Arquivo da categoria: Humorismo

Anônimo (O Amigo da Onça)

A literatura popular brasileira também tem seu riso próprio, suas boas histórias e seus personagens marcantes. É o caso do Amigo da Onça, que virou a marca registrada do desenhista de humor Péricles Maranhão na revista Cruzeiro dos anos de 1950. E acabou consagrando-se como uma expressão de uso corrente na nossa língua. Uma das melhores versões desta literatura de origem oral foi registrada por Lindolfo Gomes em 1931, em Contos Populares Brasileiros.

A Onça, que é bicho valente – mas nem sempre atilado, como se pensa -, estava quietinha no seu canto quando lhe apareceu o compadre Lobo e lhe foi dizendo:

– Saiba de uma coisa, comadre Onça: você – com perdão da palavra – não é, como supõe, o bicho mais valente e destemido que existe no mundo, nem também o Leão, com toda a sua prosa de rei dos animais.

– Como assim! – gritou a Onça, enfurecida. – Então, como é isso, grande pedaço de idiota? Haverá bicho mais valente e poderoso do que eu?

O Lobo, adoçando a voz, respondeu:

– Ó comadre, me perdoe. Estou arrependido de dizer tal coisa… Mas a minha intenção foi preveni-la contra um “bicho” terrível que apareceu nesta paragem. Uma pessoa prevenida vale por duas.

– Sim, não deixa você de ter alguma razão – acudiu a Onça mais acomodada. Mas sempre quero saber o nome desse bicho. Como se chama?

– Esse bicho, compadre, chama-se “homem”, conforme me disse o amigo papagaio. Nunca vi em minha vida animal de mais perigosa valentia. Ele sim, e ninguém mais, é o que me parece ser mesmo o verdadeiro rei dos animais. Basta dizer que, de longe, o vi matar, com dois espirros, nada menos do que um leão e uma hiena. Ih! Compadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. Deus nos livre!

– Oh! Compadre, não me diga!

– É como lhe conto. E o que mais admira é ser o “bicho-homem” de pequeno porte. Parece até fraco, e é muito mal servido de unhas e dentes. Deve ser um “bicho” misterioso e encantado.

– Pois bem, compadre, estou curiosa, e desejo que, sem demora, me conduza ao lugar onde se encontra tão estranho animal.

– Ah, compadre, peça-me tudo, menos isso. Pelos estragos que, de longe, vi o homem fazer, com seus malditos espirros, nunca me atreveria a tal aventura…

– Pois queira ou não queira, tem de mostrar-me o “bicho”, ou então, agora mesmo perderá a vida.

– lá por isso não seja – disse o Lobo amedrontado. – Iremos. Mas havemos de tomar todas as precauções. Eu – com a sua licença – posso correr mais do que a comadre.

Assim, levaremos uma embira daquelas que não arrebentam nunca. Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos…

– Fugir! Veja lá o que diz! Você já viu, “seu” podrela, alguma vez onça fugir?

– Não me expliquei bem. Eu é que fugirei. A comadre será apenas arrastada por mim. Isso não é fugir. Está certo?

– Está bem. Faremos como propõe.

E partiram. A Onça com a embira atada ao pescoço, e o Lobo, muito respeitoso e tímido, a puxá-la.

Quando chegaram ao destino, o “bicho-homem”, surpreendido ao avistá-los, tirou da cinta a garrucha e, atarantado, bateu fogo, isto é, espirrou. uma, duas vezes, que foi mesmo um estrondo de todos os diabos.

O Lobo então mais que depressa disparou numa corrida desabalada, redobrando quanto podia as forças para arrastar a Onça pela forte embira “que tinha atado no pescoço dela”.

De repente, já muito distante, o Lobo sentiu que a Onça estava mais pesada. Parou então e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento.

O Lobo, sem perceber que a Onça havia morrido enforcada no laço da embira – antes pensando que estivesse apenas cansada -. disse-lhe, tremendo como varas verdes:

– He lá, comadre! Não ri não que o negócio é sério!

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

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Stanislaw Ponte Preta (FEBEAPÁ – Festival de Besteira que Assola o País)

