Arquivo da categoria: Espírito Santo

Aparecido Raimundo de Souza (Galho Torto)

O motorista estancou, obedecendo a ordem.

Entretanto, ninguém deu as caras com a intenção de ficar naquele lugar. Todos olharam para os lados, outros resmungavam. Um velhinho chamou a atenção pedindo ao engraçadinho que fosse fazer palhaçadas nos quintos do inferno:

— Se manca, pô!…

O carro voltou a se movimentar. A solicitação foi novamente acionada:

— Um minutinho, “motor”…

Em meio à multidão que mais parecia sardinhas em lata, uma jovem beirando os vinte anos, se arrastava com bastante dificuldades, pedindo licença e tentando abrir uma brecha, por menor que fosse, na confusão de braços e pernas agrupadas ao longo do corredor:

— Por favor, companheiros, só um segundinho!

Da roleta, o cobrador não avistava quem implorava por caminho. Dezenas e dezenas de braços, cabeças e costas se juntavam, desordenadamente, à frente de seus olhos. Tampouco o condutor, pelos retrovisores estrategicamente colocados, distinguia com a nitidez devida, à referida personagem:

— É pra hoje, minha filha? – indagou. – Posso fechar a traseira?

Como resposta chegou aos seus ouvidos um “por favor, senhora, um passinho à frente” e “me ajudem, por Nossa Senhora”. E nada de pintar à saída. Cheio de razão e bastante zangado o cidadão não esperou uma segunda ordem. Deu continuidade à marcha. Aos solavancos, seguiu em frente. Apavorada, sem ter alcançado seu objetivo, a garota desatou a gritar e a chorar copiosamente numa escala ascendentemente melodramática:

— Ei, me deixe aqui, pare, pare, paaaaaaaaaaare!…

Não teve conversa. Um rapaz que cochilava, confortavelmente sentado, junto a uma das janelas, resolveu tomar as dores da pobre infeliz. Levantou de seu assento e berrou:

—“Guenta aí, motor”. É uma aleijada!

— Aleijada é a senhora sua mãe…

Foi nessa hora que os ocupantes, em coro uníssono, danaram a fazer alarido, tomando, efetivamente, conhecimento do estado deplorável daquela personagem que pretendia interromper a viagem alguns pontos anteriores. Um sujeito “deste tamanho” parecia um cavalo estabanado, se dependurou no fio da sineta, ao tempo em que protestava, eufórico:

— Esse animal não respeita ninguém. Pensa que está carregando uma manada de elefantes…

Enquanto isto, a humilde e torta paralítica, apoiada num par de muletas, finalmente galgava as escadas almejadas:

— Seu desalmado. Bruto de uma figa. Cafajeste! Fazer isso logo comigo. Agora terei que voltar quase um quilômetro.

O articulado entrou no acostamento e freou estabanadamente. Houve uma enxurrada de palavrões.

Queriam bater no motorista, no cobrador e até num policial civil à paisana, que voltava para casa:

— “Filho da mãe! – esbravejou, ensandecida uma velhinha”.

— “Cachorro!” — emendou um terceiro, que aproveitou a balburdia e desceu pela frente, sem pagar.

Por derradeiro, a deficiente saltou. Saiu aos prantos, lamentando sua desdita. Depois de quase um “bafafá” os ânimos se acalmaram. Na segurança da calçada, a irrequieta mutilada, com uma das pernas do bastão de encosto apontada para o céu, prometia, solenemente, quebrar a cara do sujeito que pilotava a condução. Seu gesto, contudo, permaneceu na vontade. Logo que o transporte se afastou, a moça tirou de dentro da bolsa um enorme saco de pano e, nele guardou os paus de arrimo. Ato contínuo se empertigou e sorriu, com deboche e cinismo. Sem olhar para os lados, atravessou, correndo, a pista movimentada, em direção ao outro lado. Tudo em questão de segundos, sob os olhares incrédulos dos transeuntes que, movidos pela curiosidade, começavam a se agrupar em seu derredor.

Fonte:
Aparecido Raimundo de Souza. Refúgio para Cornos Avariados. SP: Ed. Sucesso, 2011

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Andrade Sucupira Filho (Poesias Avulsas)

Libreria Fogola Pisa

Andrade é de Vila Velha/ES
I L H A

Acima das nuvens
Fora do solo da irmã Terra
Há uma Ilha

Às vezes vou para lá
Apenas relaxar
Acima dos aviões

Jamais usei drogas para ir lá
Nem para nada
Apenas relaxo…e vou…vou…

Não ouço o ruído da guerra
Vejo a irmã Lua
E o irmão Sol
E tudo muito pequeno
Na Irmã Terra

Sinto-me UNO com o Cósmico

Mas não estou no espaço sideral
Estou na Ilha…agora
Não estou perdido
Não estou fora
Não sinto dor

Estou em uma Ilha
Chamada
EU INTERIOR…

DELEITE EM VERSOS LIVRES
…Hoje me deleitei…com a beleza que vejo em você…
Meus olhos furta-cores buscaram
os seus olhos de esmeralda…
Minhas mãos ‘acariciaram’ seus cabelos,
“negros como as asas da graúna”…
Meus lábios pousaram nos seus lábios
“doces como um favo de mel”…
Suavemente…
Então…Viajamos juntos até o Paraíso…
De repente…desvanecemo-nos em brumas cor de Amor…
…Era somente sonho de Mago e Fada?…
Eu já nem sei se era real…ou nada…
E L O
Eu sou aquele que foge do extremo…
Ligo um extremo ao outro, o meio ao fim…
Onde? A corrente inteira está em mim…
CÉU AZUL

Estava tudo calmo no oceano.
E então foi se fechando o tempo, lento…
Nuvens escuras, raios (que momento),
E ainda: ondas gigantes, mar insano…

E eu, sozinho, em meu barco, desgarrado,
fui navegando nas revoltas águas.
E a natureza a liberar suas mágoas…
E Deus, de Jonas, a bradar, irado.

Dizem que Deus, em sua onisciência,
é sempre bom, é justo, é sempre amigo.
Mas, vez por outra, perde a paciência:
Acho que agora Ele a perdeu comigo…

Por que? Sei que motivos tem de sobra,
com a humanidade inteira…eu somente?
(E enquanto penso, faço uma manobra).
Navego e vou. Canso, meu corpo sente…

Relaxo, e então faço uma prece viva…
Não mais questiono…me entrego…adormeço…
Sonho, deliro, viajo ao léu, me esqueço…
E no oceano, a minha nau deriva…

Raios? Trovões?…e eu a dormir sonhando…
Voltou meu barco ao porto firme, ao sul…
Quando me acordo, vejo o sol brilhando,
a natureza calma, o céu azul…

L U Z
Ah! Quanta Luz entrou pela janela,
Quando evoquei meu Deus interior…
Como expandiu-se a Luz de minha vela!
Que então mostrou-se em três: Luz, Vida e Amor!
Ah! Quanta Luz entrou pelo meu peito,
E se alojou dentro do coração!
Eu me infundi no Um, no Deus perfeito…
E iluminou-se a Vida desde então…
Ah! Quanta Luz entrou na minha mente!
E a vibração que hoje o meu corpo sente
É tão sublime que extinguiu a dor.
Ah! Quanta Luz me invade o corpo inteiro:
Sinto o universo, justo e verdadeiro;
O Todo é o Um, e a criação, o Amor…

QUO VADIS?
Passo na porta, quase que enlatado…
Deparo com o humilde escudeiro:
“-Aonde vais senhor?” – Ao mundo inteiro.
Respondo ao homem do olho dilatado.
Embora tendo um olho…e outro não.
Meu escudeiro, sempre dedicado,
Sorri pra mim, depois cospe de lado
E me convida, no dialeto: – Vão?”
Meu escudeiro???…Mas, que tempo é esse?
Onde é a espada o símbolo do bem?
Tempo de muitos? Tempo de ninguém?
Tempo de ajuste? Tempo de benesse?
E então me acordo: um reboliço imenso…
Nas ruas, terremoto, um tiroteio…
Furacão, meteoro… é devaneio?
Como Descartes: Já que existo, penso…
ESPERA
Olho p’ra natureza e leio…leio…
Cai a semente…sol e chuva…espera…
Espera…e nasce, e cresce…é primavera…
E o tempo passa…espera…o fruto veio…
Espera…e o vento, e a chuva…e o fruto cresce…
Espera…e gira a terra, e esfria, e esquenta,
Tudo se acalma…chove, e gela, e venta…
E o tempo…espera…e o fruto amadurece…
E cai o fruto…e o ciclo recomeça…
Vem o verão e o outono…e o inverno surge…
E o vento sopra, e a chuva cai e cessa…
E a natureza vive…e o tempo urge…
…Vou caminhando e lançando semente…
E passa o dia, o mês, o ano…a era…
…Minha colheita?…A voz que nunca mente
“Me diz: “espera…espera…espera…espera…”
R E A L

(Escrita em 1981, publicada no livro “Vôos de pés no chão” – ACE – 1ª edição – 1995 – Vitória –ES)

 A natureza eu sinto em mim vibrando:

O mar, o submar, peixes nadando,
Gaivotas e pardais em frenesi,
As gotinhas do orvalho cintilando,
O amor, a planta, a flor, o colibri,
O infinito e essa imensidão de estrelas
Que fascinam e eu me detenho a vê-las,
Querendo ir morar no meio delas…
Sensitivas janelas de minh’alma,
Que se tocam com tudo a minha volta,
Os meus olhos percebem, mente solta,
Que afinal há o real, o grito, a calma.
E a poesia, que fora lírio puro,
Passeia por casebres, por calçadas,
Pelos presídios, pelo beco escuro,
Pelos muitos, por poucos, pelos nadas…
O lirismo se envolve à realidade,
Que é o bem e o mal, concreto, natureza,
Amor, amor, furor, sonho, verdade…
Morrem e nascem pessoas na cidade.

Fonte:

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Antuérpio Pettersen Filho (Poesias Escolhidas)

A ROSA E O BANDIDO

No jardim da casa
 onde morava um bandido
 um botão se abriu em rosa
 e desbrochou.
 Não compreendendo
 que aquele jardim era proibido
 a rosa ali continuou.

 Ninguém podia compreender
 o feio e o bonito
 ali, juntos…

 Por que a semente
 o vento não levou
 para outra casa
 perto dali?

 Mas, não…
 a rosa preferiu
 aquele jardim dentre todos,
 e isso a vizinhança
 não podia aceitar.

 Logo alguém
 roubou a rosa do jardim…
 O bandido desesperado
 pela rosa procurou
 mas não achando nada
 com seis tiros se matou.

 Desde esse dia
 todo mundo que ali passava
 falava que naquela casa
 mora o amor.

A QUALQUER MOMENTO

A qualquer momento…
 Qualquer coisa…
 Pode acontecer…

 Há algo mais pesado no ar
 Do que jatões transcontinentais.
 Há algo mais circulando
 Pelas ruas da cidade
 Do que motocicletas
 E carros em alta velocidade…

 Há um cheiro mais forte no vento
 Do que combustível queimado
 Ou odor de cigarro.
 Há no peito marcas mais visíveis
 Do que as de freio no asfalto
 Ou um salto na escuridão.

 Existe nos olhos
 Uma luz mais intensa
 Do que o brilho dos refletores
 Ou dos letreiros luminosos…Agora!
 A qualquer momento…
 Qualquer coisa pode acontecer!
O VELHO PAI

Todos os dias
 o velho acordava
 pegava a cadeira
 colocava na varanda
 pegava a vassoura
 varria a calçada…
 e assistia
 as pessoas passaram.

 Um dia
 o velho não acordou
 não pegou a cadeira
 não colocou na varanda
 não pegou a vassoura
 não varreu a calçada…
 não assistiu
 as pessoas passarem.

REALIDADE

Quando eu me dei por mim,
 Ela já estava ali…
 Batendo por detrás da porta
 tocando a campainha
 insistindo em entrar…

 Eu corri, e tranquei a janela.
 Fechei as cortinas, prendi a respiração.
 Apaguei as luzes… Fingi dormir.

 Então, em um golpe certeiro
 Ela pôs abaixo a porta…
 Entrou na ventania
 os pés sujos de barro
 manchando o carpete da sala.
 A minha biblioteca
 ficou toda revirada.

 Ela não vacilou:
 Bateu na minha cara
 sentou no sofá da sala
 e ficou ali me olhando…
 Minha vida estava por um triz.

 Chegou invadindo o meu lar
 destruindo os meus sonhos…
 Eu nem havia chamado
 mas Ela estava ali
 me cobrando ser homem,
 e a decisão.

AMOR À PORTUGUESA 

 Eu beijo de língua
 a Língua da Portuguesa
 mas isso me faz
 sentir-me mau.

 Aliás,
 não sei se me sinto mal
 com “l”
 ou se me sinto mau
 com “u”:

 Pensando bem
 me sinto bem !
 Meu bem.

Fontes:

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Maria do Carmo Marino Schneider (Cristais Poéticos)

SONETO DO ETERNO AMOR 

Sabes que, em tempo algum, jamais alguém
 te amou, assim, como eu sempre te amei.
 É o brilho de teus olhos diz, também,
 que eterna amada para ti serei…

 Esse amor de ontem que pensei perdido,
 é chama ardente, sonho revivido,
 mar proceloso que meu ser invade,
 a me afogar em ondas de saudade.

 Minh’alma aflita sofre a se indagar:
 virá tão grande amor a extinguir-se
 perdendo-se no ardil do esquecimento?

 E o coração me diz a sussurrar:
 jamais! Pois esse amor há de nutrir-se
 no seio de um e outro, enquanto houver alento.

QUIMERAS

Eu quisera poder parar o tempo,
 retendo o doce enlevo do momento,
 naquela grata surpresa, inesperada,
 de ver-te à minha espera, na chegada…

 Eu quisera esquecer, enfim, o mundo,
 correndo ao teu encontro, num segundo,
 para beijar-te longa e ternamente,
 como sempre o desejara, ardentemente…

 Eu quisera não deter o grito rouco
 e o descompasso do coração louco
 amando-te, afinal, ao ter-te perto…

 Eu quisera tantas coisas que não fiz…
 Mas embora muda a boca e preso o gesto,
 O meu olhar falou-te: estou feliz!

CORRENTEZA

O meu barco vida
 governar quisera
 nesta correnteza…

 Nas águas do tempo,
 em veloz corrida,
 eu me vejo presa…

 Navego o meu barco
 e, na dura lida,
 me vence o cansaço…

 São tantos os seixos,
 são tantas as pedras,
 são tantos percalços…

 Mas sigo sem queixas.
 Se a esperança medra,
 não detenho os braços.

 O leme seguro
 e, transpondo as águas,
 contemplo o futuro

ONDE ESTAVAS?

Onde estavas, onde estavas,
 Quando as sombras e o silêncio
 Vestiram a ilha dos sonhos
 De solidão, sem candeias?

 Por certo que te encontravas
 Velejando em outros mares,
 Buscando estrelas e luares
 Em céus que não conhecias…

 Da ilha, berço do carma,
 No teu baú de saudades,
 Só levaste farpas, mágoa,
 Quando na noite fugias…

 Abandonaste, esquecidos,
 O pão, o mel, a água fresca,
 A luz que clareia a estrada,
 E os sonhos, tesouros perdidos…

FIO DE ARIADNE

Ah! esse sabor amargo
 que na boca aflora
 e esse vazio atróz
 que faz de mim sozinha
 o que antes era nós…

 Ah! esse silêncio largo
 que me envolve agora
 e essa dor intensa
 que cedo me definha
 e cala minha voz…

 Ah! esse amor aziago
 que minh’alma chora,
 que torna a vida densa
 e os dias negras mós,
 é o que cortou a linha
 de seculares nós…

ACALANTO

Hoje, tranquei o meu canto.
 Nenhuma palavra vem.
 Quisera poder prender meu pranto
 também!

 O tempo é um duende alado
 que não permite a ninguém
 viver feliz sempre ao lado
 de um bem.

 Por isso, choro saudade,
 lamento a falta de alguém,
 Onde está a felicidade?
 Não vem?

 Adormeço na esperança
 De encontrá-la no além,
 Que ela venha sem tardança…
 Amem!

AMOR ANTIGO

O amor antigo que minh’alma abriga
 nasceu há muito, já não tem idade.
 É como som dolente de cantiga
 a repetir-se pela eternidade.

 O amor antigo, de esperança ausente,
 nada pede, nem exige, só perdura
 na espera triste, vã, calma e silente
 da sofrida e amante criatura.

 O amor antigo tem raízes fundas,
 feitas de sofrimento e de beleza;
 é o guardião dos sonhos mais profundos
 criando, na alma solitária, a fortaleza.

 O amor antigo, cultivada flor,
 perfuma, assim, a dor e não fenece.
 E, tanto mais vence o tempo é mais amor,
 no seio de quem ama e não esquece.

VÔO PEREGRINO

A alma, em suspense,
 espera o vôo que retarda
 adiando o sonho…
 Soltar-se,
 romper cadeia,
 deixar o tempo
 tecer sua teia,
 sem outro desejo
 que o de viver,
 e nada esperar,
 senão o adormecer
 da última esperança.

Fonte:

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Maria do Carmo Marino Schneider (1941)

Maria do Carmo Marino Schneider nasceu no município de Colatina, no Estado do Espírito Santo, em 1 de setembro de 1941. 

Professora universitária, Graduada em Letras pela UFES, com especialização em Educação à Distância, pela UNED-Madri, Espanha, Mestrado em Educação pela PUC – Rio. 

Membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras onde ocupa a cadeira nº 17, cuja patrona é Maria Madalena Pisa. 

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e do colegiado cultural do jornal Estado de São Paulo. 

Diretora Cultural da Aliança Francesa de Vitória. 

Vencedora de vários prêmios literários no país, em prosa e verso, tem obras publicadas em antologias de poetas representativos da literatura nacional em Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. 

Maria do Carmo lançou em 2007 um CD “Caminho, Verdade e Vida”, com músicas religiosas.

Obras:
– “Fio de prumo” 1989
– “Só ser” – 1991
– “Nós” – 1992
– “Sonatas” – (Reune textos dos primeiros livros, Fio de prumo (1989), Só ser (1991), e mais inéditos), Prefácio de Francisco Aurélio Ribeiro, Vitória, 1996
– “Aquarelas Poéticas” ( poemas) – Prefácio de Maria de Lourdes M.A. Soares, Lei Rubem Braga/Companhia Vale do Rio Doce, Vitória, 1996
– “A música folclórica brasileira” – das origens à modernidade 1999
– “Victor Hugo – a face desconhecida de um gênio” 1999

Participação nas coletâneas: 
– A poesia Espírito-santense no Século. XX – org. Assis Brasil, Ed. Imago.
– Antologia de Escritoras Capixabas – org. Prof. Francisco Aurélio Ribeiro
– Entre dois séculos: Escritos de Vitória -18 – Cidade Presépio
Poemar.
– Antologia 2003 – Textos e Tramas, da AFESL
– Antologia 2004 – Ecos da Terra Capixaba, da AFESL
– Antologia 2005, da AFESL, Dança das Palavras, organização dela e de Marlusse Pestana Daher.
– Antologia Clepsidra, da AFESL, organização de Jô Drumond e Graça Neves, Vitória/ES, 1a. edição, GSA – Gráfica Santo António Ltda, 2007
– IV Varal de Poesias, com os poemas “Sombras no silêncio”, declamado por Ângela Chequer e “Ninho da alma”, declamado por Márcia Galdio. Este projeto é uma realização do Vagão Espaço Arte, idealizado pelo poeta Italo Campos, em 1998,
– V Varal de Poesias, com o poema “Informática” declamado por Ângela Chequer e “Sombras no silêncio”, declamado por Haroldo Bussotti.
– VII Varal de Poesias, com o poema “Chama”, declamado por Madu Marino.
– VIII Varal de Poesias, com o poema “Mulher “.
– IX Varal de Poesias.
– “Fruta no Ponto” – 2009, sob a Direção Geral de Suely C. Milagres, Gestora Cultural e Curadora do Vagão Espaço Arte. 
– Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organizado por Maria das Graças Silva Neves.
– Projeto “Primavera: Arte e Literatura”, realizado na Galeria Virgínia Tamanini, no período de 27/10 a 20/11/2009
– “Espaço Cultural do TECAB”, realizado do dia 22/06 a 12;07/2010.
– Antologia “Múltiplas Vozes”, 2010, da AFESL.

