Trova do Paraná
José Feldman
Foram felizes instantes,
juventude na querência.
Hoje em terras tão distantes,
Pilcha…mate…sinto ausência!
Trova de Portugal
Fernando Pessoa
Tenho uma pena que escrevera
aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve;
se é verdade, não tem tinta.
Um Haicai do Ceará
João Batista Serra
Chega mais um trem:
São Paulo, de madrugada,
Granizo no Braz.
Trovadores que Deixaram seu Nome Gravado no Livro da Vida
Ademar Macedo (1951-2013)
Toda trova nos fascina,
encanta e nos enternece.
A trova é pura e divina
como se fosse uma prece!
O Vírus da Poesia
Poesia é a minha paz,
meu mundo, meu universo;
um mar de sabedoria
onde eu vivo submerso;
é minha alimentação,
é meu sustento, é meu pão
feito de rima e de verso…
A partir da madrugada
é esse o meu dia a dia:
já de caneta na mão
recebo uma epifania,
cuja manifestação
é trazer-me inspiração
pra eu fazer minha poesia…
A poesia é minha luz,
é meu santo e meu altar,
feijão puro com farinha
que eu tenho para almoçar;
ela é minha própria vida
é meu lar, minha guarida
meu sol, meu céu e meu mar!
Ao ver poesias aos montes
nascendo em minha vertente,
tive um “derrame” de rimas
nas veias da minha mente
e um maravilhoso “infarto”
eu tive ao fazer o parto
do derradeiro repente!…
Quero então no meu jazigo,
feito em letras garrafais,
aquela minha poesia
que me deu nome e cartaz;
e escrito, seja onde for:
– eis aqui um trovador
que morreu feliz demais!
Quem carrega, como nós,
o vírus da poesia,
tem no sangue uma plaqueta
que se altera todo dia,
aumentando a quantidade
e pondo mais qualidade
nos versos que a gente cria.
Com Ademar e Garcia
vou pelejar desta vez,
enchendo a taça dos versos
com carinho e lucidez,
para que o vinho sagrado
das musas dê para os três.
02 – Ademar
Vou beber com honradez
uma taça todo dia,
e eu peço a Deus neste verso
talento e sabedoria,
e que este vinho sagrado
me embriague de poesia.
03 – Prof. Garcia
Eu vou beber todo dia
para afastar o meu pranto,
deste vinho que embriaga
e nunca me causa espanto,
porque o vinho do verso
tanto é puro quanto é santo.
Premiado em 21 Cidades de diferentes estados da nossa federação em Concursos Nacionais de Trovas. Teve também alguns Prêmios em “Poesia” apenas aqui no meu Estado.
Para se inspirar literariamente :
“Vi à luz de lamparina,
em inspirações imerso
que a musa se faz menina
para brincar no meu verso.”
“Na inspiração do poeta
sinto um pouco de magia,
porque toda estrofe minha
me fascina e me extasia;
e em cada verso que faço
vou mastigando um pedaço
do pão da minha poesia.”
Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos:
Nunca quis ganhar fama nem cartaz,
sou feliz no papel que desempenho,
sou um homem de fé, temente a Deus,
não reclamo do peso do meu lenho
nem de tudo na vida que padeço…
Eu já tenho até mais do que mereço
e me sinto feliz com o que tenho!
Em 2006 teve um câncer no intestino, operou em 2006, no Rio de Janeiro; fez 52 Quimioterapias e 25 Radioterapias. Ademar faleceu em janeiro de 2013, em Natal/RN.
Quero então quando eu morrer,
feito em letras garrafais,
aquela minha poesia
que me deu nome e cartaz;
e escrito, seja onde for:
– Eis aqui um trovador
que morreu feliz demais!
Biografia retirada de entrevista realizada por José Feldman com Ademar para o blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes
—
JB Xavier
O TROVADOR
Qual castelo sitiado
meu coração chora em dor:
Encanto desencantado
do encantamento do amor.
