Arquivo do mês: maio 2012

Francisco José Pessoa/ CE (Bordado)

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31 de maio de 2012 · 13:31

Nemésio Prata Crisóstomo (Pavilhão!)

Trovas sobre as postagens de ontem

Beleza de produção
destes grandes trovadores
que nos enchem de emoção.
Viva, pois, os vencedores!

Também vem no Pavilhão

dois grandes maranguapenses,
a mostrar o alto padrão
dos autores cearenses!

De quebra, vem Patativa,
o grande Poeta, inconteste,
com sua verve intuitiva
cantando o nosso nordeste!

De Maputo, que hoje vive
dias de uma nova vida,
vem Adérito Mazive
com seu Beco sem Saída!

Por fim, para apresentar
novas trovas, bem ecléticas
vem o Poeta Macedo
com as Mensagens Poéticas!

É por isso que eu repito
todo dia, sem cessar:
mesmo não sendo erudito
quero fazer meu trovar!

Nemésio Prata (UBT-Fortaleza)

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Casimiro de Abreu (Carolina) IV – O Mundo!

O esplêndido sol dum dia de junho de 1852 brilhava com toda a sua força.

Lisboa—a ufana—curvada graciosa para o Tejo, que lhe beija as plantas, oferecia alegre as suas torres, seus palácios, suas praças, suas ruas, aos raios ardentes desse astro vivificador.

Entranhemo-nos por essa Lisboa, labirinto como tantos outros que se chamam Paris, Londres, etc. Vereis por toda a parte desonra, infâmia, crime! Vereis a virtude esmagada pelo vício! Vereis a par da mais deslumbrante opulência, a mais horrível miséria! Vereis o pobre ajuntar as migalhas dos festins e das orgias do rico! Vereis desacatada a religião, profanado o templo, insultado o Cristo!

— E vive-se nesse inferno?! perguntareis vós. 

— Vive-se sim, porque esse abismo alcatifado de flores, tem uma atração a que ninguém resiste. Vive-se sim, porque aí pode o malvado esconder a fronte criminosa no meio da multidão, que se agita e ruge como o oceano em um dia de cólera. Vive-se sim, porque a mulher, que o mundo perdeu, pode aí facilmente furtar-se à vista daqueles, que a conheceram no seu tempo de candura e d’inocência. 

— Vinde. 

— Por aqui?!…

— Sim, por aqui; causam-vos nojo estas ruas estreitas, tortuosas e lamacentas? Também a mim. Reparai como estes prédios denegridos exalam um fétido insuportável. Tudo respira orgia, vício! Não vedes essas mulheres, que nos atraem com seus olhares voluptuosos, seus sorrisos d’amor, seus requebros lascivos? São mulheres perdidas. Coitadas! Arrojaram-nas nesse abismo de devassidão, e não há mão, que as salve! Hão-de morrer revolvendo-se nesse lodaçal imundo! Desçamos esta calçada. 

Não vedes além, aquela jovem pálida e linda encostada à sua janela? Tem seus olhos negros fitos no céu; talvez esteja passando pelo pensamento toda a sua vida. Quem sabe? 

Olhai! também tem sobre a fronte o cunho da prostituição. 

Mas reparai bem: não vos parece, assim como a mim, tê-la já visto?… Esperai! Foi…há-de haver quatro anos…numa linda quinta…chamava-se…chamava-se…Carolina…

Carolina!! Aquela virgem que passeava pensativa e bela no seu jardim…inocente como uma pomba?… Oh o mundo!…O mundo!…

E foi um miserável que a perdeu!…

Fernando! Fernando! o que fizeste!…

Onde está teu filho, malvado?!

Meteste-o na roda! Vai, mostro, vai ver se o encontras agora, no meio dessas crianças condenadas a viver, sem jamais receberem uma carícia de sua verdadeira mãe, sem que na hora derradeira se recordem que os beijos maternos lhe roçassem as faces na sua infância. 

E quando um dia, um homem puser sobre teu peito a ponta do seu punhal, exigindo-te a—bolsa ou a vida,— terás a certeza de que esse bandido não seja o teu filho?…

Ah! Fernando! Fernando! a virgem, que louca, se confiou na tua lealdade,— seduziste-a!

A mulher, que com vergonha da sua família, deixou por teus conselhos a casa paterna, — abandonaste-a!

E a desgraçada, numa noite tempestuosa, vertendo prantos de dor e arrependimento, bradou desesperada: “Fernando! Fernando! tu m’ enganaste! Augusto, perdão! Meu Deus, valei-me! que hei-de eu fazer? Oh! a culpa não é minha, levo a consciência tranqüila!” 

E lançou-se no vício!…

E não houve um braço que a sustivesse à borda do precipício!…

E as turbas, que vêm e vão, quando passam, chamam-lhe—prostituta!…

Covardes! não insulteis essa mulher. Foi um homem que a perdeu. 

Lembrai-vos que ela já foi virgem; lembrai-vos que essa rosa, hoje pálida, desbotada, murcha e estendida no solho dum lupanar, já foi um botão mimoso, que entreabria risonho num jardim florido, e que o vendaval da vida derrubou. 

Não a insulteis! resgatai-a do vício; tirai-lhe o labéu infamante, que lhe pesa sobre a fronte e Deus vos recompensará. 

Não a insulteis, que aquele pobre coração há-de sofrer  tormentos horríveis. Quantas vezes não terá ela chorado lágrimas de sangue, lembrando-se das carícias de sua mãe, do amor de seu pai, dos seus dias sossegados e felizes passados no lar doméstico! Quantas vezes não terá pensado no seu Augusto, que tanto a amava e que talvez agora a amaldiçoe!…

E essa infeliz, ralada por sofrimentos horríveis, não terá, na última hora, mão amiga, que lhe venha cerrar as pálpebras?!…

Ah! mundo! mundo! abismo insondável, que tragas tantas vítimas!…

Ah! Sociedade estúpida! que escarneces da desgraça!…

Ah! Justiça! Justiça! palavra irrisória, que nunca punes o criminoso!…

Mas há a de Deus, e essa…é justa!

Continua…

Fonte:
ABREU, Casimiro de.  Carolina.  in SILVEIRA, Sousa da (org.). Obras de Casimiro de Abreu.  2ª ed.   Rio de Janeiro:  Ministério da Educação e Cultura -MEC, 1955. Texto-base digitalizado por: Fernanda Duarte, Rio de Janeiro – RJ

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Arquivado em Conto, O Escritor com a Palavra

Marcelo Alencar (Amplexo)

Ilustração: Marcelo Cipis

Mãe, me dá um amplexo? 

 A pergunta pega Cinira desprevenida. Antes que possa retrucar, ela nota o dicionário na 
 mão do filho, que completa o pedido: 

 – E um ósculo também.

Ainda surpresa, a mulher procura no livro a definição das duas estranhas palavras. E encontra. Mateus quer apenas um abraço e um beijo. 

 Conversa vai, conversa vem, Cinira finalmente se dá conta de que o garoto, recém-apresentado às classes gramaticais nas aulas de Português, brinca com os sinônimos. “O que vai ser de mim quando esse tiquinho de gente cismar com parônimos, homônimos, heterônimos e pseudônimos?”, pensa ela, misturando as estações. “Valha-me, Santo Antônimo!” E emenda: 

 – Pára com essa bobagem, menino! 

 – Ah, mãe, o que é que tem? Você nunca chamou cachorro de cão? E casa de residência? E carro de automóvel? 

 – É verdade, mas… 

 Mas a verdade é que Cinira não tem uma boa resposta. 

 – E meu nome é Mateus – continua o rapaz. – Só que você me chama de Matusquela. 

 – Ei, isso não vale. Matusquela é apelido carinhoso. 

 – Sei, sei. Tudo bem se eu usar nosocômio e cogitabundo em vez de hospital e pensativo? 
 E criptobrânquio no lugar de mutabílio? 

 – Mutabílio? O que é que é isso? 

 – O mesmo que derotremado, ora. Tá aqui no Aurélio. 

 Está mesmo. É um bichinho. Mas pouco importa. A mãe questiona a opção do menino por vocábulos incomuns. Mateus sai-se com esta: 

 – A professora disse que aprender palavras é como ganhar roupas e guardar numa gaveta. Quando a gente precisa delas, tira de lá e usa. Cada uma serve para uma ocasião, por mais esquisita que pareça. Igual à querê-querê roxa que você me deu no último aniversário. Lembra? 

 Como esquecer? Cinira nem se dá ao trabalho de consultar o dicionário. Sabe que a explicação para essa última provocação está no verbete camiseta.

Fonte:

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 565)

Uma Trova de Ademar  

A Lua, sem empecilho, 
linda, meiga e apaixonada, 
põe mais beleza e mais brilho 
nos olhos da madrugada. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Nas horas más, no perigo, 
cresce amizade sincera, 
quem deixa de ser amigo 
é porque amigo não era!
–Carolina Ramos/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A primeira foi banal, 
a segunda, em desalinho; 
nem matriz, nem filial… 
resolvi ficar sozinho! 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

1992 > Amparo/SP 
Tema > TREVAS > M/E 

Nas trevas, sem teu olhar,
só não me entrego à aflição
porque a saudade é um luar
que disfarça a escuridão…
–Marina Bruna/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Essa gota cristalina 
que a folha verde apanhou 
é uma lágrima divina 
que a madrugada chorou!… 
–Célio Grunewald/MG– 

U m a P o e s i a  

Sei da saga do grande Virgulino,
O reinado mais intenso do cangaço,
Sei que o barro depois dum leve traço
Ganha o sopro vital de Vitalino.
Sei que Cícero Romão teve o destino
De ser santo sem a canonização,
Que um ritmo conhecido por baião
Deu a fama a Humberto e “Seu” Luiz.
Eu nasci no Nordeste e sou feliz
Por contar as histórias do sertão.
–Wellington Vicente/PE– 

Soneto do Dia  

UM NOME NO SILÊNCIO. 
–Miguel Russowsky/SC– 

Uma agenda… o silêncio… o cafezinho… 
Tenho tempo de sobra. Escrevo…paro… 
Vou desenhar um nome… ( o dela, é claro!) 
Em que lugar será que fez o ninho? 

Casou-se mal, eu sei, hoje adivinho 
Os males que lhe trouxe o fado amaro… 
Humilde…conformada… sem amparo… 
Há tantas incertezas no caminho!… 

O meu primeiro amor passando fome…(?) 
me custa imaginá-la envelhecida. 
Melhor não pensar nisso, Apago o nome. 

Amei-a. Eu era moço… Os anos correm 
e vão virando as páginas da vida. 
Também as ilusões e os sonhos morrem. 

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Machado de Assis (O Anjo das Donzelas)

Cuidado, caro leitor, vamos entrar na alcova de uma donzela.

A esta notícia o leitor estremece e hesita. É naturalmente um homem de bons costumes, acata as famílias e preza as leis do decoro público e privado. É  também provável que já tenha deparado com alguns escritos, destes que levam aos papéis públicos certas teorias e tendências que melhor fora nunca tivessem saído da cabeça de quem as concebeu e proclamou. Hesita e interroga a consciência se deve ou não continuar a ler as minhas páginas, e talvez resolva não prosseguir. Volta a folha e passa a coisa melhor.

Descanse, leitor, não verá neste episódio fantástico nada do que se não pode ver à luz pública. Eu também acato a família e respeito o decoro. Sou incapaz de cometer uma ação má, que tanto importa delinear uma cena ou aplicar uma teoria contra a qual proteste a moralidade.

Tranqüilize-se, dê-me o seu braço, e atravessemos, pé ante pé, a soleira da alcova da donzela Cecília. Há certos nomes que só assentam em certas criaturas, e que quando ouvimos pronunciá-los como pertencentes a pessoas que não conhecemos, logo atribuímos a estas os dons físicos e morais que julgamos inseparáveis daqueles. Este é um desses nomes. Veja o leitor se a moça que ali se acha no leito, com o corpo meio inclinado, um braço nu escapando-se do alvo lençol e tendo na extremidade uma mão fina e comprida, os cabelos negros, esparsos, fazendo contraste com a brancura da fronha, os olhos meio cerrados lendo as últimas páginas de um livro, veja se aquela criatura pode ter outro nome, e se aquele nome pode estar em outra criatura.

Lê, como disse, um livro, um romance, e apesar da hora adiantada, onze e meia, ela parece estar disposta a não dormir sem saber quem casou e quem morreu.

Ao pé do leito, sobre a palhinha que forra o soalho, estende-se um pequeno tapete, cuja estampa representa duas rolas, de asas abertas, afagando-se com os biquinhos. Sobre esse tapete estão duas chinelinhas, de forma turca, forradas de seda cor-de-rosa, que o leitor jurará serem de um despojo de Cendrilon. São as chinelas de Cecília. Avalia-se já que o pé de Cecília deve ser um pé fantástico, imperceptível, impossível; e examinando bem pode-se até descobrir, entre duas pontas do lençol mal estendido, a ponta de um pé capaz de entusiasmar o meu amigo Ernesto C…, o maior admirador dos pés pequenos, depois de mim… e do leitor.

Cecília lê um romance. É o centésimo que lê depois que saiu do colégio, e não saiu há muito tempo. Tem quinze anos. Quinze anos! é a idade das primeiras palpitações, a idade dos sonhos, a idade das ilusões amorosas, a idade de Julieta; é a flor, é a vida, e a esperança, o céu azul, o campo verde, o lago tranqüilo, a aurora que rompe, a calhandra que canta, Romeu que desce a escada de seda, o último beijo que as brisas da manhã ouvem e levam, como um eco, ao céu.

Que lê ela? Daqui depende o presente e o futuro. Pode ser uma página da lição, pode ser uma gota de veneno. Quem sabe? Não há ali à porta um índex onde se indiquem os livros defesos e os lícitos. Tudo entra, bom ou mau, edificante ou corruptor, Paulo e Virgínia ou Fanny. Que lê ela neste momento? Não sei. Todavia deve ser interessante o enredo, vivas as paixões, porque a fisionomia traduz de minuto a minuto as impressões aflitivas ou alegres que a leitura lhe vai produzindo.

Cecília corre as páginas com verdadeira ânsia, os olhos voam de uma ponta da linha à outra; não lê; devora; faltam só duas folhas, falta uma, falta uma lauda, faltam dez linhas, cinco, uma… acabou.

Chegando ao fim do livro, fechou-o e pô-lo em cima da pequena mesa que está ao pé da cama. Depois, mudando de posição, fitou os olhos no teto e refletiu. Passou em revista na memória todos os sucessos contidos no livro, reproduziu episódio por episódio, cena por cena, lance por lance. Deu forma, vida, alma, aos heróis do romance, viveu com eles, conversou com eles, sentiu com eles. E enquanto ela pensava assim, o gênio que nos fecha as pálpebras à noite hesitou, à porta do quarto, se devia entrar ou esperar. Mas, entre as muitas reflexões que fazia, entre os muitos sentimentos que a dominavam, alguns havia que não eram de agora, que já eram velhos hóspedes no espírito e no coração de Cecília.

Assim que, quando a moça acabou de reproduzir e saciar os olhos da alma na ação e nos episódios que acabara de ler, voltou-lhe o espírito naturalmente para as idéias antigas e o coração palpitou sob a ação dos antigos sentimentos. Que sentimentos, que idéias seriam essas? Eis a singularidade do caso. De há muito tempo que as tragédias do amor a que Cecília assistia nos livros causavam-lhe uma angustiosa impressão. Cecília só conhecia o amor pelos livros. Nunca amara. Do colégio saíra para casa e de casa não saíra para mais parte alguma. O pressentimento natural e as cores sedutoras com que via pintado o amor nos livros diziam-lhe que devia ser uma coisa divina, mas ao mesmo tempo diziam-lhe também os livros que dos mais auspiciosos amores pode-se chegar aos mais lamentáveis desastres. Não sei que terror se apoderou da moça; apoderou-se dela um terror invencível. O amor, que para as outras mulheres apresenta-se com aspecto risonho e sedutor, afigurou-se a Cecília que era um perigo e uma condenação. A cada novela que lia mais lhe cresciam os sustos, e a pobre menina chegou a determinar em seu espírito que nunca exporia o coração a tais catástrofes.

Provinha este sentimento de duas coisas: do espírito supersticioso de Cecília, e da natureza das novelas que lhe davam para ler. Se nessas obras ela visse, ao lado das más conseqüências a que os excessos podem levar, a imagem pura e suave da felicidade que o amor dá, não se teria de certo apreendido daquele modo. Mas não foi assim. Cecília aprendeu nesses livros que o amor era uma paixão invencível e funesta; que não havia para ela nem a força de vontade nem a perseverança do dever. Esta idéia calou no espírito da moça e gerou um sentimento de apreensão e de terror contra o qual ela não podia nada, antes se tornara mais impotente à medida que lia uma nova obra da mesma natureza.

Este estrago moral completava-se com a leitura da última novela. Quando Cecília levantou os olhos para o teto tinha o coração cheio de medo e os olhos traduziam o sentimento do coração. O que sobretudo a atemorizava mais era a incerteza que ela tinha de poder escapar à ação de uma simpatia funesta. Muitas das páginas que lera diziam que o destino intervinha nos movimentos do coração humano, e sem poder discernir o que teria de real ou de poético este juízo, a pobre mocinha tomou ao pé da letra o que lera e confirmou-se nos receios que nutria de muito tempo.

Tal era a situação do espírito e do coração de Cecília quando o relógio de uma igreja que ficava a dois passos da casa bateu meia-noite. O som lúgubre do sino, o silêncio da noite, a solidão em que estava, deram uma cor mais sombria às suas apreensões.

Procurou dormir para fugir às idéias sombrias que se lhe atropelavam no espírito e dar descanso ao peso e ao ardor que sentia no cérebro; mas não pôde; caiu em uma dessas insônias que fazem padecer mais em uma noite do que a febre de um dia inteiro.

De repente sentiu que se abria a porta. Olhou e viu entrar uma figura desconhecida, fantástica. Era mulher? era homem? não se distinguia. Tinha esse aspecto masculino e feminino a um tempo com que os pintores reproduzem as feições dos serafins. Vestia túnica de tecido alvo, coroava a fronte com rosas brancas e despedia dos olhos uma irradiação fantástica e impossível de descrever. Andava sem que a esteira do chão rangesse sob os passos. Cecília fitou os olhos na visão e não pôde mais desviá-los. A visão chegou-se ao leito da donzela.

— Quem és tu? perguntou Cecília sorrindo, com a alma tranqüila e os olhos vivos e alegres diante da figura desconhecida.

— Sou o anjo das donzelas, respondeu a visão com uma voz que nem era voz nem música, mas um som que se aproximava de ambas as coisas, articulando palavras como se executasse uma sinfonia do outro mundo.

— Que me queres?

— Venho em teu auxílio.

— Para quê?

O anjo pôs as mãos no peito de Cecília e respondeu:

— Para salvar-te.

— Ah!

— Sou o anjo das donzelas, continuou a visão, isto é, o anjo que protege as mulheres que atravessam a vida sem amar, sem depor no altar dos amores uma só gota do óleo celeste com que se venera o Deus menino.

— Sim?

— É verdade. Queres que eu te proteja? Que te imprima na fronte o sinal fatídico ante o qual recuarão todas as tentativas, curvar-se-ão todos os respeitos?

— Quero.

— Queres que com um bafejo meu te fique eternamente gravado o emblema da eterna virgindade?

— Quero.

— Queres que eu te garanta em vida as palmas verdes e viçosas que cabem às que podem atravessar o lodo da vida sem salpicar o vestido branco de pureza que receberam do berço?

— Quero.

— Prometes que nunca, nunca, nunca te arrependerás deste pacto, e que, quaisquer que sejam as contingências da vida, abençoarás a tua solidão?

— Quero.

— Pois bem! Estás livre, donzela, estás inteiramente livre das paixões. Podes entrar agora, como Daniel, entre os leões ferozes; nada te fará mal. Vê bem; é a felicidade, é o descanso. Gozarás ainda na mais remota velhice de uma isenção que será a tua paz na terra e a tua paz no céu!

E dizendo isto a fantástica criatura desfolhou algumas rosas sobre o seio de Cecília. Depois tirou do dedo um anel e introduziu no dedo da moça, que não opunha a nenhum destes atos, nem resistência nem admiração, antes sorria com um sorriso de angelical suavidade como se naquele momento entrevisse as glórias perenes que o anjo lhe prometia.

— Este anel, disse o anjo, é o anel de nossa aliança; doravante és minha esposa ante a eternidade. Deste amor não te resultarão nem tormentos nem catástrofes. Conserva este anel a despeito de tudo. No dia em que o perderes, estás perdida. E dizendo estas palavras a visão desapareceu.

A alcova ficou cheia de uma luz mágica e de um perfume que parecia mesmo hálito de anjos.

No dia seguinte Cecília acordou com o anel no dedo e a consciência do que se passara na véspera. Nesse dia levantou-se da cama mais alegre que nunca. Tinha o coração leve e o espírito desassombrado. Tocara enfim o alvo que procurara: a indiferença para os amores, a certeza de não estar exposta às catástrofes do coração… Esta mudança tornou-se cada dia mais pronunciada, e de modo tal que as amigas não deixaram de reparar.

— Que tens tu? dizia uma. És outra inteiramente. Aqui anda namoro!

— Qual namoro!

— Ora, de certo! acrescentava outra.

— Namoro? perguntava Cecília. Isso é bom para as… infelizes. Não para mim. Não amo… 

— Amas!

— Nem amarei.

— Vaidosa!…

— Feliz é que deves dizer. Não amo, é verdade. Mas que felicidade não me resulta disto?… Posso afrontar tudo; estou armada de broquel e cota de armas…

— Sim?

E as amigas desataram a rir, apontando para Cecília e jurando que ela se havia de arrepender de dizer palavras tais.

Mas passavam os dias e nada fazia notar que Cecília tivesse pago o pecado que cometera na opinião das amigas. Cada dia trazia um pretendente novo. O pretendente fazia corte, gastava tudo quanto sabia para cativar a menina, mas afinal desistia da empresa com a convicção de que nada podia fazer.

— Mas não se lhe conhece preferido? perguntavam uns aos outros.

— Nenhum.

— Que milagre é este?

— Qual milagre! Não lhe chegou a vez… Ainda não enflorou aquele coração. Quando chegar a época da florescência há de fazer o que as mais fazem, e escolher entre tantos pretendentes um marido.

E com isto se consolavam os taboqueados.

O que é certo é que corriam os dias, os meses, os anos, sem que nada mudasse a situação de Cecília. Era a mesma mulher fria e indiferente. Quando completou vinte anos tinha adquirido fama; era corrente em todas as famílias, em todos os salões, que Cecília nascera sem coração, e a favor desta fama faziam-se apostas, levantavam-se coragens; a moça tornou-se a Cartago das salas. Os romanos de bigode retorcido e cabelo frisado juravam sucessivamente vencer a indiferença púnica. Trabalho vão! Do agasalho cordial ao amor ninguém chegava nunca, nem por suspeita. Cecília era tão indiferente que nem dava lugar à ilusão.

Entre os pretendentes um apareceu que começou por cativar os pais de Cecília. Era um doutor formado em matemáticas, metódico como um compêndio, positivo como um axioma, frio como um cálculo. Os pais viram logo no novo pretendente o modelo, o padrão, a fênix dos maridos. E começaram por fazer em presença da filha os elogios do rapaz. Cecília acompanhou-os nesses elogios, e deu alguma esperança aos pais. O próprio pretendente soube do conceito em que o tinha a moça e criou esperanças.

E, conforme a educação do espírito, tratou de regularizar a corte que fazia a Cecília, como se se tratasse de descobrir uma verdade matemática. Mas, se a expressão dos outros pretendentes não impressionou a moça, muito menos a impressionava a frieza metódica daquele. Dentro de pouco tempo a moça negou-lhe até aquilo que concedia aos outros: a benevolência e a cordialidade.

O pretendente desistiu da causa e voltou aos cálculos e aos livros.

Como este, todos os outros pretendentes iam passando, como soldados em revista, sem que o coração inflexível da moça pendesse para nenhum deles.

Então, quando todos viram que os esforços eram baldados, começou-se a suspeitar que o coração da moça estivesse empenhado a um primo que exatamente na noite da visão de Cecília embarcara para seguir até Santos e daí tomar caminho para a província de Goiás. Esta suspeita desvaneceu-se com os anos; nem o primo voltou, nem a moça mostrou-se sentida com a ausência dele.

Esta conjectura com que os pretendentes queriam salvar a honra própria perdeu o valor, e os iludidos tiveram de contentar-se com este dilema: ou não tinham sabido lutar, ou a moça era uma natureza de gelo.

Todos aceitaram a segunda hipótese.

Mas que se passava nessa natureza de gelo? Cecília via a felicidade das amigas, era confidente de todas, aconselhava-as ao sentido de uma prudente reserva, mas nem procurava nem aceitava os ciúmes que lhe andavam à mão. Todavia mais de uma vez, à noite, no fundo da alcova, a moça sentia-se só. O coração solitário parece que se não acostumara de todo ao isolamento a que o votara a dona.

A imaginação, para fugir às pinturas indiscretas de um sentimento a que a moça fugia, corria às soltas no campo das criações fantásticas e desenhava com vivas cores essa felicidade que a visão lhe prometera. Cecília comparava o que perdera e o que ia ganhar, e dava a palma do gozo futuro em compensação do presente. Mas nesses rasgos de imaginação o coração palpitava-lhe com força, e mais de uma vez a moça dava acordo de si procurando com uma das mãos arrancar o anel da aliança com a visão.

Nesses momentos recuava, entrava em si e chamava no interior a visão daquela noite dos quinze anos. Mas o desejo era baldado; a visão não aparecia, e Cecília ia procurar no leito solitário a calma que não podia encontrar nas vigílias laboriosas.

Muitas vezes a aurora veio encontrá-la à janela, enlevada nas suas imaginações, sentindo um vago desejo de conversar com a natureza, embriagar-se no silêncio da noite.

Em alguns passeios que fez aos subúrbios da cidade deixava-se impressionar por tudo o que a vista lhe oferecia de novo, água ou montanha, areia ou ervaçal, parecendo que a vista se lhe comprazia nisso e esquecendo-se muitas vezes de si e dos outros.

Ela sentia um vácuo moral, uma solidão interior, e procurava na atividade e na variedade da natureza alguns elementos de vida para si. Mas a que atribuía ela essa ânsia de viver, esse desejo de ir buscar fora aquilo que lhe faltava? Ao princípio não reparou no que fazia; fazia involuntariamente, sem determinação nem conhecimento da situação.

Mas, como se prolongasse a situação, ela foi pouco a pouco descobrindo o estado do coração e do espírito. Tremeu ao princípio, mas em breve se tranquilizou; a idéia da aliança com a visão pesava-lhe no espírito, e as promessas feitas por ela de uma bem-aventurança sem igual desenhavam na fantasia de Cecília um quadro vivo e esplêndido. Isto consolava a moça, e, sempre escrava dos juramentos, ela fazia honra sua em ficar pura do coração para subir à  morada das donzelas libertadas do amor.

Demais, ainda que o quisesse, parecia-lhe impossível sacudir a cadeia a que involuntariamente se prendera.

E os anos corriam.

Aos vinte e cinco inspirou uma paixão violenta a um jovem poeta. Foi uma dessas paixões como só os poetas sabem sentir. Este do meu conto depôs aos pés da bela insensível a vida, o futuro, a vontade. Regou com lágrimas os pés de Cecília e pediu-lhe como uma esmola uma centelha que fosse do amor que parecia ter recebido do céu. Tudo foi inútil, tudo foi vão. Cecília nada lhe deu, nem amor nem benevolência. Amor não tinha; benevolência podia ter, mas o poeta perdera o direito a ela desde que declarou a extensão do seu sacrifício. Isto deu a Cecília a consciência da sua superioridade, e com essa consciência certa dose de vaidade que lhe vendava os olhos e o coração.

Se lhe aparecera o anjo para tirar-lhe do coração o germe do amor, não lhe apareceu nenhum que lhe tirasse o pouco de vaidade.

O poeta deixou Cecília e foi para casa. Daí seguiu para uma praia, subiu a uma pequena eminência e atirou-se ao mar. Dai a três dias encontrou-se-lhe o cadáver, e os jornais deram do fato uma notícia lacrimosa. Entretanto encontrou-se entre os papéis do poeta a seguinte carta:

A Cecília D…

Morro por ti. É ainda uma felicidade que eu procuro em falta da outra que eu procurei, implorei e não alcancei.
Não me quiseste amar; não sei se o teu coração estaria cativo, mas dizem que não. Dizem que és insensível e indiferente.
Não quis crê-lo e fui por mim próprio averiguá-lo. Coitado de mim! o que vi bastou para dar-me a certeza de que não estava reservado para mim semelhante fortuna.
Não te pergunto que curiosidade te levou a voltares a cabeça e transformares-te, como a mulher de Ló, em estátua insensível e fria. Se alguma coisa há nisto que eu não compreendo, não quero sabê-lo agora que deixo o fardo da vida, e vou, por caminho escuro, procurar o termo feliz da minha viagem.
Deus te abençoe e te faça feliz. Não te desejo mal. Se te fujo e se fugi ao mundo é por fraqueza, não é por ódio; ver-te, sem ser amado, é morrer todos os dias. Morro uma só vez e rapidamente.
Adeus…

Esta carta causou a Cecília muita impressão. Chorou até. Mas era piedade e não amor. A maior consolação que ela mesma deu a si foi o pacto secreto e misterioso. É culpa minha? perguntava ela. E respondendo negativamente a si mesma achava nisso a legitimidade da sua indiferença.