Parcerias: 
Canzoni D’Amore (italiano/português)1999
Ave Marias 1998
Mistral (português e francês.)1999

Bibliografia: 
Vozes e Perfis – Antologia 2002 Academia Feminina Espírito-santense de Letras
A Poesia Espírito-Santense no Século XX, organização, introdução e notas de Assis Brasil,1998

Fonte:

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Rubem Braga (Chegou o Outono)

 Não consigo me lembrar exatamente o dia em que o outono começou no Rio de Janeiro neste 1935. Antes de começar na folhinha ele começou na Rua Marquês de Abrantes. Talvez no dia 12 de março. Sei que estava com Miguel em um reboque do bonde Praia Vermelha. Nunca precisei usar sistematicamente o bonde Praia Vermelha, mas sempre fui simpatizante. É o bonde dos soldados do Exército e dos estudantes de Medicina.

Raras mulatas no reboque; liberdade de colocar os pés e mesmo esticar as pernas sobre o banco da frente. Os condutores são amenos. Fatigaram-se naturalmente de advertir os soldados e estudantes; quando acontece alguma coisa eles suspiram e tocam o bonde. Também os loucos mansos viajam ali, rumo do hospício. Nunca viajou naquele bonde um empregado da City Improvements Company: Praia Vermelha não tem esgotos. Oh, a City! Assim mesmo se vive na Praia Vermelha. Essenciais são os esgotos da alma. Nossa pobre alma inesgotável! Mesmo depois do corpo dar com o rabo na cerca e parar no buraco do chão para ficar podre, ela, segundo consta, fica esvoaçando pra cá, pra lá. Umas vão ouvir Francesca da Rimini declamar versos de Dante, outras preferem a harpa de Santa Cecília. A maioria vai para o Purgatório. Outras perambulam pelas sessões espíritas, outras à meia-noite puxam o vosso pé, outras no firmamento viram estrelinhas. Os soldados do Exército não podem olhar as estrelas: lembram-se dos generais. Lá no céu tem três estrelas, todas três em carreirinha. Uma é minha, outra é sua. O cantor tem pena da que vai ficar sozinha. Que faremos, oh meu grande e velho amor, da estrela disponível? Que ela fique sendo propriedade das almas errantes. Nossas pobres almas erradas!

Eu ia no reboque, e o reboque tem vantagens e desvantagens. Vantagem é poder saltar ou subir de qualquer lado, e também a melhor ventilação. Desvantagem é o encosto reduzido. Além disso os vossos joelhos podem tocar o corpo da pessoa que vai no banco da frente; e isso tanto pode ser doce vantagem Como triste desvantagem. Eu havia tomado o bonde na Praça José de Alencar; e quando entramos na Rua Marquês de Abrantes, rumo de Botafogo, o outono invadiu o reboque. Invadiu e bateu no lado esquerdo de minha cara sob a forma de uma folha seca. Atrás dessa folha veio um vento, e era o vento do outono. Muitos passageiros do bonde suavam.

No Rio de Janeiro faz tanto calor que depois que acaba o calor a população continua a suar gratuitamente e por força do hábito durante quatro ou cinco semanas ainda.

Percebi com uma rapidez espantosa que o outono havia chegado. Mas eu não tinha relógio, nem Miguel. Tentei espiar as horas no interior de um botequim, nada conseguindo. Olhei para o lado. Ao lado estava um homem decentemente vestido, com cara de possuidor de relógio.

– O senhor pode ter a gentileza de me dar as horas?

Ele espantou-se um pouco e, embora sem nenhum ar gentil, me deu as horas: 13:48. Agradeci e murmurei: “chegou o outono”. Ele deve ter ouvido essa frase tão lapidar, mas aparentemente não ficou comovido. Era um homem simples e tudo o que esperava era que o bonde chegasse a um determinado poste.

Chegara o outono. Vinha talvez do mar e, passando pelo nosso reboque, dirigia-se apressadamente ao centro da cidade, ainda ocupado pelo verão. Ele não vinha soluçando les sanglois longs des violons de Verlaine, vinha com tosse, na quaresma da cidade gripada.

As folhas secas davam pulinhos ao longo da sarjeta; e o vento era quase frio, quase morno, na Rua Marquês de Abrantes. E as folhas eram amarelas, e meu coração soluçava, e o bonde roncava.

Passamos diante de um edifício de apartamentos cuja construção está paralisada no mínimo desde 1930. Era iminente a entrada em Botafogo; penso que o resto da viagem não interessa ao grosso público. O próprio começo da viagem creio que também não interessou. Que bem me importa. O necessário é que todos saibam que chegou o outono. Chegou às 13:48 horas, na Rua Marquês de Abrantes, e continua em vigor. Em vista do que, ponhamo-nos melancólicos.

 Fonte:
200 Crônicas Escolhidas.

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Bernardo Trancoso (Caderno de Sonetos I)

A ROSA BRANCA (I)

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.

A ROSA BRANCA (II)

Tantas púrpuras rosas pelo chão;
Grosas e grosas, lá se vão as rosas;
Entre as rosas feiosas, mal-cheirosas,
Brilha uma branca rosa, em exceção.

Meu olhar escolheu tal rosa, então,
Protegeu-lhe, entre rosas perigosas.
Rosa a seiva que falta àquelas grosas,
Concede à rosa branca o coração.

Contrastes já não valem mais, nem cores
Que, dentre mil amores, são só teus,
Pois o tempo carrega esses primores.

Vale é ser essa flor que, aos olhos meus,
Nunca apodrecerá, como outras flores.
Vais brilhar nos rosais do eterno Deus.

A ROSA BRANCA (III)

Tantas púrpuras rosas na avenida;
Grosas e grosas, tão vendidas rosas;
Entre as rosas vistosas, preciosas,
Falta uma branca rosa, preferida.

Meu olhar arrancou da rosa a vida,
Elevou-lhe, entre rosas valiosas.
Rosa eterna nos versos e nas prosas,
És como a rosa branca, a mais querida.

Elegi essa cor, dentre outras cores,
Prá provar grande amor que, às vezes, vem.
Que não podem trazer vermelhas flores,

Que nem podem querer comprar, também,
Porque, nessa avenida, os vendedores
Não darão seus amores prá ninguém.

SONHO ACORDADO

Sonhei teu grande amor ter encontrado.
Quando acordado, não acreditei
No corpo que avistei, ali, deitado,
Bem ao meu lado, como desejei.

Paraíso sem lei, por mar cercado;
Diante de um reinado imenso, o rei;
De desejo, eu fiquei desencontrado;
Fui tentado a sonhar, quando acordei.

Por demais te querer, te ter também –
Sentimento que, vez em quando, imponho,
Quando alguém já me torna mais risonho –

Tive a alegria, enfim, que poucos têm,
Ao ver um dia, ao lado do meu bem,
Um sonho, transformar-se em outro sonho.

SONHOS E TROVAS

Um grande sonhador quer acordar
No meio de um amor que faz sonhar
Prá, quando se deitar, sua alma em flor,
Desperto, ele sonhar com esse amor.

Quer mais um trovador, já quer cantar
Toda forma de amor que imaginar
Prá, quando a flor murchar e ele se for,
Seu canto inda ecoar, num sonhador.

Sonhos e trovas juntos na alegria
Que, um dia, plante fé no coração,
Ao sentimento amor, que principia,

Levando o sonhador à conclusão:
Paixão não sobrevive, sem poesia;
Poesia também morre, sem paixão.

O PERFUME

O amor, como o perfume, deixa indícios
De euforia em quem sente o seu odor;
Ambos dão alegria, ambos dão vício,
E mesmo os seus resquícios têm sabor.

Em tão pequenos frascos, benefícios;
Num coração ou vidro, tanto ardor;
Mas deves desfrutar sem desperdícios,
Seja perfume d’alma, seja amor.

Têm de todos os tipos prá agradar:
Um deles, quase eterno; outro, ligeiro.
Melhor é o que mais caro te custar,

Mas importa que seja verdadeiro
Pois, tendo um falso, logo há de notar
Que paixão não vai dar, com ou sem cheiro.

NATUREZA

Tens das pedras dureza; tens, agora,
Da noite que apavora, vã frieza.
A incerteza que tens, é de quem chora
Quando o amor vai embora; tens tristeza.

Tens, porém, chama acesa; vida aflora
Do teu peito, ó senhora; és natureza –
Da fauna, tens riqueza e quem te adora,
E da flora, bem mais, pois, tem beleza.

Só pareces não ter o dom vibrante,
O desejo constante de viver,
A grandeza de ser a cada instante,

Quando o mais importante é renascer.
Esse dom de manter a dor distante,
Em plantas e animais, vais perceber.

CEM PALAVRAS

Não pode ser você quem vejo aqui!
Sim, sou… Que bom te ver! Tempo passou,
Você cresceu… Você também mudou…
Por onde andou? Aí… Muito aprendi!

Por que voltou? Saudade deu de ti!
Não fale assim… É, sim… Quem me ensinou
O amor, nunca esqueci… por isso, estou
Aqui! Prá ter de volta o que perdi!

Anos depois… Pois é… Um dia, eu cá
Pensei, não voltará! Errei… Você
Deixou-me a dor, mas cri… Quem ama, crê!

Foi tanto o que sofri! Não sofrerá!
Se depender de ti… Mudei! Virá?
Vou… Sem palavras, já… Falar, prá quê?

JARDINEIRO

– Recita uma poesia para mim!
– Jardim! – o trovador já respondia –
tens do brilho das flores a alegria.
Em teu corpo, o perfume é de jasmim.

Lugar que eu regaria tanto assim,
Com luz e com paixão, e todo dia.
Para mim, nada mais importaria
Que ter tua beleza minha, ao fim.

Faria um paraíso em teu canteiro,
Se tu me concedesses um segundo,
Prá provar meu amor, que é verdadeiro.

Nessa doce empreitada, lá no fundo,
Eu seria o teu servo, um jardineiro…
O jardineiro mais feliz do mundo.

Fonte:
Sonetos

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Marly de Oliveira (Antologia Poética)

CERCO DA PRIMAVERA

5.

Molhava os cabelos negros
nas águas da noite, quando
cheio de sombra acendeste
uns olhos cor de limão,
iluminando o silêncio
com o simples tocar de mão.

Um rumor de vinho claro,
de bocas e mãos unidas
e um cheiro de mel e flor,
rasparam, ai, como espada,
meu corpo cheio de noite
e o teu, perdido de amor.

Por certo que não queria,
mas tinha a cintura e jeito
ao teu abraço achegados,
e na sombra relumbrava
a água verde dos teus olhos
nos meus cabelos molhados.

Tremores de vento e lua
encabritavam-me o sangue,
e penas de sal e fogo
talavam o silêncio escuro,
ferindo nossas cadeiras
e amarfanhando o chão duro.

Em frio e fogo de amor
apenas luz se alongaram
curvados talhes desnudos.
E nas sombras o silêncio
agitava como franjas
seus longos braços agudos.

RETRATO

Deixei em vagos espelhos
a face múltipla e vária,
mas a que ninguém conhece
essa é a face necessária.

Escuto quando me falam,
de alma longe e rosto liso,
e os lábios vão sustentando
indiferente sorriso.

A força heróica do sonho
me empurra a distantes mares,
e estou sempre navegando
por caminhos singulares.

Inquiri o mundo, as nuvens
o que existe e não existe,
mas, por detrás das mudanças,
permaneço a mesma, e triste.

               De Cerco da Primavera (1958)

EXPLICAÇÃO DE NARCISO

1.
A carne é boa, é preciso louvá-la.
A carne é boa, não é triste ou fraca.
O que a atinge é a fraqueza que há num homem,
a tristeza, maior que um homem, mata-a.
A carne nada tem, salvo o seu sono,
barro tranqüilo de harmoniosa forma,
corpo que distraídos animamos,
fonte real de toda a nossa glória.
A carne é o instrumento do princípio,
é por ela que eu vivo, que vivemos,
e se revela o amor como é preciso;
o que está fora se une ao que está dentro,
alma e corpo no corpo confundidos,
e a sensação completa de estar vendo.

18.

Num tempo alheio ao tempo, a sós comigo
mais uma vez diante de mim, me escuto:
o meu rebanho ficou longe, longe,
e sou pastor apenas do meu luto.
Mana de mim como um silêncio o amor,
e uma angústia, uma estrela em que me escudo
extremamente para não morrer,
de meus próprios recursos inseguro.
Que saudade de mim me vem agora
quando revejo a fonte com seu brilho
onde meu rosto urgia um tempo-outrora!
Permanência do amor ou desafio
ao tempo, no âmago de mim se vota
um sol eterno e cada vez mais frio.

               De Explicação de Narciso (1960)

A SUAVE PANTERA

1.
Como qualquer animal,
olha as grades flutuantes.
Eis que as grades são fixas:
Ela, sim, é andante.
Sob a pele, contida
— em silêncio e lisura —
a força do seu mal,
e a doçura, a doçura,
que escorre pelas pernas
e as pernas habitua
a esse modo de andar,
de ser sua, ser sua,
no perfeito equilíbrio
de sua vida aberta:
una e atenta a si mesma,
suavíssima pantera.

11.

Como no fundo da ostra a pérola
ela se deita veludosa,
mas anda com patas rebeldes
seu coração com uma glória.
Tem um ritmo de silêncio
a força com que ele desprega
as patas a cada momento,
numa espécie de ânsia secreta.
Violento é o sono do seu corpo,
mas sem aspereza nenhuma,
igual à queda de uma coifa
brusca e silente na verdura,
sem direção, igual à paina
mas uma paina concentrada,
mas uma paina vigorosa,
seu sono cego, cheio de asas.

               De A Suave Pantera (1962)

O SANGUE NA VEIA
25.

Escrevo; logo, sinto, logo, vivo,
e tiro-lhe ao viver a indisciplina
que o espraiaria, que o dispersaria,
e dou-lhe a minha forma comedida,
a que tem o tamanho de um amor
que eu guardo, que não gasto, não disperso;
amor que se concentra em dura pérola,
não pétala, não isto que é um excesso,
pois que pode voar; o que me fica
de tudo o que acontece e não se altera,
de tudo o que acontece e me escraviza,
e do que escravizando me liberta.
Escrevo; logo, sou quem se domina,
e quem avança numa descoberta.

               De O Sangue na Veia (1967)

XVI

                              À Mônica (aos três anos)

Um súbito silêncio enfreia a mágica
aventura de estar entre os objetos
que apenas reconhece. Ela adormece
a meus pés como um gato, um bicho quieto,
com doçura felina, suave e intensa,
recolhida em si mesma contra o frio
da noite. Ela me é, me dorme no seu sono,
desdobrada de mim, além de mim,
que a recebi sem entender, atenta
ao milagre de vida de que fui
receptáculo apenas, serva mansa,
e em tudo obediente à natureza.
Dorme a meus pés, e meu amor reinventa-se
vendo-a tão calma assim, tão sem defesa.

               De Contato (1975)

Clarice

XVIII.

Revejo seu rosto nos vários retratos:
cada um capta algo, nenhum a totalidade
do que ela foi, do que é ainda,
a cada instante outra/renovada.
Eu sei que ela tocou no escuro o Proibido
e conheceu a Paixão
com todas as suas quedas.
Quem esteve a seu lado sabe
o que é fulguração de abismo
e piscar de estrela na treva.

               De Aliança (1979)

Alguns poemas

11. 

Um dia vou ser apenas uma biografia.
Nem isso, talvez, uma inscrição
numa pedra qualquer,
no pó que o vento leva,
na memória inconstante dos que amei
de forma certa.

29. Ser poeta não é ambição minha,
diz Pessoa,
é a minha maneira de estar sozinho.
É também a maneira de esquivar-me
à ação, eu acrescento,
subjugada por forças poderosas,
enquanto o pensamento
cava fundo
no abismo.

30. A função do poema: conhecer,
A função do teorema: desafio
que leva à abstração, à conjetura.
A função da esperança: convencer
que o poema, o teorema, a ciência, a invenção,
o semáforo, a história, a explosão
de Hiroshima; Picasso e sua glória;
o decalque, a estrutura, a rachadura,
a ruptura, a eternidade, a desmemoria;
a ignorância, a pobreza, a riqueza,
a insuficiência, a morte têm sentido.

INSCRIÇÃO

Eu. E diante da vida,
com meu azul intacto,
Um esbatido de pássaros.
Alto no vento. Grato.

A sensação de ser
só, uno, um, completo.
No redondo das horas,
pleno, lúcido, cego.

O que de mim salvando
se vai a cada instante,
nesse morrer diário
e sucessivo: um canto.

TRÊS POEMAS DE OUTUBRO

1. 

Lume, teu rosto,
agudo e novo
como um descobrimento,
E tuas mãos silêncio,
como noturno fruto
pendido sobre mim.
Eu em ti,
com meus arroubos de ave,
mas sem querer partir.

2. 

Quando às vezes te assalto
com meu querer noturno,
ébrio de mãos e beijos,
não é alguém que busca
o limiar de um lábio
ou vinho, para a mesa.
Alguém de copo em mão,
no umbral da tua porta,
o infinito suposto
quer, para além do umbral
e para além da porta.

3. 

No céu inteiro penso,
amplo de vôos límpidos
e bicos musicais,
torso desnudo e azul
como o de um pombo triste,
nuvens como asas doces,
de um corpo altivo e elástico.
No espaço em que naufrago,
onde as horas não querem
portais ou tetos, penso,
quando te chamo pássaro.

MORTE

E lutarás comigo,
fresca ainda de vento,
presa às luzes do dia
pelos cabelos últimos.
Quebrantarás meus olhos,
sei.
Apagarás as mãos
para a ternura,
para o amor,
também sei.
E alçarás a distância
entre mim e quem amo,
imperdoável.
E me terás por fim.
Mas se entrega, dura.
Mais que difícil,
fria.

ELEGIA
 

Teu rosto é o íntimo da hora
mais solitária e perdida,
que surge como o afastar-se
de ramos, brando, na noite.
Não choro tua partida.

Não choro tua viagem
imprevista e sem aviso.
Mas o ter chegado tarde
para o fechar-se da flor
noturna do teu sorriso.

O não saber que paisagens
enchem teus olhos de agora,
e este intervalo na vida,
esta tua larga, triste,
definitiva demora.

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Arquivado em Antologia Poética, Espírito Santo

Marly de Oliveira ( 1935-2007)

Professora e ensaísta capixaba Marly de Oliveira nasceu em Cachoeiro do Itapemirim (ES), onde viveu a infância e a adolescência na cidade fluminense de Campos dos Goytacazes.