O cidadão Aírton Gomes de Araújo, natural de Brejo Santo, no Ceará, era preso pelo 23.º Batalhão de Caçadores, acusado de ter ofendido “um símbolo nacional”, só porque disse que o pescoço do Marechal Castelo Branco parecia pescoço de tartaruga e logo depois desagravava o dito símbolo, quando declarava que não era o pescoço de S. Exa. que parecia com o da tartaruga: o da tartaruga é que parecia com o de S. Exa.
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Cerca de 51 bandeiras dos países que mantêm relação com o Brasil foram colocadas no Aeroporto de Congonhas. O Secretário de Turismo de São Paulo — Deputado Orlando Zancaner — quando inaugurou a ala das bandeiras, disse que “era para incrementar o turismo externo”.
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Quando a Censura Federal proibiu em Brasília a encenação da peça Um Bonde Chamado Desejo, a atriz Maria Fernanda foi procurar o Deputado Ernani Sátiro para que o mesmo agisse em defesa da classe teatral. Lá pelas tantas, a atriz deu um grito de “viva a Democracia”. O senhor Ernani Sátiro na mesma hora retrucou: “Insulto eu não tolero”.
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O Diário Oficial publica “Disposições de Seguros Privados” e mete lá: “O Superintendente de Seguros Privados, no uso de suas atribuições, resolve (…), “Cláusula 2 — Outros riscos cobertos — O suicídio e tentativa de suicídio — voluntário ou involuntário”.
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Em Niterói o professor Carlos Roberto Borba iniciou ação de desquite contra a professora Eneida Borba, alegando que sua esposa não lhe dá a menor atenção e recebe mal seus carinhos quando é hora de programas de Roberto Carlos na televisão. A professora vai aprender que mais vale um Carlos Roberto ao vivo que um Roberto Carlos no vídeo.
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Colhemos num coleguinha do Jornal do Brasil:
“O General José Horácio da Cunha Garcia fez uma firme apologia da Revolução e manifestou-se contrariamente às teses de pacificação, bem como condenou o abrandamento da ação revolucionária. O conferencista foi aplaudido de pé”. O distraído Rosamundo leu e, na sua proverbial vaguidão, comentou: “Não seria mais distinto se aplaudissem com as mãos?”.
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Enquanto o Marechal Presidente declarava que em hipótese alguma permitiria fosse alterada a ordem democrática por estudantes totalitários, insuflados por comunistas notórios, quem passasse pela Cinelândia no dia 1.º de abril depararia com o prédio da assembléia Legislativa totalmente cercado por tropas da Polícia Militar. Na certa, a separação de poderes, prevista na Constituição, passará a ser feita com cordão de isolamento e muita cacetada.
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Notícia publicada pelo jornal O Povo, de Fortaleza (CE): “O Dr. Josias Correia Barbosa, advogado e professor, esteve à beira de um IPM (Inquérito Policial Militar) por haver passado um telegrama para sua sobrinha Loberi, em Salvador, comunicando-lhe que a bicicleta e as pitombas tinham seguido. Houve diligencias pelas vizinhanças, parentes foram procurados e outras providências tomadas. Passados dois dias, soube o Dr. Josias que o despacho telegráfico não fora transmitido porque um James Bond do DCT (Departamento de Correios e Telégrafos) estranhara os termos “bicicleta”, “pitombas” e “Loberi”, que “deviam ser de um código secreto”.
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A peça “Liberdade, Liberdade” estreou em Belo Horizonte e a Censura cortou apenas a palavra prostituta, substituindo-a pela expressão: “Mulher de vida fácil”, o que, na atual conjuntura, nos parece um tanto difícil. Ninguém mais tá levando vida fácil.
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Segundo Tia Zulmira “o policial é sempre suspeito” e — por isso mesmo — a Polícia de Mato Grosso não é nem mais nem menos brilhante do que as outras polícias. Tanto assim que um delegado de lá, terminou seu relatório sobre um crime político, com estas palavras: “A vítima foi encontrada às margens do riu sucuriu, retalhada em 4 pedaços, com os membros separados do tronco, dentro de um saco de aniagem, amarrado e atado a uma pesada pedra. Ao que tudo indica, parece afastada a hipótese de suicídio”.
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A mini-saia era lançada no Rio e execrada em Belo Horizonte, onde o Delegado de Costumes (inclusive costumes femininos), declarava aos jornais que prenderia o costureiro francês Pierre Cardin (bicharoca parisiense responsável pelo referido lançamento), caso aparecesse na capital mineira “para dar espetáculos obscenos, com seus vestidos decotados e saias curtas”. E acrescentava furioso: “A tradição de moral e pudor dos mineiros será preservada sempre”. Toda essa cocorocada iria influenciar um deputado estadual de lá — Lourival Pereira da Silva — que fez um discurso na Câmara sobre o tema “Ninguém levantará a saia da Mulher Mineira”.
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Em Brasília, depois de um dos maiores movimentos do Festival de Besteira, que bagunçou a Universidade local, o Reitor Laerte Ramos — figurinha que ama tanto uma marafa que cachaça no Distrito Federal passou a se chamar “Reitor” — nomeava um professor para a cadeira de Direito Penal. O ilustre lente nomeado começou com estas palavras a sua primeira aula: “A ciência do Direito é aquela que estuda o Direito”.
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A Igreja se pronunciou, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sobre recentes publicações pretensamente científicas, “que abordam problemas relacionados ao sexo com evidente abuso”. O documento não explicou se o abuso era do problema ou se o abuso era do sexo. Em compensação, nessa mesma conferência, Dom José Delgado, Arcebispo de Fortaleza, dava entrevista à Agência Meridional sobre pílulas anticoncepcionais, uma pílula formidável para fazer efeito no Festival de Besteira. Como se disse bobagem sobre o uso ou não da pílula, meus Deus!!! Dom Delgado, por exemplo, dizia: “A protelação do casamento é a única conclusão a que chego, atualmente, para a planificação da família e o controle da natalidade. E, depois disso, só existe um caminho seguro: o da continência na vida conjugal”. Como vêem, o piedoso sacerdote era um bocado radical e queria acabar com a alegria do pobre. Ainda mais, falando em sexo e em continência na vida conjugal, deixou muito cocoroca achando que, dali por diante, era preciso bater continência para o sexo também.
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Fontes:
Festival de Besteira que Assola o País. RJ: Editora do Autor, 1966.
2.º Festival de Besteira que Assola o País. RJ: Editora Sabiá, 1967.
FEBEAPA 3. RJ: Editora Sabiá, 1968.

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Trova XLVI

Trova sobre caricatura do CEI Municipal de São Carlos

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Trova XXXVII

Trova sobre charge de Márcio Diemer

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Trova XXXV

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3 de julho de 2009 · 23:38

Trova XXXIV

Trova sobre Caricatura de Maurízio de Reda

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Otto Melander (A Mulher e o Cachorro)

O alemão Melander (1571 – 1640) sabia latim tão bem quanto seus colegas italianos e franceses. Protestante, quando podia alfinetava frades e freiras. Ele inclui-se no grupo de humanistas do Renascença, Escrevendo num gênero típico da época, que constituía em coletâneas ao mesmo tempo instrutivas e recreativas, misturando anedotas e fatos curiosos. O conto em questão faz porte de Joco-Seria (Coisas Jocosas e Sérias) e inclui-se dentro da tradição boccaciana.
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Costumava certo fidalgo da Vestefália convidar para o almoço domingueiro o seu presbítero, homem moço, conversador e faceto, conduzido havia pouco ao leme da Igreja.

Um dia teve de viajar para o estrangeiro. Estando já a meia milha de seu castelo, disse ao escudeiro, de repente:

– Lembro-me agora de uma coisa de que faço muita questão que minha esposa seja advertida; para ela também é muito importante. Volta, pois, imediatamente, e adverte-a em meu nome, de modo grave e solene, que não dê ao presbítero, em minha ausência, nem almoço nem jantar; não o deixe entrar em casa durante todo o tempo em que eu não estiver lá; e, principalmente, não ponha os pés em casa dele, e se abstenha de qualquer conversa com ele.

O escudeiro prometeu a seu amo cumprir a ordem, e regressou ao castelo. Mas, apenas se afastara um pouco, pôs-se a meditar e a resmungar: – “Decerto o meu amo assustou-se com a idéia de que esse nosso presbítero novato, cheio de seiva como é natural em um moço, rapaz forte, formoso e lúbrico, se pusesse a assaltar o pudor da senhora.