E qual trovador cansado,
cantando em sétima à flor,
eu me deixo ser levado
por teu riso acolhedor.
Entretanto a minha vida,
que te ofertei, já continha
uma tristeza inserida,
por saber que tu, rainha,
és sempre a dor mais sofrida
de não quereres ser minha…
Trova de São Paulo
Martha Maria O. Paes e Barros
Diz o cinquentão vaidoso:
– “Eu sou madeira de lei!”
E, a mulher em tom jocoso:
– “Então deu cupim… que eu sei!”
Haicai do Paraná
Alvaro Posselt
Não cresceu com fermento
Para o pão ficar grande
usei lentes de aumento
Poemas Lusos de Pessoa
Fernando Pessoa (1888-1935)
AH UM SONETO!!!
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear…
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas – esta é boa! – era do coração
que eu falava… e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?…
Trova do Paraná
Istela Marina Gotelipe Lima
Se a viagem é impossível,
deixo o sonho de nós dois
numa espera indefinível
para um suposto depois…
Trova do Rio Grande do Sul
Milton Souza
Sou louco quando preciso
e o remorso não me assalta;
eu nunca tive juízo
e ele nunca me fez falta…
Soneto de Tremembé/São Paulo
Luiz Antonio Cardoso
SOLIDÃO
Propensos a quereres semelhantes,
tendo a poesia inata em nossas mentes,
tínhamos o infinito… e como amantes
seríamos estrelas reluzentes.
Mas eis que seus desejos, tão arfantes,
fizeram dos meus sonhos, tão descrentes,
migalhas de lembranças arquejantes,
fenecendo em processos deprimentes.
Recusaste o poeta que há em mim,
e todos os meus versos, que sem fim,
esculpiram o amor que eu quis te dar…
e decretaste enfim, a solidão,
para me acompanhar à imensidão…
onde hei de eternamente te esperar!
Trova do Amazonas
Petrarca Maranhão
É caprichoso o destino
caprichoso por demais:
a quem quer muito, dá menos,
a quem quer menos, dá mais…
Trova do Rio Grande do Norte
José Lucas de Barros
Se este mundo tão bisonho
te nega paz e guarida,
usa o refúgio do sonho,
onde o amor sustenta a vida!
Saudade em Versos, de Fortaleza/Ceará
Nemésio Prata Crisóstomo
Fazer versos é ciência
que brota do coração
pois versar é consequência
da mais pura inspiração!
Se alguém for forçar a barra
pra versar de qualquer jeito,
garanto que a sua farra,
mesmo que ele afie a garra,
jamais vai sair do peito!
E se alguém metido a besta
for fazer versos na marra
pensando que é só botar
no papel tinta, é bandarra,
vai comer capim de cesta
pra não mais fazer fanfarra!
Deixo aqui mais um recado,
e não levem por pilhéria:
só se versa se inspirado,
pois versar é coisa séria,
e se é Deus quem tem mandado
fazer versos, mais cuidado,
pra não ficar na miséria!
Depois de muito tecer
falação vou me calar,
mas antes é bom dizer
para o “Vate” brasileiro
que jamais venha esquecer
nosso querido Ademar,
o “Poeta do Amanhecer”
que Deus nos levou primeiro!
Falando em amanhecer,
ao ver o raiar do dia
lembro-me com alegria
daquele que foi viver
com Deus; logo ao perecer!
Morreu, sim, mas vivo está
na presença de Jeová;
versejando em demasia,
como aqui ele fazia,
fazendo a festa por lá!
Cantinho do Luiz Otávio
O Destino da Trova
Dura menos que um suspiro
ou como a folha que cai…
Mas quando penetra na alma,
a Trova fica… Não sai…
Haicai do Paraná
A. A. de Assis
Vinha quente o tempo.
De repente vira o vento,
volte o vinho então.