Marly de Oliveira, poeta, professora e ensaísta, era capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, embora tenha vivido a infância e adolescência na cidade fluminense de Campos, onde muito cedo se iniciou na literatura, publicando poemas em jornais e revistas. Mudou-se depois para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em Letras Neo-Latinas pela Pontifica Universidade Católica. Recebeu bolsa de estudos para cursar História da Língua Italiana e Filologia Românica na Universidade de Roma. Ali conheceu o grande poeta Giuseppe Ungaretti, que havia lecionado por algum tempo na Universidade de São Paulo e que, ao ler uma breve coletânea de poemas escritos em italiano pela jovem estudante brasileira, decidiu entusiasmado apresentá-la pessoalmente em um programa literário da rádio-televisão local, referindo-se textualmente ao milagre de criação daqueles versos escritos por uma estrangeira em um italiano luminoso. Seus poemas escritos em italiano impressionaram vivamente o poeta Giuseppe Ungaretti, que declarou sobre ela em 1960: “Como terá feito esta jovem para apoderar-se de nossa língua, de sua secreta musicalidade (…)? É um milagre, simplesmente poesia em um italiano luminoso.”

Do mesmo modo, em seus escritos em português, Marly de Oliveira conquistou aplausos de gente como Clarice Lispector, Leo Gilson Ribeiro e Antonio Houaiss.

De volta ao Brasil, Marly de Oliveira passa a lecionar Literatura Hispano-Americana na Universidade Católica do Rio e de Petrópolis, e Língua e Literatura Italiana na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo.

Casa-se com diplomata brasileiro e vive alguns anos em Buenos Aires, Genebra e Brasília.

Na década de oitenta casa-se, pela segunda vez, com João Cabral de Melo Neto, com quem reside em Portugal e depois no Rio, até a morte deste, em outubro de 99.

Em 1º de junho de 2007, Marly de Oliveira falece em um hospital do Rio de Janeiro, após quase quatro meses de internação.

Foi casada em segundas núpcias com o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999).

Voltada desde cedo para a poesia, Marly publicou cerca de 15 livros do gênero, sem contar antologias e a Obra Poética Reunida, que veio a público em 1989.

Cerco da Primavera (1957)
Explicação de Narciso (1960)
A Suave Pantera (1962)
A Vida Natural (1967)
O Sangue na Veia (1967)
Contato (1975)
Invocação de Orpheu (1978)
Aliança (1979)
A Força da Paixão e A Incerteza das Coisas(1982)
Retrato / Vertigem / Viagem a Portugal(1986)
O Banquete (1988)
Obra Poética Reunida (1989)
O Deserto Jardim (1990)
O Mar de Permeio (1998)
Antologia Poética (1998)
Uma vez, sempre (2000).

Venceu, em 1998, o Prêmio Jabuti com “O Mar de Permeio”.

Fontes:
Carlos Machado. Poesia.net – numero 272 – ano 10.
http://www.algumapoesia.cdm.br 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marly_de_Oliveira
http://marlydeoliveira.blogspot.com/

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Arquivado em Biografia, Espírito Santo

Joubert de Araújo e Silva (1915 – 1993)


Joubert de Araújo Silva nasceu em São Felipe, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 29/11/1915, filho de Venâncio Silva e Maria Adelaide de Araújo Silva.

Iniciou-se literariamente incentivado por Newton Braga, colaborando no “Correio do Sul” e na revista “Vida Capixaba”.

Em 1939, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou no antigo IAPI.

Pertenceu à UBT, sendo redator do órgão oficial da entidade – Trovas e Trovadores.

Conquistou centenas de prêmios, inclusive o de Magnífico Trovador por 3 vezes nos Jogos Florais de Nova Friburgo. Obteve também premiações com vários sonetos e recebeu inúmeras honrarias, inclusive o título de Intelectual do Ano, em 1954 – pelo Jornal “Mensagem” e pela Casa da Cultura de Alegre, onde se sagrou um dos vencedores em 6 Jogos Florais.

Na Academia Cachoeirense de Letras ocupou a cadeira n.34 cujo patrono é Florisbelo Neves. A Academia Espírito-santense de Letras o premiou, em 1985, com o livro Caminhada, onde predominam os quartozetos.

Faleceu em 22/07/1993.

Obras:

“Caminhada” – 1990
Participação na Coletânea “Poetas Cachoeirenses”, de Evandro Moreira.

FONTE:
Poetas Cachoeirenses, de Evandro Moreira

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Arquivado em Biografia, Espírito Santo

Aparecido Raimundo de Souza (Promessa)

O teu olhar me enleva
e me leva
para o mundo
encantado
dos sonhos
realizados.

O teu olhar
completa
o meu olhar
o espaço
o tempo
os corpos
desaparecem
e tudo
é perfeito
ao fitar
o teu olhar.

A promessa
do teu olhar
expressa
a promessa
do meu olhar
e desejo
que entendas
como eu entendo
o que falamos
ou deixamos
de falar
pelo olhar.

A promessa do teu olhar
faz-me ver
o paraíso
na Terra
o teu olhar
que se estende
ao meu olhar
se funde
na promessa
de um olhar terno
e belo.

Meu olhar
queda-se
no teu olhar
e vive por um momento
lampejos de luz
que aquecem
vibram
e antevêem
o ardor
de uma paixão
vindoura
que agora
é só promessa.

Fonte:
O Autor

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Arquivado em Espírito Santo, O poeta no papel

Trova 172 – Beatriz Abaurre (Vitória/ Espirito Santo)

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3 de setembro de 2010 · 23:25

Beatriz Abaurre (Espírito Santo Poético)

Convento da Penha, em Vila Velha, ES.
Pintura de Sérgio Câmara

VITÓRIA – ILHA DA ESPERANÇA

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo – não se vá.
Voa num céu cheio de cor
E penso – o mar está perto.
Vejo folhas caindo inquietas
E imagino – é o verão que se finda.
São tantas e nem sequer se queixam
E peço – não morram.

Há um tempo que foi, é certo
Mas há também, talvez, um amanhã
Porque ontem e hoje é tudo isto,
Este desejo de céu, de sol, de vento,
Este grito rouco cujo eco
Talvez nunca existiu.
Talvez nem mesmo o grito.
É este desejo de ser jovem
Desejo capaz de ser história,
De transportar fora do tempo
A renúncia e o cansaço de meu corpo insone.

É esta ilha –
Azul e branca.
Obstinada ilha
Trajetória de selvagens aves marinheiras,
De barcos que navegam apressados
Rumo ao Sul, ao esquecimento.
É esta ilha assim, rude, que sabe a esperança
Onde há lágrimas secadas pelo vento
E sorrisos,
Alvos sorrisos com sabor de maresia
Terra sofrida cheia de luz e coragem.

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo – volta
E penso – talvez não se vá
Mas sempre se vai
Vôo alongado, solitário,
Sobre a terra, sobre o mar,
Sobre o abismo,
Sobre o planalto distante, infinito,
Sobre o tempo que não acaba de passar…

BUSCA OBSTINADA

Eu sei,
Sei que você existe
Um tanto cansado
Um pouco mais triste.
Sei que você busca,
Sozinho.
Numa solução de vida
A vida que lhe foi negada.
Sei que você procura,
Ainda,
Um rosto que se fez amado

Na antiga solidão povoada,
Eu sei
Que no silêncio você grita
E espera, contrito,
Atento,
Faminto,
A resposta de outro grito.
Não do eco
Que repete,
Que copia,
Que esquece a autenticidade.

Outro grito…

LÁGRIMAS BENDITAS

Ainda é possível chorar –
Eu vejo lágrimas em outras faces.
Não que esta seja a paz que busco
Pois sei que o sofrimento habita os seres
Em cada canto do mundo…

Ainda sorriem as crianças –
O mesmo sorriso ingênuo que nós sorrimos um dia
Quando nossas mãos não conheciam
Senão as outras mãos das rodas e dos folguedos.

Ainda é muito fácil sofrer –
Basta olhar seus olhos puros
Nos quais descubro às vezes
Uma evidência de dor.

Ainda é necessário viver –
Pois que suas mãos, nas quais pressinto ternura
São a prova mais evidente
De que nem todos os caminhos
Foram trilhados como deveriam ser.

Por tudo isto
E porque continuo a crer,
Cansada de chorar, exausta de sofrer
Afirmo que ainda sobram lágrimas
Que turvam olhos puros como os seus;
Ainda existem sorrisos
Como pontos de luz na escuridão total.
Ainda procuro a paz…

ENIGMA OBSCURO

Tentaste decifrar-me
Como a um símbolo perdido
Como se o mistério tão claro
Fosse ainda muito precioso,
Um mistério digno da tua participação.

E parecia um Deus
Frente à obra inacabada de outro Deus
Tuas palavras jogadas como pedras escuras.
Orgulhoso do teu conhecimento das almas alheias
Esqueceu-se da tua condição humana
E da minha condição mortal.

Pois eu não era obra nem mesmo plano:
Tu não eras Deus nem mesmo poderoso

Depois veio a paz difícil,
Pesada de infinito
E a necessidade urgente de libertar-se
Esquecendo as pretéritas covardias.

Falei-te então das folhas caindo no outono
Da poesia que sempe busco
Nos olhos dos outros,
Do nosso grande amor destinado ao
Esquecimento.
De rosas num jardim imenso,
Do rio percorrendo meu passado,
Sorrisos iluminando minha infância,
De horas felizes e perseguidas
E jamais reencontradas.
Tudo foi dito
E esvaiu-se
Então percebi que para ti as flores já
Nada significavam,

Nem o certo, nem o errado e nem sequer percebias
O crepúsculo pesado que te envolvia.

Quando antes muitas sortes habitavam-te
Como lâmpadas acesas.

Agora eu me vou

Levando comigo um pouco de náusea e do espanto
E na certeza cruel que é difícil dar as mãos
A quem não tem mãos de dar.

Eu me vou, eu que vim para ficar em silêncio.
Em silêncio mesmo que isto seja difícil.
Para que sozinho percebesses.

Minha desordem, minha incerteza constante
E o canto rouco do meu viver interior.

Eu não era obra nem mesmo plano,
Tu não eras Deus e nem mesmo poderoso.

SOFRIMENTO INÚTIL

Estou sozinha
inútil falar de rosas

Estou rejeitada
inútil falar de flores e amores,
se amor não há.

Estou cansada:
inútil falar nos destinos dos homens.

Há problemas grandes,
Mas é inútil.
Estou imensamente triste
E amarga em coisas tão pequeninas.

Inútil ler e tratar problemas universais
Se é tão pequeno
E insignificante,
Mas para mim tão importante
Meu sofrimento particular…

CHUVA DE SONHOS

Engraçado!
Uma coisa à toa:
Eu que gosto tanto de chuva,
De andar pela garoa
Recebendo-a nos cabelos, no rosto,
Acho que hoje chove mais triste,
Infinitamente triste…

Parece que a chuva insiste
Em cair macia e com gosto

Nesta rua cheia de ninguém.
E quando ela vem
Chorando sorrisos
Eu, sempre sozinha,
Somos tristezas…

É por isso que hoje
Notei qualquer coisa
Que inconscientemente foge
Às chuvas normais:

Hoje chove sonhos,
E chove muito, muito mais…

MENSAGEM DESESPERADA

Versos foram escritos –
Um pouco rudes, um tanto amargos,
Mensagem de fé desesperada,
Eco perdido de perdidas esperanças.

Tristes versos de quem se aprofunda
E se deixa aprofundar
Sem reclamos, sem lágrimas,
Sem gritos demasiadamente longos.

Amargura velada de quem sente
Sem deixar que a razão adormeça.
Lamentoso canto de quem coloca
Acima de tudo a razão,
Triste e dolorido pranto de quem sabe
Num mundo de lobos ser o cordeiro.
Sabendo embora que isto custa o sangue
E a própria lã que agasalha…

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

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Arquivado em Espírito Santo, Poemas

Beatriz Abaurre (1937)

Maria Beatriz Figueiredo Abaurre nasceu em Londrina, no Estado do Paraná, em 31 de agosto de 1937. filha de João Figueiredo e de Marina Affonso Figueiredo.

Mudando-se para o Espírito Santo, obteve diploma de Graduação em Piano (EMES). Fez vários cursos de especialização na área de Música e Cultura. É autora de letras de música.

Integrante da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo no período de 1980/1984 e da Orquestra de Câmara da UFES de 1990/1997.

Ocupou os cargos de Diretora da Fundação Cultural – do Departameto Estadual de Cultura – e da Escola de Música do Espírito Santo.

Escritora, poeta, trovadora, teatróloga.

Vencedora do concurso literário promovido pelo jornal “A Gazeta” com o conto “Era uma vez”.

Vencedora de vários concursos de trovas, é membro do Clube de Trovadores Capixaba. autora da peça teatral “Os Inconfidentes” – 1970.

É membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, onde ocupa a cadeira n. 20, cuja patrona é Juracy Loureiro Machado.

Obras:

Payé-guaçú (Revista do IHGES, n. 49), 1997
A revolução das violas (infanto-juvenil) 1997
Joaquim e seu flautim (infanto-juvenil)1998
A jibóia que virou trompa (infanto-juvenil) 1998
A Metaficção Histórica no Romance Cotaxé de Adilson Vilaça – Monografia transformada em livro pelo IHGES
Ticumbi, Preservação que se impõe – em fase de editoração
O mundo mágico da Música
Gritos sem respostas ( poemas)
Mensagem a Saturno (contos e crônicas)
As folhas da figueira (romance)
Sob um Raio de Lua (infanto-juvenil) em fase de ilustração
A história da cultura capixaba através de seus órgãos oficiais (ensaio)
Geografia afetiva de uma Ilha 2002
—–

Participação na Antologia 2003 – Textos e Tramas – da Academia Espírito-santense de Letras.

Participação na Antologia 2004 – Ecos da Terra Capixaba, da AFESL

Participação na Antologia 2005 – Dança das Palavras – organização de Maria Beatriz Nader e Marlusse Pestana Daher.

Participação na Antologia Clepsidra, da AFESL, organizada por Jô Drumond e Graça Neves, Gráfica Santo Antônio Ltda – GSA, Vitória/ES, 2007.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organizado por Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

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Arquivado em Biografia, Espírito Santo

Trova 171 – Athayr Cagnin (Cachoeiro do Itapemirim/ ES)

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2 de setembro de 2010 · 23:05

Athayr Cagnin (1918)

Athayr Cagnin, poeta e trovador, nasceu no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 20/11/1918, filho dos imigrantes italianos Urbano Cagnin e Josefa Volpato Cagnin.

Fez o curso primário no Grupo Escolar “Bernardino Monteiro” e o secundário em exames de madureza no Externato “Pedro II “, depois de ter passado pelo Ginásio “Pedro Palácios” e “Instituto Popular”, do professor João de Barros.

Formado em Odontologia pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Vitória, iniciou suas atividades profissionais na cidade da Serra-ES, transferindo-se posteriormente para Cachoeiro de Itapemirim.

Iniciou-se nas letras ainda muito jovem, colaborando nos jornais e revistas do Estado do Espírito Santo.

Foi nomeado professor catedrático do ensino secundário pelo Governo do Estado do Espírito Santo, após ter sido aprovado com distinção em concurso público de títulos e provas. Em outro concurso realizado em 1965 conquistou o 1º lugar na cadeira de “Ciências Físicas e Biológicas ( 2º ciclo) do Liceu “Muniz Freire”, do qual também foi Diretor.

Agraciado com o título de “Professor Emérito” da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Madre Gertrudes de S. José” pelos relevantes serviços prestados à entidade.

Ex-membro do Conselho Estadual de Cultura, ocupa a cadeira n.02 da Academia Espírito -Santense de Letras, que tem por patrono Graciano dos Santos Neves e a cadeira n. 06 da Academia Cachoeirense de Letras que tem por patrono Narciso de Araújo.

É também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.

Obras:

“O aparelho fonador e a articulação dos fonemas” (tese de concurso) 1948
“Seixo rolado” ( poesias) -Frangraf, Cachoeiro de Itapemirim- 1982
“Cantigas em quatro linhas” – trovas – Gracal Gráfica & Editora, Cachoeiro de Itaperimirim, 1996

Participou das antologias “Trovadores do Brasil” e “Nossas Poesias”, de Aparicio Fernandes.
e de “A Poesia Espírito-Santense no Século XX”, organização, introdução e notas de Assis Brasil, 1998
“Cantigas em Quatro Linhas” – trovas, 1996
Meus poemas teus – 2001
Poemas rimados (inédito)
“Ainda o soneto” – 2006

Participação na Coletânea “Serra em Prosa & Versos – Poetas e Escritores da Serra”, organizada por Clério José Borges de Sant’Anna.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organização de Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

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Clério José Borges de Sant´Anna (1950)

Historiador, Escritor, Poeta Trovador Capixaba

Clério José Borges nasceu em 15 de setembro de 1950, em Aribiri, Vila Velha, ES. Formou-se Técnico de Contabilidade.

É Escrivão de Polícia Civil desde 28 de março de 1975, tendo recebido as Medalhas de Bronze, Prata e Ouro, por 30 anos de serviços prestados a Polícia Civil do Estado do Espírito Santo.

Fundou e foi o primeiro presidente da Academia de Letras e Artes da Serra, na cidade de mesmo nome, no Estado do Espírito Santo.

É também fundador e primeiro Presidente do CTC – Clube dos Trovadores Capixabas, entidade cultural fundada em 1º de Julho de 1980.

Membro do Clube Baiano da Trova, fundado por Rodolfo Coelho Cavalcante. Destacado ativista dos meios literários e trovistas, foi, inclusive, fundador da FEBET – Federação Brasileira de Entidades Trovistas, junto com o Escritor Paranaense Eno Theodoro Wanke e o Trovador Baiano, Rodolfo Coelho Cavalcante.

Detém diversas honrarias, entre elas a designação de Cavaleiro, concedida por sua Majestade Pascal I, III do Bósforo.

É membro da Real Ordem do Mérito de São Bartolomeu, concedida por Sua Majestade Theodore I. R. da Bithynia e Lydua, Duke de Umbros; Cavaleiro e Comendador Honorário da Ordem Ka-Huna do Poder Mental.

Já obteve inúmeras premiações em concursos de poesia.

Palestrador emérito sobre trovismo, já atuou em quase todo o território nacional.

Escreve contos infantis, que já foram publicados no jornal A Gazetinha.

Acadêmico imortal da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS e da Academia de Letras Humberto de Campos de Vila Velha, ES.

Academico Correspondente da Academia Cachoeirense de Letras, de Cachoeiro de Itapemirim, ES e da Academia Petropolitana de Letras de Petrópolis, RJ.

Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas, ALCEAR

Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo), SCL.

Em 1987 foi eleito “Membre d´Honneur” do CLUB DES INTELLECTUELS FRANÇAIS, Paris, França.

Como jornalista, já trabalhou nos jornais A Tribuna e O Diário, de Vitória, ES.

Também atuou como professor nos Colégios: Agenor de Souza Lee, de Vila Velha; Comercial Brasil de Cobilândia; Instituto Educacional Rio Doce, de Santo Antônio; Colégio Clóvis Borges Miguel, da Serra e Instituto de Educação, da Praia de Santa Helena, em Vitória.

Foi Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo, durante cinco anos, de 04/01/1989 a 18/02/1993, onde foi eleito e atuou como Secretário e Vice-presidente do CEC-ES.