Todavia, esta ocorrência trouxe-lhe ao espírito uma reflexão.

O anjo prometera-lhe, em troca da isenção para o amor, uma tranqüilidade durante a vida que só poderia ser excedida pela paz eterna da bem-aventurança.

Ora, que encontrava ela? O vácuo moral, as impressões desagradáveis, uma sombra de remorso, eis os lucros que tivera.

Os que foram fracos como o poeta recorreram aos meios extremos ou deixaram-se dominar pela dor. Os menos fracos ou menos sinceros no amor alimentaram contra Cecília um despeito que deu em resultado levantar-se uma opinião ofensiva à moça.

Mais de um procurava na sombra o motivo da indiferença de Cecília. Era a segunda vez que se atiravam a essas investigações. Mas o resultado delas era sempre nulo, visto que a realidade era que Cecília não amava ninguém.

E os anos corriam…

Cecília chegou aos trinta e três anos. Já não era a idade de Julieta, mas era uma idade ainda poética; poética neste sentido — que a mulher, em chegando a ela, tendo já perdido as ilusões dos primeiros tempos, adquire outras mais sólidas, fundadas na observação.

Para a mulher dessa idade o amor já não é uma aspiração do desconhecido, uma tendência mal exprimida; é uma paixão vigorosa, um sentimento mais eloqüente; ela já não procura a esmo um coração que responda ao seu; escolhe entre os que encontra um que possa compreendê-la, capaz de amar como ela, próprio para fazer essa doce viagem às regiões divinas do amor verdadeiro, exclusivo, sincero, absoluto.

Nessa idade era ainda bela. E pretendida. Mas a beleza continuou a ser um tesouro que a indiferença avarenta guardava para os vermes da terra.

Um dia, longe dos primeiros, muito longe, a primeira ruga desenhou-se no rosto de Cecília e alvejou um primeiro cabelo. Mais tarde, segunda ruga, segundo cabelo, e outras e outros, até que a velhice de Cecília declarou-se completa.

Mas há velhice e velhice. Há velhice feia e velhice bonita. Cecília era da segunda espécie, porque através dos sinais evidentes que o tempo deixara nela, sentia-se que fora uma criatura formosa, e, embora de outra natureza, Cecília inspirava ainda a ternura, o entusiasmo, o respeito.

Os fios de prata que lhe serviam de cabelos emolduravam-lhe o rosto rugado, mas ainda suave. A mão, que tão linda era outrora, não tinha a magreza repugnante, mas era ainda bela e digna de uma princesa… velha.

Mas o coração? Esse atravessara do mesmo modo os tempos e os sucessos sem nada deixar de si. A isenção foi sempre completa. Lutava embora contra não sei que repugnância do vácuo, não sei que horror da solidão, mas nessa luta a vontade ou a fatalidade vencia sempre, triunfava de tudo, e Cecília pôde chegar à adiantada idade em que a achamos sem nada perder.

O anel, o fatídico anel, foi o talismã que nunca a abandonou. A favor desse talismã, que era a assinatura do contrato celebrado com o anjo das donzelas, ela pôde ver de perto o sol sem se queimar.

Tinham-lhe morrido os pais. Cecília vivia em casa de uma irmã viúva. Vivia dos bens que recebera em herança.

Que fazia agora? Os pretendentes desertaram, os outros envelheceram também, mas iam ainda por lá alguns deles. Não para requestá-la de certo, mas para passar as horas ou em conversa grave e pausada sobre coisas sérias, ou à mesa de algum jogo inocente e próprio de velhos.

Não poucas vezes era assunto de conversação geral a habilidade com que Cecília conseguira atravessar os anos da primeira e da segunda mocidade sem empenhar o coração em nenhum laço de amor. Cecília respondia a todos que tivera um segredo poderoso do qual não podia fazer comunicação alguma.

E nestas ocasiões olhava amorosamente para o anel que trazia no dedo ornado de uma bela e grande esmeralda.

Mas ninguém reparava nisto.

Cecília gastava horas e horas da noite em evocar a visão dos quinze anos.

Quisera achar conforto e confirmação às suas crenças, quisera ver e ouvir ainda a figura mágica e a voz celeste do anjo das donzelas.

Parecia-lhe, sobretudo, que o longo sacrifício que consumara merecia, antes da realização, uma repetição das promessas anteriores.

Entre os que frequentavam a casa de Cecília alguns velhos havia dos que, na mocidade, tinham feito roda a Cecília e tomado mais ou menos seriamente as expressões de cordialidade da moça.

Assim que, agora que se encontravam nas últimas estações da vida, mais de uma vez a conversa tinha por objeto a isenção de Cecília e as infelicidades dos adoradores.

Cada um referia os seus episódios mais curiosos, as dores que sentira, as decepções que sofrera, as esperanças que Cecília esfolhara com impassibilidade cruel.

Cecília ria ouvindo essas confissões, e acompanhava os seus adoradores de outrora no terreno das facécias que as revelações mais ou menos inspiravam.

— Ah! dizia um, eu é que sofri como poucos.

— Sim? perguntava Cecília.

— É verdade.

— Conte lá.

— Olhe, lembra-se daquela partida em casa do Avelar?

— Foi há tanto tempo!

— Pois eu me lembro perfeitamente.

— Que houve?

— Houve isto.

Todos se prepararam para ouvir a narração prometida.

— Houve isto, continuou o ex-adorador. Estávamos no baile. Eu, nesse tempo, era um verdadeiro pintalegrete. Envergava a melhor casaca, esticava a melhor calça, derramava os melhores cheiros. Mais de uma dama suspirava em segredo por mim, e às vezes nem mesmo em segredo…

— Ah!

— É verdade. Mas qual é a lei geral da humanidade? É não aceitar aquilo que se lhe dá, para ir buscar aquilo que não poderá obter. Foi o que fiz.

Le bonheur, c’est la boule
Que cet enfant poursuit tout le temps qu’elle roule.
Et que, dès qu’ele arrête, il repousse du pied.*

— Bravo!

— Vamos à história!

— Estávamos no baile. Já duas senhoras tinham-se retirado para o camarim a fim de evitar algum desmaio. Por quê? Que fazia eu? Eu derramava aos pés de D. Cecília uma torrente de madrigais, dizia-lhe do melhor modo possível que a beleza dela tinha-me inspirado um amor profundo e decisivo. Ela não prestava aos meus discursos senão uma atenção indiferente. Isto desesperava. Insistia, repetia, pedia-lhe quase o coração. Ela nada. Enfim ofereci-lhe o braço. Percorremos algumas salas. D. Cecília estava divina de graça, de beleza, e etc… de indiferença. Se fosse a indiferença somente bem estava, mas houve mais…

— Houve mais?

— Houve. Houve desengano. Eu disse-lhe que a amava perdidamente; ela respondeu-me positivamente que não me podia amar. Quase caí. Não lhe disse mais nada e voltamos para a sala.

— Não me lembro disso, observou Cecília.

— Lembro-me eu que fui a vítima. O algoz…

— À ordem! à ordem! reclamaram os ouvintes.

O narrador continuou:

— Deixei D. Cecília na sala e saí. Fui para o jardim. Desesperado, cuidei que o ar e a solidão me aplacassem o ânimo. Vi através da rama de uns arbustos um ponto de luz. Era um charuto ao que me parecia, e com o charuto um homem. A noite estava escuríssima. Caminhei para o lugar em que me parecia estar o homem e o charuto. Pedi fogo e vi que o charuto me entrava nas mãos. Acendi um charuto e agradeci. A minha voz foi conhecida pelo meu interlocutor e eu próprio reconheci na voz que me falava um rapaz que eu conhecera aos salões.

— Abrevie a história!

— Apoiado!

— É simples. Contei ao meu interlocutor os motivos da minha presença, e estava calmo, esperando algumas palavras de consolação, quando me senti agarrado. Procurei defender-me e lutamos durante alguns minutos, ao som de uma polca que se executava no interior da casa. Todos compreendem o caso. O meu adversário era pretendente ao coração de D. Cecília; estava, como eu, desconsolado. Lutamos, como disse. Nunca mais nos falamos.

— Nunca mais?

— Nunca mais.

— Não me lembro de nada, nem me constou nada neste sentido, disse Cecília.

— Eu nunca disse nada a ninguém.

Fora escrever dois volumes repetir os episódios trágicos, ou cômicos, ou patéticos, que os ex-adoradores de Cecília traziam para a conversação. Em uma dessas práticas íntimas, singelas, trouxe um criado uma carta para Cecília. Era de Tibúrcio.

Quem era Tibúrcio? Era o primo de Cecília que partira da corte na noite em que Cecília fizera o contrato misterioso para independência do coração.

Tibúrcio partira moço e voltou velho. Nunca dera sinal de si. Não se sabia onde andava nem que fazia.

Tibúrcio escrevia de S. Paulo. Dizia que dentro de oito dias estaria na corte. E daí a oito dias chegou.

A carta dizia:

Minha prima. — Dentro de oito dias lá estarei. Vai aparecer-lhe um velho. Há que tempo de lá saí!
Andei seca e meca. Ganhei, perdi, tornei a ganhar, e a experiência me serviu, porque o que ganhei conservo agora e não tenho idéia, nem ânimo de perdê-lo outra vez. Que é feito de nossa família? Eu de nada sei. Não procurei ninguém, não escrevi; acho que fizeram bem em me não escreverem. Com ingrato, ingrato e meio. Mas eu hei de provar que não fui ingrato.
Adeus. Esta lhe há de ser entregue por C…, meu amigo, que parte para essa corte. 
Adeus. — Tibúrcio.

Tibúrcio acompanhou a carta com intervalo de alguns dias. Era um velho bonito, folgazão, opulento de carnes e de dinheiro.

Nem Tibúrcio reconhecia Cecília, nem Cecília reconheceu Tibúrcio. Tão mudados estavam!

Vieram as longas narrativas do que se houvera passado durante o longo espaço de tempo que se não viram.

É necessário dizer que Tibúrcio, quando partira da corte, amava Cecília, sem que para amá-la se fundasse em nenhum sentimento recíproco.

Cecília foi ao princípio indiferente… por indiferença. Mais tarde é que veio o pacto angélico.

Tibúrcio ouviu, com grande admiração, da boca de Cecília a notícia de que ela nunca se houvera casado.

E de sua parte declarou que também se conservara solteiro, adiantando logo a razão disso, que era não poder levar família para as trabalhosas empresas a que se entregava.

Mas a respeito de Cecília admirou-se muito. Não a deixara formosa e requestada? Não via ainda que essa beleza tarde desapareceu?

— Não quis, respondia Cecília.

— Mas por quê?…

— Não sei… não quis.

E, como sempre, Cecília olhava amorosamente para o anel. Os olhos de Tibúrcio acompanharam os de Cecília e pousaram na esmeralda que ela trazia no dedo.

— Ah! disse ele.

E a conversa passou a outros assuntos.

Insistiram todos em que Tibúrcio referisse as suas viagens, as suas aventuras, os seus perigos, as suas fortunas.

— Fora preciso um ano, disse Tibúrcio.

Com efeito, Tibúrcio tinha vivido uma vida acidentada. Lutas, perigos, sustos, fortunas, alternativas de todo o gênero, tudo matizava o fundo do quadro da existência de Tibúrcio.

Tibúrcio adquirira parte de sua fortuna em algumas explorações de minas de ouro e de brilhantes.

Durante os dias que se seguiram ao da chegada dele em casa de Cecília, a família, os restos da família, e os convivas habituais, divertiram-se muito ouvindo as narrações de Tibúrcio sobre os acidentes das explorações mineiras.

Quando se esgotou esse capítulo, Tibúrcio referiu que uma vez fora agarrado pelos bugres perto do rio Araguaia. Quando caiu nas mãos daqueles bárbaros perdeu até a última gota de sangue. Viu a morte diante dos olhos. Já os bugres se preparavam para almoçar aquele bife, quando uma partida de soldados que andava à caça de um criminoso descobriu o fato e chegou a tempo de salvar Tibúrcio dos estômagos indígenas.

Outros perigos correra o primo de Cecília, como o de naufragar em torrentes de rios, encontrar-se com onças, e outros deste gênero.

O auditório habitual de Tibúrcio divertia-se muito com estas narrações, e ele por sua parte sabia referir os tais episódios dando-lhes as cores próprias de comover e interessar.

Tibúrcio resolvera ir morar com as duas parentas, e ali se instalou imediatamente.

Todas as noites havia uma reunião de amigos para tomar chá, conversar e jogar. Uma noite de chuva, em mês de junho, debalde se esperaram os convivas. A chuva e o frio não consentiram que os respeitáveis anciões deixassem os conchegos do lar, nem mesmo com a sedução das boas horas que se passava em casa de Cecília.

Foram, pois, os três parentes obrigados a se privarem naquela noite da companhia dos amigos.

Tomaram chá cedo e estavam fazendo horas à mesa até que viesse a hora habitual de se recolherem.

Travou-se a seguinte conversação:

— Ora, prima, disse Tibúrcio, ainda não lhe contei os tormentos que sofri relativamente ao coração…

— Ah!

— É verdade. Lembrei-me muito de você.

— Deveras?

— É verdade. Não se lembra que eu mais de uma vez lhe confessei o amor que alimentava?

— Lembro-me, sim.

— Pois saí da corte com as mais dolorosas impressões. Via que ia para longe e perdia de vista a mulher que eu ainda nem conhecia de coração. Padeci muito.

— Falar nisso agora não sei que me parece.

— Parece o que é, a verdade. Quis matar-me…

— Que tolice!

— Foi o que eu pensei…

— Morria e eu ficava.

— Mas o que me agrada é ver que se eu não esqueci, também você não esqueceu.

— Não, de certo.

— Mas, de certo modo?

— Que modo?

— Gentes! disse a prima viúva. Vocês parecem namorados!

— Mas de que modo? como apaixonada?

— Sim.

— Que loucura!

— Pelo menos tenho uma prova.

— Vamos ver a prova, disse a viúva.

— A prova não está comigo.

— Está comigo? perguntou Cecília.

— É verdade.

— Onde?

— Aí, no dedo.

Cecília olhou para o anel.

— No dedo! disse ela sem compreender a que podia o primo aludir.

— Esse anel, disse o primo.

— Este anel? Que tem este anel?

— Ora, afinal, disse a prima viúva, vamos saber o que significa este misterioso anel.

Cecília estava espantada sem compreender.

Tibúrcio continuou:

— Este anel, sim. É meu. Ou por outra, é seu hoje, mas foi meu, porque o encomendei.

— Mas explique-se.

— Nas vésperas de partir da corte quis deixar-lhe uma prova de que o meu amor era verdadeiro e seria eterno. Encomendei este anel, que o ourives prontificou com o maior cuidado e zelo. Tinha dois meios de dar-lho: ou introduzir-lho no dedo, francamente, com a declaração de que era uma lembrança minha que deixara, ou depositá-lo no seu toucador para que, quando eu já estivesse fora, aquela lembrança a surpreendesse.

— É romanesco, disse a viúva.

Cecília nada disse. Tinha os olhos pregados em Tibúrcio e procurava arrancar-lhe as palavras da boca.

Tibúrcio prosseguiu:

— Preferi o segundo meio por me parecer, como diz a prima, romanesco. Mas, ao executá-lo, ocorreu-me um terceiro meio. Era o de colocar o anel no seu dedo na hora em que dormisse, de modo que a surpresa fosse ainda maior.

— Ah! e…

Esta exclamação e esta conjunção partiram da prima viúva. Cecília tão absorta estava que nada podia dizer.

— Descansem, disse Tibúrcio, eu fiz as coisas honestamente. Peitei a mucama para que alta noite, na ocasião em que a prima dormisse depois da costumada leitura… Ah! você lia muito romance!

— Adiante!

— Para que alta noite se aproveitasse do sono em que você estivesse e lhe pusesse o anel. Assim foi. Vejo agora que conservou o anel. Mas, diga-me, a Teresa nunca lhe disse nada disto?

— Não, disse Cecília distraidamente.

— Pois foi assim. E se quer mais uma prova tire o anel… Nunca o tirou?

— Nunca.

— Pois tire o anel e veja se não estão gravadas pela parte interior as iniciais do meu nome.

Cecília hesitou entre a curiosidade de averiguar a asseveração de Tibúrcio e um resto de crença que tinha nas palavras da visão.

— Tire o anel.

— Mas…

— Tire! Que receio é esse?

— Esperem, não tiro por uma razão. Eu não creio no que diz o primo Tibúrcio.

— Por quê?

— Não creio, mas creio em outra coisa.

— Essa agora!

— É verdade.

E Cecília passou a referir aos dois parentes todas as circunstâncias da visão, o diálogo que tivera com ela, a fé em que lhe ficaram as promessas do anjo das donzelas.

— Tal foi, acrescentou Cecília, a razão por que me não casei. Tinha fé nisto. Quanto a tirar o anel, disse-me a visão que nunca o fizesse.

Tibúrcio deu uma gargalhada.

— Ora, prima, disse ele, pois você quer contestar uma verdade com uma superstição? Ainda acredita em sonhos!

— Como, sonhos?

— É evidente. Isso da visão não passou de um sonho. Coincidiu o sonho com o fato do anel. Mas você quando acordou no dia seguinte achou-se com um anel no dedo, não devia fazer outra coisa mais do que averiguar a razão do fenômeno, e não dar crédito a uma coisa toda de imaginação.

Cecília abanou a cabeça.

— Pois não crê? Tire o anel.

Cecília hesitava. Mas Tibúrcio usou da arma do ridículo, no que foi acompanhado pela prima viúva de modo que Cecília, com alguma relutância, pálida e trêmula, arrancou o anel do dedo.

O anel tinha na parte interna gravadas estas iniciais: T. B.

Texto-fonte:
Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 1864.

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Arquivado em Conto, O Escritor com a Palavra

Flávio Carneiro (Aprendizagem)

Ilustração: Eva Uviedo


– Mãe, cabelo demora quanto tempo pra crescer? 

 – Hã?  – Se eu cortar meu cabelo hoje, quando é que ele vai crescer de novo? 

 – Cabelo está sempre crescendo, Beatriz. É que nem unha. 

 A comparação deixa a menina meio confusa. Ela não está preocupada com unhas. 

 – Todo dia, mãe? 

 – É, só que a gente não repara. 

 – Por quê? 

 – Porque as pessoas têm mais o que fazer, não acha? 

 A menina não sabe se essa é uma pergunta do tipo que precisa ser respondida ou é daquelas que a gente ouve e pronto. Prefere não responder. 

 – Você é muito ocupada, não é, mãe? 

 – Hã? 

 – Nada, não. 

 A mãe termina de passar a roupa e vai guardando tudo no armário. 

 Enquanto isso, Beatriz corre até o quartinho de costura, pega a fita métrica e mede novamente o cabelo da boneca. Ela tinha cortado aquele cabelo com todo o cuidado do mundo, pra ficar parecido com o da mãe, mas a verdade é que ficou meio torto. 

 “Nada, não cresceu nada”, ela conclui, guardando a fita. E já tem uma semana! 

 Depois volta para onde está a mãe, que agora lustra os móveis. 

 – Mãe, existe alguma doença que faz o cabelo da gente não crescer? 

 – Mas de novo essa conversa de cabelo! Não tem outra coisa pra pensar não, criatura? 

 Sobre essa pergunta não há dúvida: é do tipo que você não deve responder. 

 A mãe continua trabalhando. Precisa se apressar. Dali a pouco a patroa chega da rua e o almoço nem está pronto ainda. 

 – Mãe! 

 – O que foi? 

 – É que eu estava aqui pensando. 

 – Pensando o quê? 

 Beatriz não responde. Espera um pouco, tentando achar as palavras certas. 

 – Vai, fala logo. 

 – Quando a gente faz uma coisa, sabe, e não dá mais para voltar atrás, entendeu? 

 – Não, não entendi. 

 Ela abaixa a cabeça, dá um tempinho e resolve arriscar: 

 – Então, se você não entendeu, posso continuar perguntando sobre cabelo? 

 – Ai, meu Deus! 

 Beatriz deixa a mãe trabalhando e vai procurar de novo sua boneca. 

 Pega a boneca no colo e diz no ouvido dela: 

 – Não liga, não. Cabelo de boneca é assim mesmo, cresce devagar, viu? 

 E com um carinho: 

 – Foi minha mãe que me ensinou.

Fonte:

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Arquivado em A Escritora com a Palavra, Contos Infantis

VIII Concurso de Trovas da UBT Maranguape/CE – 2012 (Resultado Final) 2a.Parte

ABERTO
INTERNACIONAL/BRASIL (Exceto do Ceará)

TEMA: CONTADOR (A, AS, ES)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

1º. Lugar:

Contador e cantador,
num só tempo eu conto e canto:
conto as rendas do labor;
de outras “rendas” canto o encanto!
Antonio Augusto de Assis
Maringá-PR

2º. Lugar:

Se não me falha a memória,
“Contador” é, com certeza,
Quem escreve e conta a História
Das Finanças de uma Empresa!
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

3º. Lugar:

O contador competente
Mantém as contas em dia,
É correto e coerente,
Mostra ter sabedoria.
Simão Elane Marques Rangel
Rio de Janeiro/RJ

4º. Lugar:

Parabéns ao CONTADOR!
Ele faz jus ao seu dia :
competente em seu labor,
dá-nos sossego e alegria.
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ

5º. Lugar:

Dupla missão me completa,
ambas de excelso teor:
não bastara ser poeta,
SOU POETA… E CONTADOR!
José Ouverney
Pindamonhagaba/SP

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:

Ah! Quem sabe o contador,
Por trás dessas contas frias,
Também não vibra de amor,
Compondo ou lendo poesias!
Ederson Cardoso de Lima
Niterói/RJ

7º. Lugar:

Romântico e sonhador,
com muitas desilusões,
hoje sou um contador
de partidos corações.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

8º. Lugar:

Bela e nobre profissão
Orgulho da economia,
O contador na nação,
Alavanca noite e dia!…
Carlos Alberto de Carvalho
São Gonçalo/RJ

9º. Lugar:

Vai, Contador… seca o pranto
por conta de teus amores.
Sou Contador e garanto:
– Também conto as minhas dores!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ

10º. Lugar:

Curar doença é proeza
De remédios e doutores,
Mas a saúde da empresa
Depende dos contadores!
Renata Paccola
São Paulo/SP

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):

11º. Lugar:

Nobre e sábia profissão,
indispensável na empresa:
contador é exatidão;
dois é dois, não tem moleza!…
Flávio Roberto Stefani
Porto Alegre/RS

12º. Lugar:

Em minha faixa de idade,
Contador nenhum calcula
O volume de saudade
Que o pensamento acumula.
Luzarte de Medeiros Brito
Parnamirim/RN

13º. Lugar:

O contador tem desgosto
Por não saber onde vai,
A dinheirama de imposto
Que do seu salário sai.
Afonso José dos Santos
Mogi Guaçu/SP

14º. Lugar:

Veja nosso contador:
eficaz e pontual,
um grande conhecedor
da tal escrita fiscal!
Glória Tabet Marson
São José dos Campos/SP

15º. Lugar:

Numa empresa não há ócio
com um bom empreendedor,
mas o lucro do negócio
quem o mostra é o contador.
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú/SC

DESTAQUES (16º ao 20º lugares):

16º. Lugar:

O tempo, grande senhor,
das noites e das auroras,
é o eterno contador
de todos os dias e horas.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

17º. Lugar:

E não tem nada de louco,
De ciúmes ou de medo…
Contador conversa pouco
Pra não revelar segredo…
Dari Pereira
Maringá/PR

18º. Lugar:

As contas que compartilhas,
Contador, justas e boas,
são a expressão, em planilhas,
da justeza das pessoas.
Sérgio Ferreira da Silva
Santo André/SP

19º. Lugar:

O papel do contador,
É importante na empresa,
com seu saber e valor
ajuda a criar riqueza…
António Boavida Pinheiro
Lisboa/Portugal

20º. Lugar:

No balanço desta vida
o melhor contador, Deus,
ao banquete nos convida,
de paz, nos caminhos Seus..
Maria Cristina Fervier
Santa Fe/Argentina

Trovadores do Estado do Ceará 

VENCEDORES (1º ao 5º lugares):

1º. Lugar:

Para contar toda história
das receitas e despesas,
é figura obrigatória
o Contador, nas empresas!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

2º. Lugar:

No meu tempo um Contador
Sabia até tabuada,
Hoje no computador
Não precisa aprender nada.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/CE

3º. Lugar:

No balancete celeste
fez o Contador Jesus
um lançamento inconteste:
Pecados na Conta Cruz!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

4º. Lugar:

Superávit, concordata
São termos do contador
Ativo, passivo e data
Patrimônio, borderôtt
Luiz Carlos de Abreu Brandão
UBT-Maranguape/CE

5º. Lugar:
Estimado contador
Vincule-se a UBT
Seja um novo trovador
Esperamos por você.
João Osvaldo Soares (Vaval)
UBT-Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:

E no balanço da vida
Eu sou como o contador
Não deixo vácuo na lida
Pois nisso sou professor.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
UBT-Maranguape/CE

7º. Lugar:

Preste atenção no que digo:
“Valorize o contador”.
Faça dele seu amigo,
Seu caixa será credor!.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

8º. Lugar:

Contador que conta bem
Que se esmera no contar
Conta um, dois, três, dez e cem
Sem ter medo de errar.
Raimundo Rodrigues de Araújo
UBT-Maranguape/CE

9º. Lugar:

Canta… canta… contador
Dê-me logo o resultado
Se o balanço é animador…
Qual é o lucro esperado?
Lúcia Mapurunga
UBT-Maranguape/CE

10º. Lugar:

Um contador graduado
Na escola da sedução
Deixou meu sonho arruinado,
Machucou-me o coração.
Ana Maria Nascimento
Aracoiaba/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):

11º. Lugar:

Na saúde familiar
É mister um contador
Para as finanças somar
Dividindo com o amor.
Antônio Andrade
UBT-Maranguape/CE

12º. Lugar:

Hoje a mídia mundial
Já não transmite surpresa
O contador é vital
Para o êxito da empresa.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
UBT-Maranguape/CE

13º. Lugar:

O contador é ativo
Quando registra, controla
Também demonstra o passivo
Não deixa cair a bola.
Luiz Carlos de Abreu Brandão
UBT-Maranguape/CE

14º. Lugar:

Fui estudar pra Doutor,
Mas desviei-me depois;
Findei sendo Contador
Dessa história de nós dois.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/CE

15º. Lugar:

Conta, conta contador
Quanto vale o teu contar,
Pois na escrita o teu valor
É difícil comparar.
Raimundo Rodrigues de Araújo
UBT-Maranguape/CE

 DESTAQUES (16º ao 20º. lugar)

16º. Lugar:

Contadora, uma mulher
Registra e com bem fervor,
Os créditos que ela quer
No balancete do amor!
Francinete Azevedo
Fortaleza/CE

17º. Lugar:

Por entre perdas e um dano,
contadores aparecem.
Mas, ao chegar o fim do ano.
seus pró-labores mais crescem.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

18º. Lugar:

Na Receita Federal
Não devo mais um vitem
Que contadora legal!
Quitou a Sefaz também.
Olga Rosália Silva Pedrosa
UBT-Maranguape/CE

19º. Lugar:

Ah!, se meu dinheiro desse:
dizia meu contador.
Levaria em canto e prece
jóias raras ao meu amor.
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

20º. Lugar:

A vida do contador
É lidar com documento
Trabalhando com amor
É aquele contentamento.
João Alberto Fernandes Augusto
Pentecoste/CE
==============================
ÂMBITO – ABERTO
INTERNACIONAL/BRASIL (Exceto do Ceará)

TEMA: “Patrimônio” (Trova lírica;filosófica)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

1º. Lugar:

O pai que é pai de verdade,
com pouco ou com muito brilho,
deixa sempre a honestidade
no patrimônio do filho.
Milton Souza
Porto Alegre/RS

2º. Lugar:

Patrimônio não almejo,
Não me seduz metal nobre,
O que, na vida, desejo,
É ser feliz, mesmo pobre.
Luzarte de Medeiros Brito
Paranamirim/RN

3º. Lugar:

O patrimônio ideal
é o amor, não o dinheiro:
só a riqueza moral
tem o lastro verdadeiro!
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ

4º. Lugar:

O patrimônio que tenho
com orgulho, manifesto.
Tive em família e me empenho
de ser bom e ser honesto.
Antônio Carlos Rodrigues
São Gonçalo/RJ

5º. Lugar:

O patrimônio maior
– saldo da luta… sofrida -,
Todos sabemos de cor:
É o bom exemplo de vida.
Roberto Resende Vilela
Pouso Alegre/MG

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:

Chico Anísio, patrimônio
do povo maranguapense,
contraiu seu matrimônio
com um Brasil mais circense.
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte/MG

7º. Lugar:

Teu patrimônio é medido
pela riqueza em cifrões.
Vale mais o meu … erguido
pelo amor nos corações!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ

8º. Lugar:

Patrimônio bem cuidado
não é só na aplicação;
tem mais valor partilhado
fazendo o bem ao irmão.
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú/SC

9º. Lugar:

Feliz quem subiu na vida
e um bom patrimônio tem,
se esforçando na subida
mas sem pisar em ninguém.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG

10º. Lugar:

O patrimônio moral
tem muito mais garantia
do que bem material,
pois, seu valor não varia…
Geraldo Lyra
Recife/PE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):

11º. Lugar:

Meu patrimônio na vida
ninguém supera em valor,
é você, minha querida,
o meu grande e eterno amor.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG

