Arquivo do mês: agosto 2013

A. A. de Assis (Revista Virtual Trovia – n. 165 – setembro de 2013)


            Eu amo a vida, querida,        
com todo o mal que ela tem,
só pelo bem – que há na vida,
de se poder querer bem.
Anis Murad
 

És rico… Mas que tristeza,
  tens vazio o coração… 
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.
Jesy Barbosa

Tua visão permanece
no meu olhar. Não fugiu.
O lago nunca se esquece
da estrela que refletiu.
Raul Serrano

Não me chames de senhor
que não sou tão velho assim,
e ao teu lado, meu amor,
não sou senhor… nem de mim!
Rodrigues Crespo
 

Foi um choque e muita mágoa
para quem acreditou:
a tua barriga d’água
com nove meses chorou…
Edmar Japiassu Maia – RJ

– Não tem perigo, mãezinha,
meu noivo é como um bebê…
– Eu acredito, filhinha:
eu não confio é em você!
Heloisa Zanconatto – MG

Sai do bar – e já sem prumo –
tropeçando, cuca em brasa,
pergunta, todo sem-rumo:
– “Onde mora a minha casa?”
Héron Patrício – SP

Da sua casa ao cartório
apenas um quarteirão…
Dada a preguiça, o casório
se fez por procuração.
Lucília Decarli – PR

Um sujeito extravagante
com “cc” meio bodoso
bebia desodorante
para suar mais cheiroso…
Maria Nascimento – RJ

Olhando o escorregador,
palco da infância sem pressa,
filosofa o trovador:
 – Os anos passam depressa!
Olympio Coutinho – MG

Na cozinha, quebra o galho,
mas é tão lerda e pateta
que para poupar trabalho
em vez de “torta” faz reta!
Regiane Ornellas – SP
 
Contra a vontade do amado,
nada faça… e se conforme.
Dizia o velho ditado:
“Quando um não quer… o outro dorme”.
Renata Paccola – SP

Se a justiça, um dia, enfim,
a todos der vez e voz,
Deus dirá  que agora, sim,
mora no meio de nós!
A. A. de Assis – PR

Xadrez? Tenha paciência!…
Amor, não quero jogar;
opto pela transparência
que brilha no teu olhar.
Agostinho Rodrigues – RJ

Vamos viver com prazer;
seja qual for nossa idade,
e os dois juntinhos, correr
atrás da felicidade!
Alberto Paco – PR

Do tempo em que tu me amavas
guardo a doçura que vinha
nas uvas que tu passavas
da tua boca pra minha.
Almerinda Liporage – RJ

Enviei aos céus um recado,
Deus não viu o meu apelo.
Porém, se O tenho a meu lado,
para que preciso vê-lo ?
Almir Pinto de Azevedo – RJ

A vida é um laço apertado
que nos tortura sem dó;
e quanto mais amarrado,
mais atado fica o nó!
A.M.A. Sardenberg – RJ

A natureza agredida
não se defende nem xinga,
mas no decorrer da vida
cedo ou tarde, ela se vinga.
Amilton Maciel – SP

Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
poesia em mim fez pousada,
sem ter qualquer leviandade.
Andréa Motta – PR

La medianoche ha llegado
pero no llegas con ella,
pasa el tiempo despiadado
dejando en mi alma honda huella.
Ángela Desirée – Venezuela

Estando nos braços teus,
vítima da ingenuidade,
não lembrei que existe adeus,
vivo agora na saudade!
Ângela Stefanelli – RJ

Felicidade – brinquedo
que todos querem, porém,
se para alguns chega cedo,
para outros tarda ou não vem…
Antonio Juraci Siqueira – PA

Na feirinha da amizade,
de produtos desiguais,
a cebola da saudade
já me fez chorar demais.
Carolina Ramos – SP

No contorno do teu rosto
– flor em forma de buquê –
vejo que tenho bom gosto
de ser louco por você
Clênio Borges – RS

No colo a filha do filho
pela avó é acalentada,
qual noite sem luz e brilho
embalando a madrugada.
Conceição Assis – MG

Pra que possa haver perdão,
estenda a mão o ofensor
ao ofendido – e do irmão
cure a dor com muito amor.
Cônego Telles – PR
 
Los Mandamientos Sagrados
confirman con su nirvana
que a ti estarán hilvanados
para salvarte mañana…
Cristina Oliveira Chávez – EUA

Enquanto me redesenho,
faço o esboço do passado:
quero ver o que mantenho
pra deixar como legado.
Dáguima Verônica – MG

Tinha portas de poesia
e janelas de luar
essa morada que um dia
deixou meu amor entrar.
Delcy Canalles – RS

Ser feliz é ser poeta;
mais feliz, só trovador:
ambos, sendo um só esteta,
dizem tudo com amor!
Diamantino Ferreira – RJ

Deprimida, com saudade,
por saber que foste embora,
só me restou a vontade
de eu mesma jogar-me fora…
Djalda Winter Santos – RJ

Com as “notas” da alegria,
ou “dissonância” sofrida,
Deus compõe a melodia
da partitura da vida.
Domitilla Borges Beltrame – SP
 
É símbolo de confiança
e a tensão nos descontrai
a mãozinha da criança
aninhada à mão do pai.
Dorothy Jansson Moretti – SP

Cada qual com seu quinhão
de tristeza ou de alegria:
bem viver é aceitação
da jornada, a cada dia.
Eliana Jimenez – SC

A mão que vai e que vem,
lenta e triste, num aceno,
pertence ao braço de alguém
que ama e perde, mas sereno.
Eliana Palma – PR

Tenho saudades de mim,
saudades, e eu sei por quê…
do tempo em que fui, enfim,
muito feliz com você!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

As pedras do meu caminho
vou transpondo-as com ardor,
e cada dia um trechinho
vira caminho de amor.
Flávio Stefani – RS

A natureza resiste,
mas a tristeza do monte
é enxugar o pranto triste
dos olhos tristes da fonte.
Francisco Garcia – RN

Todo coração ferido
mostra sua cicatriz…
O sentir sem ser sentido,
o sorrir sem ser feliz!
Francisco Pessoa – CE

Para abrandar desatinos
e a violência dos marmanjos,
Deus põe em nossos meninos
a inocência dos seus anjos!
Gabriel Bicalho – MG

Se o tempo voltasse atrás
e eu soubesse a minha sina
de certeza era capaz
de ficar sempre menina!
Gisela Sinfrónio – Portugal

Vivemos juntos, mas sós.
Nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
Gislaine Canales – SC

Um sorriso, uma indulgência,
um gesto ingênuo de adeus…
Por onde houver inocência
há um pedacinho de Deus…
J.B. Xavier – SP

Que tu estejas presente,
junto a mim, é o que desejo,
inda que seja somente
o tempo exato de um beijo.
Jeanette De Cnop – PR

Dei a ti meu coração,
muito te amei e te quis.
Se tudo foi ilusão,
não importa, fui feliz!…
João Costa – RJ

Deu-me a sorte com descaso,
no banquete deste mundo,
alegria em prato raso
e tristeza em prato fundo…
José Fabiano – MG

Ontem plantaste uma flor
na rocha da solidão.
Hoje dou-te com amor
um postal do coração.
José Feldman – PR

Se a saudade me machuca,
Longe da terra querida,
Eu tenho a impressão maluca
De estar distante da vida!
José Lucas de Barros – RN

Como a chuva à plantação,
brincar faz bem ao casal;
entre os bens do coração,
o riso é dom conjugal.
José Marins – PR

O tempo passa depressa
mas, quem diz que eu envelheço?
– cada olhar é uma promessa!
– cada espera… um recomeço!
José Ouverney – SP

Nesta terra, qual tesouro
nos traz só felicidade?
– Não é fama, não é ouro…
É paz, saúde, amizade!
Laérson Quaresma – SP

Benditas fotografias,
que contam fatos passados,
retalhos de alegres dias,
pelo tempo,  costurados!
Lisete Johnson – RS

Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
Luiz Carlos Abritta – MG

À medida que envelheço
mais me dói e sem clemência
o que nunca mais esqueço:
presença da tua ausência.
Manoel F. Menendez – SP

Muito pouco foi preciso
para em Deus acreditar.
No encanto do teu sorriso
eu vejo o céu se espelhar.
Mª Luíza Walendowsky – SC

Existe muita tristeza
que ao rosto jamais aflora,
guardada na profundeza
dos olhos de quem não chora.
Mª Thereza Cavalheiro – SP

A força de uma palavra
semeia uma flor em mim;
palavra, essa pá que lavra
poemas no meu jardim!
Mário Zamataro – PR

Toda trova sintetiza
o que pensa o seu autor;
e, nos versos, simboliza
seus sentimentos de amor!
Maurício Friedrich – PR

Cascatas de paz eleitas
cultivadas no jardim
são rosas brancas perfeitas
que despetalam assim…
Mifori – SP

Revendo porta-retratos,
que o tempo guarda, sem fim,
vejo, nos tempos exatos,
cada pedaço de mim.
Nei Garcez – PR

Tua amizade eu guardei
com muito amor e afeição.
Quando de ti precisei,
fui buscar no coração.
Neiva Fernandes – RJ

No colo do solo bruto,
se a semente é bem tratada,
por prêmio colhe-se o fruto
da esperança ali plantada.
Olga Agulhon – PR

O sonho, eterna magia,
ao retratar o passado,
mostra a doce fantasia
de estar, ainda, a teu lado.
Olga Maria Ferreira – RS

O amor é muito exigente,
jamais tira férias não…
Dia e noite pede à gente
que aos irmãos estenda a mão.
Osvaldo Reis – PR

De que vale o estardalhaço
de quem grita que é cristão,
quando a Bíblia, sob o braço,
não está no coração?
Pedro Melo – SP

O mestre faz da alma um templo
para ouvir nossa oração
e nos mostra que é o exemplo
que ensina qualquer lição!
Renato Alves – RJ

O meu prazer se renova
e a minha alma se extasia
ao perceber numa trova
um canteiro de poesia!
Roza de Oliveira – PR

Ante o terror das queimadas
na floresta, com carinho,
as árvores abraçadas
tentam proteger os ninhos.
Ruth Farah – RJ

Tu lês os versos que eu faço,
e nem sequer adivinhas
o segredo que eu te passo
no espaço das entrelinhas…
Selma Patti Spinelli – SP

Pediste: “Espere, querida”,
no  cartãozinho assinado…
E eu fiquei, por toda a vida,
refém de um simples recado!
Thereza Costa Val – MG

Eu olho a rua e, se o vejo,
a razão já sai de perto.
Fecho a janela… e o desejo
esquece o cadeado aberto!
Therezinha Brisolla – SP

Em meus tempos de criança,
pelas poças, num tropel,
lançava minha esperança,
em barquinhos de papel…
Vanda Alves da Silva – PR

Mesmo em trovas mais dispersas,
por laços universais,
identidades diversas
congregam sonhos iguais.
Wandira F. Queiroz – PR

Assim como a vida soube,
sem dó, romper nossos laços,
a saudade também coube
nos meus braços sem abraços.
Walneide F. Guedes – PR

Minha insensata paixão
passou – transpondo barreiras –
das fronteiras da ilusão
para a ilusão sem fronteiras…
Wanda Mourthé – MG

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Luiz Eduardo Caminha (Poemas Escolhidos)

VELEJADOR

Um barco.
Uma vela (branca).
Uma aragem.
Oceano.

Lá se vai,
o poeta velejador!

Um lápis.
Uma folha (em branco).
Um sopro.
Pensamento.

Lá se vai,
velejando o poeta!

Mar.
Vela.
Folha.
Versos.
Tudo se lhe assemelha!

Um remo.
Um lápis.
Um, quase nada.
Outro, quase tudo.

OUTONO

O compasso da vida
Me abre os olhos,
A bruma cobre,
Densa, silente,
O leito do rio,
A roupagem da mata.

A brisa fresca da manhã,
Faz a pele aquecida,
Contrastar com a natureza,
O calor do corpo, da noite.

A vida,
Parte deste ar outonal,
Desperta alegre,
Aos primeiros raios,
Do astro rei.

Num cochilo do tempo,
De repente,
Como se um hiato houvesse,
A névoa some,
A mata descortina seu verde,
É manhã.

O céu azul límpido,
Perpassa à bicharada,
A onda cálida,
Do novo dia.

A sinfônica dos pássaros,
A voz dos bichos,
A melodia das águas,
Serpenteando a corrida do rio,
Misturam-se ao som,
Barulho da cidade.

O tempo passa,
A tribo humana,
Segue seu passo.
A natureza aguarda,
Como mágica,
A volta do crepúsculo,
O sumir do novo dia.

AMIZADE

Uma estrada que acaba,
Num ponto do horizonte.
Um cais que finda, no infinito
Que é mar,
Um feixe doirado refletido. Do sol.
No oceano sem fim,
Uma canoa, um pescador. Solitários,
Solidários navegam.

Como guia o feixe prateado.
Da lua,
O luar.

Tudo, tudo é infinitude,
Tudo, tudo leva. (Todos).
A algum ponto. Distante.
Horizonte de esperança.

Um fio, como se fosse de espada,
Conduz, passo a passo.
Qual equilibrista,
Na corda de arame.

Certeza mesmo, uma só.
Haverá lá no fim,
Alguém.
Um amigo,
Um abraço,
Um ombro,
Um teto a nos colher.

Amizade.
Um meio?

Um fim.

NATL MENDIGO

Natal lembra um novo rebento,
Esperança que o mendigo sente
Triste alegria que se faz semente
Fé convertida, novo advento.

Natal estrela que lhe alumia
Por mais que lhe sofra a dor parida
Molhe o rosto a lágrima furtiva.
É menino, caminho que nos guia.

Natal é partilha do pão dormido
Que aplaca a fome do desvalido.
É felicidade quase certa.

Até que soe o sino da manhã,
Que volva mendaz a esperança vã.
Sonho vai. O mendigo desperta.

RAÍZES

Que seja ela,
A poesia,
Firme como a árvore.
Embora estática
Finca raízes,
Suga da terra…

E mostra, um dia
Nas folhas e frutos,
A razão que a move.

Que exprima ela,
A poesia,
Como a árvore,
Da seiva, o fruto.
Rabiscos de letras,
Amores e paixões,
No leito virgem, papel,
O seu doce cantar.

Sobretudo,
Que seja ela,
A poesia,
Como a água
Que se move
Corredeira abaixo.
Busca mar oceano,
Onde singram velas,
Horizontes sem fim…

FONTES

Lua cheia,
Estrelas que faíscam,

Sol nascente,
Poente eterno,

Fontes inspiram,
Respiram,
Poesias.

SONHOS

Estás louco poeta?
Queres tu imaginar,
Que o imponderável
Acontece?

Sonha, sonha, oh! Poeta.
Ainda bem que dormes,
Melhor: existes.

E sonhas…
Poesias!

PRENÚNCIO DE VERÃO
Que os ventos de Agosto,
Tão frios cá no Sul,
Tragam breve, a gosto,
O céu de Primavera, azul.

Pássaros a cantar,
Ninhos a fazer, então,
Amores a desbravar,
Prenúncio de verão.

POEMÍNIMO


no
sul
é

frio
que

quiçá
saudade
do
verão

é
tão
frio
que
não

pra
mim
mas

um
bom
surf
prá
pinguim

RODA DE VIOLA

O som,
Enche de romantismo,
O ambiente cálido
Da cantina acolhedora.

Lá está êle,
Cinquenta anos após,
A dedilhar as notas
Que lhe mandam o coração.

Olhos cerrados,
Cabeça inclinada,
Violeiro e Violão,
Misturam-se ao transe,
Da platéia; apoteose.

As mãos,
Aquelas mãos cheias de rugas,
Dedos finos,
Mostram um movimento frenético.

O toque suave,
Compasso a compasso
Sobre as cordas do violão,
Embaraçam solos e arpejos,
Maviosa sinfonia.

A seu lado,
Um copo de cerveja,
Um bandolim afinado,
Uma mesa vazia.

A platéia delira,
Canta contente :
Naquela mesa,
Eles sentavam sempre…

P.S.: Homenagem aos anônimos boêmios, a Jacó do Bandolim e a Velha Guarda, que fizeram da música brasileira, o romantismo, que até hoje, embalou tantas décadas.

Fonte:
http://caminhapoetando.blogspot.com.br/search/label/meus%20poemas

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Conhecendo o Mundo Acadêmico (Quais são as diferenças entre monografia, dissertação e tese?)

Muitas pessoas confundem os termos monografia, dissertação e tese. Entretanto, esses erros não se restringem apenas ao significado dos termos e muito menos às pessoas que não estão ligadas à área acadêmica.

É possível encontrar, em alguns programas de pós-graduação, alunos de doutorado defendendo dissertações e chamando-as de teses, o que é algo muito sério.

Uma dissertação não é uma tese de pior qualidade ou mais superficial. Da mesma forma, uma tese não é uma dissertação com mais páginas ou um conjunto de dissertações em um trabalho só. A diferença fundamental não é o número de páginas. É a originalidade.

Monografia

A monografia é um trabalho acadêmico Lato sensu que tem por objetivo a reflexão sobre um tema ou problema específico e que resulta de processo de investigação sistemática. As monografias tratam de temas circunscritos, com abordagem que implica análise, crítica, reflexão e aprofundamento por parte do autor.

Dissertação

A dissertação é um trabalho acadêmico Stricto sensu que se destina à obtenção do grau acadêmico de mestre. Os projetos de dissertação não precisam abordar temas e/ou métodos inéditos. O aluno de mestrado deve demonstrar a habilidade em realizar estudos científicos e em seguir linhas mestras na área de formação escolhida.

Tese

A tese é um trabalho acadêmico Stricto sensu que importa em contribuição inédita para o conhecimento e visa a obtenção do grau acadêmico de doutor. O doutorando deve defender uma ideia, um método, uma descoberta, uma conclusão obtida a partir de uma exaustiva pesquisa e trabalho científicos.

Fonte:
http://www.posgraduando.com/blog/quais-sao-as-diferencas-entre-monografia-dissertacao-e-tese

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Maria Inez Fontes Ricco (Projeto de Trovas para uma Vida Melhor. PARTICIPE!!! Prazo: 21 de outubro)

OBJETIVOS E FINALIDADE:

– Incentivar o gosto pela trova e pela participação em concursos culturais saudáveis;

– divulgar valores e princípios humanitários, religiosos e sociais;

– ousar querer uma vida melhor, despertando a capacidade de criação; por meio desta modalidade poética – TROVA;

– descobrir novos trovadores e publicar boas trovas.

Este projeto tem por fim difundir o conhecimento, para uma vida melhor, por meio de trovas, atingindo alunos do ensino básico(GR. 3), e todos os amantes desta modalidade poética. Grupo 1 – Trovadores Consagrados – que tem trovas premiadas(não considerar Menção Honrosa, nem Menção Especial); Grupo 2 – Trovadores iniciantes e/ou não Consagrados – não premiados ainda.

Serão realizados, bimestralmente, um concurso de trovas em nível Nacional e Internacional, por meio da Internet, em língua portuguesa e em espanhol.

Cada Etapa do Projeto é comporta seis Concursos

Apenas uma (01) trova, inédita, por tema e por autor, conforme cronograma.
Endereço de encaminhamento das trovas: mifori14@yahoo.com.br

Cada trova virá com o nome e endereço completo do autor

Já estamos no 2º Concurso – tema: ESCOLA da 4ª Etapa do Projeto DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

4ª ETAPA DO PROJETO DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

2º CONCURSO DA 4ª ETAPA DO PROJETO: Tema – ESCOLA
de 21/08/2013 a 21/10/2013 – resultado em 20/11/2013

CONVIVENDO EM SOCIEDADE

Vamos desenvolver princípios e valores, por meio de trovas com…

Temas sobre:

A família, primeira célula da sociedade, compete a semeadura dos valores e princípios universais, assim como a ESCOLA , por seu desenvolvimento, reforçando e aprimorando-os, a educação como um todo.

A tomada de atitude, a autenticidade e coerência, no convívio em sociedade, é de suma importância, alem de serem verdadeiros valores, contribuem para a formação dos princípios universais e humanitários.

Apenas uma trova inédita por trovador(a),via Internet, em Língua portuguesa ou em Língua Espanhola

O tema deverá constar da trova:

4 versos setessílabos, rimando o 1º com o 3º e o 2º verso com o 4º, tendo sentido completo.

Enviar para: mifori14@yahoo.com.br

OBS: Após as classificações, as trovas corretas que não atingiram os pontos necessários, serão colocadas em destaque, pois irão para a Ciranda de mesmo nome. As demais trovas, com erros de Portugues (de espanhol) de métrica e sonoridade, sem sentido serão deletadas.

O julgamento da Comissão escolhida é soberano.

(Aquele procedimento anterior, de enviar as trovas com falhas ao autor, para que o mesmo a corrija, tendo seus erros apontados, e assim fazer parte da Ciranda não haverá mais. )
trova:
Tema – ESCOLA
A
B
A
B
Lembrem-se de colocar o grupo:

GR 1 – trovador consagrado(trova premiada – não contar Menção Honrosa nem M. especial)

GR 2 – trovador não consagrado (não premiado) e iniciante

GR 3 – Grupo de língua hispanica – Trovadores concorrendo em espanhol

GR 4 – Aluno da Educação Básica(ginásio e colégio; 1º e 2º grau) e Ensino Médio.

Nome:
Cidade:………SP – Brasil
Escola que estuda
Idade e série.
E-mail

VENHAM PARTICIPAR DOS CONCURSOS DE TROVAS DA 4ª ETAPA DO PROJETO DE TROVAS PARA UMA VIDA MELHOR

RESULTADO DOS CONCURSO ATUAIS(até o dia 20/08) e ANTERIORES
Neste Endereço e http://www.falandodetrovas/trovas/índice.htm

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Arquivado em concurso de trovas, participação

Guilherme de Azevedo (Alma Nova) IV

foi mantida a grafia original.
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ASTRO DA RUA

Fazia ontem já tarde um nevoeiro espesso.
— Que insónia em mim produz este húmido vapor! –
Eu vinha enfastiado, ou turvo, enfim confesso,
Dos fumos do café, da luz e do rumor.

Um fantástico véu cobria as longas praças;
E o gás ria através da grande cerração
Que em lágrimas descia ao longo das vidraças
E em flocos de alva neve humedecia o chão.

Eu mesmo achava em tudo um tom maravilhoso.
Dispus-me a crer no céu a amar este ideal:
De súbito eis que passa um astro radioso
Luzindo-me através do mágico cendal!
Que vaga exalação ó coisas vis que adoro!
Que belo olhar de Deus, deixai-me assim dizer!
Pelo sulco de luz julguei um meteoro,
Pelo aroma subtil sonhei uma mulher!

Passou porém, fugiu: no fim eis em resumo
A sua breve história! O sonho é sempre assim!
Há cousas que ao passar ainda deixam fumo:
Aquela só deixava um vácuo dentro de mim.

Arcanjos caminhai, que eu espero o grande dia
Da nossa atirou vingança, ó déspotas do céu!
Nossa alma anda algemada à vossa tirania
Mas há de erguer-se a escrava… — Assim dizia eu
E a mesma aparição de novo a deslumbrar-me!

De novo a mesma aurora o espaço a iluminar!
Agora pude vê-la e posso recordar-me
Dos abismos de luz que havia em seu olhar.

O astro vinha envolto em nuvens de escumilha:
De resto era uma fada, eu mais não sei dizer.
Deixava atrás de si um aroma de baunilha
De um louco se abismar de um pobre enlouquecer!

Quem quer que sejas tu, que sejam sempre belos
Teus céus sem vendaval, teus dias sem revés!
Feliz de quem puder beijar os teus cabelos
E aos lábios aquentar os teus pequenos pés!

— Dizendo caminhei. Porém novo prodígio!
Ainda a perseguir-me a mesma aparição
E eu ainda sentia o lúcido vestígio
Que há pouco em mim deixara a outra exalação!

Mas agora reparo, atento na sua chama!
Que olhar tão insolente, o céu não luz assim!
Na gaze que ela arrasta há um debrum de lama,
Na face macerada uns traços de carmim!

Oh! Astro! Enfim conheço a órbita que traça
O teu curso veloz! Bem sei onde tu vais!
Prossegue no teu giro em volta dessa praça
E Deus te dê mais luz e menos lamaçais.

Quando Marta morrer, depois do extremo arranco,
Não tratem de orações;
Desprendam-lhe o cabelo e vistam-na de branco
À moda das visões.