Após 18/02/1993 e até o ano 2000, passou a pertencer à Câmara de Literatura do referido Conselho, CEC-ES.

Editou o jornal alternativo Beija-flor e o Jornal dos Trovadores.

Organizou os “Seminários Nacionais da Trova”, realizados anualmente em Julho, de 1981 ao ano 2000, no Espírito Santo.

Organizou os Congressos Brasileiros de Trovadores, em 2001 e 2002 em Domingos Martins;
Em 2003, no Distrito de Nova Almeida, Serra; Em 2005, novamente em Nova Almeida;

Em 2006 ajudou na organização do Congresso na Ilha de Paquetá, RJ e em 2007, organizou o Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, na Serra Sede.

Desde 12 de Junho de 1996 é Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, fundado em 12 de junho de 1916.

Fundou em 1986, com Zedânove Tavares e Emanuel Barcellos, o Jornal de Vila Velha.

Morador da Serra, ES, desde 1979 e Cidadão Serrano desde 1994.

Desde 2004 é Senador da Cultura, pela Sociedade de Cultura Latina, do Brasil (São Paulo).

OBRAS EM PROSA

HISTÓRIA DA SERRA – Duas Edições do Livro que conta a história da Colonização da Cidade da Serra, no Estado do Espírito Santo.

POETAS E ESCRITORES DA SERRA – Trabalho de Pesquisa reunindo cerca de 130 Poetas e Escritores nascidos ou residente no Município da Serra, no Estado do Espírito Santo.

ORIGEM CAPIXABA DA TROVA – Livro que conta a história do Movimento em torno da Trova no Espírito Santo desde 1889.Lançado no dia 03 de Outubro de 2007, na Casa do Congo Mestre Antônio Rosa, na Serra Sede, um dia antes da abertura solene do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores, realizado na Serra Sede, de 04 a 07/10/2007.

LIVROS DE CLÉRIO JOSÉ BORGES

1 – “HISTÓRIA DA SERRA”. Livro que relata a colonização da Serra. A 1ª Edição (Capa azul) é de 1998. A 2ª Edição (Capa amarela) foi lançada em 2003, com 242 páginas.

2 – O TROVISMO CAPIXABA. Livro que relata a “História da Trova Capixaba”. Editora Codpoe, (RJ), em 1990, com 82 p. Capa do Artista Plástico Licurgo. Esgotado.

3 – ALVOR POÉTICO, Livro individual de Poesias e Trovas. João Scortecci Editora, (SP), em 1996, com 52 p.

4 – “TROVADORES 87”, Antologia de Trovas organizada por Clério Borges e Antônio Soares. Edições Caravela, 1987 – 2º Volume. Com 124 p. Esgotado.

5 – “O MELHOR DOS MELHORES”, Trovas de vários Trovadores. Lançado em 1987. Coleção Capixaba. Editora: Edições Caravela, RS. Esgotado.

6 – “TROVADORES BRASILEIROS DA ATUALIDADE”, Obra lançada durante o V Seminário Nacional da Trova em 1985. Edições Caravela. Com 112 p. Esgotado.

7 – “TROVADORES DOS SEMINÁRIOS NACIONAIS DA TROVA”, Antologia de Trovas, organizada por Clério e Santa Inéze da Rocha. Edições Caravela, 1985, com 64 p. Capa de Licurgo. Esgotado.

8 – “O VAMPIRO LOBISOMEM DE JACARAÍPE”. Livro de Cordel com 8 páginas. Folclore Capixaba. Edição do CTC, de 2004 – 2005.

9 – “SERRA EM PROSA E VERSOS – POETAS E ESCRITORES DA SERRA”. Livro lançado no dia 15/09/2006, na Câmara Municipal, com a presença de mais de 300 pessoas, durante a Sessão Solene do Dia do Historiador Serrano, proposta pelo Vereador João de Deus Corrêa, o Tio João.

10 – “HISTÓRIA DA TROVA – ORIGEM DA TROVA CAPIXABA”.

11 – “ORIGEM CAPIXABA DA TROVA” – Livro com 106 páginas, lançado na Casa do Congo “Mestre Antônio Rosa”, no dia 03 de Outubro de 2007, um dia antes da solenidade de abertura do V Congresso Brasileiro de Poetas Trovadores e da Sessão Solene comemorativa do Dia Municipal do Poeta Trovador, comemorado na Câmara Municipal da Serra.

Participou das antologias:
– Trovadores Brasileiros da Atualidade, 1985;
– Trovadores, 1986-87;
– Mil Trovas de Amor e Saudade, 1984;
– Trovas da Constituinte, 1987;
– Brasil Trovador, 1987;
– Trovas sobre o Mar, 1988;
– Anais do Primeiro Encontro Nacional de Trovadores de Petrópolis, 1989;
– Escritores e Escritoras do Século XXI, 1994.

Fonte:
http://www.clerioborges.com.br/biografia2008.html

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte X, final)

Água Doce do Norte, ES
SILVANO THOMES

Silvano César Thomes nasceu no dia 24 de agosto de 1964, em Cariacica, Espírito Santo. Reside em Vila Velha. É estudante, tendo sido revelado para a trova com o CTC.

Adeus, escola querida,
eu digo com muito amor;
nesta hora de despedida
enalteço o Seu valor.

Vitória, és um encanto
e cidade de esplendor!
Presépio maravilhoso
que eu amo com muito ardor!

SOLIMAR DE OLIVEIRA

Mineiro de Juiz de Fora e filho de poeta, Solimar Braga de Oliveira, nasceu no dia 5 de agosto de 1913. Desde menino reside no Espírito Santo. Pertence a diversas entidades culturais do país. É um dos melhores trovadores e sonetistas do Espírito Santo. Jornalista e funcionário público. Há muitos anos vem divulgando a trova no Estado em que reside. Sua produção literária é vasta e valiosa.

Anda a honra tão sem jeito,
neste mundo camuflada,
que, agora, qualquer sujeito
a exibe como fachada!

As pessoas geralmente
deixam seu rastro no chão;
– o teu rastro unicamente
ficou no meu coração…

Na velhice a gente vela,
talvez pensando, acordado:
– a vida não era aquela
que eu esbanjei no passado…

As redondilhas que amamos,
e têm realce e frescor,
são sempre aquelas que armamos
com o cimento do amor…

Chegando ao fim da jornada,
sem passado e sem futuro,
no presente encontro o nada
porque nada mais procuro…

A verdade seja dita
numa trova sem valor:
– em cada mulher bonita
se encontra um verso de amor.

Conhecerás pelos frutos
as plantas, boas ou más:
– vê que os homens dissolutos
não darão frutos de paz…

Meu destino nesta vida
há de sempre ser assim:
– sempre a lembrar-te, querida,
sempre a fugires de mim…

Na vida, oceano inclemente,
de engano e tantos escolhos,
navega a infância inocente
tendo a esperança nos olhos.

Cultiva, amigo, a bondade,
E algum dia entenderás
que a maior felicidade
está no bem que se faz…

Tudo ilude, tudo mente,
na vida cheia de escolhos:
muita gente há descontente
com um sorriso nos olhos…

Eu levo a vida cismando
no tempo todo perdido
do tempo em que andei sonhando
um tempo nunca vivido.

Uma verdade parece
muita gente definir:
– quem muito sobe se esquece
que também pode cair…

Tenho o coração magoado,
não que me julgue infeliz,
mas por nunca ter amado
como devia e não quis…

VALSEMA RODRIGUES DA COSTA

Nascida em Sacramento, Minas Gerais, no dia 5 de novembro de 1943, Valsema Rodrigues da Costa é professora, especialista em musicaterapia. Reside em Vila Velha e tem desenvolvido trabalhos de divulgação e prática da trova entre estudantes daquela cidade. Tem duas filhas pequenas que já fazem trovas.

Minha vida, nossa vida…
oh, meu Deus! que confusão!
Todo mundo na cabeça,
só você no coração!

O mundo está sempre em guerra,
mas todos querem a paz.
Se a vida faz nossa terra,
a morte… o que ela faz?

VICENTE VASCONCELOS

Nascido em Campos, Rio de Janeiro, no dia 29 de maio de 1905, o poeta e trovador Vicente Vasconcelos, que também usa o pseudônimo De Vivas, reside há muito tempo no Espírito Santo, onde publicou diversos trabalhos em prosa e verso. Magistrado, foi desde Promotor de Justiça até Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.

Mandam princípios gerais,
para grandes e pequenos:
– dar menos a quem tem mais
e dar mais a quem tem menos.

Para haver bom julgamento
boa regra sempre ouvi:
agir com discernimento,
julgar os outros por si…

Proclama o “mandão” sisudo
que é preciso economia,
mas sobe o preço de tudo
e não cessa a mordomia…

Não há quem não tenha errado,
pois o erro em todos medra:
– quem se julgar sem pecado
atire a primeira pedra.

O homem manda em todo mundo,
em quase tudo que quer,
mas, na verdade, no fundo,
quem manda mesmo é mulher.

É preciso distinguir
da palavra o seu sentido:
– para não se confundir
um cúpido com cupido.

ZEDÂNOVE TAVARES

Zedânove Tavares Sucupira nasceu em Vila Velha, no dia 11 de outubro de 1948. É funcionário do Banco do Brasil. Presidiu a UBT de Vitória, há vários anos. É autor do três centenas de poemas.

O besouro, na vidraça,
pulula, esbate-se, lida,
tal qual o homem na desgraça,
nessa muralha da vida.

Ao ver na novela, enfim,
o “cara” e a empregada – a sós –
a Maria olhou pra mim,
e minha mulher… pra nós!?…

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br/
Imagem = http://www.gazetaonline.globo.com/

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte IX)

Pedra do Itabira, em Cachoeiro do Itapemirim, ES
LUIZ CARLOS BRAGA RIBEIRO

Luiz Carlos Braga Ribeiro firma-se entre os trovadores mais atuantes das terras capixabas. Nasceu em Vila Velha, no dia 11 de agosto de 1951. Tem curso de tecnologia mecânica superior pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Com bondade e muito amor
Ele a todos satisfaz…
Chico Xavier com louvor
Merece o Nobel da Paz.

Esta criatura tão doce
Minha mulher, minha amante,
Jamais pensei que ela fosse
De um amor tão abundante.

LUIZ SIMÕES JESUS

Autor de livros em prosa e verso, Luiz Simões Jesus, nasceu em Guarapari, no Espírito Santo, e reside no Rio de Janeiro. É advogado e professor, pertencendo a diversas entidades culturais do país.

Tirem-me tudo na vida,
Até do sol o calor,
Mas estarei sem guarida,
Se ficar sem teu amor.

Vi morrer a pobre flor,
Entre espinhos, sufocada.
No jardim do nosso amor,
Que vejo? Espinhos, mais nada.

De um amor tive lembrança
E de outro lembranças tive:
Um – o amor que não se alcança,
Outro – o amor que não se vive.

O frescor em ti impera,
Eu padeço um frio eterno:
Tu vives na primavera,
Eu morro no meu inverno.

MARCOS TAVARES

Marcos Tavares nasceu em 16 de janeiro de 1957. Estudante de Matemática e Estatística, na Universidade Federal do Espírito Santo. É um dos trovadores revelados pelo CTC.

HOMENINO
Não sou dado a milícias,
nem milito em partidos.
Sou menino sem malícias,
e igual homem, repartido.

NATAL
É Natal e sou tão pobre:
Não possuo nova veste.
Mas feliz, pois não me cobre
a pele nenhuma peste.

NEALDO ZAIDAN

Pernambucano de Caruaru, Nealdo Zaidan, que usa o pseudônimo de Matuto, reside no Espírito Santo desde 1973. Técnico em Contabilidade, é um dos mais dinâmicos trovadores do Estado capixaba. Nasceu no dia 25 de fevereiro de 1939.

Não falo por picardia
Mas é verdade no duro.
Mulher e fotografia
Só se revelam no escuro.

Seu batom é de carminho,
Tire o seu rosto do meu.
Se manchar meu colarinho…
Chego em casa: apanho eu.

PAULO FREITAS

Paulo Athayde de Freitas é o nome desse consagrado poeta e trovador capixaba. Nasceu em Rio Novo, Espírito Santo, no dia 28 de janeiro de 1902. Pertence, entre outras entidades culturais, à Academia Espírito-Santense de Letras. É uma das figuras mais representativas da Magistratura de seu Estado.

Vejo a imagem de Maria
nas luzes da Catedral,
tendo Jesus entre os braços
numa noite de Natal.

Vejo a imagem de Maria
envolta num lindo véu,
numa divina alegria
por entre os anjos do céu.

Vejo a imagem de Maria
na luminosa manhã
inspirando a poesia
nas plagas de Canaã.

Vejo a imagem de Maria
no templo, no céu, nos mares,
ouvindo suave harmonia:
– voz dos anjos nos altares.

Na brancura do luar,
na Prece, na Poesia,
na linda Estrela do Mar,
vejo a imagem de Maria.

ROOSEVELT DA SILVEIRA

Capixaba de Alegre, Roosevelt Flávio da Silveira, é funcion6rio do Banco do Brasil, residindo em Guaçuí, em seu estado natal. Formado em Direito, não exerce a advocacia. Pertence a diversas entidades culturais. Nasceu em 5 de setembro de 1947.

Muitas amizades temos
que não traduzem verdades!
A verdadeira só vemos
em nossas dificuldades.

Se os povos querem que a paz
reine sempre em toda a terra,
por que é que cada vez mais
fabricam armas de guerra?

A mulher quer igualdade,
que diz ser direito seu,
mas é escrava da idade:
não fala quando nasceu.

Um casebre num recanto,
um casal… felicidade.
Para que maior encanto
que amor e tranqüilidade?

A cobra, em bote certeiro,
mostra as presas, de repente…
Um amigo interesseiro
também age assim com a genie.

Em nossa terra é assim:
um homem só é lembrado
depois de chegar ao fim,
quando estiver enterrado.

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br/

Imagem = http://www.verdeamarelo.ning.com

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte VIII)

Convento da Penha, em Vila Velha, ES. Pintura de Sérgio Câmara
J. CABRAL SOBRINHO

O poeta José Cabral Sobrinho nasceu em Afonso CIáudio, Espírito Santo, em 30 de março de 1935. Há mais de 20 anos vive longe de sua terra natal, mas não perdeu o contato com a literatura espírito-santense. Trovador atuante e hábil sonetista. É militar da ativa do Exército Brasileiro.

Nesses sertões sofredores,
onde a seca se renova,
com a Fé dos sonhadores
cultivo safras do trovas.

Voando por entre as flores,
o beija-flor, todo dia,
numa profusão de cores,
é um exemplo de harmonia.

– Se o colega me permite
que um conselho seja dado,
é sempre bom que se evite
a trova de pé-quebrado.

Não há quem não fique roxo
de agonia, na parada,
ao ver um soldado coxo
marchando em cadência errada.

JOÃO MOTTA

João Motta nasceu em Cachoeiro de Itapemirim em 1881. Foi apenas jornalista e poeta, sendo que a maioria de suas produções literárias foram perdidas. Informa Evandro Moreira que, no ano do 1966, o jornalista Trófanes Ramos reuniu o que pode da vasta produção do poeta no livro “Poesias do João Motta”. Foi um poeta marcado pelos ideais libertários, tanto que o jornal “O Cachoeirense”, por ele dirigido, foi empastelado em 1906. Faleceu no dia 14 de fevereiro de 1914.

Aos sons da meiga cantiga,
folgava, sonhava e ria…
Muitas vezes, boa amiga,
chorando mesmo, sorria…

Sonhos do amor ela teve,
eu creio… também passaram,
ligeiros, e, nem de leve,
um rastro sequer deixaram…

No céu de sua existência
nenhuma nuvem tristonha…
Havia em toda a esplendência,
ridente manhã risonha…

Que te importa que desabe
o mundo? A vida seguindo,
padeces rindo! E, quem sabe?
Talvez que morras sorrindo..

Ide, sonhos de venturas,
saudosos, idos amores,
quero esposar as torturas,
dormir nos braços das dores.

Andei em plagas formosas,
vivi em mundos diversos,
singrando mares de rosas,
em barcos feitos de versos…

Ide, meus sonhos dispersos,
presos às asas dos anos;
deixai-me só com meus versos,
unido aos meus desenganos!

JOSÉ DE ANDRADE SUCUPIRA FILHO

Nascido em 9 de março de 1954, na Capital do Espírito Santo, José de Andrade Sucupira Filho é analista químico e concluiu diversos cursos técnicos.

Se a vida fosse sem lutas,
sem vitória. Só prazer.
Sem empecilhos. Escuta:
Teria razão viver?

Querendo saber a causa
do acidente de avião
teve a resposta sem pausa:
Esbarramos na inflação.

Pestes, fomes, mendicâncias,
não haveria, nem guerra,
se em todas as circunstâncias
dominasse o amor na terra.

Assombrou sábios nos templos
(Quanta maldade ao seu lado),
pregou o amor, deu exemplos,
depois foi crucificado.

JOUBERT DE ARAÚJO SILVA

Um dos mais conhecidos trovadores do Espírito Santo, Joubert reside há vários anos no Rio do Janeiro, onde faz parte da alta direção da União Brasileira de Trovadores. É um dos trovadores brasileiros mais premiados em concursos de trovas e jogos florais. Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim no dia 29 de novembro de 1915 e tem prontos para publicação dois livros do trovas.

Ela não anda, flutua…
mas com tanta e tanta graça,
que até os postes da rua
se inclinam, quando ela passa!

Enganam-se os ditadores,
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho

Muita gente que eu não gabo
lembra a pipa colorida:
– quanto mais comprido o rabo
mais alto sobe na vida!…

Aquela aranha paciente,
que tece despercebida,
lembra o destino da gente
e as armadilhas, da vida!

Minha alma lembra um menino
pobrezinho e de ar tristonho,
que estende a mão ao Destino,
pedindo a esmola de um sonho!

Ela se foi… E esta espera,
pouco a pouco, transformou
o moço feliz que eu era,
no poeta infeliz que eu sou!

Sejam “brotos” ou “coroas”
– Isto dispensa argumentos –
São sempre as mulheres “boas”
que inspiram “maus” pensamentos…

Pra botar fogo na gente
É assim que a mulata faz:
em cima estufa pra frente;
em baixo estufa pra trás!

Linda viuvinha, a Anacleta
nos deixa de vistas turvas..
Não pode ter vista reta
a dona daquelas curvas…

O segredo que o Biscalho
soube da esposa travessa
deu, por fim, “aquele galho”
que não lhe sai da cabeça…

“Só com o Zé se casaria…”
Jurou, e foi verdadeira:
Já tem três filhos Maria,
e continua solteira!..

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte VII)

Pintura de Lucy Aguirre
CARLOS JOSÉ CARDOSO

Fluminense, Carlos José Cardoso é bancário e reside há pouco tempo em terras capixabas. Cursou Contabilidade e Filosofia, que não chegou a concluir. Nasceu em 2 de abril de 1953.

Coração, amante louco,
E que carrega em seu cerne,
De toda verdade um pouco
Que Deus, amando, concerne.

Traze-me, vento da noite,
Toda a paz que a alma precisa.
Afasta de mim o açoite
Dando-me amor por divisa.

Nem tudo na vida tende
Àquilo que nós queremos;
A vida de Deus depende,
A sorte, nós a fazemos.

Vento que passa em meu rosto
Lembra teu beijo, querida,
Traz ao meu corpo o desgosto,
Dando-me em ti nova vida.

