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Eliana Ruiz Jimenez (Caderno de Trovas)

Abra a porta, deixe a luz
resgatar seu coração.
Vá sem medo, faça jus
a viver nova paixão.

A caridade amplifica
o sentimento cristão,
que tão bem se multiplica
quando é feita a divisão.

Aceita a missão, labora,
que o bom exemplo propala:
não basta erguer uma tora,
é preciso carregá-la.

Acorda cedo o labor
da mãe que põe o café
na mesa do puro amor
e enlaça a família em fé.

Agir certo não tem custo,
sendo a igualdade premissa;
dar sempre ao justo o que é justo:
é assim que se faz justiça!

A prudência é uma balança
que equilibra a nossa vida
ao dosar, com temperança,
a tentação desmedida.

A saudade mais sentida
vem do tempo de estudante:
a melhor fase da vida,
que passa num breve instante.

Bem no alto, aqui estou;
neste ápice, a conquista.
Mas de nada adiantou:
tu não estavas à vista…

Bem-viver não se aposenta,
mostra o mar essa verdade:
casal na faixa dos “enta”
surfa a vida e dribla a idade.

Cada qual com seu quinhão
de tristeza ou de alegria;
bem viver é aceitação
da jornada, a cada dia.

Cai de tapa a Januária
no traste do maridão,
ao saber que a funcionária
ficou “gorda” de um serão.

Caminhar é minha sina,
em campo ou desfiladeiro,
nesta busca peregrina
por um amor verdadeiro.

Chave de casa perdida
por defeito da memória:
– Terceira idade assumida,
já não há escapatória.

Chega ao fim nossa jornada
em cruel bifurcação.
Vou seguir em outra estrada,
deixo aqui meu coração.

Cheiro de terra molhada
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.

Como é que pode, hoje em dia,
um homem achar prazer
na farra da covardia
que é ver um boi padecer…

Criança muito levada,
que corre, chuta e sacode…
Que disciplina, que nada:
– Casa da vó tudo pode!

Da janela do avião
aos receios dei um fim;
Deus está na imensidão
e também dentro de mim.

De nossa firme aliança
depende a preservação
do mundo, que é nossa herança,
à próxima geração.

Desfazendo a natureza,
vai o homem construtor
desconstruindo a certeza
de um futuro promissor.

Deu-me as asas o Senhor,
e, ao voar no infinito,
vou buscar meu grande amor,
o meu sonho mais bonito!

Dios es justo y es la salida
para cualquier situación.
El amor es la medida,
si hay fe en tu corazón.

Em pintura impressionista
a primavera desponta:
flores a perder de vista,
cores de perder-se a conta.

Enfrentando a tempestade,
vou remando na ilusão
de encontrar a claridade
que desnude a escuridão.

Enquanto se der endosso
à ganância insaciável,
futuro é fundo de poço
que não tem água potável.

Enveredando o caminho
das trilhas à beira-mar,
o meu pensamento alinho
para a luz eu encontrar.

É hora, Brasil… se agigante,
os céus clamam por um basta.
Só vote em quem o bem plante,
não no que o erário devasta!

É preciso uma aliança
entre o querer e o poder,
pois é só com temperança
que se alcança o bem-viver.

Esqueça o capitalismo
na rua ou televisão.
Natal não é consumismo
é festa de devoção.

Esse mundo feminino
de segredos permeado
é um gracejo do destino
pelos homens odiado.

Esta vida me sequestra
numa espera de ilusão…
– Só o amor tem chave-mestra
para abrir meu coração.

Estrondo, coisa danada,
será trem ou avião?
– Barulho na madrugada
é o ronco do maridão…

Fecha-se o tempo passado,
meia-noite, eu me depuro;
nasce o dia, iluminado,
abre-se o tempo futuro.

Felicidade almejada,
no meu futuro eu diviso:
– Em teus olhos, a alvorada;
no teu corpo, o paraíso.

Fingindo que foi tropeço,
garantiu o seu futuro…
O figurão paga o preço:
pensão para o nascituro!

Hesitei, o trem passou,
e, ao correr pelo seu trilho,
só a poeira me restou
e a lembrança do seu brilho.

Imagens de infindas cores
emocionam o turista:
– Povos, culturas, sabores
passando o mundo em revista.

Já não temos mais fraqueza:
– Fome zero… companheiro.
Olha só pra robusteza
que arredonda o brasileiro!

Jaz latente enternecido
nas vertentes do meu ser
um amor adormecido
esperando efervescer.

Justiça é a busca do bem,
da harmonia em sociedade;
é o respeito que se tem
ao próximo, em igualdade.

Lá no tempo da esperança
o futuro é tão risonho;
não se dá conta a criança
que a vida não é um sonho.

Lua cheia, céu em festa
é um momento inspirador,
nós na rede, uma seresta,
embalando o nosso amor.

Minha alma bailarina
foge em noites de luar…
Sob a luz da lamparina
com a sombra vai dançar.

Não é o homem proprietário
nem senhor da criação;
é somente um usuário
que fez usucapião.

Não mais se comove o homem
com os sons da natureza.
Seus maus instintos consomem
o rio, a mata, a beleza…

Não zombe de minoria
ao fazer trovas de humor;
como sogra é maioria,
use e abuse, sem pudor!

Na vida não busque atalhos;
desvios são ilusão,
nada mais do que atos falhos
que atrapalham a missão.

Nesta vida o encantador,
com maior significado,
dá-se ao cativar o amor
e ao render-se, cativado.

Noite quente, lua cheia,
é receita milenar:
– Paixão louca que incendeia
os casais sob o luar.

No baile dos trovadores
Angelina faz o clima:
provoca tantos calores
que até desconserta a rima.

Nos percalços dessa vida
já deixei muita pegada
como marca dolorida
dos reveses da jornada.

Nossa vida é aventura
de amor incondicional
com sabor de uva madura
à sombra do parreiral.

Nos trilhos vou sem temor
e com fé me determino;
sou trem nos campos em flor
em busca do meu destino.

Nos vales ou nos outeiros
levando a luz da instrução,
escolas são candeeiros
que aplacam a escuridão.

Numa empresa não há ócio
com um bom empreendedor,
mas o lucro do negócio
quem o mostra é o contador.

Numa profusão de cores
vem o outono, sedutor,
inspirar os sonhadores
num convite para o amor.

O amor inspira a vontade
de viver com alegria.
Não importa a tempestade,
cante e dance todo dia.

O futuro do planeta
não é segredo a ninguém;
preserve e se comprometa
que a vida assim se mantém.

O mar de um azul profundo
e as montanhas esverdeadas
são belezas deste mundo,
precisam ser preservadas.

O pedestal de granito,
que me tolhe o movimento,
eu reesculpo no grito
e um novo destino invento.

Os mistérios da conquista,
como olhares, sedução,
são enigmas cuja pista
bem esconde o coração.

Paraíso, Liberdade,
Morumbi, Consolação:
– se for amor de verdade,
tanto faz a direção.

Patrimônio bem cuidado
não é só na aplicação;
tem mais valor partilhado
fazendo o bem ao irmão.

Peço ao mar que não me esconda
em tamanha vastidão:
– Traga logo em sua onda
quem me cure a solidão.

Pensamento irresolvido
remoendo a mesma história:
– um amor não esquecido
reticente na memória.

Perpetuados lado a lado,
em acervo permanente:
são retratos do passado
que decoram meu presente.

Pescador mais esportivo
deixa seu peixe escapar,
melhor solto que cativo,
para assim o preservar.

Pescadores não se enganam
na sua avaliação:
– Redes vazias emanam
do descaso e poluição.

Poetas são pescadores
de palavras e emoção:
fisgam assim seus amores
com os versos da paixão.

Por ser eterno esse amor,
não amedronta a partida;
sendo Deus o condutor,
não existe despedida.

Por uns trocados banais
a extinção tem seu parceiro
na captura de animais
para fins de cativeiro.

Presença no firmamento
em noite clara, estrelada:
– É o amor de Deus que, atento,
nos guarda na madrugada.

Qual um mistério ancestral,
o luar, na vastidão,
ao luzir, tão passional,
ludibria-me a razão.

Quando, ao vestir-se, derrapa
e a falsa amiga a critica,
a resposta é um belo tapa…
mas com luva de pelica.

Quando chega a primavera
as emoções são pueris
e a natureza prospera
no tempo de ser feliz!

Quantas bênçãos recebidas
quando se caminha aos pares:
um ideal, duas vidas,
dois corações similares.

Quem tem amor entardece
em suave balançar,
contemplando o sol que tece
mais um poente no mar.

Rede que volta vazia
traz tristeza ao pescador
que apesar da nostalgia
leva adiante o seu labor.

São forças da natureza,
não se pode fazer nada:
– fogo, vulcão, correnteza…
e a mulher apaixonada!

São Paulo, gigante altiva
em constante agitação
é, em tudo, superlativa
mas cabe em meu coração.

Saudade é uma dor pousada
nos ombros da solidão:
felicidade passada,
vedada a repetição.

Segredos engarrafados
boiando ao sabor do vento…
Corações despedaçados
para os quais não houve alento!

Sentimento irresponsável
perturbando o coração:
– é o amor, força implacável
fez perder minha a razão.

Seu olhar insinuante,
que tanto brilha me atesta:
– Uma fagulha é o bastante
para incendiar a floresta.

Sigo o rumo, vou em frente,
mas não vai adiantar…
Ser feliz está na mente,
decisão ao acordar.

Sol e mar… calor, beleza…
vêm mostrar à humanidade
que o homem e a natureza
têm a mesma identidade.

Só o amor tem o condão
de avivar, resplandecer,
transformando a escuridão
em radioso amanhecer.

Sorria pra natureza,
respeite e sempre preserve,
só assim teremos certeza
que o mundo assim se conserve.

Sorte, aleatório caminho
que cada destino traça:
para alguns, tão farto vinho;
a outros, vazia taça.

Sua luz, como um farol,
me guiou na tempestade:
fez surgir um lindo sol,
que selou nossa amizade.

Tanta pompa na montagem
faz o enlace reluzir;
mas no bolo o enfeite é a imagem
da vida que está por vir.

Todos têm um professor
na memória bem guardado,
que ensinava com amor,
mesmo mal remunerado.

Traz o arco-íris à lembrança
que, ao criar tanta beleza,
Deus nos fez, em confiança,
tutores da natureza.

Triste destino bizarro
de um país na contramão:
alunos chegam de carro;
professor, de lotação.

Trovadores, em verdade,
são irmãos na inspiração,
na partilha da amizade,
no carinho e na emoção.

Um amor que se alardeia
não passa de sonho vão:
é só castelo de areia
escorrendo pela mão.

Uma vida sem amor
é qual comida sem sal:
em ambas falta sabor,
por ausente o principal.

Um barquinho num painel
em cenário tão bonito…
– São meus sonhos de papel
navegando no infinito.

Um casal apaixonado
faz da vida um carrossel
de emoções, desgovernado,
rodopiando rumo ao céu.

Um segredo bem guardado
para assim permanecer
não deve ser partilhado
para nunca se perder.

Urge o tempo, faz-se escasso,
e, ao sofrer na despedida,
o nosso amor, sem espaço,
mostra a vida não vivida.

Valorando o sem valor,
conjugando o verbo ter,
esqueceu-se quanto amor
num ranchinho pode haver.

Vejo no espaço infinito
e em cada constelação
nosso amor nos céus inscrito
como obra da criação.

Vivo sempre a divagar,
no silêncio em que me abrigo:
– Ah que bom poder voltar,
a estar outra vez contigo!

Voa, passarinho, voa,
que gaiola é só maldade.
Livre, lá nos céus entoa
o cantar da liberdade.

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Eliana Ruiz Jimenez (Outros Versos)

HAICAIS E TERCETOS

Escritos na PRIMAVERA

Bem-te-vis em pares
preparam ninhos nos postes.
Em alta tensão.

Ah… o impressionismo…
Diante de mim, Monet
emoção etérea.

Rolinhas se enroscam
nas palmeiras do quintal.
Ovinhos à vista.

Trabalho, trabalho.
Formigas em carreirinha
levam folhas verdes.

Vida em tons pastéis
até encontrar seu olhar.
Paleta de cores.

Mais um dia nasce.
E esse amor que me vigia
é a luz da manhã.

Gorjeia em triversos
o trinca-ferro do sul.
Poeta do bosque.

Incessante chuva.
Em dia de escuridão
as luzes acesas.

Dissolve as estrelas
uma luz no firmamento.
O sol da manhã.

Estrelas do mar,
a maré nunca mais trouxe…
Detritos na areia.

Tantos professores
abriram nossos caminhos.
E quem abre os deles?

A sapa sapeca
sapeou pela lagoa.
E engirinou!

Teatro giratório.
Há lugar para sentar
em palco de sonhos?

Escritos no VERÃO

Deixar-se levar
é viajar sem e-tickets.
Pensamentos bons…

O verão, em férias,
acinzenta o céu e o mar.
Guarda-sóis guardados.

Moradas no morro.
Chove muito, chove mais,
morro abaixo, morte.

Boiando no rio
um sofá é entregue ao mar.
E quem vai sentar?

Escritos no OUTONO

Poeta na praia,
voyeur em noite encantada.
Excessos da lua.

Luona no mar
tinge de prata o horizonte.
Presente de maio.

Nuvens versus sol,
luta no ringue do céu.
E quem vencerá?

Lua em perigeu
gera preciosas saudades.
Reflexos no mar.

Voltaram as nuvens,
a luz cansou de brilhar.
Feriado solar.

Perigeu no mar
tinto de prata o horizonte
presente de maio.

Outono abre alas
para o sol quase verão.
Graça da estação.

A luz acanhada
dilui-se em serena alvura.
Procissão de nuvens.

Ameno domingo.
Bocejam as criaturas
na lenta manhã.

Doces caramelos.
Tantos sabores da infância
em tardes sem culpa.

Orgulhoso o sol
ostenta a pinta no rosto.
Passeio de Vênus.

Escritos no INVERNO

O frio de junho.
Casacos livres do armário
desfilam na rua.

Na tarde sisuda,
o vento arrepia as folhas
Chocolate quente.

Os balões no céu
já não são mais inocentes.
Florestas em chamas.

Dia em tons de cinza.
Num ninho de cobertores,
o calor das cores.

Marasmo diário.
Na rede do pescador,
garrafas e latas.

Fios por toda parte
levam notícias e sonhos.
As pessoas ficam.

Na história, o grito
lá nas margens do Ipiranga…
Hoje só detrito.

No carro de som
a propaganda política.
Vai ganhar no grito?
————-

POEMAS

ENCANTAMENTO

Encantamento.
Sobrevoo o mundo real
sem querer pousar.
A brisa leve me leva
sobre um mar de lembranças
da paisagem de sonho.
Dunas intocadas,
águas transparentes.
Verão.
A torre me dá instruções,
aterrissar é necessário.
Vou descendo
devagar, divagando.
Amenizo a reentrada
com um pensamento:
Vou voltar
sempre que puder
sempre que Deus quiser…

PERMITA-SE
O que é o presente
Senão o vão momento
Que o passado já engoliu?

O que é o futuro
Indelével destino
Que não se pode controlar?

Permita-se
Sentir a brisa,
Olhar o horizonte
Esperar a primeira estrela.

Permita-se
Beijar hoje
Não trabalhar
Esquecer as obrigações.

Permita-se
Sorver um bom vinho
Uma boa companhia,
Jogar conversa fora.

Permita-se
Acreditar no amor,
na sorte, no destino
e na bondade das pessoas.

Permita-se.

ESCRITÓRIO
Escritório
Sina de todo dia
Multidão comprimida
Na total monotonia.

A porta fecha
Deixando a vida lá fora
O relógio é moroso
E a saída demora.

Presos na caverna de luxo
Onde o sol não entra
Onde a chuva não molha
E até o ar é condicionado.

Escritório
Robôs de crachás
Sem pensamentos, sem vontade
Sem individualidade.

As melhores horas
De muitos dias
Em troca da breve alegria
Do dia dez.

O MURO

O muro gelado
Separa a cidade
De um lado a mentira
E de outro a verdade.

O muro mesquinho
Divide o amor
De um lado ele é puro
No outro é dor.

O muro pichado
Esconde a alegria
De um lado é noite
De outro é dia.

O muro maldito
Separa os humanos
De um lado carentes
De outro insanos.

O muro é eterno
E faz parte de nós
Deixando os homens
Isolados, a sós.

VEM E VAI

É a onda que vem
Vem e vai.

Como a cheia do rio
Que sobe e se esvai.

É a lua que surge
E depois se retrai.