12º. Lugar:

Este belo patrimônio
que o velho pai conquistou
só reforçou o matrimônio
da prole que ele gerou.
Maria Conceição de Paula
(Conceitita)
S. José dos Campos/SP

13º. Lugar:

Mais do que luxo e oportunas
ostentações materiais,
mais que sólidas fortunas,
patrimônio… é muito mais!!!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

14º. Lugar:

Se um país tem conseguido
Patrimônio cultural,
é sempre reconhecido
em âmbito mundial!
Glória Tabet Marson
São José dos Campos/SP

15º. Lugar:

Pelo caminho plantei,
as sementes de amizade,
e um patrimônio eu herdei
colhendo a felicidade.
Vanda Alves
Curitiba/PR

DESTAQUES (16º ao 20º lugares):

16º. Lugar:

Olho a Família… e o que vejo?
Um patrimônio sagrado;
aval de tudo que almejo,
sempre ao alcance… a meu lado!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

17º. Lugar:

Por graça de Santo Antônio,
A quem fizeste oferenda,
És o maior patrimônio
Do meu imposto de renda.
Luzarte de Medeiros Brito
Paranamirim/RN

18º. Lugar:

Patrimônio, quando herdado
sem o trabalho do braço,
traz a marca de um reinado
que vem fadado ao fracasso.
Neide Rocha Portugal
Bandeirantes/PR

19º. Lugar:

O patrimônio de um povo
é: saúde , educação,
preservar o velho e o novo,
e saber o que é Nação!
Dilva Maria de Moraes
Nova Friburgo/RJ

20º. Lugar:

Patrimônio tem valor
Que devemos preservar
Símbolo do nosso amor
Num futuro secular.
Maria José Fraqueza
Algarve/Portugal

TROVADORES DO ESTADO DO CEARÁ

TEMA: PATRIMÔNIO (S) [l/f]

VENCEDORES (1º ao 5º lugares):

1º. Lugar:

Embora sem matrimônio
Posso viver sonho alado
Vendo que meu patrimônio
É ter você ao meu lado.
Ana Maria Nascimento
Aracoiaba/CE

2º. Lugar:

Patrimônio, se desgasta,
e por vezes envaidece.
Do próprio Deus nos afasta,
quando a riqueza aparece.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

3º. Lugar:

Meu patrimônio, acreditem,
Feita a Contabilidade,
Superavitou num ítem
Da Sub-Conta Saudade.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/CE

4º. Lugar:

A vista longe alcançava
Numa visão deslumbrada,
o patrimônio que alçava
ruína e pouca jornada.
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

5º. Lugar:

O patrimônio se faz
Com muita perseverança
E muita alegria traz
Na vida com esperança.
João Alberto Fernandes Augusto
Pentecoste/CE

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:

Quem tem esse patrimônio
Só é pobre se quiser
Já me disse Santo Antônio
Que beleza de mulher.
João Osvaldo Soares (Vaval)
UBT-Maranguape/CE

7º. Lugar:

Contador é patrimônio
Da nossa sociedade
Faz do dever matrimônio
Na falta fica a saudade.
Raimundo Rodrigues Araújo
UBT-Maranguape/CE

8º. Lugar:

Patrimônio, bens, legado
Mas também dor de cabeça
Impostos, taxas, cuidado!
De pagá-los não se esqueça.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
UBT-Maranguape/CE

9º. Lugar:

Aquele teu patrimônio,
Tão de repente fugiu.
Foi jogar com o demônio,
Tudo que tinhas sumiu.
Olga Rosália Silva Pedrosa
UBT-Maranguape/CE

10º. Lugar:

No balancete da vida
sua conta Patrimônio,
com saldo, mostra a subida,
de seu ganho e matrimônio!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):

11º. Lugar:

O patrimônio da terra
herança que Deus nos deu,
está falindo na guerra
o homem não percebeu.
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

12º. Lugar:

Tal qual colcha de retalhos,
o patrimônio te cobre.
Se praticas atos falhos,
cada vez ficas mais pobre.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

13º. Lugar:

Trago, guardado no peito,
Um patrimônio de amor,
Registrado pelo eleito
De meu imo sonhador.
Ana Maria Nascimento
Aracoiaba/CE

14º. Lugar:

O Patrimônio mais raro
Ou avultado, talvez,
De modo algum eu comparo
Ao nascido da honradez.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/CE

15º. Lugar:

Quem tem um bom patrimônio
Sozinho não vai ficar
Logo encontra matrimônio
Mas vai sempre lamentar.
Lúcia Mapurunga
UBT-Maranguape/CE

DESTAQUES (16º ao 20º lugares):

16º. Lugar:

Quem acumula riqueza
só pensando em Patrimônio
não conhece a singeleza
do viver como campônio!
Nemésio Prata Crisóstomo
Fortaleza/CE

17º. Lugar:

Patrimônio sim senhor
Da nossa escrituração
É dever do contador
Somar inteiro e fração.
Raimundo Rodrigues Araújo
UBT-Maranguape/CE

18º. Lugar:

Patrimônio é riqueza,
Porém o pobre de espírito,
Jamais consegue a nobreza,
De celebrar o seu rito.
José Abdon Vasconcelos de Melo
Eusébio/CE

19º. Lugar:

O patrimônio decerto
Na ciência tem fator
Para o balanço dar certo
Conte com o Contador.
Luiz Carlos de Abreu Brandão
UBT-Maranguape/CE

20º. Lugar:

Patrimônio na evidência
É espelho das empresas
Contador por excelência
Demonstrações com clarezas
José Aureilson Cordeiro de Abreu
UBT-Maranguape/CE

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VIII Concurso de Trovas da UBT – Maranguape (Resultado Nacional/Internacional)

ÂMBITO NACIONAL/INTERNACIONAL 
ÂMBITO –
NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: “Lua” (Trova lírica ou filosófica)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)
1º. Lugar:
O céu se veste de um manto
Quando o sol vai se deitar,
E se reveste de encanto
Pondo a lua em seu lugar…
Renata Paccola
São Paulo/SP
2º. Lugar:
Quando se vê mais brilhante,
A lua, em seu provocar,
Deita prata a cada instante,
Nos verdes braços do mar!
Ederson Cardoso de Lima
Niteroi/RJ
3º. Lugar:
Anoitece…a lua espia
A varanda em soledade,
E banha a rede vazia
Em seu clarão de saudade.
Elen de Novais Felix
Niterói – RJ
4º. Lugar:
Passas tão bela que a lua,
Louvando teu desfilar,
Estende por toda rua
Um tapete de luar!
Almerinda F. Liporage (Tita)
Copacabana/RJ
5º. Lugar:
A Lua, eterna viajante
dos espaços siderais,
é mulher, bela e distante,
que não se alcança jamais.
Domingos Freire Cardoso
Ílhavo/Portugal
MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):
6º. Lugar:
Lua, a musa favorita,
não perde nunca o troféu
da inspiração mais bonita
que desce do azul do céu!
José Lucas de Barros
Natal/RN
7º. Lugar:
Lua cheia, céu em festa
é um momento inspirador,
nós na rede, uma seresta,
embalando o nosso amor.
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú/SC
8º. Lugar:
A lua sem empecilho
se fazendo apaixonada
derrama todo o seu brilho
nos olhos da madrugada.
Ademar Macêdo
Natal/RN
9º. Lugar:
Qual bela noiva charmosa
tendo estrelas como véu,
desfila a lua garbosa
na passarela do céu.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG
10º. Lugar:
O céu, de estrelas bordado
Transforma a pracinha nua,
Num jardim iluminado
Para o desfile da lua.
Adilson Maia
Niterói/RJ
MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):
11º. Lugar:
Não desista, siga em frente,
Grita a esperança… em seguida,
Vou ser a lua crescente
Nas madrugadas da vida!
Marilucia Rezende
São Paulo/SP
12º. Lugar:
Até mesmo a Lua some,
quando imagina a desgraça
de quem pernoita com fome
no antigo banco da praça…
Josafá Sobreira da Silva
Rio de Janeiro/RJ
13º. Lugar:
O rancho se faz gigante,
pois quando o amor incendeia,
o nosso quarto, minguante,
tem clarão de lua cheia!
Neide Rocha Portugal
Bandeirantes/PR
14º. Lugar:
É inverno… Choveu na mata…
E a lua, deusa sem fama,
penteia as tranças de prata
pelos espelhos de lama.
Manoel Cavalcante de Souza Castro
Pau dos Ferros/RN
15º. Lugar:
A Lua veste o seu manto
com estrelas cintilantes
e toda cheia de encanto
desfila para os amantes.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG
DESTAQUES (16º ao 20º lugares):
16º. Lugar:
Quis a Lua ser um astro que,
pela Terra…em instantes,
vai instigando em seu rastro,
os desejos dos amantes!
Dilva Maria de Moraes
Nova Friburgo/RJ
17º. Lugar:
Não querendo a noite nua,
o Senhor, divino esteta,
vestiu o céu com a lua
e a fez musa do poeta!…
Domitilla Borges Beltrame
São Paulo/SP
18º. Lugar:
Vejo a lua se despindo
do manto da escuridão…
E, nos meus pés, vou sentindo
as suas roupas, no chão…!
Mara Melinni de Araújo Garcia
Caicó/RN
19º. Lugar:
Infinitos castiçais
refletem luz sobre a mata,
tal qual a lua no cais
deixando o mar cor de prata.
José Guarany Rodrigues
Pindamonhangaba/SP
20º. Lugar:
Quando o dia se aquieta,
A lua, por distração,
Brilha no olhar do poeta
E acende seu coração.
Luiz Poeta – Luiz Gilberto de Barros
Rio de Janeiro/RJ
>>>>>>>>>>>>>>>>>>

ÂMBITO –
NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: “Gingado” (H)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)
1º. Lugar:
Todos acham imbecil
de minha sogra o gingado;
por defeito do quadril,
ela ginga só de um lado.
Adamo Pasquarelli
São José dos Campos/SP
2º. Lugar:
Um folião já “melado”
faz com seu corpo, sambando,
um gingado tão danado
que finda desmunhecando!
Ademar Macêdo
Natal/RN
3º. Lugar:
Chega a cantora, que é mestra
No gingado da cintura
E os integrantes da orquestra
Nem olham… pra partitura!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP
4º. Lugar:
Nenhum gingado ela tem,
de beleza não tem nada,
minha sogra é um Frankenstein
numa versão piorada.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG
5º. Lugar:
Maroquinha, o teu gingado
está dando o que falar!
Talvez não seja pecado,
mas faz a gente pecar!
José Lucas de Barros
Natal/RN
MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):
6º. Lugar:
A mulher do delegado
não dorme de touca não:
se o doutor não quer gingado,
ela ginga pro escrivão!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP
7º. Lugar:
Num bailado diferente
E no gingado a malicia,
A mulata de repente
Vira um caso de policia!
Carlos Alberto de Carvalho
São Gonçalo/RJ
8º. Lugar:
No acorde de um tamborim
Ela solta o seu gingado,
Deixa doido o Benjamim
Com seu lindo rebolado!
Roberto Nini
Mogi-Guaçu/SP
9º. Lugar:
– Seu “gingado” me maltrata,
Me constrange… é uma loucura!
– Falas de bela mulata?
– Não… de minha dentadura…
Elbea Priscila de Sousa e Silva
Caçapava/SP
10º. Lugar:
Ela é “boa” camareira,
serve bem o Coronel,
seu gingado de cadeira
botou fogo no quartel…
Ivone Taglialegna Prado
Belo Horizonte/MG
MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares):
11º. Lugar:
Foi graças a seu gingado,
que a garota, um “avião”,
ganhou do “seu” deputado
“baita” cargo em comissão!
Lisete Johnson
Porto Alegre/RS
12º. Lugar:
Foi tanto malabarismo
a velha fez no gingado,
que dançou com reumatismo
e acabou sem rebolado.
Gabriel Bicalho
Mariana/MG
13º. Lugar:
No balanço do gingado
treme mais que gelatina,
vou ficando bem “vidrado”
no molejo da menina.
Palmyra Maria Goulart Duarte
Rio de Janeiro/RJ
14º. Lugar:
Maria quando desfila
Com seu gingado faceiro,
Atrás dela segue a fila
Aplaudindo o seu trazeiro.
Adalto Machado
Cantagalo/RS
15º. Lugar:
A passista evoluindo,
Dizendo o samba no pé,
Faz seu gingado sorrindo
Com lisura de um balé…
Marilda Mendonça P. de Carvalho
São Gonçalo/RJ
DESTAQUES (16º ao 20º lugares):
16º. Lugar:
O rebolado da Lia
era tão exagerado,
que envergonhado eu fingia
não ver aquele gingado.
Francisco Garcia (Prof. Garcia)
Caicó/RN
17º. Lugar:
Quando ela entrou rebolando
Num gingado sedutor
Vi muito nego suando
E nem fazia calor!
Arlindo Tadeu Hagen
Belo Horizonte/MG
18º. Lugar:
Bebe sempre tanto gim
que agora seu rebolado,
ao sair do botequim,
fez autêntico “gin…gado”!
Wanda de Paula Mourthé
Horizonte/MG
19º. Lugar:
Para mostrar seu “gingado”
o velho foi-se empolgando,
mas fez tanto requebrado
que acabou desmunhecando!
Alberto Paco
Maringá/PR
20º. Lugar:
Nela é bonito, elegante…
Nele… esquisito, incomum:
gingada é interessante,
Mas não é pra qualquer um !!!
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP

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Patativa do Assaré (A Seca e o Inverno)

Ilustração de Joana Lira

Na seca inclemente no nosso Nordeste
 O sol é mais quente e o céu, mais azul
 E o povo se achando sem chão e sem veste
 Viaja à procura das terras do Sul
 Porém quando chove tudo é riso e festa
 O campo e a floresta prometem fartura
 Escutam-se as notas alegres e graves
 Dos cantos das aves louvando a natura
 Alegre esvoaça e gargalha o jacu
 Apita a nambu e geme a juriti
 E a brisa farfalha por entre os verdores
 Beijando os primores do meu Cariri
 De noite notamos as graças eternas
 Nas lindas lanternas de mil vaga-lumes
 Na copa da mata os ramos embalam
 E as flores exalam suaves perfumes
 Se o dia desponta vem nova alegria
 A gente aprecia o mais lindo compasso
 Além do balido das lindas ovelhas
 Enxames de abelhas zumbindo no espaço
 E o forte caboclo da sua palhoça
 No rumo da roça de marcha apressada
 Vai cheio de vida sorrindo e contente
 Lançar a semente na terra molhada
 Das mãos deste bravo caboclo roceiro
 Fiel prazenteiro modesto e feliz
 É que o ouro branco sai para o processo
 Fazer o progresso do nosso país

Fonte:
Revista Nova Escola

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Arquivado em O poeta no papel, poema.

Chico Anysio (É Proibido Falar ao Motorneiro)

 Era muito grande a surpresa do velhote que, ao receber alta após vinte e dois anos acamado (reumatismo infeccioso), pela primeira vez saía à rua.

 Andava pelo Rio como se estivesse fazendo turismo numa cidade a que nunca fora. Tudo mudado, tudo tão lindo e tão diferente. O aterro, os gramados em volta de postes que mais pareciam perna de ema (quando queimar uma luz como é que mudam?), o monumento ao soldado desconhecido, tudo era novidade. Trocaram a roupa da cidade durante sua enfermidade.

 Quis ir à Galeria Cruzeiro tomar um chope no Bar Nacional e lá encontrou uma cidade em pé, de mil andares, e se contentou com uma laranjada no Bob’s. O Tabuleiro da Baiana, os bondes, por onde andavam? Estaria perdido? Poderia perder-se numa cidade que era sua apenas por ter ficado tão pouco tempo (vinte e dois anos) com aquele reumatismo idiota? A Rua das Marrecas tinha o nome de um político e havia um prédio encimando o Cine Metro onde ele assistira, quinze vezes seguidas, a Greer Garson em  Rosa de esperança. E a Lapa, meu Deus! O que fizeram com a minha Lapa? Pelo menos a igreja está de pé, mas aquilo é novo, aquilo lá não existia, no meu tempo não tinha aquilo, roubaram os trilhos? O que fizeram dos trilhos?

 O homem andava, na sua caminhada de reconhecimento, sem saber se devia aplaudir ou vaiar o progresso, já que em nome do progresso tudo tinha sido feito e modificado. Saí de casa a caminho da casa do amigo Vergara, com quem jogava xadrez nos tempos idos. De sua casa, na rua Taylor, até a casa do Vegara, na Santo Amaro, costumava ir de bonde (qualquer um servia, porque todos passavam no Largo do Machado), mas hoje estava disposto a ir a pé. Sabe lá se não acabaram também com a Praça Paris!

 E o homem ia andando, sempre com o olhar circular pelos cantos da cidade. O passeio Público cercado. Se está cercado deixa de ser público!

Sem menos esperar, quase caiu num buraco.Dentro do buraco um homem, com um capacete prateado na cabeça, usava uma pá com a qual aumentava o buraco, jogando no asfalto a terra que dele tirava.

— Alô — disse o convalescente.

— Alô  resmungou, sem muita vontade, o trabalhador.

 — O que é que o senhor está fazendo aí? perguntou o reumático ao homem que cavava.

 — Cavando — disse o homem ao velho.

 Vejam só. Além dos muitos buracos que há na cidade, em vez de fechá-los, o governo trata de abrir outros. Então era isso. Os buracos eram feitos com a concordância do governo. Ou talvez por determinação governamental.

 — Fazendo um buraco, não é? — quis certificar-se o reumático.

 — É, um buraco —  precisou o cara de capacete metálico.

 Exatamente o que ele pensara. Uma barbaridade. Onde estão as Forças Armadas, que permitem este descalabro? Tiram-se os bondes e dão-se buracos. Bela política, essa!

 — E pra que fazer um buraco, moço?

 — Progresso, né? — rezingou* o homem que cavava e cavava, jogando terra, algumas vezes, sobre os sapatos do velho que o aborrecia, olhando-o do alto do buraco.

 Que progresso mais idiota. Depois, aposto que nem põem placas avisando que ali há um buraco, vem uma criança.

 — Feche este buraco — ordenou valendo-se do seu título de cidadão.

 — Não chateia! — repeliu o operário.

 — Este buraco é um perigo. É um atentado à segurança pública. Como cidadão, eu ordeno: jogue no buraco esta terra — completou, enquanto empurrava com o pé número 35 um punhado de terra que se espalhou pelo metálico capacete do trabalhador.

 — Pára de jogar terra aqui, cara. Este buraco é para as obras do metrô.

 Foi como se falasse latim ao Lampião. Metrô? Não teria ele querido dizer Metro? Não seria a instalação de mais um cinema?

 — Metrô — interrogou o velho que saía à rua após vinte e dois anos de leito. — Não será Metro?

 — Metrô, cara. Um trem.

 Era o que faltava. Botar um trem ali, em pleno Jardim da Glória. Bolas ao progresso, que tira os bondes, tão fresquinhos e baratos, e, no seu lugar, coloca vastíssimos trens, de ruído insuportável. Agora é que ninguém dorme, da Conde Lage até nem se sabe onde.

 — Que trem é esse? — questionou o homem contra o progresso.

 — Será possível? — sofreu o operário que cavava às duas da tarde, sob um sol de meio-dia (era janeiro).

 — Diga. Que trem é esse? Na qualidade de cidadão, eu exijo uma explicação — insistiu, zangado, o homem.

 — Olhe, meu amigo. Metrô é um trem que anda por baixo da terra. Faz-se um túnel debaixo do chão, botam-se os trilhos e o trem vai pelos trilhos — explanou o empregado das obras do metrô o melhor que pôde, para encerrar, de uma vez, o assunto.

 — Por baixo da terra? E ninguém respira?

 — Há ventiladores.

 — E a gente entra no trem de que modo?

 — Há entradas. Vai haver uma entrada ali (apontou longe), o senhor compra a passagem, desce as escadas, o trem vem, o senhor entra e vai.

 — Muito bem. É o progresso, não é?

 — É.

 — E, sendo debaixo da terra, não suja a roupa, nem…?

 — É um túnel! — irritou-se o operário. — O trem corre dentro do túnel.

 — Maravilhoso — admitiu. — Maravilhoso!

 — Agora dê licença — pediu o funcionário, voltando a jogar terra sobre o asfalto lá em cima.

 Um trem por baixo da terra. O governo está trabalhando, mesmo. Estava até arrependido de ter pensado as coisas tão antigovernistas que pensara. Ainda bem que ninguém ouviu. Podia ser tomado como um sujeito anarquista.

 — E quando fica pronto?

 — Hein?

 — Esse trem que o senhor falou. Demora para ficar pronto?

 — Um pouco.

 — Mais ou menos quanto tempo?

 — Uns quatro anos.

 — Ah, é muito, não posso esperar.

 E dirigiu-se mesmo a pé para a casa do Vergara, na Rua Santo Amaro.
________
Nota:
* Rezingou = resmungou

Fonte:
Chico Anísio. O Batizado da Vaca. SP: Círculo do Livro

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Casimiro de Abreu (Carolina) III – A Volta

Estamos em 1849. 

Numa tarde de fevereiro, levado por toda a velocidade de seu bom cavalo, seguia um cavaleiro a estrada de Lisboa a ***, estrada onde ficava essa linda quinta com sua casa, no meio de perfumes e de verdura.

Esse cavaleiro, era Augusto.

Quando ainda de longe ele avistou a casa, seus olhos disseram é ali, seu coração indeciso, murmurava: aquela?!…

Ai! já não era a mesma quinta bela e verdejante, que ele tinha deixado na primavera! O inverno havia-a transformado horrivelmente.

Os ramos das faias e dos choupos gigantes já não se debruçavam sobre o muro. A natureza estava triste. As árvores não tinham folhas: apenas erguiam seus ramos despidos que vergavam com o vento. 

Uma tristeza involuntária apoderou-se do mancebo. 

Prendeu ao muro o seu cavalo coberto de suor e poeira e pôs-se a cantar com uma voz trêmula: 

Ó querida, estou de volta,
Venho-te um abraço dar;
Enxuga teus lindos olhos,
Sê minha, que eu sei-te amar.

Nenhuma voz respondeu à sua copla apaixonada. Um silêncio profundo reinava nas alamedas; só os ramos das árvores se agitavam. Dir-se-ia ser um cemitério. 

Augusto teve um pressentimento; sua fronte empalideceu por um instante, mas continuou repetindo: 

Enxuga teus lindos olhos,
Sê minha, que eu sei-te amar. 

O mesmo silêncio terrível. Só o eco repetia triste suas últimas palavras: “sê minha, que eu sei-te amar”.

Saltou o muro e alongou a vista impaciente.

Que tristeza! As alamedas estavam desertas, o jardim já não florescia, o lago já não tinha o seu cisne, a natureza já não sorria!

Foi direito ao caramanchão, ele lá estava no mesmo lugar com o seu banco de cortiça, mas a fonte que dantes murmurava parecia gemer agora!

Augusto sentou-se no banco com a cabeça encostada a uma das mãos e olhou para tudo com uma indizível tristeza. 

Ai! os pássaros já não cantavam, nem a brisa brincava travessa!

Então o pranto correu-lhe livre, o seu coração dizia-lhe que chorasse. 

— Foi aqui, murmurava ele, foi aqui que me despedi dela, foi aqui que prometi torná-la a ver. Meu Deus! quantas lágrimas não derramei quando atravessava o Oceano, que me separava da pátria, onde ficara a minha alma! E agora, que torno a ver a terra onde nasci, agora, que devia ver a minha Carolina, não sei por quê, sinto uma vontade imensa de chorar. Carolina! Carolina! bradou ele, vem ver o teu Augusto, vem dizer-lhe que sempre o amaste, vem dar ao desgraçado que chorou os prantos da saudade, o teu beijo de amor: e os soluços abafaram-lhe a voz no peito. 

Mas o mesmo silêncio lúgubre continuou; nem uma voz, nem um som respondeu aos gemidos do amante. 

Ergueu-se pálido e trêmulo e caminhou vagaroso pela alameda que ia dar ao jardim, cantando sempre com a sua voz comovida aquela copla, que tão bem exprimia os desejos do seu coração. 

Chegou ao jardim e olhou. A casa tinha as portas e as janelas todas fechadas. Também estava deserta. 

— Mudaram-se, disse ele, Carolina já aqui não está!

E volta pensativo para o caramanchão  e parou diante da fonte. 

— Onde está Carolina? perguntou ele, como se a fonte pudesse responder-lhe. 

— Onde está Carolina? perguntou ele às árvores, e parecia esperar a resposta. 

Mas a fonte continuava a correr e as árvores a agitar os ramos. 

— Então adeus, meu caramanchão, minha fonte, meu jardim, adeus!

E Augusto saltou o muro e quis passar por diante da casa onde estivera a sua amada. Quando aí chegou, parou e pôs-se a olhar para a janela onde a tinha visto a primeira vez. 

— Jesus! Meu Deus! aquele não é o senhor Augusto? dizia uma saloia, que passava por ali, a seu marido. 

— Parece que é, respondeu o saloio. 

Ao ouvir o seu nome, Augusto olhou para o lado donde partiram as vozes e reconheceu-os. Depois de os cumprimentar perguntou logo:

— Diga-me, o senhor Ferraz já aqui não mora?

— Há que tempos! mudaram-se pelo Natal. 

— Sabe para onde?

— Isso é que não sei; tanto ele como a senhora estavam muito tristes, e tinham razão, aqueles desgostos não são para menos. 

— Então eles tiveram algum desgosto? perguntou Augusto, que pressentia a morte de Carolina.

— E muito grande. Sua filha, a senhora D. Carolina, fugiu…

— Carolina fugiu? perguntou Augusto com uma voz que assustou a pobre mulher.

— Sim senhor, respondeu ela, foi no meado do mês de dezembro. Custa a creditar, que uma menina tão boa deixasse sua mãe. E daí pode ser que fosse roubada, quem sabe!

Augusto já nada ouvia; estava louco.

— Oh meu Deus! meu Deus! murmurou ele.

— Jesus! que é isso, senhor Augusto? perguntou a mulher vendo-lhe a extrema palidez e o chamejar sinistro dos olhos. 

— E eu que a amava tanto! continuou ele em voz baixa. 

A saloia compreendeu-o e afastou-se murmurando:

— Pobre rapaz! o que lhe fui eu dizer!

Augusto ficou ainda algum tempo imóvel com os olhos turvos e o peito arquejante, mas depois erguei a fronte de repente e bradou com uma explosão terrível de dor:

— Ah! mulher, mulher! tu me mataste! 