Desejo vê-la então passar desta maneira
Depois de tal revés,
Por entre a chama azul e ténue da poncheira
No fumo dos cafés.

Aquele bom país das pálidas quimeras,
Monotonia azul;
Não temam que ela vá no fogo das esferas
Queimar o véu de tule.

Assusta-a muito o frio, a chuva, o sol dos trópicos
A nuvem triste e vã,
E podem-lhe prender os pés tão microscópicos
As névoas da manhã!

De noite ela virá com seus trajes singelos,
Arcanjo doutros céus,
Nos suspiros febris dos meigos violoncelos
Dizer-nos mal de Deus.

Contar-nos porque foge à doce transparência
Que o céu formoso tem,
Meiga filha gentil da mesma decadência
Que é nossa boa mãe.

Se as lágrimas de luz que chora o firmamento
Em noites de luar,
Ao seu pescoço nu pudessem, num momento,
Cingir-me num colar;

Decerto ela daria ao pálido cometa
E à estrela trivial,
A mesma adoração que dava à cançoneta
Que amou até final!
E à saída do circo, ao astro romanesco,
A noite iria, então,
Contar, ainda a sorrir, o ardor funambulesco
Do lívido truão!

Assim, não quer ouvir aos coros invisíveis
Um hino de enfadar,
Cantado por milhões de arcanos insensíveis
Sem um que a possa amar!

E não lhe esquecem nunca os rápidos instantes
Do que ela amava mais:
— a vida iluminada à luz dos restaurantes
Num sonho de cristais!

Fonte:
http://luso-livros.net/

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Curiosidades Multiplub sobre Livros (Publicar livro com uma editora vale a pena?)

Publicar um livro hoje em dia pode ser algo fácil por conta da grande quantidade de ferramentas disponíveis na internet, além de softwares e demais acessórios e meios, só que o mais importante de se publicar é a pós – publicação, e é isso que as editoras ainda podem oferecer aos autores, pois a parte do serviço que garante a compra do livro não é efetiva se feita somente por uma pessoa, com seus canais pessoais básicos, e sim merece um amparo mais institucional.

Além do mais: temos tantas ferramentas, mas todas elas são “fabricadas para serem fáceis de usar” e acabam, com isso, sendo básicas demais, não oferecendo uma funcionalidade tão profissional quanto os bons e velhos: PageMaker, InDesign, Corel Draw e o bom olho do editor, coisas que só uma editora pode oferecer – pois se a prática leva à perfeição: um editor que já editou 100 livros pode fazer melhor do que um escritor que “editou” um ou dois exemplares.
 

A Editora não morreu

Temos tantos sites de self-publishing hoje em dia, mas vejamos que a quantidade de exemplares vendidos nestes sites é incrivelmente desproporcional à chuva de obras que neles são cadastradas diariamente – isso porque as pessoas querem conteúdos direcionados, querem bons livros, e não qualquer livro, e em uma editora: só boas obras entram e só bons livros saem, pois se não: a editora fecha.

Mesmo que bons livros estejam também como self-publishing, o número de pessoas que lê a obra antes dela ser publicada é bem menor (na maioria das vezes: só autor mesmo), e com isso retira-se o processo de lapidação que toda obra merece.
Nasceu uma nova editora

A MultiPlub alia a tecnologia e os meios atuais de publicação com o bom e velho conceito de editora: filtrar, lapidar e publicar bons livros, de todos os gêneros e autores. Só que nem tudo é igual: a editora está aberta somente a autores nacionais, inéditos ou não, e se recusa a “traduzir” autores de fora por acreditar que nossa cultura está mesmo aqui, entre tantos autores aguardando sua obra e oportunidade de publicar.

Portas abertas

Escreveu um bom livro e deseja publicá-lo? Conheça a MultiPlub! (http://multiplub.com.br/)

Fonte:
http://publicarumlivro.com/artigos/como-e-a-publicacao-de-um-livro/
Imagem = http://multiplub.com.br

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Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 29

CAPÍTULO XXI

E no entanto, à noite desse mesmo dia, travava-se entre o Coruja, D. Margarida e a filha desta o seguinte torneio de palavras:

— Então, seu Miranda; o senhor decide ou não decide o diabo deste casamento?

— Agora, agora Sra. D. Margarida, é que as coisas vão endireitando e, se Deus não mandar o contrário, pode bem ser que tudo se realize até mais cedo do que esperamos.

— Ora! Já não é de hoje que o senhor diz isso mesmo!

E note-se que, depois que Teobaldo melhorara de circunstâncias, D. Margarida havia abrandado muito a 8spereza de suas palavras para com o futuro genro; isto quer dizer que ultimamente podia André, como no princípio de seu namoro, levar alguns presentes à noiva e mais à velha. Mas, nem por isso, deixava esta de falar às vizinhas, desde pela manhã até à noite, a respeito do célebre casamento da filha, que, segundo a sua expressão, parecia encantado.

— Pois se tu também não te mexes! Gritava ela às vezes, ralhando com a rapariga. A ti tanto se te dá que as coisas corram bem como que não corram. Nunca vi tamanho descanso, credo! Ninguém dirá que és a mais interessada no negócio!

— Ora, mamãe, mais vale a nossa saúde!… Respondia Inês, invariavelmente. O que tem de ser traz força!

— Oh! Que raiva me metes tu quando dizes isso, criatura!

— Mas se é…

— Qual é o que! Cada um que não trate de si para ver como elas lhe saem! Não me tiram da cabeça que, se apertasses um pouco o rapaz, ele talvez até já tivesse aviado por uma vez com isto! Já com a tal história do ensino foi a mesma coisa; tu, tanto remancheaste, tanto te descuidaste, que afinal lá se foi tudo por água abaixo!

— Ora, eu ensino em casa da mesma forma…

— A quatro pintos pelados, que levam aí todo o santo dia a me atenazarem os ouvidos com o “b-a faz bá, b-e faz bé!” Ora; Deus me livre!

— Rendem quase tanto como uma cadeira…

— Mas não são certos. De um momento para o outro podes ficar sem nenhum… Ao passo que a cadeira…

— Mais vale a quem Deus ajuda…

— Sim, mas Cristo disse: “Faze por ti que eu te ajudarei”. E é justamente do que não te importas — é de fazer por ti!

Estas conversas acabavam quase sempre arreliando a velha, que por fim lançava à conta do Coruja toda a responsabilidade do seu azedume. Porém o que mais a mortificava era o falatório da vizinhança, era o comentário dos conhecidos da casa, que principiavam já a zombar abertamente do “tal casório”. A mezinha está só esperando a idade para casar… diziam eles em ar de chacota, para mexer com o gênio da velha. E conseguiam, porque D. Margarida ficava furiosa; mas não contra aquele e sim contra o pobre André.

Este, todavia, com a regularidade de um cronometro, não faltava à casa da noiva, às horas do costume. Apresentava-se lá com a mesmíssima cara do primeiro dia, sempre muito sério, muito respeitoso e muito dedicado; Inês, também inalterável, vinha assentar-se ao lado dele, enquanto a velha Se postava defronte dos dois. E assim conversavam das sete às dez horas todos os domingos e das sete às nove nas terças, quintas e sábados.

E lá se iam cinco anos em que isto se verificava com a mesma pontualidade. André era já conhecido no quarteirão e, quando ele surgia na esquina da rua, resmungavam os vizinhos de D. Margarida:

— Ali vem o noivo empedrado!

Houve espanto geral em vê-lo passar uma sexta-feira fora das horas costumeiras e muito mais apressado e mais preocupado que das outras vezes. Ia pedir à velha um obséquio bastante melindroso: e, que nesse dia, pela volta das onze, Teobaldo lhe surgira no colégio, com um ar levado dos diabos, o chapéu à ré, o rosto em fogo, para lhe dizer:

— Sabes? Fiz o pedido ao velho!

— Já? Acho que foste precipitado!

— Pois se ele quer enterrar a filha em Paquetá, até que ela se resolva a casar com o primo!

— Mas então?

— Negou-ma!

— Negou-ta?

— Abertamente! Chegou até a contar-me uma porção de histórias, que me fizeram subir o sangue à cabeça!

— Que disse ele?

— Ora! Que eu não estava no caso de fazer a felicidade da filha; que eu era um estróina, um doido; que eu tinha mais amantes do que dentes na boca (foi a sua frase) e que eu, para prova de que não gostava do trabalho, nunca tomara a sério o emprego que ele me dera em sua casa; e que eu entrava sempre mais tarde que os outros; que eu era isto e que era aquilo, e que, ainda mesmo que eu não fosse quem sou, ele não podia me dar a filha, porque já estava comprometido com outro…

— O Aguiar…

— Já se vê!

— E tu, que lhe respondeste.

— Eu? Eu olhei muito sério para ele e disse-lhe: Você sempre é um ginja muito idiota! O velho ficou mais vermelho que o lacre, tremeu da cabeça aos pés, cresceu meio palmo e não pode dar uma palavra, porque estava completamente gago. Então agarrei no chapéu, enterrei-o na cabeça e bati para Botafogo!

— Para a casa dele? Ah! Isto se passou aqui em baixo…

— Sim. Entrei na chácara e fui enfiando até à escadaria do fundo. O acaso protegeu-me; Branca bispou-me da janela e veio logo ter comigo a um sinal que lhe fiz. “Sabes? Disse-lhe, pedi-te ao comendador; ele declarou que por coisa alguma consentirá que eu seja teu marido e jurou que hás de casar com o Aguiar!” Ela pôs-se a chorar. “Tu me amas?” perguntei-lhe. Ela respondeu que me adorava e que estava disposta a tudo afrontar por minha causa. “Pois então, repliquei, se queres ser minha esposa, só há um meio, é fugirmos! Estás disposta a isso?” Ela disse que sim e ficou decidido que hoje mesmo às dez horas da noite eu a iria buscar. Por conseguinte, tem paciência, preciso de ti, pede licença ao diretor e saiamos, que não há tempo a perder.

— Estou às tuas ordens…

— Tens dinheiro?

— Um pouquinho, mas em casa.

— Ora!

— Podemos dar um pulo até lá! Espera um instante por mim; não me demoro.

Durante o caminho, Teobaldo contou mais minuciosamente a sua conversa com Branca e pintou com exagero de cores a opressão que lhe fazia o pai, para a constranger a casar com o bisbórria do primo. Chegados à casa, mal Teobaldo embolsou o que havia em dinheiro, disse ao amigo:

— Bem! Então, antes de mais nada, enquanto eu vou falar ao cônego Evaristo e depois ver se arranjo mais algum cobre, vai ter à casa de tua noiva e pede à velha que consinta depositarmos lá a menina. Creio que ela não se oporá a isto; que achas!

— Não sei, vou ver…

— Pois então vai quanto antes e volta aqui imediatamente. E quase meio-dia, às duas horas podemos estar juntos; iremos então tratar do carro e do resto; depois jantaremos no hotel e às nove partiremos para Botafogo. A ocasião não pode ser mais favorável ao rapto; a noite há de ser escura; a francesa está doente e de cama e, quando chegarmos, é natural que o comendador já se ache no segundo sono e os criados no terceiro!

— Eu serei o cocheiro do carro, disse Coruja; sabes que tenho boa mão de rédea.

— Bem lembrado! Escusa de metermos estranhos no negócio. E, olha, para melhor disfarce, porás a libré do Caetano e levarás o seu chapéu de feltro.

— A libré do Caetano há de chegar-me até aos pés…

— Melhor, ninguém te reconhecerá.

— Isso é verdade…

— Sabino?

— Meu senhor.

— Preciso hoje de você. Às quatro e meia no hotel. Ouviu?

— Já ouvi, sim senhor.

— Olha! Traze-me uma garrafa daquelas que estão no guarda-louça.

Era um presente de Moscatel d’Asti espumoso, que lhe fizera Leonília no dia dos anos dele.

— Vais beber agora? perguntou o Coruja.

— Vou; sinto-me sufocado! Preciso de um estimulante. Conserva tu em perfeito juízo a tua cabeça e deixa-me beber à vontade.

Encheu duas taças e, erguendo uma delas, disse ao amigo:

— Ao novo horizonte que se rasga defronte de nossos olhos! Ao amor e à fortuna!

Coruja levou a sua taça aos lábios, bebericou uma gota de vinho e afastou-se logo para ir à casa de D. Margarida; enquanto o outro, esticando-se melhor na cadeira em que estava e soprando com volúpia o fumo do seu charuto, murmurava de si para si:

— Amanhã a estas horas tenho à minha disposição uma mulher encantadora e um dote de cem contos de réis! Ah! Geração de imbecis, agora é que vais saber quem é Teobaldo Henrique de Albuquerque!
–––––––––
continua…

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Varal de Trovas n 40 – Clevane Pessoa (Belo Horizonte/MG) e José Feldman (Maringá/PR)

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José Feldman (Universo de Versos n. 108)


Uma Trova do Paraná

AIRO ZAMONER

Nas noites da minha vida,
vida errada, vida certa,
cada estrela me convida
a uma nova descoberta.
========================
Uma Trova sobre Esperança, de Belo Horizonte/ MG

OLÍMPIO DA CRUZ S. COUTINHO

Por muito amar-te perdi   
metade de minha vida;              
e agora perco, esperando,              
a outra metade, querida…
========================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando…
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de Minas Gerais

JOSÉ NOGUEIRA DA COSTA
 
Em cem beijos, hoje em dia,
(meu amigo, no te iludas!)
um somente  de Maria,
noventa e nove – de Judas!
=======================
Uma Trova Humorística, de Fortaleza/CE

JOÃO OSVALDO SOARES (VAVAL)

Caro amigo meu irmão
é bem longe o nosso céu
cuidado com sua mão
se não vai pro beleléu.
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

Igualmente aos nossos pais,
nos cabelos brancos temos
as impressões digitais
dos anos que já vivemos.
========================
Uma Trova Hispânica da Espanha

CARMEN PATIÑO FERNÁNDEZ

Me enamoré de la trova
¡Dime tú! ¿Qué puedo hacer?
si enamorada me emboba
mis adentros de mujer…
==================
Uma Trova sobre Temperança, de Juiz de Fora/MG

DULCÍDIO DE BARROS M. SOBRINHO

Seja de que modo for
          e sem qualquer preconceito,
          na casa onde mora o amor,
          mora também o respeito.
            
========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADOLFO MACEDO
Magé/RJ (1935 – 1996)

Tenho minha alma sentida,
vivo sempre amargurado.
– Minha vida não tem vida,
sem tua vida ao meu lado!
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Nesta trova pequenina,
quero deixar o sabor,
do beijo que ainda há pouco
eu roubei do meu amor…
========================
Um Haicai do Espírito Santo

HUMBERTO DEL MAESTRO

Três dias de chuva:
No terreno alagadiço
Concerto de rãs.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

Chamas-me louca e eu não chamo
infamante a tua boca.
Quem ama como eu te amo
é muito mais do que louca.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

Parada cardíaca
essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento
======================
Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás…
======================
O Universo Poético de Sardenberg

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ (1947)

Rosa

Da rosa quero a essência,
O perfume que inebria,
 A pétala sedosa e macia,
A mais pura inocência.

Quero ser também o orvalho,
Que banha seu corpo vadio.
Nas noites de intenso frio
Quero ser seu agasalho!

Quero ser o colibri
A sugar seu doce mel
Ser o seu teto, seu céu,
Seu jardim, seu bem-te-vi.

Quero ser aquele espinho
Que a sua haste protege
Dos insanos e hereges
Que cruzam o seu caminho.

Quero ser o seu pretexto,
Seus enganos e desculpas
Quero ser todas as culpas.
Ser prosa do seu contexto.
========================
O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Tem quem dorme com
tem quem não vive sem
eu acordo som

Ontem deitei Djavan
amanheci Caimmy
talvez Tom amanhã

========================
O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES
(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

Mar em redor
Meus ouvidos estão como as conchas sonoras:
música perdida no meu pensamento,
na espuma da vida, na areia das horas…

Esqueceste a sombra no vento.
Por isso, ficaste e partiste,
e há finos deltas de felicidade
abrindo os braços num oceano triste.

Soltei meus anéis nos aléns da saudade.
Entre algas e peixes vou flutuando a noite inteira.
Almas de todos os afogados
chamam para diversos lados
esta singular companheira.
======================
O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Casa Vazia

Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal

Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não…..

Então quero falar por um momento (só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

o fogo arde sob o nosso chão
nada é tão fácil assim
eu ando sozinho, no olho do furacão
você nem lembra mais de mim

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
================================
O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Tristeza

Por que ests assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?
==============================
O Universo Poético de Alma

ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS (1972 – 2007)

O Destino

Nossa vida faz patético percurso
Até aquela final nota de ironia,
Das cartas sempre o último recurso
Pra velar sua vocação que é a poesia.

Tenho medo da leitura da cigana,
Conquanto muitas vezes enganosa,
Quando lendo nossa vida nos engana,
Pensa dar gato e dá poesia pela prosa.

Da resposta não temos o tal código
Como um pai não saberá antes da hora
Se pra casa volta o filho pródigo…

Tudo é mistério: estamos às escuras,
Quem mente para a gente jamais cora,
Também não aquela face que procuras…
==================================
Uma Poesia de Cerquilho/SP

ISABEL PAKES

Eclipse

Você veio
ardente
como o sol!

Eu,
branda
como a lua!

E nos encontramos.

Irônica ilusão!

Foi um eclipse.
Só isso!
=================
O Universo de Francisca

FRANCISCA JÚLIA
1871, Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP – 1920, São Paulo/SP)

Rústica

Da casinha, em que vive, o reboco alvacento
Reflete o ribeirão na água clara e sonora.
Este é o ninho feliz e obscuro em que ela mora;
Além, o seu quintal, este, o seu aposento.

Vem do campo, a correr; e úmida do relento,
Toda ela, fresca do ar, tanto aroma evapora
Que parece trazer consigo, lá de fora,
Na desordem da roupa e do cabelo, o vento…

E senta-se. Compõe as roupas. Olha em torno
Com seus olhos azuis onde a inocência bóia;
Nessa meia penumbra e nesse ambiente morno,

Pegando da costura à luz da clarabóia,
Põe na ponta do dedo em feitio de adorno,
O seu lindo dedal com pretensão de jóia.
========================
Velhas Lengalengas e Rimas do Arco-da-Velha Portuguesas

CANTILENAS DAS ESCONDIDAS

(Segunda versão)

Bico bico sarrabico
Quem te deu tamanho bico
Foi a velha chocalheira
Que come ovos com manteiga
Os cavalinhos a correr
E os meninos a aprender
Qual será o mais espertinho
Que melhor se vai esconder.
 
Fonte:
E-book da equipa do Luso-Livros
http://luso-livros.net/

=============================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Trazes a bilha à cabeça
Como se ela não houvesse.
Andas sem pressa depressa
Como se eu lá não estivesse.
========================
Uma Poesia de Portugal

ALICE GOMES

Na idade dos porquês

Professor diz-me porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor diz-me porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda    gira    rodopia
e cai morto no chão…

Tenho nove anos, professor
e há tanto  mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!

Tu falas falas, professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.

É a luta, professor
a luta em vez de amor.

Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.

Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes, professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.

Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!…

E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições…
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições…
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.
========================
O Universo de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Doente

A lua veio… foi-se… e em breve ainda,
Há de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.

Ela há de vir, Ofélia desmaiada,
Sob as nuvens do céu na alvura infinda
Do seu branco roupão, noiva gelada,
Boiando à flor de um rio que não finda.

Ela há de vir, sem que eu a veja… Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vão…

Ó lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha à falta de sereno
O lírio roxo do meu coração!
=====================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro (1923 – 2012)

É meu conforto
                     Da vida
                     Só me tiram morto
======================
O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Minha Alegria

Sou um homem forte. Ninguém me dá a minha alegria.
ela não depende de ninguém

Subitamente me encharca todo, eu a sinto
como sangue
a escorrer pelo corpo,
como se tivesse ferido.

Três horas da madrugada de nenhum dia, de nenhum relógio.
Estou dirigindo meu carro, estou voltando para casa,
como se já tivesse chegado
aquele lugar onde é sempre felicidade, porque sempre se espera.
Flutuo na noite, e a noite me segue, me olha nos olhos, tão perto,
as luzes caminham alegres, irreais, as ruas deitadas à frente
convidando, convidando, como uma mulher de ninguém.

Nesta hora, a só minha a cidade fantástica, despovoada,
mergulhada em mil sonos,
raros carros (serão felizes também?) farejam a sombra adiante
com suas narinas de luz, como bichos irreconhecíveis,
as coisas todas desfocadas, tem dimensões imprevistas.

Sem remorsos, sem desejos, estou levitando
em minha euforia,
e em meu pensamento, convés aberto aos ventos, vou enrolando
pensamentos, como fluidas cordas
que não me prenderão a nenhum cais.

Percebo que estou comigo, estou em paz. Me acomodo em mim mesmo
e me sinto tão bem que me aposso de tudo:
as arvores, as ruas, as sombras, o silêncio,
a noite de ninguém.

A noite – estou nela como um astronauta
fora da capsula,
mas sinto-a tão fisicamente presente, como numa cama
a mulher que a gente ama.

Ninguém me da minha alegria
ela não depende de ninguém.

Cintila em min:,
no coração e eu só, sou matéria e luz
de sua combustão.

Eu só posso senti-la, posso vê-la,
tão pura, tão nítida minha alegria
(como uma estrela)
que nesse instante,
minha vida é um momento de eternidade
imponderável
que desconhece a morte.

Sou um homem forte.
============================
Um Soneto de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Soneto para Francisco Pereira Rodrigues
(candidato a Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre/RS de 2013)

Nobre escritor, poeta e romancista,
Que tanto enalteceu nossa querência,
Merece, com certeza, esta conquista
De ser Patrono como reverência…

Muitos sonetos fez com excelência,
Na métrica e na rima, exímio artista,
Ao completar cem anos de existência,
Nada lhe abate para que desista.

Sempre o avistava percorrendo a praça,
Comprando livros ou autografando,
Pelas Feiras do Livro do passado…

Agora, vou revê-lo junto à massa
Dos leitores que chegam, procurando
Alimentos para a alma e o seu agrado…
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O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN (1934)

As dores já são demais
pelos caminhos da vida…
O amor, em pequenas doses,
na humanidade aguerrida;
mas o ódio, em muitas pessoas,
extrapolou a medida!
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O Universo de Silviah

SILVIAH CARVALHO
Curitiba/PR

Tristeza

Se minha tristeza tivesse fim, poderia mudar meu teor,
E virar a página, do que há incontido no desfazer-se do nó.
No nascer de um novo dia, eu perceberia sua real beleza,
Eu poderia viver e amar, se não fosse esta tristeza.
   
Por ela me escondo e com ela sobrevivo e me divido,
Não há dor que não sinta, ou mal que não tenha conhecido,
Às vezes parece amiga, dorme e acorda comigo, não me deixa,
Mas de sua presença, minha alma reclama e, a mim se queixa.
   
Dela escrevo por ela me inspiro, nela Deus se manifesta,
É a presença reflexiva que nos poemas exprime grandeza,
Perder a graça de viver é tão fácil, quanto não achar um
Motivo para tal. Findar-se, é da tristeza o estágio terminal.
   
Como a “Narciso” me foi dado uma sentença, mas no espelho
D’água não vejo minha aparência, foi-se o tempo de doar-se
Ficaram lembranças saudosas, de um tempo que não volta,
Por nunca ter existido que, foi sonhado e não foi vivido…
   
Tornarei real minha ida, e peço: não sofram a saudade que deixo,
Num gesto final de nobreza, eu a levo no peito,
Estou cativa desse amor desfeito… Considerando minha frieza.
Sigo por aí, na busca incessante, pelo o lado bom da Tristeza.
=========================
Uma Poesia Além Fronteiras

HENRIQUE ABRANCHES
(Angola)                                             
                                                                               
Ao Bater da Chuva

A porta fechada é uma obsessão.                                     
As vozes caladas em torno de nós,                                    
as pausas alongadas em silêncios de uma angústia nova,                                                                
são a descontinuidade do tempo interrompido                          
dentro da casa que arrombaram ontem,                                 
no coração da aldeia do Mazozo.                                      
A chuva cai em bátegas doces,
a chuva bate o capim molhado,                                                           
e soa…                                                           
A humanidade é fria.                                              
                                                                             
As mulheres já choraram tudo                                       
– A Mãe Gonga comandou o coro.                                     
Esvaem-se agora em surdina muda,                                   
que agudiza o bater da chuva.                                      
Os homens dizem de quando em quando                                
um nome obstinado.                                                 
                                                                             
Chamava-se Infeliz                                                 
aquele rapaz                                                       
que levaram ontem                                                  
do coração da aldeia.                                              
                                                                             
A chuva matraqueia ainda e sempre
na porta fechada como uma obsessão.                            
Como ela nos lembra o som odiado                               
que dia após dia                                               
nos sobressalta!                                               
Como ela recorda o som da metralha,                            
que dia após dia                                               
desce o morro da Calomboloca                                   
e bate naquela porta fechada,                                  
obcecada de proteção!                                         
                                                                         
A gente conhece o som da metralha                              
quando ela vem no fim do dia.                                  
Quando ela vem, silencia a aldeia,                             
então, em sobressalto, o povo diz:                             
– Foram fuzilados…                                           
                                                                         
E ninguém sabe do Infeliz,  
aquele rapaz que levaram ontem…
=====================
O Universo de Bilac

Olavo Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)

O Rio

Da mata no seio umbroso,
No verde seio da serra,
Nasce o rio generoso,
Que é a providência da terra.