Como o homem que nasce
Morre e “bye”.

É o ciclo da vida
Vem e vai.

Como o sol que nasceu
Sobe e decai.

É o amor que chegou
Entra e sai.

Mas a dor que deixou
Dói demais.

AGORA

Agora posso respirar
E sorrir
E jantar.

Agora posso ir
Pra um lugar
Divagar.

Agora posso ver
O meu eu
Renascer.

Agora posso parar
De sonhar
E lutar.

Agora estou livre
Para ser
E vencer.

Agora estou bem
Para o ano
Que vem.

MENINO POBRE

Menino pobre
Da noite quente
Abandonado
Menor carente.

Menino pobre
Da noite nua
Necessitado
No olho da rua.

Menino pobre
Do pé descalço
Chutando lata
Pela calçada.

Menino pobre
Menino sujo
Vagando triste
Um moribundo.

Menino inquieto
Girando o mundo
Sem casa e roupa
Sem mãe nem pai.

Menino triste
Pra onde vai
O que vai ser
Quando crescer?

MAR

Ventos
Valsando
Voltam
Vagando
Trazendo
O barulho
Do mar.

Brisas
Soprando
Ondas
Tragando
Fazendo
A beleza
Sem par.

Canários
Cantando
Aves
Voando
Planando
A leveza
Do ar.

Praias repletas
Luzes, atletas
Completam
Essa vida
No mar.

FOSSA

Sai dessa fossa, menina
Que isso não tem remédio
O que está feito é passado
E o passado só leva ao tédio.

Se as coisas dão errado
Se a sorte te despreza
Não fuja, não vá de lado
Vá em frente que não pesa.

Sai dessa fossa, menina
Que chorar não adianta não
A vida tem dessas mesmo
Mas chorar não é solução.

Deixe de caminhar a esmo
Pare de se sentir errada
As coisas acontecem para o bem
Não há mal que resulte em nada.

Existe um horizonte além
Dos conflitos do dia-a-dia
Sai dessa fossa, menina
Olhe em frente e sorria!

TALVEZ

Talvez seja esse
O amor que procurei por toda a vida
Que pedi às estrelas
Que pedi aos santos
Que procurei nos cantos.

Talvez seja esse
O amor que sonhei da despedida
Quando descobri o engano de um amor trocado
E senti o sofrimento sem pecado.

Talvez seja esse
O amor que me fará forte
E de tão forte me fará fraca
Por ter meu coração entregue à sorte.

Talvez seja esse
O amor que me fará feliz
E será firma e será tão sólido
Que poderemos formas nós dois
Um só tronco, uma só raiz.

Talvez seja esse, finalmente
O meu caminho, o meu destino
A chave que libertará do meu peito
Todo o amor que eu tenho para dar
A recompensa por querer tão somente
Partilhar de um sentimento sincero
A realização do simples, porém complexo
Desejo de amar.

Talvez seja esse, talvez…

Fonte:
poesiasurbanasetrovas.blogspot.com

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Eliana Ruiz Jimenez (1960)

Eliana Ruiz Jimenez, nasceu em São Paulo, Capital. 

Com formação em Letras e em Direito, exerce a advocacia em Balneário Camboriú/SC.

Ligada a entidades de proteção ao meio ambiente, faz parte da Comissão de Meio Ambiente e Urbanismo da OAB.

Suas incursões literárias vão das crônicas a poesias livres, trovas e literatura infanto-juvenil.

É autora do livro “A tropa do ambiente em a internet do futuro”.

Tem vários trabalhos disponibilizados nos seguintes blogs:

poesiaemtrovas.blogspot.com (Trova-legenda)
elianaruizjimenez.blogspot.com (crônicas)
poesiasurbanasetrovas.blogspot.com (poesias livres e haicais)

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Varal de Trovas n 43 – Miguel Russowski (Joaçaba/SC) e Prof. Garcia (Caicó/RN)

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Luiz Eduardo Caminha (Poesias Escolhidas) II

Reflexões poéticas ou nada poéticas sobre o Inverno

Inverno 1

Cruel,
Sisudo,
Padrasto.

De mim?

Carrancudo,
Casmurro,
Sofrido.

Teu corpo?

Se amolda,
Me aquece,
Me envolve,
Me cobre.

Só tu,
Mulher,
Podes ser
Meu Sol!

Inverno 2

Frio intenso.

Na estepe
De minha mente
Nada cresce.

Nem mesmo
Um poema –
Que me aquece –
Que me aqueça!!!

Porventura…

Inverno?
Não rima
Com estéril?

Deveria!

É isto
Qu’ele faz:

Até a mente
Tolda,
Congela,
Nada produz!

MÍNIMO

Tu és,
Mulher,
No
Inverno,
Meu
Sol.
Meu
Verão.

AMENIDADES

Coisas boas do Inverno:
Uma cama bem quentinha,
Um ar quente no máximo,
Um café de pelar a boca

Só prá continuar
Debaixo dos cobertores.

Nada disto é melhor
Que a areia leito de uma praia,
Um Sol de verão,
Uma água de coco bem gelada,
De doer os dentes.

Quem gosta de frio e neve
É pinguim, urso polar e esquimó!

LUA INVERNAL

Até a lua,
Amante dos boêmios,
Companheira dos notívagos,
Se acoberta;
Agasalha-se de nuvens,
Névoa,
Neblina;
Esconde-se
Do frio gelado.
Mas está lá!
Pronta, à espera,
O poeta sabe.

ORFANDADE

Eu não imaginava
Ficar órfão tão cedo.
Aliás, eu nunca
Imaginei-me um órfão.

Estou nos cinqüenta e oito,
Quase cinqüenta e nove,
Primeiro meu pai,
Tristeza, melancolia.
Depois um irmão,
Dor, sentimento.
Mas ainda tinha uma mãe.
O fel da dor compensava!

Daí… ela resolveu partir,
Bateu asas
Como um pássaro,
Uma borboleta
Foi ao encontro dos seus,
Do outro lado.

O velho útero,
Sacrário dos filhos,
Já não vivia.
O cordão umbelical
Definitivamente se partira.
Um silêncio ensurdecedor,
Eco de uma ausência.

Foi aí que senti a orfandade.
Ficou fácil entender saudade.
Tão fácil! Tão amarga!
Sem graça, senti-la!

A Hamilton e Edy, meus pais, 1 ano depois que ela partiu para encontra-lo e reverem, juntos, meu irmão!

ESPECTRO

Foto noturna,
Riscos de luzes,
Rasgos melancólicos,
Soturnas lembranças.

Lúgubres sombras,
Espectros famélicos,
Andanças perdidas,
Descoloridas!

Uma tela disforme
Retrata a fome.
Miséria cansada
Da exclusão.

Quem vai parir o amanhã?
Quem vai colorir a vida?
A Esperança? Último grito de Pandora?
Ou a certeza? Dum triste futuro possível?

A argamassa, massa dos pobres,
Pão amanhecido, amolecido
Pelo suor diário de desatinos.
Faina diuturna, sede insaciável
De Justiça… e Paz, enfim!

Um Sepulcro futuro e garantido,
Repleto de sonhos, sussurros,
(Caiado pela hipocrisia)
Resta como digno descanso!

SONHOS

Estás louco poeta?
Queres tu imaginar,
Que o imponderável
Acontece?

Sonha, sonha, oh! Poeta.
Ainda bem que dormes,
Melhor: existes.
E sonhas…
Poesias!

Fonte:
http://caminhapoetando.blogspot.com.br/search/label/meus%20poemas

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Luiz Eduardo Caminha (Poemas Escolhidos)

VELEJADOR

Um barco.
Uma vela (branca).
Uma aragem.
Oceano.

Lá se vai,
o poeta velejador!

Um lápis.
Uma folha (em branco).
Um sopro.
Pensamento.

Lá se vai,
velejando o poeta!

Mar.
Vela.
Folha.
Versos.
Tudo se lhe assemelha!

Um remo.
Um lápis.
Um, quase nada.
Outro, quase tudo.

OUTONO

O compasso da vida
Me abre os olhos,
A bruma cobre,
Densa, silente,
O leito do rio,
A roupagem da mata.

A brisa fresca da manhã,
Faz a pele aquecida,
Contrastar com a natureza,
O calor do corpo, da noite.

A vida,
Parte deste ar outonal,
Desperta alegre,
Aos primeiros raios,
Do astro rei.

Num cochilo do tempo,
De repente,
Como se um hiato houvesse,
A névoa some,
A mata descortina seu verde,
É manhã.

O céu azul límpido,
Perpassa à bicharada,
A onda cálida,
Do novo dia.

A sinfônica dos pássaros,
A voz dos bichos,
A melodia das águas,
Serpenteando a corrida do rio,
Misturam-se ao som,
Barulho da cidade.

O tempo passa,
A tribo humana,
Segue seu passo.
A natureza aguarda,
Como mágica,
A volta do crepúsculo,
O sumir do novo dia.

AMIZADE

Uma estrada que acaba,
Num ponto do horizonte.
Um cais que finda, no infinito
Que é mar,
Um feixe doirado refletido. Do sol.
No oceano sem fim,
Uma canoa, um pescador. Solitários,
Solidários navegam.

Como guia o feixe prateado.
Da lua,
O luar.

Tudo, tudo é infinitude,
Tudo, tudo leva. (Todos).
A algum ponto. Distante.
Horizonte de esperança.

Um fio, como se fosse de espada,
Conduz, passo a passo.
Qual equilibrista,
Na corda de arame.

Certeza mesmo, uma só.
Haverá lá no fim,
Alguém.
Um amigo,
Um abraço,
Um ombro,
Um teto a nos colher.

Amizade.
Um meio?

Um fim.

NATL MENDIGO

Natal lembra um novo rebento,
Esperança que o mendigo sente
Triste alegria que se faz semente
Fé convertida, novo advento.

Natal estrela que lhe alumia
Por mais que lhe sofra a dor parida
Molhe o rosto a lágrima furtiva.
É menino, caminho que nos guia.

Natal é partilha do pão dormido
Que aplaca a fome do desvalido.
É felicidade quase certa.

Até que soe o sino da manhã,
Que volva mendaz a esperança vã.
Sonho vai. O mendigo desperta.

RAÍZES

Que seja ela,
A poesia,
Firme como a árvore.
Embora estática
Finca raízes,
Suga da terra…

E mostra, um dia
Nas folhas e frutos,
A razão que a move.

Que exprima ela,
A poesia,
Como a árvore,
Da seiva, o fruto.
Rabiscos de letras,
Amores e paixões,
No leito virgem, papel,
O seu doce cantar.

Sobretudo,
Que seja ela,
A poesia,
Como a água
Que se move
Corredeira abaixo.
Busca mar oceano,
Onde singram velas,
Horizontes sem fim…

FONTES

Lua cheia,
Estrelas que faíscam,

Sol nascente,
Poente eterno,

Fontes inspiram,
Respiram,
Poesias.

SONHOS

Estás louco poeta?
Queres tu imaginar,
Que o imponderável
Acontece?

Sonha, sonha, oh! Poeta.
Ainda bem que dormes,
Melhor: existes.

E sonhas…
Poesias!

PRENÚNCIO DE VERÃO
Que os ventos de Agosto,
Tão frios cá no Sul,
Tragam breve, a gosto,
O céu de Primavera, azul.

Pássaros a cantar,
Ninhos a fazer, então,
Amores a desbravar,
Prenúncio de verão.

POEMÍNIMO


no
sul
é

frio
que

quiçá
saudade
do
verão

é
tão
frio
que
não

pra
mim
mas

um
bom
surf
prá
pinguim

RODA DE VIOLA

O som,
Enche de romantismo,
O ambiente cálido
Da cantina acolhedora.

Lá está êle,
Cinquenta anos após,
A dedilhar as notas
Que lhe mandam o coração.

Olhos cerrados,
Cabeça inclinada,
Violeiro e Violão,
Misturam-se ao transe,
Da platéia; apoteose.

As mãos,
Aquelas mãos cheias de rugas,
Dedos finos,
Mostram um movimento frenético.

O toque suave,
Compasso a compasso
Sobre as cordas do violão,
Embaraçam solos e arpejos,
Maviosa sinfonia.

A seu lado,
Um copo de cerveja,
Um bandolim afinado,
Uma mesa vazia.

A platéia delira,
Canta contente :
Naquela mesa,
Eles sentavam sempre…

P.S.: Homenagem aos anônimos boêmios, a Jacó do Bandolim e a Velha Guarda, que fizeram da música brasileira, o romantismo, que até hoje, embalou tantas décadas.

Fonte:
http://caminhapoetando.blogspot.com.br/search/label/meus%20poemas

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Varal de Trovas n 31 – Gislaine Canales (Balneário Camboriú/SC) e Vânia Ennes (Curitiba/PR)

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Gislaine Canales (Caderno de Trovas)

A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!

Amor à primeira vista,
foi isso, mar, que eu senti!
Ninguém há que te resista,
quando está diante de ti!

Caminhei pelo infinito,
vaguei por milhões de espaços…
Até lá estava escrito
o meu regresso aos teus braços!

É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida!
 

É mais que um deslumbramento
ver o sol nascer no mar,
é mágico esse momento
que vem as águas dourar!

Eu gosto de navegar
nesse mar de azul infindo
formado por teu olhar.
Não existe mar mais lindo!

Não posso viver em vão,
eu preciso um filho ter,
plantar em fecundo chão
e um livro bom, escrever!

Nesta vida tão inquieta,
o meu consolo é pescar.
Sou pescadora – poeta,
que pesca versos no mar!

Numa troca de carinhos,
dois sorrisos se irmanaram,
e os dois, antes, tão sozinhos,
juntos, pra sempre, ficaram !

O brigadiano velhinho
gemia e quase chorava,
quando a velha, de mansinho,
seu cacetete… lustrava!  
 
Olhando o mar, eu diviso,
a areia branca a esperar
um beijo feito sorriso,
que as mansas ondas vêm dar!

Olhava o mar com temor,
numa espera preocupada:
nem peixes…nem pescador!
Tão só o vazio do nada!

O magro e a magra dançando…
Osso com osso batia…
E quem estava escutando
pensava ser bateria…
O magro era tão magrinho,
magrinho de fazer dó…
seu pijama listradinho
era de uma listra só!
O mais bonito sorriso,
que eu ganhei, cheio de afeto,
revelar nem é preciso !
Foi do meu primeiro neto!

O meu viver enfadonho,
só de amarguras composto,
põe as rugas do meu sonho
sobre as rugas do meu rosto!

O trovador que em verdade,
faz da trova uma oração,
coloca com amizade
“A trova no Coração”!

Para mim, não há segredos,
meu mar, de infinito azul,
nós convivemos sem medos,
nas belas praias do Sul!

Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
Trova é prece em meu viver!

Sou pescador de ilusões,
e nesse pescar me ponho,
conquistando corações
com os anzóis do meu sonho!

Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!


Um bombeiro consciente,
alto, loiro, bonitão,
apaga o fogo da gente
mesmo sem água na mão!
Um gemido de dar medo,
eu ouvi… que coisa estranha!
Cravou o espeto no dedo,
em vez de ser na picanha! 
 Um segredo que me assusta:
-Não saber, se após a morte,
há uma vida boa e justa,
que não dependa da sorte!

Vamos a vida encantar
com nossa Trova querida,
e na Trova, então cantar,
um hino de amor à vida!

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Santa Catarina Trovadoresca (Coleção Memória Viva)

Como havia prometido, a última publicação deste ano que se finda, integrante da Coleção Memória Viva, Santa Catarina Trovadoresca.

Leia na tela ou faça o download do livreto AQUI.

Abel B. Pereira (Florianópolis)
Alaércio José Lopes (Lages)
Alzira Dall’Agnol (Itapema)
Ari Santos de Campos (Itajaí)
Artemio Zanon – Florianópolis
Clair Fernandes Malty – Itapema
Cruz e Souza – Florianópolis (Antigo Desterro)
David José Passerino (Joinville)
Edla Da Costa Sens (Balneário Camboriú)
Edsom Luiz Maurici- Luigi (Balneário Camboriú)
Eduardo Arthur Pereira (Brusque)
Efigênia Coutinho (Balneário Camboriú)
Eliana Ruiz Jimenez (Balneário Camboriú)
Fabiana Gonçalves da Veiga (Balneário Camboriú)
Gislaine Canales (Balneário Camboriú)
Gledis Tissot (Balneário Camboriú)
Glícia Murara Neidert (Rio Negrinho)
Joseane Gili (Brusque)
Juliana Appel (Brusque)
Leandro de Souza (Brusque)
Lucas Barbosa (Rio Negrinho)
Mafalda Novello Goes (Caçador)
Marah Teresinha de Souza (Balneário Camboriú)
Maria Carmen Varejão (Balneário Camboriú)
Maria Luiza Walendowsky (Brusque)
Miguel Russowsky (Joaçaba)
Mirian Lima dos Santos Weber (Rio Negrinho)
Moacir Figueiredo (Florianópolis)
Moacyr Viggiano (Florianópolis)
Roni Antonio Costa (Brusque)
Tamara Kaufmann (Balneário Camboriú)
Túlio de Ayala (Itapema)

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Eliana Ruiz Jimenez (Caderno de Trovas) Parte II: Nostalgias


Cheiro de terra molhada
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.
2.º Concurso de Quadras do Clube da Simpatia 2012 – Portugal – Tema terra – Menção Honrosa

Urge o tempo, faz-se escasso,
e, ao sofrer na despedida,
o nosso amor, sem espaço,
mostra a vida não vivida.