Desprendeu seu cavalo, montou e desapareceu na estrada. Ainda olhou de longe uma vez para aquela quinta deserta e triste, que lhe inspirava tantas recordações…

Continua…

Fonte:
ABREU, Casimiro de.  Carolina.  in SILVEIRA, Sousa da (org.). Obras de Casimiro de Abreu.  2ª ed.   Rio de Janeiro:  Ministério da Educação e Cultura -MEC, 1955. Texto-base digitalizado por: Fernanda Duarte, Rio de Janeiro – RJ

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Adérito Mazive (Beco sem saída)

 A jornada de Sónia havia, finalmente, chegado ao fim. Valera-lhe o mesmo de sempre, mas não devia queixar-se, sabia de cor o fim do seu trabalho: manter-se viva e palidar as incertezas tão certas que a acompanhavam ao longo da sua biografia. Então meteu-se no autocarro, e pôs-se logo a conversar qualquer coisa com uma mulher que se achava ao seu lado (provavelmente colega sua). A sua interlocutora colaborou vivamente. Talvez por medo daquela estrada que dava ao inferno: quanto mais se aproximavam do destino, menos luz havia e menos gente as acompanhava. 
 Mas chegaram. E Sónia pôde fugir das meditações em torno de seu ofício e de sua existência que fazia sempre que se achava sozinha e quando sentia que seus companheiros de viagem tinham a mesma cara que a sua, a de tristeza. “O convívio pode não resolver os problemas, mas os adia. E se calhar quando os reencontrarmos estaremos menos frágeis,” pensava.
 E então estava na hora de ir para cama. Já não era longe. Andou uns poucos passos e deteve-se num portão. Os seus 1.60 de altura não bastavam para ver, por cima deste, o que acontecia no interior da casa. Mas pôde ver lâmpadas acesas e ouvir vozes de pessoas a conversar. Com destreza de ladrões experientes abriu o portão e dirigiu-se ao cubículo que estava no fundo do quintal da casa. Aqui é que era sua casa. Tirou, do ombro, a pesada bolsa e sentou-se no degrau da porta para apanhar um ar. Mas este estava frio, fustigando suas pernas desnudas e seus bracinhos. Levantou-se, às pressas, para reencontrar o conforto do seu lar (abafado por aquelas alturas), mas a porta abriu-se com facilidade e rapidez espantosas, sem precisar da chave. Assustou-se. E ficou largos segundos com medo de acender a lâmpada. Que seria?
 Finalmente colocou a mão no interruptor. Não por coragem: não sentiu a cama que ficava mesmo na entrada. Acendeu aquela lâmpada que mais assombrava que iluminava para confirmar o fato. Não ousou emitir um som qualquer que exprimisse seu desespero. Quem é que o ouviria? Chorou para si mesma tudo que pode, em todas posições, até ver, num dos cantos do cubículo vazio, um papel sujo e amarfanhado, que não teria a convidada para seu pranto se não tivesse pensado no porquê de terem levado tudo e deixado somente aquilo. Arrastou-se até ele e leu: “desculpa-me, Sónia. Deixaste-me sem saída.”
 O bilhete não a abalou. Havia carregado tanto peso, que custava acrescentar uns quilinhos? E ficou ali, calma, já sem chorar. Não a assustavam mais aquelas quatro paredes horrendas e aquele teto decadente, pelo qual via as estrelas sem o brilho habitual. Elas eram ofuscadas pela cacimba e ela nunca se desembaraçara de suas coisas, as coisas da vida.
 Ao amanhecer, dona Joana, a proprietária do cubículo e da casa grande, dirigiu-se aos fundos do seu quintal para cobrar mensalidades atrasadas. A sua paciência esgotara-se, estando decidida a expulsar a inquilina. Aliás, nenhuma das desculpas de Sónia a haviam convencido. “Como é que ela não pode me pagar se faz dinheiro todos dias,” pensava. Seus filhos a acompanharam, dispostos a intervir caso fosse necessário o uso de seus músculos. Mas aquele aparato era desnecessário. Encontraram Sónia a flutuar, apoiada apenas por uma corda que partia do pescoço e terminava numa daquelas janelas altas e sem vidros.
 Houve o habitual susto de quem vê, inesperadamente, um morto. Os filhos de dona Joana saíram sem sequer se preocupar em confirmar a dona do cadáver. Horrorizou-lhes aquele olhar de espanto e fixo no nada. Dona Joana, tentando entender qualquer coisa, viu o papel sujo e amarfanhado algures e, com medo do seu conteúdo, leu: “desculpa-me por fazer isto na sua casa. Não tive alternativa.”
–––––––
Adérito Mazive  (1985) reside na cidade de Maputo, Moçambique. Não tem livros publicados.
Fonte:

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 564)

Uma Trova de Ademar  
Todo homem que se entrega 
aos feitiços de um amor 
sofre demais, porém nega 
o tanto da sua dor… 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  
Diante do encanto desfeito 
por promessas não cumpridas, 
eu sempre encontro outro jeito 
de entrelaçar nossas vidas. 
–Olga Agulhon/PR– 

Uma Trova Potiguar  
Não podemos recompor,
nossos sonhos destruídos;
nem esconder nossa dor,
silenciando os gemidos. 
–Francisco Maia/RN– 

Uma Trova Premiada 
2005 > Belém/PA 
Tema > DELÍRIO > M/H
Em meu delírio utopista
 um sonho não se desfaz:
 é ver um mundo otimista
 unindo as mãos pela paz.
– Licínio Antonio de Andrade/MG-

…E Suas Trovas Ficaram  
Nos açoites da agonia, 
a solidão que me invade 
vai rasgando a fantasia 
com que disfarço a saudade!… 
–Ulysses Carvalho Júnior/RJ– 

Uma Poesia  
Sinto que Deus põe a mão 
na mulher quando engravida, 
a dor se mescla ao prazer, 
a criatura é erguida;
e a vida liberta um Ser 
preso dentro de outra vida. 
–Leonardo Cruz/RN – 

Soneto do Dia  
Ressurreição.
–Reginaldo Albuquerque/MS– 
Eis que volto ao parquinho abandonado… 
De fato, está bem gasto, sem valia, 
porções de entulho e mato lado a lado, 
em vez da meninada em correria. 
Olhando o carrossel empoeirado 
não sei o que dá mais melancolia, 
se o céu de luto todo declarado
ou nossa dupla de alazães vazia. 
Ontem, quantos passeios demos juntos!
Hoje, nesses cavalos já defuntos,
encontro apenas restos de ilusão. 
Mas um clarão de lendas muda o enredo…
Torna a girar o mágico brinquedo,
com a tua imagem me estendendo a mão…

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José Feldman (Devaneios Poéticos n. 26)

Uma Trova de Belo Horizonte

A esperança é a voz divina
que a alma da gente acalanta;
neste terra pequenina
nenhuma voz a suplanta
Odete Donah

Uma Trova sobre a Trova do Rio de Janeiro

Trovador, grande que seja, 
 tem esta mágoa a esconder: 
 a trova que mais deseja 
 jamais consegue escrever … 
Luiz Otávio

Uma Trova de Piranguçu/MG

Nasci pobre e, na pobreza,
desconheci a abastança…
Mas sempre tive a riqueza
de possuir a esperança.
Antonio Martins

Trova de Concurso 

1977 – Concurso de Trovas de Cachoeiras de Macacu/RJ
Tema: Jardim

O meu sonho é que na terra
 as guerras chequem ao fim
 e todo o campo de guerra
 se transforme num Jardim…
lzo Goldman (São Paulo/SP)

Um Soneto Decassílabo Heróico

André Luiz Fernandes (Porto Velho/RO)
Soneto & soneto 

O início é um quarteto a mim divagado
Versos vêm e se entregam e se alinhas 
Que sua estrofe canta, verve alado
Quadras rimadas formadas em linhas

O segundo vem torna-se ao primeiro
No ato de ti sou poeta, fiz ser poema
Som de um vate à canção derradeiro
Escrita de relíquia, ele é meu lema

Vem e conclui um terceto aclamado
Pode ser nesse ou último, tanto faz
Escreve nele, o faz ser proclamado

Sendo que não se perca e não se desfaz
Fiel no lançamento, obra afamado
Que sem elas não tem como se refaz

Um Poetrix 

Horroris Causa
Goulart Gomes (BA) 

engenheiro de obras prontas
advogado de causas perdidas
doutor em letras vencidas

(Fonte: GOMES, Goulart. Minimal. Salvador: Copygraf, 2007 )

Uma Trova de Taubaté/SP

Penso em ti. Mas a esperança,
de ver-te minha, se trunca:
– Meu sonho sempre te alcança,
mas eu não te alcanço nunca.
Cesídio Ambrogi

Trovadores que Deixaram Seu Nome nas Páginas da História 

O bambu com muita gente
 se parece no feitio:
 por fora é belo e imponente,
 por dentro é oco e vazio…
 Nilo Aparecida Pinto [1917 – 1974] (MG)

Nasceu em Caratinga, no Estado de Minas Gerais, no ano de 1917. Faleceu no Rio de Janeiro 1974.

Fez seu curso de humanidades em Vitoria, onde foi redator de vários jornais locais. Ali, com um grupo de jovens companheiros, fundou em 1933 a Academia Espirito-Santense dos Novos.

a Revista “Vida Capichaba” movimentou o meio literário com um Concurso de Trovas, saindo vencedor o poeta Nilo Aparecida Pinto, cultor entusiástico da Trova, com o seguinte texto:

 O ocaso traz tantas mágoas,
 que o mar, buscando esquecê-las,
 espana o espelho das águas
 para o baile das estrelas.

 Nilo Aparecida Pinto não era Capixaba mas viveu parte da infância e juventude no Espírito Santo, tendo residido em Colatina e Vitória.

Transferiu-se para Belo Horizonte em 1938.

Bibliografia
“Meu coração em cantigas” (trovas), 1940.
“Canção da amargura sem fim”, 1941.
“Roteiro do deslumbramento”, 1944.
“Poesias encolhidas”, 1944,

Todos estes livros foram publicados em Belo Horizonte.

Um Soneto Alexandrino

Esio Antonio Pesatto (Piracicaba/SP)
Renascer

Há dias em que a gente encontra um novo brilho
Numa folha que cai, em tudo o quanto existe…
Num sol que morre, atrás de um crepúsculo triste,
Num murmúrio, num som, num dourado rastilho.

Numa canção à flor, num eco em que consiste
Um alegre cantar, num plácido bisbilho,
Num coração de mãe a abençoar o filho,
Mostrando que no espaço, o amor também insiste…

Num sorriso de adeus, num pássaro que voa,
Num olhar, num inseto, em qualquer coisa à toa
A gente fica assim sorridente, assim leve,

Que os nossos sonhos ficam alvos como a neve,
Tendo sentido dentro d’alma uma esperança
Que faz sentir a paz num riso de criança!

Um Haikai 

de colchão em colchão
chego à conclusão
meu lar é no chão.
Paulo Leminsky (PR)

Uma Trova de São Paulo/SP

Quando a minha trova lerdes,
tereis plena segurança,
de que eu pus nuns olhos verdes,
a minha eterna esperança.
Antonieta Borges Alves

Uma Fábula em Versos 

O Corvo e a Raposa
Jean La Fontaine (França) 

O senhor mestre corvo, em um galho pousado,
No bico tinha preso um queijo apetitoso.
Sendo atraída ai pelo manjar cheiroso,
Diz-lhe mestra raposa em tom adocicado:
Bom dia, mestre corvo, meu senhor.
Que bonito que sois! Que penas, que esplendor!
Palavra que se a voz tendes maviosa
Quanto vossa plumagem é vistosa,

Sois a fênix, oh! Sim, das florestas daqui.
De orgulho, o corvo, então, nem coube mais em si.
E para a linda voz mostrar,
Descerra o bico e assim deixa o queijo escapar.
A raposa o agarrou e disse: Meu senhor,
Aprendei que o adulador
Vive à custa de quem lhe dá atenção
Vale um queijo por certo esta lição.
O pobre corvo, então, confuso e envergonhado,
Jurou, mas tarde já, não ser noutra apanhado.

Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ

Na vida prossigo a pé
minha jornada não cansa:
de provisão – levo a fé;
de lenitivo – a Esperança
João da Costa

Uma Poesia 

Roberto Pinheiro Acruche (São Francisco de Itabapoana/RJ)
Sonhos

Quisera estar em seus sonhos de mulher
lhe dando tudo que deseja,
ser totalmente seu, de corpo e espírito;
vê-la sedenta de amor, bela e de alma leve.
Quisera ser o fogo que lhe aquece,
a água que lhe sacia e  imerge,
a brisa que beija o seu rosto,
o seu chão, para que possas caminhar
segura e confiante, construindo nele
todos os seus caminhos.

Uma Trova de Mogi das Cruzes/SP

Pelos caminhos da vida,
ora aflitiva, ora mansa,
guiou-me sempre a querida, 
a bendita luz da esperança.
Nelo Filipi

Um Soneto 

Olegário Mariano (Recife/PE)
O MEU RETRATO

 Sou magro, sou comprido, sou bizarro,
 Tendo muito de orgulho e de altivez.
 Trago a pender dos lábios um cigarro,
 Misto de fumo turco e fumo inglês.

Tenho a cara raspada e cor de barro.
 Sou talvez meio excêntrico, talvez.
 De quando em quando da memória varro
 A saudade de alguém que assim me fez.

Amo os cães, amo os pássaros e as flores.
 Cultivo a tradição da minha raça
 Golpeada de aventuras e de amores.

E assim vivo, desatinado e a esmo.
 As poucas sensações da vida escassa
 São sensações que nascem de mim mesmo.

Cantinho do Izo Goldman 

Pedra só tem uma rima: medra; mas um repentista do Nordeste, cujo nome não ficou conhecido, fez uma originalidade:

Muito sabia a natureza
fez o cedro e não a “cedra”,
prá o poeta, com certeza
não fazer verso com… pedra!…

(Fonte: Curso de Trovas 1994 realizado por Izo Goldman no Instituto Cultural Israelita Brasileiro (SP)

Uma Trova de Resende Costa/MG

Aguardo, espero com ânsia;
minha vida é esperar…
e contra toda a esperança
continuarei a te amar!…
Maria do Carmo Mendes 

Uma Poesia Boliviana

Luisa Talarico (Santa Cruz de La Sierra/Bolívia)
Naufragio

 Há uma sobra azul
grudada em minhas noites
   talvez um amor antigo
ou um anjo sem morada

Quando meu leito
naufraga na penumbra
   nesse mar  distante
de minha alcova
   essa imagen de anil
etérea e extraviada
me abraça e me resgata

 Então
   sou úmido
capricho de algum deus
até o alvorecer

Poesia de Cordel 

Maria Alice Oliveira (Belo Horizonte/MG)
Canteiros de Outono

A estação ainda é outono
 mais uma manhã nasce
 enaltecendo a beleza
 de nova manhã de abril

 na noite anterior choveu
 o vento que por aqui passou
 fez com que folhas e flores
 sobre os canteiros caissem

 algumas foram mais longe
 em cima de carros pousaram
 outras, de telhados e ruas
 as quais logo fenecerão

 uma diversidade de cores
 agora cobrem os canteiros
 deixando-os parecidos
 com multicoloridos tapetes

 mas um dos canteiros
 chamou-me a atenção
 pela diversidade de tons
 numa harmonia de cores

 encantei-me com tanta beleza
 e me pus a pensar sobre
 a sabedoria da natureza
 a qual tudo se ajeita

 e um misto de tristeza
 passou por mim ao pensar
 o quanto nós humanos
 somos alheos ao belo

 a pressa é tão grande
 num agitado cotidiano
 que poucos percebem
 a beleza em coisas simples

 como a de um canteiro
 que no outono floresce
 e consegue embelezar
 o solo que o acolhe

 e a vida vai passando
 num correr cotidiano
 apenas poucos constatam
 momentos de tanta beleza

 cada canteiro de outono
 vida efêmera terá
 mas quem conseguir percebê-lo
 com ele logo se encantará.

Uma Trova de Fortaleza/CE

Na mão o toco de giz,
na outra, o apagador;
na assistência o aprendiz,
no tablado o Professor!
Nemésio Prata Crisóstomo

 Modinha 

Em Horas Mortas
Autor Anônimo (PE)

I
 Em horas mortas da noite
 Da lua vejo o clarão.
 Tua beleza me prende
 Dentro do meu coração. } bis

 II
 Mulher não sejas ingrata,
 Deixa de ser traidora,
 Vem dar-me a mão de esposa
 Que tu serás mais ditosa. } bis

 III
 Os teus afetos, mimosa,
 Desejo, virgem querida
 Para gozar-te somente
 Como minha esposa na vida. } bis

 IV
 Se coroares de noiva
 Na sombra imineu
 Entre flores de laranja
 Tu serás minha e eu sou teu. } bis

 V
 Mulher não sejas ingrata,
 Tem pena de quem te adora,
 Vem dar alívio somente
 A um coração que te implora. } bis

Extraída da série de modinhas anônimas publicadas em Modinhas do passado; investigações folclóricas e artísticas (Rio de Janeiro, 1956). 

Um Poema da África

Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)
Canção dos Rapazes da Ilha

 Eu sei que fico.
Mas o meu sonho irá
pelo vento, pelas nuvens, pelas asas.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá …

 Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos frutos, nos colares
E nas fotografias da terra,
Comprados por turistas estrangeiros
Felizes e sorridentes.
Eu sei que fico mas o meu sonho irá …

 Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá
Metido na garrafa bem rolhada
Que um dia hei de atirar ao mar.
Eu sei que fico
Mas o meu sonho irá …
sei que fico
Mas o meu sonho irá
Nos veleiros que desenho na parede.

Cantigas Infantis 

Bela Pastora

É uma roda de meninas, com uma do lado de fora. Cantam as da roda:

 Lá em cima daquela montanha
 Avistei uma bela pastora
 Que dizia em sua linguagem
 Que queria se casar

 Quando as da roda cantam o quarteto seguinte, a pastora vem para o meio, a fim de aprender a brincar:

 Bela pastora entra na roda
 Para ver como se brinca
 Uma roda, roda e meia
 Abraçais quem vós quereis

 A garota que for abraçada, será então a pastora seguinte.

Extraída de uma série de cantigas infantis, registradas por Veríssimo de Melo em Rondas infantis brasileiras (São Paulo, Departamento de Cultura, 1953). 

Uma Quadra Popular

Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.

Fonte:
seleção por José Feldman

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Casimiro de Abreu (Carolina) II – Caiu!

No fim da mesma alameda, embaixo do mesmo caramanchão, sentados sobre o mesmo banco onde seis meses antes  dois amantes se beijavam em prantos, dois amantes hoje beijam-se por entre sorrisos de prazer.
Ah! mulher! mulher! que tão cedo esqueceste o homem que te votou o amor mais ardente de sua alma! Esse homem a quem juraste vir aqui todas as tardes escutar o suspiro saudoso, que ele te havia de enviar nas asas da viração!…
Ah! mulher! mulher! que tão depressa esqueceste um homem que te ama, para ouvires os galanteios doutro que te cobiça!… Deixas adormecida em teu peito a imagem daquele por quem teu coração novel bateu as primeiras pulsações, ao mesmo tempo tímidas e suaves, e não te lembras que esse homem virá um dia, implacável como o destino, terrível como o raio, pedir-te o cumprimento das juras que lhe fizeste; exigir-te contas do seu amor, que tu escarneceste; das suas crenças, em que tu cuspiste; da sua alma, que tu assassinaste!…
Não te lembras que os lábios ardentes doutro homem roçaram as tuas faces?
Oh! para o futuro, nas horas mortas da noite, sentirás o pungir desse remorso!
……………………………………………………………………………….
O dia está quase no seu termo; em breve virá a noite com seu silêncio, suas estrelas, seus fantasmas, seus mistérios!…
Eles falam; escutamos:
— Olha, Fernando, ontem esperei-te tanto tempo, e tu não vieste! Estava aqui sentada só, triste! Qualquer ruído que sentia na estrada, dizia comigo: é Fernando; e enganava-me, não eras tu! 
— Não vim ontem, porque não pude; mas vi-te. 
— Não vieste e viste-me?!
— Vi-te sim, Carolina, vi-te em sonhos como te vejo todos os dias. E que outra mulher senão tu, há-de vir abrilhantar os meus sonhos? Às vezes, vejo-te similhante a um anjo, fugires da terra envolta em nuvens vaporosas. Ontem vi-te aqui, neste mesmo parque. Tu eras já minha e estavas tão linda como agora; o céu sorria-se para ti, os pássaros gorjeavam para tu os ouvires, a brisa brincava com teus cabelos e tu brincavas com as flores…
— E tu, Fernando?
— Eu?! Corria atrás de ti para te dar um beijo e tu fugias ligeira como a gazela e depois cansada, com teu seio a arfar, com teus lábios entreabertos, com tuas tranças soltas, caías desfalecida em meus braços… e ambos gozávamos gozos, delícias, como só se gozam no céu… estávamos no paraíso. Ah! que sonho tão lindo, Carolina! Mas era um sonho. Foi cruel o despertar. 
— Não te acredito, disse ela com um sorriso, que queria justamente dizer o contrário. 
— Mas eu não te engano; amo-te como um louco, amo-te como ninguém nunca amou, porque és tu a mulher que eu havia sonhado nos meus sonhos da infância, nos meus sonhos da adolescência, nos meus sonhos dos 18 anos, quando o coração tem necessidade d’amor, quando os lábios desejam que os beijos duma mulher venham mitigar a sede que os abrasa. 
E Fernando pôs-se de joelhos aos pés de Carolina, cingindo-lhe a cintura flexível e delicada, com seus braços nervosos. 
— E tu, Carolina, também me amas?
— Muito, muito, disse ela, e subjugada pelo olhar ardente de Fernando, uniu seus lábios corados aos dele, que queimavam…
A noite tinha estendido o seu manto: as estrelas cintilavam no firmamento, grossas nuvens  haviam ocultado a face da lua. 
A noite tem seus mistérios! 
…………………………………………………………….
No meio daquela mudez aterradora, soou um grito de mulher, abafado logo por algum beijo. Teria Carolina visto a figura d’ Augusto desenhada no muro fronteiro?…
……………………………………………………………..
Meia hora depois, à claridade da lua que se mostrou de súbito, um vulto de mulher atravessava apressado a alameda, dirigindo-se para casa, grave como um fantasma, trêmulo como um condenado!
………………………………………………………………
As estrelas cintilavam mais frouxas, a lua ocultou-se de novo e um murmúrio indefinível, similhante a um queixume, parecia subir da terra ao céu…
Carolina, tinha uma coroa de virgem que lhe circundava a fronte como uma auréola brilhante; Fernando arrancou essa coroa e calcou-a aos pés!…
O anjo caiu do seu pedestal d’ inocência… a rosa purpurina e bela pendeu na sua haste… o vento da noite levou-lhe as folhas…
Continua…
Fonte:
ABREU, Casimiro de.  Carolina.  in SILVEIRA, Sousa da (org.). Obras de Casimiro de Abreu.  2ª ed.   Rio de Janeiro:  Ministério da Educação e Cultura -MEC, 1955. Texto-base digitalizado por: Fernanda Duarte, Rio de Janeiro – RJ

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Tatiana Belinky (A Luva)

Ilustração: Maria Eliana Delarissa

Foi nos tempos distantes do amor cortês. No reino medieval do rei Franz era dia de festa, e o ponto alto das festividades era a exibição de feras selvagens, trazidas de terras distantes, na arena do grande castelo. Em volta da arena erguiam-se as arquibancadas, encimadas por altos balcões onde brilhavam os nobres da corte, ao lado das belas damas faiscantes de jóias. Entre elas se destacava a donzela Cunegundes, tão rica e formosa quanto orgulhosa, e de pé ao seu lado estava o seu apaixonado adorador, o jovem cavaleiro Delorges, cujo amor ela desdenhava, distante e fria.
 Chegou a hora do início da função. A um sinal do rei, abriu-se a porta da primeira jaula, da qual saiu, majestoso, um feroz leão africano e, sacudindo a juba dourada, deitou-se na areia, preguiçoso. Abriu-se a segunda jaula, liberando um terrível tigre de Bengala, que encarou o leão com olhos ameaçadores e deitou-se também, tenso, como quem prepara um bote mortal. Em seguida, abriu-se a terceira jaula, da qual saltaram, quais enormes gatos negros, duas panteras de dentes arreganhados, deitando-se agachados e aumentando a tensão do ambiente.
 Fez-se um silêncio no público: todos aguardavam ansiosos um pavoroso embate mortal entre os quatro monstros felinos… E neste momento, como que sem querer, a donzela Cunegundes deixou cair, do alto do balcão, sua branca luva, bem no centro da arena, entre as quatro feras assustadoras. E dirigindo-se com um sorriso irônico ao seu cavaleiro adorador, falou, afetada:
 “Cavaleiro Delorges, se de fato me amais como viveis repetindo, provai-o, indo buscar e me devolver a minha luva.”
 O cavaleiro Delorges não respondeu nada e sem titubear, desceu rápido do balcão e com passos decididos pisou na arena, entre as fauces hiantes e as presas arreganhadas das quatro feras. Calmo e firme ele apanhou a luva, e sem olhar para trás e sem apressar o passo, voltou para o balcão, sob os sussurros de espanto e admiração de todo o público presente.
 A donzela Cunegundes estendeu a mão num gesto faceiro para receber a luva e com um sorriso cheio de promessas, falou:
 “Ganhaste a minha gratidão, cavaleiro Delorges.”
 Mas em vez de entregar-lhe a luva, o cavaleiro Delorges atirou-a no belo rosto da dama cruel e orgulhosa: “Dispenso a vossa gratidão, senhora!”, ele disse.
 E voltando-lhe as costas, o cavaleiro Delorges foi embora para sempre.

Fonte:
Recontado de um poema de Schiller por Tatiana Belinky
Disponível na Revista Nova Escola

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 563)

Salina no Rio Grande do Norte
Uma Trova de Ademar  
O bom sal que o mar cultiva 
pinta de branco a salina… 
Faz mais rica e produtiva 
a região nordestina! 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional  
Briguei contigo, é verdade, 
peço perdão, volto atrás 
e faço desta saudade 
bandeira branca de paz! 
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP– 

Uma Trova Potiguar  
Inveja é coisa mesquinha
de uma pessoa sem brio,
amargurada e sozinha
que faz da vida um vazio…
–HELIODORO MORAIS/RN– 

Uma Trova Premiada  
2006 – Nova Friburgo/RJ 
Tema : FRONTEIRA – M/H 
Sempre estão nos corações
as soluções verdadeiras:
quando o amor une as razões,
somem todas as fronteiras.
–MILTON SOUZA/RS– 

…E Suas Trovas Ficaram  
Mocidade, quem me dera
retomar, com teu calor,
um pouco de primavera
no meu inverno de amor!
–DURVAL MENDONÇA/RJ– 

Uma Poesia  
MOTE : 
Nossa terra e a terra lusa, 
na doce língua que as liga, 
são cordas nas mãos da musa, 
cantando a mesma cantiga. 
–Dorothy Jansson Moretti/SP– 
GLOSA : 
Nossa terra e a terra lusa, 
se fundem no amor sincero, 
numa amizade que cruza 
esse enorme oceano austero. 
Estando assim irmanadas 
na doce língua que as liga, 
sementes serão lançadas 
nessa língua tão amiga! 
Que esta amizade as conduza, 
pois suas inspirações 
são cordas nas mãos da musa, 
ao bater dos corações. 
Abençoando os amanhãs 
que Deus a musa bendiga, 
unindo as pátrias irmãs, 
cantando a mesma cantiga. 
–GISLAINE CANALES/SC– 

Soneto do Dia  

Poeta 
–JOÃO BATISTA X. OLIVEIRA/SP– 
O poeta, vetor da porcelana,
é o arauto das dores e janelas.
Suas veias, refúgio das procelas;
coração, a ruína da pantana.
Ele é o misto dos olhos sem cancelas
com murmúrios que ouvido não se engana.
E na busca da força sobre-humana
sorve o brilho das auras e aquarelas.
Sonha grande e maior é a plenitude
do caminho perene da altitude
em limite de céu, seu companheiro.
Mente aberta aos meandros das mensagens;
mãos dispostas aos versos das miragens…
eis o vate das asas hospedeiro!