Nasce humilde, e, pequenino,
Foge ao sol abrasador;
É um fio d’água, tão fino,
Que desliza sem rumor.

Entre as pedras se insinua,
Ganha corpo, abre caminho,
Já canta, já tumultua,
Num alegre burburinho.

Agora o sol, que o prateia,
Todo se entrega, a sorrir;
Avança, as rochas ladeia,
Some-se, torna a surgir.

Recebe outras águas, desce
As encostas de uma em uma,
Engrossa as vagas, e cresce,
Galga os penedos, e espuma.

Agora, indômito e ousado,
Transpõe furnas e grotões,
Vence abismos, despenhado
Em saltos e cachoeirões.

E corre, galopa. cheio
De força; de vaga em vaga,
Chega ao vale, larga o seio,
Cava a terra, o campo alaga…

Expande-se, abre-se, ingente,
Por cem léguas, a cantar,
Até que cai, finalmente,
No seio vasto do mar…

Mas na triunfal majestade
Dessa marcha vitoriosa,
Quanto amor, quanta bondade
Na sua alma generosa!

A cada passo que dava
O nobre rio, feliz
Mais uma árvore criava,
Dando vida a uma raiz.

Quantas dádivas e quantas
Esmolas pelos caminhos!
Matava a sede das plantas
E a sede dos passarinhos…

Fonte de força e fartura,
Foi bem, foi saúde e pão:
Dava às cidades frescura,
Fecundidade ao sertão…

E um nobre exemplo sadio
Nas suas águas se encerra;
Devemos ser como o rio,
Que é providência da terra:

Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a Vida, e serve o Amor!
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Os Ombros que Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
========================
UniVersos Melodicos

Alcir Pires Vermelho e David Nasser
ESMAGANDO ROSAS
(bolero, 1941)

Tu tens
No sol dos teus cabelos
A luz do velho sol nascente
Vem brincar
No azul de teu olhar
O azul-verde do mar
O fascínio dos teus lábios
Lembra a cor
Do sol lá no poente

E tens, também
Em teu porte divino
Toda nobreza romana
Mas, se tu passas por mim
Cheia de orgulho e de graça
Teus pés no chão
Parecem rosas pisar.
==========
Uma Cantiga Infantil de Roda

A mão Direita


É uma roda de crianças e uma menina do lado de fora. As da roda cantam:

Na mão direita }
Tem uma roseira, } bis

Que bota rosa }
em mês de maio } bis

Entrai, entrai }
Bela roseira } bis

Fazei careta
Pra quem não gostais
E abraçais quem gostas mais.

Quando cantam – entrai, entrai, – a criança que está fora passa para o centro da roda. E todas cantam:

Amor eterno }
Que farei na roda } bis

Entorta lá,
Qu’eu entorto cá,
Saia da roda
Para outra entrar.

Ao dizerem – entorta lá, qu’eu entorto cá – todas se requebram, com as mãos nos quartos. Por fim, a do centro abraça outra criança, que será a seguinte a entrar na roda

Fonte:
Veríssimo de Melo. Rondas infantis brasileiras. São Paulo, Departamento de Cultura, 1953.

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3ª Edição do Concurso Cultural Poesia Urbana (Vencedores)

Na quinta-feira, 29 de agosto, dia em que o Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE comemora 40 anos de fundação, será realizada a cerimônia de divulgação dos poemas vencedores da 3ª Edição do Concurso Cultural Poesia Urbana, que este ano contou com aproximadamente 400 poemas inscritos de todas as regiões do Brasil. O evento inicia às 19h no átrio do Bloco C e os postais vencedores serão distribuídos.

“Novamente o concurso foi um sucesso e recebemos poemas de autores de várias cidades brasileiras. É gratificante perceber que o Poesia Urbana ultrapassou as fronteiras de Brusque e incentivou a cultura e a produção literária”, afirma o presidente da comissão Rafael Zen.

Um postal para você

Os poemas vencedores serão impressos em postais, distribuídos pela cidade de Brusque. O concurso contou com o apoio da Gráfica NF e da Sabino Comunicação, que encartará 7 mil postais no Jornal Nosso Bairro. Ao todo, serão impressos 20 mil cartões postais, sendo dois mil de cada poema classificado.

“Desta vez, será possível guardar os poemas, como se faz com os cartões postais, que são sinônimos de boas notícias, de mensagens positivas e de carinho vindas de algum lugar interessante,” completa o presidente.

Na edição anterior, o concurso levou poemas à comunidade em sacos de pão e em 2011 os colou nas janelas de ônibus.

Vencedores

Cada poeta pôde inscrever apenas um poema, que deveria ter no máximo 30 palavras. Todos são inéditos e foram analisados por uma comissão julgadora que avaliou os critérios de originalidade e criatividade na abordagem, bem como, sensibilidade e adequação ao tema proposto.

Conheça os vencedores desta edição:

RICARDO FONTANA ALVES – Porto Alegre – RS

HAICAI

De ponta-cabeça
O guarda-chuva implora
Que o sol apareça
________________________________________
RODRIGO LOPES PEREIRA DE MELO – Itajaí – SC

HAICAI DE JULHO

O inverno gritou:
– Abre-te e ouve, janela,
meu frio já te amou.
________________________________________
JUSSÁRA CUSTÓDIA GODINHO – CAXIAS DO SUL – RS

MEUS AMIGOS!

Quintana querido
Concordo contigo
Aqueles que colocam
Cascalhos no meu caminho
(ou pedras, Drummond?)
Eles vão…
Eu… Vinho!
________________________________________
ARTHUR HUGO RIBEIRO CORRÊA DE ARAÚJO – Recife – PE

MESTRE DO NADA

A ideia de tempo
É algo não-literal
Não existem atrasos
No tempo real

Tudo que escrevi
O poeta vociferou
O pretérito só é perfeito
Porque seu tempo já acabou.
________________________________________
REGINALDO COSTA DE ALBUQUERQUE – Campo Grande – MS

COLHEITA

Com mãos
de poesia
a madrugada
colhe sabores
e sabiás
nos ramos
das laranjeiras.
________________________________________
NATHALIE GONÇALVES DE MENEZES – Duque de Caxias – RJ

A DROGA DA POESIA

Dias ensolarados
Noites frias
Sinto cheiro de poesia
O ponto final
A palavra maldita
Temo a poesia
Os olhos esbugalhados
A dor da última vírgula
Não sei terminar poesia.
________________________________________
JORGE LANDER KENWORTHY – Holambra – SP

PELOS CORREIOS
Entrega registrada, necessário assinar
Propagandas coloridas, contas a pagar
Revista amassada e agora este postal…

Surpresa, amigo, sorria!
Subvertendo a ordem do dia
Hoje os Correios trouxeram poesia
________________________________________
DIEGO DA SILVA SALDANHA – Canoas – RS

POEMA CURTO

Dói feito dor a dor que é pedra
ou pluma
dói e pena
dói e dura
mas ainda
que dor pequena
sempre dor
________________________________________
THIAGO OLIVEIRA DE CARVALHO (NOME ARTíSTICO: THIAGO LUZ) – Rio de Janeiro – RJ

QUIXOTESCO

Sou herdeiro de Dom Quixote:
Busco manhãs em vaga-lumes
E sou como eles…
Ora me ilumino,
Ora me confundo com a noite.
________________________________________
ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS – Maringá – PR

LAMENTO

Sabiá posto
em gaiola
canta triste,
perde o alento:
lembra o som
de uma viola
tocada
por um detento.

Fonte:
Texto: Elizandra Damasceno
Disponível em  UNIFEBE – Centro Universitário de Brusque

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Mensagem em Imagens 1 – Machado de Assis

Foto por José Feldman. Cherie dormindo no fogão.

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A. A. de Assis (Bela alma a do poeta, ou o “Hiato” na Trova)

Quantos sons você conta aí?… Suponhamos que sete: Be-la-al-maa-do-po-e-ta. Mas por certo haverá quem conte seis, ou mesmo cinco, dependendo do ouvido de cada um.

Dá-se isso por obra do bendito hiato, o inimigo número um da métrica. Parece que para a maioria dos poetas brasileiros o verso fica mais agradável quando se respeitam os hiatos, porém outros acham mais natural fundir as vogais. E como é que se resolve isso? Sabe-se lá…

O maior drama é nos concursos. Você não sabe se conta poe-ta ou po-e-ta. O jeito é torcer para que os julgadores acatem o sotaque de cada autor.

Em regra, não se derruba nenhuma trova em razão desse problema; entretanto, mesmo assim, o concorrente fica de pé atrás, pelo medo de quebrar o cujo…

A tendência,  como foi dito, é pronunciar po-e-ta, vi-a-gem, a-in-da, a-al-ma, a-ho-ra, o-ho-mem, o-ou-ro, po-ei-ra, su-a, to-a-da etc. Mas… e se você não concordar? Tudo bem. Você continuará escrevendo seus versos do modo que mais lhe agrade, e ponto.

Afinal de contas, quem manda no texto é o autor. Alguns, porém, por via das dúvidas, procuram de toda forma evitar hiatos… Pelo menos assim podem livrar a trova do risco de perder pontos por não soar bem no ouvido do julgador. São ossos que o poeta encontra em seu delicioso ofício…

Em algumas regiões, palavras como  fri-o, ri-o são pronunciadas friu, riu (numa única sílaba). O Decálogo de Metrificação adotado pela UBT estabelece, entretanto, que, em tais casos, em benefício da uniformidade, não será aceita a ditongação: rio será sempre ri-o.
1. Recordemos: hiato é o encontro de duas vogais pronunciadas em dois impulsos distintos, ficando portanto em sílabas separadas.

     2. Nos hiatos em que a vogal átona vem antes da tônica, se esta é distintamente mais forte que aquela, a separação  é obrigatória (a-é-reo, a/es-mo, ba-ú, sa-í-da); se a tônica é pouco mais forte que a átona, a separação é facultativa (na-al-ma ou nal-ma, po-e-ta ou poe-ta, su-a-ve ou sua-ve). Mas atenção: nos casos de separação facultativa, é importante observar a coerência, isto é, nunca usar critérios diferentes na mesma trova.

3. Nos hiatos em que a vogal átona vem depois da tônica, a separação é obrigatória (bo-a, des-vi-o, ri-o, ru-a, tu-a).

4. Em algumas regiões do Brasil, palavras como  fri-o, ri-o são pronunciadas friu, riu (numa única sílaba).

5. Tudo isso precisa ficar bem claro, especialmente quando se trata de concursos, a fim de que o concorrente tenha certeza de que nenhum julgador “despremiará” sua trova por incompatibilidade de sotaque.

Fonte:
Revista Virtual “Trovia” – Ano 8 – n. 88 – Outubro 2006

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Eliana Jimenez (Trova-Legenda: Noivo Acorrentado)


Casamento é uma loucura
para o marido hoje em dia:
ela impõe a ditadura
e ele nem pia nem chia…
A. A. de Assis – Maringá/PR

Qualquer homem é um coitado
e nunca diz o que quer,
se ficar acorrentado
à vontade da mulher!
Alberto Paco – Maringá/PR
Nenhuma noiva rejeita
um noivo quando é calado,
porque sabe que ELE ACEITA,
se casar acorrentado!!!
Ana Maria Guerrize Gouveia – Santos/SP

Aos teus pés eu me alinhavo,
abro mão de ser senhor.
Com prazer serei escravo
se és rainha, meu amor!
Antonio Carlos Rodrigues – São Gonçalo/RJ

A noiva diz que “ele aceita”
e vai se casar feliz,
porque está bem satisfeita:
achou o noivo que quis!
Amilton M. Monteiro – São José dos Campos/SP
Que feliz soy amor mío
te casas porque me quieres
me cobijarás del frío
y tú harás los *quehaceres
Ángela Desirée Palacios – Venezuela
A noiva, pra solução,
teve atitude perfeita:
acorrentou o fujão
e disse ao padre: “Ele aceita.”
Angelica Villela Santos – Taubaté/SP

Foi de Maria Fumaça,
a gente ali, lado a lado,
e você esbaldando graça
no meu peito acorrentado.
Antonio Cabral Filho – Jacarepaguá/RJ
“Não caso nem amarrado!”,
disse o noivo. E a noiva, então,
trouxe o bruto acorrentado
por espontânea pressão!
Antonio Juraci Siqueira – Belém/PA
Lá vem a noiva, contente,
está possessa e por isso
traz o noivo na corrente
para firmar compromisso.
Ari Santos de Campos – Itajaí/SC
Não é surpresa, amigão,
ver esse noivo no laço.
Tem sido assim desde Adão,
quando Eva o fez de bagaço…
Arnaldo Ari – Rio de Janeiro/RJ

Pergunto sem protestar
já quase sendo enforcado:
O que é pior, se casar
ou morrer acorrentado?
Clenir Neves Ribeiro – Austrália

Se  o  noivo  é  pequeno  e  mudo,
aqui  segue  uma  receita:-
– Corrente,  cadeado  em  tudo
e  tabuleta:- “Ele  aceita!”…
Colavite Filho – Santos/SP
Precisas acorrentá-lo ?
Oras, algo cheira errado !
Ao se ver livre do abalo,
terás marido aloprado …
Cristina Cacossi – Bragança Pta./SP
Noiva mineira exigente,
do tipo que não debanda,
traz o noivo na corrente
só para mostrar que manda!
Dáguima Verônica – Santa Juliana/MG
Acorrentado e com medo
bem quietinho ao lado dela,
ele aprende desde cedo
que em casa quem manda é ela
Dalva de Araujo – Santos/SP

Perdida a primeira etapa,
o noivo se rende ao fato
de que , agora, não escapa
do fim do seu celibato…
Darly O. Barros – São Paulo/SP

Bonecos… acorrentados!
Libertar-se?  Isso em vão!
Se um tem os lábios selados,
reclamar da escravidão?!
Diamantino Ferreira – Campos/RJ

Já cansei de bruxaria
e de nego que “despacha”.
Faço eu mesma a “simpatia”…
e agora…  “ele vai ou racha!!!”
Dorothy Jansson Moretti – Sorocaba/SP

Tão pequenino fiquei
ao sentir-me acorrentado
que este sim, não te direi.
Vou ficar amordaçado!
Edite Rocha Capelo – Santos/SP

Tanta pompa na montagem
faz o enlace reluzir;
mas no bolo o enfeite é a imagem
da vida que está por vir.
Eliana Jimenez – Balneário Camboriú/SC

Tem noivo que acha que aliança
prende mais do que corrente:
não resolve pajelança
nem usar qualquer solvente!
Geraldo Trombin – Americana/SP
Verdade que um casamento,
se forçado, não dá certo,
é preciso entendimento
e um amor grande por perto!
Gislaine Canales – Balneário Camboriú/SC

“Ele aceita” é o pretexto
que mulher tem pra mandar;
o marido no “cabresto”,
a bomba vai detonar!
Glória Tabet Marson – S. José dos Campos/SP

Confirma-se o sofrimento
do pobre homem, coitado!…
pois desde o seu casamento
que ele vive acorrentado.
Haroldo Lyra – Fortaleza/CE

Ser solteiro é livre estar,
jamais me vejo casado;
para subir ao altar,
só vou mesmo acorrentado…
Jessé Nascimento – Angra dos Reis/RJ

O pai da noiva é a corrente;
noivo, finge riso franco;
noiva, fingindo “inocente”
veste-se toda de branco.
João Batista Xavier Oliveira – Bauru/SP
Não podemos reclamar:
a evolução é mister.
Hoje temos de aceitar:
quem manda mesmo é a mulher.
José Kalil Salles – Barbacena/MG

-Não consigo admitir nada
que a dignidade rejeita,
como a escravidão forçada
ou a escravidão aceita!
José Lucas de Barros – Natal/RN

Mesmo côncavo-convexo,
o casamento dá certo;
com namoro vem o sexo,
nunca o amor é deserto.
José Marins – Curitiba/PR

Adoro a transformação
que domina a era moderna:
enquanto eu lhe passo a mão,
a mulher me passa a perna!
José Ouverney – Pindamonhangaba/SP

Casamento é armadilha,
muito embora abençoado;
eu só vou por essa trilha
se estiver bem amarrado.
José Satiro – Natal/RN

Cuando al amor se lo apresa
y al cariño lo encadena
más que amor es una empresa
y una perpetua condena.
Libia Beatriz Carciofetti – Argentina

Ah,  o amor  não dividido,
sonho não compartilhado…
Será este cão marido
ou um homem acorrentado?
Lisete Johnson – Porto Alegre/RS
Sequestrado para o enlace…
Vou dançar, mas não a valsa;
obrigado a dar meu “passe”
por um vil amor de falsa.
Luiz Moraes – São José dos Campos/SP

Todo mundo é testemunha
me casei, não porque quis,
pois eu fui laçado à unha,
só não fugi por um triz!
Maryland Faillace – Santos/SP

De nada adiantará
essa cara de cativo
se o teste DNA
acusou ser POSITIVO…
Marina Valente – Bragança Paulista/SP

Não precisava a mordaça,
a corrente e o cadeado;
o “sogro” é que era ameaça…
de revólver carregado!
Mário A. J. Zamataro – Curitiba/PR

Acorrentá-lo? (Que asneira!)
Desista! não case assim…
Se a paixão foi passageira,
não é este o feliz fim!…
Mercedes Lisbôa Sutilo – Santos/SP

Fez “de difícil” o baixinho,
porém, foi logo apanhado…
Casou “na marra” o “tadinho”,
amarrado e amordaçado!
Myrthes Masiero – São José dos Campos/SP
Vou cortar esta corrente,
que aprisiona uma paixão;
não viverá  sorridente,
quem suporta a possessão.
Nadir Giovanelli – São José dos Campos /SP
Casamento é uma opção
nunca deve ser forçado,
pois é contra a convenção
ainda mais acorrentado!
Nair Lopes Rodrigues – Santos/SP

Quando o noivo é constrangido
pela noiva, a vida inteira,
torna o tipo de marido
“papagaio de coleira”.
Nei Garcez – Curitiba/PR
Casamento é um triste ato
que já começa no “amém”:
dois presos por um contrato
que não dá lucro a ninguém.
Olympio Coutinho – Belo Horizonte/MG

Em nosso Amor tu te impões…
Eu sou quase teu mascote…
– Mas aceito teus grilhões
e ainda peço o chicote…!
Pedro Mello – São Paulo/SP

Pra assegurar o casório
e não ter sonho frustrado,
leve seu noivo ao cartório
de mordaça e acorrentado!
Renato Alves – Rio de Janeiro/RJ
Eu jamais vou me casar,
– não prometo nem dou “bola”.
Depois que a festa acabar,
viro pássaro na gaiola…
Ruth Farah Nacif Lutterback – Cantagalo/RJ

Casou-se mas com trapaça
 no mais vil dos vis esquemas;
 à boca pôs-lhe a mordaça
e nos pulsos, par de algemas!
Secel Barcos – Canadá

Ela, num dia encantado,
o sonho vai realizar:
leva, mudo e acorrentado,
o seu noivo, para o altar.
Vanda Alves da Silva – Curitiba/PR

Na verdade, eu nem podia
abrir boca p’ra falar,
minha sorte neste dia :
ninguém nela acreditar.
Victor Batista – Barreiro/Portugal

Casório não é arena
para ações impositivas.
Vejam só esta morena:
assustou padre e convivas!…
Wagner Marques Lopes – Pedro Leopoldo/MG

Fonte:
http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br/2013/05/trova-legenda-ate-24052013.html

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Curiosidades Multiplub sobre Livros (Como é a publicação de um livro?)

Publicar um livro é um processo complexo e feito por etapas.

Para nós da MultiPlub é importante ter o autor como um parceiro durante todas as etapas do processo, que basicamente são:

1 – Registros

Onde a obra é registrada com seu ISBN e passa a ter uma numeração de identificação que servirá para tudo e todos (leitores, livreiros, bibliotecários, etc) após a publicação.

2 – Revisão
 

Onde a obra é lida por toda a equipe que trabalhará nela e depois segue ao revisor, o qual fará os apontamentos e devidas correções no texto de acordo com as normas mais comuns da Língua Portuguesa.

3 – Diagramação

Onde a obra seguirá a um profissional que, guiado pelo Editor, comporá um esquema de apresentação do texto nas páginas internas, formatando das fontes ás margens, parágrafos e títulos, obtendo uma forma final para o livro.

4 – Arte da Capa

Onde, após ter sido lida pelo capista, a obra ganha uma capa com base também nos apontamentos e dicas do autor e do Editor.

5 – Correções e Alterações

Tendo a obra revisada, diagramada e com capa, os serviços seguem ao autor, que discutirá com o Editor sobre as modificações finais a serem feitas e refeitas.

6 – Impressão

Tendo as artes (diagramação, capa e revisão) todas aprovadas pelo autor, a ora segue para fechamento de formato e vai à impressão, onde ganhará sua forma final.

7 – Entrega

Com os exemplares impressos o autor opta por receber todos ou somente uma parte dos livros em casa e tem concluída a parte inicial da publicação, isto é: a materialização da obra.

8 – Lançamento

De acordo com a vontade do autor é trabalhado o lançamento da obra, com a definição do local ou espaço (geralmente em uma livraria) do evento, seu andamento e apresentação.

9 – Planejamento Comercial

Os exemplares restantes do lançamento é feito um plano para vender todos os livros disponíveis, listando-se os meios (livrarias e distribuidores) onde seria mais viável e inteligente disponibilizar a obra e a seguir é criado um plano de divulgação e propaganda que atinja as pessoas que tem acesso aos locais onde os livros foram disponibilizados. Além disso a venda da obra segue à venda pela internet, em formato impresso e em e-book, caso o autor assim deseje.

10 – Execução do Planejamento

Com a aprovação do autor todos os planos de distribuição e divulgação são colocados em prática, e então a venda passa a ser acompanhada diariamente entre editor e autor, para um acerto de contas das obras vendidas em cada período de acerto (3 ou 6 meses).

Publicação na Multiplub

Este é o processo de publicação praticado pela MultiPlub e que vale muito a pena conhecer. Seja um autor da MultiPlub, solicite um orçamento: http://multiplub.com.br/orcamento/

Qualquer dúvida que você tiver sobre estes processos e tudo mais é só perguntar que nós te responderemos com o maior prazer.

Fonte:
http://publicarumlivro.com/artigos/como-e-a-publicacao-de-um-livro/
Publicação em ago 18, 2013

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Isabel Pakes (Poemas Avulsos) II

POEMA DE AMOR INTENSO

Amas-me tanto, Senhor!
Puseste nas alturas a extensão da tua grandeza
e banhaste os meus olhos com as luzes das estrelas
para que eu possa me extasiar ao contemplar tua beleza!

Amas-me tanto, Senhor!
Sobre a terra deixaste transbordar o cálice da tua providência
e fertilizaste o meu espírito nos princípios da fé
para que eu possa me abastar do Pão sem temores de carência!

Amas-me tanto, Senhor!
Concedeste-me o dom da Vida.
Tomaste-me por teu filho e herdeiro dos teus astros,
das tuas águas, das tuas flores…
E para consumar o teu amor por mim
ofereceste em holocausto o teu melhor cordeiro!

Amas-me tanto, Senhor!
Dentro da minha pequenez me constituíste grande e forte
quanto a tua imagem e semelhança.
E tudo o que esperas de mim é tão pouco!
Apenas que eu me guarde simples aos teus olhos, tua eterna criança!