Saudade é uma dor pousada
nos ombros da solidão:
felicidade passada,
vedada a repetição.

Chega ao fim nossa jornada
em cruel bifurcação.
Vou seguir em outra estrada,
deixo aqui meu coração.

Peço ao mar que não me esconda
em tamanha vastidão:
– Traga logo em sua onda
quem me cure a solidão.

Hesitei, o trem passou,
e, ao correr pelo seu trilho,
só a poeira me restou
e a lembrança do seu brilho.

Enfrentando a tempestade,
vou remando na ilusão
de encontrar a claridade
que desnude a escuridão.

Uma vida sem amor
é qual comida sem sal:
em ambas falta sabor,
por ausente o principal.

Jaz latente enternecido
nas vertentes do meu ser
um amor adormecido
esperando efervescer.

Bem no alto, aqui estou;
neste ápice, a conquista.
Mas de nada adiantou:
tu não estavas à vista…

Nos percalços dessa vida
já deixei muita pegada
como marca dolorida
dos reveses da jornada.

Caminhar é minha sina,
em campo ou desfiladeiro,
nesta busca peregrina
por um amor verdadeiro.

Pensamento irresolvido
remoendo a mesma história:
– um amor não esquecido
reticente na memória.

Fonte:
A Autora

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Eliana Ruiz Jimenez (Caderno de Trovas) Parte I: O Amor em Trovas

Felicidade almejada,
no meu futuro eu diviso:
– Em teus olhos, a alvorada;
no teu corpo, o paraíso.
 Jogos Florais de Campos de Goytacazes 2012 – Tema futuro – Vencedora

Lua cheia, céu em festa
é um momento inspirador,
nós na rede, uma seresta,
embalando o nosso amor.
Jogos Florais de Maranguape 2012 – Tema lua – Menção Honrosa

Poetas são pescadores
de palavras e emoção:
fisgam assim seus amores
com os versos da paixão.
Concurso Nacional e Internacional de Trovas 2012 – Tema pescadores – Vencedora

Vejo no espaço infinito
e em cada constelação
nosso amor nos céus inscrito
como obra da criação.

Seu olhar insinuante,
que tanto brilha me atesta:
– Uma fagulha é o bastante
para incendiar a floresta.

Um casal apaixonado
faz da vida um carrossel
de emoções, desgovernado,
rodopiando rumo ao céu.

Nossa vida é aventura
de amor incondicional
com sabor de uva madura
à sombra do parreiral.

Nesta vida o encantador,
com maior significado,
dá-se ao cativar o amor
e ao render-se, cativado.

Sua luz, como um farol,
me guiou na tempestade:
fez surgir um lindo sol,
que selou nossa amizade.

Noite quente, lua cheia,
é receita milenar:
– Paixão louca que incendeia
os casais sob o luar.

São forças da natureza,
não se pode fazer nada:
– fogo, vulcão, correnteza…
e a mulher apaixonada!

Quantas bênçãos recebidas
quando se caminha aos pares:
um ideal, duas vidas,
dois corações similares.

Esta vida me sequestra
numa espera de ilusão…
– Só o amor tem chave-mestra
para abrir meu coração.

Abra a porta, deixe a luz
resgatar seu coração.
Vá sem medo, faça jus
a viver nova paixão.

Só o amor tem o condão
de avivar, resplandecer,
transformando a escuridão
em radioso amanhecer.

Um amor que se alardeia
não passa de sonho vão:
é só castelo de areia
escorrendo pela mão.

O amor inspira a vontade
de viver com alegria.
Não importa a tempestade,
cante e dance todo dia.

Paraíso, Liberdade,
Morumbi, Consolação:
– se for amor de verdade,
tanto faz a direção.

Fonte:
A Autora

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Arquivado em Balneário Camboriú, Santa Catarina, Trovas

Pedro Du Bois (Poemas)

FUTURO

Não havia o traço esbranquiçado
rasgando o firmamento, nem a britadeira
e o caminhão misturando cimento e areia:

manualmente transportados
manualmente contados
manualmente colocados
blocos de pedras
superpostos
sobrepostos
erguiam paredes
em pequenos arcos
de telhados

sobre o topo o homem
sonhava traços de fumaça
cortando o firmamento.

HÁBIL

Hábil, rabisco verdades: levo o pão
sob o braço, comida faltante na mesa
do pai. Ofereço minha habilidade
desferida em tiros: atiro a esmo
nos cadáveres deixados. Vou
pelo caminho acrescentado
(no bolero reencontro os passos) 
onde me encontro na habilidade
recíproca do renascimento.

FABULAÇÕES

Da desmoralizada fábula 
retiro a lição antagônica 
do ato

fujo em cigarras
jogadas ao vento
na derrubada
da casa

(pela enésima vez
ofereço ao pastor
o lobo despedaçado)

no final da história
retorno em alisadas
frases. Em cada começo
reencontro a farsa.

SUBMISSÃO

Submeto o poder
ao gesto de renúncia

anuncio ao vento
a água fervente
da conversão anímica
dos espíritos corporificados

da renúncia retiro a verdade
escalada em elevados tetos

cubro a história em divisões
estéreis e no consenso
sei do início:

o poder sucumbe ao encontro
no desprazer da morte
em sequência.

A CONCRETUDE DA CASA

A casa se esforça em cumprimentos.
Mimética, esconde fissuras e a parede
desbotada do passado; reafirma cores
inexistentes, ilude; ouve as pessoas 
dizerem da vida lá fora e lembra 
sua construção: a edificação exige 
equilíbrio e graça na modificação 
dos materiais, na sobreposição
das lajes, no colocar tijolos e no cobrir
o corpo em telhado; a casa conhece 
cada pedaço do seu todo: as junções 
vitais dos encanamentos e a energia 
referida ao uso das utilidades.

RUDIMENTOS 

O corpo tosco, ideológico, a bebida 
barata do bar da esquina, o olhar
inerte sobre a toalha: a lembrança
é mortalha viva do intelecto e o longo
caminho percorrido no alongar o físico;
o contato contamina o todo destinado
e aos ouvidos se rebelam sons inaudíveis;
repete o gesto com que bebe o líquido,
repete as vezes despretensiosas da saudade;
reafirma ao homem da outra mesa a incerteza
da sobrevivência: ideológico, destila o humor
esbranquiçado da verdade: o homem ao lado
faz de conta que não é com ele e bebe
aos santos de todos os sábados.

PRÓDIGO

Destraçar o caminho
replantado na grama
sob os passos

desconsiderar o avanço
e retornar em plácido
andar de retomada

esquecer o desenho
mapeado em escuros
tesouros inatingíveis

ser diletante: pai e mãe
a recolocar no alpendre
espantalhos ao espantado
o filho.

Fonte:
O Autor

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Arquivado em Itapema, Poemas, Santa Catarina

Trova 229 – Eliana Ruiz Jimenez (SC)

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23 de setembro de 2012 · 12:45

Haicai 9 – Eliana Ruiz Jimenez (Balneário Camboriú/SC)

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7 de setembro de 2012 · 23:16

Vivaldo Terres (Como Posso Viver)

Como posso viver sem teus carinhos.
Se contigo, vivi dias cheios de felicidade.
Cheios de luz, paz e sem saudade.

Agora tudo mudou
E porque mudou… tu sabes o porquê.
A saudade é demais preciso te ver.

Simplesmente partiste, fugiste de mim.
Deixando-me sozinho me ferido coração.
Cravando-o de espinhos

A tristeza invade meu ser!
Eu não mais vivo e tu sabes por quê.
A saudade é demais preciso te ver

Não me digas não quero, não posso te ver!
Estou com outro alguém já não amo você.
Do meu triste passado prefiro esquecer…

Fonte:
O Autor

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Arquivado em poema., Santa Catarina

Haicai 7 – Eliana Ruiz Jimenez (Balneário Camboriú/SC)

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26 de agosto de 2012 · 17:54

Neida Rocha (Vem me Buscar)

Busco as estrelas.
Quero te encontrar.
Busco teu rosto
na multidão.
Não te encontro.
Sei que estás
em outro mundo
e clamas por mim,
como eu clamo por ti.
Sei que já fomos um só.
estamos separados
Por nossa própria culpa.
Quero te reencontrar.
Busco teu rosto,
mas sei que na multidão,
não estás.
Sei que vives sozinho
em teu mundo,
assim como eu,
vivo sozinha
na multidão.
Me espera.
Estou indo.
Mas se a saudade
for muita,
vem me buscar.

Fonte:
A autora

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Arquivado em poema., Santa Catarina

Haicai Junino 1 – Eliana Ruiz Jimenez (Balneário Camboriú/SC)

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22 de junho de 2012 · 23:13

Trova 222 – Eliana Ruiz Jimenez (Balneário Camboriú/SC)

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22 de junho de 2012 · 01:00

Eliana Ruiz Jimenez (Haicai: Sapa Sapeca)



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11 de junho de 2012 · 23:43

Efigênia Couitinho (Namorada)

Fonte:
Texto e imagem enviados pela autora. Montagem por José Feldman.

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Arquivado em A Poetisa no Papel, Poesias, Santa Catarina

Efigênia Coutinho (Flor do Pecado)

Nesta dança ardente em chamas alma desperta
E serpenteia todo o meu corpo em sedução,
Como num jogo, incendeia a pele em descoberta
Propenso a exalar o incenso da louca paixão…

O ardor em mim instalado vira um braseiro
De rubro sentir, que toda pele se inflama
E a entranha ardente, deste fogo é o picadeiro,
De onde se devora ao leito desejos,de toda trama.

E em cada beijo sedutor todo o nosso sonho,
Acalenta audaz o desejo dessa entrega total…
E na vontade de ser possuída componho,
Ao corpo a chama deste sentir seqüencial.

Agiganta-se dentro de mim o teu ser agrilhoado,
E no meu íntimo a chama ardente em sinfonia,
Exala de todo o ser o aroma da flor do pecado,
Em desejos ardentes numa eloqüente sincronia!

Fonte:
Poema enviado pela autora

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Arquivado em A Poetisa no Papel, poema., Poesias, Santa Catarina

Efigenia Coutinho (Trovas Avulsas)

Meu pescador enlaçado
quero todo o teu carinho,
 sonho um abraço apertado,
vou me perder no caminho.

Os teus sonhos reluzentes
de ternura e emoção,
são como enredos fluentes
pescando nossa emoção.

Acreditando em Deus, fui
pescando meus sonhos sim,
e lá onde o sonho flui,
encontrei você em mim!

Voltar sonhar, não me peças…
perderia a insensatez,
creria em  tuas promessas
p’ra arrepender-me outra vez.

Essa foi a trova classificada com Menção Especial:

Os teus sonhos reluzentes
de ternura e emoção,
são como enredos fluentes,
pescam nosso coração.

Fonte:
Trovas enviadas pela autora

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Arquivado em Santa Catarina, Trovas

Eliana Ruiz Jimenez (Tarde no Molhe)

Uma tarde de inverno parecendo primavera. Bênção da estação para uma cidade que vive do turismo e das boas previsões do tempo.

No canto sul da praia há um molhe, uma extensão feita de pedras que adentra no mar, dando aos pescadores esportivos um lugar privilegiado para lançarem suas tralhas sofisticadas e fisgarem minúsculos peixinhos que assim perdem a chance de crescer.

O molhe também separa as águas do rio das águas do mar e o motivo principal dessa necessidade de deixá-las bifásicas é o fato do esgoto urbano não receber o tratamento devido na sua totalidade e, clandestinamente ou não, acaba sendo despejado na água doce.

As famílias lotavam o agradável recanto naquela tarde e as crianças divertiam-se no parquinho, andavam de bicicleta, empinavam pipas, nadavam. Outras comiam milho cozido e pipoca acompanhados de água de coco.

As mães entretinham-se nas lojinhas de artesanato e os pais tiravam fotos e conversavam, sentados nos bancos de madeira maciça, observando os caríssimos iates que passavam em direção ao mar aberto.

Seria um final de semana normal, não fosse o que vinha boiando no rio; primeiro algumas, como num abre-alas, depois muitas e seguidas de centenas de garrafas pet, além de embalagens de produtos de limpeza, potes de margarina, copos descartáveis, espuma, isopor e outros materiais não identificáveis, mas que também boiavam nesse ondular grotesco.

Um pai que fotografava o filho baixou a câmera sem acreditar no que via. As bicicletas pararam e as pipas enrolaram-se no céu. As pipocas caíram dos saquinhos e as mães puxaram rapidamente para fora da água as crianças que nadavam.

Lentamente, todos os que ali se divertiam vieram à margem do rio e observaram em silêncio o que era levado pela correnteza em direção ao mar.

A cidade ficou menos turística naquele momento e quem ali estava desejou estar em outro lugar.

O sol já se punha por detrás dos prédios da orla em um anoitecer alaranjado. No horizonte a primeira estrela despontava com seu brilho.

As pessoas ficaram ali paradas, estupefatas diante do próprio descaso, num jogo de empurra em que cada um não faz a sua parte pensando que somente o outro deva se incomodar com isso.

E na cidade onde os moradores misturam todo o lixo numa mesma embalagem, embora seja disponibilizada a coleta seletiva, os observadores se deram conta de que os descartes, mesmo não mais estando em suas casas, permanecem no meio ambiente, poluindo, deteriorando, prejudicando os ciclos da natureza.

Noite adentro continuou aquela procissão de detritos levados ao mar, nas incontáveis embalagens plásticas que testemunharão nos próximos 500 anos, em seu lento e imperceptível degradar, o fortuito destino da humanidade.

Fonte:

http://elianaruizjimenez.blogspot.com/

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Arquivado em A Escritora com a Palavra, Santa Catarina

Trova Ecológica 60 – Eliana Ruiz Jimenez (SC)

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16 de dezembro de 2011 · 23:09

Lausimar Laus (1916 – 1979)


Lausimar Maria Laus nasceu na cidade de Itajaí, SC no dia 16 de abril de 1916. Filha de Pedro Paulo Laus – oficial da marinha mercante condecorado por participar das duas Grandes Guerras Mundiais – e, Maria Stuart Laus – professora do ensino elementar. Foi casada duas vezes, sendo que ficou viúva do oficial do exército Sílvio Conti Filho.

Teve dois filhos: Gualberto e Eli. Em muitos documentos Lausimar Maria Laus é citada pelos nomes Lausimar Laus Gomes e Lausimar Laus Conti. Contudo, adotou o nome artístico de LAUSIMAR LAUS.

Lausimar estudou na Primeira Escola Mista da Barra do Rio e depois se transferiu para o Grupo Escolar Victor Meirelles. Na década de trinta seguiu para Florianópolis onde a cinco de dezembro de 1936 se formou normalista pelo Instituto de Educação. Ato contínuo, Lausimar se transferiu para o Rio de Janeiro, onde iniciou vitoriosa carreira como escritora, educadora e jornalista

No Rio de Janeiro Lausimar trabalhou no Ministério da Educação e Saúde e ingressou no magistério público no ano de 1944. Foi também no Rio de Janeiro que publicou seus primeiros versos no ano de 1942, com o título de CONFIDÊNCIAS.

Em 1948 publicou seu primeiro livro de contos direcionados ao público infantil: HISTÓRIAS DO MUNDO AZUL.

Em 1952 Lausimar ganhou o segundo lugar no concurso da Academia Brasileira de Letras, categoria teses. Como prêmio publicou em 1953 o livro: O ROMANCE REGIONALISTA BRASILEIRO.

Na década de cinquenta intensificou suas atividades no campo da literatura e jornalismo.

Em 1953 publicou BRINCANDO NO OLIMPO e em 1958 publicou o livro de contos FEL DA TERRA. Nesta época colaborou com vários jornais e revistas literárias modernistas, inclusive com o afamado grupo literário de Florianópolis, o GRUPO SUL.