Deve ser por isso que lhe proibiu toda espécie de familiaridade com ele. Mas eu, por Hércules, conheço os costumes dessas mulherezinhas. Elas praticam de preferência justamente as coisas de que têm ordem de se abster. Portanto, para que em nossa ausência ela não tenha ligações com o tal acólito, nada lhe direi, absolutamente, sobre a ordem do meu amo, mas inventarei algum outro recado por ele dado a mim.”

Mal entrara o escudeiro no castelo, já à senhora acudia, e, com lágrimas nos olhos, perguntou-lhe:

– Que significa a tua volta tão apressada? Será que os negócios de meu marido não andam bem?

– Andam, sim, muito bem – respondeu o criado, – Meu senhor mandou-me voltar para, em seu nome, advertir-vos de uma coisa. Quer e manda o meu nobre senhor que em sua ausência não vos ponhais a brincar com aquele nosso grande molosso, acostumado a rédeas, nem o monteis. Teme que aquele cachorro irritável e sempre disposto a morder venha a morder-vos, por acaso.

– Não entendo muito bem esta proibição – respondeu a mulher. – Por Hércules, nunca tive a idéia de acariciar o molosso, ainda menos de montá-lo. Digo mais: não há ninguém no mundo que me haja visto brincar com ele. Por tudo isso, esta recomendação era inteiramente supérflua.

Mas o escudeiro, antes de se ir, insistiu:

– Compreendestes, então, minha senhora, o recado de vosso marido? Ponde, pois, todo o empenho em lhe obedecer.

– Volta a meu marido – respondeu a mulher -, transmite-lhe os meus votos de felicidade, e dize-lhe que fique tranqüilo, não se preocupe comigo, pois farei todo o possível para lhe provar, pelo meu procedimento, quanto lhe estou submissa neste ponto, como em outro qualquer.

Mal o escudeiro tinha virado as costas, eis que a mulher começa a matutar: – “Não posso imaginar por que razão meu marido me proíbe de acariciar o molosso ou montar nele. Deve haver aí algum motivo oculto. Não me lembro, por Castor, de o ter o feito ou mesmo tentado. Bem, de qualquer maneira está certo: morra eu se tocar o cão com um dedo sequer!”

Depois de tais reflexões, vai buscar alguns pedaços de pão e joga-os ao cachorro. Verificando que este os devora avidamente e vem lisonjeá-la depois, traz mais pão e repasta o animal até saciá-lo. Acaba acariciando-o, sem dúvida para experimentar se é tão irritável como pretende o marido. Vendo que o animal suporta bem o tratamento, exclama:

– Vejam só como é tratável o nosso molosso!

Nisto, senta-se no cão, apertando-lhe um tanto as costas com as nádegas. O cachorro se enfurece, arreganha os dentes e crava-os no braço da mulher.

Ensangüentada, agoniada pela dor, ela vê-se forçada a chamar um médico para tratar-lhe da ferida.

Passam-se os dias. Retorna o fidalgo, e encontra a esposa de cama, com ar abatido, muito pálida.

– Que desgraça te aconteceu, minha luz? – pergunta-lhe, alarmado.

– Tudo isto é por tua causa – respondeu ela. – Se não me houvesses recomendado, pelo escudeiro, que não brincasse com o molosso, nunca me haveria atrevido a tocá-lo.

O fidalgo, surpreendido, procura justificar-se por todos os meios e jura por Júpiter não ter mandado dizer pelo escudeiro nada de semelhante; depois, chama-o:

– Então, patife, eu mandei dizer a minha mulher que não acariciasse o molosso?

– Nada disso – responde o criado. – Mandastes-me proibi-la de introduzir o presbítero em vossa casa enquanto estivésseis ausente. Eu, porém, inventei outro recado, por saber do costume que têm as mulheres de fazer precisamente o que se lhes proíbe. Se de fato eu lhe tivesse vedado todo e qualquer contato com o padrezinho, sem nenhuma dúvida ela o haveria introduzido em casa, e agora, em vez de terdes uma esposa honesta, teríeis o vosso lar transformado em hediondo prostíbulo. Foi isso que eu quis evitar, convencido de que a mulher procura sempre o que se lhe proíbe; e podeis ver a prova manifesta disso no fato de ela ter acariciado o cachorro e tê-lo montado, embora eu lho houvesse vedado com a maior insistência.

O fidalgo não deixou de aprovar a atitude do prudente criado, a quem daí em diante teve em melhor conceito, e encerrou o incidente com as palavras:

– Prefiro ver minha mulher mordida pelo cachorro a sabê-la desonrada pelo acólito.

Fontes:
COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.
Imagem = Revista Virtual de Variedades

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Antonio Brás Constante (Contos da Delegacia Brasil)

– Alô? Aqui é da Delegacia Brasil, policial Farrapos falando.

– Socorro! Ladrões estão tentando arrombar a minha casa.

– Nossa que horror. Acabei de atender outro cidadão que tinha o mesmo problema da senhora. Que mundo violento…

– Olha, preciso de uma viatura aqui e agora!

– Infelizmente não posso lhe ajudar. É que a única viatura que temos está estragada. E mesmo que funcionasse, faz tempo que o tanque dela está vazio. Mas o pior é que como não temos garagem aqui, a viatura tem que ficar na rua. A senhora acredita que outro dia roubaram as rodas dela? Hoje em dia não respeitam nem a policia…

– O senhor tem que me ajudar! Mande os policiais de táxi então. Eu pago.

– Mandaria, se houvesse outros policiais, mas com os cortes públicos na área de segurança, eu sou o único policial de plantão aqui hoje aqui. E se abandonar meu posto, quem vai atender as ocorrências?

– Mas, o que eu faço então?

– A senhora já tentou acender a luz e fazer barulho? Muitos meliantes fogem quando percebem que tem pessoas em casa. Ou tente negociar com eles, quem sabe se a senhora der alguma colaboração, eles não desistem do assalto?

– O senhor é um louco?! Vou negociar com eles sim. E dizer para irem até aí, assaltar o senhor e levarem a sua arma, Que pelo visto não serve para nada mesmo.

– A única arma que eu tinha, doei para a campanha do desarmamento, pois estava enferrujada e sem munição. Com esta atitude espero estar fazendo a minha parte para um mundo menos violento. Se lhe serve de consolo, alguns meliantes já vieram aqui e levaram tudo que tinha na delegacia. Só sobrou um banquinho que trouxe de casa, e este telefone velho, que de tão velho foi deixado para trás.

