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Nicodema Alves (1900 – 1967)

A poetisa NICODEMA ALVES vem de estrear nas letras nacionais com seu livro de versos: OCASO. Não se há negar que a beletrista caetiteense, sujo talento honra a Bahia, revela, através da sua poesia, um lirismo espontâneo, terno e evocativo, plasticidade de idéias, um desencatado pessimismo em face da vida, não isento de ironia e ceticismo, que não desapontam, contudo, os leitores, pois tudo que escreve e descreve é emoldurado na brilhante e colorida paisagem de nossa natureza tropical.”
João Guimarães Filho

Biografia e Obra

Nicodema (Anísia de Souza) Alves nasceu em 15 de setembro de 1900 na cidade de Caetité, filha de Vicente Custodio de Souza e de Maria Anísia de Souza. Em Caetité passou toda a sua infância e adolescência no sítio da família.

Com a morte de sua mãe, ainda muito jovem ficou responsável pela educação de seus dois irmãos mais novos. Mais tarde, aos 21 anos casou-se com Avelino Domingues Alves, comerciante conceituado da região, com quem teve sete filhos.

Até então, suas viagens para Salvador se davam pela necessidade de tratamento médico, pois a escritora sofria de uma séria bronquite asmática, seqüela adquirida na juventude quando esteve refugiada por vários dias com os moradores locais em um acampamento improvisado, enquanto o cangaceiro Lampião e seu grupo ocupavam e saqueavam a região. Mais tarde a doença se agravou, e na idade madura transformou-se em enfisema pulmonar.

Desde jovem teve diversas atuações na sua cidade, foi professora primária da escola da Paróquia, atuou politicamente a favor de seu município, tornando-se líder política do Partido Liberal e intervindo junto às autoridades locais para melhorias, bem como, também, foi responsável pela formação da Filarmônica que tomou o nome de “Iracema”. Dessa maneira, Nicodema Alves foi uma pessoa muito conhecida e admirada em Caiteté.

Preocupada com a instrução dos filhos mudou-se, definitivamente, para a cidade de Salvador, onde realizou um curso de alta costura em um ateliê de estilo francês, dirigido por Madame Lamartine, vindo mais tarde a montar o seu próprio ateliê.

A escritora sempre se dedicou à leitura, atividade que realizava, quando pequena, às escondidas. A sua vasta leitura foi iniciada a partir do contato com a sua professora primária, Jovina Trindade, que a influenciou bastante na leitura de diversos autores ao abrir sua biblioteca particular à jovem.

Ainda adolescente, Nicodema Alves iniciou escrevendo versos e experimentou outros gêneros. Segundo depoimento de sua família, tem-se notícia que a poetisa colaborou em alguns jornais de Caetité, material que ainda se encontra disperso ou perdido, por falta de exemplares nos acervos das bibliotecas.

Nicodema Alves só veio a publicar um livro de versos, intitulado Ocaso (1966), já no fim da vida, porém, não teve a alegria de ver o seu lançamento que ocorreu um ano após a sua morte que se deu em 1967. Neste livro de poemas, ela reúne composições selecionadas por ela e por seus amigos poetas.

Além de Ocaso, a escritora, conforme depoimento de sua filha, Avany Alves, deixou uma grande quantidade de poemas e textos de outros gêneros que ainda se encontram inéditos

Nicodema Alves faleceu em Salvador em 26 de maio de 1967.

Lançado em 1966, em Salvador, pela Fundação Gonçalo Muniz, “OCASO” reúne os poemas da escritora caetiteense. Transcrevemos aqui alguns dos comentários prefaciadores desta obra, dentre os quais o do saudoso professor da Faculdade de Direito da UFBA, Sylvio Santos Faria:

Poente no Céu… Ocaso na vida…
Na quadra em que nos abeiramos das realidades que a visão anterior nos empolgou em tempos idos, em quadras pretéritas, foi que a poetisa NICODEMA ALVES veio dar-nos à visão deslumbrada, rendida à inteligência, o seu livro de versos – OCASO.

Ela veio comprovar que o talento não envelhece, que o veio, a catra do cérebro traz, ao de sempre, aos garimpeiros do ideal, riquezas fabulosas que abateia do sonho recolhe dos garimpos fecundos.