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Lidia Izecson de Carvalho (Confusões do Seu José)

Ilustração Victor Malta
Seu José foi ao mercado
 Comprar pra semana inteira
 Pegou de tudo um pouco
 Até uma enorme peneira
 Sem pensar como pagar
 Continuou a gastança
 Abacaxi, melancia e morango
 Não era hora de fazer poupança
 Chegou na fila do caixa
 Já meio de cabeça baixa
 Não sabia onde estava o dinheiro
 Teria esquecido no banheiro?
 Procurou por todo lado
 Remexeu daqui e dali
 Do bolso saiu tanta coisa
 Pandeiro, alicate e jabuti
 Mas onde estava o dinheiro
 Isso todos queriam saber
 De repente ele lembrou
 Assim meio sem querer
 Deu um sorriso amarelo
 E levantou o boné
 Sabia que tinha o dinheiro
 Não era nenhum caloteiro
 O que ninguém esperava
 Foi o que se viu então
 Tinha dez notas dobradas
 Somando quase 1 milhão
 Com tanto ladrão por aí
 Foi logo explicando o José
 O melhor é se prevenir
 Guardar na careca ou no pé

Fonte:
Revista Nova Escola

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Arquivado em Poesias

Fanny Abramovich (Dona Licinha)

A senhora não me conhece. Faz tanto tempo e me lembro de detalhes do seu jeito, sua voz, seu penteado e roupas… A senhora ensinava na 3a série B e eu era aluna da 3ª série C no Grupo Escolar do Tatuapé… Passava no corredor fazendo figa para mudar de classe, pra minha professora viajar e nunca mais voltar, pra diretora implicar e me mandar pra 3a B… Nunca tive tanta inveja na minha vida como tive das crianças da série B… 
 Lembro que na sua sala se ouviam risadas quase o tempo todo. Maior gostosura! De vez em quando, um enorme silêncio quebrado por uma voz suave…era hora de contar histórias. Suspirando, eu grudava na janela e escutava o que podia… Também muitos piques e hurras, brincadeiras correndo solto. Esconde-esconde, telefone sem fio, campeonato de Geografia. Tanto fazia a aprontação inventada. Importava era sentir a redonda contenteza dos alunos. 
 A sua sala era colorida com desenhos das crianças, um painel com recortes de revistas e jornais, figurinhas bailando em fios pendurados, mapas e fotos… Uma lindeza rodopiante mudada toda semana! Vi pela janela seus alunos fantasiados, pintados, emperucados, representando cenas da História do Brasil! Maior maravilhamento! Demorei, entendi. Quem nunca entendeu foi a minha professora… Seu segredo era ensinar brincando. Na descoberta! Na contenteza! 
 Nunca ouvi berros, um “Cala boca”, “Aqui quem manda sou eu” e outras mansidões que a minha professora dizia sem cansar. Não escutei ameaças de provas de sopetão, castigos, dobro da lição de casa, chamar a diretora, com que a minha professora me aterrorizava o tempo todo… 
 Dona Licinha, eu quis tanto ser sua aluna quando fiz a 3a série. Não fui… Hoje, tanto tempo depois, sou professora. Também duma 3a série. Agora sou sua colega… Só não esqueço que queria estar na sua classe, seguir suas aulas risonhas, sem cobranças, sem chateações, sem forçar barras, sem fazer engolir o desinteressante. Numa sala colorida, iluminada, bailante. Também quero ser uma professora assim. Do seu jeito abraçante. 
 Hoje, vi uma garotinha me espiando pela janela. Arrepiei. Senti que estava chegando num jeito legal de estar numa sala de aula… Por isso resolvi escrever para a senhora. Vontadona engolida por décadas. Tinha que dizer que continuo querendo muito ser aluna da Dona Licinha. Agora, aluna de como ser professora. Fazendo meus alunos viverem surpresas inventivas. 
 Um abraço apertado, 
 cheinho de gostosuras, da
Ciça
Fonte:

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Arquivado em A Escritora com a Palavra, Contos Infantis

Minas Gerais Trovadoresco

Integrante da Coleção Memória Viva, o Livreto 1 de Minas Gerais Trovadoresco. Faça o Download AQUI.
Aos que receberam por e-mail solicito que confirmem, pois houve uma queda de energia, e não sei se foram  todos enviados.
Já foram lançados os Livreto 1 e 2 do Paraná, Livreto 1 de São Paulo e Livreto 1 do Rio Grande do Norte
Em suas 100 páginas, trovas dos seguintes trovadores  mineiros:

Almira Guaracy Rebelo
Ângela Togeiro
Arlindo Tadeu Hagen
Auxiliadora de Carvalho e Lago
Clevane Pessoa
Conceição Parreiras Abritta
Creusa Cavalcanti França
Dodora Galinari
Eduardo A. O. Toledo
Eugenia Maria Rodrigues
Helóisa Zanconato
José Antonio de Freitas
José Tavares de Lima
Jupyra Vasconcelos
Lucília Cândida Sobrinho
Luiz Carlos Abritta
Lygia Gomes de Pádua
Maria Lúcia de Godoy Pereira
Newton Meyer Azevedo
Newton Vieira
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Relva do Egypto Rezende Silveira
Roberto Rezende Vilela
Thereza Costa Val
Wanda de Paula Mourthé
Wagner Marques Lopes
Wanda Horilda Freesz de Lima
Zeni de Barros Lana

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Arquivado em coleção memória viva, Lançamento

Sotero Silveira de Souza (O Trovador da Lira Triste)

Quando eu não mais existir,
E talvez só cinzas for,
Creio que alguém há de sentir,
Saudades do trovador!
Quando vejo um beija-flor,
Nas roseiras do jardim,
Corro e beijo o meu amor,
Que também perfuma assim!
Dizem que para se amar,
Deve-se ter coração;
Assim não posso explicar,
Por que tu me amaste então?
A vida é cheia de males,
Às vezes é cheia de dor;
Por isso eu peço que cales,
Eu sofro mal de amor!
Saudade levo comigo,
Contigo deixo também,
A saudade é o inimigo,
Mais cruel que a gente tem!
Se o mundo fosse um canteiro,
E você fosse uma rosa,
Eu queria ser jardineiro,
Para beijá-la, cheirosa!
Essa trova tão singela,
Que exprime amargor,
Foi composta por ela,
Que negou-me o seu amor!
Nesta vida muita gente,
Sofre muito por amar,
Minha dor é diferente,
Eu só quero te deixar!
Quisera ser passarinho,
Para voar na amplidão,
E depois, pousar de mansinho,
Na palma de tua mão!
Caminhei muitos caminhos,
Por estradas mil passei,
Só achei dores, espinhos,
Até que eu te encontrei!
Eu sei que vou padecer,
Uma tortura tão louca,
Mas não me deixes morrer,
Sem antes beijar tua boca!
Irmã gêmea da tristeza,
E talvez, prima do amor,
A saudade é dureza,
E um peito sofredor!
Dizem que o mel é doce,
E que tem um bom sabor;
Quem dera que ela fosse,
Como os lábios do meu amor.
Eu sei que não posso dizer,
O calor que tem seu olhar,
Mas sei que pode ferver
Todas as águas do mar!
Uma coisa neste mundo
Que o meu coração palpita,
É dormir sono profundo,
No colo de moça bonita!
A lembrança mais sentida
Que trago nos dias meus,
Foi o dia de sua partida,
Sem dizer-me um só adeus!
Disse o poeta que a saudade,
É espinho cheirando flor;
Eu penso que é crueldade,
É lembrança de um amor!
Trouxe saudade, desgosto,
Da terra onde nasci,
Mas sepultei-as em teu rosto,
Tão logo, te conheci!
Quisera com emoção,
Feliz, carregar-te em dia
Na palma da minha mão,
Onde teu nome inicia!
Se amar é mesmo pecado,
O próprio Jesus pecou,
Pois amou até o soldado,
Que o peito o transpassou!
Bate o sino na capela,
Na tarde serena e calma;
Quando a vejo na janela,
Bate o sino da minha alma!
Por que choras passarinho,
À hora do pôr-do-sol?
Eu também estou sozinho,
Ó meu triste rouxinol!
Muito eu já tenho rogado,
Se não lhe desse desgosto,
Eu quisera ser enterrado,
Na covinha do teu rosto!
Garimpei por entre escolhos,
À procura de um tesouro;
Vi diamantes nos teus olhos,
E nos teus cabelos, ouro!
Chegaste na minha vida,
Como ave de arribação,
Dei-te agasalhos e comida,
Só me deste desilusão!
Sofro muito e me consolo,
Porque tenho esperança,
De deitar-me no teu colo,
E dormir igual criança!
Dizem que o amor é um ninho,
Macio igual algodão;
Eu creio ser feito de espinho,
E coça igual tinhorão!
Quando miro nos teus olhos,
Às vezes fico pensando,
Se olho verdes abrolhos, 
Ou se eles estão me olhando!
Meu amor, a minha vida
Está toda condenada;
Sou a triste ilusão perdida,
Um vulto só, e mais nada!
Não sei porque tu me olhaste,
Se eu não posso te amar;
Por acaso já pensaste,
Como fere o teu olhar?
Guardo comigo um queixume,
E jamais pude dizê-lo,
Quisera ser vagalume,
Na noite do seu cabelo!
Meu laço de fita verde,
De tão velho desbotou,
Esperando na parede,
Um amor que não voltou!
Uma vez que te pedi um beijo,
Para selar o nosso amor,
Respondeste com gracejo;
Tal selo não tem valor!
Ah! Se Deus me desse sorte,
De escolher onde espirar,
Eu quisera ter a morte,
No abismo de teu olhar!
Não sei dizer o que sinto,
Quando beijo aos lábios teus;
Para mim, juro, não minto,
É a maior graça de Deus!
Teve a boa mãe natureza,
Com você carinho e gosto;
Deu-lhe uma rara beleza,
E linda pinta no rosto!
Tinha tudo e me casei,
Minha mãe ficou chorando,
Até hoje não encontrei,
O que estava procurando!
Se você ver a alvorada,
Quando vai romper o dia,
É uma sombra desbotada,
Da beleza de Maria!
A palmeira solitária,
Lá no alto da colina,
Já a quase centenária, 
Pois te vi quando menina!
Tenho sido humilhado
Muita dor meu peito encerra;
Bem diz o velho ditado;
Ninguém é rei em sua terra!
Se quiseres ver ao certo,
Um oásis de bonança,
Observe bem de perto,
Os olhos de uma criança!
Esta vida é banal,
A grande verdade encerra;
O homem que é mortal,
É um transeunte na terra!
Por ambição eu deixei,
Minha mãe, anjo de luz;
Hoje, saudoso voltei,
E só encontrei sua cruz!
Gameleira mutilada,
Que faz sombra pelo chão,
Vou vingar a machadada,
Que lhe deu aquela mão!
Certa vez eu vi um cego,
Puxado por um menino;
Eu tive inveja, não nego,
Do gesto do pequenino!
Diz alguém que eu sou culto,
De carreira promissora;
Deve tudo a um vulto,
Minha santa professora!
Se pudesse o meu destino,
Conceder-me uma esmola,
Eu quisera ser um menino,
Pra voltar à minha escola!
Relógio da minha vida,
Por que disparas assim?
para que tanta corrida,
Se tem que chegar ao fim?!
O homem que tem juízo,
E bondoso de coração,
Responde com um sorriso,
As afrontes que lhe dão!
Do milionário, triste sina,
Saber que ele vai morrer,
Pode comprar a medicina,
E nada lhe vai valer!
Sem pensar e sem maldade,
Eu esbanjei gastando à bessa,
Um tesouro, a mocidade,
Que acabou-se tão depressa!
O único beijo do mundo,
Que não foi prova de amor,
Foi o de Judas, imundo,
na face do Salvador!
Todos tem o seu destino,
Até o rio que corre,
Mas o pobre peregrino,
Só no dia em que ele morre!
Há homem culto e bronco,
Para nós não é segredo;
Um nasceu para ser o tronco,
O outro simples arvoredo!
Certa vez eu vi um amigo,
Que chorou para morrer!
Até hoje eu não consigo,
A sua lágrima entender!
Na vida há muita gente,
Que nos sorri de alegria; 
Por dentro é diferente,
É tudo hipocrisia!
Os lírios níveos do mato,
Que vicejam na solidão,
Tem muito mais aparato,
Que as vestes de Salomão!
Olhai as aves do céu,
Não plantam, não sabem ler,
Vivem felizes ao léu,
E Deus lhes dá o que comer!
Se eu parar de fazer trova,
Por faltar inspiração,
Quero do doutor a prova,
Que morri foi de paixão!
Há muita gente que insiste,
Em só reclamar da sorte;
Mas a pior vida que existe,
É bem melhor do que a morte!
Meu querido arvoredo,
Meu destino agora é seu,
Você sabe o meu segredo,
Foi aqui que aconteceu!
Deixaste-me por dinheiro,
E trocaste o meu amor,
Por um vil aventureiro,
Que não tem nenhum valor!
Alguém diz que não esquece
Na vida o primeiro amor,
É uma chama que aquece,
A alma do sofredor!
O homem vive em carreira,
Numa luta insofrida;
Tudo! De qualquer maneira,
Chegará ao fim da vida!
A pérola tão luzidia,
Que hoje brilha e reluz,
Foi a lágrima de Maria,
Que correu ao pé da cruz!
Já tive muitos amores,
No curso da minha vida,
São estes os meus valores,
Que levo para outra vida!
Nem sempre a rara beleza,
Felicidade irradia;
Carinho e delicadeza,
É que nos traz simpatia!
Eu quero na sepultura,
Onde um dia eu repousar,
Este dito de ternura:
Voltarei para te buscar!
O olhar que tem mais brilho,
E penetra mais profundo,
É o olhar da mãe pro filho,
Quando este vem ao mundo!
Dizem que o homem de idade,
Volta  a fazer criancice,
Claro, pois sente saudade,
Do tempo da meninice!
O ser mais rico que existe,
Aqui na face da terra,
A sua riqueza consiste,
Em sete palmos de terra!
Alguém diz que de amar tanto,
Vai o homem para o inferno;
Há porém o amor santo,
E também o amor materno!
Os prazeres indizíveis,
Quie adornam o meu passado,
São dias inesquecíveis,
Que vivi, só a teu lado!
Vim para matar saudade,
Consolar meu coração,
Hoje volto pra cidade,
Mais pesado de paixão!
A cruzinha da estrada,
Toda enfeitada de flor,
Faz lembrar-me a doce amada,
Que morreu por meu amor!
Minha mãe, quando nasci,
Contemplou-me a chorar,
Desde então sempre segui,
O fulgor daquele olhar!
Aquele beijo envolvente,
De lembrança tão querida,
Foi o beijo mais ardente,
Que roubei na minha vida!
Eu não posso te querer,
Pois sou pobre, sem valor,
Vou lutar para merecer,
O teu dote, o teu amor!
Não permita o meu fado,
Que eu morra de solidão,
Deixe que eu seja enterrado,
Dentro do teu coração!
Eu nunca aprendi a nadar,
E jamais eu quis fazê-lo,
Só para um dia afogar,
Nas ondas do teu cabelo!
Vou lhe dar o seu presente,
É tão lindo e delicado,
Feito de couro reluzente,
Um rico anel de noivado!
A mulher é criticada,
Pelos lindos dotes seus;
Do demônio não tem nada,
É a obra prima de Deus!

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Arquivado em Minas Gerais, Trovas

Casimiro de Abreu (Carolina) Parte I – Adeus

I

ADEUS!
Na estrada que conduz de Lisboa a *** erguia-se há poucos anos uma casa de bonita aparência, com sua vinha verdejante, seu pomar odorífero, seu jardim pequeno, mas bonito, suas alamedas, curtas mas frondosas. O muro da quinta era alto bastante, e contudo os ramos das faias e dos choupos gigantes debruçavam-se sobre ele, assombrando com sua folhagem majestosa a estrada, que o mesmo muro flanqueava para um pequeno espaço.
Ao ver-se essa pequena casa cercada de perfumes, de verdura, de sombra e de poesia, podia-se sem receio dizer: seus habitantes são felizes. E eram. Viviam entregues aos prazeres mais doces da vida doméstica. Acordavam quando a natureza despertava, no meio do trinar das aves, do sorrir da manhã e do sorrir das flores; adormeciam sossegados ao som do vento da noite que zunia, dobrando a coma dos arvoredos. 
Era uma bela tarde de maio de 1848. Os raios moribundos do sol no ocaso pareciam dormir nos bastos olivais que coroavam a crista dos outeiros; uma viração suave e branda refrescava a atmosfera, sussurrando por entre as folhas e alterando o espelho tranqüilo do lago onde o cisne vogava majestoso; o céu trajava o azul mais puro apenas manchado aqui e além por ligeiras nuvens brancas, similhantes a vapores, como se fossem os rolos de incenso que os turíbulos da terra enviavam aos pés do Senhor, impelidos pelas auras bonançosas. Era na verdade uma tarde de primavera, da primavera, mocidade do ano, dessa quadra amena e deleitosa, que por toda a parte entoa o canto grandioso da criação!…
No fim duma das alameda da quinta, debaixo dum lindo caramanchão, acabavam de assentar-se um rapaz de 20 a 22 anos e uma menina de 17 ou 18. Tinham os braços entrelaçados e olhavam-se com esses olhares ternos dos amantes. 
Que lindo par! Ele, belo com essa beleza que distingue o homem; ela, bela com essa beleza que Deus dá só às mulheres! Ai! um sorriso que se desprendesse dos lábios formosos daquela virgem, mataria de amores um homem! Um olhar meigo e terno que brilhasse por entre aquelas pestanas aveludadas, venceria o mundo!
— Ora diz-me a verdade, Augusto, sempre partes amanhã? disse a jovem a seu companheiro, com uma voz suave como teriam os anjos, se eles falassem. 
— Não me acreditas, Carolina? Para que te havia de eu enganar?
Carolina fitou seus olhos negros nos de Augusto, e disse-lhe corando: 
— Para quê?!
— Olha, és injusta; um dia to hei-de provar.
— Mas tu não te demoras muito, não é assim?
— Não sei; mas mesmo que me demore muito, um dia hei-de voltar. 
— Ah! tu já não me amas! disse ela, e duas lágrimas despregaram-se de suas pálpebras e vieram cair-lhe no seio. 
— Carolina! Carolina! cada vez te amo mais, meu anjo. 
E Augusto encostou a cabeça da virgem ao seu peito e beijou-lhe a fronte. 
E os pássaros cantavam seus gorjeios, e a fonte murmurava seus queixumes, e a brisa dizia seus segredos!…
— Escuta, querida, podes vir todas as tardes sentar-te sobre este mesmo banco, podes até trazer o meu retrato que eu te dei; e quando os pássaros cantarem, quando o sol s’ esconder, quando a brisa brincar com as flores, tu ouvirás os meus protestos d’amor. Sentado à popa do navio que me levar, pisando solo estranho longe de ti, eu direi à viração do mar, eu direi às brisas da tarde: levai-me este suspiro a Carolina. 
— Sim, sim, murmurava ela, manda-me um suspiro. 
— E quando um dia, continuou Augusto, a estas mesmas horas, tu ouvires uma voz cantar estes versos:
Ó querida, estou de volta,
Venho-te um abraço dar;
Enxuga teus lindos olhos,
Sê minha, que eu sei-te amar.
Então, meu anjo, sou eu, é o teu Augusto; então, eu o juro, tu serás minha à face do mundo e à face de Deus; então nós viveremos.
— Oh! Augusto! Augusto! não partas, não me deixes! e a jovem banhara-se em pranto e soluçava. 
— Oh! eu devo partir, mas creio em Deus, também hei-de voltar. 
E Augusto com a voz trêmula e os olhos umedecidos, abraçando a virgem, disse-lhe:
— Adeus, Carolina!
— Adeus, Augusto! Para sempre?!…
— Não! não!
E seus lábios se encontraram num longo beijo d’amor, no meio de lágrimas e soluços. 
Um grito, agudo e lúgubre como o do mocho, retumbou no espaço!…
— Jesus! exclamou Carolina, cobrindo o rosto com as mãos. 
— Não creio em agouros! respondeu Augusto cavalgando o muro. 
Um momento depois sentia-se o tropel dum cavalo que partia a toda a brida para Lisboa…
Quando esse ruído se perdeu ao longe, Carolina juntou as mãos e disse em voz baixa: 
— Adeus, Augusto! adeus!…
Quase ao mesmo tempo, o cavaleiro que parecia fugir nas asas do vento, murmurava:
— Adeus, Carolina! adeus! 
Continua…
Fonte:
ABREU, Casimiro de.  Carolina.  in SILVEIRA, Sousa da (org.). Obras de Casimiro de Abreu.  2ª ed.   Rio de Janeiro:  Ministério da Educação e Cultura -MEC, 1955. Texto-base digitalizado por: Fernanda Duarte, Rio de Janeiro – RJ

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Flávia Muniz (O Espelho e a Perua)

Ilustração de Ionit
A confusão começou 
 Certa vez, no galinheiro, 
 Quando as aves encontraram 
 Um espelho no terreiro. 
 Uma galinha vaidosa 
 Logo quis contar vantagem: 
 – Com licença, galináceas, 
 Vim conferir minha imagem! 
 A pata, torcendo o bico, 
 Comentou com a vizinha: 
 – Não vale arrancar as penas 
 Pra parecer mais magrinha! 
 E qual não foi a surpresa 
 Das aves estabanadas: 
 No reflexo do espelho 
 Só tinha coisas erradas! 
 Quem era alta e bela 
 Viu-se feiosa e baixinha. 
 Quem era gorda e forte 
 Ficou magrela e fraquinha. 
 – Credo! – grasnou o marreco. 
 – Cruzes! – o pinto piou. 
 – Incrível! – cantou o galo. 
 E o papagaio berrou. 
 A galinha carijó 
 Foi quem depressa falou: 
 – Este espelho tem feitiço… 
 Foi a bruxa que o mandou! 
 – Mentira! – disse a perua, 
 Balançando as pulseiras. 
 – Li esse conto de fadas, 
 Vocês só dizem besteiras! 
 Estufou-se, bem danada, 
 Mostrando o papo vermelho. 
 E com pose de malvada 
 Fez a pergunta ao espelho: 
 – Espelho, espelho meu! 
 Responda se há no mundo 
 Outra ave mais bonita, 
 Mais charmosa e elegante, 
 Mais esperta e fascinante, 
 Mais incrível e imponente, 
 Mais formosa do que eu? 
 Diga logo, espelho meu!! 
 Os bichos, impressionados, 
 Ouviram com atenção 
 A resposta do espelho 
 A tamanha pretensão: 
 – Se você quer a verdade, 
 Vou dizê-la, nua e crua. 
 E mostrar a realidade 
 Para uma simples perua. 
 Você disse que é esperta, 
 Imponente e charmosa. 
 Mas parece antipática, 
 Falando assim, toda prosa. 
 Desfila o ano inteiro 
 Como se fosse a tal. 
 Mas foge do cozinheiro 
 Quando chega o Natal!

Fonte:
Revista Nova Escola

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Arquivado em A Poetisa no Papel, poema., Poesias

Mia Couto (O Viúvo)

O arrepio nos mostra como a febre se parece com o frio. E é com arrepio que lembro o goês Jesuzinho da Graça, nascido e decrescido em Goa, ainda em tempos de Portugal. Veio com a família para Moçambique nos meados da meninice. Como aos outros goeses lhe perjuravam de caneco. Ele a si mesmo se chamava de Indo-_Português. Lusitano praticante, se desempenhou até à Independência como chefe dos serviços funerários da Câmara Municipal. Seu obscuro gabinete: a vida se poupava a ali entrar. O goês era antecamarário da Morte? Só uma graça ele se permitia. À saída do escritório, o funcionário se virava para os restantes e fatalmente repetia:
–  Ram-ram!- 
Há-de morrer nesse ramerrão, comentavam os colegas. E reprovavam com a cabeça: o caneco não mata nem diz acta. Jesuzinho Graça se ria, no desentendimento. “Ram-ram” era a despedida em concanim, língua de seus antepassados indianos.
Vivia nesse constante apagar-se de si, discreto como abraço da trepadeira. Para ele o simples existir já era abusiva indiscrição. O caneco molhava o dedo no tempo  e ia virando as páginas, com método e sem ruído. A unha do mindinho se espichara tanto, que o dedo se tornara simples acessório.
–  A unha? É para virar a papelada- , respondia ele.
Aquela unha era o – mouse-  dos nossos actuais computadores. O dito apêndice era motivo de zanga conjugal. A esposa o advertia:
— Com essa garra você nem pense em me festejar!
Jesuzinho da Graça resistia a todos os protestos:
–  Pela unha morre o lagarto!- 
Em tudo o resto era singelo e pardo como selo fiscal. Misantrôpego, fleumaníaco, com vergonha até de pedir licenças, Jesuzinho assistiu, de coração encolhido, à turbulenta chegada da História. A Independência despontou, a bandeira da nação se cravou na alegria de muitos e nos temores do caneco. Aterrado, ele se sentou nas proletárias reuniões onde anunciaram a operação para “escangalhar o Estado”. A si mesmo se perguntava a justiça se faz por mão de injustos? Impávido e longínquo, Jesuzinho atendeu à sua despromoção, à mudança de gabinete. Todavia, o Oriente se limitava à aparência. Por dentro, se assustava com os súbitos, os súditos e os ditos da Revolução.
No silêncio da repartição ele ouvia as louças do mundo se estilhaçando. Entrava em casa e o mesmo malvoroço o perseguia. Ainda lograva pestanejar um sorriso quando os discursos anunciavam: “a Vitória é Certa!”. Tocava o ombro da mulher e dizia:
— Vê como você é certificada, Vitorinha?
Se Jesuzinho era sombra, a esposa Vitória era crepúsculo dessa sombra. No terceiro aniversário da Independência, no preciso momento em que clamavam os jargões revolucionários, Vitória ficou certa para sempre. A goesa fechou nos olhos o olhar. Sob a parede do crucifixo, o funcionário a cobriu de lençol e rezas. Findava ali a única família, o único mundo de Jesuzinho da Graça. 
Nos seguintes meses, o viúvo manteve o comportamento. Jesuzinho era como a formiga que nunca descarreira? _única diferença: agora se demorava entre o ali e o acolá. E com o demorar da solidão ele foi entrando na bebida. O jovem empregado doméstico lhe perguntava a medo:
–  O senhor não tem parentesco com ninguém?- 
Jesuzinho apontava a garrafa de aguardente. Aquele era o seu parente por via do pai. Depois, se lembrava e apontava o crucifixo na parede.
–  Esse outro, ali na parede, é via da mãe.
De improvável a vida é uma goteira pingando ao avesso. Aos poucos, o goês deu sinais de maior desarranjo: as horas se perdiam dele. Funcionário do zelo, eterno cumpridor de regulamento, deixou de espremer o mata-borrão sobre os escritos de sua lavra. Saudades de um tempo em que o mundo era dócil, autenticável em 25 linhas?
Mas mesmo em suas inatitudes ele mantinha aprumo. Terças-feiras era dia de bebedeira, sua única combinação com o tempo. Ia para o bar, transitava lentamente para dentro do copo, espumava as agonias. Chegava tarde a casa, desalinhado mas sempre cuidando do fato branco. Se postava no canapé, acendia o cigarro que diria a falecida? e puxava o cinzeiro de pé alto, passando as mãos pelo ébano torneado. Trançava ainda o cabelo de Vitória? Depois, fazia estalar a unha nas unhas e chamava:
–  Piquinino: ande a desapertar a gravata .
O empregado acorria a lhe aliviar a garganta. Lhe despescoçava a camisa e entornava uns pós-de-talco sobre a camisola interior. Desfeito o nó e já ele estava disposto ao sono. Serviço do moço era ficar vigiando o descanso do patrão.
Aqueles sonos eram sobressalteados. Passava uma frestinha de tempo e o caneco gritava pela falecida. Sua mão trêmula apanhava o telefone, ligava para os céus.  Era então que estreiava a mais nobre função de Piquinino: fingir-se dela, imitar voz e suspiros da extinta.
–  Vucê qui está pagar chamada, Vitorinha. Aí, no céu, tudo sai mais barato.
O empregadinho se esforçava em aflautinar a voz, copiando os esganiços de Vitorinha. Acabadas as conversas, o empregado copiava os modos da antiga senhora e brilhantinava os cabelos do patrão, acertando a risca em diagonal no cabelo.
Todavia e à medida do tempo, o moço se foi tomando de terrores. Ele se interrogava: imitar mortos? Brincar assim com espíritos só podia trazer castigo. Foi consultar o pai, pedir vantagem de um conselho. O velhote concordou: deixe o homem, fuja disso. E foi desenrolando sabedorias: quantos lados tem a terra para o camaleão? Os mortos sabe-se lá para quem estão olhando? O outro mundo é muitíssimo infinito: não há falecido que não seja da nossa família.
E o miúdo regressou decidido a nunca mais se prestar a aparições. Terça-feira chegou e o patrão, nessa noite, não saiu a rondar os bares. Parecia abatido, doente. Ficou deitado no sofá da sala, olhando para muito nada. Chamou o empregadinho e lhe pediu que se transvestisse de Vitória. O miúdo nem respondeu. Surpreso, Jesuzinho ficou a papagaiar baixinho. E se passaram momentos. Até que o jovem serviçal percebeu que o patrão chorava. Se debruçou sobre ele e viu que ladainhava o mesmo de sempre:
–  Vitorinha!- 
O empregado ficou estático. O patrão que implorasse que ele não avançaria um pé. O caneco, afinal, estava bêbado. O hálito não deixava dúvidas. Mas como, se não lhe vira a beber? Tivesse ou não emborcado, o certo é que ele transbordava babas e suspiros. Estava nesse devaneio quando murmurou as mais estranhas palavras: queria encontrar a esposa já devidamente desunhado. Entregando o braço no colo do empregado, implorou: 
–  Me corte a unha, Piquinino!- 
No dia seguinte, encontraram o empregado, imóvel junto à poltrona do patrão. O que o moço falou foi para ninguém deitar crédito. O seguinte: mal começou a cortar o rente da unha, o patrão se desvaneceu, como fumo de incenso. E a unha está onde, pá? O miúdo debruçou-se sobre o soalho e levantou o que, por instante, pareceu ser uma desflorida pétala. Sorriu, lembrando o patrão. E exibiu a derradeira extremidade da sua humanidade.
Fonte:
Mia Couto. Contos do Nascer da Terra. Vol.1. Porto: CPAC, 1998.