CLÉRIO JOSÉ BORGES

Clério José Borges de Sant`Ana é capixaba de Vila Velha, onde nasceu em 15 do setembro de 1950. É funcionário público estadual e professor. Está concluindo cursos de Direito e Pedagogia. Poeta e jornalista. É a figura máxima do trovismo capixaba, nos dias de hoje, por seu dinamismo. Organizou algumas coletâneas com outros trovadores.

Que mimo, estás a meu lado
Tão próxima, tão fagueira,
Enquanto eu embaraçado
Fico mudo a noite inteira.

São luzes de certo os sonhos
cheios de graça infinita
a iluminar-nos risonhos
na escuridão da desdita.

O belo luar prateado
e as estrelas cintilantes
formam conjunto encantado
na FOLIA dos amantes.

ELMO ELTON

Elmo Elton dos Santos Zamprogno é natural de Vitória, cidade em que vejo à luz em 15 de fevereiro de 1925. Poeta e ensaísta, é autor de diversas obras. Durante vários anos residiu no Rio do Janeiro. Recentemente retornou ao Espírito Santo e foi eleito Rei dos Trovadores Capixabas.

Conheço bem teu valor,
trilhamos igual caminho:
– Sei que te chamam de flor,
mas, nessa flor, quanto espinho!

Minha filha, não te iludas
com os beijos que te vão dar,
que os descendentes de Judas
estão em todo lugar.

Este pranto, sentimento,
deixa eu chorá-lo, tristonho,
que ele alivia, óleo bento,
a cicatriz do meu Sonho.

Anda a caçar pirilampos,
e, se consegue prendê-los,
desses insetos faz grampos
para enfeitar os cabelos.

Bate este sino, às novenas,
chamando o povo à oração:
– meu coração bate, apenas,
chamando por Conceição!

ELVIRO DE FREITAS

O médico Elviro Athayde de Freitas, nascido em Vitória no dia 21 de março de 1914, é exímio sonetista e autor de um grande número de trovas, verdadeiramente antológicas. Entre outras entidades culturais, pertence à Academia Cachoeirense de Letras.

Pede-nos, Nosso Senhor,
Que amemos os inimigos.
E eu pergunto se, a rigor,
Amamos nossos amigos…

A quem, dos moços, deplora
O tino, um lembrete eu dou:
Todos nós somos, agora,
O que um menino traçou.

Dentro da frase singela,
Uma profunda lição:
É melhor acender vela
Que xingar a escuridão.

Se nos víssemos assim
Como os outros vêem a gente
Este mundo tão ruim
Seria tão diferente…

Falam com tanta insistência
Em amor, em amizade
E, com a mesma freqüência,
Haverá sinceridade?

EVANDRO MOREIRA

Na histórica cidade de Cachoeiro de Itapemirim, o poeta Evandro Moreira nasceu. Advogado, jornalista e cronista, pertence a muitas entidades culturais do país e do exterior. É funcionário do Banco do Brasil. Sua data do nascimento: 27 de novembro de 1939. Publicou diversos livros, em prosa e verso. É um dos maiores divulgadores da literatura em terras capixabas.

Se beijo desse sapinho,
como tanto se apregoa,
sua boca, meu anjinho,
era beira de lagoa.

Quis brincar o meu destino
com meus sonhos de ilusão:
– Deu-me um rosto do menino
e de um velho o coração.

Pretendo ser nesta lida
humilde como a candeia
que, esquecendo a própria vida,
ilumina a vida alheia.

Quando sofro ingratidão,
em lamentos não demoro,
porque tenho um coração
que descanta o mal que choro.

Para quem sonha é mais leve
suportar a realidade.
O encanto de um sonho breve
disfarça a rude verdade.

Perdi-me na curva infinda
deste mundo de meu Deus,
por partir sem ter ainda
toda a luz dos olhos teus.

A saudade mais dorida
somente a pode explicar
quem espera, toda vida,
a quem não pode voltar.

As margens do rio são
sinuosas como o veio…
por isso é que minha mão
tem a forma de teu selo.

Não maldigas todo o mundo
por uma pena sofrida.
– O sofrimento profundo nos
faz entender a vida.

Por ironia ou maldade,
por outras coisas sutis,
quem busca felicidade,
é quase sempre infeliz.

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte VI)

Monte H, em Piúma (ES). Tela da
Escola Municipal de Educação Fundamental
Álvaro de Castro Mattos

ÁBNER DE FREITAS COUTINHO

Ábner de Freitas Coutinho, que também usa o pseudônimo de Percy Guido, é advogado e economista. Natural do Santo Antônio, Estado do Mato Grosso, onde nasceu no dia 15 de dezembro de 1926. Reside há mais de duas décadas no Espírito Santo. É professor e integra diversas instituições culturais.

Caravelas portuguesas,
mensageiras da História
foram, levando incertezas,
voltaram cheias de glórias…

Se poupança a gente encara,
logo descobre a verdade:
nossa metade mais cara
é nossa cara metade..

Meu pai, figura esquecida,
eterno semblante mudo,
o que fiz em minha vida
só a ti eu devo tudo…

Se pensar no seu irmão,
um instante, por favor,
sentirá no coração,
renascer fraterno amor!

ALBERTO ISAÍAS RAMIRES

Alberto Isaías Ramires é capixaba de Vila Velha, onde nasceu em 8 de setembro de 1924. Um dos mais representativos trovadores do Espírito Santo. Há vários anos residente no Rio de Janeiro. Militar (Capitão Rh do Exército). Autor de diversas obras e membro de várias instituições culturais do país. Ganhador de vários concursos literários.
Quando eu morrer, por favor
coloquem na minha cova
um epitáfio de amor
escrito em forma de trova!

Da vida, pelos caminhos,
uma coisa aprendi bem:
a roseira dá espinhos,
mas nos dá rosas, também…

Por nascer pobre, o Divino
num gesto compensador,
despertou, em meu destino,
a lira de trovador…

Não entendes meu desgosto,
mas aprende esta lição:
nem sempre pomos no rosto
as mágoas do coração.

Via-a rezando, contrita,
com os olhos fitos no céu.
Quanto pecado escondido
debaixo de um fino véu!…

Falar mal da vida alheia
é coisa que não convém;
quem tem telhado de vidro
não fustiga o de ninguém…

Lá se foi a meninice,
meu barquinho do papel,
minha ingênua peraltice,
meu doce Papai Noel…

ALYDIO C. DA SILVA

Alydio de Carvalho e Silva pertence a diversas entidades culturais do país. É natural de Santa Cruz, Espírito Santo, onde nasceu em 11 de abril de 1917. Industriário aposentado, reside há quase 30 anos, fora de seu estado natal. Além de poeta é romancista. Autor de centenas de trovas e outros poemas. Tem vários livros inéditos e participou de diversas antologias.
Vi num jornal estampado
o perigo que há no beijo.
Antes ser contaminado
do que morrer de desejo.

Quando passei pela estrada
e ouvi teu canto distante,
senti que a mágoa passada
reviveu naquele instante.

Carnaval, fraternidade
transitória e resumida,
onde se esconde a verdade
dos sofrimentos da vida.

Se passas muito apressada,
fugindo à minha atenção,
eu sinto a tua pisada
esmagar meu coração.

É doce morrer no mar…
Cayme receita a dose.
Só Cristo pra transformar
tanta salmoura em glicose.

AMAURY DE AZEVEDO

Também usando o pseudônimo de Yruama, Amaury de Azevedo, capixaba de Alegre, onde veio à luz em 1º de agosto de 1935, é comerciante e reside em Campos, no Rio de Janeiro. Mesmo afastado de sua terra natal, há mais de 27 anos, Amaury continua mantendo intercâmbio com poetas do Espírito Santo.

O capixaba não nega
O que lhe pedem com jeito.
Também não foge do pega,
Estufando logo o peito.

Quando toda a Cristandade
Vê passar mais um Natal,
Surgem novas esperanças
De uma paz universal.

ANDRADE SUCUPIRA

José de Andrade Sucupira é sergipano de Pacatuba. Há mais de 35 anos reside no Espírito Santo, onde militou na imprensa e foi funcionário público. Hoje está aposentado e reside em Vila Velha. Desde os anos 30 faz trovas, divulgando-as pelas páginas dos vários jornais em que trabalhou. É um dos Príncipes da Trova Capixaba, escolhidos pelo CTC. Nasceu em 22 de junho de 1909.
Meu espelho mostra a cara
sem vergonha, encarquilhada,
no corpo setenta anos,
muita canseira, mais nada.

Pela tapera da vida
O homem nasce lutando.
Luta, luta, lida, lida
e morre… sempre esperando.

No Brasil, coisa mais feia,
e coisa que mais consome…
Poucos de barriga cheia
e a maioria com fome.

Esses seus olhos traquinos
e vivos, vivos de mais,
têm nossos céus nordestinos
no verde dos coqueirais.

Sempre amar. Eis a verdade
do berço de qualquer vida.
Se o amor não tem idade…
Venha aos meus braços, querida!

Saudade… doce ternura,
espinho que se bendiz,
flor que fere com doçura
e deixa a gente feliz.

ANSELMO GONÇALVES

Pertencendo a diversas entidades culturais e por sua prática em favor da trova, Anselmo Gonçalves, capixaba de Vitória, onde nasceu em 21 de abril de 1929, é um dos mais atuantes trovadores do Espírito Santo. É funcionário público estadual e colabora na imprensa de sua terra natal.

Meu coração bate, insiste,
vai sacudindo, batendo.
A tudo ele bem resiste,
mas continua doendo.

Vela branca passa ao largo
Lá fora, longe, no mar.
Sua vida, sem embargo,
morre distante do lar.

Uma vida! Nosso amor
degringolou de repente.
Caiu da planta uma flor
resta a lembrança somente!

Toda tua indiferença
não consegue me vencer.
Sou todo amor e sou crença,
sou vida, e sou bem-querer!

ANTONIO TAVARES SUCUPIRA

Nascido em Vitória, no dia 12 de outubro do 1956, Antonio Tavares Sucupira é filho do trovador Andrade Sucupira. É, no campo profissional, engenheiro civil, formado pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Saudades dela? Talvez?
Se se pudesse voltar
Eu nasceria outra vez
Com a mesma mãe para amar.

E um certo amigo dizia
À sua cara-metade:
Já fui preso, que ironia!
Por querer a liberdade.

Seria o mundo feliz
E só haveria glória
Se todo o povo da terra
Nascesse aqui em Vitória.

ASSUMPÇÃO BOTTI

Manoel Assumpção Botti nasceu em Vitória no dia 15 de agosto do 1916. É advogado. Autor de muitos poemas e trovas.
Que não me empolgue a subida,
Que a humildade viva em mim,
Que eu suba sempre na vida
Sem me esquecer de onde vim.

Se pintor eu pintaria
A vida com duas cores:
Um pingo azul de alegria
Num fundo roxo de dores.

Quantos contrastes abriga
Minha existência bizarra:
Obrigado a ser formiga,
Eu que nasci pra ser cigarra.

Os meus tristes olhos baços
Do que sou dão a medida:
Um coração em pedaços
Num corpo quase sem vida.
—–

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Clério José Borges (A Trova Folclórica Capixaba)

Um dos mais importantes pesquisadores do Folclore do Estado do Espírito Santo foi o Professor Guilherme Santos Neves. Nascido a 14 de Setembro de 1906 e já falecido, o Professor Guilherme nasceu no Espírito Santo e foi membro da Academia Espirito-Santense de Letras. Publicou os livros “Cantigas de Roda”, em 1948 e “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares”, em 1949, entre outros livros.

GUILHERME SANTOS NEVES nasceu no dia 14 de setembro de 1906, na cidade de Baixo Guandu, ES. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu as funções de Juiz do Trabalho e Professor da Universidade Federal do Espírito Santo. Dedicou-se, de corpo e alma, ao estudo do Folclore, havendo publicado mais de cem livros e folhetos, entre os quais Cancioneiro capixaba de trovas populares (1949), Alto está e alto mora (1954), História popular do convento da Penha (1958), Folclore brasileiro: Espírito Santo (1959), Romanceiro capixaba (1980), Cantigas de Roda I e II (s/d), além de artigos e ensaios publicados em jornais e revistas especializadas. Foi membro do Conselho Nacional de Folclore. Faleceu em Vitória, ES, no dia 21 de novembro de 1989.

Antes de falecer, já bastante idoso, o professor Guilherme Santos Neves, no período de 1980 a 1989, participou de algumas promoções do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, chegando a prefaciar o livro “O Trovismo Capixaba”, de Clério José Borges, publicado em 1990.

Na Revista “Folclore”, órgão da Comissão Espirito-Santense de Folclore, número 92, publicada em agosto de 1979, o Professor Guilherme conta a história de Dalmácia Ferreira Nunes, uma mulher nascida em Caçaroca, pequena vila do interior de Cariacica, Espírito Santo que fôra trabalhar como empregada doméstica em sua casa.

Conta ele que Dalmacinha ou Macinha foi trabalhar em sua casa em março de 1946, ou seja três anos antes do professor Guilherme publicar o seu livro “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares.”

Dalmácia Ferreira Nunes era dotada de excelente memória. Humilde e de pouca instrução, tinha o privilégio, isto é, a qualidade de gravar com facilidade as cantigas e os versos que ouvia. Ouvira as cantigas e as Trovas de sua mãe e de suas tias, quando de noite se reuniam para conversar. Como naquele tempo as pessoas do interior não possuíam rádio e a televisão ainda não existia, pois só chegou no Brasil em 1950, o maior divertimento eram as reuniões que se faziam com as famílias durante a noite, no quintal das casas do interior do Brasil.

Assim as histórias, as cantigas e as Trovas eram contadas e cantadas pelos mais velhos e Dalmacinha, em Caçaroca, ainda criança, ia gravando-as na memória.

Literatura Oral era a forma praticada pelos antigos que contavam histórias e recitavam Trovas para os mais novos, numa época em que os livros eram raros, ou seja, quase não existiam. Assim Dalmacinha e muitas outras mulheres idosas e os conhecidos “pretos velhos” deste país, portadores de excelente memória, são os que dão excepcional contribuição para os pesquisadores, formando a Literatura Oral Brasileira.

Dalmácia faleceu a 13 de Agosto de 1968, sendo enterrada, junto aos seus parentes, no cemitério de Barra do Jucu, então um povoado, hoje bairro importante e turístico de Vila Velha, Município da Grande Vitória.

Na Revista já citada “Folclore”, de 1979, o artigo do professor Guilherme Santos Neves ocupa oito páginas. Ali estão 76 Trovas. Três estórias. Vinte e nove superstições e crendices, onde constam mais três Trovas e cinco Advinhas. O título é “Folclore de Caçaroca” e traz uma foto de uma senhora com um lenço na cabeça e a legenda: “Informante Dalmácia Ferreira Nunes.”

A primeira Trova refere-se ao fato de que, segundo o Professor Guilherme, Dalmácia: “Para comentar um fato, registrar um instante, para fixar um sentimento, dizia sempre uma Trova. Alguém falava em viajar, e logo, lá vinha a Trova adequada:

Adeus, minha sempre-viva,
até quando nos veremos.
As pedras do mar se encontram,
assim nós também seremos…”

Eis algumas Trovas Populares, resgatada do passado graças a oportuna pesquisa do Professor Guilherme Santos Neves e a memória de Dalmacinha e que constam do artigo publicado na Revista “Folclore”:

De correr venho cansada,
de cansada me assentei,
achei o que procurava,
agora descansarei…

Abacate é fruta boa
enquanto não apodrece.
O amor é muito bom
enquanto não aborrece…

Atirei um limão doce
na menina da janela.
Ela me chamou de doido,
doidinho estava eu por ela.

Eu não quero Santo alheio
dentro do meu oratório.
Eu só quero meu santinho
prá fazer meu peditório…

Eu perguntei à Fortuna
de que é que eu viveria.
Ela foi me respondeu
que o tempo me ensinaria.

Eu plantei um pé de cravo
na janela do meu bem.
Todo mundo passa e cheira,
eu não sei que cheiro tem…

Menino se tu soubesses
o bem com que eu te adoro,
fazia dos braços remo,
remavas prá onde eu moro…

Já fui amada e querida
até das flores do campo.
Hoje me vejo desprezada
de quem eu queria tanto.

Quando eu entrei nesta casa,
logo vi cheia de rosa,
meu coração logo disse
que aqui tem moça formosa…

Uma velha muito velha,
de tão velha se curvou.
Ouviu falar em casamento
a velha se endireitou…

Tanto verso que eu sabia,
veio o vento, carregou.
Só ficou-me na memória
o que meu bem me ensinou…

Vamos dar a despedida
como deu cachorro magro,
que encheu sua barriga
e foi sacudindo o rabo.

Fontes:
– Clério José Borges. Origem Capixaba da Trova. Serra, ES: 2007.
http://www.clerioborges.com.br/

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte V)

Pintura de Marcus Nati = Mimoso do Sul.
Cidade situada no Estado do Espírito Santo,
possui 14 mil habitantes e é também aonde ocorre
o Festival da sanfona e da viola no distrito de
São Pedro do Itabapoana.

O “Fim” do CTC

Um fato bastante desagradável para o Trovismo ocorreu durante as festividades do primeiro aniversário do Clube dos Trovadores Capixabas, entre os dias 1º e 3 de julho de 1981.

O CTC preparou festividades bastante sérias, com prestação de contas de sua diretoria, no dia 1º; palestras de Rodolfo Coelho Cavalcante e Eno Teodoro Wanke, no dia 3.

Lamentáveis foram os fatos ocorridos após a palestra de Eno Teodoro Wanke. Ali o autor afirmou, após aludir à dificuldade da missão que lhe foi imposta ao ser convidado para pronunciar uma das conferências:

Sobre o que escrever então? Sobre a História e as realizações do CTC? Isso cabe ao Clério, que, melhor do que ninguém, saberá recolher os dados e os expor num relatório que deixará muita gente perplexa com o quanto se pode fazer em tão pouco tempo. “

Pois Clério, com todo o dinamismo que é capaz, conseguiu neste curto ano, colocar a trova em seu verdadeiro caminho, o caminho da rosa. Suas realizações não se limitam ao CTC, mas também à UBT, com o renascimento da seção de Vitória, de Serra e diversas delegacias. Além disso, conquistou para a trova novos espaços, tanto nos jornais, como na televisão, nas escolas, como em boletins especializados, bem escritos e recheados de inovações e notícias sobre o mundo trovista. Realizou e provocou não sei quantos concursos. Foi um ano “de abertura” para a trova, não só em terras capixabas, mas em todo o Brasil. O CTC está ressuscitando aquele impulso que levava a trova milenar, na década de 1960, a ser considerada o centro do um movimento literário de grandes proporções, com o apoio de todos os grandes jornais do Rio de Janeiro, e repercussões no público de lá e outros centros.

Realmente, se pode parecer aos capixabas que o movimento do CTC é apenas regional, local, na verdade não é assim. Na correspondência que recebo, de todas as partes do Brasil, se fala, com escandalosa freqüência, e sempre em termos de admiração e louvor, no “Beija-Flor”, desde os mais recatados jornais provincianos, até os mais descabelados boletins vanguardistas. Acho que isto é o que vale, para a trova. É preciso não cair no nefelibatismo em que se encontra hoje a UBT, que deveria dar o exemplo de abertura e união, como abertamente escrevi em meu livro “O Trovismo”, da página 407 a 418, sem “meias palavras”. A UBT, lamentava eu, em resumo, tomara o caminho (também válido, porém parcial) de só promover festas e jogos florais, quando qualquer movimento artístico ou literário tem que, necessariamente, envolver o púbIico, agitá-lo, principalmente através dos meios de comunicação, divulgando as produções geradas, interessando e abrindo o caminho para os novos, pois de sangue novo é que se faz a renovação, e renovação é que dá continuidade ao movimento”.