Trova do Paraná
Serafim França
Quando me assalta a saudade
de te ver, de te falar,
saio, cheio de ansiedade,
com o fim de te encontrar.
Trova de Minas Gerais
Edmilson Ferreira Macedo
Oh, musa de mil encantos,
mulher divina e querida,
que sabe enxugar meus prantos
nas horas tristes da vida!
Trova de São Paulo
Therezinha Dieguez Brisolla
Tem, do herói, santo ou profeta
– em meio às guerras e a dor –
a mesma audácia, o poeta
que teima em falar de amor!
Poesia de Ribeirão Preto/São Paulo
Elisa Alderani
CASULO DA PALAVRA
Palavra fechada no casulo da alma.
Como bicho da seda tecendo fios dourados.
Trabalha sem cessar.
Na noite profunda sonha.
Escondida, aguarda seu tempo.
Na hora certeira amadurece.
Silenciosa e calma.
Com a força do pensamento,
Abre sua provisória morada.
Vagarosa sai informe.
Úmida e gelada,
Na madrugada de um dia qualquer.
Aguarda o sol chegar.
Um raio luzente a aquece,
Revigora sua carne machucada.
Distende as asas lentamente,
Voa para experimentar a vida!
Agora linda e colorida borboleta.
Não é efêmera…
Logo ela volta e docemente pousa
Na perfumada flor branca do papel.
Que acolhedor está à sua espera.
A Indelével Palavra do poeta.
Haicai do Paraná
José Marins
sem nenhuma folha
os galhos da magnólia
floridos de roxo
Trova de Goiás
Francisco Assis Menezes
Não é preciso chorar
somente por ter caído.
A queda não vai tirar
a honra de haver subido.
Trova do Paraná
Olga Agulhon
Carrego pouca bagagem
porque na vida aprendi
que, mesmo longa a viagem,
preciso apenas de ti!
Poesia de Maringá/Paraná
José Feldman
Cavalgada de Sonhos
Mergulho no espaço ao encontro do destino,
Semente do amor germinada em solo carente,
desanuviando pensamentos de mente conturbada…
Rompendo os elos dos grilhões.
Percorrer o absurdo dos tempos em voo repentino…
Vislumbre de um momento de magia,
Da derrocada final dos Deuses em seu crepúsculo,
Do extermínio dos tabus a nós impingidos.
Sentir o ofuscar do brilho do cristal,
do cristal de olhos radiantes…
Aurora boreal!
E no fulgor da cavalgada das Valquírias
que acende a chama da pira do enternecer,
devastadoramente bela como a mãe-natureza,
entregar-se ao trote das ilusões.
Momento mágico, que dure todo infinito –
Um infinito de sensações.
Deixar que o fio que comanda nossos sonhos
comande os nossos corações!
Trova de Minas Gerais
Olympio Coutinho
Eram alegres os meus olhos
e tristes eram os teus,
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus.
Trova do Rio de Janeiro
Elisabeth S. Cruz
Dominar o medo e o ódio,
a injustiça e o desamor,
são vitórias que, no pódio,
dão mais brilho ao vencedor!
Trova do Paraná
Ariane França de Souza
Sou ditosa no meu lar,
e por ele tenho zelo.
Vivo bem sem ter pesar,
vou desfiando o meu novelo.
Poesia de Uberaba/Minas Gerais
Cacaso (Antonio Carlos Ferreira de Brito)
1944 – 1987
SE PORÉM FOSSE PORTANTO
Se trezentos fosse trinta
o fracasso era um portento
se bobeira fosse finta
e o pecado sacramento
se cuíca fosse banjo
água fresca era absinto
se centauro fosse anjo
e atalho labirinto
Se pernil fosse presunto
armadilha era ornamento
se rochedo fosse vento
cabra vivo era defunto
se porém fosse portanto
vinho branco era tinto
se marreco fosse pinto
alegria era quebranto
se projeto fosse planta
simpatia era instrumento
se almoço fosse janta
e descuido fosse tento
se punhado fosse penca
se duzentos fosse vinte
se tulipa fosse avenca
e assistente fosse ouvinte
se pudim fosse polenta
se São Bento fosse santo
dona Benta fosse benta
e o capeta sacrossanto
se a dezena fosse um cento
se cutia fosse anta
se São Bento fosse bento
e dona Benta fosse santa
(in Mar de Mineiro)
Trova de Pernambuco
Swami Vivekananda
É próprio do brasileiro
nas coisas dar um “jeitinho”.