Osvaldo Ferreira de Melo no livro Introdução à História da Literatura Catarinense inclui Lausimar como uma “agregada” aos modernistas do Grupo Sul: “Da geração modernista ou dela próximos, mas sem se terem integrado diretamente aos movimentos de renovação temos:[…] Zedar Perfeito da Silva (história, ficção), Nereu Corrêa (crítica)[…] Lausimar Laus (ficção)”. Junto com Meyer Filho – integrante direto do Grupo Sul, todos estes intelectuais mantiveram ligação histórica com a cidade de Itajaí.

Nas décadas de sessenta e setenta Lausimar Laus promoveu diversas viagens de estudo ao exterior e consolidou sua carreira no magistério superior.

Em 1962 recebeu credencial da revista Manchete para uma série de reportagens na Alemanha e em l965 publicou pela Editora Pongetti (a mesma que publicou diversos livros do poeta Marcos José Konder Reis) o livro sobre observações de viagem e crônicas, intitulado EUROPA SEM COMPLEXOS.

Em 1966 (a exemplo de Silveira Júnior) a convite do governo americano passou três meses em viagem de estudos nos EUA, onde fez observações sobre o sistema educacional daquele país. Em seguida, viajou a estudo para a Espanha e diversos países europeus, publicando uma série de reportagens intitulada NA ROTA DO VASTO MUNDO.

No final da década de setenta chegou a visitar o Japão e muitos outros países asiáticos e europeus. Em 1970 publicou seu primeiro romance, intitulado de TEMPO PERMITIDO, prefaciado por Rachel de Queiroz e editado pelo Instituto Nacional do Livro em parceira com a Editora Americana. Em 1975 publicou pelo Instituto Nacional do Livro e Editora Pallas a sua obra de maior sucesso: O GUARDA-ROUPA ALEMÃO.

Em 1976 recebeu o prêmio Odorico Mendes da Academia Brasileira de letras pela melhor tradução do ano em língua portuguesa para o livro de Alain Robbe-Grillet intitulado PROJETO PARA UMA REVOLUÇÃO EM NOVA YORK

Já no ano seguinte, tendo Afrânio Coutinho como orientador, defendeu dissertação com o título de O MISTÉRIO DO HOMEM NA OBRA DE DRUMMOND, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (publicado em 1978).

Ainda em 1977 recebe do Jornal de Santa Catarina o Troféu Barriga-Verde por sua contribuição na divulgação da literatura catarinense.

Publicou também o ensaio A PRESENÇA CULTURAL DA ALEMANHA NO BRASIL.

Lausimar contribuiu com a revista Manchete e chegou a ocupar a segunda página da revista O CRUZEIRO com suas crônicas. Publicou em O Globo, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Jornal do Commércio, Jornal do Brasil (suplemento do livro), O Estado de Minas Gerais (Suplemento Literário), Correio do Povo (Caderno de Sábado), Revista Presença, O Estado de São Paulo (Suplemento Literário) e Jornal do Povo (hebdomadário itajaiense).

Na área musical teve vários poemas seus musicados por Aristides M. Borges e gravados com o selo da RCA/VICTOR. A música que obteve maior sucesso foi gravada com o título: TENHO PENSADO TANTO EM TI.

No setor acadêmico, Lausimar se licenciou em letras clássicas pela Faculdade de Letras da Universidade Santa Úrsula. Titulou-se mestre em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora pela Faculdade de Letras da Universidade de Madri. Exerceu por muitos anos o magistério superior na Universidade Federal Fluminense, em especial como professora de literatura alemã.

Lausimar Laus morreu aos 63 anos de idade, em sua residência (rua Aristides Espíndola, 106, Leblon – RJ), vítima de infarto fulminante, no dia três de outubro de 1979. Lausimar foi sepultada no Rio de Janeiro no Cemitério São Francisco Xavier, bairro do Caju.

Fonte:
http://pt.scribd.com/doc/57492836/O-Guarda-Roupas-Alemao

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Arquivado em Biografia, Santa Catarina

Trova 211 – Eliana Jimenez (SC)

Fonte:
Blog da Eliana. http://poesiaemtrovas.blogspot.com

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Arquivado em Santa Catarina, trova-legenda

Guido Wilmar Sassi (1922 – 2003)


Guido Wilmar Sassi nasceu em Lages, SC, em 1922.

Passou sua infância e juventude em Campos Novos. Em sua convivência com o povo dessas duas cidades, colheu parte do material das histórias que iria escrever mais tarde.

Aos doze anos de idade, já costumava ler tudo quanto lhe caía às mãos: a Bíblia, Cervantes no original espanhol, histórias de fadas, ficção científica (Júlio Verne), romances policiais (Edgar Wallace e Conan Doyle), peças de teatro e dicionários.

Colaborou na imprensa de sua cidade natal. Um conto, que tem como personagem central um pinheiro, marcou sua estréia literária na Revista Globo, de Porto Alegre, em 49. Na década de 50, participou do grupo Sul (editora e grupo de escritores novos), de Florianópolis.

Morou na capital paulista em duas ocasiões. Lá, publicou “São Miguel”, romance vencedor de importante concurso literário. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1963, onde viveu até sua morte e lá publicou outros livros, como “Geração do Deserto”, 1964 e “Os Sete Mistérios da Casa Queimada”, 1989.

Ao lado de Enéas Athanázio (Campos Novos), Tito Carvalho (Orleans) e Edson Ubaldo (Lages), participa de uma geração que representam a região dos campos de Lages e do oeste catarinense, o regionalismo Serrano-Gauchesco. Grupo “Sul” – Revista “Sul” – Círculo de Arte Moderna – Salim Miguel, Eglê Malheiros, Aníbal Nunes Pires, Ody Fraga, Antonio Paladino – Intenções modernistas.

Sassi iniciou nas letras brasileiras o “ciclo do pinheiro”. Seu linguajar, embora explorando nuances locais, não é fundamental de sua obra e não é sobre ele que incide sua preocupação primeira. O pinheiro derrubado de maneira implacável e indiscriminada, e as conseqüências daí decorrentes, constituem-se em temas que se envolvem constantemente nas suas narrativas. A devastação das matas, a extinção da fauna, o desfigurar da paisagem, as serrarias devoradoras de homens e fabricantes de aleijões, tudo se reflete na sua obra de ficção. Nesse contexto, a obra é amarga, refletindo o inconformismo de um escritor sensível aos maléficos passos do homem na trilha da destruição da natureza e dos seres que dela dependem. (Enéas Athanázio).

Em “Amigo Velho”, que lhe proporcionou o Prêmio Arthur Azevedo, do Instituto Nacional do Livro, o tema central é o pinheiro, com todas as implicações sociais e humanas que advêm da presença das grandes serrarias destruidoras de selvas e de criaturas humanas.

O livro “Geração do Deserto” virou filme em 1971, com o título de “A Guerra dos Pelados”. Neste romance, Guido Wilmar Sassi conseguiu fixar com agudeza admirável o que foi a Guerra do Contestado, havida há mais de meio século entre os Estados de Santa Catarina e Paraná. Lá estão os coronéis da pecuária, donos da vida dos homens e da honra das mulheres; a luta dos camponeses, pequenos industriais, peões e trabalhadores, na tentativa de reconquistar seus direitos; as explosivas e violentas revoltas dos fanáticos e jagunços, conduzidos por guias “iluminados”, por heróis místicos e messiânicos, que fizeram da Guerra do Contestado uma réplica sulina de Canudos. Um romance epopéico que retrata corajosamente uma realidade brasileira só então transposta para a ficção com tanto vigor e verdade. E não pense, quem não leu, que se trata de narrativa apenas, um livro de história, simplesmente. O autor conseguiu fazer de um fato histórico, a Guerra do Contestado, um romance dinâmico, cheio de ação, prendendo o leitor do princípio ao fim.

Fontes:
http://www.terceirao2005.kit.net/site/htm/arquivos/acafe.doc
http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/guidoautores.htm
Imagem =http://www1.an.com.br/

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Eliana Ruiz Jimenez (Caderno de Trovas)

– 1 –
Nesta vida o encantador,
com maior significado,
dá-se ao cativar o amor
e ao render-se, cativado.
– 2 –
São forças da natureza,
não se pode fazer nada:
– fogo, vulcão, correnteza…
e a mulher apaixonada!
– 3 –
Quantas bênçãos recebidas
quando se caminha aos pares:
um ideal, duas vidas
dois corações similares.
– 4 –
Um amor que se alardeia
não passa de sonho vão:
é só castelo de areia
escorrendo pela mão.
– 5 –
Jaz latente enternecido
nas vertentes do meu ser
um amor adormecido
esperando efervescer.
– 6 –
A caridade amplifica
o sentimento Cristão
que tão bem se multiplica
quando é feita a divisão.
– 7 –
Criança muito levada,
que corre, chuta e sacode…
Que disciplina, que nada:
– Casa da vó tudo pode!
– 8 –
Por ser eterno esse amor
não amedronta a partida,
sendo Deus o condutor
não existe despedida.
– 9 –
Valorando o sem valor,
conjugando o verbo ter,
esqueceu-se quanto amor
num ranchinho pode haver.
– 10 –
Segredos engarrafados
boiando ao sabor do vento…
Corações despedaçados
para os quais não houve alento!
– 11 –
Paraíso, Liberdade,
Morumbi, Consolação:
– se for amor de verdade,
tanto faz a direção.
– 12 –
Pensamento irresolvido
remoendo a mesma história:
– um amor não esquecido
reticente na memória.
– 13 –
Bem no alto, aqui estou;
neste ápice, a conquista.
Mas de nada adiantou:
tu não estavas à vista…
– 14 –
Sentimento irresponsável
perturbando o coração:
– é o amor, força implacável
fez perder minha a razão.
– 15 –
Nos percalços dessa vida
já deixei muita pegada
como marca dolorida
dos revezes da jornada.
– 16 –
Voa passarinho, voa,
que gaiola é só maldade.
Livre, lá nos céus entoa
o cantar da liberdade.
– 17 –
Os mistérios da conquista,
como olhares, sedução,
são enigmas cuja pista
bem esconde o coração.
– 18 –
Não é o homem proprietário
nem senhor da criação;
é somente um usuário
que fez usucapião.
– 19 –
Como é que pode, hoje em dia,
um homem achar prazer
na farra da covardia
que é ver um boi padecer…
– 20 –
Vivo sempre a divagar,
no silêncio em que me abrigo:
– Ah que bom poder voltar,
a estar outra vez contigo!
– 21 –
Desfazendo a natureza,
vai o homem construtor
desconstruindo a certeza
de um futuro promissor.
– 22 –
Às vezes menina, ainda;
outras, mulher revelada.
Em tudo o que a vida brinda
Segue sempre apaixonada!
– 23 –
Uma vida sem amor
é qual comida sem sal:
em ambas falta sabor,
por ausente o principal.
– 24 –
Um segredo bem guardado
para assim permanecer
não deve ser partilhado
para nunca se perder.
– 25 –
Noite a dentro, sempre atento,
aliviando a minha dor,
da insônia eu encontro alento
com o meu computador.
– 26 –
O futuro do planeta
não é segredo a ninguém
preserve e se comprometa
que a vida assim se mantém.
– 27 –
Esse mundo feminino
De segredos permeado
É um gracejo do destino
Pelos homens odiado.
– 28 –
Sorria pra natureza
respeite e sempre preserve,
só assim teremos certeza
que o mundo assim se conserve.
– 29 –
Rede que volta vazia
traz tristeza ao pescador
que apesar da nostalgia
leva adiante o seu labor.
– 30 –
Pescador mais esportivo
deixa seu peixe escapar,
melhor solto que cativo,
para assim o preservar.
– 31 –
O mar de um azul profundo
e as montanhas esverdeadas,
são belezas desse mundo,
precisam ser preservadas.
– 32 –
Abra a porta, deixe a luz
resgatar seu coração.
Vá sem medo, faça jus
a viver nova paixão.

Fonte:
Eliana Ruiz Jimenez. Caderno de Trovas.

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Laeticia Jensen Eble

Nascida em Florianópolis, filha de um Antropólogo e de uma Cientista Social, viu-se desde a infância incentivada a desenvolver a sensibilidade, envolvendo-se com a arte e a poesia. Formou-se no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente faz o curso de Letras/Português na UnB, onde tem cultivado seu amor pela literatura, especialmente pela teoria e criação literária.

Como poetisa manteve-se no anonimato até então, guardando sua produção somente para si e para os mais próximos. Após ter se casado com o Maestro Antônio Carlos Cariello, está morando em Brasília pela segunda vez, cidade que admira incansavelmente pela arquitetura imponente e pelo céu inigualável, que proporcionam diariamente momentos de inspiração.

É do poema de Almeida Garret, “Barca Bela” que Laeticia extrai a imagem analógica que considera a mais expressiva do fazer poético: a do poeta como pescador, a guiar o seu barco – que é a arte poética – e a pescar as palavras com sua rede – que é o poema.

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/laeticiajensen.html

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Eliana Ruiz Jimenez (Livro de Trovas e Poemas )


TROVAS

Voa passarinho, voa
que gaiola é só maldade
livre, lá nos céus entoa
o cantar da liberdade.

Menção especial – I Jogos Florais – BC/2004
O mar de um azul profundo
e as montanhas esverdeadas,
são belezas desse mundo,
precisam ser preservadas.

Menção especial – II Jogos Florais – BC/2006
Rede que volta vazia
traz tristeza ao pescador
que apesar da nostalgia
leva adiante o seu labor.

Pescador mais esportivo
deixa seu peixe escapar,
melhor solto que cativo,
para assim o preservar.

Menção honrosa – III Jogos Florais – BC/2008
Sorriso que é cativante
é sincero e iluminado,
precioso como brilhante
por todos ambicionado.

O sorriso está escasso
nessa tal modernidade,
é preciso dar um passo
e mudar essa verdade.

Menção especial – III Jogos Florais – BC/2008
Sorria pra natureza
respeite e sempre preserve,
só assim teremos certeza
que o mundo assim se conserve.

Vencedora – IV Jogos Florais – BC/2010
Um segredo bem guardado
para assim permanecer
não deve ser partilhado
para nunca se perder.

Menção honrosa – IV Jogos Florais – BC/2010
O futuro do planeta
não é segredo a ninguém
preserve e se comprometa
que a vida assim se mantém.

Menção especial – IV Jogos Florais – BC/2010
Esse mundo feminino
de segredos permeado
é um gracejo do destino
pelos homens odiado.

———–
Obs: BC é Balneário de Camboriú
————-

POEMAS

MENINO POBRE

Menino pobre
Da noite quente
Abandonado
Menor carente.

Menino pobre
Da noite nua
Necessitado
No olho da rua.

Menino pobre
Do pé descalço
Chutando lata
Pela calçada.

Menino pobre
Menino sujo
Vagando triste
Um moribundo.

Menino inquieto
Girando o mundo
Sem casa e roupa
Sem mãe nem pai.

Menino triste
Pra onde vai
O que vai ser
Quando crescer?

MAR

Ventos
Valsando
Voltam
Vagando
Trazendo
O barulho
Do mar.

Brisas
Soprando
Ondas
Tragando
Fazendo
A beleza
Sem par.

Canários
Cantando
Aves
Voando
Planando
A leveza
Do ar.

Praias repletas
Luzes, atletas
Completam
Essa vida
No mar.

FOSSA

Sai dessa fossa, menina
Que isso não tem remédio
O que está feito é passado
E o passado só leva ao tédio.

Se as coisas dão errado
Se a sorte te despreza
Não fuja, não vá de lado
Vá em frente que não pesa.

Sai dessa fossa, menina
Que chorar não adianta não
A vida tem dessas mesmo
Mas chorar não é solução.

Deixe de caminhar a esmo
Pare de se sentir errada
As coisas acontecem para o bem
Não há mal que resulte em nada.

Existe um horizonte além
Dos conflitos do dia-a-dia
Sai dessa fossa, menina
Olhe em frente e sorria!

ESCRITÓRIO

Escritório
Sina de todo dia
Multidão comprimida
Na total monotonia.

A porta fecha
Deixando a vida lá fora
O relógio é moroso
E a saída demora.

Presos na caverna de luxo
Onde o sol não entra
Onde a chuva não molha
E até o ar é condicionado.

Escritório
Robôs de crachás
Sem pensamentos, sem vontade
Sem individualidade.

As melhores horas
De muitos dias
Em troca da breve alegria
Do dia dez.