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Arquivado em Moçambique, O Escritor com a Palavra

Graciliano Ramos (Caetés)

 Primeiro romance de Graciliano Ramos, Caetés dá a impressão, quanto ao estilo e análise, de deliberado preâmbulo; um exercício de técnica literária mediante o qual pôde aparelhar-se para os grandes livros posteriores. Publicado em pleno surto nordestino (1933), contrasta com os livros talentosos e apressados de então pelo cuidado da escrita e o equilíbrio do plano. Dá idéia de temporão, de livro nascido aos dez meses, espiritualmente vinculado ao galho já cedido do pós-naturalismo, cujo medíocre fastígio foi depois de Machado de Assis e antes de 1930. Nele, vemos aplicadas as melhores receitas da ficção realista tradicional, quer na estrutura literária, quer na concepção da vida.
 Graciliano foi mais regionalista – ou provincianista – neste romance.
 O título do livro, Caetés, é a aproximação que faz o Autor com selvagem caeté, devorando o Bispo Sardinha (1602-1656)) numa correspondência simbólica com a antropofagia de João Valério “devorando” Adrião, o rival.
 Neste romance, é forçosa a aproximação entre Graciliano Ramos e Eça de Queiros, nas notações irônicas sobre o meio provinciano de Palmeiras dos Índios, cidade alagoana da qual Graciliano foi prefeito.
Foco narrativo
 Narrado em primeira pessoa, por João Valério. 
Ação / Espaço
 A ação desenvolve-se em Palmeira dos Índios.
Temática
Caetés tem uma riqueza temática que poucos romances brasileiros de seu tempo têm. Note-se, nesse sentido, que a figura de João Valério representa a problematização, em alto grau de complexidade, do ambíguo papel do intelectual naquele momento em que o país passava por fortes transformações. Alguns críticos viram um sinal de grandeza de caráter nas inclinações intelectuais desse medíocre guarda-livros que colabora no jornal editado pelo padre da cidade e que durante cinco anos luta para concluir um romance sobre os índios caetés sem nunca conseguir sair do segundo capítulo.
Enredo
 João Valério, o personagem principal, introvertido e fantasioso, apaixona-se por Luisa, mulher de Adrião, dono da firma comercial, onde trabalha. O caso amoroso é denunciado por uma carta anônima, levando o marido traido ao suicídio. Arrependido, e arrefecidos os sentimentos, João Valério afasta-se de Luisa, continuando, porém como sócio da firma. O título do livro, Caetés, é a aproximação que faz o autor com selvagem caeté, devorando o Bispo Sardinha (1602-1656) numa correspondência simbólica com a antropofagia de João Valério “devorando” Adrião, o rival. João Valério, é ao mesmo tempo, homem e selvagem: “Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. É eu disse que não sabia o que se passava na alma de um caeté! Provavelmente o que se passa na minha com algumas diferenças.”
 A atmosfera geral do livro se liga também à lição pós-naturalista, onde encontramos a celebração dos aspectos mais banais e intencionalmente anti- heróicos do quotidiano. A intenção do autor parece ter sido horizontalizar ao máximo a vida dos personagens, as relações que mantém uns com os outros. Exceto o narrador, João Valério, os demais são delineados por meio de aspectos exteriores, em que se vão progressivamente revelando. O autor não apenas procura conhecê-los através do comportamento, como se revela amador pitoresco da morfologia corporal, definindo-lhe o modo de ser em ligação estreita às características somáticas: fisionomia, tiques, mãos, papada de um olho esbugalhado de outro, barbicha de um terceiro. Apresenta-os por esta edição de pequenos sinais externos, completando-os aos poucos no decorrer do livro, não sem alguma confusão, que requer esforço do leitor para identificar os nomes chamados à baila. E assim vemos de que modo a minúcia descritiva do naturalismo colide neste livro com uma qualidade que se tornará clara nas obras posteriores: a discrição e a tendência à elipse psicológica, cujo correlativo formal é a contenção e a síntese do estilo. “Com a pena irresoluta, muito tempo contemplei destroços flutuantes. Eu tinha confiado naquele naufrágio, idealizara um grande naufrágio cheio de adjetivos enérgicos, e por fim me aparecia um pequenino naufrágio inexpressivo, um naufrágio reles. E outro: dezoito linhas de letra espichada, com emendas.” A vocação para a brevidade e o essencial aparece aqui na busca do efeito máximo por meio dos recursos mínimos, que terá em São Bernardo a expressão mais alta. E se Caetés ainda não tem a sua prosa áspera, já possui sem dúvida a parcimônia de vocábulos, a brevidade dos períodos, devidos à busca do necessário, ao desencanto seco e humor algo cortante, que se reúnem para definir o perfil literário do autor.
Fonte:

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 562)

Uma Trova de Ademar  
O estupro é forma indevida 
de dar ou fazer amor… 
Ele transforma uma vida 
numa gestação de dor! 
ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional  
Beleza é ter a prudência 
de uma vida pura e calma, 
onde a nossa consciência 
não cria rugas na alma! 
–DILVA MORAES/RJ– 

Uma Trova Potiguar  
Jamais eu me recusei
a confessar meu pecado,
a vida toda eu amei,
jamais me senti amado.
–WELLINGTON FREITAS/RN– 

Uma Trova Premiada  
2012 > Concepción/CHILE 
Tema > IDENTIDADE > M/H 
Mesmo em trovas mais dispersas,
por laços universais,
identidades diversas
congregam sonhos iguais. 
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR– 

…E Suas Trovas Ficaram  
– Quem deve paga! – berrava 
Herodes com seu poder. 
Dias depois, se enganava: 
Jesus pagou sem dever! 
–RENÊ BITTENCOURT/RJ– 

Uma Poesia  
Essa saudade que sinto
parece espinho de palma,
de manhã me fura o peito
de tarde me tira a calma;
de noite é pelo encravado
coçando dentro da alma!!! 
–HÉLIO CRISANTO/RN– 

Soneto do Dia  

O Beijo de Jesus. 
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG– 
Eu era criança, mas já percebia, 
O pouco pão que havia em nossa mesa 
E a aparência acanhada da pobreza 
Que tinha a nossa casa tão vazia. 
De noite, antes do sono, uma certeza: 
A minha mãe rezava a Ave-Maria! 
E ao terminar a prece eu sempre via 
No seu olhar uma esperança acesa. 
Após a reza desligava a luz, 
Beijava o crucifixo, e a fé era tanta 
Que adormecia perto de Jesus. 
Depois que ela dormia (isso que encanta) 
Nosso Senhor descia ali da cruz 
Para beijar a sua face santa…

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João Anzanello Carrascoza (Apenas uma Ponte)

Ilustração: Milton Trajano
Chegara, enfim, o último dia de aula. Havia sido uma longa  trajetória até ali. Mas, agora, o professor observava com  ternura os alunos à sua frente, cada um voltado para seu  caderno, fazendo a lição que colocaria ponto final no ano  letivo. Então, agarrado à calmaria daquela hora, ele se  recordou do primeiro encontro com o grupo. Todos o miravam com  curiosidade, ansiosos por apanhar, como uma fruta, o  conhecimento que imaginavam lhe pertencia. Nem tinham idéia de  que aprenderiam por si mesmos, e que ele, mestre, não era a  árvore da sabedoria, mas apenas uma ponte que os levaria à sua  copa frondosa. Naquele dia, experimentara outra vez a emoção de  se deparar com uma nova turma, e o que o motivava a ensinar,  com tanta generosidade, era justamente o desafio de enfrentar  esse mistério. Sim, uma ponte. Uma ponte por onde transitassem os sonhos daquelas crianças, o movimento incessante de seus  desejos, o ir e vir de suas dúvidas, o vaivém do aprendizado em  constante algaravia. 
 Lembrou-se da dificuldade da Julinha nas operações de  multiplicar. O resultado correto era um território que ela nem  sempre conseguia atingir. Mas, agora, a garota estava lá,  segura da direção que deveria tomar. Ele fizera a ponte. O que  dizer da distância entre o José e o Augusto no início do ano,  ambos se temendo em silêncio, deixando de desfrutar da aventura  de uma grande amizade? Com paciência, ele os unira. Desde  então, não se desgrudavam. Podia vê-los dali, de sua mesa, um  ao lado do outro, concentrados em fazer a tarefa. Já a Maria  Sílvia, dona de uma letra redondinha, ainda há pouco lhe dera  um sorriso. Antes, contudo, vivia irritada, a letra sem apuro,  só garranchos. Fizera a ponte para ela. Mateus, à sua frente,  detestava Ciências e fugia das aulas no laboratório. Talvez porque só via dificuldade na travessia e não as maravilhas que o esperavam no outro extremo. O professor estendera-lhe a mão e o conduzira, até que, subitamente, ele se tornara o melhor aluno naquela matéria. Tinha também a Alessandra, tão silenciosa e tímida. Ia bem nos primeiros meses e, depois, o rendimento caíra. Ele descobrira que os pais dela viviam em conflito. Alertara-os para que dessem mais afeto à filha, e eis que ela florescera, voltando a ser uma boa aluna. 
 E lá estava, nas últimas fileiras, o Luís Fábio. Notara suas limitações e construíra uma ponte especial para ele, mas o menino não conseguira atravessá-la. Era assim: para alguns, bastavam uns passos; para outros, o percurso se encompridava. O professor suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das palavras de Guimarães Rosa: “Ensinar é, de repente, aprender”. 
 Sim, aprendera muito com seus alunos. Inclusive aprendera sobre si mesmo. Aquelas crianças haviam, igualmente, ligado pontos em sua vida. Agora, seguiriam novos rumos. Haveriam de encontrar outras pontes para superar os abismos do caminho. Ele permaneceria ali, pronto para levar uma nova classe até a outra margem. E o tempo, como um viaduto, haveria de conduzi-lo à emoção desse novo mistério.
Fonte:

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Josafá Sobreira da Silva (Desabafo…)

Josafá é do Rio de Janeiro
3.Lugar no Concurso de Poesia Carlos Cezar

A minha paz, a paz que eu tinha, onde transita?
 Quisera tê-la a consolar minha alma aflita!
 Quisera achá-la, uma vez mais, em meu viver!
 Já tive dias tão alegres… tão festivos…
 já fui, talvez, o mais feliz dos seres vivos…
 quando não tinha um só desgosto a me abater!
 A paz, saudosa de outras trilhas mais bonitas,
 em que eu sorria e até zombava das desditas,
 buscou, quem sabe, transitar nesses caminhos…
 E eu me entristeço, vendo a paz retroceder,
 porque sem paz, não há deleite nem prazer,
 já que, sem ela, todos nós somos sozinhos!
 Eu a imagino recolhida ao meu passado,
 por desajuste à minha inércia… ao meu enfado,
 em que envolvia grande parte dos meus dias…
 É que a violência tomou conta da cidade
 e me roubou a sensação de liberdade:
 eu tive medo até das minhas companhias!
 Ah! Se, de novo, eu caminhasse, como outrora,
 sobre uma estrada enluarada, a qualquer hora,
 sentindo a paz, que já fugiu de tantas vidas;
 sorvendo o aroma que trescala a flor noturna,
 sem exibir minha aparência taciturna,
 de mente enferma, a imaginar balas perdidas!…
 Ah! Se o Bom Deus me libertasse do meu mundo,
 onde, sem paz, o ser humano, moribundo,
 a cada dia mais se avilta e se desfaz!…
 Como seria bela e nobre a minha vida,
 se cada rua à paz servisse de avenida…
 se tão somente eu transitasse em plena paz…
 Por não ter paz, transito por caminho tenso
 e, a cada passo, desgostoso, eu me convenço
 que nunca mais verei meus dias mais risonhos!
 E, numa angústia que parece não ter fim,
 a paz que eu tinha até já trama contra mim,
 quando incendeia o lindo bosque dos meus sonhos!…

Fonte:
http://caeseubt.blogspot.com.br/

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Arquivado em poema., Rio de Janeiro

Januária Alves (Minha Chupeta Virou Estrela)

Ilustração por Ionit Zilberman
Eu me chamo Pedro e tenho 7 anos. Eu tenho uma estrela, sabe?
 Uma estrelona, linda, que está lá no céu, brilhando, todos os dias.
Quando eu tinha 3 anos, para salvar meu dente da frente que ficou mole porque eu caí de boca brincando na gangorra da escola, minha dentista me disse que… EU TERIA QUE PARAR DE USAR A MINHA QUERIDA CHUPETA VERDE!
 – A chupeta ou o dente! – ela me mandou escolher.
 Bom, eu nem quis ouvir direito essa proposta tão maluca! A doutora Virgínia e a minha mãe tentaram conversar comigo, explicar por que era importante eu não perder um dente tão cedo e… nada. Eu só olhava com o olho mais comprido do mundo para a chupeta verde, minha companheira do sono mais gostoso do mundo! Como dormir sem ela?
 Na primeira noite em que fiquei sem a minha querida chupeta, só lembro de sentir o cheiro da minha mãe, que me carregou no colo enquanto papai dirigia nosso carro, passeando em frente ao meu parque preferido pra ver se eu enfim conseguia pegar no sono…
 No dia seguinte fui com minha mãe e meu irmão ao parque e levei pão para dar aos patos que moram num lago bem bonito que tem lá. Um pato maior e mais cinza que os outros me chamou a atenção. Ele veio várias vezes comer pão na minha mão e eu gostei dele. Parecia o patinho feio da história que meu pai sempre contava antes de eu dormir.
 Mamãe chegou perto de nós e disse que aquele era mesmo um pato especial. Ele costumava tomar conta das chupetas de alguns meninos. E fazia isso muito bem: ele transformava todas em estrelas! Superlegal!
 Pus o nome naquele pato de Pato Pão. Eu não queria perder nem o meu dente nem a minha chupeta… Talvez o Pato Pão fosse a soluçãopara o meu problema! Então… resolvi dar a minha chupeta verde para ele. Ele pegou minha chupeta verde com o bico e atirou longe, no lago. Eu fiquei olhando para ela boiando, boiando… até desaparecer… Na hora de entregar a minha chupeta verde, mesmo para um pato tão especial como o Pato Pão, eu segurei bem forte a mão da minha mãe e a do meu irmão!
 Enquanto a minha chupeta verde ia embora no lago, pensei que naquela noite ela não ia estar embaixo do meu travesseiro. Eu teria que ir até a janela se quisesse dar uma espiada nela.
 Quando a noite apareceu, meu pai chegou do trabalho e se deitou na cama comigo, olhando pro céu, procurando a minha estrela-chupeta verde. Eu vi primeiro e nós dois batemos palmas pra ela! Aí eu só me lembro de adormecer com aquele brilho de estrela no meu olho e a sensação do abraço enorme do meu pai.
 Todas as vezes em que penso na minha chupeta, olho pro céu, procurando a estrela-chupeta verde. Agora, a saudade, em vez de crescer como eu, fica menor a cada noite. Deve ser porque meninos grandes gostam mais de estrelas no céu do que de chupetas, eu acho.

Fonte:
Revista Nova Escola

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Carlos Drummond de Andrade (A Menininha e o Gerente)

        – Não, paizinho, não! Quero ir com você!

        – Mas meu bem, não posso levar você lá. O lugar não  é  próprio. Não vou demorar nada, só dez minutos. Seja boazinha, fique me  esperando aqui.

        – Não, não!- a garotinha soluçava. Agarrou-se a  calça  do  pai como quem se agarra a uma prancha no mar. Ele insistia:

        – Que bobagem, uma  menina  de  sua  idade  fazendo  um  papelão desses.

        – Você não volta!

        – Volto, ora essa, juro que volto, meu amor.

        Prometendo, ele passeava  o  olhar  pela  rua,  impaciente.  Ela baixara a cabeça, chorando. Estavam diante  da  papelaria.  O  gerente assistia à cena. O homem aproximou-se dele:

        – Faz-me o obséquio de tomar conta de  minha  filha  por  alguns instantes? Vou a um lugar desagradável, não posso levá-la comigo.

        – Mas…

        – Quinze minutos no máximo. É ali adiante. Muito obrigado, bem?

        E sumiu. A garotinha continuava de olhos baixos, imóvel, o dorso da mão esquerda junto à boca. O gerente passou-lhe a mão nos cabelos, de leve.

        – Vem cá.

        Ela não se mexeu.

        – Como é que você se chama? Carmen? Luísa? Marlene?

        Como  não  respondesse,  o  gerente  foi  desfiando  nomes,  sem esperança de acertar. Mas ao dizer “Estela”,  a  cabecinha  moveu-se, confirmando.

        – Estela, você sabe que está com um vestido muito bonito?

        Estela tirou a mão dos olhos, examinou o próprio vestido e não disse nada.

        Mas o gelo fora rompido. Daí a pouco o  gerente  mostrava-lhe  a caixa registradora e autorizava-a a marcar uma venda de 200 cruzeiros.

        – Olha um gatinho. Ele mora aqui?

        – Mora.

        – E que é que ele come?

        – Papel.

        – Mentiroso!

        – Então pergunte a ele.

        O gato acordou, deixou-se afagar e tornou a  dormir,  desta  vez nos braços de Estela.

        O gerente olhou o relógio; tinham se passado quinze  minutos,  o homem não aparecia. “Bonito se ele não vier mais. Que vou fazer com esta garotinha, na hora de fechar?”

        Tentou lembrar o rosto do desconhecido; impossível.  Já  pensava em telefonar para a polícia, quando Estela o puxou pela perna:

        – Além da máquina e do gatinho, você não tem mais nada  para  me mostrar?

        Ele abarcou com a vista a loja  toda  e  sentiu-a  mal  sortida, pobre. “Eu devia ter aberto uma loja de  brinquedos,  pelo  menos  um bazar.” Experimentou com Estela o apontador de lápis, o grampeador. E  o homem não vinha. É, não vem mais. Estela andava de um lado  para  outro, dona do negócio. Ele, inquieto.

        – Não mexa nas gavetas, filhinha.

        – Não sou sua filhinha.

        – Desculpe.

        – Desculpo se você deixar eu abrir.

        – Então deixo.

        Dentro havia balões, estrelinhas, saldo do último Natal.  E  ele que não se lembrava daquilo. Estela riu de sua ignorância, e  o  homem não vinha. O movimento de fregueses declinava. Na calçada, as  filas  de lotação iam crescendo. Daí a pouco, a noite.

        Estela soprou um balão, outro, quis soprar dois ao mesmo  tempo. Um estourou. Ela assustou-se. Ele riu.

        “Se o homem não aparecesse mais, que bom! Aliás a cara dele  era de calhorda. Ainda bem que me escolheu.” Levaria  Estela  para  casa,  a mulher  não  ia  estranhar,  fariam  dela  uma  filha –  a  filha   que praticamente não tinham mais, pois casara e morava longe, no Peru. E  se o pai reclamasse depois? Ora, quem entrega sua filha a um estranho,  diz que vai demorar quinze minutos, passa uma hora e não volta,  merece  ter filha?

        O empregado arniava a cortina de aço quando  apareceram  duas pernas, um tronco inclinado, uma cabeça.

        – Dá licença? Demorei mais do que  pensava,  desculpe.  Muito obrigado ao senhor. Vamos, filhinha.

        O gerente virou o rosto, para não ver,  mas  chegou  até  ele  a despedida de Estela:

        – Até-logo, homem do balão!

        E a filha ficou mais longe ainda, no Peru.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

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Casa do Poeta de Canoas (Lançamento da V Coletânea)



CASA DO POETA DE CANOAS
Fones: (51) 3465.5837 – 9677.0157 – 8566.2463
www.casadospoetas.com.br       |       poeta@casadospoetas.com.br

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 561)

Uma Trova de Ademar 

O inverno transforma vidas 
e põe um verde lençol 
para cobrir as feridas 
das queimaduras do sol… 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional 

Desculpe, Amor, se me atraso 
na volta ao lar… Acontece 
que eu me perco, olhando o ocaso, 
enquanto o sol adormece!!! 
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ– 

Uma Trova Potiguar 

No instante em que o sol enfada 
de tanto aquecer a terra, 
deita a cabeça dourada 
no travesseiro da terra. 
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN– 

Uma Trova Premiada 

2006 > Balneário Camboriú/SC 
Tema > LUA > M/H 

Num arroubo apaixonado,
antes que a lua desponte,
o sol pinta de dourado
as paredes do horizonte…
–IZO GOLDMAN/SP– 

…E Suas Trovas Ficaram 

Entre o homem e a natureza, 
há contrastes sem medida: 
o pôr-do-sol – que beleza! 
Que tristeza o pôr-da-vida… 
–COLBERT RANGEL COELHO/MG– 

Uma Poesia 

Quando é noite, a lua cheia
vem surgindo no horizonte,
e logo depois que o sol 
se deita por trás do monte,
envolto nessa penumbra,
a minha alma se deslumbra
bebendo versos na fonte. 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Soneto do Dia 

Nós 
–GUILHERME DE ALMEIDA/SP– 

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos…

E que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
–” Como se amaram esses coitadinhos!
Como ela vai, como ele vai contente!”

E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos…

E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto…
Hão de falar os teus cabelos brancos… 

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José Feldman (Devaneios Poéticos n. 25)

Uma Trova de Saquarema/RJ

O pobre já não aguenta,
 porque sempre, na hora “H”,
 quando ele vem com a pimenta,
 ela esconde o vatapá.
 João Costa (RJ)

Uma Trova Ecológica de Maringá/PR

A natureza protesta
 sempre que alguém a maltrata.
 – Se matas uma floresta,
 vem o deserto e te mata!
 A. A. de Assis

Uma Trova de Porto Alegre/RS

Olhando o sol na vidraça
 e o balançar das palmeiras,
 invejo a aragem que passa,
 indo afagar as roseiras.
 Carmen Pio

Trova de Concurso 

1962 – I Jogos Florais de Juiz de Fora/MG
Tema: Criança

Num circo de pano roto,
 minha infância se escondeu.
 – Em todo circo há um garoto
 e esse garoto sou eu…
Denancy Mello Anomal (Campos/RJ)

Um Soneto Decassílabo Heróico

Rommel Werneck (São Paulo/SP)
Pálido Pecado

Oh! Pálido Pecado da gris Morte,
Numa misteriosa e bela dança!
O jogo dos olhares… Esperança!
O movimento quente, lindo e forte…

Oh! Pálido Pecado que em mim lança
Fascínio, sedução… Oh falsa sorte
Que me deixa sem luz, céu, vida e norte!
Maldita e imaculada! Triste dança!

Oh! Pálido Pecado… Juventude…
Dança, dança, divina grã-beleza!
Dança, dança, lasciva grã-pureza!

Dança sem fim, desejo atormentado…
Virtude escura… Pálido Pecado…
Oh! Pálido Pecado de virtude!

Um Poetrix 

mulher nua
João Pedro Wapler (RS) 

na ponta do barbante
a roupa se faz 
e depois morre no corpo de alguém.

(Fonte: GOMES, Goulart (org.). 501 Poetrix para ler antes do amanhecer. Lauro de Freitas, BA: Livro.com, 2011 

Uma Trova de São Paulo/SP

Ao vir “de fogo” recua
 gritando, após a topada:
 – Que faz um poste na rua
 às duas da madrugada?!
 Therezinha Dieguez Brisolla

Trovadores que Deixaram Seu Nome nas Páginas da História 

Por que é que vives, memória?
 Por que não passas também?
 Dás uma vida ilusória
 ao que já vida não tem.
 Filinto de Almeida [1857-1945] (Rio de Janeiro/RJ)

Francisco Filinto de Almeida, jornalista e poeta, nasceu no Porto, Portugal, em 4 de dezembro de 1857, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de janeiro de 1945. É o fundador da Cadeira nº. 3 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono Artur de Oliveira, de quem fora amigo e foi sucedido por Roberto Simonsen.

O pai faleceu pouco depois do nascimento de Filinto. Entrou para o Colégio Primário, no Porto, mas não chegou a concluir os estudos. 

Veio para o Brasil, na companhia de parentes pelo lado materno, que eram capitães de navios, com 10 anos, fixando-se no Rio de Janeiro a partir de 1868. Trabalhou como empregado numa papelaria. Não cursou qualquer estabelecimento de ensino. Entretanto, destacou-se no jornalismo e nas letras, por esforço e tenacidade singulares. 

Na mocidade, foi ensaiador de teatro e diretor de grupos amadores. Guardou até o fim o gosto pelo teatro e a mestria no dizer. Aos 19 anos, escreveu o entreato cômico Um idioma, representado em 1876, no Teatro Vaudeville. Em 1887, publicou Os mosquitos, monólogo cômico em versos e o primeiro livro de versos Lírica, composições de 1880 a 1887. 

Casou-se com a romancista Júlia Lopes de Almeida, em 28 de novembro de 1887, em Lisboa. Grande amigo de Valentim Magalhães, com ele colaborou no jornal literário A Semana, escrevendo, de 1885 a 1887, crônicas hebdomadárias e sonetos, com o pseudônimo de Filindal. No jornalismo usou também os pseudônimos Chico Férula, A., A. Bomtempo, A. Julinto (com Júlia Lopes de Almeida), Munícipe Urbano, João da Luz, Justo Leal. P. Talma e Zé Bananal. 

Filinto integrou-se como cidadão brasileiro, indo trabalhar como redator de A Província de São Paulo, depois transformada em O Estado de São Paulo, de 1889 a 1895. Foi deputado na Assembléia Legislativa de S. Paulo, de 1892 a 1897. Colaborou em A América (1879-1880), de que foi diretor, O Besouro (1878-1879), O Combate (1880), Folha Nova (1882), A Estação (1883), A Semana (1885-1887), O Mequetrefe (1886), todos do Rio de Janeiro; e no Diário de Santos (1898-1899) e A Comédia (1881), de São Paulo. 

Escreveu, em colaboração com a esposa, em folhetins do Jornal do Commercio, o romance A casa verde. Sua última obra é o livro Cantos e cantigas, publicado em 1915, que abrange as produções de 1887 a 1914. Na feição primitiva, era um lírico exclusivo. No segundo livro de poesias, revela progressos na forma e na inspiração. Firma-se como poeta parnasiano, expressando seus sentimentos e refletindo sobre o mundo exterior.

Um Soneto Alexandrino

Ciro de Verbena (Votorantim/SP)
Um Sonho de Ventura

Quem dera um dia houvesse um sonho de ventura
Feito em retalhos dos momentos mais felizes,
A proteger-nos na aflição da noite escura,
Sempre ocultando as nossas velhas cicatrizes…

E nesse sonho houvesse um mundo sem frescura;
Perdão divino as nossas falhas e deslizes,
Noites inteiras de paixão e de ternura,
Para esquecermos as lembranças infelizes!…

Talvez quem sabe o nosso sonho transformasse
Os bons momentos numa colcha de retalhos
Amenizando a fria dor da  realidade…

E cada lágrima rolada em nossa face
Se nos levasse pelas mãos por um atalho
Ao derradeiro encontro da felicidade!

Um Haikai 

Dissolve as estrelas 
uma luz no firmamento.
O sol da manhã.
Eliana Ruiz Jimenez (SC)

Outra Trova Ecológica de Maringá/PR

Embora nos cause mágoa,
 a lágrima é um grande bem.
 – Nada fazemos sem água,
 e é dela que tudo vem!
 Antonio Facci

Uma Fábula em Versos 

O Burro e os Donos
Jean La Fontaine (França) 

O burro de um hortelão
À Sorte se lamentava.
Dizendo que madrugava
Fosse qual fosse a estação,
Primeiro que os resplendores
Do sol trouxessem o dia.
«Os galos madrugadores –
O néscio burro dizia –
Mais cedo não abrem olho.
E porquê? Por ir à praça
C’uma carga de repolho,
Um feixe de aipo, ou labaça,
Alguns nabos e b’ringelas;
E por estas bagatelas
Me fazem perder o sono.»
A Sorte ouviu seu clamor,
E deu-lhe em breve outro dono,
Que era um rico surrador.
Eis de couros carregado,
Sofrendo um cruel fedor,
Já carpia ter deixado
O seu antigo senhor:
«Naquele tempo dourado –
Dizia – andava eu contente;
Cada vez que ia ao mercado
Botava à cangalha o dente,
Lá vinha a couve, a nabiça,
A chicarola, o folhado,
E outras castas de hortaliça;
Mas se hoje, fraco do peito,
O meu dente à carga deito,
Em vez da viçosa rama
Da celga, do grelo, ou nabo,
Só acho dura courama
Que fede mais que o diabo!»
Prestando às queixas do burro
A Sorte alguma atenção,
Lhe deu por novo patrão
Um carvoeiro casmurro.
Entrou em nova aflição
O desgostoso jumento.
Vendo faltar-lhe o sustento,
E em negro pó de carvão
Andando sempre afogado,
Tornou a carpir seu fado.
«Que tal! – diz a Sorte em fúria
– Este maldito sendeiro,
Com sua eterna lamúria,
Mais me cansa, mais me aflige
Que um avaro aventureiro
Quando fortunas me exige!
Pensa acaso este imprudente
Que só ele é desgraçado?
Por esse mundo espalhado
Não vê tanto descontente?
Já me cansa este marmanjo!
Quer que eu me ocupe somente
Em cuidar no seu arranjo?»
Foi justo da Sorte o enfado,
Que é propensão do vivente
Lamentar-se do presente,
E chorar pelo passado:
Que ninguém vive contente,
Seja qual for seu estado.

(Fonte: LA FONTAINE. Fábulas. SP: Martin Claret, 2005) 

Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ

Quando a injustiça se expande
 e usurpa do povo o ganho,
 país nenhum se faz grande,
 não importa o seu tamanho!…
 Edmar Japiassú Maia

Uma Poesia 

Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro) 
Tomara

Tomara
 Que você volte depressa
 Que você não se despeça
 Nunca mais do meu carinho
 E chore, se arrependa
 E pense muito
 Que é melhor se sofrer junto
 Que viver feliz sozinho

 Tomara 
 Que a tristeza te convença
 Que a saudade não compensa
 E que a ausência não dá paz
 E o verdadeiro amor de quem se ama
 Tece a mesma antiga trama
 Que não se desfaz

 E a coisa mais divina
 Que há no mundo
 É viver cada segundo
 Como nunca mais…

Uma Trova de São Paulo/SP

Não busco da vida o intento
senão de ser, todo dia,
feliz a cada momento
no meu ninho de poesia!
Jaime Pina da Silveira

Um Soneto 

Alma Welt (RS)
Anti-Soneto

Hoje decidi não escrever.
Sinto muito, não haverá soneto.
Não se trata de inspiração não ter,
Mas me faltou este quarteto.

O segundo me parece duvidoso:
É este que só quer aparecer.
Sem ter realmente o que dizer
Poderá criar um círculo vicioso.

Então me reduzi a um terceto:
O próximo, se este me resvale
E seja só um prólogo ou moteto.

Mas pensando bem, é melhor não:
Esta montanha é apenas o seu vale,
Ou uma torre que é só o rés do chão…

Cantinho do Izo Goldman 

Esta é uma que, felizmente não se perdeu. Clóvis Maia, num baile, à uma senhorita que trazia um “generoso” decote:

Este babado cercando
o teu decote rasgado,
deixa os barbados babando
prá babar no teu babado…

(Fonte: Curso de Trovas 1994 realizado por Izo Goldman no Instituto Cultural Israelita Brasileiro (SP)

Uma Trova de Niterói/RJ

Tanta ternura mostrando,
 teus olhos – juro por Deus –
 são mil promessas bailando
 na valsa do nosso adeus…
 Milton Nunes Loureiro

Versos de Chico Buarque de Hollanda (RJ)

Desencontro 

A sua lembrança me dói tanto
Eu canto pra ver
Se espanto esse mal
Mas só sei dizer
Um verso banal
Fala em você
Canta você
É sempre igual

Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
Jogado aos meus pés
E saudades fúteis
Saudades frágeis
Meros papéis

Não sei se você ainda é a mesma
Ou se cortou os cabelos
Rasgou o que é meu
Se ainda tem saudades
E sofre como eu
Ou tudo já passou
Já tem um novo amor
Já me esquece

Uma Poesia Boliviana

Francisco Azuela (LaPaz/Bolívia)
Estrangeiro um

Neste poema de mortos morreu teu pai
morreram teu avô,
tua semeada e se acabou a tarde numa mirada. 

 Morreu o amor de teus antepassados,
morreram teus pássaros
e despencou a estrela de tua frente
como um punhado de rosas enfermas.

 Morreu a tua vida,
pela segunda vez morreu tua pátria,
e ficaste olhando como um arco-iris.

 Queimaram-se as tuas árvores,
cordilheiras de pinheiros,
de ilusões.

 Rompeu-se o sangue em dois rios
e um esqueleto em teus olhos de neve
buscou tua gente.