Faz bagunça o dia inteiro,
mas em casa vira “anjinho”.
Haicai do Paraná
Maria Marilda Confortin Guiraud
manhã de geada,
leite de vaca morninho
com gosto de infância.
Trova de Minas Gerais
Clevane Pessoa
Olhando fotos antigas,
tenho saudade de mim.
– Hoje, maduras espigas;
ontem, um frágil jardim.
Fábula em Versos, de Pedro Leopoldo/Minas Gerais
Wagner Marques Lopes
Fábula
Fábula é FÁ –
da notação musical.
Tem gente, bicho, planta,
e de embrulho… O mineral.
Fábula é BULA –
atende à receita.
É aquilo que se aceita –
certeiro medicamento,
de efeito rápido ou lento.
Fábula é solo ensementado.
Vida. Sonhar.
Amor realizado.
É La Fontaine.
Esopo. Fedro.
É fonte.
Videira e cedro.
Sendo autor,
virtudes terço.
E a moral?
É algo certo?
Linear e incontroverso?
O leitor descobre mais:
ela tem várias morais.
Ao lê-la, com sentimento,
o ledor se faz converso,
ou, de antemão, bem disperso.
Asas. Ruflar. Voo fugace.
Algo que não embarace.
A fábula é linha e corda.
Corda e caçamba.
Guerra que concentra.
Paz que descamba.
A fábula é gesto altivo.
Quantas ações de nobreza.
Outras são rudes demais.
Nela a beleza se aninha;
visito-a nas entrelinhas,
em seus dotes naturais.
Onde o melhor se entrelaça –
o caçador vira caça,
na primeira encruzilhada.
Teço a teia do narrar,
com a fantasia…
E mais nada.
Fábula é rio a correr
no sentido da montante…
Nasce num mar bem distante,
flui pelas verdes ravinas
e deságua soberano
nas mais silentes montanhas.
Trova de Autor Desconhecido
Aqui jaz a minha sogra,
que vivia enchendo o saco.
Não tendo mais o que encher,
veio encher este buraco.
Trova do Rio Grande do Norte
Djalma Mota
De pileque, o Zé Libório,
procedeu de modo errado…
Chupando o supositório:
– Ah! Confeito ruim danado!
Trova do Paraná
Vânia Maria Souza Ennes
Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração…
perco o rumo e o raciocínio!
Trova de São Paulo
Héron Patrício
– Infiéis os meus cabelos!
Saudoso, o careca chora…
– Dei carinhos… tive zêlos…
mas foram todos embora!
Poesia de Malawi/África
Poeta Anônimo
AGRADEÇO-LHES
Eu tinha fome
E vocês fundaram um clube humanitário
Para discutir a minha fome.
Agradeço-lhes.
Eu estava na prisão
E vocês foram à igreja
Rezar pela minha libertação.
Agradeço-lhes.
Eu estava nu
E vocês examinaram seriamente
As consequências da minha nudez.
Agradeço-lhes.
Eu estava doente
E vocês se ajoelharam
E agradeceram a Deus
O dom da saúde.
Agradeço-lhes.
Eu não tinha casa
E vocês pregaram sobre o amor de Deus.
Vocês pareciam tão piedosos,
Tão perto de Deus!