Mais adiante, após historiar a forma com que se encontrou com Clério José Borges, escreve:
“Clério (…) com seu jeito objetivo de resolver as coisas, pediu-me orientação de como “ressuscitar” o trovismo em terras capixabas. Matutei. Que dizer a ele? Seria cômodo mandá-lo “engatar-se” na UBT, tornando-se mais uma sucursal do “turismo” ubetista. Não confundir tal “turismo” com o turismo de massa, aquele que é uma indústria, que traz dinheiro à terra onde é exercido. O turismo da UBT é elitista, exercido por uma certa quantidade do trovadores, dentro do círculo fechado onde estão as informações sobre os concursos. É tão fechado esse círculo, que mesmo os trovadores interessados, como eu, na trova, não conseguem facilmente o acesso a tais informações. Cheguei mesmo a assinar, certa vez, um desses boletins de UBT, enviando um cheque em favor do presidente local, conforme as instruções de assinatura do próprio Informativo, e babau! Não recebi nem o dinheiro de volta, nem uma explicação (…).

Por isso, que me perdoem os amigos que, felizmente, possuo em grande quantidade dentro da UBT, mas eu não poderia, naquele momento, honestamente, colocar este jovem e dinâmico líder sob a tutela do um órgão fechado. Ora, existia na ocasião, o Clube dos Trovadores do Vale do Paraíba, do meu amigo Francisco Fortes, que, independente da UBT, e por ela criticado por isso mesmo, estava fazendo algum movimento. Lembrei-me, baseado nesse exemplo salutar, de propor ao Clério, não a filiação à UBT, mas a criação de um Clube independente, local, que com o tempo, poderia se estender por todo o Brasil, (como aliás, sucedeu à UBT, entidade baseada no GBT, criado por Rodolfo Cavalcante em Salvador, em 1958)”.

Essas colocações de Eno Teodoro Wanke, quanto à UBT, revoltaram o trovador Joubert de Araújo Silva, capixaba, que já foi alto dirigente da UBT Nacional.

Eis o que conta José Borges Ribeiro Filho, em artigo publicado no jornal A GAZETA, de 29 de julho de 1981: “Agora, em A Gazeta de 18 do Julho de 1981, leio o artigo intitulado “Desparabéns” de autoria do Sr. Eno Teodoro Wanke, autor dos livros: “A Trova Popular”, “A Trova”, “A Trova Literária” e “Trovismo”, em que é denunciada a ingerência de um determinado trovador ligado à UBT Nacional, e que já se encontrava em Vitória há vários anos e nada fez pela trova nesse período, para extinguir o CTC. Estive no último dia do Seminário Nacional da Trova realizado em Vila Velha, no dia 3 de julho e lá observei a movimentação de determinado trovador, defendendo interesses da UBT Nacional, em tentar acabar com o CTC. Lembro-me bem que, quando procurava argumentar suas idéias o citado trovador foi interrompido bruscamente pelo poeta Andrade Sucupira que de alto e bom som afirmou “enquanto eu viver, o CTC não morrerá. Ninguém vai acabar com o CTC”.

José Borges Ribeiro Filho comete um engano ao afirmar que Joubert de Araújo Silva encontrava-­se em Vitória há vários anos. O trovador de Cachoeiro de Itapemirim reside no Rio de Janeiro e se encontrava em vitória desde inícios de 1980.

Após esses incidentes, CIério José Borges afastou-se definitivamente da União Brasileira de Trovadores, através de uma “CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA UBT NACIONAL NO RIO DE JANEIRO”, publicada no CORREIO POPULAR, de Cariacica, número referente à semana de 11 a 23 de julho de 1981.

Inicialmente, historia as atividades do CTC, sua nomeação para delegado da UBT em Vitória (mesmo com a presença de Joubert no Espírito Santo) e a organização da UBT em solo capixaba. Depois afirma:

O CTC continuou com suas promoções, realizando concursos internos, expedindo o informativo BEIJA-FLOR e promovendo a realização do concurso REI, PRÍNCIPE e MADRINHA dos trovadores capixabas, no qual os sócios do CTC tiveram oportunidade de votar em diversos nomes. O concurso foi lançado por esta coluna, no dia 16 de janeiro de 1981 (Nota: Clério José Borges refere-se à coluna “Trovas e Trovadores”), no CORREIO POPULAR e no dia 21 de janeiro de 1981, no JornaI TRIBUNA DO POVO, da cidade de Guarapari. No dia 30 de janeiro, nova divulgação foi feita no jornal CORREIO POPULAR, onde, inclusive, sugeríamos que Elmo Elton era um candidato nato, assim como Zedânove Tavares, Paulo Freitas e Evandro Moreira. O jornal CORREIO POPULAR, que é enviado a todos os sócios do CTC, pareceu-me o jornal ideal para o lançamento do tal concurso, posteriormente divulgado no Beija-Flor, onde colocamos, inclusive, uma cédula de votação.

O concurso foi realizado com a eleição de Elmo Elton, a minha e a de Andrade Sucupira. À exceção da minha escolha, realizada como uma homenagem ao meu modesto trabalho, considerei a eleição feita, democraticamente, bastante justa. Elmo Elton é membro da Academia Espírito-Santense de Letras e tem vários livros publicados. Paulo Freitas e Evandro Moreira, que também concorreram ao título de rei, são integrantes da Academia Espírito-Santense de Letras e possuem vários livros publicados. Como a promoção foi do CTC, entidade cultural independente, achamos tudo altamente válido.

Agora, surge um elemento estranho ao CTC a criticar o concurso, como se desejasse ter sido escolhido rei, só por ter o título do Magnífico Trovador dos Jogos Florais do Nova Friburgo. Não é bastante conhecido como trovador no Estado e nem pertence à Academia Espírito-Santense de Letras.

Está pregando a discórdia entre os trovadores capixabas e, o que é pior, o aniquilamento e a extinção do CTC. Chegou a propor-me que acabasse com o CTC, que ele incentivaria a criação de novas seções da UBT no Estado e posteriormente seria formado um conselho estadual da UBT, no qual meu nome seria indicado para presidente. Esta atitude revoltou-me e, aqui, dirijo-me a V. Sa., renunciando a quaisquer vínculos que ainda me unam à UBT”.

A seguir, reafirmando suas ligações com Eno Teodoro Wanke, ex-alto dirigente da UBT Nacional, hoje condenado pela entidade, acrescenta:

O CTC realmente foi criado com base numa idéia de Eno Teodoro Wanke. Todavia não obedece e nem está servilmente colocado a serviço do senhor Eno Wanke. Apenas o admiramos corno escritor e, por isto, promovemos sua vinda a Vitória, onde brindou-nos com uma magnífica palestra, tendo, na oportunidade recebido, juntamente com Rodolfo Coelho Cavalcante, o título de MAGNÍFICO TROVADOR, dado pelo CTC e o título de sócio de honra da UBT de Vila Velha, conferido pela trovadora Valsema Rodrigues da Costa, numa demonstração de que nós, os capixabas, estamos acima de fofocas e intrigas (…)”.

Temos, aí, historiado a partir de documentos, o que aconteceu com a proposta de extinção do CTC, feita por Joubert de Araújo Silva.

Cremos que se está passando com o Trovismo um fenômeno que ocorre com as correntes religiosas provenientes da mesma origem ou com os partidos marxistas. Para os integrantes de quaisquer uma das primeiras, apenas os membros da sua confraria irão para o céu (ou sei lá para onde acreditem que irão), pois estão com a verdade; para os integrantes dos partidos marxistas apenas os militantes da sua organização têm capacidade de modificar o mundo, pois estão certos e os outros errados…

Esse fenômeno, na análise das idéias sociais tem um nome: Sectarismo; na análise da Literatura, chama-se Aulicismo.

No caso do movimento dos trovadores contemporâneos apenas os de determinada entidade (seja qual for) estão agindo corretamente e são os melhores.
Parece que os trovadores esqueceram-se de que seu padroeiro (São Francisco de Assis) sempre se guiou pela humildade.

Quanto aos títulos de “sócio de honra”, outorgados pela UBT de Vila Velha parece-nos que eles fogem ao que dispõe item 7, do artigo 55, do “REGIMENTO INTERNO GERAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES”, publicado no jornal “TROVAS E TROVADORES”, nºs 20-21, set-out de 1967, que foi “Órgão Central da União Brasileira de Trovadores”, onde assegura que “São atribuições dos Presidentes Estaduais: (…) 7 – Propor e assinar títulos de Sócio Benemérito e Honorário, previamente aprovados pelo Conselho Estadual”.

Evidentemente, a trovadora Valsema não tem culpa se a edição daquele Regimento estiver esgotada.

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte IV)

Praia do Canto e Seribeira (Guarapari) pintura a Óleo de Antonio Remo

LIVROS
Quando, em 1980, foi realizado o I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória, a Fundação Cultural do Espírito Santo prometeu editar um livro com as trovas premiadas.
Posteriormente esse órgão dedicado à cultura foi extinto.
Aliás, em nossos tempos de usinas atônicas e foguetes carregados com ogivas nucleares, as instituições públicas voltadas à cultura desaparecem num piscar de olhos.
Extinto aquele órgão, o CTC partiu para a publicação da obra em forma de mutirão poético, cada um dos autores pagando parte do valor da edição.
Na obra, além das trovas vencedoras daquele concurso foram incluídas quadras de vários associados do Clube.
BALANÇO DAS ATIVIDADES
É mister que se faça uma análise rápida de todas as atividades desenvolvidas pelo Clube dos Trovadores Capixabas em seu primeiro ano de existência.
Em primeiro lugar, poderíamos destacar uma das características marcantes do Trovismo: a realização de concursos de trovas.
Aqui vemos o CTC filiado à prática tradicional dos concursos de trovas e, por outro lado, apoiado pela televisão – esse veículo de comunicação de massas tão importante quanto suspeito por muitos, e preocupado com a divulgação da trova junto às crianças.
Este é um dado novo e valioso, que merece reflexão e análise de todos aqueles que se preocupam com a prática da trova.
Por outro lado, pelas características próprias do BEIJA-FLOR, tem, o CTC, cuidado em criar um relacionamento mais direto e fraterno entre os trovadores.
Quanto aos concursos infantis de trovas, essa prática salutar desenvolvida pelo Clube dos Trovadores Capixabas, tem passado a ser uma característica também de novéis seções ubeteanas no Espírito Santo.
O “CASO ZEDÂNOVE X ENO”
O I Concurso de Trovas da Cidade de Vitória teve uma comissão julgadora respeitável. Proporcionou, contudo, um episódio inédito na história da trova.
Em 27 de novembro de 1980 o jornal A GAZETA, de Vitória, publicava o artigo “AS NOTAS DO ENO”, de Zodânove Tavares.
Nesse artigo o ex-presidente da UBT de Vitória, que foi um dos juizes do concurso, conta que Eno Teodoro Wanke, outro juiz do mesmo concurso, deu zero a duas trovas concorrentes, entre outras.
Eis o que diz Zedânove:
“(…)
Vejamos uma das trovas concorrentes:

“Cá, na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza,
em meio a um povo com fome”.
Nota do Eno: zero. Alegação: “canárea”. Isso mesmo. Ele alega que o “Cá, na área” é uma cacofonia. Sem comentários.
Vejamos outra:
Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião”.
Nota de Eno: zero. Alegação: anticlerical”.
Mais adiante Zedânove segue suas acusações contra as notas atribuídas por Eno a trovas onde ocorriam fenômenos de sinérese (como An-chie-ta) ou diérese (An-chi-e-ta), polemizando em torno dessas questões bastante complexas de metrificação.
A resposta de Eno Teodoro Wanke veio pelo mesmo jornal, dia 20 de dezembro de 1980, em artigo que foi repetido dia 31 de dezembro daquele mesmo ano.
Após perguntar: “que melhor elogio se pode fazer a um juiz de concurso de trovas do que dizer que foi rigoroso, ou seja, de querer contribuir para um bom resultado final?”, continua seu trabalho revelando assuntos de economia interna do Concurso, quanto à forma de atribuição de notas às trovas concorrentes e reafirmando seus pontos de vista quanto à sinérese e à diérese, já expostos em obra de sua autoria. Prosseguindo em sua defesa, assevera, referindo-se às trovas lembradas por Zedânove: “Não sei de quem são tais trovas, e nem desejo saber, pois julguei foi a trova e não os trovadores. As duas como se verá são chochas e prosaicas, totalmente desinspiradas. Observem:
Cá na área da pobreza,
Vitória muda de nome:
ela é chamada Tristeza
em meio a um povo com fome.
Além daquela “canária da pobreza”, que destrói a trova logo do início, a imprecisão de linguagem é notável. Parece vagamente urna trova de protesto. Renovo meu zero.

Anchieta e Giordano Bruno
foram irmãos, santos são,
filhos do mesmo Deus, uno,
que não tem religião.

Esta trova dá o que pensar em matéria de coisa mal feita. Há dualidade de contagem silábica. No primeiro verso, conta-se “An-chie-ta e Gior-da-no”. O autor utilizou, portanto, de sinérese. Contou tanto “Anchieta” e “Giordano” como tendo três sílabas. Poderia ter contado quatro: “An-chi-e-ta” e “Gi-or-da-no”, forma que Zedânove diz, em seu artigo, preferir. Mas contou três. Sucede que, para ser coerente, deveria, no último verso, utilizar-se do mesmo recurso: “religião” (outra dessas palavras-armadilhas) deveria ter sido contatada como tendo três sílabas fônicas, e não como está, para contentar a metrificação, com quatro (…).
Mas tem mais. Vejamos o sentido da trova, a mensagem que deseja transmitir. Acho que tomar Giordano Bruno, o filósofo irrequieto, envolvido primeiro num caso de assassinato quando monge dominicano em Roma, depois expulso pelos calvinistas quando se tornou um deles, e ainda por cima excomungado pelos protestantes, sempre procurando brigas e discussões filosóficas, e terminando, come se sabe, preso e queimado pela Inquisição, e compará-lo ao meigo Anchieta, o exemplo da submissão, que tudo abandonou – pátria, família, a vida mais fácil – para servir a Deus, servindo aos nossos indígenas, acho “forçar a barra”. Nenhum dos dois foi nem é santo. Anchieta foi apenas beatificado pela Igreja. E dizer que Deus não tem religião é, para mim, um paradoxo tão divertido que até estou utilizando para um clec. Outro zero para esta trova!”
Aém desses dois artigos, o veterano trovador A. Isaías Ramires, um dos mestres da trova no Espírito Santo, concorreu à discussão, com duas publicações, em jornais de Cariacica e Alegre.
Felizmente esse episódio desagradável ficou em quatro artigos.
Quanta às questões levantadas por Zedânove Tavares, analisando “as notas do Eno”, parece-nos que prevaleceu a emoção sobre a razão. Caso contrário não teria partido para a análise técnica da confecção trovística, onde Eno foi cem por cento correto. Antes teria censurado as explicações ideológicas: ter desclassificado uma trova par considerá-la anticlerical.
Um agnóstico tem o dever de reconhecer a beleza do uma trova mística, religiosa ou qualquer outro nome que se lhe dê, quando for bela, e um cristão, por sua vez, tem o dever de reconhecer a beleza de uma trova, mesmo anticlerical. Com isso não queremos dizer que a trova em pauta seja bela.
Dizíamos que, nessa polêmica, Zedânove talvez tenha entrado mais com a emoção porque a primeira trova é de autoria do veterano trovador Andrade Sucupira, seu pai.
Quanto à segunda, embora, seguindo a mesma “linha poIêmica” da primeira, desconhecemos sua autoria.
Felizmente, repetimos, o “Caso Zedânove x Eno”, conforme batismo de A. Isaías Ramíres, é caso encerrado.
A UBT
Nos primeiros meses de 1981 graças aos esforços de Clério José Borges, começaram a surgir representações da União Brasileira de Trovadores no Espírito Santo.
A primeira seção fundada foi a de Vitória, no dia 30 de março. Seu presidente, o advogado Carlos Dorsch, contando com a presença, em sua diretoria, dos trovadores: Eurídice de Oliveira Vidal, Elmo Elton, Clério José Borges, José Wiliam de Freitas Coutinho, Eymard Cardoso de Barros, Argemiro Seixas, Matusalém Dias de Moura, Luiz Carlos Braga Ribeiro, Albécio Nunes Vieira Machado, Fernando Buaiz e Vicente Nolasco Costa.
Essa representação da União Brasileira de Trovadores foi instalada em conseqüência do trabalho de proselitismo desenvolvido por Clério José Borges, desde os inícios de 1980, delegado municipal da UBT em Vitória.
A segunda seção da UBT, no Espírito Santo, surgiu em 25 de abril de 1981, na cidade de Vila Velha.
Ali, também, esteve presente o esforço de Clério José Borges, pois o delegado local da UBT, Andrade Sucupira, por urna questão do foro íntimo, é bastante descrente quanto a entidades trovadorescas.
A UBT de Vila Velha ficou sob a presidência da professora Valsema Rodrigues da Costa e as demais funções da diretoria distribuídas entre os seguintes trovadores: Erasmo Cabrini, Rosalva Fávero, Irene Ramos, Argentina Lopes Tristão, Vicente Costa Silveira, Solange Gracy Barcelos, Tânia Mara Soares, Verany Maria de Souza, Julieta Lobato Barbosa, Aldinei Fraga de Carvalho e Inis Brunelli.
Em Vitória, CIério José Borges manteve o boletim informativo ESTANDARTE, que continuou sendo editado sob a responsabilidade da seção ubeteana local, o mesmo acontecendo em Vila Velha, com Andrade Sucupira, que criou o CANELA-VERDE.
Mas não ficou apenas aí a penetração da UBT, que conquistou representações em Cariacica, com Nealdo Zaidan, em Serra, com Anselmo Gonçalves, e em Cachoeiro de Itapemirim, com Byron Tavares.
Além disso, foram surgindo delegacias da UBT em outras cidades.
Saliente-se que as seções da UBT, em Vitória e Vila Velha, seguindo os caminhos abertos polo CTC, já de início, realizaram concursos estudantis de trovas, sob os temas ALUNO e MÃE, respectivamente.
Eis aqui o resultado oficial do Concurso Infantil de Trovas, promovido pela UBT de Vitória:
1º lugar – CARLA CRISTINA JUFFO (13 anos):
Não ligo que o mundo rode
se minha MÃE ficar bem.
E penso como é que pode
gostar tanto assim de alguém.
2º lugar – SHEISE BARROSO (14 anos):
Quem é esta bela criatura
que Deus fez com perfeição?
Mãe, grande e linda figura
guardada em meu coração.
3º lugar- MANOEL S. DA ROCHA MONTEIRO (9 anos):
Quando te vejo, mãe amada,
Fazer tranqüila o crochet,
me lembro da “Mãe Sagrada”
que parece com você.
4º lugar – SONIA MARIA COSTA (I3 anos):
No céu escolhi uma estrela.
No jardim escolhi a flor.
No mundo escolhi uma mãe,
para ser meu grande amor.
5º lugar – ADRIANA R. DA COSTA (8 anos):
A minha mãe é mulher
e é mulher “maravilhosa”!
Dá mil voltinhas por dia
tentando ajudar suas filhas.
Menções honrosas, foram conferidas às seguintes trovas:
I – Uma criança veio ao mundo
porque uma Mãe assim o quis,
sendo surdo, sendo mudo
ficará sempre feliz!
MARISA HORTA (14 anos)
II – Mãe, palavra angelical,
Nos faz pensar em amor.
O amor que dá é total.
Vem direto do Senhor.
MARISA HORTA (14 anos)
III – Minha Mãezinha querida,
Te amo mais que outras mil.
Peço a Deus para abençoar
todas as mães do Brasil!
ADRIANA DA CONCEIÇÃO SANTOS (11anos)
IV – Mãe, teu nome pequenino
– amor, ternura, perdão.
Ele é um poema divino
escrito em meu coração.
FABÍOLA TRANCOSO CARVALHO (13 anos)
V – Para a mamãe, neste dia,
eu vou lhe dar uma flor,
a bela flor da alegria
e junto a rosa do amor!
ANA LIZA R. DA COSTA (11anos)
VI – Ser mãe é ser como a flor,
ser a flor mais colorida.
É a flor de um grande amor;
é o amor da minha vida!
ANDRÉ ANDERSON DE OLIVEIRA (11 anos)
VII – Minha mãe, minha alegria,
meu tesouro grandioso.
vou guardá-lo com carinho
porque é muito valioso.
ROSINETE ALVES MATIAS (16 anos)
VIII- Flores, mamã, pra você
é tudo que tenho em mim.
A culpa é sua porque
fez do minh`alma um jardim.
MARTA HELENA VANCONCELOS (11 anos).
IX – E quem respeita à menina
à futura mãe respeita.
Mãe é linda obra divida
a for mais bela e perfeita.
VIVIANE GARCIA (11 anos)
X – Ser mãe não é brincadeira,
não é somente viver.
É subir, descer ladeira,
é lutar pra não morrer!
MARILDA LIMA NASCIMENTO (12 anos)
—————–
continua
—————-
Fonte:

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Paulo Monteiro (A Trova no Espírito Santo – Parte III)

Bruno Camilo (Natureza Capixaba)
O II Concurso Interno do CTC teve NATAL como terna, e foi realizado em dezembro de 1980.