Bem haja quem, já nessa quadra da vida, faz vibrar as centelhas da inteligência, para a revelação dos sonhos já sonhados que amealhou e, somente agora, os exibe em páginas reveladoras de emotividade e beleza.”

“”Ocaso”, livro de versos, da autoria da poetiza Nicodema Alves, a bem dizer, não é um livro de estréia. De há muito a sua poesia conheceu o calor e a luz do sol através do privilégio dos que integram o seu vasto círculo de relações e podem se deliciar com a leitura de seus versos. Nessa condição, sem qualquer outra autoridade, venho testemunhar, a par da excelência da forma e do conteúdo, a madureza dos motivos.

Embora variando de temas, uns de inspiração naturalística, outros de profunda abstração, em todos os versos encontra-se presente a projeção de uma sensibilidade artística, que o sofrimento somente fez exasperar.

A Autora, por entre a moldura de seu quarto, divisa, por força essa sensibilidade fora do comum, uma paisagem humana, que passa despercebida a quase todos nós. A tônica da poesia, que analisamos, é o sofrimento, mesmo quando ele se manifesta pelo contraste entre o esplendor naturalístico do ambiente, que inspira o verso, e a condição humana da sua criadora.

Há em “Ocaso” um conteúdo lírico, que toca profundamente as almas bem formadas, provocando a emoção nos que dedicam à Autora sincera amizade.”
Salvador, agosto de 1966 – Sylvio Santos Faria

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

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Nicodema Alves (Poesias: Ser Bom – Caetité)

SER BOM

Alguns anos presa ao leito do sofrimento.

Como pode ser bom quem chora na prisão,
Quem mendiga um carinho, um pouco de afeição?
Como pode um cativo exercer a caridade?
Não pode demonstrar, mesmo o intente, a bondade!

Mesmo que fosse um Justo, um paladino, um santo,
Como a chaga curar? Como secar o pranto?
Como sorrir à infância, ao cego dar a mão,
Dar pão para o mendigo, amparo ao ancião?

Sim, é fácil ser bom, mas não no cativeiro!
Preso à cela a chorar, sorrir ao carcereiro?
Dizer palavras que se envolvam de ternura?
Oh! Como falas bem! Não vês essa amargura…

Como o amor demonstrar, a bondade expandir,
Espalhando o sorriso, a vida colorir,
Quem vive ao desamparo, a definhar, sozinho?
Impossível ser flor, só pode ser espinho!

CAETITÉ

Já se finda a madrugada!
Pela insônia torturada,
“Vou cantar a minha terra
E as riquezas que ela encerra!”
Caetité tradicional,
És tu meu berço natal!
Tens passado glorioso,
Que fez teu nome famoso,
Foste princesa adorada,
pela fama bafejada,
Porém, cidade querida,
Vives tão longe, escondida…
Tu guardas nos teus rincões
O ouro todo dos sertões!
Daria pra libertar
Todo o Brasil secular!
Nas areias dos teus rios,
Como a lançar desafios
A quem o queira ir buscar,
Na bateia o peneirar!
Na raiz das tuas gramas
Quais fios de filigranas,
Se o sertanejo as capina,
Ele descobre uma mina!
E os veios grossos que encerras
No seio das tuas serrras?
Minérios em profusão,
Tens debaixo do teu chão!
Tu vives, princesa amada,
Entre as serras debruçada,
Ouvindo o vento cantar,
Entre as palmas estalar,
Na profusão dos coqueiros
Que se contam aos milheiros!
Minha cidade bonita,
Mesmo antiga, és tão catita!
No pensamento a rever,
A saudade faz doer!
Recordo as manhãs brumosas,
Onde neves vaporosas
Levantam de tuas fontes,
Cobrem o cimo dos montes!
Tu foste o berço natal
De César Zama imortal!
Plínio de Lima e João Gumes
Foram chispas dos teus lumes!
Aquele grande poeta
Teve lirismo de esteta!
Anísio, Rodrigues Lima
Nomes que a fama sublima,
E muitos nomes famosos
De filhos teus, valorosos!
No teu seio, sepultados
Estão meus pais muito amados,
Meus irmãos muito queridos,
Jamais serão esquecidos!
Adeus, cidade bonita,
Ó terra minha, bendita!
Com teu passado de glória,
Estás na minha memória
Embora eu viva distante,
Jamais te esqueço um instante,
Tudo o que é teu rememoro,
Ó mater que eu tanto adoro!