Mas eu continuo com fome,
Continuo só, nu, doente,
Prisioneiro
E tenho frio,
Sem casa…
Trova de Minas Gerais
Luiz Carlos Abritta
Do simples pó eu procedo,
sei que a ele hei de voltar;
a vida não tem segredo:
É um eterno retornar.
Trova da Argentina
Arturo B. Carisomo
Las fronteras son los trazos
que forman distintos mundos;
se borrarán con abrazos
de los pueblos en segundos.
Trova do Ceará
Fernando Câncio
O sonho que mais me anima,
que me faz bem, me renova,
é sonhar fazendo rima,
compondo mais uma trova.
Trova do Rio Grande do Norte
Prof. Garcia
Eu vi os dois num duelo,
quando eu estava brechando;
um sem o pé no chinelo
e o outro em pé, chinelando.
Poesia de Buenos Aires/Argentina
Alberto Girri (1919 – 1991)
CONVOCAÇÃO
O caçador
que dentro de mim
espreita
e lança emboscadas,
e cava fossos
apanhando
o que deles cai,
e conta suas presas
quando o velho sol
termina seu passeio,
e se deixa farejar
depois da caça
por hienas e chacais,
demônios
que pedem carniça
e imitam
com gemidos e grunhidos
a voz dos mortos,
não é
apenas meus impulsos
de destruição e pânico,
dele
vem a memória ancestral
da desobediência
ao espírito vivificante,
o gosto desgraçado
da perseguição.
Eu não sou
nem bom nem mau por essência
senão por participação,
como não reconheces, minha hóspede,
que não quero assimilar teus traços
além da vigília.
Eu te protejo;
eu te cuido,
deixa em paz as minhas noites.
(Tradução de Antonio Miranda)
Trova de Portugal
Maria José Fraqueza
Minha boneca de sonho…
vivências da mocidade!
Pensamento que transponho
no meu portal de saudade!
Trova do México
Maria Helena Espinosa
Mira bien donde tú pisas
al andar por el camino;
no vayas a ser que en las prisas
se te extravie tu destino.
Trova do Ceará
João Batista Serra
A mim, correto parece
em achar muito evidente
que nem tudo que acontece
é só porque Deus consente.
Trova do Paraná
Vidal Idony Stockler
Canta a prosa, canta o verso
com esplêndida leveza,
enchendo todo o universo
e louvando a natureza.
Trova do Espírito Santo
Humberto Del Maestro
Começa a lua num traço,
vai crescendo e nos seduz…
Como é formoso, no espaço,
esse trapinho de luz!
Poesia de Pereira/Colômbia
Alberto António Verón
COMPRADORES
Ser outros,
mãos que compram,
mãos que acariciam os corpos,
são cem, mil rostos dos que vi e jamais verei,
usar a mim mesmo e ser usado e usar dos outros
todas as manhãs do que resta e nos espera,
na luz tênue do abraço.
Trova do Rio Grande do Norte
Sebastião Soares
Pintando o chão de amarelo
e de sol dourando o monte,
Deus fez o monte mais belo
e chamou Belo Horizonte.
Uma Poesia de Apucarana/Paraná
Fahed Daher
A Força ou a Justiça?
Quem tem razão? A força ou a justiça?
Se a força da justiça imperasse
então a força seria a razão.
Mas a força sem ética se eriça
e o poder e o domínio se envaidecem
impondo seu direito em dura liça,
corrompendo sem fé, sem dimensão.
Já não é mais a força do guerreiro
enfrentando combates ardorosos.
Já não é mais o gladiador audaz
desbaratando males enganosos;
mas a força solerte do dinheiro
que nas mão sediciosas é capaz
de transformar a paz do mundo inteiro
na escravidão mordaz.
Da justiça a nobreza e a santidade
se corrompem nas barras tribunais
em decisões anômalas, tribais,
que favorecem sempre os poderosos
e que aos desamparados cabem mais
tantos castigos, tantas punições,
sob a pena de tanto anonimato,
padecendo no puro desacato
da soberba do malho e sem guarida.