– Ao menos então anote a ocorrência, para que eu possa acionar o seguro depois.

– Como lhe disse antes, aqui não tem nada além do banquinho e do telefone. Não tenho caneta, minha senhora. E o único papel que eu tinha, tive que utilizar em uma emergência estomacal, lá no banheiro.

– Meu Deus! Eles entraram! Alô? Alô? Policial?

– [Esta é uma gravação, o telefone para o qual ligou, acaba de ser cortado por falta de pagamento. ‘CLICK’]

Fonte:
Recanto das Letras

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Luis Fernando Veríssimo (Metamorfose)

Quando Gregório Souza acordou certa manhã de uma noite mal dormida cheia de sonhos perturbadores, olhou seus pés que emergiam da outra extremidade da coberta curta e viu que tinha se transformado em Franz Kafka. Na verdade, levou algum tempo para descobrir quem era. Começou certificando-se que aqueles pés, decididamente, não eram os dele. Examinou-os com interesse e deduziu que eram pés da Europa Central, possivelmente checos. Mas só quando sua mãe entrou no quarto e ele respondeu ao seu “bom-dia!” em checo, espantando-se tanto quanto a ela, deu-se conta de quem era.

Não sabia explicar como acontecera aquilo. Não só ele era Kafka como toda a situação era puro Kafka. Sua mãe gritando, perguntando quem ele era e o que estava fazendo na cama do seu filho – pelo menos ele imaginava que era isto que ela dizia, pois não conseguia entendê-la – e ele, apalpando-se, ao mesmo tempo assustado e maravilhado, eu Franz Kafka!

Levantou-se da cama e foi se olhar no espelho, enquanto sua mãe corria do quarto para chamar seu pai, que chamou a polícia, que veio e cercou o prédio errado, causando uma enorme confusão no trânsito e ferimentos a bala em três pessoas, e viu que era mesmo Franz Kafka, com as olheiras e tudo. Foi preso. Tentou inutilmente se comunicar com os policiais mas nenhum falava checo ou alemão. Tentaram levá-lo para a delegacia no carro da polícia, mas nada se mexia no trânsito engarrafado e um camelô meteu a cabeça para dentro do carro e ofereceu “Saquinho de limão, doutor? Limpador de pára-brisa? Assistência legal?”, que Kafka aceitou, tanto que quando os policiais decidiram bater nele ali mesmo e jogá-lo na calçada foi seu advogado que o levou a um hospital, onde ele esperou uma hora na fila de um guichê só para dizer se era conveniado ou se era pelo SUS.

Em seguida, foram à repartição competente para regularizar sua situação como estrangeiro no país e quando Kafka indicou, com gestos, que não tinha dinheiro para pagar seus serviços, já que a carteira de Gregório Souza estava vazia, o advogado sorriu, levantou a palma da mão e disse “Xacomigo”.

Com a situação de Kafka regularizada por meio de uma propina e um documento de identidade provisório para seu cliente comprado de outro camelô, o advogado daria entrada com um pedido de pensão da Previdência Social, pois o fato de ter-se transformado em checo da noite para o dia o abalara psiquicamente, e os dois ganhariam uma fortuna, ainda mais que o advogado tinha um cúmplice na previdência que acrescentava zeros às guias de pagamento, quanto zeros se quisesse. A todas estas Kafka tomava notas, maravilhado.

Em casa, Kafka conseguiu acalmar os pais de Gregório e, com paciência, recorrendo a algumas palavras em inglês que sabia, explicou o que tinha acontecido. Para sua sorte – e para a sua surpresa, pois antes de morrer dera ordens para que toda sua obra fosse queimada – havia um livro de Kafka numa prateleira do quarto de Gregório, com sua fotografia na capa, e os pais acabaram compreendendo que aquilo tudo era um tipo de acontecimento literário, talvez uma parábola, e que Gregório não corria perigo, salvo o de perder seu emprego na companhia de seguros.

Adotaram o filho substituto. E com sua situação doméstica resolvida, o português que aprendeu ouvindo as novelas e lendo as traduções dos seus próprios livros e o dinheiro que o advogado conseguiu da Previdência – R$ 500 milhões – Kafka se sentiu em condições de recomeçar a carreira literária interrompida com sua morte. Comprou um computador e preparou-se para escrever o seu primeiro livro brasileiro, apenas duvidando que estivesse à altura da tarefa.

Fontes:
COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.
Imagem = Olga Kapatti

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Victor Giudice (O Arquivo)

Já no seu livro de estréia, O Necrológio (1971), o carioca Victor Giudice nos revelava esta pequena obra-prima que é O Arquivo, na qual o imaginário do autor consegue fundir tão bem o fantástico com o humor, como um bom discípulo de Kafka, Dino Buzzati ou Cortázar. Giudice escreveu outros livros de contos, além do romance Bolero. Foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Morreu antes de consolidar sua obra.
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No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

João era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora, João acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

João preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

– Seu João. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

João baixou a cabeça em sinal de modéstia.

– Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

– Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

– De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, João gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, João não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.

A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

– Seu João. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

– Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

– Mas seu João, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

João afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

Fonte:

COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

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Petrus Alphonsus (Humor do Século XII)

Petrus Alphonsus é um erudito judeu (nascido em 1062) que – após abraçar a fé cristã (em 1106) -, para ajudar a formação do clero (e, certamente, também como repertório de exemplos para a pregação), compôs a Disciplina Clericalis, uma obra voltada para a educação moral.

Em seu Prólogo, o autor declara que optou por recolher provérbios e fábulas (em boa parte provenientes da tradição oriental árabe), por pretender tornar os ensinamentos amenos, divertidos e mais acessíveis à memória. Por isso, “compus este livrinho, tomando-o… em parte, dos exemplos morais dos árabes, com fábulas, versos e comparações com animais e aves“.

Assim, Alphonsus, apresenta também algumas anedotas como os casos do servo Maimundus nigrus, o sagaz preto Maimundo (o nome Maimundo, de nítida ressonância semítica, acentua, em latim, o preconceito, por sugerir immundus), guloso, falador e preguiçoso que nunca se dá mal, uma espécie de Macunaíma ou Pedro Malazartes da época.