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

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Plínio de Lima (1847 – 1873)

Plínio de Lima: O Primeiro Poeta de Caetité

O poeta Plínio Augusto Xavier de Lima nasceu em Caetité, aos 17-10-1847, numa casa onde hoje está a residência episcopal, filho do Ten. Cel. Antonio Joaquim de Lima e D. Francelina de Albuquerque Lima. Estudou Direito no Recife, onde travou amizade com Castro Alves, junto a quem fundou uma associação abolicionista, sendo em vida mais popular e conhecido que o confrade. Em trajetória inversa ao colega Ruy Barbosa, migrou da Faculdade do Largo de S. Francisco, em S. Paulo, para Pernambuco, onde formou-se retornando para a terra natal onde adoece, falecendo aos 17 de abril de 1873. Parte de seus poemas, ínfima, foi recuperada por João Gumes e publicada em 1928 pela “Seção de Obras d’O Estado de São Paulo”, sob o título de “Pérolas Renascidas”.

Quase perdida, com o concurso do Sr. Sylvio Gumes Fernandes, Acadêmico Emérito da ACL, foi reeditada eletronicamente pelo Município, em 2002.

Dr. Plínio Augusto Xavier de Lima, filho legítimo do Tenente Coronel Antonio Joaquim de Lima e de D. Francelina de Albuquerque Lima, nasceu na Cidade de Caetité, no Estado da Bahia, a 17 de Outubro de 1847.

Fez curso primário na terra natal, e iniciou o secundário com o professor Theotonio Soares Barbalho que regia a cadeira pública de latim naquela cidade.

Seguindo para a Capital do Estado, continuou o estudo de preparatórios no Gymnasio Bahiano, do saudoso diretor Dr. Abílio César Borges, Barão de Macaúbas, estudos que foi terminar em S. Paulo e Pernambuco, centros de intensa cultura para o jovem Plínio que assim ilustrara o seu tirocínio colegial e acadêmico.

Em 1867, matriculou-se na Faculdade de Direito de Pernambuco onde, por seu amor ao estudo e peregrinas virtudes, conquistou, por entre a estima geral de mestres e colegas, com aprovações plenas e distintas, o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais, em 29 de Novembro de 1871.

As suas tendências literárias, que se manifestaram desde os bancos escolares, fizeram-no poeta sagrado pelas musas.

Espírito superior, pertenceu a uma geração acadêmica distintíssima e tornou-se, graças às fulgurações do seu belo talento, fortalecido pelo estudo, um cultor primoroso do verso.

Assegura um dos seus contemporâneos – o jovem Plínio de Lima “era uma figura original de sertanejo: de cabeleira aloirada e olhos verdes, apresentando-se sempre com requintes de elegância de um parisiense, e primando por um espírito cintilante, por vezes finamente mordaz, só saindo de seu aspecto expansivo e risonho na hora da luta, em que se transformava num valoroso guerreiro.
Uma compleição de ateniense que fazia lembrar Alcebíades
.”

Homem de ciência, poeta e escritor, gozou sempre do alto apreço que dão as prendas do estudo e da inteligência.

Nas teses cientificas e literárias que se apresentavam, nas discussões eruditas que se travaram, a sua palavra eloqüente soava sempre com prestígio singular.

Múltiplas e superiores foram as manifestações de seu estro nesse último período de sua jornada acadêmica: nos comícios escolares, nas manifestações patrióticas dessa época de guerra, nas solenidades em que se iniciava, pujante, a cruzada emancipadora, a sua voz, de uma sonoridade empolgante, era sempre ouvida com encanto.”