A força do direito ou direito da maldade…
Que dilema cruel enfrenta a humanidade.
entre os recursos de hábeas corpus, liminares,
que aos pobres só lhes cabem os azares.
“fernandos, zés dirceus,” que permanecem livres
em condições de juízos mais privilegiados,
e juntos com “Barbalhos” não serão julgados
no mesmo plano malogrado de mendigo,
desesperado, que de um furto foi viver.
Quem tem razão? A força ou a justiça?
Se a força da justiça imperasse
nossos políticos seriam castos
no repúdio de tantas, tantos gastos
sem mérito em prejuízo da nação.
Os partidos seriam bem mais puros
e honestos criariam, com apuros,
seus planos e projetos exemplares
para honrar o equilíbrio da Nacional.
Se a força da justiça, pelo mundo,
fosse mais forte que o poder bancário,
a paz seria um poder fecundo
e sem poluição, a nossa terra
não sofreria mais nenhuma guerra,
já sem colonialismo e sem Iraque,
sem terrorismo e orgulho americano,
sujeito a promover qualquer ataque
onde interesse o seu poder insano
Mas um dia, eu bem sei, um certo dia,
eu já não sei ao certo onde nem quando,
entre os castigos que estão nos rondando
a humanidade acordará tão aterrada,
sabendo o quanto tem vivido errada
fugindo do humanismo e da justiça,
vivendo só de posses e cobiça,
sem procurar achar a luz Divina
de agir sob o calor da integridade,
servindo humildemente na verdade
e com justiça encontrando a paz
Trova do Ceará
José Deusdedit Rocha
Da mentira hoje te furtas
simulando ações fraternas,
só que ela tem pernas curtas…
Se é que mentira tem pernas.
Trova de Pernambuco
Geraldo Lyra
Saudade, um mar de lembrança
na praia do pensamento,
onde a jangada balança
no sopro leve do vento.
Trova do Rio Grande do Sul
Delcy Canalles
Quando o sol se vai embora
e a noite escurece o azul,
minha alma de prenda chora,
nos pampas verdes do Sul!
Poesia das Ilhas São Tomé e Príncipe/ África
Caetano de Costa Alegre (1864 – 1890)
CANTARES SANTOMENSES
(A meu tio Jerônimo José da Costa)
Branca a espuma e negra a rocha,
Qual mais constante há-de ser,
A espuma indo e voltando,
A rocha sem se mexer?
Não creias que em teu jazigo
Alguém parta o coração,
No mundo quem morre, morre,
Quem cá fica come pão.
Não me dizem quanto tempo
Tenho ainda que viver,
Ficava ao menos sabendo
Quando finda o meu sofrer.
Se eu me casasse contigo,
Fazia um voto de ferro,
De deixar-te unicamente
No dia do meu enterro.
Todos me dizem: “esquece
Essa paixão, que te abrasa”.
Que serve fechar a porta
Ao fogo que tenho em casa?
Não havia tanta cara
De asno, de tolo e pedante,
Se falasse, quem censura,
Com um espelho adiante.
Brotam espinhos da rosa,
O incêndio brota do lume.
A traição brota das juras,
Brota do amor o ciúme.
Numa loja conhecida
O que é cem custa duzentos,
Levam dinheiro em fazendas
E o tempo nos cumprimentos.
Macaco, chamaste tolo
Ao meu pequeno sagui.
Também queria que ouvisses
O que ele disse de ti.
Por teu desdém não me mato,
Não faço tamanha asneira,
Se o meu amor tu não queres,
Há muita gente que o queira.
Quem pode num campo vasto
O joio apartar dos trigos?
Quem conhece dentre os falsos
Os verdadeiros amigos?
Trova do Rio Grande do Norte
Francisco Macedo
Ao ver de uma árvore, o corte,
minha angústia é paralela…
Eu sinto as dores da morte,
na dor dos gemidos dela!