TALVEZ

Talvez seja esse
O amor que procurei por toda a vida
Que pedi às estrelas
Que pedi aos santos
Que procurei nos cantos.

Talvez seja esse
O amor que sonhei da despedida
Quando descobri o engano de um amor trocado
E senti o sofrimento sem pecado.

Talvez seja esse
O amor que me fará forte
E de tão forte me fará fraca
Por ter meu coração entregue à sorte.

Talvez seja esse
O amor que me fará feliz
E será firma e será tão sólido
Que poderemos formas nós dois
Um só tronco, uma só raiz.

Talvez seja esse, finalmente
O meu caminho, o meu destino
A chave que libertará do meu peito
Todo o amor que eu tenho para dar
A recompensa por querer tão somente
Partilhar de um sentimento sincero
A realização do simples, porém complexo
Desejo de amar.

Talvez seja esse, talvez…

Fonte:
Poesias Urbanas e Outras Paixões, , indicação de A. A. de Assis

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Efigênia Coutinho (Cristais Poéticos)

PORQUE AMO

Amo-te na união de todos os sonhos
Que te completam em cada era destinada.
Amo-te nos meus ideais mais risonhos…
Teu coração é minha estrela Futurecida!

Amo-te até na aerosfera que respiro…
Tal qual o verão estação que prefiro,
Amo-te acima, aos céus, onde és meu suspiro,
Porque creio nos sonhos e por ti aspiro!

Num amor pelos deuses do Olimpo aclamado,
Onde sou vestal preparando a tua vinda,
Vestida em brocados de cristal dourado,
Para te ofertar o amor de minha alma infinda!

Amo-te! E amarei assim tão docemente,
Afagando os sonhos postos em minha mente.
Amo-te! Deste grande amor eu sou ciente
Que seremos abençoados eternamente!

Sei que a vida nos colocou num só destino,
Por esta razão o meu amar eu proclamo.
Vou embalando o amor ao tons cristalinos,
Acalentando por todo Universo porque Amo!

O SONHO REALIZADO

E na noite, onde o sonho que te inflama,
Tornar-se-á na mais bela realidade.
Ao amanhecer tecendo toda trama,
Unindo corpos em aprazível felicidade.

No real que nos tinge nas cores do amor,
Serei tua, sequiosa de todos os desejos.
Na pele, sentirei da paixão todo ardor
Do teu afago em mim, tão benfazejo.

E nas noites, jamais sozinho ficarás,
Porque o futuro ditará a nossa vontade.
Na cama, teu corpo ao meu tu unirás
E no sempre viveremos nessa dualidade.

Este sentir que hoje é tão sonhado,
Logo será o nosso mais belo momento.
Quando se fizer em ato consumado,
O aconchego deste sublime sentimento.

SONHOS

Quando tiver um sonho, construa um altar:
um espetacular altar de rua
que lhe couber em sorte no ato de amar
ainda que imperfeito à luz da Lua!

Quando você sonhar, construa um caminho
de saibro ou granito, pouco importa!,
onde a Lua possível seja o linho
dum telhado com janelas e uma porta!

Não há sonho que dure eternamente,
perdemos um-a-um, sem grande esforço,
sorrimos à deriva pela mente
que nos atrai o pólo ou o seu dorso.

Somos fiéis ao amor pra nosso mérito
porque nele encontramos o que é feérico…

CANÇÃO DO AMOR

Quando em teus braços estou
sou o teu sonho todo esplendor
vestida nas cores dum arco-íris
Palpitando o coração amoroso!

Com teu Amor deixo-me a sonhar
dentro, teu olhar, ouvindo teu cantar
outra vez, em teus olhos banho-me
Com este imenso Amor a Sonhar…

Vou levando essa melodia sem par
Se é sonho ou soneto, veio para ficar…
Com teu olhar tua voz, eu Amo sonhar!

De Amar e de ser Amada…,
Todo meu esplendor te dou
Na canção que nasceu essa paixão!

SÓ QUERO EXISTIR

Me dão asas que me prendem
Querem-me mãe-líder
Porque você resolve tudo
E me mantém submissa

Me querem omissa
Mas me cobram decisões
Não me permitem ir
Mas me cobram a busca

Me prendem nas prendas
Enclausuradas do lar
Afinal, você faz tudo
Mas exigem tudo de mim

Me tolhem ações e pensamentos
Mas quando ajo e penso
Querem saber o que fiz
Querem saber o que penso

Me tiram até o direito ao sonho
Mas me exigem sonhando
Me tiram até o direito ao canto
E me querem só música

Me prendem imobilizada
Sem deixar de cobrar-me liberdade
Sem que eu possa me dividir
Nem me doar a ninguém
——

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Silmar Bohrer (Antologia Poética)

(OUTROS) VERSOS MARINHOS

Estes ventos friozinhos
que gemem ali nos beirais
são coitados, coitadinhos
dos diabinhos hibernais.

Em lentárgica agonia
pela intempérie urdidas
andam gaivotas perdidas
nestas tardes de invernia.

Tem tido sido inesgotável
essa fonte dos meus versos,
são petitas dos universos
e u’a companhia saudável.

Devia ser cá na praia
perante o meu céu anil,
receber a trova sete mil
louvando a essência gaia.

Ventos, oh dóceis ventinhos,
ventilai o meu pensar,
céus, oh céus azuladinhos,
inspirai meu versejar.

E converso com as musas
varando as madrugadas,
rimas tantas, profusas,
rimas tantas, orvalhadas.

Anda uma paz de éden
cá na beira dos meus mares,
e os ventos, bons ventares
em sonares se medem.

Uma trova varonil
se não fosse singular,
é que estou a registrar
a filhotinha sete mil.

Caem as noites cá na praia,
sopram ventos desgarrados,
anoiteceres alumiados,
tanta estrela na tocaia.

Ando ao sabor dos ventinhos
pelo látego dos mares
e vejo tantos avatares
por estes velhos caminhos.

PRISIONEIRO

Em nosso mundo cheio de aguilhões
onde os seres aspiram a liberdade,
e com toda força em seus corações
lutam por ela, lutam com ansiedade,

Em nosso mundo eivado de reclamos
onde muitos vivem com a incerteza
de horas felizes e sem desenganos,
embora encontrem neles sua defesa,

Em nosso mundo nocivo que molesta
os corações humanos com embaraços
estóicos aos anelos em cada gesta,

Eu quero ser mesmo um prisioneiro
que goza na peia dos teus abraços
as delícias do nosso amor fagueiro.

CANTILENAS

Na rude sina de escrever
não tenho o brilho de versejar,
sem o estro como me atrever
a alguma rima iluminar.

Lendo Confúcio e os sonetos
de Bilac reverberando,
nos parnasianos, nos analetos
a rabiscar vou bem lutando.

São cantigas mãos-atadas,
sem vigor e sem brilho, dezenas
de estrofes versalhadas,

São carmes sem nenhum matiz,
tantos versos cantilenas
e garatujas do bardo aprendiz.

RIQUEZAS

Tirem-me tudo na vida,
mesmo os brilhantes ouropéis,
mas me deixem na guarida
da caneta e dos papéis.

Companhias singulares
que trago na algibeira,
repositório dos pensares
que revolvo a vida inteira.

E assim neste mundo material
vou cultivando perenidades
que fazem bem ao meu astral,

Quais delícias inefáveis
os meus versos raridades
são riquezas inalienáveis.

MENSAGEM

Amados versos que faço nesta hora
todo satisfeito a relembrar o dia
que encarnei no íntimo essa magia
e o sentimento que me ocupa agora.

Não esqueço do seu gracioso olhar
eivando o amor a nossas primícias,
a voz ternura e as maçãs puníceas
são detalhes que não pude olvidar.

Meus olhos leram no seu doce olhar
a mensagem sublime do nosso porvir,
e embevecido, sem poder falar,

Imerso na candura do seu esplendor,
abri o véu da alvorada e vi surgir
a manhã radiosa do nosso amor.
—–

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Francisco José Pereira (A Velha Senhora e seus Cachorros)

A velha senhora vivia só, preferira assim.

Quando ficou viúva, suas duas filhas propuseram levá-la. Ela não quis. – Assim sozinha e tão longe, mamãe – ponderaram, inutilmente.

Embora não fosse necessário, e tampouco elas houvesses pedido, a velha senhora justificou-se. Alegou razões conhecidas, atribuindo-lhes caráter de irreversibilidade. Assim, as filhas poderiam sentir-se consoladas ou redimidas. Disse-lhes:

– Casei aqui, nesta casa que ele mesmo construiu. Vocês nasceram aqui, viveram aqui e também casaram aqui. Ele morreu aqui. E eu vou morrer aqui.
– Ô mãe, que bobagem, – em uníssono. Sem que pudessem dissimular um certo tom de conforto.

Uma eternidade parecia separá-la das meiguices de suas meninas. Elas cresceram e foram perdendo aquela ternura. Ele acompanhara esse lento e natural distanciamento delas, e lamentava. Ela também acompanhara, mas sem lamentar. Afinal a vida é mesmo assim, fora assim também com ela, bifurcando-se igualmente lenta e definitiva. Elas casaram e procriaram com genros chatos. Ele os estima, ela não – e com razão. Por onde, afinal, andavam durante o calvário da penosa enfermidade que terminou por matá-lo? Só ela, solitária, estivera ali, na hora de fechar-lhe os olhos. Depois vestiram lutos, todos. Os netinhos inclusive, com tarjeta preta na manga da camisa curta. Coitados, três pequenos idiotas.

As filhas a visitavam com alguma frequência e traziam os netos que cresciam sem que ela se desse conta. E tampouco se deu conta de como as visitas das filhas, com o tempo, se tornaram cada vez menos frequentes e, agora, já muito raras. Raras mesmo.

Mas havia seus cachorros.

Ela sempre os tivera, dividindo com ele um igual carinho pelos bichos. Foram vários. Agora restavam apenas esses dois, que haviam chorado com ela a morte dele: o mais velho, Zimbo, tão velho quanto ela – exagerava, obviamente- e o Xapado, que chegou bem depois, à época em que surgira a enfermidade dele, e fora ele quem o trouxera e lhe dera o nome.

A velha senhora passava parte dos dias falando com seus cachorros. Não só porque carecesse de gente com quem falar – o que era um fato – mas porque eles a entendiam e compartilhavam seus pesares e sua solidão.

Há muitos séculos, aliás, que humanos e cães partilham seus alimentos, suas moradais e suas vidas. Neste planeta fortuito,entre outras formas de vida que nos circundam,nenhuma – exceto o cão – tem feito aliança conosco.

Após o café matinal, a velha senhora seguia sua antiga rotina de afazeres domésticos que, há muito sozinha, já se reduzido a quase nada. Ocupava-se também de pequena horta, com o mesmo desvelo dele, e preparava sem prazer o parco almoço.

Nas tardes longas e ociosas, senta-se no degrau mais alto da escada lateral, que dá acesso à sala, toma Zimbo no colo, com o Xapado sentado no degrau abaixo, e os faz confidentes de infindáveis revelações de seu tempo de menina, de sua adolescência, e sobretudo de sua vida feliz junto a ele.

Nessas ocasiões, como acontece também com a gente, Zimbo se deixa envolver pelo hipnótico som da velha senhora, cochila e dorme. Desperta minutos depois, apruma-se com olhos de espanto, sacode repentinamente a cabeça num eficaz esforço para afastar o sono, e não cochila mais. Xapado, este sempre desligado, logo estendia suas pernas traseiras e dormia a sono solto.

Vencidas as longas tardes, segue-se repetitivo ritual. A velha senhora se levanta, beija Zimbo, acaricia Xapado e os afugenta com delicadeza para os fundos do quintal. Ambos obedecem, caminhando a passos lentos e em silêncio, com as compridas e úmidas línguas lambendo seus gelados focinhos – um antigo e atávico cacoete.

Há dias em que Zimbo sente vontade de alertar Xapado para a recente tristeza da velha senhora. Esta tristeza, preocupava Zimbo, não era como as outras tristezas, tão antigas e conhecidas desde a morte dele. Essa nova tristeza era uma tristeza que lhe reduzia o cheiro. E isso, Zimbo sabia, não era boa coisa. Mas não dissera nada ao Xapado, porque este – desde pequeno – se revelara um cachorro retardado ou de poucos ouvidos.

Em verdade, essa tristeza que preocupava Zimbo tomara forma quando a velha senhora, há algum tempo já, percebera, acabrunhada, uma insuportável fadiga que – ela se convencera – iria prostrá-la definitivamente. E, desde então, um sentimento de que sua vida se tornara inútil instalara-se dolorosamente em seu coração. Após anos de tantas ausências a velha senhora finalmente sucumbia à sua imensa solidão.

Suas pernas já nem sempre lhe obedeciam, seguindo, cansadas, direção que ela não pretendia. Os pulmões respirando menos ajudavam menos, quando as pernas cansavam. A cabeça insistia em se esquecer, só tendo lembranças muito antigas. Espantou-se, por fim, quando a cabeça embaralhou dia e mês da morte dele. E, então, se horrorizou no limite do desespero, temendo que viesse a esquecer-se de si mesma. Foi quando decidiu não esperar mais pela morte que se tardava tanto, e começou a organizar sua morte com pungentes cuidados.

Utilizaria o veneno que ele trouxera para ser usado quando o suplício da dor lhe fosse insuportável. Tinha efeitos semelhantes ao arsênico, dissera, e a ensinou como preparar a dose que ela deveria servir a ele. O suplício dele se estendeu e a dor o matava lentamente, mas ela não teve coragem. Ele morreu, já sem dor, agradecendo o gesto dela.

Pensou, sem mágoas, em suas filhas que não apareciam. E resolveu, aflita, não abandonar os cachorros, temendo que eles fossem recolhidos por mãos malvadas. Havia suficiente veneno para os três.

Na véspera, à noite, ela preparou meticulosamente e com estranha frieza – da qual, aliás, já não tinha consciência – doses adequadas de veneno. Não havia nela qualquer outra emoção, senão a de concluir, com isenção, esses ritos finais.

Desde o quintal, chegavam uivos que – também à véspera – haviam anunciado a morte dele. Como soubera Zimbo? E como soube agora, se ela apenas pensara sozinha? E tem gente que não crê na percepção sensorial dos cachorros! – exclamou baixinho. Ou, quem sabe, é a morte que lhes avisa? – indagou-se ainda, já muito abalada. E dormiu tarde.

Despertou cedo. Com o café, comeu mais torradas do que normalmente comia, pois com o estômago vazio – acreditava assim – a dor do veneno seria maior. Tomaria cuidados iguais com os cachorros.

No quintal, Zimbo se movia em pequenos círculos sem parar, num verdadeiro desassossego. Xapado, distante dele, arrastava as patas na vegetação rala, buscando, paciente, algo que só ele aparentemente sabia.

Serviu-lhes a ração, como fazia a cada manhã; desta vez, porém, em quantidade excessiva. Zimbo comeu lenta e passivamente, como se já houvesse esquecido seus premonitórios uivos. Xapado, como sempre, digeriu vorazmente sua ração.

Após, como também era costume, estendeu-lhes as pequenas tinas com água – agora com o veneno dissolvido em ambas. Zimbo fixou seus olhos remelentos nos olhos exauridos da velha senhra, lambeu-lhe os pés, que já haviam perdido o antigo cheiro, bebeu a água envenenada de sua tina, e toda a água da tina do Xapado – antes que este a bebesse.

A velha senhora perturbou-se e, sem ânimo para entender o incidente, voltou à cozinha, encheu a tina de água com nova dose de veneno e depositou-a na frente de Xapado, que se deteve confuso. Zimbo, com seus movimentos já muito afetados pela ação do veneno que agia rápido, ainda teve forças para impulsionar as patas dianteiras e derramar, novamente, a água da tina do Xapado.

Só então a velha senhroa percebeu nos olhos moribundos de Zimbo sua derradeira súplica pela vida de Xapado. Não teve tempo sequer de afagá-lo, Zimbo não se movia mais.

Com a alma esvaindo-se, a velha senhora retornou a casa. Esqueceu-se de fechar a porta e de se banhar, como pretendera. Sentiu-se aliviada, enquanto sorvia o veneno no copo, escutando, lá fora, latidos alegres do Xapado provocados pelo prazer da barriga cheia.