As Piadas do Preto Maimundo

O senhor de Maimundo ordenou-lhe, certa noite, que fosse fechar a porta. Maimundo – que, oprimido pela preguiça, nem podia se levantar – respondeu que a porta já estava fechada.

Ao alvorecer, disse-lhe o senhor: “Maimundo, vai abrir a porta“.

Maimundo: “Como eu sabia que o senhor havia de querê-la aberta hoje, nem cheguei a fechá-la ontem“.

O senhor, percebendo que, por preguiça, não a tinha fechado, disse-lhe: “Levanta-te e faz o que tens de fazer, pois é dia e o sol já está a pino“.

Maimundo: “Se o sol já está a pino, então dá-me de comer“.

Senhor: “Servo mau, nem amanheceu e já queres comer?”

Maimundo: “Bom, se não amanheceu, então deixa-me continuar dormindo“.

***

Em outra noite, disse o senhor a seu servo: “Maimundo, levanta e vai ver se está chovendo!”. Maimundo, porém, chamou o cachorro que estava deitado fora da porta e, quando ele chegou, apalpou-lhe as patas. Vendo que estavam secas, disse: “Não, senhor, não está chovendo!”.

***

Noutra ocasião, também de noite, o senhor perguntou a Maimundo se tinham lume na casa. O servo chamou o gato e apalpou-o para ver se estava quente ou não. Como o gato estivesse frio, respondeu: “Não, senhor, não temos fogo!”

***

Contam que o senhor voltava do mercado, todo contente pelo bom lucro que tinha auferido. E veio Maimundo a seu encontro. O senhor, ao vê-lo, temeu que viesse dar más notícias, como era de costume, e advertiu-o:

Olha lá, Maimundo, não me venhas com más notícias!”

“Não contarei más notícias, senhor, mas nossa cadelinha Bispella morreu”.

“Como foi que ela morreu?”.

“Nossa mula, assustada, quebrou o cabresto e, ao fugir, esmagou-a sob suas patas”.

“E o que aconteceu com a mula?”

“Caiu no poço e morreu”.

“E como foi que ela se assustou?”.

“É que teu filho caiu do terraço e morreu. Com a queda, a mula assustou-se”.

“E sua mãe, como está?”.

“Morreu de dor pela perda do filho”.

“E quem está tomando conta da casa?”.

“Ninguém, porque virou cinzas: a casa e tudo o que nela havia”.

“Como começou o incêndio?”

“Na mesma noite em que a senhora morreu, a criada, no velório pela senhora defunta, esqueceu uma vela acesa na câmara e começou o incêndio, que se espalhou pela casa toda”.

“E onde está a criada?”.

“Ela quis apagar o fogo, mas caiu-lhe uma viga na cabeça e ela morreu”.

“E tu, como conseguiste escapar, sendo tão preguiçoso?”

“Quando vi a moça morta, fugi”

***

A Piada do Pastor e do Mercador

Um pastor sonhou que tinha mil ovelhas. Um mercador quis comprá-las para revendê-las com lucro e queria pagar duas moedas de ouro por cabeça. Mas o pastor queria duas moedas de ouro e uma de prata por cabeça. Enquanto discutiam o preço, o sonho foi-se desvanecendo. E o vendedor, dando-se conta de que tudo não passava de um sonho, mantendo os olhos ainda fechados, gritou: “Uma moeda de ouro por cabeça e você as leva todas…”.
––––––––––––
Nota:
Do Disciplina Clericalis, foi apresentado a tradução de algumas piadas dos capítulos 28 e 31: Exemplum de Maimundo Servo e Exemplum de Opilione et Mangone (do cap. XXXI). Para a tradução, valeu-se do original latino, apresentado por Angel González Palencia, Madrid-Granada, CSIC, 1948.
––––––––––-
Fontes:
– LAUAND, L. J. (org.) Oriente & Ocidente VII- Idade Média: Cultura Popular, São Paulo, DLO-FFLCHUSP / Edix, 1995.
– Imagem = Castelos Medievais

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Caco Xavier (Quadrinho Quadrado 2)

Fonte:

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Colar de Pérolas Culturais

Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

O nervo ótico transmite idéias luminosas ao cérebro.

O vento é uma imensa quantidade de ar.

O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.

Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

O problema fundamental do terceiro mundo e a superabundância de necessidades.

O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d’água.

A principal função da raiz é se enterrar.

O sol nos dá luz, calor e turistas.

As aves têm na boca um dente chamado bico.

A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrario.

Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

A harpa é uma asa que toca.

A febre amarela foi trazida da China por Marco Pólo.

Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.

O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.

A insônia consiste em dormir ao contrário.

A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais.

A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.

O Chile é um país muito alto e magro.

As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia.

O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.

Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque os que não estavam de acordo se envenenavam.

A prosopopéia é o começo de uma epopéia.

Os crustáceos fora d’água respiram como podem.

As plantas se distinguem dos animais por só respirarem à noite.

Os hermafroditas humanos nascem unidos pelo corpo.

As glândulas salivares só trabalham quando a gente tem vontade de cuspir.

A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia.

O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fabricas desconhecidas.

A Previdência Social assegura o direito a enfermidade coletiva.

O Ateísmo é uma religião anônima.

A respiração anaeróbia é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos.

O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

Fonte:
“Jornal do Brasil”. Rio de Janeiro: 21/10/84

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Leon Eliachar ( 1922 – 1987)

Leon Eliachar nasceu na cidade do Cairo, no Egito, no dia 12 de outubro de 1922. Veio muito pequeno para o Brasil e se tornou um dos melhores jornalistas de humor da imprensa falada e escrita, após ter atingido a idade
da razão — ou do disparate, como costumava dizer. Era tão brasileiro como qualquer brasileiro, embora conste que nunca tenha se naturalizado.

Jornalista desde os 19 anos de idade, trabalhou em diversos jornais e revistas, fixando-se, por último, na “Ultima Hora”, onde, seguindo o exemplo de Aporelly (o Barão de Itararé) nos tempos de “A Manhã” com “A Manha”, mantinha uma página, às vezes reduzida a meia, com o título de “Penúltima Hora”. Justificava o nome da página com a legenda “Um jornal feito na véspera”.