Amas-me tanto, Senhor!
Quantas vezes tenho te agastado com lamúrias infundadas
sem que te apartes de mim…
Quantas vezes tenho te contristado, apresentando-me fraca diante de ti
e mesmo assim me reconfortas e me reconduzes à caminhada!

Amas-me tanto, Senhor!
Que eu me perco em meus anseios de muito te louvar.
E sinto-me impotente na busca de palavras
que retratem fielmente a minha inspiração.
Por mais que eu me desdobre em pensamento
não consigo me alcançar no infinito da minha gratidão!

QUALQUER DIA

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de brisa
e brincar nas ondas
dos teus cabelos.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de riso
e me embalar na rede
da tua boca.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de brilho
e refletir no espelho
dos seus olhos.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de amor
e me guardar no cofre
do teu coração.

POETA

Teu ego a descoberto,
teus sentimentos, tuas emoções,
tuas alegrias literalmente expostas,
tua saudade rimando à Auroras, Amélias e Marias…
teus desabafos, teus apelos, teus cuidados,
teu coração pulsando cá do teu lado de fora – tuas agonias,
tua morte de cada dia, tua alma exteriorizada,
teu inferno, teu céu, tua vida tanta vezes renascida,
teus êxtases, teus sonhos, teus delírios…
Teu ser em minhas mãos – tua poesia!

Teu demônio me tentando
teus pecados me pervertendo
teu anjo me guardando
teu amor me absolvendo
tua sina me encantando
tua arte me seduzindo
tua essência escorrendo em mim
pelas entrelinhas
minha alma se entregando à tua estesia
tuas musas fecundando as minhas
meus versos vindo à luz…
Meu ser em tuas mãos!

SAUDADE

Vives de sugar-me a essência.
Vives de estancar-me o riso.
Vives de me envelhecer.

Saudade!

Parasita voraz crescendo dentro em mim,
corroendo-me.
Eco de lembranças retumbando em minha mente,
entorpecendo-me.
Veneno fluindo lentamente em minhas veias,
mortificando-me.

Saudade!

GARI DE ESTRELAS

O Sol, gari de estrelas e amantes,
varreu a noite pela madrugada.
Espanou carícias, recolheu amores,
levou Morfeu dos braços da amada.

Passou o dia austero, inclemente,
a espreitar lembranças e saudade.
Desfez promessas, desmentiu as juras
e demorou-se prolongando a tarde.

Mas o cansaço o alcança e o domina.
Torna-o morno… fraco… sonolento.
Depois o arrasta horizonte além.
O céu muda de cor nesse momento!

E Vênus, esplendorosa alcoviteira,
por sobre os ombros do horizonte espia:
– O Sol já dorme – sussurrando avisa.
Volta, Morfeu, que terminou o dia!

TRANSMUTAÇÃO
Vi esgarçarem-se os véus e a névoa dissipar-se…
E no espocar das lágrimas, meu sonho vi
como num flash
dimensionar-se aqui, magnífico e palpável:
meu mundo modificado, impregnado de amor!
E tudo estava nele! E só o esprecto de mim…

Foi um estado novo que experimentei, atônita!
A dor parindo o riso…!
E ao grito surdo de minh’alma em êxtase
ruíram-se as muralhas à volta do meu ser.

Sou livre, agora! Posso ir-me.
Devo tomar no sonho o lugar
onde o sonhar a mim tem projetado.
Os despojos do que fui…
Que deles se ocupem aqueles que ainda dormem.
Nada mais são que pó e ao pó devem tornar.

Vou dar-me à vida! Soprar-me…
Transmutar o eu em mim.
Tornar verdade o que sonhei, aqui
onde todos estão, só eu que não…
…estava.

VIVERÁS

Viverás para sempre,
perpetuado em mim,
que o meu amor
é transcendente à vida.
Assim, quando eu dormir
na minha noite infinda,
em mim tu viverás ainda!

FLAMAS AZUIS

Emerso das sombras
à força do lume
o sólido imenso se avulta
majestático!

Hermético,
geometricamente plantado
como a levar a terra a contatar no espaço
as emissões celestiais,
em meio a amplidão do deserto
onde os fantasmas se inibem
e se aquietam os sons.

Ao fundo, o negro da noite se acentua
e o azul fosforesce no contraste.
São flamas azuis lhe coroando o ápice,
como se lá dentro se guardasse
o espírito do mundo.
Admirável archote!

Colossal pira pétrea e angular
que os séculos olham, arranham
e… passam,
porquanto perdure…
porquanto perdurem as impressões do artista
neste quadro em que me enquadro,
buscando decifrar…

O POBRE

Sem escrúpulos, no claro do dia,
ele sai pelas ruas assuntando cabeças.
Enquanto elas idealizam, ele trama.
E à hora dos justos, enquanto repousam,
o velho morcego motiva sua insônia
à luz das idéias – delas.
E no domingo veste a lã,
lustra o latão da auréola
e vai à igreja articular seu perdão.
Certo de si, o hipócrita,
infla o peito de vanglórias
e a si mesmo aplaude.
Pensa burlar a divina consciência,
acredita mesmo que pode,
o pobre pseudo-ser.

TRANSCENDÊNCIA

Mergulho o olhar no fundo do espelho
e me guardo dentro dele,
que eu mesma não me possa divisar.

Cristalizo a minha imagem
deixo pesar essa âncora…
que eu me ausente, mas não deixe o lugar.

Abro minhas imensas asas,
espano o pó dos pés
e saio de mim,
diluindo-me no tempo e no espaço.

Leve – mais que a pluma,
livre – mais que o ar,
experimento o meu vôo e gosto!

Ensaio um bailado novo sobre minha sombra fria
e rio-me de sua impotência ante a mudez dos meus passos.

Fortaleço-me no que quero!
Liberta que estou
das tramas da carne e dos ossos,
tudo alcanço. Tudo posso!

Visualizo teus pensamentos e vou buscar-te.
Emaranho-me nas espirais dos teus devaneios
e te arrasto além dos limites da tua imaginação,
onde o silêncio absoluto é a expressão mais forte da palavra
e o sentimento mais oculto se extravasa em comoção!

É quando tu te despes dos teus zelos e pecados
e te entregas a mim, com toda a nudez do teu eu eterno.

É quando te descobres SANTO
e eu te reconheço HOMEM!
e me apresso em aparar-te o pranto.
Porque preciso do sal das tuas lágrimas
com que temperar o meu depois…

Depois. Quando emergir do espelho…

Fontes:
Portal CEN http://www.caestamosnos.org/
Blog da Autora. http://belpakes.blogspot.com/

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Guilherme de Azevedo (Alma Nova) III

foi mantida a grafia original.

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OS SONHOS MORTOS

Embora triste a noite, a vagabunda lua
Mais branca do que nunca erguia-se nos céus,
Igual a uma donzela ingénua e toda nua
No leito ajoelhada erguendo a fronte a Deus!

O mar tinha talvez cintilações funestas.
A praia estava fria, as vagas davam ais;
Semelhavam, ao longe, as extensas florestas
Fantasmas ao galope em monstros colossais.

E eu vi num campo imenso, agreste e desolado,
Imerso no fulgor diáfano da luz,
Juncando tristemente o solo ensanguentado
Sinistra multidão de corpos seminus!
Tinha a morte cruel, em sua orgia louca,

Deposto em cada fronte um ósculo brutal;
E um irónico riso ainda em muita boca
Se abria, como a flor fantástica do mal!

E eu vi corpos gentis de virgens delicadas
Beijando a fria terra, as mãos hirtas no ar,
Em sagrada nudez!… Cabeças decepadas!…
Em muito peito ainda o sangue a borbulhar!…

E sobre a corrupção das brancas epidermes
Luzentes de luar e de esplendor dos céus,
Orgulhosos passando os triunfantes vermes,
Da santa formosura os últimos Romeus!

Se tu, a minha alma livre ainda hoje conservas
Memórias das visões que amaste com fervor
Aí as tens agora alimentando as ervas
De novo dando à terra o que ela deu à flor.

São elas! As visões dos meus dias felizes,
Meus sonhos virginais, as minhas ilusões,
Que a seiva dão agora aos vermes e às raízes,
Que em pasto dão seu corpo a novos corações!

São as sombras que amei, divinas, castas, belas;
As quimeras gentis, os vagos ideais,
Que de rosas cingi, que iluminei de estrelas,
E que não podem já da terra erguer-se mais!

FALA A ORDEM

Pequena, donde vens cantando a MARSELHESA;
Da barricada infame, ou doutra vil torpeza?

Que esplêndido porvir! Do nada apenas sais
Começas a morder as púrpuras reais
Ó filho trivial da lívida canalha!…
E, vamos, deixa ver, guardaste uma navalha?!
Não tremas que eu bem vi! Que trazes tu na mão?

Intentas já limar as grades da prisão,
Fazendo cintilar um ferro contra o sólio
Arcanjo que adejais nos fumos do petróleo?!…
Mas, vamos, abre a mão: não queiras que eu te dê.

Bandido eu bem dizia! — a carta do ABC!

Ó lírios da cidade, ó corações doentes
Das vagas afeções modernas e galantes;
Eu sei que vós morreis aos sons agonizantes
Das orquestras febris, — nos sonhos dissolventes!

Sois os fulcros gentis que balançais pendentes
Nas árvores da vida; e os pobres viajantes
Famintos de ideal, sorriem triunfantes
Julgando-vos colher nas seivas inocentes!

E tragam com fervor o pomo apetecido
Que deve ter um mel oculto no tecido,
— um raio bom do sol que nos sorri tão alto;

Mas vós que sois da moda um luminoso aborto,
Como os frutos cruéis das margens do mar morto
Apenas contendes dentro uma porção de asfalto!

MISÉRIA SANTA

Entrando esta manhã num templo da cidade
Aberto à multidão mas triste e quase só,
O ver ao desamparo a velha majestade
Num trono a desabar, meteu-me certo dó.

Restavam tão-somente alguns dourados velhos
Do passado esplendor, e foi-me fácil ver
Que uma nuvem de pó cobria os evangelhos
Como coisa esquecida e imprópria de se ler!

A virgem, sobretudo; a mãe predestinada
Que o Gólgota lavou nas lágrimas de fel
Que sempre há de chorar toda a mulher amada,
Ou seja a mãe de Cristo, ou seja a de Rossel;

Achei-a desolada e triste lá num canto,
Sem pompas e sem luz, coberta de ouropéis
Tão velhos como o roto e desbotado manto
Que há muito, já, deveu à crença dos fiéis!

Dizer-me pode alguém de afetos bons e puros
Que eu posso ainda encontrar as belas catedrais
Aonde o simples Cristo e os mártires obscuros
Campeiam no fulgor de pompas teatrais.

Bem sei; mas como disse, o acaso ou o quer que fosse
Levou-me a um templo pobre e foi nele que vi
Que há mendigos do céu, de olhar sereno e doce,
Proletários do altar a quem ninguém sorri!

E ao ver esta humildade — eu tenho disto às vezes —
Pensei, não sei porquê, nas mórbidas visões
Que não passam de ser as filhas dos burgueses
Mas de rendas de França enfeitam seus roupões!

Fonte:
http://luso-livros.net/

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Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 28

CAPÍTULO XX

O Aguiar, ao lhe constar a entrada de Teobaldo para o escritório do tio, esteve a perder os sentidos, tal foi o abalo que lhe produziu a notícia; mas, ordenando as suas idéias e meditando o fato, tocou logo para a casa de Leonília, disposto a por mão em todos os meios que lhe servissem de arma contra o rival.

— Aposto que não adivinhas o que aqui me traz!… Principiou ele, assim que a cortesã lhe apareceu no patamar da escada.

— Saberei se mo disseres…

— É uma revelação de amigo…

— Uma revelação? Entra.

— Com licença.

E, assentando-se defronte dela:

— Ainda gostas muito de Teobaldo?

— Loucamente, por quê?

— Sentirias muito se ele te abandonasse?

— Se me abandonasse? Mas que queres dizer? Há alguma novidade? ele tenciona sair do Rio? Anda! Fala por uma vez!

— Não, não é isso…

— Então que é? Desembucha!

Aguiar estendeu as mãos uma contra a outra, em sinal de casamento e fez um trejeito com os olhos. Casar? Ele? Exclamou Leonília empalidecendo repentinamente. — Ele vai casar?!

— Está tratando disso e é natural que a consiga se lhe não cortarem os planos… Só uma pessoa o poderia fazer e essa pessoa és tu.

— Eu?! Disse ela, afetando indiferença. — Ora, que me importa a mim! Que se case quantas vezes quiser!

Mas puxou logo o lenço da algibeira, escondeu os olhos e atirou-se depois sobre o divã, soluçando aflita.

— Bom, bom! Pensou o rapaz — com esta posso contar!…

E foi assentar-se ao lado da cortesã, para lhe expor o caso minuciosamente.

Soprou-lhe em voz baixa o nome da noiva, o número da casa do tio, falou sobre este e sobre Mme. de Nangis e terminou dando parte do novo emprego de Teobaldo.

— Se aquele patife continuar mais algum tempo no escritório, segredou ele, estará tudo perdido! É preciso antes de mais nada arrancá-lo dali. Conheço-lhe as manhas, é capaz de enfiar um camelo pelo ouvido de uma agulha!… Trata de evitar o casamento e podes, além do resto, contar com uma boa recompensa de minha parte. Adeus.

Leonília deixou-o sair, sem lhe voltar o rosto, nem lhe dar uma palavra. Só alguns minutos depois, ergueu–se, passou as mãos pelos cabelos das fontes, suspirou prolongadamente, mirou-se no espelho que lhe ficava mais perto e apoiou-se a um móvel, com o olhar cravado em um ponto da sala.

— Miserável! Balbuciou ela depois de longa concentração. — Miserável! E ele que nunca me falou nisto… Iludir-me por tanto tempo!… Tinha um casamento ajustado, tinha um namoro, e eu supondo que era amada!… Ah! Quando me lembro que ainda ontem lhe disse que seria capaz de tudo por causa dele, que tudo suportaria para não me privar dos seus carinhos!… Oh! Mas hei de vingar-me, hei de fazê-lo sofrer o quanto for possível, hei de persegui-lo enquanto durar o meu amor! Ou este casamento será desmanchado ou Teobaldo não terá mais um momento de repouso em sua vida!

E desde então principiou Leonília a fazer planos de vingança, a imaginar maldades e represálias contra o amante, disposta a não lhe deixar transparecer o menor indício das suas intenções; mas, na primeira ocasião em que Teobaldo esteve ao seu lado, ela não se pode conter e, entre soluços, deixou rolar contra ele a formidável tempestade de ciúmes que a tanto custo reprimia.

— É exato, respondeu o moço sem se alterar. Já que sabes de tudo confesso-te que vou casar.

— Hipócrita!

— Hipócrita, por quê? Então não posso dispor de mim?

— Não, decerto! A não ser que tenciones me dar o mesmo destino que teve a pobre Ernestina!

Teobaldo fez um gesto de contrariedade e Leonília acrescentou:

— Não, de certo, porque, quando uma mulher ama como eu te amo, não pode consentir que o seu amado se case com outra!

— Mas, filha, é preciso ser razoável!… Querias então que eu fosse eternamente o teu amant de coeur?… Querias que eu não tivesse outras aspirações, outros ideais, senão representar a indigna e falsa posição que represento aqui nesta casa, que não é paga só por mim?… Oh! Já tive ocasião de provar-te que não ligo importância a tudo isto!

— Sim, mas não compreendes que tenho aspirações e prezo o meu futuro? não vês que seria loucura de tua parte contar comigo para toda a vida?… Oh! Às vezes nem me pareces uma mulher de espírito!

— E amas tua noiva?

— Se não a amasse, não desejaria casar com ela.

— Dize antes que lhe cobiças o dote; serias, ao menos, mais delicado para comigo.

— Bem sabes que eu não minto…

— Quando não te faz conta!…

— Desafio-te a citares uma mentira minha!

— Ora! Não tens feito outra coisa até agora, escondendo de mim os teus projetos de casamento.

— Não! Isso seria falta de franqueza, mas nunca mentira.

— E mentir fazer acreditar em um amor que não existe.

— Eu nunca fiz semelhante coisa! Não fui eu quem te iludiu, foste tu própria!

— Confessas então que nunca me amaste, não é assim?

— A que vem esta pergunta?… Amar! Amar! Oh! Como tal palavrão me enjoa e apoquenta!

— É porque és um cínico!

— Não, é porque “amor” nada exprime, é um palavrão sem sentido; fala-me em simpatia, em gostar de ver alguém e senti-lo ao seu lado; fala-me na estima e no apreço em que temos os bons e os generosos, e eu te compreenderei e eu te direi que te aprecio e te quero!

— Vais me oferecer a tua amizade. Aposto.

— Não te posso oferecer uma coisa que dispões há muito tempo… O que eu desejo é apelar justamente para essa amizade e pedir-te em nome dela que não sejas um obstáculo ao meu futuro e A minha tranqüilidade.

— Não te compreendo.

— Meu futuro baseia-se todo neste casamento.

— E vens pedir que eu te auxilie?…

— Sim.

— Pois desiste de tal idéia!

— Não queres me proteger?

— Quero guerrear-te.

— Ah!…

— Hei de fazer o possível para que o teu casamento nunca se realize!

— É assim que és minha amiga?…

— É assim que sou rival de tua noiva! Hei de fazer o que puder contra ela! És meu! Amo-te! Hei de defender-te de toda e qualquer mulher, seja uma das minhas ou seja uma donzela de quinze anos!

— Queres então que eu me arrependa de haver consentido em ser teu amante?

— Não sei! Quero é que não me deixes! Sou muito mais velha do que tu; espera que eu morra e casarás depois com uma das que aí ficarem.

— És má!

— Sou mulher.

— Adeus.

E fez alguns passos na direção da porta; ela atirou-se-lhe no pescoço e começou a soluçar, beijando-o todo, sofregamente, como quem se despede do cadáver de um ente querido a que vão sepultar.

Teobaldo, entretanto, conseguiu desviar-se-lhe dos braços e saiu, disposto a nunca mais tornar ao lado dela.

Mas, no dia seguinte, às duas da tarde, trabalhava no escritório do patrão, quando viu parar à porta o carro de Leonília e logo, em seguida, entrar esta pela casa, à procura do Sr. comendador Rodrigues de Aguiar.

— O comendador não está, disse-lhe um caixeiro. Leonília perguntou a que horas o encontraria; o caixeiro respondeu, e ela saiu com o mesmo desembaraço com que entrara.

Teobaldo, mal ouviu bater a portinhola do carro, atirou para o lado a correspondência, pôs o chapéu, abandonou o escritório, tomou um tílburi e seguiu na pista da cortesã. Quando esta se apeava à porta de casa, ele surgiu ao lado dela.

— Que deseja de mim? Perguntou Leonília parando à entrada.

— Pedir-lhe um favor.

— Agora não lhe posso prestar atenção. Adeus.

— Olha! Ouve!

Ela não respondeu, arrepanhou as saias, galgou a escada e Teobaldo ouviu bater em cima uma porta fechada com arremesso. Tornou à rua estalando de cólera.

— Maldita mulher! Pensou ele. Maldita mulher, que tanto mal me faz!

E, quando mais reconsiderava as vantagens do seu casamento, mais furioso ficava contra Leonília e mais apaixonado se supunha pela graciosa filha do comendador. Meteu-se de novo no tílburi e mandou tocar a toda força para o colégio onde trabalhava o Coruja. Era uma idéia que lhe aparecera de repente. E assim que viu o amigo:

— Arranja uma saída já! Disse-lhe, sacudindo a mão dele entre as suas. Preciso de ti no mesmo instante. É um caso urgente. Vem daí!

O Coruja, meio contrariado por interromper a sua obrigação, mas ao mesmo tempo já em sobressalto com as palavras do amigo, não se fez esperar muito. — Então, que temos? Perguntou logo que se viu a sós com Teobaldo na rua.

— André, preciso que me prestes um serviço, um verdadeiro serviço de amigo: Leonília quer desmanchar o meu casamento; é necessário convence-la do contrário. Só tu me poderás fazer isso; és o único homem sério de que disponho! Vai ter com ela e chama-a à razão! Fala-lhe com franqueza, promete-lhe o que entenderes, contanto que a convenças!

— Ela ameaçou-te de fazer qualquer coisa?

— Nem só ameaçou, como até já foi ao escritório do comendador procurá-lo!.

— Falou-lhe?

— Não porque felizmente ele não estava em casa, mas volta amanhã sem dúvida ou talvez ainda hoje mesmo, e tu bem sabes que, se ela fala ao comendador, estou perdido! E adeus casamento, adeus futuro, adeus tudo!

— E preciso então ir já?

— Sim, imediatamente! Olha! Mete-te no tílburi e vai, anda!

Coruja fez ainda algumas perguntas, tomou certas informações e afinal seguiu para a casa de Leonília.

Veio ela própria recebe-lo, fê-lo entrar para a sala e assentou-se-lhe ao lado. Só então o pobre André avaliou o alcance do seu compromisso; achou a comissão mais difícil do que julgara e a si próprio mais fraco do que supunha; mas vencendo o acanhamento, principiou sem transição:

— Sabe, moça, eu venho aqui para lhe pedir um favor…

— O senhor é o amigo de Teobaldo, não é verdade?

— Sou eu mesmo.

— O Coruja, não?

— Justamente.

— Que favor deseja pedir?

— Que a senhora não faça a desgraça do nosso amigo.

— Como?

— Desmanchando-lhe o casamento.

— Ele então já lhe falou nisso?

— Já, e eu vim pedir à senhora que tenha pena do pobre rapaz.

— E ele teve pena de mim, porventura? Ele não calculou que com esse casamento fazia a minha desgraça? Não se lembrou de que há já um bom par de anos que nos amamos e eu não poderia de braços cruzados vê-lo atirar-se nos de outra mulher?… Ele não calculou tudo isso?

— Mas é necessário, replicou André.

— Para quem? perguntou a rapariga.

— Para ele.

— Pois também é necessário para mim que ele não case.

— Não tanto…

— Não tanto? Ora essa! Por quê?

— Porque a senhora já tem, boa ou má, a sua vida constituída, e ele precisa fazer um futuro, precisa arranjar uma posição.

— Ora!

— E que talvez a senhora não esteja bem informada, as coisas nunca se acharam para ele tão ruins! Teobaldo está em uma situação crítica, muito critica; se não consegue realizar este casamento, fica perdido, perdido para sempre, e, como lhe conheço bem o gênio, receio pela vida dele!…

— Outro tanto não faz ele a meu respeito.

— Ah! ,Mas a senhora não se vê nos mesmos apuros…

— Engana-se, meu amigo, estou até em muito piores condições. Todo este luxo que o senhor tem defronte dos olhos não significa opulência, significa miséria!… Sou mais infeliz do que qualquer das minhas companheiras, porque tenho coração, porque sinto e conheço o terreno em que piso, e sei avaliar cada passo que dou neste tristíssimo caminho de minha vida! Ah! Vêem-me rir; vêem-me zombar de tudo e de todos, e no entanto só eu sei o que vai cá por dentro! Sofro e sofro mais do que ninguém! Cada beijo que tiro dos meus lábios para vender, é mais uma fibra que me estala nalma! Oh! Daria todo o meu sangue para não ser quem sou!

O Coruja principiava a comover-se.

— Mas… Prosseguiu Leonília, o senhor no fim de contas tem toda a razão: meu amor não é como o amor das outras pessoas, o meu amor, em vez de elevar, humilha e rebaixa! Quanto mais delicada, quanto mais escrava e amiga me fizer de Teobaldo, tanto mais o prejudico! Tem toda a razão! E indispensável que eu me afaste dele por uma vez! E preciso que eu acorde deste sonho para cair de novo na triste realidade do meu destino! Que importa que isso agrave os meus sofrimentos; que os torne perigosos; que os torne fatais?… Que importa, se nada lucram os outros com a minha vida ou perdem com a minha morte?… Ele quer abandonar-me? Pois não! Faz o seu dever obrará como um “rapaz de juízo”! Todos os homens sérios e refletidos aplaudirão esse ato! Ele quer casar? Nada mais justo! O casamento é a moral, é a ordem, é a dignidade no amor! Pois alguém lhe perdoaria abandonar um casamento vantajoso só para impedir que sucumba uma desgraçada, uma mulher perdida? Ninguém, decerto! Ah! Tudo tem seu tempo! Amou-me enquanto podia e precisava amar-me; depois nada mais tem que fazer a meu lado e vai buscar o que lhe convém, o que serve para o seu futuro! Aqui não se trata de mim; trata-se dele apenas; eu que não fosse tola! Quem me mandou tomar a sério o que não devia passar de uma brincadeira, de um capricho? Quem me mandou a mim sonhar com felicidades que me não pertencem?… Pois não devia eu calcular logo que as desgraçadas de minha espécie só tem direito à libertinagem, ao vício e à eterna degradação?…

E Leonília rompeu em soluços.