Fonte:
PEREIRA, Francisco José. Contos Completos. Florianópolis: Garapuvu, 2006. Disponível em http://grandesautorescatarinas.blogspot.com/

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Heron Moura (Ernani Rosas: o homem em negativo)

Saiu pela Editora da UFSC um belo livro: Cidade do Ócio, seleção de poemas do poeta catarinense Ernani Rosas, selecionados e organizados por Zilma Nunes. Esses poemas eram todos inéditos, e o trabalho minucioso e amoroso de Zilma Nunes os torna agora públicos. Só a decifração da letra inóspita do poeta já significou um esforço admirável da organizadora; mas trazer à luz a obra desse poeta, de uma forma clara e orgânica, é o maior mérito da obra.

Duas coisas, paralelas à obra, me chamaram profundamente a atenção. Aparentemente, há apenas duas fotos do poeta, o que em si mesmo já é espantoso, já que Ernani Rosas nasceu em 1886 e faleceu em 1954. A primeira é do poeta ainda jovem, e seu perfil exprime confiança e força. A segunda é do poeta velho, e revela um homem desamparado, frágil, náufrago de algum desastre, cujos efeitos a companhia de um sorridente sobrinho só faz ressaltar.

Não sei as causas desse desastre pessoal. Parece que ninguém sabe. O segundo fato que me chamou a atenção é o registro de Zilma Nunes: “é possível, por intermédio das negativas, construir uma biografia às avessas: Ernani Rosas não estudou, não casou, não teve filhos, nunca trabalhou, nunca viajou, nunca publicou nenhum de seus poemas”. Ernani Rosas é o homem em negativo.

O que me espanta mais ainda é que há uma certa leitura plausível desse desastre, não uma justificativa, mas uma interpretação: Ernani Rosas encarnou o espírito do poeta moderno pós-simbolista, que recusa a vida em nome da arte. Se não viveu em vida, viveu na forma da arte.
Isso liga duas pontas muito díspares, mas que se encontram: uma visão intelectual e acadêmica da arte como pura estética, desligada da vida, e a prosaica percepção, ainda disseminada entre as pessoas leigas, de que a poesia é assunto da estratosfera, e que os poetas são espécies de extraterrestres. Eles não vivem para esse mundo, como os profetas bíblicos.

Foi essa percepção do poema como fuga do real que levou Ernani Rosas a não viver a sua vida? Não sei. Mas seus poemas herdam e trazem a marca de toda a tradição simbolista e pós-simbolista que ancora boa parte da mirada esteticista da poesia moderna. A raiz dos poemas de Ernani Rosas pode ser traduzida por meio de duas frases: a de Mallarmé, que afirmou que o mundo real não passava de uma “miragem brutal” e a frase lapidar que aparece no Axel de Villiers de L´Isle-Adam: “Viver? Nossos criados farão isso por nós!”

O simbolismo, do qual derivou a poesia moderna, recusava o mundo real, por razões que não cabe examinar aqui. Mas digamos que se tratava de uma visão aristocrática da vida: aos burgueses e populacho era destinada a vida, aos nobres e artistas era destinada a arte. Essa oposição entre arte e vida criava uma situação paradoxal: a forma mais rica de expressão era um apagamento das formas de vida perceptíveis por todos. A sintaxe de Mallarmé, por exemplo, era um minucioso esforço para apagar qualquer traço da fala da tribo, a qual estava ligada àquela “miragem brutal” da realidade. Tudo se passa como se uma vida retirada, uma vida em negativo, pudesse representar a forma mais intensa de expressão estética. A poesia se transforma em religião, e o poeta é o seu profeta. Ao sinal de menos na vida, corresponderia o sinal oposto na poesia.

Ernani Rosas estava consciente disso? Não sei. O espantoso é que ele viveu no Rio a maior parte de sua vida, e ali se configurou uma geração de grandes poetas que renegam essa tradição simbolista e semi-romântica do poeta como boêmio e como vate. Vejam a vida e as práticas sociais de poetas como Drummond, Jorge de Lima, Murilo Mendes e João Cabral. Todos eram homens de seu tempo, com profissões definidas, homens da rua, e não do claustro. Drummond era funcionário público graduado e jornalista, Jorge de Lima era médico e político, João Cabral era diplomata, assim como Vinícius de Moraes. Nada mais distante do Baudelaire que não trabalhava e que pintava o cabelo de verde. Mesmo se profética, a palavra do poeta brasileiro era a da língua de todos os dias, e mesmo a sintaxe de João Cabral deve tanto ao modernismo quanto à literatura de cordel.

Mas Ernani Rosas não. Era um pássaro de outros tempos, talvez o albatroz do poema de Baudelaire: a ave imponente que não voa mais. Talvez isso se explique por uma opção puramente estética: ao passo que a tradição brasileira se voltou para a língua da rua, Ernani Rosas se liga mais à tradição lírica de Portugal. Ele inclusive esteve ligado, por um tempo, ao grupo da Revista Orpheu, da qual participou Fernando Pessoa.

Aliás, Fernando Pessoa é outro moderno profundamente conectado à tradição simbolista. Mas há uma diferença enorme entre Fernando Pessoa e Ernani Rosas, além é claro da qualidade poética: o poeta português foi extremamente ativo na sua Lisboa, ao passo que Ernani Rosas se internou num limbo de inação que revela a essência da ideologia da arte pela arte.

Pode a arte pela arte salvar a vida? Essa é a questão que Ernani Rosas nos coloca. Os seus poemas substituem seus filhos, suas mulheres e seu labor social?

Eu acho que arte e vida trocam signos. Uma vida pobre emite menos signos, e uma arte rica não encontra resposta no silêncio. Eu sinto uma tristeza lendo poemas de Ernani Rosas. É certamente um poeta dotado, dedicado a seu ofício. Augusto de Campos já ressaltou algumas de suas qualidades como poeta. Mas se lemos essa seleção de poemas organizada por Zilma Nunes, ressaltam também as deficiências: poemas muitas vezes confusos, mal resolvidos, o poeta perdido na lida com seu material. Como se ele tivesse tentado dominar os seus poemas de dentro, de um ponto de vista puramente estético, e o resultado foi confusão mental e um repertório restrito, apesar de algumas surpresas e de um ritmo poético consistente e persistente.

Nos melhores momentos, ele chega a lembrar alguns poemas de Mário de Sá-Carneiro:

Neste poema cismático, agoniza
A luz de um sol como um delírio a Deus!
Num nevoeiro genial se concretiza,
Dúvida e sombra num debuxo a Zeus…

Mas o que fica ressoando em mim não é essa evocação de uma divindade poética, mas a auto-percepção do fracasso da linguagem do poema como instrumento de domínio:

Eu pensei dominar a turba ignara,
Vesti-me com o calor de D. Rodrigo,
Tive a maior das decepções… falhara,
Em nenhum coração tivera abrigo!

Se o mundo externo é uma miragem cruel, as pessoas que nele habitam também são. Mas o poeta reconhece o sofisma desse aforismo: as pessoas existem, e o poeta vive com a linguagem com que elas vivem. Ele não pode deixar a vida para seus criados. Aliás, o nosso querido Ernani Rosas certamente nunca teve um criado na vida.

Fonte:
Héron Moura. In Diário Catarinense, em 30 de agosto de 2008.

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Ernâni Rosas (1886-1955)

Ernâni Salomão Rosas Ribeiro de Almeida, nasceu em Desterro, Florianópolis em 31 de março de 1886, mas viveu no Rio de Janeiro desde os 3 anos de idade. Filho do também poeta Oscar Rosas.

Chegou a entrevistar-se com poetas como Luiz de Montalvo, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, mas sua poesia é considerada simbolista, tardia.

Trabalhou em cargos modestos e variadas e humildes atividades profissionais.

Viveu em Nova Iguaçu, onde morreu em condições difíceis. Com o agravante da discriminação por ser gago, homessexual, pobre, tratando de viver ‘como poeta’ (…) apreciando sobremaneira o álcool e provavelmente o ópio, afastado do convívio com os ‘poetas maiores’ de sua época, é de se supor as dificuldades encontradas por Ernani para publicar seus poemas”

Tanto que os poemas contidos na “História do Gosto” ficaram guardados em uma caixa na Academia Catarinense de Letras por mais de 40 anos, sendo resgatados para a análise e publicação do livro só em 1997.

Poeta em certo sentido hermético, de inspiração mallarmáica. Chegou a ser redescoberto e cultuado pelos concretistas paulistas.

Dentre suas principais influências estão Eugênio de Castro e Cruz e Sousa. Como observa Andrade Muricy: “O fato de ter ficado quase completamente desconhecido e não haver, por isso, tido influência histórica, não lhe invalida a precedência”.

Publicou em vida: Certa Lenda Numa Tarde – Paráfrasis de Narciso; Poemas do ópio; Silêncios. (…)

Fontes:
Antonio Miranda
Literatura Brasileira – Apostila 7 de simbolismo.
Casa de Paragens.

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Oscar Rosas (Poesias Avulsas)

EXCELSIOR

Crescem teus ódios como o mar,
Cresce-me o amor como um novilho.
Rufa o tambor, vamos cantar,
Que no teu ventre está meu filho.

Nós não sabemos que é chorar,
Somos assim como um junquilho,
Como ferreiros a forjar
0 ferro em brasa para um trilho.

Somos de ferro como as lanças,
Eu cheiro só as tuas tranças
E a minha boca só tu beijas.

Tu és a noiva da desgraça!
A nossa sátira espicaça
Como dentadas às cerejas.
———

O soneto é bastante aliterado, em m no início, em f nos versos 7-8, em t no verso 10, em b no verso 11, em s no verso 13, etc. Faltam aos versos o travamento e a precisão vocabular parnasianos, e essa ausência denota o caráter simbolista da composição.

SEREIA
(Dedicado a Emíïio de Menezes)

Reparem nesse bronze, veia a veia,
Cornucópia de seios e de escama,
Obra de um japonês, em que o Fusi-Iama
Adora o mar em enluarada areia.

Canta, e essa harmonia nos golpeia.
É duma triste e solitária gama,
Porém aumenta desse bronze a fama
O olhar amortecido da sereia.

Penso que sonha o pólo e o nevoeiro,
E a pálida talhada de um crescente
Num céu de véus de noiva e jasmineiro.

E, como búzio a referver, ressoa
Numa langue preguiça de serpente,
Num êxtase nostálgico de leoa.

VISÃO

Tanto brilhava a luz da Lua clara,
Que para ti me fui encaminhando.
Murmurava o arvoredo, gotejando
Água fresca da chuva que estancara.

Longe de prata semeava a seara…
O teu castelo, a Lua crepitando,
Como um solar de vidros formidando,
Vi-o como ardentíssima coivara.

Cantigas de cigarra na devesa…
E, pela noite muda, parecia
Cantar o coração da natureza.

Foi então que te vi, formosa imagem,
Surgir entre roseiras, fria, fria,
Como um clarão da Lua na folhagem.

Fontes:
Antonio Miranda.
Jornal de Poesia.

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Oscar Rosas (1862 – 1925)

Oscar Rosas Ribeiro nasceu em Florianópolis, em 12 de fevereiro de 1862, Filho de João José da Rosa Ribeiro de Almeida e de Rosa Albino Machado.

No Rio de Janeiro se fez jornalista profissional, defendendo o abolicionismo e a Republica; conheceu Cruz e Sousa no Ateneu Provincial de Santa Catarina, levando-o para o Rio, durante a primeira estada do Poeta Negro (junho de 1888 — março de 1889), e quem o apresentou aos meios literários.

Os quatro poetas que, em redor da Folha Popular, fundaram o grupo renovador das nossas letras, um era Oscar Rosas, que desde 1890 se dizia ,”simbolista radical”. Oscar Rosas secretariava o jornal Novidades, onde fez proselitismo simbolista; assim é que em 18 de outubro de 1890 atacou Araripe Junior, que interpretava o simbolismo de modo insatisfatório, e assim é que levou a colaborar no periódico Cruz e Sousa e os moços inconformados. Chegou a escrever um soneto de parceria com o Cisne Negro.

Depois de deixar Novidades, em abril de 1892, Oscar Rosas dedicou-se quase que integralmente ao jornalismo político, trabalhando em vários periódicos do Rio e de 1922 a 1925 em Florianópolis, onde dirigiu o jornal Republica.

Foi deputado à Assembleia Legislativa de Santa Catarina na 11ª legislatura (1922 — 1924).

É patrono de uma das 40 cadeiras da Academia Catarinense de Letras.

Faleceu nesse mesmo ano de 1925, no Rio, no dia 27 de janeiro. Sua produção poética encontra-se até hoje esparsa pelos jornais e revistas da época.

“Janela do Espírito”, reproduzida por Andrade Murici (Panorama, vol. I, pag. 177), trai nítida influência de Teófilo Dias, confirmando, mais uma vez, que o poeta das Fanfarras foi uma poderosa sombra sobre os nossos primeiros decadentes e simbolistas.

Basta ver o começo: “Ai, que tormento, criança, / Oh! que sina tão sangrenta! / — Andar essa loura trança / Presa a minh’alma febrenta. // Agora eu passo os meus dias / Debaixo dessa janela, / A espera que tu sorrias / Sob essa coma de estrelas. // Pela calçada eu passeio, / Junto de ti eu me agito, / O sangue tinge-me o seio / Na veemência de um grito.” Pelos espécimes que dele reuniu Murici, Oscar Rosas buscava novidade de expressão e imagens.

Fontes:
Antonio Miranda.
Wikipedia.
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva, in Poesia Simbolista: Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965.

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Efigênia Coutinho (Antologia Poética)

ÁGUA MENINA

Tenho procurado mais água que
a terra, e onde está, se não
espelha na onda, afigura-se-me
que está morta a natureza!

Procurei água ao pé das geleiras,
onde gota a gota, estilando, entre
os granitos, beijavam os macios
musgos e delicados miosótis azuis.

Murmuram, balbuciam aquela água
palreira, como uma criança que
aprende a falar, provei, achei doce!
Onde a vida germina e cresce esperançosa.

Desci da geleira, pela encosta dos montes,
e arroios, regatos, e torrentes me cantavam
as alegrias da água criança tornada menina!
Não perturbando o sono da vida nascente!

BARCO DO AMOR

Qual o tamanho desse barco?
Barco que tudo suporta,
Que tanta carga comporta,
E por vezes é tão fraco?
Que tamanho ele terá?
Estes mares a singrar,
Saindo pra não voltar,
Seu destino, qual será?

Altivo na tempestade,
Fortaleza sem igual.
Seu porão sem nenhum mal,
Carregado de saudade!
Singra as águas da bonança,
Inocente qual criança,
Fora da realidade!
Paciente nas calmarias,
Firme leva o timão,
No governo o coração,
Orvalhado de euforias!
Na borrasca com bravura,
Ecoam ondas no casco,

Qual o porte desse barco,
Abarrotado de ternura?
Que buscas minha escuna,
Por esses mares perdida?
Já sei, rastreando a vida,
Que se perdeu na bruma!

Lanço âncora no fundo.
Esqueço tempos de antanho,
Sei que o teu tamanho,
É do maior amor do mundo!
Meu convés ensolarado.
À noite o luar vem beijar,
Meu barco e o amor no mar!
Eu e ele entrelaçados!

ENCONTRO DO MAR

Amanhã quando o sol raiar tenho um encontro
no mar, onde te calas e te fazes cinéreo, e,
escondes até a extrema orla do teu horizonte
numa neblina finíssima de opala!

Vou de carona no vento, cantando
com as gaivotas numa prece
sem fim, e a terra me olha lá de
longe já cheia de saudades…

Na viagem o vento vai me contando
como o sol adormecem as nuvens
as ondas brincam com as algas
e o mar beija a praia.

Quando chego, pérolas iluminam
um túnel de um azul aveludado
mesclado em tons dourados do sol.
No final uma galeria de corais
onde moram as sereias encantadas.

E eu esqueço que existe esse tal
de tempo danço com os golfinhos
troco sonetos com as ostras.

Mas lá vem a lua cabreira me
avisar sem querer me incomodar
que já é hora de partir…
Que o mar está irado.

Então me despeço e prometo
aos corais uma nova visita.
Os cavalos marinhos me escoltam
como cavaleiros medievais
sobre o manto azulado.

A praia já me esperava aflita pois o mar
atormenta a terra e a flagela com suas ondas
gigantes e eu sinto um terror sagrado, e
digo-lhe compungida e medrosa:

Mar, tu não flagelas só a terra, mas submerges
homens, e, o teu maior tesouro encontrado na terra,
nos teus abismos profundos,
talvez porque achas os homens pequenos e maus,
e quiseras tê-los feitos maiores e melhores!

Mas eu admiro-te sempre, ainda quando és
mau, porque a tua grandeza está sempre
acima de toda miséria Humana!

Tu falas à terra e aos homens com tanta
delícia de murmúrios e de sussurros, como
nunca teve música alguma de rouxinol!