Colaborador (arrependido, segundo o autor) dos argumentos de dois filmes carnavalescos, foi autor de programas de rádio e secretário da revista “Manchete”.
Em 1956 foi laureado com o primeiro prêmio (“Palma de Ouro) na IX Exposição Internacional de Humorismo realizada na Europa — Bordighera, Itália, por sua definição de humor acima citada, e uma historieta, “O Judeu” (leia em “Contos”, no Releituras), sobre o qual afirmou ter podido escrever sem parecer anti-semita, pois ele próprio era judeu.

Há pouquíssimo material sobre o biografado. A maior parte são artigos escritos por ele e por amigos, todos muito bem humorados, cheios de nonsense, o que bem demonstra o espírito do biografado.

Leon Eliachar foi assassinado na cidade do Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1987. Segundo o noticiário da época, a mando de um rico fazendeiro paranaense com cuja esposa o autor vinha mantendo um romance.

POR ALTO, BIOGRAFIA

Nasci no Cairo, fui criado no Rio; sou, portanto, “cairoca”. Tenho cabelos castanhos, cada vez menos castanhos e menos cabelos. Um metro e 71 de altura, 64 de peso, 84 de tórax (respirando, 91), 70 de cintura e 6,5 de barriga.

Em 1492, Colombo descobriu a América; em 1922, a América me descobriu. Sou brasileiro desde que cheguei (aos 10 meses de idade), mas oficialmente, há uns dois anos; passei 35 anos tratando da naturalização. Minha carreira de criança começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a cabeça diariamente). Tive vários empregos: ajudante de balcão, ajudante de escritório, ajudante de diretor de cinema, ajudante de diretor de revista, ajudante de diretor de jornal. Um dia resolvi ajudar a mim mesmo sem a humilhação de ingressar na Política: comecei a fazer gracinhas — fora da Câmara. Nunca me dei melhor. Meu maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um apartamento duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma conta no banco, uma praia particular e um “short”. Por enquanto já tenho o “short”.

Sou a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento. Sem ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros. Sou contra o jogo, o roubo, a corrupção e o golpe; se eu fosse candidato isso não deixaria de ser um grande golpe.
O que mais adoro: escrever cartas. O que mais detesto: pô-las no Correio. Minha cor preferida é a morena, algumas vezes a loura. Meu prato predileto é o prato fundo. O que mais aprecio nos homens: suas mulheres – e nas mulheres, as próprias. Acho a pena de morte uma pena.

Não sou supersticioso, mas por via das dúvidas, evito o “s” depois do “r” nessa palavra. Se não fosse o que sou, gostaria de ser humorista. Trabalho 20 horas por dia, mas, felizmente, só uma vez por semana; nos outros dias, passo o tempo recusando propostas — inclusive de casamento. Acho que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que ela gostasse — isso se a gente gostasse dela. Para a mulher, o homem ideal é o que quer casar. Mas deixa de ser ideal logo depois do casamento, quando o ideal seria que não deixasse. Mas isso não impede que eu seja, algum dia, um homem ideal.

Leon Eliachar, no livro “O Homem ao Quadrado”, Livraria Francisco Alves/Editora Paulo de Azevedo Ltda., Rio de Janeiro, 1960 (orelhas da capa e contracapa.)

AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ

Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas pesadas, consegui atingir o chamado “preço teto” da imprensa brasileira, quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não pelo atestado de bons antecedentes, mas pelas dificuldades com que se tira um atestado, já fiz de tudo nessa vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho, crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de teatro, show de boate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo, ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira, acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando minha mulher disse “sim” e a segunda quando seus pais disseram “não”, sou a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve – quando estou em Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista – pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo às vezes quando desligo, num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci num concurso internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o segundo prêmios entre os participantes de 16 nações concorrentes, fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o leitor está mais fraco.

LEON ELIACHAR, em “O Homem ao Zero”. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1968.

RETRATOS 3 x 4 DE AMIGOS 6 x 9

Por mais que procure ser excêntrico, Leon é concêntrico. Pois em matéria de conclusões consigo próprio ele confia apenas em consigo mesmo. Carioca cairoca (nasceu no Cairo, capital de Tel-aviv), tem uma idade indefinível, entre os 25 e os 250 anos. Uns dizem que ele nasceu depois da Segunda Guerra Mundial, outros afirmam que foi no momento em que ele nasceu que a briga começou. Promotor nato, veio ao mundo por uma gentileza especial do Todo-poderoso e só pretende sair com a Bomba, isto é, numa queima geral de todo o estoque. Dizem que ele não só sugeriu ao Criador a idéia dos dois sexos (a idéia do terceiro sexo foi do Sérgio Porto) como insistiu ainda para que o sexo masculino fosse feito em gás néon, coisa que o Senhor achou de um exibicionismo excessivo (Que pena!).

Aos três anos de idade Leon queria ser Presidente da República. De lá pra cá sua ambição não parou. Jogador de pôquer, para combater o típico pocker-face, ele inventou a própria cara, tão enigmática que ficou conhecida como Leonfauce. A verdade é que nele a natureza colocou o primeiro olho com zoom. Aliás, muitos consideram sua cara a sua maior piada; mas parece que a piada saiu sem querer numa noite em que papai e mamãe Eliachar estavam de bom humor. É o único escritor brasileiro que conseguiu ter um livro anunciado no Maracanã, junto com a irradiação da renda. Com isso a renda do livro ultrapassou a do estádio. Sua famosa campanha “Ponha um Leon na sua estante” deixou o tigre da Esso com a pulga entre as pernas e o Leon da Metro com o rabo atrás da orelha. Este ano Leon fez um programa pro Chico Anísio que acabou fazendo parte do programa. Ator de cinema, teatro e televisão, acredita que a água do mar é salgada e só não vende mais que a água potável por falta de promoção. Acha que todo mundo deve se promover até atingir a própria importância. Aliás, gosta tanto de gente importante que só lê Enciclopédia, porque ali gentinha não entra. Organizadíssimo, fez até seguro contra milicianos transviados e, seguríssimo, só vai a médico quando este está realmente em estado grave. Sua conversa ao telefone é tão interessante, que determinadas autoridades já gravaram várias. É o primeiro a rir das próprias piadas; antes que algum infeliz o faça. Os inimigos o consideram o maior humorista do Oriente Médio, mas a verdade é que sem o seu humorismo nenhum gabinete dentário pode se considerar completo. Os admiradores acham que, quando ele morrer, deixará uma lacuna impreenchível. Conhecendo Leon como conheço, garanto que não vai deixar lacuna alguma — leva a lacuna com ele.