 Os uivos silenciavam a noite,
lambiam as sombras
com um pavor no ventre desfeito ,
– quem ouvia o eco das montanhas,
o som das cotovias
e um movimento de gemidos
a quatro mil quilômetros de vida?

 Metidos na lama até ao pesadume
como loucos desviando o instante
quando no fundo vazio,
sem espelhos,
ninguém te aguarda,
uma mandrágora chupa sangue,
troços de terra.

Poesia de Cordel 

Antonio Alvares (São Bento do Sul/SC)
Navegando no Infinito Mar do Cordel 

Eu nasci lá no Nordeste,
 Faz tempo, vivo no Sul
 Me aposentei em Curitiba,
 Já morei em Caxias do Sul
 Agora, passando um tempo…
 Moro em São Bento do Sul.

 Mas daqui a pouco tempo,
 Devo voltar ao Paraná
 Podendo ser Ponta Grossa,
 Quem sabe, pode ser lá…
 Por vontade de uma filha,
 De Curitiba, não afastar!

 Cordelista, vou seguir
 Poeta, só por amar…
 A poesia de cordel,
 No sangue, costuma estar!
 De origem lá no Nordeste,
 E Portugal, lá no Leste,
 Sigo no mundo a viajar!

 Com caravela moderna,
 Nesse mundo a navegar…
 Pois tendo alma gaúcha,
 Um dia eu volto pra lá…
 E do Rio Grande do Sul,
 Para um Céu de cor azul,
 A última mudança… Quiçá!

 Modinha 

Desprezo as Ricas Salas
Autor Anônimo

I
 Desprezo as ricas salas,
 As festas que a praça tem;
 Só prezo o canto das aves,
 Só no ermo eu vivo bem…

 II
 A vida é um prêmio perdido,
 Como um barquinho sem vela.
 Eu sinto a cada momento,
 A cópia do rosto dela.

 III
 Mas se um dia, cansado
 Gelar-me o sopro da morte,
 Com meu olhar moribundo,
 Um triste adeus digo à sorte…

Extraída da série de modinhas anônimas publicadas em Modinhas do passado; investigações folclóricas e artísticas (Rio de Janeiro, 1956). 

Um Soneto da Espanha

Calderón de la Barca [1600-1681] (Madrid/Espanha)
A Noite
Esses lúcidos rasgos, essas velas
que cobram com amagos superiores
alimentos do sol em resplendores,
aquilo vivem que se sofre delas.

 Flores noturnas são: embora belas,
efêmeras, padecem seus ardores;
pois, se um dia é o século das flores,
uma noite é a idade das estrelas.

Dessa, pois, primavera fugitiva
já nosso mal, já nosso bem decorre;
registro é nosso, ou morra o sol ou viva.

Que duração, na senda que percorre
o homem, ou que mudança não deriva
de astro que a cada noite nasce e morre?

Cantigas Infantis 

A Margarida

Uma menina da saia larga e as outras pegando na barra do vestido dela, formando uma roda. Do lado de fora uma outra garota, volteando e cantando:

 Onde está a Margarida,
 Ô lê ô lê ô lá;
 Onde está a Margarida
 Ô lê, seus cavalheiros.

 Respondem as da roda:

 Ela está em seu castelo.
 Ô lê ô lê ô lá
 Ela está em seu castelo,
 Ô lê, seus cavalheiros.

 A menina do lado de fora:

 Mas eu queria vê-la.
 Ô lê ô lê ô lá;
 Mas eu queria vê-la,
 Ô lê, seus cavalheiros.

 A roda:

 Mas o muro é muito alto,
 Ô lê ô lê ô 1á
 Mas o muro é muito alto,
 Ô lê, seus cavalheiros.

 A menina de fora, da roda, tira uma outra e canta:

 Tirando uma pedra,
 Ô lê ô lê ô lá;
 Tirando uma pedra.
 Ô lê, seus cavalheiros.

 A roda:

 Uma pedra não faz falta
 Ô lê ô lê ô lá
 Uma pedra não faz falta.
 Ô lê, seus cavalheiros.

 A menina de fora tira uma por uma da roda, só deixando mesmo a Margarida. À medida que vão saindo, as que continuam na roda, cantam: Uma pedra não faz falta, duas pedras não faz falta, três pedras, etc. até sair a última. Nesta ocasião, cantam todas:

 Apareceu a Margarida
 Ô lê o lê ô lá
 Apareceu a Margarida
 Ô lê, seus cavalheiros.

 Se querem brincar de novo, repetem os mesmos versos.

Extraída de uma série de cantigas infantis, registradas por Veríssimo de Melo em Rondas infantis brasileiras (São Paulo, Departamento de Cultura, 1953). Disponívelem Jangada Brasil.

Uma Glosa 

de Gislaine Canales (SC) sobre Mote de Ademar Macedo (RN)

MOTE:

Se a inspiração me emitir
 todo dia, idéias novas
 brevemente irei abrir
 um Shopping Center de Trovas!
 (Ademar Macedo)

GLOSA:

 Se a inspiração me emitir
o que eu mais gosto de ter,
 eu vou, das musas, ouvir
 sobre o que, devo escrever!

 É bom ganhar de presente,
todo dia, idéias novas,
pois isso, faz bem à gente,
 nos lançando a belas provas!

 Não vou mesmo resistir…
 Sendo assim, então garanto,
brevemente irei abrir
um novo e belo recanto!

 Quero o seu consentimento:
 Diga, amigo, se me aprovas!
 Abrirei com sentimento,
um Shopping Center de Trovas!
(Gislaine Canales)

Fonte:
seleção por José Feldman

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Arquivado em devaneios poéticos, Paraná

Carlos Drummond de Andrade (Edifício Esplendor)

I

Na areia da praia
Oscar risca o projeto.
Salta o edifício
da areia da praia

No cimento, nem traço
da pena dos homens.
As famílias se fecham
em células estanques.

O elevador sem ternura
expele, absorve
num ranger monótono
substância humana.

Entretanto há muito
se acabaram os homens
ficaram apenas 
tristes moradores.

II

A vida secreta da chave.
Os corpos se unem e
bruscamente se separam.

O copo de uísque  e o blue
destilam ópios de emergência.
Há um retrato na parede,
um espinho no coração
uma fruta sobre  o piano
e um vento marítimo com cheiro 
de peixe, tristeza, viagens…
Era bom amar, desamar,
morder, uivar, desesperar
era bom mentir e sofrer
Que importa a chuva no mar?
a chuva no mundo? o fogo?
Os pés andando, que importa?
Os móveis riam, vinha a noite,
o mundo murchava e brotava
a cada espiral de abraço.

E vinha mesmo, sub-reptício,
em momentos de carne lassa,
certo remorso de Goiás.
Goiás, a extinta pureza…

O retrato cofiava o bigode.

III

Oh que saudades não tenho
de minha casa paterna.
Era lenta, calma, branca,
tinha vastos corredores
e nas suas trintas portas
trinta crioulas sorrindo,
talvez nuas, não me lembro.

E tinha também fantasmas,
mortos sem extrema-unção,
anjos da guarda, bodoques
e grandes tachos de doce
e grandes cismas de amor,
como depois descobrimos.

Chora, retrato, chora.
Vai crescer a tua barba
neste medonho edifício
de onde surge tua infância
como um copo de veneno.

IV

As complicadas instalações do gás,
úteis para suicídio,
o terraço onde as camisas tremem,
também convite à morte,
o pavor do caixão
em pé  no elevador,
O estupendo banheiro
de mil cores árabes,
onde o corpo esmorece
na lascívia frouxa
da dissolução prévia.
Ah, o corpo, meu corpo,
que será do corpo?
Meu único corpo,
aquele que eu fiz
de leite, de ar,
de água, de carne,
que eu vesti de negro,
de branco, de bege,
cobri com chapéu,
calcei com borracha,
cerquei de defesas,
embalei, tratei?
Meu coitado corpo
tão desamparado
entre nuvens, ventos,
neste aéreo living!

V

Os tapetes envelheciam
pisados por outros pés.

Do cassino subiam músicas
e até o rumor de fichas.

Nas cortinas, de madrugada,
a brisa pousava. Doce.

A vida jogada fora
voltava pelas janelas.

Meu pai, meu avô, Alberto…
Todos os mortos presentes.

Já não acendem a luz
com suas mãos entrevadas.

Fumar ou beber: proibido
Os mortos olham e calam-se.

O retrato descoloria-se,
era superfície neutra.

As dívidas amontoavam-se.
A chuva caiu vinte anos.

Surgiram costumes loucos
e mesmo outros sentimentos.

Que século, meu Deus! Diziam os ratos.
E começavam a roer o edifício.

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Arquivado em Minas Gerais, poema.

Clarice Lispector (Macacos)

Perto do Ano-Novo, a família ganhou um mico de presente. Era um macacão ainda não crescido, que não dava sossego a ninguém. A dona da casa-narradora estava exausta.

Uma amiga entendeu o sofrimento dela e chamou uns meninos do morro. Eles levaram o macaco.

Um ano depois, a narradora comprou uma macaquinha nas mãos de um vendedor em Copacabana. Era delicada e recebeu o nome de Lisette. Vestiram-na de mulher e ela encantava a todos.

Três dias depois, Lisette estava na área de serviço sendo admirada pela família. Ela encantava sobretudo pela doçura. Só que não era doçura, era a morte chegando. Levaram-na rapidamente para o veterinário, enfrentando um trânsito difícil. Ela estava tendo falta de oxigênio. Deixaram-na na clínica.

No dia seguinte, morreu. Uma semana depois, o filho mais velho disse para a mãe: “Você parece tanto com Lisette! ‘Eu também gosto de você’, respondi.”

Fonte:
LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina.

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Arquivado em A Escritora com a Palavra

Hermoclydes S. Franco (Trovas Premiadas em São Paulo)

Selo Pavilhão do Trovador Hermoclydes S. Franco
PAZ/1987             

O meu sonho é folha morta
                                     Que a ventania desfaz,
                                     No inverno, que desconforta,
                                     Das minhas noites sem paz!…

PORTO/1990        

Sou como um velho veleiro,
                                     Velas rotas, mastro torto,
                                     Que um destino aventureiro
                                     Não deixa parar no porto!…

MAR/1995            

Galera envolta em espumas,
                                      Navega a lua, no céu,
                                      Num mar de nuvens e brumas,
                                      Pescando estrelas ao léu!…

IDADE/1996         

O grau de felicidade
                                      Que tenho e me faz risonho,
                                      Resulta da minha idade
                                      Ter a idade do meu sonho!

SANTO/1996        

Não há na História senão
                                       Um poder discricionário
                                       Que prende quem rouba um pão
                                       E leva um santo ao Calvário!…

DÚVIDA/1998      

Vacila o meu coração,
                                       Na dúvida mais intensa,
                                       Entre seguir a razão
                                       Ou fazer o que êle pensa…

UM RÍTMO MUSICAL NA TROVA/1999

Um samba juntou-se, um dia,
A uma valsa de emoção…
Dessa união nasceria
O som do samba-canção!…         

CICATRIZ/2003      

O que dói em meu desgosto,
                                       Que me rouba a paz e a calma,
                                       Não são as marcas no rosto,
                                       São as cicatrizes na alma!…


PRATA/2003             

Das emoções a mais grata,
                                     Que vale por um tesouro,
                                     É ver coroada em prata
                                     Trajetória escrita em ouro!…

TRABALHO/2004     

Com talhadeira e martelo,
                                      Finas madeiras entalho…
                                      E esse trabalho é tão belo
                                      Que já nem sei se é trabalho!…

VIDA/2006          

Na vida, eterna procura,
                                     Buscando a felicidade.
                                     Faltou-me, sempre, em ventura
                                     O que sobrou em saudade! …

FESTA/2008       

Dupla festa preconizo
                                     Para as noites de luar:
                                     A festa do teu sorriso.
                                     Na festa do meu olhar!…

FEITIÇO/2010    

Noel, em tarde tranqüila,
                                      Compondo um samba sutil,
                                      Fez o “Feitiço da Vila”
                                      Enfeitiçar o Brasil!…

SAL / 2011         

Numa paixão imortal,
                                      Minhas tristezas eu venço,
                                      Beijando o sabor de sal
                                      Que deixaste no meu lenço!…

ROMANCE/2011 

Do antigo romance, instável,
                                      A minha lembrança traz
                                      Um número inumerável
                                      De calmas noites sem paz!…

PRANTO/2011   

No pranto em forma de riso,
                                      Disfarcei a minha dor…
                                      Mesmo à sombra de um sorriso,
                                      Cabe o ocaso de um amor!…


Fonte:
O autor

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Arquivado em Rio de Janeiro, Trovas

A. A. de Assis (Os Divulgadores da Trova)

Eles se lembram de todos, embora nem todos se lembram deles. 

Este espaço tem sido tradicionalmente utilizado para homenagear trovadores e trovadoras que se destacam não somente pela qualidade de sua produção literária, mas também pelo entusiasmo com que colaboram para o brilho e a expansão do movimento trovadoresco. 

Hoje, porém, queremos prestar uma homenagem diferente: não apenas a um determinado trovador, mas coletivamente a todos aqueles que, de muitas formas, ajudam a divulgar a trova por este mundo afora. Sem eles, de pouco adiantaria a gente criar belos versos. 

A trova só se realiza de fato a partir do momento em que ela chega ao leitor ou ouvinte e neles produz o efeito pretendido pelo autor. 

Através dos tradicionais boletins da UBT ou de outras publicações individuais promovidas por meio de sites, blogs, colunas de jornais e revistas, programas de rádio e televisão etc, dezenas de irmãos nossos aplicam boa parte do seu tempo pesquisando fontes várias a fim de colher o material a ser divulgado. A esses incansáveis apóstolos da trova todos nós devemos muito. 

Deveríamos, portanto, no mínimo, enviar de vez em quando para eles uma palavrinha de incentivo, um “oi” agradecendo a divulgação de nossas trovas, enfim um sinal de apreciação pelo generoso trabalho que realizam. (aaa)”

Fonte:
Mifori 

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Arquivado em Notas

Lino Mendes (Praça da Poesia) Moda de "saias"

Muitos saberão que a moda de “saias”, que são cantadas e bailadas ou só cantadas, com ou sem acompanhamento musical, são essencialmente cantadas a despique, entre homem e mulher ou entre mulheres, podendo eventualmente entrar na liça outro homem se em jogo está a conquista dessa mulher.
Ora, em 2004,solicitamos a um grupo de amigos que para o efeito  fizessem algumas “quadras”. E aqui deixamos algumas das que nos foram enviadas:

FERNANDO MÁXIMO (Avis)

Ela: 
Quando chegas sobe o sol ,
           quando te vais desce  a lua;
           se tu foras um lençol 
           eu dormia toda nua

Ele:     
Mas se eu fosse um lençol 
           branquinho como a geada, 
           tu,  sem teres um cachecol
           morrias   toda gelada

JOSÉ DA SILVA MÁXIMO (Santo Antº Areias)

             Ele:     
Menina que tens o curso
           responde ao fim e ao cabo:
           quantos pelos tem o urso
           sem contar com os do rabo

Ela:        
Os pelos que um urso tem
             estou certa e não me iludo:
             os mesmos que tu, também,
incluindo o rabo e tudo!

M. ROSA VICENTE BARRABÉ (Tramagal)

Ele:       
Contigo hei-de casar,
             preciso de cozinheira;
             ainda hei-de ser teu par,
             ser teu dono a vida a inteira

Ela:      
Lamento dizer que não ,
            faço-o de forma singela,
            sou bicho de estimação
            mas não sou de andar à trela

 GABRIEL RAMINHOS   (Reguengo da Monsaraz)

Ele:      
Minha linda alentejana,
            moreninha de encantar,
            meu coração não se engana…
          -eu só vivo pra te amar!

Ela:       
Deixa-te de brincadeiras; 
           de falar com fingimento. 
            Dizes gostar de trigueiras…
            Palavras leva-as o vento!

HIPÓLITA M.CHARNECA CARRIÇO (Évora)

Ele:      
Ó que menina tão linda 
            que me despertou paixão,
            posso ter esperança ainda 
            de me dares teu coração?

Ela:      
Meu coração já o dei ,
            já chegaste atrasado,
            infiel não serei,
            vai cantar pra outro lado

  MARIA ALBERTINA DORDIO  (Portalegre)

 Ele      
Uns vivem na abastança
             e outros pobres de mais; 
            para quê tanta riqueza, 
            se os homens são iguais?

  Ela      
Se os homens são iguais,
            têm igual merecer. 
            O que têm uns a mais, 
            falta a outros pra viver

FRANCISCO MATOS SERRA (Cabeço de Vide)

 Ele          
Sempre aqui encontrarás,
                se vieres a Montargil,
                muito amor justiça e paz
                num sonho feito de Abril.

Ela   
             Muito sincero e subtil…
Montargil sempre me apraz…
                 Aqui…o povo é gentil,
                 e, Abril não volta atrás.

 CELESTE M. DA SILVA AVÓ CHARNECA  (S. Miguel de Machede)

 Ele         
Vestidinho de chita verde, 
               nesta função se estreou,
               está bonito e bem talhado,
               minha bolsa é que o pagou.

Ela          
    Tua bolsa é que o pagou,
e já remédio não tem;
              tu deste-mo e eu aceitei,
               Deus pague a quem faz bem. 

Fonte:
Lino Mendes

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Folclore Brasileiro (O Papagaio Real)

Duas moças moravam juntas e eram irmãs, uma muito boa e outra maldizente e preguiçosa. Cada uma tinha seu quarto. A mais velha começou a notar um barulho de asa e depois fala de homem no quarto da irmã. Ficou desconfiada e foi olhar pelo buraco da fechadura. Viu uma bacia cheia d’água no meio do quarto. Quando deu meia-noite chegou na janela um papagaio enorme, muito bonito e voou para dentro, metendo-se na bacia, sacudindo-se todo, espalhando água para todos os lados. Cada gota d’água virava ouro, e o papagaio, quando saiu do banho, foi um príncipe mais formoso do mundo. Sentou-se ao lado da irmã e pegaram a conversar animados como noivos.
A irmã ficou roxa de inveja. No outro dia, de tarde, encheu o peitoril da janela de cacos de vidro, assim como a bacia. Nas horas da noite o papagaio chegou e, batendo no peitoril, cortou-se todo. Voou para a bacia e cortou-se ainda mais. Arrastando-se, o papagaio não virou príncipe, mas chegou até a janela e disse para a moça, que estava assombrada com o que sucedera:
— Ai, ingrata! Dobraste-me os encantos! Se me quiseres ver, só no reino de Acelóis.
E, batendo asas, desapareceu. A moça quase se acaba de chorar e de se lastimar. Brigou muito com a irmã e deixou a casa, procurando o noivo pelo mundo. Ia andando, empregando-se como criada nas casas só para perguntar onde ficava o reino de Acelóis. Ninguém sabia ensinar e a moça ia ficando desanimada.
Uma noite, depois de muito viajar, já cansada, ficou com medo dos animais ferozes e subiu em uma árvore, escondendo-se bem nas folhas. Estava amoquecada quando diversos bichos esquisitos chegaram para baixo do pé de pau e pegaram a conversar.
— De onde chegou você?
— Do reino da Lua!
— E você?
— O reino do Sol!
— E você?
— Do reino dos Ventos!
A moça prestou atenção. No primeiro cantar dos galos sumiram-se todos, e ela desceu e continuou a marcha. Andou, andou, até que chegou noutra mata e, para não ser devorada, trepou numa árvore. Lá em cima, quando a noite ficou bem fechada, chegaram umas vozes no pé do pau.
— De onde veio?
— Do reino da Estrela!
— De onde veio?
Do reino de Acelóis!
— Que novidades me traz?
— O príncipe está doente e ninguém sabe como tratar dele…
A moça botou reparo e na madrugada seguiu no mesmo rumo pois as vozes já tratavam do reino de Acelóis. Andou, andou, andou. Finalmente, quando anoiteceu, estava dentro de uma floresta. Subiu em um pau e ficou quieta, lá em cima. Mais tarde as vozes começaram na falaria:
— De onde vem você?
— Do reino de Acelóis!
— Como vai o príncipe?
— Vai mal, coitado, não tem remédio!
— Ora não tem! Tem! O remédio é ele beber três gotas de sangue do dedo mindinho de uma moça donzela que queria morrer por ele!
Quando amanheceu o dia, a moça tocou-se na estrada. Ia o sol se sumindo quando ela avistou o reinado de Acelóis. Entrou no reinado e pediu agasalho numa casa. Na hora da ceia perguntou o que havia e disseram que o assunto da terra era a doença do príncipe. A moça, no outro dia, mudou os trajes, foi ao palácio e pediu para falar com o rei.
— Rei Senhor! Atrevo-me a dizer que ponho o príncipe bonzinho se Rei Senhor me der, de tinta e papel, a metade do reinado e de tudo quanto lhe pertencer.
O rei deu, de tinta e papel, a metade de tudo que possuía. A moça foi para o quarto, meiou um copo d’água, furou o dedo mindinho, botou três gotas de sangue dentro, misturou e mandou ele beber. Assim que o príncipe engoliu, foi abrindo os olhos, levantando-se da cama e abraçando a moça, numa alegria por demais.
O rei ficou muito satisfeito e quando o príncipe disse que aquela era a sua verdadeira noiva desde o tempo em que ele estava encantado em um papagaio real, o rei não quis dar consentimento porque a moça não era princesa. A moça então falou:
— Rei Senhor! Tenho por tinta e papel a metade de tudo quanto é do rei senhor neste reinado. O príncipe é do rei senhor e eu tenho por minha a metade dele. Se rei senhor não quiser que eu case com ele inteiro, levarei para casa uma banda.
Ao ouvir falar em cortar o príncipe pelo meio, como a um porco, o rei chegou-se às boas e deu o consentimento. Foram três dias de festas e danças e até eu me meti no meio, trazendo uma latinha de doce, mas na ladeira do Encontrão, dei uma queda e ela, pafo! —no chão!…
Nota

É o Mt. 432 de Aarne-Thompson, The Prince as Bird. Os elementos, constantes da versão, são idênticos aos do resumo de Antti Aarne: — O príncipe com forma de pássaro voa para sua linda noiva, D 641.1; transformando-se, em sua presença, em homem, D 621, D 150; uma irmã cruel, S 31, coloca vidros, espinhos, facas e navalhas, na janela por onde o pássaro entrará, S 181; a moça segue seu noivo, H 1385.5, ouve casualmente vozes misteriosas (animais e feiticeiras), N 452; aprendendo o segredo do tratamento do noivo, tomando o caminho certo, tratando-o e curando-o. Aarne diz esse conto popular na Finlândia, Lapônia, Dinamarca, Noruega, Suécia, Sicília, Rússia, Grécia. Teófilo Braga registra uma versão do Algarve. A paraboinha de ouro, nº 31, idêntica em toda primeira parte; Adolfo Coelho traz uma variante de Ourilhe, Celorico de Basto, O príncipe das palmas verdes. uma versão do Chile, chamo-o El Príncipe Jalma. A versão brasileira de Sílvio Romero é O papagaio de limo verde. Versão no Pentamerone, II, 2. (1634)
(Cascudo, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. Belo Horizonte, Editora Itatiaia; São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1986 (Reconquista do Brasil, 2ª série, 96)

Fonte:

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Sarah de Oliveira Passarella (Maria Onete)

Sarah é de Campinas/SP
4o Lugar no Concurso de Poesias Carlos Cezar
Ilustração por Kathy Hare

Hoje eu quero mudar.
 Quero cortar os fios sutis
 que prendem-me os braços e as pernas.
 Não quero mais dançar
 no palco da vida, movendo-me
 conduzida por alheias mãos,
 levada por coloridos cordões.
 Não quero mais seguir a marcação dos gestos
 que levam-me em direção ambígua.
 Não quero mais ser fantoche,
 boneca vestida para encenar,
 marionete suspensa no palco da existência.

 Quero liberdade, andar com minhas próprias pernas.
 Limpar gavetas, queimar cartas antigas.
 Tirar o véu que cobre-me o rosto,
 olhar de frente o horizonte.
 Lançar fora, mandar embora
 o supérfluo, as mentiras, as metáforas.
 Com mãos frementes busco metas,
 desvio-me do vazio.
 Liberto-me dos conceitos, dos pré-conceitos
 do passado, arremessando-os aos léu.
 Rompo as gavinhas presas e expostas
 desarraigando as nódoas, as marcas n’alma,
 aquietando as emoções, as angústias,
 grito o grito bravio da liberdade.
 Quero andar só por caminhos que me competem.
 Não quero mais ser “Maria Onete”!

Fonte:

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Arquivado em campinas, poema., São Paulo

Heloísa Seixas (A Penitência das Flores)

Ontem, voltei a vê-lo. Elegante, como sempre, discreto em seu terno escuro, o colarinho branco impecavelmente limpo contrastando com a pele morena, a gravata-borboleta cor de sangue. Na cabeça pequena, os cabelos muito brancos, cortados baixinho. Nas mãos, morenas também e um tanto calosas, a cesta de flores. Não trazia rosas de várias cores dessa vez, apenas vermelhas. Cada uma delas envolta num pedaço de papel laminado, tendo junto ao cabo um raminho verde que me pareceu avenca.

O velhinho que vende flores.

Há muito não o via. Mas sempre que o encontro, devo confessar, renova-se o impacto. E dessa vez mais ainda porque ele estava diferente. Assim que entrou no restaurante, notei-o muito circunspecto, mais do que de hábito, e vi que trazia nos olhos escuros uma chispa de tristeza. Fiquei olhando-o, enquanto oferecia suas flores, na varanda do restaurante. Uma mesa ruidosa, onde oito pessoas pareciam celebrar alguma coisa, ocupou-se dele por uns instantes, as mulheres esticando os braços para tocar os botões, escolhendo os mais bonitos. Enquanto isso, o velhinho, que nessas horas costuma ser falante, estava mirando através do vidro da varanda, os olhos perdidos na noite.

Nesse instante, o garçom, meu conhecido – e que sabe do meu interesse por aquele vendedor de flores -, chegou a meu lado e disse:

– Está fazendo trinta anos hoje.

– É mesmo?

– É – respondeu o garçom, ele próprio um senhor, trabalhando naquele restaurante há mais de vinte anos.

– Como você sabe?

– Ele me disse, ontem. Às vezes conversa comigo. A senhora não notou como ele está estranho?

– É verdade – respondi, baixando a voz, porque o velhinho deixava a varanda e se aproximava de minha mesa. O garçom, discreto, se afastou.

Chegando junto a mim, o vendedor estendeu sua cesta, sem dizer palavra. Havia uma ponta de sorriso congelada em seu rosto, mas os olhos tinham um brilho insano.

Ele me olhou como se me varasse. E compreendi que o garçom dissera a verdade. A história, eu já conhecia. Só não sabia que, naquela data exatamente, fazia trinta anos que acontecera. Aquele velho, um homem bem-nascido, que tinha posses, um dia, por ciúmes, matara a mulher que amava. Fora preso, cumprira pena e, ao sair da prisão, tornara-se vendedor de flores. Assim, expiava seu pecado.

Tirei uma rosa da cesta e ergui, com uma mesura, como quem faz um brinde.

– Às flores – disse.

E ele sorriu. Em sua loucura, sabia, tanto quanto eu, que as flores eram sua penitência. E sua redenção.

Fonte:
SEIXAS, Heloísa. Contos mínimos. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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Arquivado em A Escritora com a Palavra, Rio de Janeiro

Esopo (Fábula 21) O Cão e a Ovelha

Uma vez, um cão processou uma ovelha por dívida e acordaram que os juízes da questão seriam um falcão e um lobo. Os dois juízes não levaram muito tempo a resolver o caso, decidindo a favor do cão. Imediatamente, este atirou-se à ovelha, estraçalhando-a e dividindo os pedaços com os dois juízes.