Tu, porém não és mau, senão raras vezes, lá
somente onde a terra é feia e indigna de ti;
e tu, belíssimo entre os belos, não podes ser feio!

Porque tu choras algumas vezes, e,
quando te abismas nas cavernas,
soluça como uma criança gigante!

Perdoas a terra a sua ingratidão, e aos
homens a sua sordidez, e delicias a terra
com tuas carícias, e lavas os homens da sua
Sujidade!

Depois dessa jornada, mergulho em um
sono profundo, pro beijo teu acordar!

SORRISO DA AURORA

Que sentimento te envolve
por quem te ama suntuosamente
por mais próximo que estejas, o qual,
quando te afastas, dói a saudade?!
É morrer de sede dentro d’água….

Dá-me, pois, refrigério, não
demore para à sublime sagração!
O amor é belo e cheio de doçuras,
e tu bebes o cálice do néctar feito
com o sorriso de todas ás auroras!

Avançarei milhas para poder amá-lo…
Os sonhos não se vergam aos receios.
Porque minha alma foi beijada como
se um regato de mel se houvesse
derramado em minha boca, e tivesse
descido, cheio de doçura e de perfume,
até o âmago do meu coração…
E, senti, tuas mãos e braços, fiquei
inteiramente devorada por uma
sede que nenhuma água pode saciar.

Senti naquele momento que me
havia tornada uma deusa,
abençoei o sol e a terra, e apertei,
com todas as minhas forças ,tuas mãos
adoradas, que me haviam abraçado
e que haviam estreitado o meu coração
noutro coração… de modo que senti
bater na minha alma dois corações
ao mesmo tempo, como se eu tivera
duas almas dentro dum só corpo…

ANTIGO SONHO

Em meus olhos tatuaste todo Amor
Pelos astros tu lhes dás, tons e cor
Arrebatando , onde passam, imagem
Tendo do sonho antigo da miragem…

Quero viver alegre ao foi prescrito,
Os sonhos tenho-os pelo mundo a voltear
E quando não tiver sonhos, escrito
Minha cegueira triunfa ao te Amar…

Sendo um sonho sina do indelével
Mais azulado ainda faz meu olhar,
Vencendo todo o tempo não declina.

Nesse tempo em vigília, sonho verga,
Clamando aos deuses para serem justos,
Nem se abala no olhar desses injustos.

TEATRO DA VIDA

A minha vida é derradeira peça
Que vai sendo vivida em vários atos
Com diferentes vidas e retratos,
Sempre sorrindo com sua esperança.

Com porte, não há mal venha vencer,
Cuido para não criar-lhe desavença.
Vou encenando todos estes atos
Desta nova etapa, reviver fatos.

Outras vidas deixarei na história,
Só desejo conter nesta memória
Os bons momentos aqui tão vividos.

Se neste novo ato, nova infância,
Se sendo de alva significância,
É a soma dos tempos já vividos..

Fontes:
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/obrasdigitais/saciedigpv/11/efigenia04.php
http://www.avspe.eti.br/coutinho/formatados/TeatroDaVida.htm

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Efigênia Coutinho

Nasceu em Petrópolis/RJ.

Formou-se em Artes, especializou-se em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural, tendo participado de várias exposições.

Em 1977 foi residir em Florianópolis SC, sendo que em 1999 mudou-se para Balneário Camboriú/SC.

A poesia surgiu em minha vida ainda nos sonhos de adolescente, quando menos esperava, lá estava eu com o papel e a caneta na mão, extravasando a minha emoção. Com o passar dos anos, acho que fui me perdendo, esquecendo de como era gostoso embarcar nesta viagem. Não segui carreira ligada ao mundo das letras, e pouco conhecimento tenho de Literatura. Escolhi Artes como profissão, mesmo sem haver retorno financeiro, pois nada se compara aos tesouros da alma. A vida tem sido muito generosa comigo, me deu uma família linda, amigos maravilhosos, reais e virtuais!! Vou seguindo os caminhos que o meu coração ditar.”

– Pertence a Academia de Letras do Brasil, como Membro Correspondente da ALB-Mariana, representando o Município de Balneário de Camboriú
– Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA) como Membro Acadêmico Correspondente.
– Embaixadora Universal da Paz pelo Cercle Universel Des Ambassadeurs De La Paix – Genèbre/Suisse – France.

A poesia será sempre um meio de comunicação de sentimentos na escrita. Eu tenho um ritmo pessoal, operando desvios de ângulos, mas sem perder de vista a tradição, procurando atingir o núcleo da idéia essencial, a imagem mais direta possível, abolindo as passagens intermediárias. Certa da extraordinária riqueza da metáfora – tratei de instala-lá nos meus poemas, com toda a sua carga e força emocional!

Atraída pelos sentimentos, entendi que a linguagem poderia manifestar essa tendência, sob a forma de um encontro de palavras extraídas da Alma. Ao inicio, as palavras vinham num conjunto, informes, desarticuladas e, pouco a pouco, as fui compondo, sentindo silaba por silaba, e aplicando-as dentro dos versos. Há tantos momentos misteriosos dentro da alma poeta, que vivemos uma alquimia , a bem dizer, a essência mesma da vida em vida.

Procurei sempre mais a musicalidade que a sonoridade; evitei o mais possível a ordem inversa, procurei muitas vezes obter o ritmo sincopado, a quebra violenta do metro, porque isso se acha de acordo com a nossa atual predisposição emocional; certos versos meus são os de alguém que leu muito Baudelaire, Shakespeare, Paulo Mantegazza, e muita musica clássica.

Empreguei freqüentemente a forma elíptica, visto ser uma tendência acentuada da poesia moderna que ajuda a terminologia final; de resto não crio uma ruptura entre o poeta e o leitor, antes impõe este a uma disciplina mental, ensinando-lhe a imaginar nos intervalos, encobrindo analogias e paralelismos. Sendo de natureza impulsiva e romântica, julgo ter feito um trabalho verdadeiro , pois se os relacionar à minha contínua necessidade de expulsão de sentimentos, meus textos são até construídos e ordenados.
É a expressão da subjetividade, da harmonia e do amor universal. Em minha poesia, ora demonstro um tom bastante emotivo, ora amplo interesse pelas coisas simples da vida, revelando alteridade, amizade e solidariedade
.”

Fonte:

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Efigenia Coutinho

Nascida em Petrópolis-RJ, cresceu em São Paulo-SP, e na caminhada da vida, morou no Rio e Janeiro-RJ, Florianópolis-SC e atualmente vive em Balneário Camboriu-SC.

Formada em Artes, se especializou em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural,tendo participado de várias exposições.
Em 1977 foi residir em Florianópolis SC, e há três anos mudou-se para Balneário Camboriú -SC – 1999 –

A poesia surgiu em minha vida ainda nos sonhos de adolescente, quando menos esperava , lá estava eu com o papel e a caneta na mão, extravasando a minha emoção…Com o passar dos anos, acho que fui me perdendo, esquecendo de como era gostoso embarcar nesta viagem.

Não segui carreira ligada ao mundo das letras, e pouco conhecimento tenho de Literatura. Escolhi Artes como profissão, mesmo sem haver retorno financeiro, pois nada se compara aos tesouros da alma.

Este dom maravilhoso de escrever ficou hibernado durante muitos anos, e como na vida nada acontece por acaso, foi em um desses acasos, na paixão, que ressurgiu a poetisa. Percebi que existiam em mim sentimentos que extasiavam meu coração, mas a única forma de vivenciá-los era através de palavras. Meu estilo preferido é o
lírico, onde escrevo sobre as inquietações do coração, mas também adoro o erotismo, estimula a minha libido.

O incentivo para continuar a escrever surgiu em Junho/1989, quando tive uma das minhas poesias, editada pelo grande poeta VALDEZ, para divulgar o meu trabalho em seu Site.

Fontes:
http://www.avspe.eti.br/efi/efigenia.html
http://www.nadirdonofrio.com/biografia_efigenia_coutinho/biografia_efigenia_coutinho.htm

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Enéas Athanázio (A Estradinha)

Tulio Dias(Estradinha do Cipó)
Sentei no banco gasto da velha estação ferroviária e espraiei o olhar pela vila onde passei muitos anos da infância feliz. Para trás estavam as ruas tortas em que se alinhavam velhas casas; à direita se avistavam as ruínas da antiga madeireira, a indústria que devorou as matas da região; à esquerda, menores do que eu imaginava, ficavam os morros misteriosos onde, como diziam nos meus tempos de criança, viviam até bugres e onças pintadas. Mas à minha frente se estendia a paisagem que mais me dizia à saudade. Naquela campina plana, com o capim ralo queimado da geada inclemente, começava a estradinha que ligava minha vila ao lugarejo onde morava meu amigo Téo, um dos tantos que o tempo levou. Era uma estrada de poucos quilômetros, com o chão vermelho batido pelo caminhão velho que puxava madeira, cortando a mataria fechada, subindo e descendo as quebradas do terreno. Caminho pobre, onde quase ninguém passava, e cujos únicos ruídos eram o canto dos pássaros e o grito de algum bicho.Para mim, porém, aquela estradinha era a porta da aventura e da liberdade – era tudo.

Por ela eu saía nas explorações solitárias do mato próximo e, mais tarde, com a espingarda nas costas, para algumas caçadas inofensivas. Por ela eu partia para acampar na companhia dos amigos, curvado ao peso da mochila. Mais crescido, já metido a homem, a estradinha servia para minhas andanças a cavalo e as corridas na bicicleta que ganhei de minha avó, a única da vila. Também era por ali que eu rumava para os primeiros bailes, nos sítios ou nas casas-de-festa das capelas, quando até arranjei uma namorada, caboclinha simplória e acanhada que também sumiu no tempo. Era ainda por ali, na fase da leitura apaixonada, que eu rumava para a casa de Téo, com quem trocava livros e revistas.

Bem cedinho, mal engolido o café, eu enfrentava o frio e partia decidido. Quase sempre a pé, com o maço de leituras em baixo do braço, esticava o passo nas curvas sem fim, a batida dos saltos provocando um som cavo no chão vidrado. Nem saía da vila e me punha a cantar e assobiar, talvez para espantar o medo, a voz reboando nas canhadas e o eco respondendo longe. Às vezes treinava mesmo uns discursos e declamações para uma platéia invisível. Nessas visitas ao Téo acontecia encontrar por ali, pastando à vontade, o Rosilho, um cavalo muito velho que pertencia à minha família. Não servia mais para o serviço e fôra largado ao deus-dará. Muito barrigudo e de lombo agudo como facão, era o retrato da mansidão. Submisso sempre a meus caprichos infantis, muito eu tinha brincado com ele.

Eu então o montava em pelo, sem pelego e sem freio, e o colocava na estrada. Bufando e rebolando, o pobre me levava até a vizinhança do povoado do meu amigo, onde eu o largava, com um tapa amistoso no lombo. À noitinha, quando retornava, eu o encontrava quase no mesmo lugar, pastando em silêncio. Parecia que me esperava. Eu montava de novo e, entre bufos, ele me levava de volta. Para compensá-lo, eu lhe dava um trato de milho e alfafa e servia-lhe água fresca. Com olhos imensos e plácidos, parecia agradecer. Depois, em passos curtos, sem pressa, retomava a liberdade duramente conquistada e cruzava a campina.

Chegando em casa, nem descansado do passeio, eu já imaginava novas andanças pela estradinha. A estradinha que ficou para sempre na minha lembrança como o caminho livre do sonho e da fantasia.
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Premiado no Concurso Nacional Monteiro Lobato promovido pela Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil (S. Paulo – 1990).
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Fonte:
ATHANÁZIO, Enéas. Rosilho Velho: contos juvenis. Balneário Camboriu: Minarete, 1994

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Anisio Lana (1981)

Anísio Lana, pseudônimo de Elias Anísio Lana, nasceu em 26 de julho de 1981 na cidade de Blumenau, Santa Catarina, reside na cidade de Gaspar/SC, é poeta e membro da Frente em Defesa da Cultura Catarinense e membro fundador da SEG – Sociedade Escritores de Gaspar. Atua e apoia entidades e é articulista cidadão. O autor também luta contra a Toxoplasmose, que atingiu sua visão do olho esquerdo, restando apenas 28%. Sendo já cego da visão direita e tendo plena consciência dos riscos de ficar cego da noite para o dia.

Freqüentador assíduo da seção “Espaço do Leitor” dos dois jornais de Gaspar, Elias Anísio Lana carrega na veia a tendência à denúncia, à crítica e à polêmica. Quem lê suas cartas imagina estar diante de uma pessoa de meia-idade e pai de família. Nada disso. Anísio é um jovem solteiro de 26 anos, tímido e discreto, escritor e poeta, que faz das palavras uma verdadeira “metralhadora” na denúncia dos desmandos e injustiças sociais. Ele se diz preocupado com o futuro do seu bairro e de Gaspar. “Muita gente, quando me conhece, fica surpreso com a minha idade”, conta Anísio que que nasceu e vive no Bateias.

O hábito de escrever cartas sobre fatos do cotidiano começou aos 11 anos de idade. Em 2001, Anísio passou a enviar essas cartas para os jornais reclamando, denunciando ou questionando a atuação do poder público de Gaspar. Com opiniões firmes e textos bem-estruturados, ele caiu nas graças dos editores dos jornais e do povo do Bateias e redondezas. Algumas de suas cartas motivaram acaloradas discussões na comunidade, outras inspiraram pautas para os jornais e rádios locais.

No início, algumas pessoas ligadas ao poder público chegaram a questionar a existência de Anísio Lana. Diziam tratar-se de uma pessoa filiada a um partido político de oposição à administração municipal que assinava utilizando-se de um pseudônimo. Nem uma coisa nem outra. Ele explica que é apenas um cidadão que gosta de bater de frente com as questões sociais. “Não consigo me calar frente às injustiças que observo”, admite. Anísio jamais se candidatou a cargo político. Hoje, ele é membro da diretoria da Associação de Associação de Moradores do do Residencial Vila Isabel, um pequeno loteamento no Barracão.

Em defesa da cultura

Anísio também batalha pela preservação da cultura. Ele integra a Frente em Defesa da Cultura Cata-rinense, e é co-fundador da CEG – Companhia de Escritores de Gaspar. Em casa, vive rodeado de livros e documentos históricos. “Faltam registros e gente disposta a resgatar a nossa bela história cultural”, lamenta.

Anísio não tem formação acadêmica na área literária. A técnica para escrever bem, explica ele, “é colocar os sentimentos verdadeiros no papel”. Ele escreve porque gosta, sem pensar em lucro. “Para mim, escrever é uma terapia”.

Os textos de Anísio também têm uma boa dose de sentimentalismo. Durante muito tempo, ele guardou seus versos na gaveta. Nos últimos tempos decidiu revelá-los aos gasparenses e ao mundo. O escritor publica poemas e crônicas em sites na internet e em seu blog, http://www.profissaocidadao.wordpress.com. A iniciativa lhe rendeu reconhecimento nacional. Alguns de seus versos foram parar nas antologias “Vozes escritas”, “9° Prêmio Missões”, “A ponte” e “Filhos da Luz”. Este ano, planeja escrever um livro. O hábito de escrever cartas aos jornais continuará, garante Anísio, afinal, o jovem e sonhador morador do Bateias acredita que suas palavras podem, um dia, sensibilizar as autoridades públicas.

Antologias:

2009
Participa da Antologia As Cartas Que Nunca Mandei, com a crônica Bandeira Verde Amarela, do projeto 48 horas elaborado pelo jornalista e escritor Marcelo Puglia

2008
Participa da Coletânea Palavras de Abril com a crônica Bandeira Verde-Amarela, da Associação Artistíca e Literária ALPASXX ” A Palavra do Século XX”, de Cruz Alta-RS – Terra de Eríco Veríssimo.

2007
Participa da Antologia Filhos da Luz, com a poesia Um Único País Chamado Brasil – Obras selecionadas na V Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – São Paulo.

2006
Segunda Antologia realizada em 2006, com autores selecionados na III Olímpiada Cultural 500 anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título a Ponte é baseada em quadro de título homônio de Décio Mallmith, de Porto Alegre – RG. Participou com o poesia Dois Poetas.

2005
Antologia realizada com autores selecionados na II Olímpíada Cultural 500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título, “Vozes escritas” é sugestão de Miriam Panighel Carvalho, de São Paulo-SP e a capa, de Simon Cho Baeo, de Serra-ES. O autor participou com o poema O Poeta e a Cotovia.
Em 2005 – participou da 9° Concurso Prêmio Missões – promovido pelo jornal Igaçaba de Roque Gonzales – RG, com a poesia destaque a nível ancional – Quando Uma Mulher Se Despe.