Espírito liberal, não foi como já vimos o jovem acadêmico estranho à causa do abolicionismo, em Pernambuco, pois, fundou, em 1867, com Castro Alves, Ruy Barbosa e João Baptista Regueira Costa, uma sociedade abolicionista que tinha a missão generosa de combater a escravidão, numa época em que era um crime não a ação, mas a simples palavra em favor da raça negra no Brasil, sendo seu presidente o glorioso Cantor dos escravos.

Estudioso, inteligente e sempre festejado pela mocidade do seu tempo, publicou Plínio de Lima, no Correio de Pernambuco, versos, sátiras e folhetins, cheios de humor, sobre fatos da vida social ou acontecimentos públicos da época, sob o pseudônimo de Lucio Luz.

Aos 19 anos de idade, prefaciando Lésbia, livro de versos do poeta baiano Antonio Alves de Carvalhal, foi Plínio de Lima, “definitivamente consagrado um dos primeiros literatos em uma legião de 500 acadêmicos“.

Quando, em 1871, os doutorandos ofereceram ao Dr. Aprígio Justiniano da Silva Guimarães o seu retrato, foi Plínio aclamado o seu intérprete, missão que desempenhou em um discurso de peregrina eloqüência, publicado na imprensa pernambucana com elogiosas referências.

Não cabe, nos estreitos limites destas linhas singelas, de homenagem à sua memória, o estudo de sua obra literária, na qual figuram versos primorosos suficientes para lhe dar reputação de poeta.

O verso lírico foi a constante preocupação do poeta, cuja morte prematura tanto deploram as letras pátrias.

Faleceu o Dr. Plínio Lima na Cidade de Caetité, a 17 de Abril de 1873, contando apenas 26 anos de idade.

O seu enterro, escreve um contemporâneo, foi uma apoteose porque o Dr. Plínio era muito querido, por seu trato cativante, talento de escol e pelo muito que trabalhara pelo progresso de sua terra natal, a começar pela construção de um bom teatro, para o qual deixou o dinheiro que adquirira em subscrição.

Deixou muitas produções inéditas, entretanto não deixou livro publicado.

Entre suas poesias uma logrou grande popularidade, graças ao sentimento artístico de Xisto Bahia, que a pôs em música. Era a modinha preferida da mocidade e fez época na capital da Bahia.

Com o seu título – Ainda e sempre – é a seguinte:

Quis debalde varrer-te da memória
E o teu nome arrancar do coração!
Amo-te sempre! Que martírio infindo!
Tem a força da morte esta paixão!…

Eu sentia-me atado aos teus prestígios
Por grilhões poderosos e fatais;
Nem me vias sequer, – te amava ainda!…
Motejavas de mim, – te amava mais!…

Tu me vias sorrir. Os prantos d’alma
Só confiam-se a Deus e à solidão!…
Tu me vias passar calmo e tranqüilo,
Tinha a morte a gelar-me o coração!…

Quantas vezes lutei co’o sentimento!
Quantas vezes corei da minha dor!…
Quis até odiar-te… amava sempre
Sempre e sempre a esmagar-me o meu amor!

Em diversos cadernos, deixou o Dr. Plínio de Lima, colecionadas as suas poesias, ainda em grande parte inéditas, em poder de pessoas de sua família, mas devido à bela iniciativa do Dr. Affonso Fraga, ilustre filho de Caetité e conceituado advogado na capital de S. Paulo, foram elas, em parte, editadas à sua custa, no bonito livro, ora publicado que é o justo valor dos méritos do genial poeta Plínio de Lima.

Colaborou nesse generoso empenho, a pedido do Dr. Affonso Fraga, o ilustre professor João Gumes, distinto homem de letras e conhecido jornalista que se desempenhou com louvores da sua honrosa incumbência. O livro em apreço, impresso em papel superior, com capa alegórica, nas oficinas do Estado de S. Paulo, em 1928, recebeu, em falta de um nome dado pelo poeta, o título expressivo Pérolas Renascidas.

Da edição feita, apenas reservou o editor alguns exemplares que distribuiu pela imprensa e escritores de renome, remetendo para a cidade de Caetité os restantes para serem oferecidos, em partes iguais, à Caixa Escolar e à Sociedade das Senhoras de Caridade.