Millôr Fernandes, que tem, dentre outras qualidades, a de ser o melhor profissional de humor brasileiro, escreveu uma série de artigos denominados “Retratos 3×4 de alguns amigos 6×9”. Publicado originalmente na Revista Veja, em 1969, o texto acima foi extraído de seu livro “Trinta anos de mim mesmo”, Editora Nórdica – Rio de Janeiro, 1972, pág.181.

APRESENTAÇÃO

Leon Eliachar de Aljubarrota nasceu na quinta do Alverde, casa 5, lado esquerdo. Cresceu em meio às benesses da primavera. Aos 14 anos de idade, sofreu um acidente de velocipídico, machucando o dedão do pé esquerdo. Mais tarde, escreveria uma ode a esse respeito.

Leon Eliachar de Aljubarrota custou muito a encontrar a rota. Mas acabou encontrando, isto aos quarenta e sete anos (mais ou menos), no quilômetro 46 da estrada Rio—São Paulo. Encontrou e não devolveu. Sendo assim, publicou os seguintes livros: O Homem ao Quadrado (1927), O Homem ao Cubo (416 a.C.), Por que me ufano do meu país (1870, com a colaboração do Conde de Afonso Celso), O Homem ao Zero (1939, infelizmente destruído pelas hordas paraguaias que nessa data fatídica invadiram o Uruguai); Quarup, by Antônio Callado; Os Sertões, de Euclides da Cunha; Listas Telefônicas Brasileiras, de vários autores e assinantes; Brás, Bexiga e Barra Funda, de Vinícius de Moraes; A Nova Constituição Brasileira, 1964, autor desconhecido; Leon Eliachar par lui même, by Leon Eliachar; Os Olhos Dourados de Ódio, edição conjunta (digo bilíngüe) com Rubem Braga; O Homem Nu, variação de O Homem ao Cubo; e assim por diante. Maiores detalhes, biblioteca do Museu da Imagem e do Som, Rua Bartolomeu Mitre, 16, sobreloja.

José Carlos Oliveira fez esta apresentação (um exemplo de nonsense) do biografado no livro “10 em Humor”, Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1968, pág. 24.

NECROLÓGICO

O meu quem faz sou eu, que não sou bobo. Detesto a pressa dos jornalistas que querem fechar a página do jornal de qualquer maneira e acabam enchendo o espaço com os lugares-comuns do sentimentalismo. Nada de “coitadinho era um bom rapaz” nem que “era tão moço”, porque há muito deixei de ser um bom rapaz e nem sou tão moço assim. Quero que o meu necrológio seja sincero, porque de nada me valerá a vaidade depois de eu morrer – a não ser a vaidade de estar morto. Fui mau filho, mas isso não quer dizer que meus pais fossem melhores filhos que eu se fosse eu o pai. Não fui mau marido e acredito que seja porque não tivesse chance de ser, vontade não me faltou. Nunca roubei, nunca menti: esses os meus piores defeitos. Minha grande qualidade era ter todos os outros defeitos. Fui egoísta toda vida, como todo mundo, mas nunca revelei nada a ninguém, como todo mundo. Passei a vida tentando fazer os outros rirem de si mesmos: é possível que agora riam de mim. Fui valente e fui covarde, só tive medo de mim mesmo o que prova a minha valentia. Nunca amei ao próximo como a mim mesmo, em compensação nunca ninguém me amou como eu mesmo. Tive milhões de complexos e venci-os todos, um por um, com exceção do complexo de morrer: esse morre comigo. Nunca dei nem tomei nada de ninguém, mas faço questão de deixar tudo o que não tenho para os que têm menos do que eu. Nunca cobicei a mulher do próximo: só a do afastado. Jamais entendi perfeitamente o que era o “bem” e o “mal”, embora a maioria das pessoas me achasse um homem de bem e este era o mal. Defendi a minha vida como pude, mas nunca arrisquei a vida para defendê-la. Nunca me preocupei com dinheiro, pois sempre tive pouco. Acreditei mais nos inimigos do que nos amigos, porque os amigos nem sempre se preocupam com a gente. Jamais tive um segredo, passei todos adiante Conquistei muitas mulheres, algumas com os olhos, outras com os lábios e outras com o braço. Tive pavor dos médicos, porque eles sempre descobrem as doenças que a gente nem sabia que tinha há tanto tempo. Me orgulho de ter vivido oitenta anos em apenas quarenta: finalmente me livrei dessa maldita insônia.
Leon Eliachar em “O Homem ao Cubo”, José Álvaro Editor – Rio de Janeiro, 1964, (orelhas da capa e da contracapa.)

No dia 21/06/2007, Leon Eliachar foi homenageado pela Casa de Rui Barbosa, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde estão os arquivos do humorista. Participaram do evento o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e o cartunista Jaguar, amigos de Leon, e Sérgio Eliachar, filho do escritor.

BIBLIOGRAFIA:
– O Homem ao Quadrado (1960) – capa e desenhos de Cyro del Nero.
– O Homem ao Cubo (1963) – capa e paginação de Fortuna.
– A Mulher em Flagrante (1965) – capa executada por Juarez Machado; desenhos e paginação de Fortuna.
– O Homem ao Zero (1967) – capa de Gian.
– 10 em Humor (1968) – em conjunto com Millôr Fernandes, Stanislaw P. Preta, Fortuna, Ziraldo, Jaguar, Claudius, Zélio, Henfil e Vagn.

Fonte:
http://www.releituras.com/leoneliachar_bio.asp

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Leon Eliachar (O Homem ao Quadrado)

Definição de Humorismo:

– Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico de se fazer.

Dicionário de bolso:

– ADIAR – é essa atitude que estamos sempre tomando daqui a pouco.

– BUZINA – é esse ruído que irrita o motorista da frente quando o de trás já está irritado.

– CABOTINO – é esse sujeito que consegue transformar qualquer assunto numa auto-biografia.

– TÉCNICO – sujeito que se especializa em não entender nada de apenas uma matéria.

– ZAROLHO – sujeito que tira uma pequena para dançar e saem as duas.

– Datilógrapha conservadora é a que não se conphorma com a ortographia moderna.

– Dalitófraga estrábica é a que passa o dia inreito trocadno as lestra e as síbalas.