Não se mortifique… aconselhou o Coruja, sem achar o que dizer.

— Ah! Sou muito, muito desgraçada! Ninguém poderá calcular o quanto sofre uma mulher nas minhas condições, quando ela não sabe ser quem é e quer se dar à fantasia de revoltar-se contra o seu próprio meio! Por todos os lados sempre a mesma lama: o que se come, o que se veste, o que se gasta, é tudo prostituição; nada que não tenha a mancha de podre! E no entanto uma coisa boa e pura me restava ainda no meio de tanta imundícia: era o meu amor por Teobaldo; esse não tinha sido contaminado pelo resto… Quando eu me sentia aviltada por tudo e por todos, refugiava-me nele, lembrava-me de que o amo sem interesses mesquinhos, sem hipocrisias, nem baixezas; e esta idéia me fazia por instantes esquecer de mim mesma, esta idéia como que me transformava aos meus próprios olhos, e eu me supunha menos só no mundo e menos prostituta! Agora, querem arrebatá-lo; querem tomar-me o único pretexto que eu tinha para viver… Pois levem-no! Mas, oh! Por quem são! Deixem-me morrer primeiro! Não há de custar tanto!

— Não pense nisso!

— E do que me serve a vida sem Teobaldo?… E que o senhor não conhece, não pode imaginar o que é a existência de nós outras, mulheres perdidas! E simplesmente horrível! Hoje ainda encontro quem me ampare, porque não estou de todo acabada; mas amanhã os homens principiarão a desertar e as suas vagas representarão mil necessidades — Depois a moléstia, a fome completa e afinal — “Uma esmola por amor de Deus!” Eis aí o que me espera, como espera a todas as minhas iguais! Atravessamos uma existência de vergonhas para acabar num hospício de idiotas ou num hospital de mendigos! Pois bem! Com a idéia em Teobaldo, eu me esquecia desse futuro implacável; bem sei que ele nunca me recolheria de todo à sua guarda… Quem sou eu para merecer tanto?… mas dizia comigo “Ele, coitado, tem-me amor, nada me pode fazer por ora; mais tarde, porém, quando me vir totalmente desamparada, virá em meu socorro e não consentirá que eu morra como um cão sem dono !”

— E quem lhe disse que ele não olhará pela senhora?… Por que o há de supor tão mau?

— Ah! Mas uma vez casado, a coisa muda logo de figura… Não há homem que se não modifique deixando o estado de solteiro! Quando eles até então só amam a mulher com que se casam, mal a possuem esquecem-na por outra; e, se antes do casamento já se dedicavam a qualquer amante, será esta sacrificada à legítima esposa. Esta é a lei geral; esta há de ser a lei de Teobaldo!

— Mas, segundo me parece, isso não impede que ele seja eternamente grato aos desvelos que a senhora lhe dedicou.

— Sim, creio, e é justamente por esse motivo que eu nada esperarei dele depois do casamento. Uma mulher aceita a compaixão seja de quem for e pelo que for, menos do seu amado, em substituição da ternura.

— Pois se lhe repugna aceitá-la das mãos dele, pode recebe-la das minhas; comprometo-me a olhar pela senhora.

Leonília, ao ouvir isto, voltou-se de todo para o Coruja e mediu-o em silêncio com os olhos ainda congestionados pelo choro. “Que significaria aquela proposição?…”

— O senhor tenciona tomar-me à sua conta?… Perguntou ela surpresa. Tenciona fazer-se meu amante?

André tornou-se vermelho e balbuciou:

— Está louca?

— Mas não é essa a proposta que acaba de fazer?

— Eu lhe ofereci apenas o meu auxílio pecuniário…

— Quer ser então o meu protetor?

— Quero opor-me à desgraça de Teobaldo.

— Quanto o senhor é amigo daquele ingrato!

— Se a senhora se acha disposta a sair do Rio de Janeiro, arranja-se-lhe o necessário para a viagem. Concorda?

— Sim; creia, porém, que é mais pelo senhor do que por ele.

— Obrigado. Amanhã mesmo lhe chegará o dinheiro às mãos. Adeus.

Leonília foi acompanhá-lo até à porta e o Coruja saiu para ir ter com Teobaldo.

— Bonito! Exclamou este, quando o amigo lhe prestou contas da sua comissão — Fizeste-la bonita!

— Como assim?

— Pois tu foste prometer dinheiro à mulher? Não sabes que não tenho onde ir buscá-lo?

— Dividiremos a despesa… eu posso arranjar a metade. Creio que, se lhe mandarmos uns duzentos mil réis.

— Duzentos mil réis! Isso nem dobrado vale nada para ela! Não conheces esta gente! Foi o diabo!

— E quanto entendes tu que é necessário dar-lhe?

— Sei cá! Nunca menos de cem libras esterlinas!

— Um conto de réis!

— Com menos disso duvido que ela se vá embora!

— Há de se lhe dar um jeito! Não te aflijas.

— E que eu estou sem vintém!

— Arranja-se…

— Não admito que te sacrifiques tão estupidamente! Ora essa!

— Descansa que não me sacrificarei.

Mas, ao tirar-se daí, André foi direitinho à sua secretária, sacou de uma das gavetas um pequeno pacote de notas de cem mil réis, meteu-o no bolso e saiu. Quando tornou ao lado de Teobaldo, disse-lhe:

— Sabes? Está tudo arranjado.

— Hein? Como? Ela parte?

— Sim. Levei-lhe em teu nome oitocentos mil réis. Seguirá no primeiro paquete para Buenos-Aires e não tornará cedo ao Brasil.

— Ó desgraçado! Querem ver que lhe deste as tuas economias!

— Não; apenas o que fiz foi adiantar-te o dinheiro; depois de casado me pagarás.

— Nesse caso vou passar-te uma letra.

— Para que? Não precisa.
––––––––––––––
continua…

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Eliana Jimenez (TROVADOR! Participe!!!! Trova-Legenda: SÓ MAIS TRÊS DIAS. Até 30 de agosto)

http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br/

Vejam algumas alterações na Trova-legenda:

Trova-legenda é uma proposta para publicação de trovas no blog inspiradas em uma imagem e no vídeo que a acompanha com periodicidade de 10 ou 15 dias.

A trova deve servir de legenda para a imagem sem ser descritiva, a imagem é inspiração apenas. Não é necessário que seja uma trova inédita, porém, deve atender à métrica e se adequar ao tema.

Nem todas as trovas serão publicadas, haverá uma seleção prévia.

Envio das trovas para o e-mail: elianarjz@gmail.com
até 30 de Agosto

Participe!

Eliana Jimenez

Fonte:
Eliana Jimenez (http://poesiaemtrovas.blogspot.com)

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José Feldman (Universo de Versos n. 107)


Uma Trova do Paraná

MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA

Um erro, mesmo pequeno,
ganha maior dimensão
pela força do veneno
que há na ausência do perdão
========================
Uma Trova sobre Esperança, de Salvador/BA

JORGE DE FARIA GOES

Adeus sonho, adeus quimera    
que se busca e não se alcança.
 Prender ilusões – quem dera!      
 Ao menos fica, Esperança!   
=======================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

Marcando suas fronteiras
as bandeiras eram trapos,
e, os trapos eram bandeiras,
na Querência dos Farrapos!
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de Pedro Leopoldo/MG

WAGNER MARQUES LOPES

A esperança se engalana
na manhã iluminada.
Sigo junto à caravana,
ao trinar da passarada.
=======================
Uma Trova Humorística, de Araçoiaba/CE

ANA MARIA NASCIMENTO

Distante da companheira,
pra quem se mostra machão
já vi cara de primeira
afeito a quebrar  a mão.
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

Fui reviver meu passado
na casa que pai morou…
Um velho espelho quebrado,
foi tudo o que me restou!
========================
Uma Trova Hispânica da Argentina

MIRTA CORDIDO

Luego el sol se hizo presente
sobre mi cuerpo en la arena,
y me dijo dulcemente,
fue un bello sueño ¡Que pena!
===================
Uma Trova sobre Respeito,  de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

         Mais importante, por certo,
           que um elogio suspeito
           é sentir vibrar por perto
           mais do que aplausos, respeito!
             ========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADELINO MOREIRA
Araçatuba/SP (1922 – 2007)

Esta vida, a que me exponho,
é agiota de verdade:
se empresta um pouco de sonho,
que juros cobra em saudade!…
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Prossegue a cantar! Insiste!
Mesmo a sofrer e a chorar!
– Pois pior que um canto triste
é uma vida sem cantar!
========================
Um Haicai de Santa Catarina

SILVÉRIO DA COSTA

A vida mentiu.
Brincou comigo sorrindo
E depois fugiu.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

Cantas! Minha alma te aprova
e eu choro – que coisa louca!
querendo ser uma trova
para andar em tua boca.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

Surra

Viver é podre
aquele que em mim quis ser limpo
aquilo não pode

Viver suja
suja a roupa suja
a louça suja boca
suja sobretudo
a maldita dita cuja
que não para de dizer
que só para pra dizer
viver é podre

o ciúme suja o amor
como o amor de ódio se suja

fuja fuja fuja
que lá vem a vida
fuja fuja fuja
que lá vem a suja
limpa limpa limpa
nem vem que lá vem
a dita cuja a dita suja
a dita

(letra musicada pelo compositor Edvaldo Santana)
======================
Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Alguém pede que lhe ensine,
a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem…
======================
O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Até a dor
tem seu lugar
num dia bom
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O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES
(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
– Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra…)
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O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Horas Rubras
(do CD “A Flor de Florbela”)

Horas profundas, lentas e caladas
feitas de beijos sensuais e ardentes,
de noites de volúpia, noites quentes
onde há risos de virgens desmaiadas

Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
tombas astros em fogo, astros dementes
e do luar, os beijos languescentes
são pedaços de prata pelas estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
os meus braços são leves como afagos,
vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve branca misteriosa…
e sou talvez na noite voluptuosa
ó meu poeta, o beijo que procuras
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O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Um Salgueiro

A asa. A luz que pousa.
O vento…  o estremecimento
vão por qualquer cousa.
==============================
Uma Poesia de Maringá/PR

ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS

Luolhar

Duas luas
viu Ismália
na noite em que enlouqueceu:
“viu uma lua no céu,
viu outra lua no mar”.

Bem mais louco,
vejo três,
quando me ponho a cismar:
a terceira é a que flutua
tentadoramente nua
na noite do teu olhar
=================
O Universo de Francisca

FRANCISCA JÚLIA
(1871, Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP – 1920, São Paulo/SP)

A Caçada
  (a Valentim Magalhães)

 
Ao mirante gentil de construção bizarra
Acabou de subir naquele mesmo instante
Em que o seu noivo foi à caça; e, palpitante,
Lá fora cuida ouvir os sons de uma fanfarra.

E, ao mesmo tempo ouvindo o selvagem descante
Que, entre as folhas, sibila a estrídula cigarra,
Ela vai ler a carta onde o seu noivo narra
A dor que há de sofrer quando estiver distante…

E dorme, vendo o sol que, através de uma escassa
Nuvem branca, ilumina as íngremes encostas
Onde aos saltos rabeia a matilha da caça;

E, bem perto, ao rumor de trompas e ladridos,
O seu noivo gentil que, de espingarda às costas,
Lhe oferta uma porção de pássaros feridos…
========================
Velhas Lengalengas e Rimas do Arco-da-Velha Portuguesas

CANTILENAS DAS ESCONDIDAS

 (Primeira versão)

Estas lengalengas eram usadam nos jogos das escondidas, tendo de ser dita pelo  “procurador”, de olhos fechados, enquanto os outros se escondiam.
 
Sola, sapato
Rei, Rainha
Foi ao mar
Pescar sardinha
Para o filho
Do juiz
Que está preso
Pelo nariz
Salta a pulga
Na balança
Dá um pulo
Até á França
Os cavalos a correr
As meninas a aprender
Qual será a mais bonita
Que se vai esconder?
========================
O Universo de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN
 
Eterna Dor

Alma de meu amor, lírio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.

Ó minha mãe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do Céu não têm espinhos,
Quero ir contigo, ó lírio meu celeste!

Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me à terra onde não corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…

Aqui na vida – que tamanha mágoa! –
O próprio olhar de Deus encheu-se d’água…
Ó minha mãe, como este mundo é triste!
==========================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Quando tiraste da cesta
Os figos que prometeste
Foi em mim dia de festa,
Mas foi a todos que os deste.
========================
Uma Poesia de Portugal

AUGUSTO GIL

Balada da neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco,há pouquinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.
========================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro (1923 – 2012)

Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
======================
O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Lumumba

 “Havia nele qualquer coisa de mágico.
Esse ser de fogo era um autodidata,
mas tinha gênio. Enquanto os outros
se preocupavam com pequenos
problemas de tribos, ele ja via a
África unificada.”
Aimé Césaire.

A selva ao redor
era um búzio ressoando!
Mas o que o embebedava
era o vozerio do povo
seu povo escachoando
nas praças libertas,
mais forte que o Congo.

Poeta nascido, e chefe
nascido, a África trazia
esticada no corpo,
dos pés à cabeça,
circulando nas artérias
batendo tan-tans de urucungo
no coração.

Mágico da liberdade
em passes de pura verdade,
o povo se abria, como em frisos
de espuma,
a sua passagem!
Era tão fácil acreditar:
era a fé que buscavam
pare vestir o corpo nu
e alimentar o coração ferido.

A África andava
com seus pés,
nas estradas, nas selvas,
nos rios, nas ruas;
sentava-se com ele nos bares,
cantava no seu violão
dançava no seu peito
brilhava em seus olhos
amava em seu amor;
seguia com ele; à sua voz
de comando;
sua voz cimentava as vontades,
as ânsias, as revoltas;
seus versos levantavam
trincheiras invulneráveis.

Lumumba, poeta
da África
sem porões de negreiros,
sem chibatas de fogo,
sem ferros nos pés,
sem pendulos de forças,
cobrando seus juros de odio
para purificar
o amor que há de vir.

Lumumba, poeta
forte, da África livre
a beber como um trago ardente
a própria cor,
e enfim sendo ouvida, temida,
– lutando,
morrendo
sem medo do branco
o antigo senhor.

Lumumba, poeta
da paz e da guerra,
semente do povo lançada na terra
ofertando, em verdade
cantos para a África
esquecer suas dores
e as duras convulsões
parindo a liberdade!
============================
Um Soneto de São Paulo

DIVENEI BOSELI

A Despedida

O amor parece eterno enquanto dura,
por força da paixão que, sendo chama,
incendiando a carne, crema a cama!
No café da manhã se faz candura…

E a dois vai, no verão, rolar na grama,
na várzea, no curral, e a mais impura
das camas de motel lhes assegura
o encanto inenarrável de quem ama…

O amor constrói, corrompe, danifica
por força da paixão: queima e não fica
para curar sequer uma ferida…

Partir? Chorando ou rindo? Tanto faz…
Dizer adeus ou não?… Tudo é falaz!
Cruel e verdadeira é a despedida…
========================
O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Natal/RN (1934)

O amor da mulher querida
me fez virar trovador,
tornou-me o pai mais feliz
deste mundo encantador,
porque o sentido da vida
só se traduz com amor.
===============================
O Universo de Silviah

SILVIAH CARVALHO
Curitiba/PR

Quem dera!

Ah, alma, pode ser que você chegue às margens do pior
antes de ser libertada e, em uma síncope não voltes mais,
… Quem dera dominar o tempo e as estações!
contar meus dias, mudar de pele, dominar minhas emoções.

Quem dera poder voltar atrás, fazer outras escolhas, consertar
meus erros, eu escolheria não amar mais. Não é o amor que me
assusta e, sim, as conseqüências do amar desesperadamente…
Um amor plenamente possível morre, inconseqüentemente.

Não posso dizer que haja chance, ou que a vida faça sentido,
pois o fardo do sofrimento parece uma pedra pendurada
em meu pescoço, é ela que faz o peso necessário para conservar
no fundo o meu querer… Talvez assim nunca mais me faça sofrer.

Na tempestade vi o quanto era frágil minha embarcação,
observei a Águia quando rasgava as alturas e não se inquietava
a respeito de atravessar o rio, enquanto que, o só imaginar, dentro
de mim desfalece o coração… Esvazio-me nesta triste e fria canção.

Descubro que nada é em vão, mas que tudo é propicio a mim,
o sofrimento me põe à parte na vida, como um decreto de morte,
ausente de tudo que me faz bem, abatida, me entrego resignada,
esperando as palavras certas para, enfim, ser libertada.
=========================
Uma Poesia Além Fronteiras

VIRIATO DA CRUZ
Angola

Namoro
    
 Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
     e com letra bonita eu disse ela tinha
     um sorrir luminoso tão quente e gaiato
     como o sol de Novembro brincando
     de artista nas acácias floridas
     espalhando diamantes na fímbria do mar
     e dando calor ao sumo das mangas

     Sua pele macia – era sumaúma…
     Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
     sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
     tão rijo e tão doce – como o maboque…
     Seus seios, laranjas – laranjas do Loje
     seus dentes… – marfim…
             Mandei-lhe essa carta
             e ela disse que não.

     Mandei-lhe um cartão
     que o amigo Maninho tipografou:
     “Por ti sofre o meu coração”
     Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
             E ela o canto do NÃO dobrou

     Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
     pedindo, rogando de joelhos no chão
     pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
     me desse a ventura do seu namoro…
             E ela disse que não.

     Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
     a areia da marca que o seu pé deixou
     para que fizesse um feitiço forte e seguro
     que nela nascesse um amor como o meu…
             E o feitiço falhou.

     Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
     ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
     paguei-lhe doces na calçada da Missão,
     ficamos num banco do largo da Estátua,
     afaguei-lhe as mãos…
     falei-lhe de amor… e ela disse que não.

     Andei barbudo, sujo e descalço,
     como um mona-ngamba.
     Procuraram por mim
     “-Não viu…(ai, não viu…?) não viu Benjamim?”
     E perdido me deram no morro da Samba.

     Para me distrair
     levaram-me ao baile do Sô Januario
     mas ela lá estava num canto a rir
     contando o meu caso
     as moças mais lindas do Bairro Operário.

     Tocaram uma rumba – dancei com ela
     e num passo maluco voamos na sala
     qual uma estrela riscando o céu!
     E a malta gritou: “Aí Benjamim !”
     Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
     pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.
=====================
O Universo de Bilac

Olavo Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)

As Estações

    O Inverno

(Coro das quatro estações:)
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da Natureza!

(O Inverno:)
Sou a estação do frio;
O céu está sombrio,
E o sol não tem calor.
Que vento nos caminhos!
Tragos a tristeza aos ninhos,
E trago a morte à flor.
Há nevoa no horizonte,
No campo e sobre o monte,
No vale e sobre o mar.
Os pássaros se encolhem,
Os velhos se recolhem
À casa a tiritar.
Porém fora a tristeza!
Em breve a Natureza
Dá Flores ao jardim:
Abramos a janela!
Outra estação mais bela
Já vem depois de mim.
Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da Natureza!

    A Primavera

(Coro das quatro estações:)
Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !

(A Primavera:)
Eu sou a Primavera !
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu !
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações !
Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !

    O Verão

(Coro das quatro estações:)
Que calor, irmãs ! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra d’estas mangueiras

(O Verão:)
Sou o Verão ardente,
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
O fogo das queimadas
Começa a se acender.
Tudo de luz se cobre …
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do provido Verão.
Sou o Verão fecundo !
Nasce no céu profundo
Mais rútilo o arrebol …
A vida se levanta …
A Natureza canta …
Sou a estação do Sol !
Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs ! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra d’estas mangueiras

    O Outono

(Coro das quatro estações:)
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs ! enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!

(O Outono:)
Sou a estação mais rica:
A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a Criação,
Concede a Natureza
O premio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador.
Vede como o galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai …
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!
Coro das quatro estações:
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs ! enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Necrolégio dos Desiludidos do Amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas os veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
========================
UniVersos Melodicos

Wilson Batista e Marino Pinto
PRECONCEITO
(samba, 1941)

Eu nasci num clima quente,
Você diz a toda gente
Que eu sou moreno demais.
Não maltrate o seu pretinho,
Que lhe faz tanto carinho
E no fundo é um bom rapaz.

Você vem de um palacete,
Eu nasci num barracão,
Sapo namorando a lua
Numa noite de verão.
Eu vou fazer serenata,
Eu vou matar minha dor,
Meu samba vai, diz a ela,
Que o coração não tem cor.

Eu nasci num clima quente…

Você vem de um palacete….
==========
Uma Cantiga Infantil de Roda

BICHARADA

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.
O animal é tão bacana
Mas também não é nenhum banana.

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.
Quando a porca torce o rabo
Pode ser o diabo, ora vejam só
Au, au, au, cocorocó.

Era uma vez (e é ainda)
Certo país (e é ainda)
Onde os animais eram tratados como bestas
(são ainda, são ainda).

Tinha um barão (tem ainda)
Espertalhão (tem ainda)
Nunca trabalhava e então achava a vida linda
(e acha ainda, e acha ainda).

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.

O animal é paciente
Mas também não é um demente.

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.

Quando o homem exagera
Bicho vira fera, ora vejam só
Au, au, au, cocorocó.

Puxa, jumento (só puxava)
Choca galinha (só chocava)
Rápido, cachorro, guarda a casa, corre e volta
(só corria, só voltava).

Mas chega um dia (chega um dia)
Que o bicho chia (bicho chia)
Bota prá quebrar que eu quero ver quem paga o pato
Pois vai ser um saco de gatos.

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.

O animal é tão bacana
Mas também não é nenhum banana.

Au, au, au, hi-ho, hi-ho
Miau, miau, miau, cocorocó.

Quando a porca torce o rabo
Pode ser o diabo, ora vejam só
Au, au, au, cocorocó.

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V Concurso de Poesia Popular da UBT-Maranguape (Alerta: Prazo 31 de agosto)

Capistrano de Abreu
ATENÇÃO TROVADORES E POETAS

ÚLTIMOS DIAS (até 31.08.2013) PARA ENVIO DOS TRABALHOS PARA O V CONCURSO DE POESIA POPULAR DA UBT-MARANGUAPE

1) REQUESITOS: Cordel, sextilha, septilha, décima, glosa, poesia em trovas, poesia em quadras, acróstico, trova, haicai, poetrix, trevo, ode, soneto, poesia livre ou outro estilo/gênero de poesia, inéditos(as), que versem sobre um dos temas a seguir:

Tema principal: Homenagem ao historiador Capistrano de Abreu, pela passagem dos 160 anos de seu nascimento, ocorrido em 23 de outubro de 1853 em Maranguape/Ceará, Patrono Emérito da Academia de Ciências Letras e Artes de Columinjuba – ACLA;

B) Trova – âmbitos Nacional/internacional e Estadual – [Duas trovas (l/f) para cada concorrente],

Devendo ser exclusivamente em homenagem ao historiador Capistrano de Abreu, podendo concorrer trovador de qualquer lugar/país, inclusive de Maranguape.

[Constar na trova uma das palavras: Capistrano, Capistrano de Abreu, historiador, Maranguape, Ceará, maranguapense, cearense, Columinjuba, academia, ACLA].

Envio por e-mail para o endereço eletrônico: ubt.mpe@gmail.com

Quando da remessa deverá ser indicado nome do autor, endereço completo, cep e telefone.

Obs: Os trovadores/poetas que já enviaram seus trabalhos não devem reenviar.

Abraços,
F. Lopes – Presidente da UBT-Maranguape

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Arquivado em Concurso Literário, Inscrições Abertas

Trovas em Imagens 262 – Dorothy Jansson Moretti (Sorocaba/SP)

Montagem obtida no Facebook da autora

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Arquivado em São Paulo, Trovas

Maria Fernanda Rodrigues (Aspirantes a escritor evitam o ‘não’ das editoras recorrendo a prêmios)

Concursos apresentam ao leitor brasileiro uma nova safra de autores que talvez não entrariam em grandes editoras.