Trova de São Paulo
Carolina Ramos
Se amigo é o que escuta a queixa,
seca o pranto e ajuda a rir,
mais amigo é o que não deixa
sequer o pranto cair!
Trova do Paraná
A. A. de Assis
Amai-vos, e as derradeiras
muralhas hão de cair.
Havendo amor, as fronteiras
não têm razão de existir!
Trova de Santa Catarina
Gislaine Canales
O espelho mal me mostrou
algo que eu nem suspeitava:
Agora, eu sou, como estou
e nunca como eu sonhava!
Poema de Itapema/Santa Catarina
Pedro Du Bois
SOBRE O PRANTO
Sobre o pranto derramado
na inutilidade do ato
ouso o desconsolo
no fato não abortado
quando necessário
na escolha negada
ao corpo escravizado
na pobreza retida
em inconsequências
choro a amoralidade
do agente avesso
em ensinamentos.
Trova do Rio Grande do Norte
Ivaniso Galhardo
Do botão nasceu a rosa
que floriu nosso jardim.
Da mulher bela e formosa,
nasceu você para mim.
Trova do Rio Grande do Sul
Ialmar Pio Schneider
A trova é o verso que nasce
de um coração sonhador;
fica estampado na face
de quem vive um grande amor!
Vinicius, com Amor
Vinicius de Moraes (1913-1981)
POÉTICA (l)
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
—Meu tempo é quando.
Trova do Paraná
Nei Garcez
Com a trova se diz tudo
em fração de oito segundos,
e seus temas, sobretudo,
são precisos e fecundos.
Cantigas de Roda
A Barata diz que tem
A Barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !
A Barata diz que tem um sapato de veludo
É mentira da barata, o pé dela é peludo
Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo !
A Barata diz que tem uma cama de marfim
É mentira da barata, ela tem é de capim
Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim
A Barata diz que tem um anel de formatura
É mentira da barata, ela tem é casca dura
Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura
A Barata diz que tem o cabelo cacheado
É mentira da barata, ela tem coco raspado
Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado
Trova do Rio Grande do Norte
Hélio Pedro
Quando me entendi por gente,
vi logo a luta voraz:
da vida a correr na frente
e a morte correndo atrás.
Cantos de Capoeira
Capoeira de São Salvador
O, meu mano.
O que foi que tu viu lá.
Eu vi capoeira matando.
Ora meu deus,
Também vi maculelê.
Capoeira !
É jogo praticado na terra de São Salvador.
Capoeira !
É jogo praticado na terra de São Salvador.
Mas sou discípulo que aprendo.
E mestre que dá lição.
Na roda de capoeira.
Nunca dei meu golpe em vão.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
É Manuel dos Reis Machado.
Ele é fenomenal.
Ele é o Mestre Bimba.
Criador da Regional.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
Ei capoeira é luta nossa.
Da era colonial.
E nasceu foi na Bahia.
Angola e Regional.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
No dia que eu amanheço.
Danado da minha vida.
Planto cana descascada.
Com seis dias tá nascida.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
É jogo de liberdade.
Jogo de libertação.
Praticado na Senzala.
No tempo da escravidão.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
Jogo de muita mandinga.
Do escravo sofredor.
Que queria se livrar.
Do chicote do feitor.
É jogo praticado na terra de São Salvador.
Eternamente Drummond
Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)
SAGRAÇÃO
Rocinante
pasta a erva do sossego.
A Mancha inteira é calma.
A chama oculta arde
nesta fremente Espanha interior.
De giolhos e olhos visionários
me sagro cavaleiro
andante, amante
de amor cortês a minha dama,
cristal de perfeição entre perfeitas.
Daqui por diante
é girar, girovagar, a combater
o erro, o falso, o mal de mil semblantes
e recolher, no peito em sangue,
a palma esquiva e rara
que há de cingir-me a fronte
por mão de Amor-amante.
