a festa esperada.
A entrada triunfante,
carregado pelos anjos.

Novas trilhas definidas,
novas metas planejadas
numa lida abençoada
para o novo caminhante.
14/05/2012

HOJE TAMBÉM É UM DIA DE TRISTEZA: daqui a pouco, as 12horas, no Campo da Paz, estaremos sepultando o corpo do PROFESSOR SÉRGIO DINIZ, que desde ontem é SAUDADE. Na verdade, não estaremos enterrando um corpo: estaremos, sim, plantando uma frondosa árvore no solo da planície goitacá, adubada por esta chuvinha plantadeira outonal. Por sua dignidade, honradez, inteligência para o Bem e amor cristão com que viveu entre nós, com certeza já está desfrutando em espírito da Paz Celestial.

SÉRGIO foi um exemplo de cidadania vivida pelo exemplo: a Ética Cívica, cidadã, solidária, opondo-se o tempo todo à ética cínica, individualista, predatória. Tanto na vida pública como na vida particular, com os amigos e com a família. Um grande Campista!

Lembro-me bem: numa das inesquecíveis SEMANAS UNIVERSITÁRIAS que promovíamos em fins dos anos 60 e ao longo dos 70,quando o tema era EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR EM CAMPOS (éramos Direito, Filosofia, Serviço Social e Medicina),num pronunciamento apaixonado ele jurou solenemente que faria tudo, lutaria com todas as suas forças para trazer os Cursos de Economia, Administração e Ciências Contábeis da CANDIDO MENDES PARA CAMPOS! E cumpriu o juramento: com entusiasmo anunciou a instalação da CANDIDO MENDES em nossa terra em 1976, que desde então cumpre relevante papel na infra-estrutura do desenvolvimento regional. Honrou-me com o convite para ser professor-fundador dessa grande instituição universitária, que prontamente aceitei e disso tenho orgulho! A CANDIDO MENDES DE CAMPOS mantém-se pela ação, vontade de servir e trabalho árduo de muitos! Mas ninguém apagará esta verdade: foi o PROFESSOR SÉRGIO DINIZ o grande responsável por este feito.

Assim, na Política com P maiúsculo, no Magistério e na vida comunitária, na defesa intransigente da Democracia, na construção histórica e heróica do Ensino Superior de qualidade em Campos,no exemplo de dignidade e grandeza moral, que para sempre seja lembrado e gravado no bronze da História o nome do PROFESSOR SÉRGIO DINIZ! Adeus, Amigo. Em meu nome e da Família Coelho dos Santos!

Elmar Martins (Meia Dúzia de Sete)
noturno do hotel palace
para Sergio Diniz

escrevo e você já não lê

pronuncio em voz alta
um verso que diria a você:

“o tempo é um pássaro
de natureza vaga”

antecipação fatal: o verso
existe antes de mim

outra maior: qualquer fim

19/05/2012

Fonte:
Texto enviado pela autora

Deixe um comentário

Arquivado em in memoriam, Poesia

J. G. de Araújo Jorge (Montanhas de Friburgo)


I
Gosto destas montanhas verdes, revestidas
com o tapete felpudo das matas fechadas,
estampadas no roxo e amarelo, estampadas
de acácias e quaresmas, em buquês, floridas.

Gosto destas montanhas azuis, musicadas
pelas águas que rolam frias, esquecidas,
sussurrando cantigas infantis, perdidas
por entre os tinhorões e as sombras das ramadas.

Montanhas que parecem grandes ametistas
ou ondas gigantescas de um estranho oceano
espumantes e mais puro… e mais perto dos céus!

II
Diante destas montanhas, fiel, eu me prosterno,
sacerdote que sou da “Ordem da Natureza”,
deslumbrado e submisso ante tanta beleza
na humildade do efêmero aos pés do que é eterno.

Diante delas me sinto insignificante e pequeno
como o córrego humilde a sangrar nas encostas
e a minha alma, impregnada de poeira e veneno
leve e pura se ajoelha, a rezar, de mãos postas.

São meu altar de fé, de amor, de sonho e paz,
modelando no espaço órgãos e castiçais
nos seus gestos de pedra e nas altas arestas

e sobre elas, o céu azul, descomunal,
é a cúpula sem fim de imensa catedral
onde Deus pontifica em luz e canta em festas!

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge.”Canto à Friburgo”, 1961.

Deixe um comentário

Arquivado em Acre, Poesia

Paulo Vinheiro (Flóridas)


Avenca, folha mínima, pequenina, sutil
Girassol mancha o jardim de amarelo
Roseira rubra delicada espinha meus olhos
Pêssego macio brota lá no pomar

Que bom saber de coisas certas que acontecem
Daquelas que existem há tantos tempos
Em todas as eras que se repetem iguais
Folhas, flores e frutos que sabem seus lugares

As naturezas de cada uma das coisas se sabem
Aplicam as suas manifestações seus odores
Repetem suas cores e cada sabor em sabores
Ual! Quem lhes ensina e regula nesta rotina?

O bom de ser humano é que não há regras
Ou há, mas nossa rotina é a sua quebra, não?
Para mal certeiro ou para esperança do bem
Como para quem ignora ou para quem sabe

A poesia é sim a arte da interpretação do vão
Daquilo que está entre coisas e despercebido
Não basta escrevê-la se não há o decifrador
Não pode ser sempre ingênua e nem só realista

Entre avencas, folhas, rosas, vermelhos, pomar
Em jardins de amarelos, de eras, de homens
Na natureza das coisas humanas, das cores
No sabor da poesia que não pode ser sempre

Ufa! Disso o que sobra? O que tenho pra levar?

Fonte:
O autor

Deixe um comentário

Arquivado em Monteiro Lobato/SP, Poesia