Há prêmios que reconhecem o trabalho de um escritor ou a qualidade de um livro e dão um respiro à saúde financeira dos literatos – muitas vezes precária, já que é consenso dizer que não se vive da venda de direitos autorais. Na terça-feira (13), foram anunciados os finalistas do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, que premia o autor do melhor romance com R$ 150 mil. O Prêmio São Paulo de Literatura encerrou as inscrições – concorrem 187 obras. Este ano, ele passa a premiar em três categorias: melhor romance (R$ 200 mil), melhor romance de autor estreante com menos de 40 anos (R$ 100 mil) e melhor romance de autor estreante com mais de 40 anos. O Portugal Telecom, que paga R$ 50 mil aos vencedores das categorias romance, conto/crônica e poesia e mais R$ 50 mil ao melhor dos três, revela até meados de setembro quem está no páreo. Existem outros nessa linha, como o Jabuti, o Paraná, o Benvirá etc.

E há prêmios que priorizam a produção literária de jovens autores ou de autores que nunca publicaram. Os melhores exemplos são os do Prêmio Governo de Minas Gerais, que ainda não lançou o edital deste ano, mas que tem uma opção interessante para jovens escritores mineiros (entre 18 e 25 anos): o autor do melhor projeto de livro ganha R$ 25 mil para tocá-lo adiante. E o Prêmio Sesc, que só aceita originais de autores inéditos nos gêneros romance ou conto.

Desde que foi criado há 10 anos, o Prêmio Sesc apresentou aos leitores brasileiros uma nova safra de escritores que talvez não teriam entrada em grandes editoras. Já revelou 18 escritores das mais diferentes profissões – um professor universitário de química, um servidor público, uma estudante, um redator publicitário, um psicanalista e por aí vai. Pessoas com pouca ou nenhuma circulação pelo mundo literário. Alguns deles ficaram pelo caminho, outros, com esse pontapé, investiram na carreira. É o caso, por exemplo, de Lúcia Bettencourt, André de Leones e Luisa Geisler. Vêm novos nomes por aí – as inscrições estão abertas até 30 de agosto.

A questão do ineditismo é o que difere o Prêmio Sesc e o São Paulo, que também tem uma categoria de autores estreantes – mas neste caso, só concorrem livros já editados. Portanto, de autores que já venceram a primeira barreira.

Acostumado a receber originais, o editor Marcelo Ferroni, da Alfaguara, já foi um autor estreante. Seu Método Prático de Guerrilha saiu pela Companhia das Letras e ganhou o Prêmio São Paulo em 2011 nesta categoria, o que acabou dando mais visibilidade a sua obra. Em 2014, lança, pela mesma editora, Da Parede, Meu Amor, os Escravos Nos Contemplam. Como editor, diz que prêmios podem ajudar um autor, mas que não é só isso o que importa: “Se o autor tem algo no currículo, ou se é indicado por alguém de confiança, isso facilita seu caminho, para que ele seja lido mais rapidamente pelo editor. Mas no final, o que conta mesmo é a qualidade do livro.”

Naquele ano, o São Paulo ainda pagava R$ 200 mil. Já o do Sesc não envolve dinheiro – e isso não importa aos vencedores ouvidos pelo Estado. Mais relevante é, na opinião deles, a oportunidade de ver o livro editado e distribuído pela Record, a maior editora do País. É esse o prêmio. Por sua vez, o Sesc organiza um intenso tour com os vencedores por suas unidades e por outros eventos, como a Jornada de Passo Fundo e a Flip – na programação paralela que a instituição promove durante a festa. Anualmente, o Sesc investe R$ 500 mil nessas ações.

E foi lá em Paraty, no mês passado, que o advogado paranaense Marcos Peres, de 28 anos, fez seu debut literário. Vencedor da última edição do prêmio com o romance O Evangelho Segundo Hitler, ele é exemplo de um novo movimento: de autores que têm preferido encarar outros concorrentes num prêmio do que esperar um milagre ou uma carta-padrão de uma editora negando o original. Quem o inspirou a tomar esse caminho foi o conterrâneo Oscar Nakasato, o professor que, com Nihonjin, seu romance de estreia, venceu o 1.º Prêmio Benvirá e o Jabuti.

Há 10 anos, concurso possibilita a estreia literária de aspirantes a escritor

Mostrar o primeiro livro para um estranho não é tarefa fácil. A carioca Lúcia Bettencourt que o diga. Tímida, ela passou a vida estudando literatura, escrevendo contos e cuidando do marido e dos quatro filhos. Resistia em mostrar sua ficção porque tinha uma carreira acadêmica e achava que passaria vergonha. Seu marido Guilherme ficou sabendo do Prêmio Sesc, que estava então em sua segunda edição, e disse que não havia mais desculpas. Como a inscrição seria feita com um pseudônimo, se não desse certo ninguém saberia. Foi ele quem organizou e imprimiu os textos e inscreveu o livro da mulher.

Mas Guilherme morreu em outubro de 2005, antes de saber que Lúcia tinha vencido – o anúncio seria feiro em março do ano seguinte. “O prêmio foi minha tábua de salvação. Se não fosse por ele hoje eu estaria numa clínica de repouso, pirada”, comenta. Estavam juntos há 36 anos. “Ele se foi, e a literatura me deu sustentação.”

Ela deixou de ser Lúcia, a mulher de Guilherme (ele era executivo de uma grande empresa), e virou Lúcia, a escritora. O luto ela viveu viajando pelas unidades do Sesc. No interior do Paraná, ouviu de um leitor que um de seus contos tinha sido escrito para ele, e essa nova profissão começou a fazer sentido.

Outros livros vieram depois de A Secretária de Borges, e há um mês ela recebeu a notícia de que O Banquete, obra baseada em sua tese, tinha recebido o prêmio da Academia Brasileira de Letras na categoria crítica literária e R$ 50 mil.

André de Leones, vencedor na categoria romance com Hoje Está Um Dia Morto no mesmo ano em que Lúcia ganhou, também não inscreveu o livro sozinho. À época, ele tinha terminado um curso de cinema em Goiânia e estava de volta à casa dos pais, em Silvânia. Entre os 19 mil habitantes, estava o escritor Aldair Aires, que tomou a iniciativa. “Se não fosse pelo prêmio, é provável que eu estivesse lecionando no interior de Goiás e dependendo de editais para, com sorte, publicar meus livros localmente”, conta o escritor. Numa das viagens para divulgar o prêmio, conheceu, em Paranaguá, sua primeira mulher. Foi a deixa para ir embora de vez de Goiás. Participou do projeto Amores Expressos, publicou mais quatro livros pela Record e pela Rocco e está em outras tantas antologias – internacionais, inclusive. Vive hoje em São Paulo e é colaborador do Caderno 2.

No ano seguinte, foi a vez dele dar uma mão a um colega. Wesley Peres, psicanalista em Catalão, não achava que seu romance Casa Entre Vértebras seria considerado no prêmio “porque estava no limite entre prosa e poesia”. Foi Leones quem a inscreveu. Wesley já tinha lançado dois livros de poemas. Depois do prêmio, investiu num segundo romance, o Pequenas Mortes, publicado recentemente pela Rocco.

Luisa Geisler foi a mais jovem escritora premiada pelo Sesc e tem uma das carreiras mais promissoras. Ela tinha 17 anos e fazia a oficina literária do Luiz Antonio de Assis Brasil quando soube do concurso. Ajeitou alguns contos, fez outros e inscreveu Contos de Mentira na premiação. Levou. No ano seguinte, em 2011, resolveu experimentar o romance, e escreveu Quiçá. Levou de novo. No mesmo ano, foi selecionada para a Granta Melhores Jovens Escritores Brasileiros e o romance que escreve agora sairá pela Alfaguara, uma das principais editoras na área de ficção. “Sem o Prêmio Sesc, minha carreira estaria na estaca zero em termos de publicação”, conta a estudante de Relações Internacionais e Ciências Sociais.

A ideia é justamente essa: que o prêmio dê o primeiro empurrão na carreira literária dos autores, e que eles possam assim construir as suas trajetórias”, explica Henrique Rodrigues, um dos idealizadores do concurso.

De fato, o prêmio deu o pontapé na carreira de muitos dos vencedores. Alguns passaram a acreditar na vocação, abandonaram a ideia de autopublicação ou de publicação por uma editora regional, e tentam viver de literatura. Outros conciliam a profissão com a escrita. É o caso de Marcos Peres, servidor do Tribunal de Justiça, em Maringá e autor do melhor romance deste ano. “A questão de ser apenas um escritor é quase uma utopia. Eu consigo conciliar o ato de escrever com meu trabalho”, diz.
 

O publicitário João Paulo Vereza, vencedor este ano com os contos de Noveleletas, conta que ainda não descobriu o que é ser escritor. Sempre escreveu, nunca publicou. “A literatura sempre foi meu playground, o espaço onde me sinto livre e confortável.”

Fonte:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,aspirantes-a-escritor-evitam-o-nao-das-editoras-recorrendo-a-premios-,1062447,0.htm

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IX Concurso de Trovas da Academia Mageense de Letras/ 2013 (Resultado Final)

TEMA:
ACADEMIA
(Líricas/Filosóficas)

1.º LUGAR

Deus proteja a Academia
e seus nobres beletristas
que exibem, com euforia,
um Jubileu de conquistas!!!
JOSE OUVERNEY
Pindamonhanbaga/SP

2.º LUGAR
Que glória para a cidade
ter a sua Academia:
– sinal de que a sociedade
cultiva ainda a poesia!
ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS
Maringá/PR

3.º LUGAR
Na Arte da Sabedoria –
Escrita em Dez Mandamentos…
A vida é uma Academia,
Perpétua em todos momentos…
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

4.º LUGAR
É o mundo globalizado
um deserto sem mesura
e a Academia, a seu lado,
um oásis de cultura!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

5.º LUGAR
Fértil templo do cultivo
das letras e probidade,
a Academia é um arquivo
da Cultura da cidade!
EDMAR JAPIASSU MAIA
Nova Friburgo/RJ

6.º LUGAR
Academia é cultura
ou saber, em movimento,
que se aprende e que perdura
no livro do pensamento.
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Parede/PORTUGAL

7.º LUGAR
O dono da funerária,
bom de prosa e de poesia,
fez-se em vida literária
o imortal da academia…
NILTON MANOEL
Ribeirão Preto/SP

8.º LUGAR
Vida longa à Academia
na nobre missão de ser:
seu viver para a poesia
faz a poesia viver.
DULCIDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

9.º LUGAR
Na sala da academia,
fonte da literatura,
jorra emoção em poesia,
para a sede da cultura.
VANDA ALVES DA SILVA
Curitiba/PR

10.º LUGAR
Tens, Ó nobre Academia
por teus feitos culturais,
a glória da confraria:
a láurea dos Imortais!
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY
Natal/RN

TEMA:
TREM
(Humorística)

1.º LUGAR
Olho grande?!… Diz Francisco
igual mineiro não tem,
pois se cair no olho um cisco
ele diz: Caiu um trem!!!…
GIOVANELLI
Nova Friburgo/RJ

2.º LUGAR
É certo que prometi
Ir contigo nesse trem,
Mas quando te conheci
Ele partiu sem ninguém.
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
Parede/PORTUGUAL

3.º LUGAR
No vagão superlotado
É tanto o calor no trem
que quem se abana, sentado,
abana os troços de alguém!
EDMAR JAPIASSU MAIA
Nova Friburgo/RJ

4.º LUGAR
Com muito orgulho, dizia,
lá na Central, a mocinha:
“Eu pego o trem todo dia
pra mostrar que ando na linha!”
MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

5.º LUGAR
Ante o acidente de trem,
O luso quebra um trenzinho
E se explica para alguém:
– Mato enquanto é filhotinho!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

6.º LUGAR
Por assédio à passageira,
o maquinista apanhou!!!…
Na maca, diz pra enfermeira:
– O meu trem… descarrilhou…
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

7.º LUGAR
Rebolando num vaivém
que esbanja provocação,
sempre que ela entra no trem,
leva os homens da estação!
JOSAFÁ SOBREIRA DA SILVA
Rio de Janeiro/RJ

8.º LUGAR
Sempre que o trem apitava,
rompendo na madrugada,
o casalzinho acordava,
e aumentava a filharada!
CAMPOS SALLES
São Paulo/SP

9.º LUGAR
Sogra Maria-fumaça
Foi o “trem” que Deus me deu,
Fumar é sua desgraça,
Quem leva fumo sou eu.
FLÁVIO FERREIRA DA SILVA
Nova Friburgo/RJ

10.º LUGAR
A prudência nos ensina
que a boa escolha faz bem!
Por isso, desde menina…
não embarco em qualquer trem!
DIVA MARIA DE MORAES
Nova Friburgo/RJ

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Fábio Viana Ribeiro (O Vazio da Vida)

Há muito para fazer de Whisky um filme bastante incomum. Para alguns, um filme sem pé nem cabeça, sobre o qual nada há para dizer ou entender. Para outros, um filme praticamente convencional, com um tema igualmente convencional e abordado de forma convencional. E para ainda outros, um filme sobre o nada.

Não foram poucos os escritores escreveram algumas de suas histórias sobre o tema. Tchekhov, por exemplo. Vidas monótonas que se arrastam pelo tempo, onde nada acontece, contínua e vagarosamente. Uma dessas histórias veio, aliás, a ser o último filme do diretor Louis Malle: Tio Vânia em Nova York. Com chances de ter sido um dos filmes mais baratos da história do cinema, considerando que praticamente todo o filme vem a ser tão somente a filmagem do ensaio da peça homônima de Tchekhov por um grupo de atores…

Mas, em Tio Vânia e outros muitos exemplos, a descrição do nada é quase sempre feita em companhia de circunstâncias que, por assim dizer, engrandecem sua existência. Por meio de sua glamourização, de sua transcendentalização, de sua politização, etc. Ou seja, vazios existenciais que terminam por servir de contraste a vidas altamente perturbadas por sua precisa consciência do mundo.

Um dos grandes méritos de Whisky foi o de captar o nada de tipo comum; desglamourizado, cotidiano, repetitivo, exausto de ser exata e inexoravelmente uma rotina, um hábito, um fastio. O mundo das pessoas comuns, no sentido mais exato da palavra. E sobre o qual, talvez até mesmo pela lógica do cinema, por sua característica espetacularizante, somos levados a acreditar que existe em proporções muito reduzidas: mesmo as vidas mais comuns já foram, afinal e pelo cinema, transformadas em boas histórias… Mas talvez possa não ser o caso de pensarmos assim; e simplesmente concluirmos que a vida da maioria das pessoas transcorre dessa forma, sem serem senão o arrastar monótono de hábitos, rotinas e circunstâncias. Mundos dos quais, com maiores ou menores chances de sucesso, todos nós tentamos fugir.

Em Whisky, seus personagens parecem estar presos a um mundo de coisas vazias. Contra o qual não podem contar nem mesmo com o auxílio da tristeza ou do desespero. Dois irmãos, que há muito não se viam, se reencontram por ocasião da morte da mãe. Ambos proprietários de pequenas fábricas de meias, um vivendo no Uruguai e outro no Brasil. O reencontro reacende antigas rivalidades e ressentimentos. A ponto do primeiro, que não se casara, solicitar à sua gerente na fábrica, que represente diante do irmão o papel de sua esposa. De algum modo o espectador é levado a imaginar que seria esse o centro da história, e que, em determinado momento, o irmão visitante perceberia a farsa. Mas também isso será aos poucos coberto pela monotonia, pela falta de graça e sabor do mundo em que vivem. O mundo pouco emocionante da fabricação de meias, a decadência da própria fábrica, a monotonia das máquinas, a falta de palavras, sentimentos e emoções. A insipidez dos presentes trocados, a constrangedora falta de confiança nas funcionárias que trabalham na fábrica, o carro que mal funciona, o passeio que pouco lhes diz, o hotel decadente. A vida, para eles, foi enfim isso; estão agora velhos, cansados e a fotografia que fazem no passeio mostra-lhes quem são. É preciso que o fotógrafo lhes peça, para que apareçam sorrindo na foto, que digam whisky.

WHISKY B

Curiosamente, Whisky bem poderia ser considerado o melhor filme brasileiro dos últimos tempos. Mesmo sendo um filme uruguaio, com uma história que se passa no Uruguai, a descrição que faz da realidade (e que, caso fosse excluído o idioma, poderia perfeitamente ser a de uma cidade ou pessoas do Brasil) parece mais verossível que a maioria dos filmes brasileiros que tentaram o mesmo. E que não o conseguiram por tentarem reproduzir a linguagem do cinema americano, por seus diretores terem sido incapazes de captar convincentemente a realidade de seus temas, por terem se perdido em meio às suas pretensões de realismo… No caso de Whisky tal mérito possivelmente deveria ser atribuído a seus diretores, ao conseguirem descrever um mundo que, por conta de seu vazio e de aparentemente não ocupar nenhum lugar significativo na realidade, seria ainda muito mais difícil de ser descrito que tantos outros, já mostrados pelo cinema. Sem que tenham, inclusive e para isso, lançado mão do fácil expediente, tão comum em nossos dias, de transformar seus personagens em vítimas – os que não têm voz, os despossuídos, etc. – “a vida apenas, sem mistificação”.[1]

Ficha Técnica
Título original: Whisky
Ano: 2004
Direção: Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
País: Uruguai
Duração: 99 minutos

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FÁBIO VIANA RIBEIRO é Doutor em Ciências Sociais (PUC/SP) e professor da Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Ciências Sociais.
[1] C. D. de Andrade – “Os ombros suportam o mundo”.

Fonte
Revista Espaço Academico. Maringá: UEM. http://espacoacademico.wordpress.com/2013/07/10/o-vazio-da-vida/

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Guilherme de Azevedo (A Alma Nova) II

foi mantida a grafia original.
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GRAÇA PÓSTUMA

Depois da tua morte eu hei de ver se arranco,
Numa noite serena, ao teu berço final,
Um produto mimoso; — um grande lírio branco
Da alvura do teu colo ebúrneo e divinal!

Aquela flor suave, ó minha visão etérica,
Debruçada gentil, na taça em que a puser,
Far-me-á lembrar a graça cadavérica
Do teu corpo franzino e etéreo de mulher!

E mesmo conterá, decerto, alguma cousa
Do que me traz submisso e preso ao teu olhar:
— Teu corpo a pouco e pouco irá fugindo à lousa
Depois tornado em lírio à terra há de voltar! —

E em longas noites, nele, eu beberei sozinho,
Sonhando as convulsões duns lindos braços nus,
A fragrância que exala a candidez do linho
Em que hoje ondeias leve e onde os meus lábios pus,

— Saudando a boa mãe que faz com que eu te goze
Depois do verme vil teu seio poluir,
Mais pura no frescor de tal metamorfose
Do que eras a cismar, do que eras a sorrir!

Ó minha doce Ofélia! Os rápidos momentos
Da vida são cruéis mas passam como um som!
Um dia quando enfim dos velhos sedimentos
Teu corpo renascer num lírio imenso e bom,

Talvez que eu durma já também sob os matizes
Das flores, ao sorrir das mil germinações,
Dando um pasto fecundo às tuas sãs raízes
Depois de te sagrar as últimas canções!

HISTÓRIA SIMPLES

Havia um rapaz são, robusto, bom, valente,
De espádua larga e rija; um ceifador gentil.
Cavava todo o dia, andou sempre contente
E a féria dava à mãe sem falta dum ceitil*.

Ele amava a campina e os céus largos, serenos.
Aos domingos a mãe deixava-lhe uns dez reis.
Deitava-se ao luar, dormindo sobre os fenos,
Na fragrância do trevo, ao pé dos cães fiéis.

A mãe tinha de seu duas vaquitas mansas:
Num cerro agreste e vil alguns palmos de chão.
E tinha ainda mais não sei quantas crianças
Que andavam nuas sempre e sempre a pedir pão.

O pai mal se sustinha às vezes sobre as pernas:
Era bêbado e mau, batia na mulher;
E à noite, ao cintilar dos vinhos nas tabernas.
Cantava canções vis de a gente ensurdecer.

Um dia uma senhora honesta da cidade,
Esplêndida, gentil, sabendo-se sorrir,
Reparou no rapaz; achou-lhe própria a idade
E fez-lhe um certo gesto: — o moço não quis ir.

Teve um assomo de raiva, então, sua excelência.
Ordenou-lhe que fosse: o moço disse, — irei!
Despediu-se dos seus: devia obediência
À senhora gentil que se chamava… A Lei!

Pegou no velho alforge e no bordão nodoso
E meteu-se a caminho. Os pobres dos irmãos
Choravam à partida: — um quadro doloroso!
A mãe louca de dor torcia as magras mãos!

Chegando no outro dia ao ponto onde o chamaram
Primeiro foi medido e todos a final,
Depois de bem revisto, à uma, concordaram
Que ao serviço do rei convinha este animal!

Aqueloutra senhora, astuta, grave, terna,
— A Ordem — jubilava em doces pulsações!
Contava mais um servo, um filho, na caserna,
Gastando pouco mais: — uns cobres e uns feijões!…

Agora quando passa o batalhão luzente
Na rua, podeis ver o pobre cavador
Com modos imbecis, marchar pesadamente
— herói por conta alheia — ao rufo do tambor!

Não sabe onde caminha entre as guerreiras hostes!
Perguntem-lhe o que é pátria e liberdade e lei!
Caminha simplesmente às ordens dos prebostes*
Que trazem no chicote a salvação do rei.

E na pobre cabana ainda se conserva
O mesmo quadro triste: — a lacrimosa mãe;
Alguns pequenos nus rolando sobre a erva,
E um ébrio que pragueja e não pensa em ninguém!

Mulher não chores mais: a quadra é pura e bela:
Enquanto na campina alouram os trigais,
Teu filho guarda o mundo e a Deus faz sentinela:
Receiam que Deus faça andar o mundo mais.

Em breve ele virá de júbilo e de assombro
Encher tua alma, enfim, quando amanhã voltar
Com seu velho canudo, a trouxa posta ao ombro,
Trazendo novamente a luz ao pobre lar.

E tu perguntarás: o que é meu filho, é ouro!
A quantas guerras foste? Ó céus, como tu vens!
— Mãe tome essa lata! Esconda o meu tesouro
E deixe-me ir dormir no feno ao pé dos cães!

À mesa do festim, cercada de formosas,
O canto dos cristais e o cintilar dos vinhos
Saudavam juntamente os belos desalinhos
Das galantes visões das ceias luminosas!

Molhavam-se em champanhe as pétalas das rosas!
E em baixo, a nossos pés, em leves murmurinhos
A gaze sobreposta à candidez dos linhos
Erguia-se num mar de vagas caprichosas!

Ali tudo era paz! Nem ódios vis nem zelos!
Os lábios pois limpando às rendas e aos cabelos
Da menos trivial das fadas tentadoras,

Eu brindo aos mortos! — disse: à legião sagrada
Que foi à solidão, à eternidade, ao nada!
— Às almas e ao pudor destas gentis senhoras.

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Notas:
Ceitil – Moeda antiga portuguesa que valia um sexto de real.
Preboste – Nome dado antigamente a um magistrado militar que havia nos corpos do exército e nos navios.

Fonte:
http://luso-livros.net/

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Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 27

CAPÍTULO XIX

A vida de André ficou muito mais desafrontada depois da morte de Ernestina, graças ao magro legado que a infeliz deixara ao outro.

O bom rapaz principiou logo a por de parte algum dinheiro do que ganhava, para ver se podia afinal realizar o seu casamento; pois, a despeito das insistências do amigo, não houve meio de lhe fazer aceitar das mãos deste um só vintém.

— Não, não! Dizia. Isso, nas condições em que te achas, mal chega para te equilibrares de novo! Nada, meu amigo, é preciso que endireites a tua vida; que a ponhas em ordem e possas manter por algum tempo certa independência. Paga aos teus credores e não te preocupes comigo; deixa-me cá, deixa-me cá com os meus rapazes e trata de aplicar agora o que possuis melhor do que fizeste da outra vez! Isso é que é! Lembra-te das privações e dissabores por que passaste!…

Mas qual! Teobaldo, mal empolgou a herança, tornou à mesma ou pior vidinha que levara antes de empobrecer; não era homem para ficar quieto com dinheiro no bolso. Enquanto tivesse o que gastar, não pensaria noutra coisa; e dir-se-ia até que as suas provações dos últimos tempos, em vez de o corrigirem, serviram apenas de lhe estimular a febre da prodigalidade.