O vencedor desse concurso foi João Figueiredo, residente no Rio de Janeiro, com esta trova:

Nascer, morrer! Coisas certas.
Que no Natal vêm à Iuz:
Os Magos levando ofertas
E Cristo levando a Cruz.

O III Concurso Interno do CTC, realizado entre janeiro e fevereiro do 1981, teve dois temas: COLOMBINA, somente para os sócios fundadores da entidade, e CARNAVAL, para os sócios correspondentes, isto é, nem capixabas de nascimento ou residentes no Espírito Santo, mas “correspondentes’ da entidade noutros Estados.

Venceram-no, com as respectivas trovas, os seguintes trovadores:

Tema COLOMBINA:

1º lugar – MILSON ABREU HENRIQUES:

Fui Pierrot num Carnaval
num outro fui Arlequim.
Mas Colombina afinal
fez um palhaço de mim.

2° lugar – J. CABRAL SOBRINHO:

“A Colombina fatal”,
(ouvi dizer num forró),
foi gíria de Carnaval
do tempo de minha avó.

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:

O Carnaval de hoje em dia,
em verdade, desatina.
É carnaval sem poesia,
sem PIERROT, sem COLOMBINA.

4º lugar – BEATRIZ ABAURRE:

Com um tema que fascina
eu tentei fazer poesia:
Foi um sonho, Colombina!
Não passou de fantasia…

5º lugar – NEALDO ZALDAN:

Já não se brinca com “Lança”,
nem confete ou serpentina.
Mas todos têm na Iembrança
uma linda Colombina.

Menção Honrosa – ÁBNER DE FREITAS COUTINHO:

Na folia, a Colombina,
sempre marca, onde estiver
com graça bem feminina,
a presença da mulher…

No CARNAVAL, o vencedor foi o trovador cearense ALOÍSIO BEZERRA. Eis a trova:
Pela imensa Carestia,
Tolhendo a paz nacional,
Seria bom, Oh! Seria…
Não houvesse carnaval!
Aloísio classificou-se ainda em terceiro lugar, Carlos de Alencar em segundo e quinto e Carlos Ribeiro Rocha, em quarto.

Já o IV Concurso Interno, realizado entre fevereiro e março de 1981, com tema único PÁSCOA, teve como três primeiros colocados, com as seguintes trovas, os trovadores abaixo:

1º lugar – FERNANDO ANTONIO LIMA CASTOR:

A Bíblia, sagrado arquivo,
mostra a PÁSCOA aos fariseus…
JESUS CRISTO redivivo,
voltando aos braços de DEUS.

2º lugar – ARGENTINA LOPES TRISTÃO:

Páscoa da Ressurreição,
do sacrifício, da dor.
Ficou-nos grande Iição:
– A glória eterna do amor.

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:

Depois da morte, Jesus
surge para a redenção.
É PÁSCOA feita de Iuz
iluminando o cristão.

Finalmente, o V Concurso Interno do CTG respeitou o tema “Cinco de maio – Dia das Comunicações e do Expedicionário”.

As trovas concorrentes, julgadas por uma comissão de donas de casa, somaram 46. Venceram-no as seguintes trovas:

1º lugar – CARLOS RIBEIRO ROCHA:

Contra o poder arbitrário
foi lutar sem covardia,
o nosso Expedicionário…
– Cinco de maio é seu dia!

2º lugar – ÁBNER DE FREITAS COUTINHO:

Quem se isola, se angustia
abra a mente, meu irmão,
Cinco de Maio é o dia
de ter comunicação…

3º lugar – ARGEMIRO SEIXAS SANTOS:

Cinco de Maio me apraz
por seu festejo correto,
a comunicação faz,
do mundo menor, mais perto.

4º lugar – ALOÍSIO BEZERRA:

Cinco de Maio: Que Glória!
Lembrando realizações!
Nacional dia da História
Dessas Comunicações!

5º lugar – AMAURY DE AZEVEDO:

Mês de maio, dia cinco,
dia da Comunicação,
quando os homens com afinco
lutam por mais união.

Menção Honrosa – JOSEFINA DA SILVA CARVALHO:

Mês das comunicações,
cinco de maio é o dia
das grandes inovações,
trazendo sabedoria.

CONCURSOS INFANTIS

Dentre as atividades do CTC no campo dos concursos de trovas merecem destaque aquelas que se relacionam à preocupação do Clube em divulgar a trova e sua prática junto às crianças.
Aqui temos que salientar a coIaboração de Milson Henriques, apresentador do programa infantil “A GAZETINHA”, DA TV GAZETA, de Vitória.

Milson, que também é trovador, tem sido o promotor maior desses concursos, entre crianças de até 15 anos, o primeiro dos quais foi realizado em janeiro de 1981, com ótima participação, obedecendo ao toma FÉRIAS.

Eis os cinco primeiros colocados:

1º lugar – RONALD HELMUT CEKAL:

Sempre que chegam as férias,
saio, correndo, a brincar,
alegremente, sorrindo,
como um pássaro a voar.

2º lugar – MÁRCIA HILDILENE MATHEILO:

Fazer trovas sobre férias?
Que idéia mais maluca.
Nas férias quero passear,
Brincar, descansar a cuca.

3º lugar – TATIANA BAHIENSE FREITAS:

Ah! Se fosse-me possível
alguém estudar por mim.
Eu teria sempre férias,
seriam férias sem fim…

4º lugar – SIRLENE SILLER SIQUEIRA:

Minhas férias serão tristes,
pois não tenho onde morar.
Eu vivo num orfanato
e aqui terei que ficar.

5º lugar – SIRLENE SILLER SIQUEIRA:

Nas minhas férias deste ano
caso sério aconteceu:
Fui brincar co`um cachorrinho
e o danado me mordeu.

Para esse I Concurso de Trovas do programa infantil “A GAZETINHA”, foram enviadas mais de duzentas trovas.

O II Concurso, sob o tema PROFESSORA, teve urna concorrência significativa e, nos primeiros lugares, esta classificação:

1º lugar – ELIVANI TEIXEIRA (9 anos):

Eu disse pra professora
que estava um pouco cansada.
Como eu sou pexinho dela
a matéria não foi dada.

2º lugar – GERUZA APARECIDA FERECHI (14 anos):

Minha vida de criança
esta escola iluminou
com as letras do alfabeto
que a professora ensinou.

3º lugar – SAYONARA FREITAS CAMPOS (14 anos):

Eu quero ser professora,
passe o tempo que passar.
Tudo aquilo que aprendi
vou com carinho ensinar.

Mas os concursos de “A GAZETINHA” não pararam. O terceiro obedeceu ao tema PASSARINHO.

O BEIJA-FLOR

BEIJA-FLOR é o nome do Boletim Informativo do Clube dos Trovadores Capixabas.

Seu primeiro número foi publicado, em mimeógrafo à tinta, em outubro de 1980, com tiragem de 300 exemplares.

Beija-Flor – ficamos sabendo através de uma nota desse primeiro número – é “o pássaro que lembra a cidade capixaba de Santa Teresa, o Museu “Melo Leitão” e o cientista Augusto Ruschi…”

Poderíamos anotar algumas características do BEIJA-FLOR.

Destacamos estas duas:

1 – Ao lado de notas de economia interna da Entidade: novos sócios, doações, elogios, etc., publica trovas e notícias gerais de interesse para todos os trovadores;

2 – Divulgando endereços de trovadores é um vigoroso instrumento par a integração dos poetas da quadra.
–––––––––––––––––––-
Continua…

–––––––––––––––––––-
As partes anteriores:
Parte I –
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/09/paulo-monteiro-trova-no-espirito-santo.html
Parte II –
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/09/paulo-monteiro-trova-no-espirito-santo_30.html

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br

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Trova LXV

Trova sobre quadro de Cristina Rabelo

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte II)

Pintura capixaba de Ignácia Macedo

VILA VELHA

Vila Velha, como já dissemos, também teve seu concurso de trovas, uma promoção modesta e menos ousada que as anteriores. Em 1971, sob o tema PELÉ.

0 vencedor do I CONCURSO DE TROVAS DE VILA VELHA, organizado pela UBT local, foi o saudoso trovador Cegídio Ambrogi, de Taubaté, com esta trova:

Que o Brasil todo enaIteça,
tanto a Rui, como a PELÉ.
Se um o honrou pela cabeça,
o outro o honrou usando o pé.
CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS

Conforme vimos, antes, a UBT não teve uma existência muito fértil no Espírito Santo.

Parece que ela não se transformou no Clube dos Trovadores Capixabas (CTC) como disse o professor José Augusto Carvalho.

Da UBT, no Espírito Santo, porém, sobrou o exemplo que, tal qual a Fênix, renasceria no CTC.
Esse exemplo sobrou principalmente em/e para o penúltimo presidente da UBT de Vitória e Vila Velha, um jovem de 20 anos, nascido em 15 de setembro do 1950: CIério José Borges de Sant`Anna.

Não nos é difícil compreender – a nós que vivemos experiência semelhante – quanto pesa ver alguma coisa em que se depositou todo o desprendimento juvenil tombar sob a guilhotina inexorável dos acontecimentos.

Então, CIério José Borges, entre seus compromissos de trabalhador, chefe de família e estudante, passou a freqüentar bibliotecas à cata de materiais relacionados com a trova no território capixaba.

Numa dessas idas e vindas, em busca de informações úteis aos seus planos de pesquisa, na Biblioteca Pública de Vitória, deu de cara com “O TROVISMO”, um Iivro de Eno Teodoro Wanke, historiando o movimento dos modernos trovadores brasileiros.

Visto que ali quase nada se encontra com relação à trova em terras espírito-santenses, Clério José, feito uma fera, escreveu ao autor do livro.

Acabaram ficando amigos.

Dessa amizade surgiu a idéia de reativar o movimento em torno da trova em terras capixabas.
Sabe-se que CIério José pretendia uma entidade basicamente local. Somente “capixaba”. Aos poucos se convenceu de que era necessário criar vínculos entre os trovadores capixabas organizados e trovadores de outras plagas.

Esclareça-se que o CTC entende, “para efeito de inscrição no Clube, como capixaba o (trovador) nascido no Espírito Santo e os que residam no Estado”.

Assim é que o Clube dos Trovadores Capixabas foi fundado em 1º de juIho de 1980.

ATIVIDADES DO CTC

CONCURSOS NACIONAIS

A primeira atividade do Clube dos Trovadores Capixabas, que o projetou nacionalmente, foi o I CONCURSO DE TROVAS DA CIDADE DE VITÓRIA.

A realização do evento ficou sob responsabilidade do CTC e da Federação Cultural do Espírito Santo.

Dois foram os temas apresentados aos concorrentes: CAPIXABA, para as trovas humorísticas, e ANCHIETA, para trovas laudatórias, com referência ao padre José de Anchieta, há pouco beatificado.

Os três primeiros colocados, no primeiro tema, com as respectivas trovas:

1º lugar – ZÉ DE ÁVILA:
Na casa de um capixaba
se a gente chega sem pressa,
a pressa logo se acaba
quando a conversa começa.

2º lugar – JOÃO FIGUEIREDO:
Festa no Espírito Santo…
Quem for mineiro não vai.
– Você, aí nesse canto…
– Eu sou Capixaba… Uai.

3° lugar – IZO GOLDMAN:
O Capixaba garante
que sua terra é um encanto:
– Espírito tem bastante…
– o que falta mesmo é… Santo…


Já sob o terna Anchieta os três primeiros lugares ficaram assim distribuídos:
1º lugar – RANGEL COELHO:
Anchieta, pelo que diz
seu evangelho de luz,
foi o FRANCISCO DE ASSIS
das terras de Santa Cruz.

2º lugar – ALOÍSIO BEZERRA:
Lá no céu muito chorou
ANCHIETA, e tem chorado
que o índio, a quem tanto amou
no Brasil só tem penado.

3º lugar – VICENTE NOLASCO COSTA:
Vitória dos meus encantos
coração do meu planeta,
venero, dentre teus santos,
o grande santo ANCHIETA.

.
No dia 4 de outubro do 1980, no Teatro Carlos Gomes, de Vitória, em sessão solene, foram entregues os prêmios aos vencedores desse primeiro concurso, e diplomas aos sócios fundadores e sócios de honra presentes.

Logo depois, a Fundação Cultural foi extinta e o livro com as trovas – quarenta ao todo – vencedoras do CONCURSO DE TROVAS DA CIDADE DE VITÓRIA ficou sem patrocinador.

CONCURSOS INTERNOS

Uma outra característica marcante do Clube dos Trovadores Capixabas é a realização quase que permanente de concursos internos de trovas. Estes elevaram-se a cinco no primeiro ano do existência do CTC.

O primeiro desses concursos foi realizado em novembro de 1980, obedecendo ao tema GASOLINA, para trovas humorísticas.

Foram recebidas 54 trovas e o resultado oficial foi este:

1º lugar – BEATRIZ ABAURE:
Num posto de álcool na esquina,
diz um bêbado que passa:
– Isto que é gasolina!
– Tem cheiro até de cachaça.

2º lugar – VICENTE NOLASCO COSTA:
Sobe o gás e sobe o óleo,
gasolina é todo dia.
Quanto mais sobre o petróleo
mais aumenta a mordomia.

3º Iugar – JOÃO FIGUEIREDO:
O preço da gasolina
Vai subir mais (e não bufe!)
até que jorre da mina
o petróleo do Maluf…

4º lugar – ALYDIO C. DA SILVA:
Na crise da gasolina,
tive um lampejo de estalo:
Deixo o carro na oficina
e vou andar a cavalo.

5º lugar – VICENTE NOLASCO COSTA:
Vou vender tudo que pego.
Vou trocar rádio e buzina,
ou botar tudo no prego
ou ficar sem gasolina.


Receberam menções honrosas as seguintes trovas, por ordem alfabética de seus autores:
Se acabar a gasolina,
melhor é ficar na roça:
Lá não tem gente granfina,
todo mundo usa carroça…
ÁBNER DE FREITAS COUTINHO

Gasolina eu pus de lado
pois era um gastar sem fim,
e o carro a áIcooI hidratado
bebe quase igual a mim…
BEATRIZ ABAURRE

Vamos cavar, gente fina,
tentar óIeo encontrar.
Pois carro sem gasolina,
“alcoólatra”… vai ficar.
VALSEMA RODRIGUES DA COSTA

Hoje dei em pagamento
um tanque de gasolina
por um lindo apartamento
com garaje e com piscina.
VICENTE NOLASCO COSTA

Derivado do petróleo
que o capixaba assim glosa:
– Sendo “óleo”, contém álcool,
sendo líquida é “gasosa”.
ZEDÂNOVE TAVARES


Este concurso contou com o valioso apoio do CORREIO POPULAR, de Cariacica, onde é editada uma coluna dedicada à trova, sob responsabilidade de CIério José Borges.
——————–
continua…

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Valsema Rodrigues da Costa (Caldeirão Capixaba)

LEVITANDO

Quando te fito levito
E minha alma corre atrás de ti.

Quando te fito não demoro
Te devoro num olhar
Na trilha, na lida
Na vida, neste amar
De medos ou dúvidas
Pois há tantas maravilhas
Vindas de ti!!!

Eis o amor
Arrastando multidão
Voando pelos ares
Penetrando em segredo
Decolando nas camas
Desafiando desenganos
Levantando os lençóis
Ao esparramar
Esse poço de brilhantes e de
Transparentes traições
No olhar aguçado de sonhos
Zombando das diferenças
Alcançando a juventude
No rastro da paixão…
O amar acalenta
Uma alma
Levitando por ti!
=================

MAR

Porque essa imensidão azul
deságua dentro de mim
invadindo o continente
da costa capixaba,
afogando a solidão
na alma da gente…

Porque é tão presente
essa fúria azul
que vai e vem…
Em marés altas,
em marés baixas
vem…acordando as manhãs
e acendendo o sol…
Vai…adormecendo as noites de luar
e prateando pensamentos…

Essa montanha azul e ondulante
segue torneando destinos e caminhos
azulando sonhos no azul do ser
cristalizando o amor no som cristal
da concha do infinito…

Esse mar azul é como um grito
contornando a Praia da Costa
linda por natureza,
essa beleza deslumbrante
que não se acaba.

Na eternidade e plenitude da vida…
Na verdade esse mar é tudo:
é a oração da natureza
na exaltação do Universo.
É a presença de Deus
na grandeza dos meus versos.
====================

MAR DE OLHAR

Deixa-me navegar
no mar de olhar
do teu olhar
e mergulhar
no oceano do teu corpo manso
e me banhar nas tuas águas mornas…
Deixa-me sonhar
ao lado da tua estrela
e ser personagem constante
em tua história.

Deixa-me ser a brisa do desejo
ser ondas em teu caminho
ser flor em teu jardim…
Deixa-me ser cadência de amor
na liberdade livre e solta
tal qual gaivota…

Deixa-me ser tua rota, teu destino,
ser o beijo que te beija.
Ser a mão que te conversa
ser o abraço que te abraça…

Deixa-me aportar em tua emoção
e ancorar-me em tua ternura…
Deixa-me ser elo
entre o outono e a primavera.