É mais um duplo e valioso serviço prestado pelo benemérito caetiteense à assistência social e às letras pátrias, fazendo ressurgir do olvido a que foi relegado, o nome do laureado poeta, para torná-lo redivivo no Panteão da nossa literatura.

Para julgar a importância da justa homenagem, prestada à memória de um poeta que muito honrou as letras e especialmente a terra do seu nascimento, transcrevemos abaixo o judicioso artigo do Diário Popular, de S. Paulo:

… Plínio de Lima, cujos trabalhos só agora saem a lume devido ao entusiasmo generoso de um admirador póstumo, faz parte daquela plêiade de talentosos rapazes que de 67 a 75 fizeram as delícias da mocidade baiana e pernambucana, irmanada sob as torres de Recife.

Condoreiros ricos de hipérboles, fascinantes de tropos, enchiam, com os seus lundus, com a poesia popular, as ruas de Olinda, as Academias de Recife.

Plínio de Lima, como Castro Alves, fizeram a alegria das raparigas do norte, depois de deixarem um sulco nostálgico na sua terra natal, a Bahia.

Num e noutros, sente-se não a influência da época, a influência do meio, o prestígio de Tobias Barreto que arrebatava as multidões.

Mais feliz, Castro Alves teve como cenário o palco do Santa Isabel com toda a munificência perdulária da cultura e inteligência baiana, de então.

Mais modesto, Plínio de Lima não alcançou o apanágio da glória e nem os prestígios sobre o coração feminino, quanto Castro Alves.

Ambos perlustraram o mesmo caminho: as Faculdades de Recife e de S. Paulo.

Ambos amaram, um em segredo, outro retumbantemente, pelos camarins das estrelas da época.

Mas, nenhum deles morreu de todo.

De Castro Alves a apoteose foi rápida: fê-la Ruy Barbosa, numa festa decenária na capital da Bahia; a apoteose de Plínio de Lima vem de a fazer o Snr. Affonso Fraga.

O entusiasmo do seu patrono é sincero e ainda vem a tempo.

A sua melhor recomendação fizeram-na o fulgor do seu talento, a beleza e o encanto dos seus versos, a delicadeza extrema com que canta os sonhos de moço e traduz os sentimentos dominantes na mocidade da sua época, em suma, tudo quanto a sua imaginação e organização poética produziram de belo e sensível em linguagem rítmica.

Affonso Fraga, que lhe patrocina a entrada nos umbrais gloriosos da popularidade, salvou do olvido um dos 5 cadernos legados pelo poeta, 4 dos quais soçobraram no oceano do tempo.

Daí denominar os preciosos remanescentes – Pérolas Renascidas.

E fê-lo com a sinceridade elegante de quem sabe afirmar:
No que toca à dedução da harmonia, à propriedade das imagens, à precisão das figuras, à exação da rima, à justa observância dos preceitos da arte poética, enfim, ao merecimento intrínseco dos versos, nada diremos: somos profanos na matéria.”

É uma afirmação errônea, porque, emocionado pelo talento de Plínio de Lima, fez-se não só seu divulgador, através do tempo, mas crítico sincero.

Esse pequeno volume que, por sua iniciativa, saiu das oficinas do Estado de S. Paulo, é a consagração do vate baiano.

Poderá a rima antiquada e o lirismo de antanho desagradar aos iconoclastas de hoje, mas a beleza de expressão talhada nos mármores de Paros, com a beleza também helênica da forma, ainda não foram vencidas, mesmo pela violência dos gênios da grandiosidade de um Miguel Ângelo.

Eis uma amostra magnífica:

Eu choro ao recordar estes instantes
de suprema ventura que me davas
Carinhosa e divina…
Eu contava-te a história de meus sonhos,
Tu me contavas – inocente e alegre –
Teus sonhos de Menina
.

Mas a glória é falaz.

Para Castro Alves foi bondosa e rápida; para Plínio de Lima, tardia, posto que igualmente bondosa.

Sua obra não se perdeu de todo; houve um pescador de pérolas que a soube salvar.

Fontes:
Plínio de Lima por Pedro Celestino da Silva (in Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – n.58 “Notícias Históricas e Geográficas do Município de Caetité – IGHB, Salvador, 1932)
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

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