Fontes:
http://www.jornalmetas.com.br/
http://anisiopoeta.wordpress.com/

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Arquivado em Biografia, Santa Catarina

Isnelda Weise


Isnelda Weise nasceu em Ibirama [SC] e vive em Blumenau [SC há 30 anos.

Sente fascínio pela água, mas teme o mar, apesar do mesmo estar presente em seus versos, cantado pela sua beleza misteriosa. Foi a água que lhe trouxe o desalento maior: na enchente de 1983 viu todos seus escritos junto com os retratos da sua bebê Juliana levados pelo lamaçal.

Bacharel em Direito, voltou à Universidade para buscar no curso de Letras os requintes de que não abre mão no uso das palavras.

É membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau, da Sociedade dos Poetas Advogados de SC e participa como Consulesa da entidade Poetas Del Mundo, por Blumenau/SC.

Tem textos publicados na antologia Prosa & Verso I, II, III e IV e na antologia Um Rio de Letras II e III. Participa do Projeto Pão e Poesia da FCB, publicando ainda em jornais, revistas e murais e também em sites da Internet e blogs.

Seu primeiro livro solo, AguAlento, nasceu dentro da Universidade com o texto que dá nome ao livro. A obra é uma coletânea de poemas breves, com os quais a poeta reinicia um ciclo de sua vida interrompido quando das cheias do rio Itajaí Açu, em 1983 , ciclo este que terá continuidade com a publicação de sonetos, haicais e tercetos, já em elaboração.

AguAlento foi escrito durante uma aula de Língua Portuguesa. A justaposição de palavras virou marca registrada, presente em muitos de seus poemas, e a obra é uma coletânea primorosa que nem o fogo nem a água levou.

Segundo Isnelda, simpatizante do pensamento segundo o qual a poesia é uma ilha cercada de palavras por todos os lados, ‘AguAlento, ao lutar para fazer parte desta ilha, enamorou-se pelas palavras, e foi com elas procurar nas fontes força e inspiração para desabrochar’.

É por este motivo que AguAlento canta principalmente a água, as fontes e a natureza e faz apelos para sua preservação.

Fonte:
http://www.seblumenau.org/
http://www.poetasdelmundo.com

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Arquivado em Biografia, Ibirama, Santa Catarina

Leandro Rodrigues (Escrever ou não escrever, eis a questão!)

Conversando com uma prezada professora de Letras, a colunista deste site (http://www.escritoresdosul.com.br/) Tânia Ramos, soube de algo que já imaginava: A maioria dos estudantes de Letras têm medo de escrever, deixam de escrever, resolvem apenas lecionar, pesquisar, fazer qualquer coisa menos literatura. Isso acontece, entre outras, pelas cobranças que se fazem em relação à língua, à gramática, às concordâncias a serem utilizadas, à escolha das melhores palavras, enfim, diversos fatores linguísticos que bloqueiam o processo criativo e o seu fluxo.

Lógico que muitos escrevem bem, formam-se, fazem mestrado, doutorado, pós-doutorado, o diabo a quatro e publicam boas obras – o próprio entrevistado do site deste mês, Renato Tapado, é um exemplo. Mas, leiam novamente o que eu escrevi no primeiro parágrafo, e que agora ratifico aqui em letras maiúsculas: A MAIORIA deixa de escrever. E, se a maioria deixa de escrever, é sinal que uma graduação em letras não é o melhor caminho para quem deseja escrever seus sonhados best-sellers, é bom dizer. Nem sei, na verdade, se existe “melhor caminho” para se escrever algum best-seller, mas o que quero dizer é que aqueles que imaginam que a faculdade de Letras fará com que virem exímios Saramagos, Kafkas, Clarices, Éricos, tirem o “cavalinho da chuva”. Não é por aí.

Se eu, que não faço Letras, fico me perguntando todos os dias a frase-título desta crônica (“escrever ou não escrever, eis a questão!”) imaginem os que se graduam! Tantos exames fazem, tantas livros clássicos maravilhosos (ou trechos) lêem, tantas regras encaram, tantas exigências e cuidados para não maltratarem a língua possuem que abdicam até mesmo de tentar fazer uma boa literatura. “É melhor não tentar a fazer uma porcaria”, pensam, com certeza. De porcarias o mundo já está cheio mesmo, basta visitar a seção de mais vendidos das livrarias, por exemplo, ou criar um site de literatura como este e ver isso ainda mais de perto…

Todos os dias novas porcarias são publicadas. Graças a Deus, criariam a Internet e, desta forma, muitos pseudo-escritores puderam criar seus blogs e escreverem bobagens por lá ou nos fóruns das comunidades de relacionamentos, por exemplo. Se não fosse a Internet, teríamos mais destruições de milhares de árvores por aí para fabricação de papel para produção de mais lixo literário, o que é um atentado contra a natureza, que deveria ser punido como qualquer outro crime. Destruição da natureza para a produção de lixo literário é um absurdo que eu abomino! Viva a Internet!

Aliás, sou a favor de algo tipo “exame de OAB” para alguém poder ser declarar escritor (uma “OEB” – Ordem dos Escritores do Brasil), pois mesmo que estes exames não necessariamente formem bons advogados, pelo menos ninguém pode sair se declarando advogado por aí porque cursou um ou dois anos de Direito ou mesmo terminou a faculdade. É necessário mais que isso para ser considerado um advogado, bem como deveria ser necessário mais que um ou dois livros de poesias para alguém ser chamado de escritor. E falo não somente em relação à quantidade, pois há autores de um livro só muito bons, logicamente, mas sim em relação à qualidade, visto que da mesma forma há quem escreva quinze, vinte livros ruins e, portanto, não deveria ser chamado de escritor.

Na Bienal do Livro de Curitiba até livro do Alexandre Frota eu encontrei. Acho que ele ainda não se disse “escritor”, mas muitos que escrevem como ele se dizem. Sem contar os autores sem-noção e sem-talento que ficam enviando e-mails coletivos quase todos os dias (ou semanas) divulgando um monte de coisas desinteressantes que estão fazendo à espera de alguma atenção, elogio ou notoriedade.

Quero ressaltar então que se a faculdade de Letras é ruim pelo bloqueio criativo que ela pode trazer, o bom é que pelo menos ela dá para muitos esta noção de que é melhor não escrever para que depois não fiquem se ridicularizando por aí que nem estes autores que estou comentando, os divulgadores inconscientes de ruindades próprias. Pois acredito que é melhor não se dizer um “jogador de futebol” a ser um futebolista medíocre, que fica no banco de reservas ou nem no banco de reservas de um timeco da quarta divisão tem lugar.

Claro que muitos escrevem só pelo prazer de escrever, publicam só pelo prazer de publicar, bem como muitos jogam futebol nos campinhos de várzeas nos fins de semana com os amigos apenas porque gostam do esporte – fazendo uma pequena comparação, já que trouxe a questão do futebol. Só que não é por causa disse que podem se dizer “escritores”. Penso que o ideal seria dizer: “Eu escrevo”; “Eu gosto de escrever”, “Eu aprecio brincar de literatura”, mas não se identificar como “Escritor”.

“Eu sou escritor”, como alguns adoram dizer por ego ou sei lá o quê, é ofensivo, virulento e machuca a verdadeira e boa literatura.

Não tenho preconceito contra quem sabe que não é escritor, contra quem escreve por brincadeira, por prazer, por contentamento interno ou por julgar que só é feliz mesmo quem planta uma árvore, faz um filho e publica um livro. Tenho preconceito apenas contra quem escreve mal e afirma ao mundo que é escritor, mas mesmo assim seus nomes (muitos nomes) estão até mesmo neste site que edito porque não gosto de discriminações. Se dizem que são escritores e não há exames de “OEB” para dizer o contrário, quem sou eu para contestar? Por que tiraria um doce da boca de uma criança?

Meu maior preconceito, no entanto, é contra quem escreve bem mas decide não escrever devido às regras, bloqueios e exigências que passou a ter na faculdade, sobretudo na faculdade de Letras. Estes, sim, são até piores que os que escrevem mal e gritam ao mundo que são escritores, porque, como diria Kant, “não usar um talento que se tenha é uma das piores coisas que alguém pode fazer contra si mesmo.” – é bonito citar Kant, mesmo que uma das poucas coisas claras realmente nele, algo quase inconfessável, é verdade, para a maioria dos estudantes de filosofia).

Mas, voltando à literatura, para terminar, escreva independente de alguma graduação se você de fato tem talento (mas não faça esta pergunta à sua mãe e a seus amigos, é lógico). E faça urgentemente uma faculdade de Letras se você não tem talento porque, desta forma, você se desencatará e não escreverá – ou pelo menos publicará lixos com algum requinte, disfarçados de “formosos” – o que é até aceitável, pois a beleza é sempre admirável, ainda que de palavras, frases soltas ou unicamente da capa…

(*Leandro Rodrigues (lerodriguesoriginal@hotmail.com) é editor do site Escritores do Sul, co-editor da revista Ciências da Saúde, estudante de filosofia da UFSC e autor de alguns textos que, talvez, um dia, virem livros…sabe-se lá…)

Fonte:
http://www.escritoresdosul.com.br/

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Arquivado em O Escritor com a Palavra, Santa Catarina

Nei Duclós (Poesias Avulsas)

EVOCAÇÃO DO CANTO

Descerra essa violação, afasta essa solidão
Venha me encontrar na última carruagem
Pegue o trem, pilote o avião, pouse em Marte
Retorne com as palavras perdidas no porão
Venha, rouxinol, cante que é tarde

VOLTA, RIO

Na origem, o Rio é uma paisagem-monumento
na essência, um urbanismo clássico
na História, uma soma nacional
na música, uma tarde de sol.

REVANCHE

Sou avô, mas jamais fui neto
Por destino desenhei uma linhagem
Da nação sem lei sou a estiagem
E reponho a bandeira no meu teto

FICO

Nenhuma palavra brota do silêncio
Voltado para o canto escuto o vento

Nenhuma conversa opera no silêncio
Dobrado no quarto enxergo o tempo

FLAGRANTE

Não peço desculpas pelo atraso
Nem pelo caldo, folia de Reis
na serra do Espinhaço, turismo
de sal na areia depois das seis

TRAPÉZIO

Tempo não ocupa espaço
Desanda quando acontece

Rastro de sombra, penhasco
Com os minutos em queda

PÁSSARO

É breve o pássaro
que ofusca a treva

Obscura flor
da ante-manhã

AVESSO

Agora que a face do sol sem
brilho acorda a face oculta
de deus virado pelo avesso

TRÉGUA

Quem fala em amor numa noite dessas
quando o tempo morre no horizonte

Quem fala em amor que te apedreje
porque a pedra afagou antes da mágoa

MARTE

Levantou
porque não havia mais espaço
Suspirou
porque a manhã não abre

VERANICO

maio se despede com o tempo em brasa
último aceno do verão, tardia praia

prenúncio do frio temido pela alma
(exílio juvenil de sombrias memórias)

É TEMPO DE PERDÃO

É tempo de perdão pelo tempo perdido

É a perda de tempo que nos mantém cativos

Não o tempo sem valor ou a chance fria

Mas o tempo do coração em queda livre
—–

Mais poesias do autor, cronicas, contos, artigos, resenha de seus livros, etc. Podem ser encontrados no site do autor, abaixo

Fonte:
http://consciencia.org/neiduclos

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Arquivado em O poeta no papel, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Uruguaiana

Nei Duclós (1948)

Nei Carvalho Duclós (Uruguaiana, 29 de outubro de 1948) é jornalista, poeta e escritor brasileiro.
Aos 17 anos se mudou para Porto Alegre e se matriculou no curso de engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual abandonaria logo depois em favor da faculdade de Jornalismo. Envolveu-se no movimento estudantil brasileiro após o golpe militar de 1964. Trabalhou no jornal gaúcho Folha da Manhã e publicou seu primeiro livro, Outubro, em 1975.

Mudou-se para São Paulo, onde desenvolveu longa carreira como jornalista, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil.

Publicou Outubro e No Meio da Rua, ambos pela editora LP&M, em 1980, e No Mar, Veremos, pela editora Globo, em 2001, todos de poesia. Em 2004 publicou seu primeiro romance, Universo Baldio, pela W11 Editores.

É bacharel em História pela Universidade de São Paulo

Atualmente reside em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, onde trabalha na revista Empreendedor e publica coluna no Diário Catarinense.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://consciencia.org/neiduclos/

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Arquivado em Biografia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Uruguaiana

Trova LXIV – Uma Trova Triste

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5 de outubro de 2009 · 23:19

Miguel Russovsky (Trovas)

A saudade às vezes fala,
e até grita – quem diria? –
quando a rede, a sós, se embala
numa varanda vazia.

A saudade às vezes fala
e até grita — Quem diria!
quando a rede, a sós, se embala
numa varanda vazia.

Os murmúrios das gaivotas ,
em noites de luz cheia ,
são canções deixando as notas
nas pautas brancas da areia.

Quanto mais o tempo avança,
mais eu fico a perceber
que a saudade é uma lembrança
que se esquece de morrer.

O tempo não traz perigo
à verdadeira amizade.
Quem não é mais teu amigo,
jamais o foi de verdade.

O tempo escreve a seu gosto
no passar do dia a dia,
muitas rugas no meu rosto,
mas… tem má caligrafia.

Na blusa prendes a rosa
à altura do coração.
Como pode ser viçosa
uma flor sobre um vulcão?

Cupido sempre intercala
alguma perda em desejos:
se me beijas… perco a fala;
se me falas… perco os beijos!

Cupido avisa aos poetas
e também aos namorados
que seus estoques de setas
foram todos renovados!

Se te serves de mentiras
para cresceres em ganho,
é bom que logo confiras
que encurtaste no tamanho!

A vila reza, orvalhada,
tendo o sol por capelão…
— Homem no cabo da enxada
é uma espécie de oração!

Na trova, às vezes, invento
emoções e não as sinto.
Mas creia no meu talento,
sou sincero quando minto!

Nesta vida hostil e azeda
e desespero sem par,
rogo a Deus que me conceda
a coragem de sonhar.

Tendo à mão uma caneta
mais o empenho a manejá-la,
vou mesmo a qualquer planeta
sem sair daqui da sala.

O papel é a carruagem
que eu dirijo da boléia.
Tomo as rédeas da viagem
dando açoites numa idéia.

Estrofes são caravelas
que singram os pensamentos.
Com as rimas, faço as velas,
com as sílabas, os ventos.

Pelas ciladas que trama,
a Insônia é mulher-perigo:
marca encontro em minha cama,
mas não quer dormir comigo!

O poema é luz imensa
que se espalha em frenesi.
Por isso o poeta pensa
ter um deus dentro de si.

Pela vida me foi dado
um conselho em que me alerto:
antes rir desafinado
que soluçar no tom certo.

Ser caule, flor ou ser folha
não é sorte nem é sina,
pois de antemão tal escolha
se fez por ordem divina.

A humanidade até gosta
de não saber a verdade,
quando a mentira, bem posta,
lhe trouxer felicidade.

Vai para o mar a jangada
tendo um sonho por escolta.
Volta sem peixes, sem nada,
nem o sonho traz de volta.

Este dístico singelo
a verdade satisfaz:
caneta, arado e martelo
são os arautos da paz.

Há balanços conflitantes
em vidas fúteis e loucas:
os outonos são bastantes
e as primaveras bem poucas.

Quatro versos num estojo,
mas além desta embalagem,
a trova deve, em seu bojo,
comportar uma mensagem.

Vai para o mar a jangada,
tendo um sonho por escolta.
Volta sem peixe, sem nada,
nem o sonho traz de volta.

As trovas no dia a dia
atuam como remédio.
São drageas de poesia
contra a depressão e o tédio.

Na trova é bom que se invista
muito amor, talento e calma,
a trova desperta o artista
que trazemos centro d’alma.

Se lhe ofendem, não se doa,
A maledicência passa,
Como passa uma garoa
Sem arranhar a vidraça.

Mãe, de fato, não tem rima
mas seria alentador
condensar esta obra-prima
numa só rima: o amor.

Quem despreza um bom conselho
dado em prol de seu porvir,
fica igualzinho ao espelho:
reflete sem refletir.

Consultei livro em ciência
de conhecimentos rica;
mas baseado na experiência,
a saudade não se explica.

Estudo trovas a fundo,
mas persisto na suspeita,
que a trova melhor do mundo
até hoje não foi feita!
———-

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Arquivado em Joaçaba, Jose Ouverney, Santa Catarina, Trovas