Deixa-me ser como a vela
que acena no cais
pois não sei se cheguei
muito cedo
ou se foste tu que vieste tarde demais.
=====================

DE REPENTE

De repente, fez-se tudo mais bonito.
Ouço cigarras, sons, ritos
tudo em forma de canção.

De repente o céu é mais azul,
do meu pranto fez-se o riso,
da tortura fez-se o encanto,
do teu olhar fez-se a luz,
da tua voz o acalanto,
dos teus braços fez-se o abrigo.

De repente, aquele amigo,
fez-se muito mais amante,
a vida coloriu-se, num instante.
De repente, se não me engano,
nem sei bem porque
te amo demais,
te amo!!
==================

CANÇÃO DA AMIZADE

Faço versos
como quem canta.
Com vibração e sonoridade
ternura e serenidade…

Meus versos
são como o correr dos rios
claros, livres, desenvoltos
e acima de tudo
verdadeiros… (como eu)

Cantam o amor e a amizade,
a solidão e a fraternidade.
Cantam a paz necessária
ao mundo ineiro.

Meus versos
são como flores:
-coloridos, delicados,
ternos e transbordantes
de emoção.

Estes foram feitos
para você,
pois quero tê-lo assim
por perto,
como as estrelas,
iluminando o meu coração.
Não quero mais
sentir esta saudade
intensa
que até me fez
abortar a dor
e a tristeza da separação.
Faz escuro,
mas quero estar
a cantar os versos
com você.
===============

SER MESTRE

Deixe-me, Senhor,
ser guia, ser fé,
orientação e amor.

Deixe-me, Senhor,
direcionar caminhos,
transmitir carinhos,
informar o saber.

Faça-me, Senhor,
unir os fonemas à emoção,
liberdade ao coração
e na canção da alegria
deixe-me ser como a vela,
que consome a própria energia
para conduzir à luz, à verdade,
à democracia.

Deixe-me, Senhor,
com dignidade,
ser Mestre sempre
até o fim dos meus dias.
====================

INSTANTES FELIZES

Abrir a janela
ouvindo o bem-te-vi cantar
Sentir a brisa suave no rosto,
olhar gaivotas
riscando o azul do céu
e beirando o mar.
Andar pela praia
descalça, pés molhados.

Olhar a lua no acalanto da noite,
sentir o cheiro da flor
e recordar o amor
naquele café da manhã…
Ser plena de mim,
ser infinita me perdendo em você.

Rever rostos amigos
corados, alegres, saudáveis,
ouvir música,
cantar, dançar,
fazer seresta
ler um bom livro,
divulgar literatura,
orientar a criançada,
aconchegar as filhas,
num abraço eterno!…

Viajar…
vestir-me de luz
e escrever poemas.
Cultivar boas amizades.
Receber cartas, telefonar.
Ouvir você, sentir saudades,
e, com certeza, AMAR!
=================

PRAIA DA COSTA – VILA VELHA

Porque essa imensidão azul
Deságua dentro de mim
invadindo o continente
Da costa capixaba,
Afogando a solidão
Na alma da gente…
Porque é tão presente
Essa fúria azul
Que vai e vem…
Em marés altas,
Em marés baixas
Vem… acordando as manhãs
E acendendo o sol…
Vai…adormecendo as noites de luar
E prateando pensamentos…
Essa montanha azul e ondulante
Segue torneando destinos e caminhos
Azulando sonhos no azul do ser
Cristalizando o amor no som cristal
Da concha do infinito…
Esse mar azul é como um grito
Contornando a Praia da Costa
Linda por natureza,
Essa beleza deslumbrante
Que não se acaba
Na eternidade e plenitude da vida…
Na verdade esse mar é tudo:
É a oração da natureza
Na exaltação do Universo.
É a presença de Deus
Na grandeza dos meus versos.
================

É O AMOR

É o amor
um sacrário sagrado,
sacramentado sentimento
abençoando e renovando
assim…

É o amor
que acende o sol das manhãs
e clareia a esperança
do anoitecer.

É o amor
que floreia o viver
e colore o dia-a-dia,
de cores refazendo
o arco-iris em mim.

É o amor
que faz brotar a flor,
nascer o sol
refazendo a emoção
do coração

É o amor
que tece a trama divina
e faz viver cada segundo
como nunca mais

É o amor
que explode,
invade. Pronto. Fim.
=================

QUEM?

Quem acalmará
a ebulição do corpo, o tremor,
o arrepio, a magia?

Quem passará
pelo corpo as mãos sedentas,
boca desejosa,
assanhando as tardes
e aquecendo o café das manhãs?

Quem sossegará
noites enluaradas,
espalhando mágica e suores
pelos trigais dos cabelos?

Quem atenderá aos apelos
da pele, da alma e dos sonhos,
encarando o riso feliz
prolongando a felicidade?

Quem visitará
e refará comigo
o verso, a rima,
o tema, o poema
eternizando o momento,
unificando

Adicionar imagem a cara-metade
da Poesia.

Quem?
——————–

Fonte:
Vozes & Perfis – Antologia 2002 AFESL

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Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo)

Guarapari – ES
ANTIGÜIDADE DA TROVA NO ESPÍRITO SANTO

Para alguns, a prática da trova no Espírito Santo inicia-se com o padre José de Anchieta (1534/1597). De alguns poemas do “Apóstolo do Brasil” podem ser derivadas trovas, embora, ao que se saiba, não tenha sido um trovador no sentido moderno da palavra, ao menos de várias trovas. Dele, inclusive, conhecemos uma trova em tupi:

“Sarauájamo oroikó
Kaápe orojemoñánga
Orojú nde mornóranga
Oré aíba reropó.”
A tradução desta trova é: “Vivemos como selvagens, somos filhos da floresta, viemos saudar-te, renunciamos aos vícios”.

Note-se que a rima é do tipo ABBA, não aceita pela maioria dos trovadores contemporâneos. Sabemos que a trova tem todo um passado ligado à imprensa, especialmente de maneira satírica, o famoso epigrama, como se dizia.

A imprensa no Espírito Santo é senhora de um passado glorioso. Assim, muitas trovas devem ter sido famosas, repousando nas coleções dos velhos jornais capixabas.

ANTES DO CLUBE DOS TROVADORES CAPIXABAS

Mais recentemente poderíamos citar a publicação do CANCIONEIRO CAPIXABA DE TROVAS POPULARES, em 1949, onde Guilherme dos Santos Neves reuniu trovas colhidas diretamente do povo, em pesquisas por ele realizadas, e de duas pequenas coletâneas anteriores: uma de Afonso Cláudio, em 1923, e outra de uma colaboradora anônima de “A Província do Espírito Santo”, em 1889.

O livro do Guilherme dos Santos Neves é uma coletânea de 1000 trovas populares, isto é, recolhidas do folclore.

O primeiro livro contendo exclusivamente trovas literárias, ou seja, de autor conhecido, foi publicado por Solimar de Oliveira, em 1957.

A obra, um volume do 9cmX12cm, com 40 páginas, chama-se SANGRANDO LÁGRIMAS… São 95 trovas de Solimar e uma tradução de autor cujo nome não é revelado.

O convívio de Solimar com a trova, porém, vinha do longe.

É ele que nos conta da exposição do fotografias das principais paisagens de Vitória, organizada pelo fotógrafo Paes, com uma série de trovas, de que tomaram parte intelectuais especialmente convidados por aquele artista.

Isso foi em 1935 e Solimar lembra dos seguintes nomes: Ciro Vieira da Cunha, Almeida Cousin, Alvimar Silva, Nilo Aparecida Pinto, Solimar de Oliveira, João Bastos, Teixeira Leite, Jair Amorim, entre outros.

Solimar faz questão de lembrar o nome de Manoel Teixeira Leite, notável poeta, jornalista e trovador, já falecido.

Outra empreitada trovista de Solimar, agora junto com seu irmão Heralto de Oliveira, falecido, foi a organização de uma antologia do trovadores de Cachoeiro de Itapemirim, Iá por 1942/1943.

Essa coIetânea não chegou a ser publicada e os originais acabaram definitivamente perdidos.
Alguma coisa desse livro foi, contudo, divulgada mais tarde por Heralto, sob o pseudônimo de Vilamor.

Em 1950 Solimar passou a corresponder-se com Luiz Otávio e colaborou efetivamente com o futuro autor de MEUS IRMÃOS, OS TROVADORES.

A fundação do Grêmio Brasileiro do Trovadores (GBT), em 8 do janeiro de 1958, é um dado importante na história do Trovismo.

O GBT foi a primeira entidade nacional de trovadores, se bem que por trovador entendesse, ainda, os poetas de cordel e os repentistas e congregasse violeiros numa verdadeira arca do Noé, com bichos do todo pelo.

O GBT fez-se presente no Espírito Santo, basicamente, através de três trovadores: Evandro Moreira, Paulo Freitas e o experimentado Solimar de Oliveira.

Quando os trovadores (da quadra), em 20 de agosto de 1966, rompendo com a estrutura quase folclórica do Grêmio Brasileiro de Trovadores, fundaram a União Brasileira de Trovadores (UBT) os representantes da antiga entidade no Espírito Santo, passaram para a nova casa de trovadores.

Em 1967 são realizados dois jogos florais: um em Alegre e outro em Cachoeiro de Itapemirim.

Depois disso, a prática da trova no Espírito Santo restringiu-se às atividades isoladas de uns poucos abnegados, até que se fez alguma coisa pelo Trovismo, pelos fins dos anos sessentas e inícios da década iniciada em 1970.

Que fale, pois, o professor José Augusto Carvalho, ex-delegado municipal da UBT e organizador da UBT de Vitória:

Trabalhei, realmente, pelo Trovismo em Vitória, em meados da década de 60, entre, talvez 1966 e 1968, e cheguei a manter uma coluna semanal no jornal A GAZETA, de Vitória, informando sobre trovas e angariando simpatizantes do movimento, graças ao incentivo maior de Joubert do Araújo Silva e Hilário Soneghet, este já falecido e exímio sonetista. Mas, assim que foi fundada a seção capixaba da UBT, como a diretoria eleita era toda de Vila Velha, cidade vizinha 12km da capital, o movimento se transferiu para lá e, em 1980, se tornou no Clube dos Trovadores Capixabas (...)“.

Foi essa seção da UBT de Vila Velha que, em 1971, organizou um concurso de trovas sobre PELÉ.

Depois disso as coisas silenciaram-se. Até 1980, felizmente.

CONCURSOS E FLORAIS

ALEGRE

Em 1967 foram realizados os I JOGOS FLORAIS DE ALEGRE, graças ao trabalho intenso de um jovem e abnegado poeta: EVANDRO MOREIRA.

Mobilizando a comunidade alegrense e contando com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Alegre, então administrada pelo prefeito Antonio Lemes Júnior, Evandro pode levar a bom termo aquele importante evento cultural.

Dois eram os temas: ALEGRIA e FRATERNIDADE. Não havia delimitação de gêneros (humorismo, lirismo, etc.).

No primeiro tema foram premiadas as seguintes trovas:

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1º lugar – DURVAL MENDONÇA:
Brilha o rosto de Maria
na gruta pobre de Iuz
ante a suprema alegria
de ser a mãe de Jesus.

2º lugar – JOUBERT DE ARAÚJO SILVA:
Retrata a imagem da vida
a moenda rude e inclemente:
– Chora a cana, ao ser moída…
– range a moenda, contente!

3º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Nesta existência a alegria,
experimenta e verás!
Está na doce poesia
de todo bem que se faz…

4º lugar – FERRER LOPES:
Alegria… ó alegria!…
afinal, quem é que a tem?
– Tendo a barriga vazia,
nem tu, nem eu, nem ninguém.

5º lugar – JOSÉ VALERIANO RODRIGUES:
Minha alegria não passa
de uma risada bem cheia,
que fica logo sem graça
se a dentadura bambeia.

6º lugar – JOSÉ MORCEF CAMPOS:
Alegria, algo fremente
Que se não pode ocultar;
ou grita no riso quente,
ou brilha na luz do olhar.

7º lugar – MARIA DE LOURDES SANTOS:
Alegria é corno as águas
de um remanso cismador
que passam levando as mágoas
dos que padecem do amor…

8º lugar – CIRO VIEIRA DA CUNHA:
Do teu amor (quem diria?)
que só três meses durou,
resta a saudade – alegria
da tristeza que ficou…

9º lugar – SANTIAGO VASQUES FILHO
Alegria do operário
dura pouco, é reduzida:
– a lei que aumenta o salário
dispara o custo de vida.

10º lugar – SEBASTIÃO NORONHA:
Por mais que sofra, na luta
em que se esforça e porfia,
quem cumpre o dever desfruta
a verdadeira alegria.

No tema FRATERNIDADE, classificaram-se as seguintes trovas:
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1º lugar – MARIO MORCEF CAMPOS:
Ama! Até sentir, então,
batendo no peito imerso,
o coração do universo
no teu próprio coração.

2º lugar – JOUBERT DE ARAÚJO SILVA:
Segue, filho este caminho
se queres ser bom cristão:
– Bebe menos do teu vinho,
– reparte mais o teu pão.

3º lugar – HERALDO LISBOA:
Fraternidade… quem dera
fosse outro o barro da gente,
pois se semente não gera
não cabe culpa à semente.

4º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Fui leal. Ouvi parolas.
Fui fraterno. Amigo. Irmão.
E hoje quase peço esmolas
depois de ter dado pão.

5º Iugar – LILINHA FERNANDES:
Fraternidade ultrajada
ainda mais se santifica.
Se a árvore boa é podada,
com mais vigor frutifica.

6º lugar – ATHAYR CAGNIN:
Indiferente à maldade,
vou traçando de alma ungida,
o giz da fraternidade
no quadro negro da vida…

7º lugar – DURVAL MENDONÇA:
Vive louca a humanidade
sempre em termos de agressão:
– invoca a Fraternidade
com a baioneta na mão.

8º lugar – MARIA HELENA:
Dá um riso aberto em dia
Se o pobre te estende a mão:
– Que às vezes uma alegria
É mais pão que o próprio pão.

9º lugar – SOLIMAR DE OLIVEIRA:
Neste exemplo se descobre
a Fraternidade, irmão:
– um pobre com outro pobre
dividindo o próprio pão.

10º lugar – NORDESTINO FILHO:
Fraternidade, meu bem,
só se diz Fraternidade
quando, aIém da caridade,
não se faz mal a ninguém.

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CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

Cachoeiro de Itapemirim é uma terra de bons poetas. Poucas cidades do interior brasileiro poderão orgulhar-se de, ao longo de sua história, apresentar tantos e tão bons poetas, quanto a terra de Rubem Braga.

Ali, entre 1966 e 1967, foram realizados Os I JOGOS FLORAIS DE CACHOEIRO, organizados pela Academia Cachoeirense de Letras, “sob os auspícios da Municipalidade, por isso decorrentes da Lei Municipal nº 054, de 16 de maio de 1966”.

Tudo isso sob o comando do incansável Solimar de Oliveira, então presidente da ACL.

Esses jogos constaram de cinco prêmios ou concursos diferentes, a saber:
Prêmio Benjamim Silva”- Trovas – 657
“Prêmio Newton Braga” – Poemas – 526
“Prêmio Rubem Braga” – Crônicas – 65
“Prêmio ClaudionorRibeiro”-Contos- 52
“Prêmio Bernardo Horta” – História – 2
TOTAL 1303

Finalmente, para alegria dos organizadores, após vasto programa, no dia 7 de setembro de 1967, foram entregues os prêmios aos vencedores.

Nunca o Espírito Santo tivera uma promoção cultural tão vasta e expressiva, tais foram as atividades constantes do programa e cumpridas britanicamente.

Estas foram as trovas vencedoras:

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1º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Noivado no mundo inteiro
Foi sempre assim entre os dois:
O noivo espera primeiro,
A noiva espera depois.

2º lugar – MANUELA ABRANTES:
Eu vejo no teu vestido,
mulher esbelta e risonha,
tanta falta de tecido
com falta de vergonha.

3º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Eu não sei se o sol desponta
Ou se ainda é madrugada…
Quando estou por tua conta
Não dou conta de mais nada.

4º lugar – CARLOS MANUEL DE A. S. ABRANTES:
Amor, embora sensato,
Sem dinheiro, desconsola…
É como usar bom sapato,
De polimento, sem sola!

5º lugar – PAULO EMÍLIO PINTO:
Que luta quando eu a vejo
tão sedutora e inocente!
Já viu respeito e desejo
brigando dentro da gente?

6º lugar – HÉLlO C. TEIXEIRA:
Alma, que sonhas na altura,
vendo a beleza dos astros,
tornas maior a tortura,
de andar na terra de rastros!

7º lugar – COLBERT RANGEL COELHO:
Quando a gente perde o tino,
Como perdi de repente,
Uma mulher sem destino
Faz o destino da gente.

8º lugar – APARÍCIO FERNANDES:
Neste exemplo se presume
um prêmio às almas formosas:
Fica sempre algum perfume
nas mãos que oferecem rosas.

9º lugar – CARLOS MANUEL DE A. S. ABRANTES:
Na vida, constantemente,
a mulher se contradiz,
às vezes diz o que sente,
mas nunca sente o que diz.

10º lugar – DAVID DE ARAÚJO:
Bendito de quem consome
da vida os anos a fio,
dando pão a quem tem fome
e agasalho a quem tem frio.
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continua…
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Benjamin Silva (Caldeirão Literário do Espírito Santo)

ESCADA DA VIDA

Julguei da vida haver galgado a escada,
essa escada de mármore polido,
que nos conduz à estância desejada
de um grande bem, raríssimo atingido.

Hoje vejo, porém, que quase nada
consegui, afinal, haver subido:
—ficou-me longe o termo da jornada
em que eu exausto me quedei vencido.

Pelos desvãos da escada mal me erguendo,
já sem noção e sem fé que anima,
nem sei se vou subindo ou vou descendo…

Por isso os seus extremos jamais acho:
—vejo degraus, olhando para cima,
vejo degraus — olhando para baixo!

(Escada da Vida, 1938)

CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM

Prisioneira feliz mas condenada
por leis irredutíveis e absolutas
a viveres assim encarceirada
nesta cadeia de montanhas brutas.

Mas que importa se é esplêndida a morada!
Pois daqui tudo vês e tudo escutas;

E o Itabira te guarda e te vigia,
como se fosse eterna sentinela
—carcereiro que vela noite e dia.

Tudo, afinal, te rende um justo preito,
Enquanto um claro rio tagarela
Rola, cantando, dentro de teu peito.

(Escada da Vida, 1938)
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Benjamin Silva (1886-1954)

Nasceu na Fazenda de São Quirino, distrito de Castelo, no então município de Cachoeiro de Itapemirim, a 20 de julho de 1886. Faleceu no Rio de janeiro, a 10 de junho de 1954. Poeta e comerciário. Foi diretor dos Armazéns Gerais da Empresa Guanabara, no Rio de Janeiro. Desde cedo dedicou-se à poesia. Colaborou em vários periódicos e desfrutou de prestígio nos meios literários de Cachoeiro de Itapemirim. Figura em várias antologias de poetas nacionais, com o soneto “O Frade e a Freira”, que se tornou um dos mais conhecidos da poesia espírito-santense.

OBRAS: “Escada da Vida”, 1938 (poesia), prefácio de Atílio Vivacqua e ilustrações de Santa Rosa.

Fonte:
BRASIL, Assis (organizador). A Poesia Espírito-Santense no Século XX. RJ: Imago; Vitória, ES: Secretaria de Estado de Cultura e Esportes, 1998.

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