– Datilgfa pregç n/ precis nem compl as plavras.

– Datilógrafa de kolunixta çossial tem de comtar mezmu é com a revizãu.

Cartas:
— Sou branca, meu marido é branco e tivemos um filho preto. Como o senhor explica isso?
(Jandira – Ceará)

— Lamento muito, mas quem tem de se explicar é a senhora. Vocês que são brancos que se entendam.

Acidente:
Leocádia era dessas que tinha verdadeira alucinação por “lingerie”. Pra ela, o mais importante na linha da elegância era a roupa de baixo. Todos os dias, chegava em casa, abria os embrulhos na frente do marido, exibia calcinhas com bordadinhos e rendinhas de todas as cores e de todas as qualidades de tecidos. O marido não entendia:

— De que adianta tudo isso, se ninguém vê?

Ela sorria orgulhosa:

— É o que você pensa. Pode dar um ventinho na rua, sabe lá?

Um dia ele estava no escritório, quando o chamaram ao telefone. Era do Hospital dos Acidentados, pra lhe comunicar que a sua mulher havia sofrido um desastre. Correu pra lá e assim que fez a descrição da mulher, um enfermeiro disse pro outro:

— Ei, você aí. Leve este senhor naquele quarto. Está procurando aquela senhora sem calça.

Teve um troço, foi medicado ali mesmo. Duas semanas depois de Leocádia ter alta, ele continuou no Hospital, em convalescença.

Fonte:
O Homem ao Quadrado
http://www.releituras.com/leoneliachar_homem.asp

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Leon Eliachar (Conheça-se a si mesmo)

VOCÊ É NERVOSO?

1 – Você buzina uma fração de segundo após abrir o sinal, porque acha que o carro da frente não quer andar?

2 – Você acha que o sujeito de trás é um imbecil, quando se dá o inverso: isto é, quando você está na frente e ele buzina atrás?

3 – Você tem vontade de sair do carro e massacrar o motorista de cada táxi que lhe dá uma “fechada”?

4 – Você acha realmente que todo pedestre que atravessa na frente de seu carro é um idiota?

5 – Você tem vontade de abandonar o carro pro resto da vida, quando fura um pneu no meio da estrada?

CONCLUSÃO: Se respondeu “sim” a todas as perguntas, você não é, absolutamente, um nervoso, mas simplesmente um motorista. Se respondeu “não” a qualquer das perguntas, siga este conselho: por que não compra um carro?

VOCÊ É MEDROSO?

1 – Quando alguém fica batendo com o pé na sua poltrona, num cinema você evita reclamar por que aí mesmo é que o sujeito pode insistir?

2 – Quando o elevador enguiça entre dois andares e a campainha de emergência não funciona, você grita por socorro ou senta calmamente e espera que o porteiro descubra que o elevador enguiçou?

3 – Quando o dono da casa abre a porta pra você entrar, você vai logo perguntando se tem cachorro?

4 – Quando você está acompanhado de uma moça, evita passar no meio de um grupo de rapazes, com receio que dêem piadinhas para ela e você tenha de tomar uma atitude?

5 – Quando você vai à praia e vê, no posto, uma bandeirinha vermelha, deixa de cair n’água?

CONCLUSÃO: Se você respondeu “sim” a todas estas perguntas, desculpe, mas é muito chato. Se respondeu “não” é mais chato ainda, parque demonstrou que não teve nem coragem pra responder “sim”.

VOCÊ TEM COMPLEXO DE INFERIORIDADE?

1 – Quando você vê na praia um atleta, pensa intimamente que, amanhã vai começar a fazer ginástica?

2 – Quando sua calça rasga-se na rua, fica constrangido por que podem pensar que você já saiu com ela assim de casa?

3 – Quando você vê uma mulher muito bonita, pensa logo na sua – que não é tanto – mas fica satisfeito mesmo com a que tem, por que acha que não pode ter melhor?

4 – Quando você se olha no espelho, de manhã, procura se justificar de que a que vale mesmo é a simpatia?

5 – Se você é casado, deixa de confessar isso, num grupo de solteiros, com vergonha que pensem que você é otário, ou se é solteiro, também esconde, com receio que pensem que você não conseguiu casar?

CONCLUSÃO: Se você respondeu “não” a todas estas perguntas, não se preocupe, você não tem complexo de inferioridade; se respondeu “sim”, pode começar a se preocupar, porque se você não tinha complexos vai começar a ter, agora.

VOCÊ TEM BOA MEMÓRIA?

1 – Você se lembra em que dia da semana conheceu sua mulher?

2 – Você se lembra do número do telefone da sua primeira namorada?

3 – Você se lembra do número de páginas que tinha o primeiro livro que você leu?

4 – Você se lembra com quantos dias de atraso recebeu o seu primeiro ordenado?

5 – Você se lembra de que cor era o vestido de sua tia mais velha, no dia em que você caiu da bicicleta pela primeira vez?

CONCLUSÃO: Respondeu-se “sim” a todas as perguntas, esteja certo: você é um fenômeno. Mas se você argumentar que não pôde responder por que nunca leu um livro, sempre recebeu em dia e nunca levou tombo de bicicleta, então esteja mais certo ainda: Você é um fenômeno muito maior.

VOCÊ É DISTRAÍDO?

1 – Você costuma reparar quando sua mulher, noiva ou namorada põe um vestido novo?

3 – Você costuma se lembrar, exatamente, em que pedaço do filme chegou ou tem que ver mais um pedacinho?

5 – Você costuma, todo ano, cair no dia primeira de abril?

2 – Você tem o hábito de atravessar a rua sem olhar para os dois lados?

4 – Você costuma conversar com uma pessoa durante horas, sem prestar atenção, tentando descobrir de onde é mesmo que você a conhece?

CONCLUSÃO: Se você respondeu “sim” ou “não” a qualquer destas perguntas, isso não tem a menor importância; mas se você não reparou que a numeração deste último teste está completamente alterada, então, meu caro, você não é um distraído, é mais que isso: é um ceguinho. E daí, vai bater?

Fonte:
Conheça-se a Si Mesmo
http://www.releituras.com/leoneliachar_conheca.asp

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5 de fevereiro de 2008 · 12:46

Camões

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Pessoas em Fernando Pessoa

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27 de janeiro de 2008 · 11:46