A fama, no capim
que Rocinante pasta,
se guarda para mim, em tudo a sinto,
sede que bebo, vento que me arrasta.
Cantigas de Ninar
Acordei de madrugada,
Fui varrer a Conceição,
Encontrei Nossa Sra
Com seu raminho na mão.
Eu lhe pedi um raminho,
Ela me disse que não,
Eu lhe tornei a pedir,
Ela me deu seu cordão.
Numa ponta Sto Antônio,
Noutra ponta São João,
No meio Nossa Sra
Com seu lencinho na mão.
Cala a boca, iaiazinha,
Que seu pai já vem já,
Já foi buscar timão de seda,
forrado de tafetá.
Trova do Rio de Janeiro
Diamantino Ferreira
A trova de qualquer jeito,
Chega forte e vai bem fundo;
Em seu contexto perfeito
Já percorre todo o mundo.
Poesia de Autor Desconhecido
Quem é Você?
Tenho procurado respostas nas estrelas…
Quero descobrir
Quem é você que me enche de alegria
Que do anonimato me faz tão feliz
Não sei quem és,
Mas me faz tão bem.
Hoje sei o poder que tem as palavras
Elas sabem encantar, vem cheias de doçura
E se vem digitadas pelas tuas mãos
Tem um poder mágico.
Elas me fazem viajar para um mundo
onde só há amor,
compreensão, cumplicidade,
companheirismo e ternura.
Ah! você me faz tão bem !
Se estás tão longe como pode
me fazer tão bem ?
Como posso sentir o
aconchego dos teus braços
Se nunca te abracei ?
Se nem ao menos os teus olhos fitei ?
Como posso senti-los me olhando ?
Se nunca senti o calor do teu carinho
Como posso sentir esse calor que emana ?
Como posso sentir que está triste
Se nem ao menos me falou ?
Ah! Você me faz tão bem.
Porque faz isso para mim
Se nem ao menos me conhece ?
Nunca nos conheceremos pessoalmente
mas sinto como se fossemos
Amigos ha muito tempo.
Quem é você aí na telinha,
que me manda Tanto carinho ?
Quem é você que me faz tão bem ?
Quem é você que me dá tanta força ?
Quem é você que se esconde
atrás desta Máquina fria e gelada ?
Acho que sei quem és.
É um ser divino que Deus colocou
No meu caminho
É um Doce Anjinho
Que apareceu para me proteger.
Ah ! Como é bom saber que
Tem alguém que ama as estrelas,
Que ama um banho de chuva,
Que ama as flores,
Que ama seus pais,
Que dá valor à vida,
Que dá valor à uma amizade,
Que sabe o valor que ela
Representa em nossa vida.
Nossa amizade é maravilhosa.
Aprendi que quando temos Bons amigos,
não precisamos
de mais nada, o resto vem junto.
É conseqüência.
Não sei rimar
Não sei brincar com as
Palavras como você,
mas estas tenha certeza que saem
de dentro do meu coração.
Olhe para a lua linda
e majestosa no céu, e sempre
Que ela sorrir para você…
É porque sou eu que
Estou lá.
Trova do Rio de Janeiro
Henny Kropf
A paz é como uma rosa,
A perfumar os caminhos,
Tão bonita e tão bondosa
Mas, espalhando os espinhos.
Trova do Distrito Federal
Miguel J. Malty
Atente bem e me escute:
O homem simples, só fala.
O tolo fala e discute,
Enquanto o sábio se cala.
Fontes:
Boletins Nacionais da UBT
O Trovador
Revista Virtual Trovia
http://www.antoniomiranda.com.br
http://www.astormentas.com
http://www.sonetos.com.br
Eberth Santos. Josana de Moura. Filosofia & Literatura. Palavra em ação. Uberlândia/MG: Claranto Editora, 2004.
José Feldman. Alba Krishna Topan Feldman. Cavalgada de Sonhos. Ed. do Autor.
Izo Goldman. Curso de Trovas. (Apostila)