Quem o visse um ano depois não acreditaria que ali estava o desesperado herdeiro de Ernestina; que ali estava aquele mísero rapaz a quem, por castigo, o remorso e o arrependimento arrastaram de novo aos braços de Leonília. E, a julgar pelas aparências, tão proveitoso lhe fora o tal castigo, que Teobaldo acabara de esquecer totalmente a culpa.

Todo ele agora respirava júbilo, elegância e prosperidade; seus esplendidos vinte e sete anos luziam por toda a parte. Também a época não podia ser melhor para isso: o Rio de Janeiro passava por uma transformação violenta, estava em guerra; e, enquanto as províncias se despiam para cobrir com os seus filhos, os sertões paraguaios, o Alcazar erguia-se na rua da Vala e a opereta francesa invadia-nos de cabeleira postiça e perna nua.

Durante o dia ouvia-se o Hino Nacional acompanhando para bordo dos vasos de guerra os voluntários da pátria; à noite ouvia-se Offenbach. E o nosso entusiasmo era um só para ambas as músicas. A guerra tornava-nos conhecidos na Europa e uma nuvem de mulheres de todas as nacionalidades precipitava-se sobre o Brasil, que nem uma praga de gafanhotos sobre um cafezal; as estradas de ferro desenvolviam-se facilitando ao fazendeiro as suas visitas à corte e o dinheiro ganhado Pois escravos desfazia-se em camélias e champanha; abriam-se hotéis onde não podiam entrar famílias; multiplicavam-se os botequins e as casas de penhores. Redobrou a loteria e a roleta, correram-se os primeiros cavalos no prado; surgiram impostos e mais impostos, e o ouro do Brasil transformou-se em papel-moeda e em fumaça de pólvora.

Teobaldo estava, pois, com o seu tempo; já demandando todas as noites o Alcazar dentro do seu cabriolé, que ele mesmo governava com muita graça; já percorrendo a cavalo as ruas da cidade em marcha inglesa; já servindo de juiz de raia no Jóquei Clube ou madrugando nas ceias do Raveaux ao lado das Vênus alcazarinas.

Entretanto, posto esquecesse a culpa, não se descuidava totalmente da sua penitencia a respeito de Leonília e tinha para ela uma espécie de estima obrigatória, como a de alguns maridos pela competente esposa. A cortesã, já então um pouco ofuscada pela concorrência estrangeira, resignava aquele meio amor, esperando, cheia de fé, que o seu amado haveria, mais cedo ou mais tarde, de recorrer aos braços dela como supremo recurso quando lhe chegasse a ele a saciedade ou quando se lhe esgotassem recursos para a peraltice.

Aquela vidinha não podia durar muito e, uma vez comido o último vintém, não seria com as francesas que ele se havia de achar! Com efeito, ainda não estava em meio o segundo ano da nova opulência de Teobaldo e já este começava de retrair-se da pândega, não para tornar fielmente a Leonília, mas torcendo para o lado de Branca, de cujo namoro se descuidara um pouco nos últimos tempos. E ao sentir murcharem-lhe de todo as algibeiras, veio-lhe uma ardente febre de liquidar quanto antes aquele casamento, que passava a ser de novo para ele o extremo porto de salvação. Aguiar, porém, que não desistia uma polegada de suas pretensões sobre a prima, deu logo por isso, pôs-se de sobreaviso, estudou-os a ambos e afinal, sem mais se poder conter, interrogou abertamente a menina, de uma vez em que a pilhou de jeito.

Branca respondeu que não reconhecia nele direito algum que o autorizasse a fazer semelhante interrogatório e, depois de muito instigada pelo primo, confessou que votava ao Sr. Teobaldo particular afeição e que estaria disposta a casar-se com ele, no caso que ele a desejasse.

— Com que a senhora o aceitaria para marido?

— A ter de escolher.

— Escolhia-o…

— É exato.

— Quer dizer que o ama!…

— Não sei o que é o amor; apenas reconheço no seu amigo todas as qualidades que eu sonhava no meu noivo; assim pensasse ele a meu respeito.

— Ah! Descanse que não! Aquilo não é homem para sentimentos dessa ordem! É um libertino!

— Meu primo!

— A senhora já o defende… Bravo!

— Decerto, porque o senhor o está caluniando!

— E minha prima o conhece porventura? Saberá ao menos quais são os precedentes da vida dele?

— Não, mas calculo.

— Pois erra no cálculo! Fique sabendo que Teobaldo não a merece; é, repito, um homem incapaz de qualquer afeição séria e duradoura; é um homem que se gastou, que se estragou em amores de todo o gênero e…

— Se continua falar desse modo, vou para junto de meu pai…

— Ah! Não quer ouvir as verdades a respeito dele; está bom, está muito bom!… Não sabia que a coisa chegara a este ponto; mas, enfim, sempre lhe direi que o seu rico Teobaldo até hoje tem vivido, por bem dizer, a’ custa de mulheres!…

Branca ergueu-se indignada e fugiu.

— Miserável! Considerou o Aguiar; é preciso ser muito infame para fazer o que ele fez! Apresento-o a esta casa, confio-lhe as minhas intenções, declaro-lhe quanto adoro minha prima, e o patife responde a tudo isso procurando disputar-ma. Ah! Mas a coisa não lhe há de ser assim tão doce! Eu cá estou para te cortar os planos, especulador! Queres apanhar-lhe o dote? Pois tens de te haver comigo! Não te lamberás com o dinheiro de meu tio como te lambeste com o dinheiro da pobre Ernestina!

Daí a dias falava o Aguiar com o comendador:

— É preciso abrir os olhos, meu tio, é preciso abrir os olhos. Aquele tratante é capaz de tudo! Abra os olhos, se não quiser que ele lhe pregue alguma peça…

— Mas, com a breca! Não foste tu mesmo que mo apresentaste?

— Não o conhecia nesse tempo: andava iludido; só hoje sei a bisca que ali está.

E contou a respeito de Teobaldo todas as verdades que sabia e mais ainda o que lhe pareceu necessário para as realçar; assim, disse que ele era um grande devasso e um grande hipócrita; que ele para conseguir qualquer desiderato não hesitava defronte de obstáculos, nem considerações de espécie alguma, e que, no caso presente, se o comendador não tratasse de defender a filha, o patife conseguiria apoderar-se dela, pois já lhe havia captado a confiança e talvez o coração.

— Estás sonhando com certeza!

— Não! Digo a verdade. Branca deseja casar com ele!

— Não creio! Isso não pode ter fundamento!

— Juro-lhe que tem! Ela própria mo confessou!

— Nesse caso vou interrogá-la.

— Pois interrogue, e verá!

Branca respondeu ao pai com toda a franqueza que — Se tivesse de escolher noivo preferia o Sr. Teobaldo a qualquer outro…

— Bem, filha, isso é lá uma questão de gosto; não se argumenta! Mas, sempre te direi que é de minha obrigação evitar que dês um passo mal; preciso esclarecer-te sobre os precedentes e sobre o caráter desse moço, a quem na tua inocência escolheste para marido.

— Oh! Mas foi vossemecê justamente quem me deu o exemplo de gostar dele!. … Não posso compreender como um rapaz, até aqui tão querido e simpatizado por todos nesta casa, mereça o que meu pai acaba de dizer.

— Sim, minha filha, mas o casamento é coisa muito séria; pode a gente simpatizar com uma pessoa, achar que ela tem talento, que é bonita, que é engraçada; sim, senhor! Daí, porém, a querer mete-la na família vai uma distância enorme!…

— Não sei que possa faltar Aquele rapaz para ter direito à minha mão!…

— Não se trata do que falta, meu bem, mas do que lhe sobra!…

— Como assim?

— É que há feios boatos a respeito da vida que ele tem levado aqui na corte…

— Intrigas de meu primo…

— Eu, pelo menos, preciso tomar certas informações antes de consentir que penses nele.

— Ora, papai, isso de pensar ou de não pensar em alguém não depende da vontade; e, quase sempre, quanto mais a gente faz em não pensar em uma pessoa ou em uma coisa, é quando mais ela não lhe sai da idéia.

— Bem, bem, bem! Disse o velho afastando-se contrariado; mais tarde havemos de falar neste assunto; por ora não tens a cabeça no seu lugar.

Toda esta conversa foi a noite desse mesmo dia relatada minuciosamente a Teobaldo por Branca, que se encontrou com ele em casa de uma família conhecida de ambos.

— Estás disposta a casar comigo? perguntou-lhe o rapaz.

— Bem sabes que sim.

— Mesmo sem a autorização de teu pai?

— Sim, mas exijo que lhe faças o pedido.

— E se ele negar!

— Insistiremos.

— E se ele insistir também na recusa?

— Esperaremos.

— E se ele nunca mudar de idéia?

— Não sei… Havemos de ver…

— E se ele quiser casar-te à força com teu primo?

— Oh! Isso não consinto.

— Pois fica sabendo que é essa a sua intenção!

— Não creio!

— E, se for, estás disposta a reagir?

— Estou.

— E sabes qual é o único meio que há para isso?

— Qual é?

— Fugindo.

Branca teve um sobressalto e repetiu quase que mentalmente:

— Fugindo?…

— Sim, e desde já preciso saber se devo ou não contar contigo; nestes casos não há meias medidas a tomar: se estás disposta a ser minha esposa, arrostaremos tudo; se não estás, desaparecerei para sempre de teus olhos. Decide!

— Sim, mas tu hás de falar primeiro a papai…

— Está claro e só me servirei do rapto no caso que este me recuse a tua mão.

— Talvez não recuse.

— E se recusar?

Ela abaixou os olhos.

— Responde! Disse ele.

— Irei para onde me levares…

— Bem. Estamos entendidos.

E Teobaldo afastou-se disfarçadamente.

Quando tornou a casa, foi direito ao Coruja, a quem por último confiava as suas esperanças de casamento, e disse-lhe sem mais preâmbulos:

— Sabes?! O Aguiar está me fazendo uma guerra terrível! Intrigou-me com o comendador! Creio que vou ter muito vento contrário pela proa! Ah! Mas comigo aquele miserável perde o seu tempo porque estou resolvido a raptar a menina!

— Não sei se farás bem com isso… observou o outro; esses meios violentos provam quase sempre muito mal… Eu, no teu caso, me entenderia com o pai.

— Ah! Está bem visto que lhe farei o pedido! Faço, que dúvida! Mas já sei que vou levar um formidável “não” pelas ventas! O bruto nega-ma com certeza!

— Quem sabe lá, homem! Experimenta…

— Pois se o demônio do Aguiar não faz senão desmoralizar-me aos olhos do velho!.
— Pois desmente-o, provando com a tua conduta o contrário do que ele disser. Olha! Queres ver o meio de chegar mais depressa a esse resultado? Procura trabalho. Emprega-te!

— Mas onde?

— Em casa do próprio pai da menina…

— Em casa do comendador? Tem graça.

— Não sei por quê…

— Pois eu sirvo lá para o comércio!…

— Procura servir.

— Ele não tomaria a sério o meu pedido.

— Nesse caso a culpa já não seria tua; e o bom cumprimento do teu dever, procurando trabalho, seria já argumento que ficava de pé contra as intrigas do Aguiar.

— Tens razão. Amanhã mesmo vou falar ao velho; talvez consiga alguma coisa…

— Hás de conseguir, pelo menos, provar que desejas ganhar a vida.

Teobaldo ficou pasmado quando, no dia seguinte, às suas primeiras palavras com o pai de Branca, este disse sem o menor constrangimento:

— Ó meu caro senhor, por que não me falou há mais tempo?… Tenho muito prazer em ser-lhe útil; diga quais são as suas habilitações e pode ser que entremos em algum acordo.

Teobaldo viu-se deveras embaraçado para responder a semelhante pergunta. Ele, coitado, não tinha habilitações; tinha dotes, sentia-se com jeito para tudo em geral, mas imperfeito e inepto para qualquer especialidade. O comendador foi em auxílio dele, perguntando-lhe se sabia o francês e o inglês.

— Perfeitamente, apressou-se a responder o interrogado. — Falo e escrevo com muita facilidade qualquer dessas línguas.

— Pois então trabalhará na correspondência. Tem boa letra?

— Sofrível; quer ver?

E, tomando a pena que o negociante havia deposto em cima da carteira, escreveu primorosamente sobre uma folha de papel as seguintes palavras:

“Convencido de que a ociosidade é a mãe de todos os vícios e de todos os males, desejo evitá-lo, dedicando-me a um trabalho honesto e proveitoso.”

— Muito bem! Disse o comendador, olhando por cima dos óculos para o que estava escrito. Pode amanhã mesmo apresentar-se aqui; meu guarda-livros se entenderá com o senhor.

— Devo vir a que horas?

— Aí pelas sete da manhã.

Teobaldo correu a contar ao amigo o resultado da sua conferencia com o pai de Branca.

— Então? Que te dizia eu?… Exclamou Coruja, nadando em júbilo. Vês?! Tudo se pode arranjar por bons meios! Não dou muito tempo para que o comendador morra de amores por ti e esteja disposto a proteger-te mais do que protegeria a um próprio filho! Assim tenhas tu cabeça e saibas te agüentar no emprego!

— Vamos a ver.

— Olha, meu caro, ali tens um futuro, sabes? Talvez não ganhes muito ao princípio, mas pouco a pouco o comendador te aumentará o ordenado e, quando deres por ti, estarás com a tua vida independente e garantida. Então, sim, pede a menina e casa-te, antes disso — é asneira!
–––––––––––––
continua…

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Estatística do Blog

O Blog funciona desde dezembro de 2007. Este final de ano estará completando 6 anos de atividade.
Até agora, houveram :

 Agradeço a todos que prestigiaram, prestigiam e espero que continuem prestigiando-o.
José Feldman

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Varal de Trovas n 38 – Clevane Pessoa (Belo Horizonte/MG) e Hermoclydes Siqueira Franco (Rio de Janeiro/RJ)

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José Feldman (Universo de Versos n. 106)


Uma Trova do Paraná

APOLLO TABORDA FRANÇA

Das rosas do meu jardim,
Maria sempre a mais bela…
Perfuma mais que o jasmim,
Que floresce em torno dela!
========================
Uma Trova sobre Esperança, de Belo Horizonte/MG

ODETE DONAH

A Esperança é a voz divina
que a alma da gente acalanta;
nesta terra pequenina
nenhuma voz a suplanta.
========================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira …
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira …
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de Moji-Guaçu/SP

OLIVALDO JUNIOR

Se só tenho a poesia,
comovida, em meu viver,
onde fica esta alegria
que só sinto ao te rever?
=======================
Uma Trova Humorística, de Uberaba/MG

JOSÉ FABIANO

Cá em Portugal, “calcinha”
é “cueca”. Vejam que horror
o homem dizer: “Queridinha,
tire a cueca, meu amor…”
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO 
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

 
Fiz do quarto um santuário,
pus sua foto no andor
e rezei um novenário
para louvar nosso amor!
========================
Uma Trova Hispânica da Argentina

SUSANA STEFANIA CERUTTI

Siempre nacerá el mañana
cuando reine la esperanza,
con redobles de campana
como arrullos de bonanza.
===================
Uma Trova sobre Respeito, de Recife/PE

GERALDO LYRA

Prefira a sinceridade
e faça o bem nesta vida.
Quem usa de falsidade
torna a existência sofrida…
========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADALBERTO DUTRA REZENDE
Cataguazes/MG (1913 – 1999) Bandeirantes/PR

Que o negro ao branco revele
sentenças deste teor:
a alma humana não tem pele
e a virtude não tem cor.
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Não sei que tristeza é esta,
que profunda nostalgia
com gosto de fim de festa,
que eu carrego, noite e dia…
========================
Um Haicai de Pedro Leopoldo/MG

WAGNER MARQUES LOPES

Agosto na vila:
floridos, bem coloridos,
os ipês em fila.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

São meus ouvidos dois ninhos
onde guardo, ao meu sabor,
um bando de passarinhos!
– Tuas mentiras de amor.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

saber é pouco
como é que a água do mar
entra dentro do coco?
======================
Um Haicai Hispanico da Espanha

MANEL SANTAMARIA

En primavera
los florecidos sueños
llegar esperan.
===========================
Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? …
– Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim .
======================
O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Carma, assim é a vida
quanto mais longa
mais cumprida
========================
O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES
(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

 
Noite

Tão perto!
Tão longe!
Por onde
é o deserto?
Às vezes,
responde,
de perto,
de longe.
Mas depois
se esconde.
Somos um
ou dois?
Às vezes,
nenhum.
E em seguida,
tantos!
Avida
transborda
por todos
os cantos.
Acorda
com modos
de puro
esplendor.
Procuro
meu rumo:
horizonte
escuro:
um muro
em redor.
em treva
me sumo.
Para onde
me leva?

Pergunto a Deus se estou viva,
se estou sonhando ou acordada.
Lábio de Deus! – Sensitiva
tocada.
======================
O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Desejos Vãos
(do CD “A Flor de Florbela”)

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…
================================
O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Festa Móvel

Nós dois? – Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?
==============================
Uma Poesia de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Delimitando Santos

Manhã de sol, luminosa,
dourando as águas do mar…
brisa mansa… onda morosa…
um barquinho a balouçar…

Nesse barco pequenino,
os sonhos do pescador
compõem o próprio destino,
vencendo frio e calor.

Ao fundo, o azul horizonte,
Ilha das Palmas! E alçado
à frente Itaipu no monte
e a Serra do Mar, ao lado.

Ao centro, a concha serena,
de tão sublimes encantos,
guarda pérola pequena
e tão valiosa – Santos!

E essa concha de ternura,
sempre cercada de flores,
oferece a alma pura
na gama de tantas cores!

De norte a sul, leste a oeste,
há perfume de poesia,
de orquídeas de aroma agreste,
mesclado de maresia.

No porto, grandes navios…
Nas praias, verdes jardins,
palmeiras, troncos esguios
das alturas sempre afins.

E o azul por cima de tudo!
No altar do Monte, a Padroeira,
com seu olhar de veludo,
abraça a cidade inteira!

Santos, o berço da História!
E de tão grandes poetas
que honram da Pátria a memória,
traçando brilhantes metas!

Liberdade e Caridade
Santos traz no coração…
E em troca, levam Saudade
os que de Santos se vão!
=================
O Universo Poético de Francisca

FRANCISCA JÚLIA
(1871, Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP – 1920, São Paulo/SP)

Musa Impassível

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma angüiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d’ ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’ alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
========================
Velhas Lengalengas e Rimas do Arco-da-Velha Portuguesas

JOANINHA VOA, VOA

(Em várias versões)

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em Lisboa
Com um caldinho de galinha
Para dar à Joaninha.

***

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em Lisboa
Com um rabinho de sardinha
Para comer que mais não tinha…

***

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai foi a Lisboa
Com um saco de dinheiro
Pra pagar ao sapateiro

***

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai foi para Lisboa
Com um saco de farinha
Para ti, ó Joaninha.

***

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em lisboa
A tua mãe no moinho
A comer pão com toucinho.

***

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai foi pra Lisboa
Leva cartas para Lisboa
Que eu te darei pão e broa

Fonte:
E-book da equipa do Luso-Livros]
http://luso-livros.net/

============================
O Universo Poético de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Flores

Quando começa a raiar
O dia cheio de amor,
Eu gosto de contemplar
O coração de uma flor,

Desmaiada e tremulante,
Pendendo triste no galho,
Tendo o pistilo brilhante
Embalsamado de orvalho:

A rosa só me parece,
Assim tão casta e sem véu,
Um anjo rezando a prece
Um’alma voando ao Céu.

Do jasmim puro e mimoso,
A corola embranquecida,
É como um seio formoso
De criança adormecida.

Esqueço-me, então, das horas
A contemplar estas flores,
As violetas, auroras,
Saudades, lindos amores.
==============================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Puseste a mantilha negra
Que hás de tirar ao voltar.
A que me puseste na alma
Não tiras. Mas deixa-a estar!
========================
Uma Poesia de Portugal

ANTERO DE QUENTAL

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura…
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, O Deserdado…
Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d’ouro, com fragor…
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão – e nada mais!
========================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro (1923 – 2012)

Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos
======================
Uma Poesia Hispanica, da Argentina

LIBIA CARCIOFETTI

Vacía

Fueron horas, minutos, segundos..
Eternidad del tiempo
sin espacio…
Solo se, que se movía.
Mis uñas se clavaron en mi palma
dejando mi mano adormecida.
Intenté dejar de respirar
para insuflarle vida…
Mis entrañas se conmovieron
y un sudor frío me recorría.
La luna se asomaba entre las cortinas
y por ratos me sonreía…
Abracé mi vientre y me quedé dormida.
Desde ese momento comencé a caminar
sobre algodones, que por momentos desaparecían
dando paso a pétalos rojos, acuosos
que sobre las sábanas alguien esparcía.
Lentas las horas, como lenta la vida…
que despertarme de este sueño
yo ya no quería.
¡Tarde besó el sol mi frente ardida!
Y tu mano fue compresa de agua fría.
¡DIOS! ¡Si pidieras mi vida!
Seguro te la daría.
Tu dedo selló mi boca…
Y tus lágrimas rodaron por mis mejillas.
Acaricié mi vientre, ya sin lunas.
Regresamos los dos a casa
que también como yo; “estaba vacía”…
================================
O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Lendo Vinícius

Me assalta um medo estranho
quando leio Vinícius.

Algo me aperta a garganta
e quase trava o meu verso.

Para que continuar
se aonde quero ir
ele já foi?

Se enquanto cato palavras
ele faz música?

Para que? Se quando vou cantar,
de repente
me quedo a ouvi-lo
como toda gente?
============================
Um Soneto de Curitiba/PR

ANDRÉA MOTTA

Despertar

É pena que esta noite sempre acabe,
que a chuva forte o teto meu desabe”.
Versos de Lisieux de Souza

É pena que esta noite sempre acabe
e acorde deste sonho de amor,
e que o descaso seja o arremate,
cortando o coração de tanta dor.

Inda aprendo a te amar sem ilusões
e me entregar à tua carnal lascívia,
como se fosse, o amor, rua de u’a via,
sem medo de futuras punições.

Então esqueço todo o meu cansaço
e as rugas que já marcam minha face.
Finjo não ter o meu peito em pedaço.

Deixo, assim, de ser mera coadjuvante.
Nesta vereda não haverá noite
que a chuva forte o teto meu desabe.
========================
O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN (1934)


Quem não aprendeu a amar
não tem olhos para ver
as coisas belas do mundo
que nos enchem de prazer;
existe enquanto está vivo,
mas se esquece de viver!
===============================
O Universo de Silviah

SILVIAH CARVALHO e ARNOLDO PIMENTEL
Curitiba/PR e Belford Roxo/RJ

A Menina do Rio Amazonas

Fiquei na margem do rio,
Desanuviando minha mente,
Meditando na constância das águas,
No desapego da alma, neste vazio…

Vi pessoas passarem às margens,
E notei, cada um faz seu próprio rio!
E navegam em suas esperanças,
Levando as lendas em suas bagagens.

Vi a menina sentada à beira do rio,
Sonhando com a felicidade,
Esperando o boto… Não sei!
Que a tire da beira e se faça seu rei.

Na espera inútil a tristeza vem à tona,
Não há encantamento… Eu chorei!
Vendo a tristeza nos olhos da menina
Do rio amazonas…

Eu a vi partindo só e com frio,
Deixando nas margens o fim do seu rio,
Eu a vi sofrer por um conto infantil,
Eu soube que ela nunca mais sorriu.

E eu! Ainda espero só,
Na margem do rio… do meu Rio.
=============
Uma Poesia Além Fronteiras

    FRANCISCO JOSÉ TENREIRO
      (S. TOMÉ e PRÍNCIPE)

Ciclo do Álcool

1

Quando seu Silva Costa
Chegou na ilha
Trouxe uma garrafa de aguardente
Para o primeiro comércio.

A terra era tão vasta
Havia tanto calor
Que a água
Parecia não ter potência
Para acalmar a sede da sua garganta.

Seu Silva Costa
        Bebeu metade…

E sua garganta ganhou palavra
Para o primeiro comércio.

2

A lua batendo nos palmares
Tem carícias de sonho
Nos olhos de Sam Márinha.
Silêncio!
O mar batendo nas rochas
È o eco da ilha.
Silêncio!
Lá no longe
Soluçam as cubatas
Batidas dum luar sem sonho.
Silêncio!
No canto da rua
Os brancos estão fazendo negócio
A golpes de champagne!

3

Mãe Negra contou:
“eu disse:
    filhinho
beba isso coisa não…
    Filhinho riu tanto tanto!…”

Nhá Rita calou-se.
Só os olhos e as rugas
Estremeceram um sorriso longínquo.