Moral da história

 Não interessa se a acusação é justa ou injusta quando o juíz e os jurados conspiram contra o acusado.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

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2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Estudos Linguísticos) Parte 5

2º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários 

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.
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Alexandre Sebastião Ferrari Soares
Roselene de Fatima Coito
O SUJEITO NA LÍNGUA E NA HISTÓRIA: DA QUESTÃO DA SUBJETIVAÇÃO
Este Simpósio em Análise de Discurso de orientação francesa será lugar de reflexão sobre as construções de sujeitos e identidades a partir de diversas materialidades. Para pensar este sujeito, pode-se partir dos estudos do filosofo e linguista Michel Pêcheux e do filosofo Michel Foucault. O primeiro enquanto forma-sujeito e, o segundo, enquanto subjetividades constituídas no campo do saber e nas instancias do poder. Enquanto forma-sujeito pensando o discurso em uma teoria da ideologia e em uma teoria do inconsciente e como tal uma teoria dos efeitos de sentido em um tecido histórico que constitui o próprio discurso, já que a ideologia e o inconsciente têm a capacidade de “dissimular em sua própria existência no interior de seu funcionamento produzindo um tecido de evidencias subjetivas”, conforme Pêcheux (1997). Por isso, a forma-sujeito teoriza o funcionamento imaginário da subjetividade, sem deixar de levar em consideração que sujeito e sentido são produzidos na história. 
Destas subjetividades, constituídas discursivamente, a construção das identidades em âmbito sócio-historico. Outrossim, pensar este sujeito constituído discursivamente no campo do saber e na instancia do poder em praticas discursivas que circulam em dadas sociedades de determinadas épocas, tendo em vista que “o novo não está no que é dito mas na volta do seu acontecimento”, segundo Foucault (1999). Diante destes dois olhares sobre a questão do sujeito do e no discurso, propomos a reflexão em torno de dois eixos fundamentais: no primeiro, pensar sobre as relações entre a memória e o discurso e a ausência e a presença, o silêncio e os dizeres quando a memória é considerada tanto falha da língua quanto do esquecimento necessário à constituição do efeito-sujeito; no segundo, como este sujeito discursivizado é subjetivado no saber e no poder. Diante destes dois eixos propostos, refletir sobre a noção de identidades latino-americanas na literatura, na mídia, enfim, em imagens que correm o mundo sobre o que é ser latino e, mais especificamente, ser brasileiro. 
Para tanto, as mais variadas “superfícies materiais” ou “lugares de inscrição do acontecimento” comportam, no dizer, a constituição destas subjetividades, que, na língua se materializam no discurso e na história, em práticas discursivas – estabilizadas ou não- que vão constituindo o saber, não necessariamente em uma linearidade de acontecimentos, mas no acontecimentos das suas discursividades. Então, pensamos nestas materialidades ou lugares de inscrição em suas relações diversas em um arquivo, não como um mero reflexo passivo de uma realidade institucional mas ordenado por sua abrangência social, já que o arquivo permite trazer á tona dispositivos e configurações significantes, tendo em vista que a Analise do Discurso passou do domínio doutrinário ou institucional para a história social dos textos, como preconiza Jacques Guilhaumou. Diante disso, propomos que a questão da subjetividade constituída discursivamente na forma-sujeito e no campo do saber e na instancia do poder, seja pensado na confrontação de series arquivistas, nos regimes múltiplos de produção, na circulação e na leitura, no que se refere ao gênero, à religião, à diversidade sexual, à etnia.
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Paulo de Tarso Galembeck
Isabel Cristina Cordeiro
O TEXTO ESCRITO E FALADO: ASPECTOS COGNITIVOS E SOCIOINTERACIONAIS
De acordo com a formulação mais recente, o texto constitui um evento comunicativo, no qual concorrem ações linguísticas, sociocognitivas e interacionais. Essa concepção coloca em realce a dimensão procedimental do texto e enfatiza: 
a) a atuação dos participantes do evento comunicativo e as ações (conscientes e finalisticamente orientadas) por eles executadas; 
b) a criação de representações, a partir do contexto sociocognitivo e ideacional partilhado pelos interlocutores; 
c) o estabelecimento do sentido textual, a partir das representações criadas e das ações executadas por interlocutores social e historicamente situados; 
d) a continuidade entre o texto e o contexto e entre os processos mentais e o mundo: o texto dialoga com o contexto e o sentido textual flui dessa relação. 
A partir das ideias anteriores, busca-se congregar trabalhos que considerem a dimensão sociocognitiva e interacional do texto, os processos de sua construção, a formulação do sentido e das representações e o papel do contexto nessa formulação e atuação consciente e deliberada dos interlocutores na consecução dos fins almejados e dos efeitos de sentido pretendidos. Serão consideradas, preferencialmente, propostas que digam respeito aos seguintes temas: 
a) papel dos elementos lexicogramaticais e dos procedimentos discursivos na construção do texto, na criação das representações e no estabelecimento do sentido; 
b) marcas de interação, de subjetividade e de intersubjetividade na construção do texto e no estabelecimento das relações entre os participantes; 
c) gêneros textuais: conceituação e dinamismo, de acordo com a perspectiva sociocognitiva e interacional; 
d) textos sincréticos: relação entre o verbal e outras linguagens e construção do sentido a partir do diálogo entre as várias linguagens; 
e) intertextualidade e polifonia na construção do texto, no estabelecimento do sentido textual e na criação do universo comum partilhado pelo interlocutores; 
f) pressuposição e outras relações implícitas presentes na construção do discurso; 
g) texto e contexto: coextensividade e relações mútuas; papel do contexto na criação das representações; 
h) texto e ensino: o aluno como produtor do sentido e das representações, a partir de sua competência textual e de seu conhecimento do mundo; 
i) recursos argumentativos na produção do texto e conseqüente orientação do leitor a determinados posicionamentos: convencimento, persuasão e recursos de envolvimento do ouvinte/leitor; 
j) texto e interação em diferentes situações de uso (escolar, profissional, institucional). 
Os temas apresentados correspondem a diferentes aspectos a partir dos quais pode ser considerado o texto enquanto evento sociocomunicativo e interacional, por isso poderá haver propostas que reúnam dois ou mais deles. Essas propostas, aliás, não constituem campos estanques ou exclusivos, mas constituem diferentes aspectos pelos quais pode ser considerado o fenômeno textual. Cabe esclarecer que abrangência dos temas corresponde diretamente aos diferentes aspectos a partir dos quais o texto pode ser enfocado, dentro da visão sociocognitiva e interacional. Por ess motivo, os trabalhos selecionados serão agrupados de acordo com as afinidades temáticas e/ou metodológicas e com a natureza do corpus da pesquisa. . O importante – reitere-se – será a possibilidade de apresentar um amplo painel dos estudos do texto: temas mais recorrentes, tipos e gêneros textuais que têm recebido maior atenção por parte dos pesquisadores e contribuições mais recentes no âmbito do estudo do texto e do discurso. Também se busca congregar pesquisadores de diferentes instituições, uma vez que, em nosso país, vários são os grupos que se dedicam ao estudo do texto.
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Elaine Cristina de Oliveira
Cristiane Carneiro Capristano
ORALIDADE, LETRAMENTO E SUAS RELAÇÕES
Pode-se afirmar que o interesse de linguistas, fonoaudiólogos e profissionais da educação em examinar fenômenos linguísticos relacionados à fala e à escrita com base em teorias linguísticas e/ou linguístico-discursivas não é recente. Esse interesse volta-se tanto para fenômenos linguísticos que se manifestam em contextos considerados como de normalidade, quanto para fenômenos que se manifestam em contextos considerados como patológicos. Uma parcela significativa desses profissionais compartilha a idéia de que os fatos linguísticos falados e escritos não devem ser compreendidos como restritos ao código (gráfico ou sonoro). 
Contrariamente, supõe que o funcionamento da fala e da escrita deve ser investigado no âmbito das praticais sociais da oralidade e do letramento, bem como no âmbito de suas relações. Ou seja, há, entre esses profissionais, um relativo consenso de que, para compreendermos, de fato, o funcionamento da fala e da escrita, é necessário nos interrogarmos, também, sobre as práticas sociais em que esses fatos linguísticos são engendrados. Esse relativo consenso tem possibilitado uma melhor compreensão da fala e, correlativamente, das práticas sociais orais, bem como da escrita e, também correlativamente, das práticas sociais letradas, assim como tem permitido investigar relações possíveis entre essas duas formas de enunciação. O presente simpósio tem como propósito constituir um lócus para a apresentação e discussão de pesquisas (concluídas ou em andamento) que elegeram fenômenos linguísticos do oral/falado e do letrado/escrito como campo de investigação e de atuação, bem como pesquisas voltadas para a reflexão sobre relações entre o oral/falado e o letrado/escrito. 
De forma mais específica, serão acolhidos trabalhos cujo propósito mais geral seja o de examinar e debater, a partir de diferentes perspectivas linguísticas ou linguístico-discursivas, temas relacionados, por exemplo: 
(a) à aquisição da linguagem em seu modo de enunciação falado, tanto aquisição normal quanto a aquisição desviante; 
(b) à aquisição da linguagem em seu modo de enunciação escrito, de sujeitos de diferentes níveis de escolaridade; 
(c) aos vínculos entre esses diferentes modos de enunciação na aquisição da linguagem; 
(d) à discussão sobre letramento e alfabetização; 
(e) à relação entre o falado e o escrito em diferentes contextos; 
(f) à emergência da escrita no contexto da tecnologia digital etc. 
Com este simpósio, almeja-se aprofundar e divulgar conhecimento científico sobre estudos que tratam da fala e da escrita como fenômenos intrinsecamente ligados a práticas sociais e permitir o estabelecimento de diálogos entre diferentes áreas da Linguística e da Linguística Aplicada com a Fonoaudiologia e a Pedagogia, na medida em que a compreensão de fenômenos do oral/falado e do letrado/escrito, bem como suas possíveis relações, estão entre as temáticas que preocupam investigadores desses diferentes campos de conhecimento. Almeja-se, igualmente, fornecer subsídios para o trabalho clínico e o educacional com a linguagem e fomentar o desenvolvimento de investigações sobre os fenômenos do oral/falado e do letrado/escrito em diferentes níveis da formação acadêmica.
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Fabiane Cristina Altino
Elvira Barbosa da Silva
PARA A HISTÓRIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ESTUDOS DIACRÔNICOS EM DEBATE
A pesquisa sobre a história do português brasileiro – PB, baseada em documentos escritos de diversas naturezas, vem ganhando corpo nas universidades brasileiras já faz algum tempo. O que antes era um território quase exclusivo da História, hoje é também uma área importante para a construção do passado da nossa língua. Pensando nisto, um grupo de pesquisadores no Brasil, inseridos no projeto interinstitucional Para a História do Português Brasileiro – PHPB, sob a coordenação do Dr. Ataliba Teixeira de Castilho, vem trabalhando para descrever e analizar o português brasileiro. 
O projeto Para a história do português paranaense: estudos diacrônicos de manuscritos dos séculos XVII a XIX – PHPP, projeto integrante do PHPB, que propõe a pesquisa sobre a história do português brasileiro baseada em documentos que foram escritos durante os séculos XVII, XVIII e metade do XIX, nas antigas vilas que hoje se constituem municípios do estado do Paraná, vem propor um espaço de reflexão sobre os dados diacrônicos do PB. Para o projeto PHPP é o estudo exaustivo de dados coletados, neste caso, através da escrita que fornece, além de uma visão panorâmica da língua, a possibilidade de fazer seu inventário e documentar o grau de aculturação presente na língua, quer seja no espaço geográfico quer seja no espaço social, de realizar o estudo da formação da língua e da sua história. 
Para chegar ao conhecimento do PB, segundo Mattos e Silva (2004), os estudos descritivos do português brasileiro devem perpassar 
(i) os estudos da dialetologia, com os atlas regionais e nacional; 
(ii) com o trabalho da dialetação vertical, conduzida pela Sociolinguística; e 
(iii) do “levantamento exaustivos de depoimentos diretos ou indiretos sobre todos os processos linguageiros havidos a partir do início da colonização”. 
Há, desta forma, um número incalculável de manuscritos, oficiais ou não, à espera de uma edição confiável e de estudos linguístico-filológicos, que possam complementar as pesquisas que hoje buscam lançar luzes à história do PB, registrando, descrevendo, analisando e comparando dados oriundos de um corpus diacrônico referente à documentação, em sua maioria, manuscrita produzida no Brasil. Para tanto, este Simpósio se increve como veiculador de estudos sobre a linguagem em seus diferentes aspectos do ponto de vista diacrônico, além de pesquisas que possam delinear a sócio-história do português, estudando a ocupação demográfica, a formação das variedades culta e popular. É objetivo a disseminação de trabalhos sobre a mudança gramatical e sobre o léxico do PB em suas alterações fonológicas, morfológicas e ortográficas, como também os estudos que possam contribuir para melhor compreensão das dificuldades de aprendizagem da língua materna. 
Deste modo, esta proposta de Simpósio pretende ser o espaço de discussão sobre os trabalhos de cunho diacrônico realizados atualmente, reunindo pesquisadores que se ocupam desta área de estudo para descrever e analisar a(s) norma(s) vigente(s) na época e, assim, contribuir para uma história do PB.
Fonte: 

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Arquivado em Simpósio, Universidade Estadual de Maringá

VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” (Prazo: 31 de Outubro)

Promoção: 
Academia de Letras de Maringá 
União Brasileira de Trovadores – Seção Maringá
Modalidades:

1 TROVA 
2 SONETO (decassílabo) 
3 POEMA LIVRE (máximo de 30 linhas) 
4 CRÔNICA (máximo de 30 linhas) 

Temas (não é necessário o uso da palavra-tema):
1. PREGUIÇA (para Trova Humorística)

2. LABOR (para Trova Lírica ou Filosófica e demais modalidades)

Prazo: 31 de outubro de 2012.

Endereço: Academia de Letras de Maringá – Av. XV de Novembro, 462, sala 105
                 Centro Empresarial Metrópole – Maringá – PR / CEP: 87013-230.

Normas:

1. Máximo 3 (três) trabalhos em cada modalidade. 

2. Trova: Sistema de envelopes. 

3. Demais modalidades: Papel A-4, em quatro vias, Times New Roman, corpo 12, usando pseudônimo. Anexar envelope menor (fechado) indicando externamente a modalidade, título e pseudônimo, e, internamente, identificação do concorrente: nome, endereço completo, telefone, assinatura e e-mail. 

4. Todos os textos devem ser inéditos e não poderão ser divulgados por quaisquer meios, total ou parcialmente, até a data da publicação do resultado da seleção. 

5. Os resultados serão divulgados, a partir do dia 20 de dezembro de 2012, no site da ALM: http://www.academiadeletrasdemaringa.com.br.

6. Premiação: 
Troféu e diploma para 10 (dez) vencedores na modalidade Trova lírica ou filosófica e 
05 (cinco) vencedores em cada uma das demais modalidades (Trova humorística, Soneto, Poema Livre e Crônica), em festa programada para junho de 2013. 

7. Os trabalhos premiados serão publicados em livro a ser editado pela Academia de Letras de Maringá e União Brasileira de Trovadores – Seção Maringá. 

8. Os autores dos trabalhos premiados autorizam sua publicação pelas entidades organizadoras, sem ônus de nenhuma espécie. 

9. As decisões das comissões julgadoras serão definitivas. 

10. A participação no concurso significa aceitação plena das normas aqui relacionadas. 

11. Não poderão participar do concurso os sócios efetivos da Academia de Letras de Maringá e da UBT – Maringá

Concurso paralelo:
– homenagem ao Jubileu de Ouro da Cocamar Cooperativa Agroindustrial

Tema: COOPERATIVISMO (para Trova L/F, Poema Livre e Crônica) – máximo 3 em cada  modalidade, valendo cognatos. Mesmo prazo e mesmo endereço dos demais temas. 
Serão premiados 3 trabalhos em cada modalidade.


P.S. – Para outras informações, contate Olga Agulhon ou Eliana Palma pelos e-mails:
olgaetoni@brturbo.com.br / mep@teracom.com.br

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Arquivado em Concurso Literário, Maringá

Eliana Ruiz Jimenez (Trova-Legenda: Contemplação)

Tristeza alguma dói tanto
quanto a tristeza dos sós…
– Ninguém lhes escuta o pranto,
ninguém lhes dirige a voz!…
A. A. de Assis – Maringá/PR

É de alguma estátua em prece
a silhueta que diviso:
à distância assim, parece
minha mãe no paraíso!
Adamo Pasquarelli – São José dos Campos/SP

Frente à imensidão do mar,
em completo alheamento,
ouço a brisa murmurar
palavras de encantamento!
Alberto Paco – Maringá/PR

Frente al mar te estoy pensando
que te regrese le pido,
sentada estoy recordando
lo que contigo he vivido.
Ángela Desirée Palacios – Venezuela

Praia, mar, o céu infindo
e a sonata das marés…
Neste cenário tão lindo,
eu tenho o mundo aos meus pés!…
Antonio Juraci Siqueira – Belém/PA

A solidão enlouquece,
põe a vida à revelia…
Então o mar escurece
e de tristeza esvazia.
Ari Santos de Campos – Itajaí/SC

Que faz, tão sozinha e triste,
essa moça olhando o mar?
– Decerto algum moço existe
com quem sonha navegar…
Bruno P. Torres – Niterói/RJ

Cai a tarde… a alma descansa,
vendo o mar de calmas águas…
– Ah! se essa maré, tão mansa,
pudesse lavar-me as mágoas!!!
Carolina Ramos – Santos/SP

Eu sou vizinha do mar,
não temo aquela amplidão;
sem poder me devastar,
me ondeia, com restrição.
Cida Vilhena – João Pessoa/PB

As matizes que me mostras
aos meus olhos trazem luz,
delas despejam amostras
que somente o amor traduz.
Cristina Cacossi

O passado e seus escombros
de preces que a Deus eu fiz;
Um vazio sobre os ombros
dos sonhos que Ele não quis.
Dáguima Verônica – Santa Juliana/MG

Tudo igual mas, diferente:
por mais que eu tente negar,
tua ausência , em meu presente,
faz diferente esse mar…
Darly O. Barros – São Paulo/SP

Praia…  Sentado na areia,
sem nuvens de tempestade,
enquanto a mente vagueia
alguém chora de saudade!
Diamantino Ferreira – Campos/RJ

A onda, infrene, agitada,
abaixa a crista e desmaia,
e em vinheta rendilhada,
beija as areias da praia.
Dorothy Jansson Moretti – Sorocaba/SP

Peço ao mar que não me esconda
em tamanha vastidão:
– Traga logo em sua onda
quem me cure a solidão.
Eliana Jimenez – Balneário Camboriú/SC

Águas de minhas lembranças
vêm e vão à beira mar…
São murmúrios de crianças
ou fragor de um badalar…
Fábio Siqueira do Amaral –  B.J.dos Perdões/SP

A aurora, rubra, se espraia,
e, amanhecendo, deslumbra;
joga o seu charme na praia,
com requintes de penumbra…
Flávio Stefani – Porto Alegre/RS

Quanto o mar mais belo fica
ao nascer o grande sol…
e a flor mulher se duplica
sob as cores do arrebol.
Francisco José Pessoa – Fortaleza/CE

Somente o mar é capaz,
numa beleza sem fim,
de encher minha alma de paz,
e essa paz transborda em mim!
Gislaine Canales – Balneário Camboriú/SC

Com uma enorme tristeza
que invade o meu coração,
eu contemplo a natureza,
fugindo da solidão.
Glória Tabet Marson – S. J. dos Campos/ SP

Os sentimentos do mar
as ondas cantam na areia,
afagando o firme olhar
da solitária sereia.
Haroldo Lyra – Fortaleza/CE

A sereia que amanhece
lá na praia, solitária,
faz lembrar, ao que parece,
nossa musa imaginária!…
Hermoclydes Siqueira Franco – Rio deJaneiro/ RJ

Nas praias da minha vida,
quando a solidão me ronda,
uma saudade atrevida
vem e vai, feito uma onda!
Héron Patrício – São Paulo/SP

Pensamento ao mar, areia,
tarde sonora, quimera…
em leves ondas vagueia
na solidão de uma espera!
João Batista Xavier Oliveira – Bauru/SP

Eu sou mais poeta quando,
no jogo de altas marés,
fico na praia esperando
que as ondas lavem meus pés.
José Lucas de Barros – Natal/RN

Cores de outono na tarde
tingem praias na maré;
águas se vão, sem alarde,
ao coração que o mar é.
José Marins – Curitiba/PR

El mar besaba la arena
y no me sentía sola
la sal llevaba mi pena
arrastrándome con su ola.
Libia Beatriz Carciofetti – Argentina

Enquanto o poeta ensaia
mil versos sobre a maré,
ondas se exibem na praia
com seu molhado balé.
Lóla Prata – Bragança Paulista/SP

Contemplando a imensidão
deste mar que me rodeia,
suponho que sou, então,
um pequeno grão de areia.
Marina Valente – Bragança Paulista/SP

Vai perdido o pensamento…
Vem o mar, na maré cheia,
apagar o movimento
dos pés deixados na areia…
Mário A. J. Zamataro – Curitiba/PR

Meditando frente ao mar
solidão invade a alma;
mas, o som do marulhar
me tranquiliza e me acalma!
Mifori –  São José dos Campos/SP

Que deslumbrante alvorada,
que mágico alvorecer…
E eu, nessa praia, encantada,
assistindo ao sol nascer… 
Myrthes Masiero – Atibaia/SP

A onda que vem se quebrando
e, sobre a areia se esvai.
Não me canso, te esperando,
nesta dor que não me sai.
Nadir Giovanelli – São José dos Campos /SP

Existe tanta beleza
e tal grandeza no mar,
que sinto na natureza
Deus presente a nos guiar!
Neiva de Souza Fernandes – Campos/RJ

Na solidão do meu eu,
fugindo da realidade,
meu pensamento varreu
da mente toda verdade!
Nemésio Prata – Fortaleza/CE

Na imensidão do universo
tenho, em minha pequenez,
toda a grandeza de um verso
de um poema que Deuz fez.
Olympio Coutinho – Belo Horizonte/MG

Nas mansas ondas da praia,
vagueia meu pensamento, 
e, nessas ondas, se espraia 
a lassidão do momento
Olga Maria Dias Ferreira – Pelotas/RS

O mar valente passeia,
mas sensato, se adelgaça,
e morre feliz na areia
beijando os pés de quem passa!
Prof. Garcia – Caicó/RN

Só… sentada olhando o mar 
sinto a triste solidão 
e a onda põe-se a chorar, 
em sua arrebentação.
Vanda Alves da Silva – Curitiba/PR

Praia tranquila, discreta…
Deus escuta, com certeza,
o silêncio do poeta
falando com a Natureza…
Vanda Fagundes Queiroz – Curitiba/PR

O mar, em doce balanço,
ondas de paz propicia:
junto aos seus pés em descanso,
inundado de harmonia.
Wagner Marques Lopes – Pedro Leopoldo/MG

O mar estende seus braços
para na praia grafar,
encantos que os nossos passos
apagam… sem decifrar.
Wandira Fagundes Queiroz – Curitiba/PR

Fonte:

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Esopo (Fábula 20: As Lebres e as Rãs)


Eram uma vez umas lebres que acharam que não estavam satisfeitas com as condições em que viviam e convocaram uma reunião para resolverem o problema. “Nós vivemos”, disse uma, “á mercê dos homens, dos cães, das águias e de toda a espécie de animais que nos dão caça. Estamos sempre com medo, constantemente em perigo, e acho que é melhor morrer, de uma vez para sempre, do que viver continuamente com medo, o qual é pior do que a própria morte.”

As outras lebres concordaram com a que falara, e decidiu-se que se afogariam todas. Correram ao rio mais próximo para realizarem o terrível acto. Quando alcançaram o rio, surpreenderam uma multidão de rãs, assustadas com a chegada das lebres, e que se tinham atirado à água por uma questão de segurança.

“Esperem!”, disse a mais esperta das lebres. “Temos de ser mais pacientes. A nossa vida não é tão má como nós imaginávamos; estas rãs têm tanto medo de nós como nós dos outros!”

Moral da história

 Dificilmente existe um estado de vida capaz de satisfazer a todos; de facto, poucas pessoas estão em tão más circunstâncias que não consigam encontrar ninguém ainda mais miserável do que elas.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 560)

Uma Trova de Ademar  

Numa audácia toda minha, 
perdidamente te amei. 
Fiz de ti minha rainha, 
mas não fiz de mim…Um Rei! 
–ADEMAR MACEDO/RN– 

Uma Trova Nacional  

Diz-me esta ruga esculpida, 
entalhe que o tempo fez, 
que a primavera da vida 
só nos floresce uma vez. 
–JAIME PINA DA SILVEIRA– 

Uma Trova Potiguar  

Se este mundo tão bisonho 
te nega paz e guarida, 
usa o refúgio do sonho, 
onde o amor sustenta vida. 
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN 

Uma Trova Premiada  

2006 > ATRN/Natal/RN 
Tema > TRABALHO > 5º Lugar. 

Da face do mundo inteiro 
tirei um saber profundo… 
É trabalho, e não dinheiro, 
a força que move o mundo! 
–LUCÍLIA DECARLI/PR– 

…E Suas Trovas Ficaram  

Eu chorei muito ao nascer. 
Todos riram no berçário. 
Espero, quando eu morrer, 
que seja tudo ao contrário! 
–RENÊ BITTENCOURT/RJ– 

Uma Poesia  

Quando a lua se declara 
para alguém que adora tanto, 
afasta da noite escura 
as amarguras do pranto; 
por ser bonita e divina, 
tem um noivo em cada esquina 
e um amante em todo canto. 
–PROF. GARCIA/RN– 

Soneto do Dia  

Toque de Silêncio 
–DIVENEI BOSELI/SP– 

Foi breve. Começou ao toque da alvorada, 
quando este coração, herói de outra trincheira, 
marchando de emoção entrou para a fileira 
e logo improvisou a frágil barricada. 

Foi lindo. Aconteceu da mística maneira 
bem própria da paixão: manteve mascarada 
a efêmera ilusão que envolve o tudo e o nada 
e nem sequer doeu ver baixas na bandeira… 

Foi tudo. Anoiteceu. Na última peleja, 
derrota o antigo herói quem não o mereceu 
e exibe o coração, sem honras, na bandeja… 

Foi triste. Terminou… No peito que era meu, 
aos toques do clarim, silente, não lateja: 
sepulto no silêncio, o coração morreu! 

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54º Prêmio Jabuti 2012 (Inscrições Abertas)

O valor oferecido aos laureados nas 29 categorias que compõem o prêmio aumentou neste ano para R$ 3,5 mil (em 2011 era de R$ 3 mil). 
Já os vencedores do Livro do Ano – Ficção e Livro do Ano – Não Ficção concorrerão, cada um, a R$ 35 mil (no lugar de R$ 30 mil).
Nesta edição, a escolha dos vencedores será feita por um júri formado por profissionais do mercado editorial escolhidos pelo recém-criado Conselho Curador do Prêmio. 
O novo colegiado, formado por profissionais da área de literatura e científica e especialistas em livro e leitura, também ficará responsável pelo acompanhamento de todas as etapas do prêmio, bem como pelo julgamento dos casos não contemplados pelo Regulamento. 
As inscrições estão abertas, e podem ser feitas pelo site http://www.premiojabuti.org.br até o dia 30 de junho.
Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

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Bienal do Livro de Minas (Programação de Sábado e Domingo)

CAFÉ LITERÁRIO
26/05 
 15h 
Contos e Crônicas
 Autores:  Humberto Werneck, Fabrício Corsaletti 
Mediador: Carlos Herculano
 Dois craques do conto e da crônica aqui se encontram para conversar com os leitores sobre esta arte mínima, crítica, sempre no limite do real. Criação, diversão, entretenimento…. o que são estes dois gêneros, afinal? Humberto Werneck encontrou no conto e na crônica o melhor de seu texto que situa-se no entroncamento entre a literatura e jornalismo. Fabrício Corsaletti traz consigo a marca da nova geração da crônica brasileira. 
26/05 
 19h30 
Corpo e Espírito
 Autores:  Waldemar Falcão, Patrícya Travassos 
Mediador:Malluh Praxedes
  Tendo a literatura como espinha dorsal, a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar, sentarão à mesa com o espiritismo, astrologia e estados alterados da consciência. Como os leitores vão encarar este desafio? 
27/05 
 16h 
Viagem
 Autor:  Amyr Klink 
Mediador: Afonso Borges
 Enfrentar as intempéries da natureza é, relativamente, simples. Autor de inúmeros livros sobre as viagens em alto mar até a invernagem na Antártica, este navegador encontra o maior desafio em terra: o correto planejamento, a busca de recursos para a concretização de seus sonhos. E a literatura? Como entra nisso?
TERRITÓRIO JOVEM
26/05 
 12h 
 Autor:  Pedro Bandeira 
Mediador: Jozane Faleiro
 Pedro Bandeira completa 80 anos de vida com quase 80 livros publicados. Já vendeu cerca de 23 milhões de livros. No Território Jovem, o maior experiente dos autores brasileiros falará para os seus jovens leitores. Um autor que já foi professor, ator, diretor, cenógrafo, jornalista e, desde 1983 encanta jovens de todo o país com suas encantadoras histórias. 
27/05 
 12h 
 Autor:  Maurício Kubrusly 
Mediador:Jozane Faleiro
  As viagens são verdadeiras descobertas. Mas como é viajar para uma cidade ou um país do mundo com uma pauta na agenda, um cinegrafista e todas as surpresas lhe esperando? Os desafios das entrevistas, o inesperado do lugar e a alegria de fazer disso uma reportagem bem feita e divertida são os assuntos que Maurício Kubrusly vai abordar neste “Território Jovem”. E depois de tudo, outro desafio: verter esta experiência para os livros.
LIVRO ENCENADO
26/05 
 18h 
Felicidade
 Autor:  Antonio Calloni 
 Leitura dramatizada de trechos selecionados de obras de importantes escritores brasileiros.
MUNDO DOS LIVROS
26/05 
 11h ; 12h30;14h
Aldeia de Histórias
 Autor:  Grupo Aldeia Teatro de Bonecos 
 Com bonecos, trecos e objetos, o espetáculo leva aos ouvintes, brincadeiras de faz de conta, parlendas, quadrinhas e histórias mágicas. 
26/05 
 15h ;16h
Histórias da Arca
 Autor:  Caravana Poética na voz e violão de Ana Cristina 
 Um roteiro singelo e divertido envolvente aos adultos, que foram embalados ao som da Arca de Noé, e hipnotizando os pequenos novos ouvintes. 
26/05 
 19h 
Vida de Viajante
 Autor:  Aline Cântia e Chico do Céu com a participação de Carlinhos Ferreira 
 O espetáculo propõe um passeio narrativo e musical pelo Brasil a partir da vida e obra do compositor Luiz Gonzaga 
27/05 
 10h ; 11h ; 12h30 ; 15h ; 16h
Histórias da Arca
 Autor:  Caravana Poética na voz e violão de Ana Cristina 
 Um roteiro singelo e divertido envolvente aos adultos, que foram embalados ao som da Arca de Noé, e hipnotizando os pequenos novos ouvintes. 
Fonte:

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