– E depois Mãe-Negra?

“Oh!
    Filhinho
Entrou no vinhateiro
Vinhateiro entrou nele…”

Os olhos de nhá Rita
Estão avermelhando de tristeza.

“Hum!
    Filhinho
Ficou esquecendo sua mãe!…
=====================
O Universo Poético de Olavo

Olavo Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)

A Vida

Na água do rio que procura o mar;
No mar sem fim; na luz que nos encanta;
Na montanha que aos ares se levanta;
No céu sem raias que deslumbra o olhar;
No astro maior, na mais humilde planta;
Na voz do vento, no clarão solar;
No inseto vil, no tronco secular,
— A vida universal palpita e canta!
Vive até, no seu sono, a pedra bruta…
Tudo vive! E, alta noite, na mudez
De tudo, – essa harmonia que se escuta
Correndo os ares, na amplidão perdida,
Essa música doce, é a voz, talvez,
Da alma de tudo, celebrando a Vida!
======================
Um Poema, de Campo Mourão/PR

CLARA ANDRADE MIRANDA DE ARAÚJO

Estrangeirismo

Pobre do nosso idioma
Que o estrangeirismo assola
Pra se falar hoje em dia
Na língua é preciso mola

Estar bem na vida é o must
O habitat é um flat
Onde o chic é ter um site
Relax na internet.

My Darling tem mais um hobby
Diz o brother da society
Em weekend no Blue Moon
Com Sunday e soda light

Ganhei charm e new look
Usando training de stretch
Se o stress te deixa down
Vá comer chips ou fresh

No window uma homepage
E um fax modem na house
Para convidar pro new age
É só clicar o seu mouse

I love you para o baby
I’m sorry, como dói,
Recado só por e-mail,
Ou pelo Office boy

Playback num happy end
En passant com champignon
Ticket num happy hour
Champagne no reveillon

O baby look dá o tom
Antigo é o pullover
Na rua tem dance street
Cantor da moda é um cover

Special é uma star
Que usa babouche ou um Nike
O fashion é o black tie
Desconfiou é insight

Bye bye que eu vou pros States
Trabalhar num workshop
Na bag só um Rocaille
De cotton blue levo um top
Talvez eu vire uma lady
Ou uma star superpop.
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
========================
UniVersos Melodicos

Dorival Caymmi

A JANGADA VOLTOU SÓ
(canção, 1941)

A jangada saiu
Com Chico Ferreira e Bento
A jangada voltou só
Com certeza foi lá fora, algum pé de vento
A jangada voltou só…

Chico era o boi do rancho
Nas festa de Natá
Chico era o boi do rancho
Nas festa de Natá
Não se ensaiava o rancho
Sem com Chico se contá
E agora que não tem Chico
Que graça é que pode ter
Se Chico foi na jangada…
E a jangada voltou só… a jangada saiu
Com Chico Ferreira e Bento
A jangada voltou só
Com certeza foi lá fora, algum pé de vento
A jangada voltou só…


(2x)

Bento cantando modas 
Muita figura fez    
Bento tinha bom peito    

E pra cantar não tinha vez  

As moça de Jaguaripe
Choraram de fazê dó
Seu Bento foi na jangada
E a jangada voltou só
==========
Uma Cantiga Infantil de Roda

A CORUJINHA
Vinicius de Moraes e Toquinho

Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei que
O teu canto de repente
Faz a gente estremecer

Corujinha, pobrezinha
Todo mundo  que te vê
Diz assim, ah! coitadinha
Que feinha que é você

Quando a noite vem  chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder
Hoje em dia andas  vaidosa
Orgulhosa como quê

Toda noite tua carinha
Aparece   na TV
Corujinha, corujinha
Que feinha que é você!

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Arquivado em Universo de Versos

Francisco Pessoa (Lançamento do Livro "Isto é coisa do Pessoa – em Prosa e Verso", em 13 de Setembro)

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24 de agosto de 2013 · 22:40

Antonio Brás Constante (A Simplicidade Viva da Morte)

A morte mesmo em sua forma mais incerta é a única certeza que temos. Depois de uma vida de incertezas encontramos na certeza da morte nosso destino final. Ela está sempre à espreita de nossas vidas como uma fera que cedo ou tarde vai nos atacar e subjugar.

Para quem sofre sem ter mais esperanças ela se torna uma amiga bem vinda e aguardada. Uns dizem que ela é violenta, outros que é gelada, pois ao seu toque o sopro da vida se esvai, deixando apenas uma carcaça fria para ser enterrada. Após sua chegada abandonamos nosso transporte terrestre chamado de corpo, que irá reciclar com o universo físico, e deixamos que nossa alma imortal (se é que ela existe) possa enfim voar leve e solta, provavelmente, fazendo aquilo que almas leves e soltas ficam fazendo por aí para passar seu tempo infinito.

Se alguém me perguntasse se existe algo pior que a morte, eu lhes responderia: “Sim, TUDO!”. A morte não é cruel para aqueles que morrem, e ao pensar nisso percebo que quando ouvimos que fulano ou beltrano teve uma morte horrível, na verdade eles tiveram um final de vida horrível. A morte é a mesma para todos, quando ela chega não há mais dor, ou qualquer sofrimento. A paz reina eterna. Nossa existência finita se encontra com a derradeira inexistência infinita. A morte é igual em qualquer parte do mundo, é universal.

Qualquer um que sente que vai morrer torce para encontrar uma luz para seguir, e torce mais ainda para que aquela luminosidade toda não seja obra de algum vaga-lume superdotado. A morte acontece de maneiras implacáveis (não confundam com “emplacáveis” segunda pessoa do plural do pretérito imperfeito do verbo emplacar, pois em se tratando da ceifadora, quando ela emplaca o jogo da vida acaba).

A morte muitas vezes tem a ver com o DNA (Data de Nascimento Antiga) do indivíduo. Ninguém escapa de seu abraço frio, que não escolhe raça, credo, idade, ou time do coração. Teoricamente, aqueles que têm fé deveriam receber sua chegada com mais alegria e menos tristeza, visto que em todas as fábulas religiosas o além é um lugar muito melhor do que esta nossa conhecida, temporária e carnal estadia terrena. Porém, o que vejo é o contrário, ninguém quer morrer, por mais que se acredite em paraísos divinos, ninguém quer largar este tênue lampejo existencial.

A dona morte nada mais é do que o ponto final em um texto, totalmente alheia ao que ali foi escrito, sem julgar se o conteúdo foi bom ou ruim, não é maleável ou influenciável. Ela é uma marca, um final de sentença, um bilhete de ida para o eterno descanso. Claro que talvez alguns punhados de fantasmas possam vir a discordar de mim, mas não devemos nos assombrar com estas assombrações.

Dizem que quando alguém morre uma parte da pessoa continua viva dentro de nós, mas o contrário também é verdadeiro, pois uma parte de nós sempre acaba morrendo junto da pessoa que amamos. A tristeza transformada em depressão, a depressão baixando a imunidade de nosso corpo, nos enfraquecendo, nos atordoando, nos desamparando, arrancando a dor de nosso peito sem qualquer pudor, e expondo-a ao mundo para quem quiser ver. Uma força que nos força chorar, não há como evitar.

Nos velórios vislumbramos muitas faces amigas transfiguradas, onde antes víamos cultivados sorrisos doces, naquele instante brotam lágrimas salgadas, forjadas na mais pura melancolia. O enterro é a pior parte, uma espécie de marcha do sofrimento, seres unidos pela agonia rumando em passos lentos para sepultar aqueles que se foram, para nunca mais voltar.

Em aproximadamente 30 dias deste ano de 2013 a morte me visitou duas vezes, de forma indireta, porém, arrebatadora. Na primeira delas, no inicio de julho, levou meu mestre e amigo Zé Gadis, responsável direto por eu ter seguido esta lida de pretenso escritor. Em sua segunda visita levou minha querida mãe, dia 04 de agosto.

E aqui estou eu, com minhas mãos vivas registrando a morte. A mente instigada e sugestionada pela perda de um mestre e uma guerreira, deixando aqui meu pequeno tributo de lembrança a eles, que merecem bem mais que isso, muito mais mesmo, mas por enquanto, por hoje, e talvez por um indeterminado tempo, ainda longe de meu campo de visão, é tudo que posso lhes oferecer. Um tributo de certa forma inútil, visto que é dedicado em homenagem a pessoas que nunca poderão ler, chorar, rir, ou mesmo desfrutar de qualquer outra maneira desta dedicatória.

Enfim, eles me conheceram assim, um palhaço das palavras perdidas, que transforma a própria tragédia em picadeiro, buscando esboçar um sorriso ainda que em um texto triste, enquanto duas lágrimas deslizam dentro do peito, acariciando meu coração…

Fonte:
O autor

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9ª Feira Internacional do Livro de Foz de Iguaçu (Excerto da Programação: 30 agosto a 8 de setembro)

A programação abaixo está sujeita a alterações dispostas pela organização.
Entrada gratuita.

Programação – sexta, 30 de agosto

Programação infantil

09h00 – Arte de contar histórias: A bruxa Cueca – Adriana Maria Zenette (Feira das Letrinhas – Palco 2)

11h00  e 14h00 –    A arte de contar história: A Bruxa Cueca – Adriana Maria Zenette (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

14h00 – Rádio feira – Literatura é a Onda

20h00 – Abertura oficial da Feira Internacional do Livro: Participação de representantes da comunidade e dos governos (Palco do Mitre)

Programação – sábado, 31 de agosto

Programação infantil

11h00 – A arte de contar história: “O Poetinha” – Vera Vieira (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

09h00 – Biblioteca Municipal: 50 anos – Oficina: Encadernação Contemporânea – Oficineiro: Daniel Barbosa (Fundação Cultural)

10h00 – Palestra: “Educação de superdotados: Teoria e prática” – Profª. Drª. Clara Sodré S. Gama (Café Literário – Palco 01)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda     ……

15h00 – Mesa: “O lugar do livro no século XXI” – Convidado Daniel Barbosa / Facilitadora Profª. Diana Araujo Pereira (Café Literário – Palco 1)

16h00 – Apresentação musical: “Música e Literatura – obras literárias musicalizadas” – coordenação: Profa. Irene Porzio Zavala (Palco 2)

17h00 – Oficina: Produção Cartonera  – coordenação: Profª. Diana Araujo Pereira  / Grupo Pet/Conexões de Saberes – UNILA  (Espaço de Oficina)

19h30 – “Literatura na diáspora latino-americana” – Escritora: Shirley Campbell Barr (Costa Rica) – Mediador: Profa. Angela Maria de Souza (Café Literário – Palco 01)

20h30 – Lançamento de livros: Autores da comunidade acadêmica  – Coordenação: UNILA (Café Literário – Palco 01)

Programação – domingo, 1º de setembro

Programação infantil

10h00 – A arte de contar histórias: “O Poetinha” – Vera Vieira (Antiquarium)

Programação geral

09h000 – Biblioteca Municipal: 50 anos –  Oficina: Encadernação Contemporânea / Oficineiro: Daniel Barbosa (Fundação Cultural)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda     ……

14h00 – Mesa de debates 2: “Jovens escritores da Unila” – Mediadora: Profª. Débora Cota e Profª. Angela Maria de Souza – Unila (Café Literário – Palco 1)

15h00 – Lançamento de livro: “Inverno de Gunter” –  Juan Manuel Marcos –  mediador: Profª. Daiane Pereira Rodrigues (UNILA) (Café Literário – Palco 1)

16h00 – Mesa de debates 3: “Poesía, existencia y contexto histórico: una historia personal” – Miguel Angel Fernandez / Mediadora: Profª Diana Araujo Pereira (Unila) (Café Literário – Palco 1)

17h00 – Mesa de debates 4: “Tríplice Fronteira e Literatura” –  Convidados: Damián Cabrera, Douglas Diegues e Maria Eugenia Bancescu – Unila (Café Literário – Palco 1)

19h00 – Bate papo e Lançamento do Livro: “A historia do Paraná – Guia Pratico para o Vestibular” – Autor: Dênis Valério Martins (Café Literário – Palco 01)

Programação – segunda, 2 de setembro

Programação infantil

09h00  e 10h00 – A arte de contar histórias: “O Poetinha” – Vera Vieira (Feira das Letrinhas – Palco 2)

14h00 – A arte de contar histórias: A Bruxa Cueca – Adriana Maria Zenette (Feira das Letrinhas – Palco 2)

15h30 – A arte de contar histórias: A Bruxa Cueca – Adriana Maria Zenette (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

10h00 – “Comunicação e Educação: as tecnologias transformando a sala de aula – Prof. Carlos Gruber Neto &  Prof. Mestre Carmem Lúcia Fagundes – UDC (local a confirmar)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

16h00 – Lançamento de livro e bate-papo com o autor: “La sonrisa de mamá es como la de Peron” – Autor: Rocco Carbone – UNILA (Café Literário – Palco 1)

17h00 – Mesa de debates 5: “Para ler a América Latina: Literatura e cultura em trânsito” –    Débora Cota e Mercedez Yazmin Lenci – Unila (Praça do Mitre)

18h00 – Papo & Música: “Vinicius Sempre” – Luana (Foz do Iguaçu) (Palco 2)

19h00 – Mesa de debates 06: “Los três cielos, la poesia que se escribe em la Amazônia boliviana” –   Escritor: Homero Carvalho (Bolívia) – Unila (Café Literário – Palco 1)

Programação – terça, 3 de setembro

Programação infantil

09h00 e 10h00 – A arte de contar histórias: SDS Cia. Teatral (Feira das Letrinhas – Palco 2)

14h00 – A arte de contar histórias: “A linha e a agulha” – Amaury Moraes (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação normal

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

15h00 às 18h30 – Biblioteca Municipal: 50 anos – Oficina de poesia: Slan Poetry –  Oficineira:  Roberta Estrela D`Alva (Fundação Cultural)

16h00 – Roda de Conversa: “Leitura crítica da imprensa” –  Facilitadores: Alexandre Palmar e Wemerson Augusto Coordenação: Sindicato dos Jornalistas (Foz) (Arena das Ideias – Palco 2)

17h00 – Palestra: “Educação, trabalho voluntário e responsabilidade social” – Convidada: Silvana Aparecida de Souza / Mediador: Geraldo Magella Neres (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Encontro Dos Escritores das Três Fronteiras (Arena das Ideias – Palco 1)

19h00 – ZAP! Zona Autônoma da Palavra: Roberta Estrela D´Alva (Arena das Ideias – Palco 2)

20h00 – Palestra sobre o livro: “Política e hegemonia – a interpretação gramsciana de Maquiavel”  – Autor: Geraldo Magella Neres/ Mediação: Silvana Souza (Café Literário – Palco 1)

Programação – quarta, 4 de setembro

Programação infantil

09h00 e 10h 00 – A arte de contar histórias: “O Poetinha” – Vera Vieira (Feira das Letrinhas – Palco 2)

14h00 e 15h30 – A arte de contar histórias: SDS Cia. Teatral (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

09h00 – Oficina: Dinâmica de escrita – Manual do texto de dissertativo – Oficineira: Julieta Mendonça  – Coordenação – Editares (Sala de Oficinas)

09h30 – Mesa de debates 1: “Consciência em revolução”  Convidada: Rosemary Salles  – Coordenação: Editares (Café Literário – Palco 1)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

15h00 – Mesa de debates 2: Fenômenos parapsíquicos – “Voltei para Contar” – Convidada: Lucy Lutfi – Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

15h00 – Mesa de debates 2:  “Contrapontos do parapsiquismo” – Convidada: Cirleine Couto – Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

15h00 – Mesa de debates 2:   “Qualificações da Consciência” – Convidado: Júlio Almeida –  Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

15h00 – Apresentação do Grupo de Poesia – Escola Mun. Cecília Meireles (Palco 2)

16h30 – Mesa de debates 3: Técnicas parapsiquícas – “Dinâmicas parapsíquicas” – Convidados: Moacir Gonçalves e Rosemery Salles – Coordenação: Editares (Café Literário – Palco 1)

16h30 – Mesa de debates 3: “Acoplametarium” – Convidados: Lilian Zolet e Guilherme Kunz – Coordenação: Editares (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Mesa de debates 4: Produtividade na juventude – “Inversão existencial” –  Convidados: Felipe Colpo e Alexandre Zaslavsky – Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Mesa de debates 4: “Hiperatividade eficaz” – Convidada: Graça Razera – Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Mesa de debates 4: “Síndrome do estrangeiro” – Convidados: Málu Balona – Coordenação:  Editares (Café Literário – Palco 1)

19h30 – Lançamento livro: “Autenticidade Consciencial”, de Tony Musskopf (Café Literário – Palco 1)

19h30 – Lançamento livro: “Revista Holoteca”, de César Cordioli e Karla Ullman – Coordenação: Editares (Café Literário – Palco 1)

19h30 – Lançamento livro: “Dicionário de Neologismo da Conscienciologia”, de Lourdes Pinheiro – Coordenação: Editares (Café Literário – Palco 1)

20h30 – Palestra sobre o livro: “A vida de Dale Carnegie e sua filosofia de sucesso” – Autor: Carlos Roberto Bacila (Café Literário – Palco 1)

Programação – quinta, 5 de setembro

Programação infantil

09h00 e 10h00 – A arte de contar histórias: SDS Cia. Teatral (Feira das Letrinhas – Palco 2)

14h00 e 15h00 – A arte de contar histórias: “A linha e a agulha” – Amaury Moraes (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

10h00 às 12h00 – Oficina: “Como Escrever – literatura, jornalismo, teatro e cinema” – Oficineiro: Jorge Fernando dos Santos (Fundação Cultural)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

15h00 – Paralelos – Livro Solidário: Doação de acervo à Biblioteca Comunitária CNI (Comunidade do  bairro Cidade Nova)

16h00 – Palestra e exposição de livro: “Conversações sobre o direito” – Convidado: Profº. Allan Wanderley (Café Literário – Palco 1)

19h00 – Lançamento Livro “Inspiração” – Escritora: Micheline Musser (Estande da Livraria Essencia da Leitura)

19h00 – Encontro de Escritores das Três Fronteiras – Coordenação: Eduardo Alfredo Galeano (Argentina) (Palco 2)

19h00 – “Desafios da escrita: a crise do jornalismo impresso e as transformações sofridas pela mídia na contemporaneidade” – Convidado: Jorge Fernando dos Santos (Café Literário – Palco 1)

20h00 – Palestra sobre o livro: “Psiquiatria sem alma” –  Autor: Dr. José Elias Aiex Neto (Café Literário – Palco 1)

21h00 – Palestra sobre o livro: “Mentes inquietas – TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade” –  Autora: Drª. Ana Beatriz Barbosa (Café Literário – Palco 1)

Programação – sexta, 6 de setembro

Programação infantil

09h00 e 10h00 – A arte de contar histórias: A Bruxa Cueca  – Adriana Maria Zenette (Feira das Letrinhas – Palco 2)

14h00 e 15h00 – A arte de contar histórias: SDS Cia. Teatral (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

08h30 – Conferência de abertura  – Convidados: Profª. Dra. Silvia Helena Aires Araújo (Café Literário – Palco 1)

09h00 – Palestra sobre o livro: “O processo criativo e editorial do livro infantil” – Autor: Fábio Aristimunho Vargas (Café Literário – Palco 1)

10h00 – Palestra: “A arte da comunicação”  – convidada: Profª. Larissa B. Mantovani (Café Literário – Palco 1)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda     ……

15h00 – Paralelos: Livro solidário: Doação de acervo à Biblioteca Cidadã Paulo Freire – Atividades literárias: Ponto de Cultura Tirando de Letra – Associação Guatá (Bairro Vila “C”)

16h00 – Roda de Conversa: “Poesia sem fronteiras”  – Intervenção Poética  – Coordenação: Ação Poética Três Fronteiras (Arena das Ideias – Palco 2)

17h00 – Bate-papo: “Dramaturgia contemporânea” – Palestrante: Cynthia Becker – Núcleo de Dramaturgia do SESI (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Palestra: “Viagens literárias: quando a realidade ultrapassa a fronteira da ficção” -Palestrante : André Kondo (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Lançamento do livro e sessão de autógrafos: “Palavras de Areia” – Autor: André Kondo     Café Literário – Palco 1

19h00 – Tema: A morte e o Nascimento de outro mundo – Autor: Claudio Bersot – Coordenação: UNIFOZ (Café Literário – Palco 1)

19h00 – Painel: “Ler para Viver” – Homenagem aos 50 anos da Biblioteca Municipal Elfrida Engels Rios – Palestrante: Rogério Pereira (BBP) (Fundação Cultural)

Programação – sábado, 7 de setembro

Programação infantil

10h30 e 14h00 – Espetáculo de teatro: “Como num filme de terror” – SDS Cia. Teatral (Feira das Letrinhas – Palco 2)

Programação geral

10h00 às 12h00 – Palestra-oficina: “A formação do leitor em cenário intercultural” – Palestrante: Adriane Elisa Glasser (Fundação Cultural)

10h00 às 12h00 – Lançamento do Livro: “A formação do leitor em cenário intercultural” – Autora Adriane Elisa Glasser (Fundação Cultural)

10h00 – Bate-papo sobre o livro: “Aspectos pedagógicos da Capoeira” –  Autor: Fábio André Castilha (Café Literário Palco 1)

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

14h00 às 17h00 – Oficina de experimentação poética: “Sarau do Burro” – Convidado: Daniel Minchoni (Fundação Cultural)

16h00 – Bate-papo: Como Escrever um Livro – “Técnicas para escrever Contos” – Autora: Isabel Furini (Café Literário – Palco 1)

17h00 – Bate-papo e lançamento do livro: “Escrito sob fogo e sangue – A decisão” – Autora: Adrieni Yassine (Café Literário – Palco 1)

18h00 – Palestra: “Literatura e música no interior do Brasil” – Convidado: Profº. Dr. Ildo Carbonera (Café Literário – Palco 1)

19h00 – Palestra sobre o livro: “Autismo comprometido: sobre poesia peruana reciente” – Pedro Granados  – Mediador: Adolfo Montejo Navas (Café Literário – Palco 1)

20h00 – Palestra: “Um certo lorde”  – Convidado: João Gilberto Noll (Café Literário – Palco 1)

20h00 – Lançamento do Livro e sessão de autógrafos:  “Solidão Continental”  – Autor: João Gilberto Noll / Apresentação: Ildo Carbonera (Café Literário – Palco 1)

21h00 – “Sarau do Burro” – Daniel Minchoni –   Papo & Música: “Tiago Rossato ao Acordeon” (Palco 2)

Programação – domingo, 8 de setembro

Programação infantil

09h30 – A arte de contar histórias: “O chapéu amarelo” – SDS Cia. Teatral (Antiquarium)

Programação geral

10h00 às 12h00 – Oficina: “Literatura Infantil: O mundo da imaginação” – Oficineira: Isabel Furini (Fundação Cultural)

10h00 – Painel: “Poesia que se pinta: a poética do grafitti” –  Convidados: Sinhá e Daniel Minchoni (Palco 2)

11h00 – Palestra: a construção do livro da associação de pais e amigos dos surdos de Foz – Prof. Mestre Alessandra Ferreira e Universitária Michele Finkler

14h00 – Rádio Feira – Literatura é a Onda

15h00 – Apresentação de teatro: “Vinicius, a vida é uma arte” – Projeto Plugado! (Tenda das Artes – Palco 2)

16h00 – Palestra: “Foz do Iguaçu Intercultural – Cotidiano e narrativas da alteridade” –  Autora: Mestre Nara Regina e Universitários do Curso de Turismo (Café Literário – Palco 1)

17h00 – Palestra: “A arte de Contar Historias” – Professora Jaqueline Benitez e Universitários do Curso de Pedagogia (Palco 2)

19h00 – Lançamento: “Confissionarium”  – Autora: Marisete Zanon / Mediação: Jeane Hanauer – Coordenação: Ponto de Cultural Academia de Letras de Foz (Café Literário – Palco 1)

20h00 – Palestra: “Vinicius de Moares: vida e obra” – Convidado: José Castelo Branco / Mediação: Rogerio Pereira (BBP) (Tenda dos Escritores – Palco 1)

21h00 – Show musical: “Vinicius, profissão poeta” –  Spartaco Saulo (Foz do Iguaçu) (Palco 2)

Fonte:
http://cbnfoz.com.br/noticias-de-foz-do-iguacu/editorial/foz-do-iguacu/23082013-37405-confira-a-programacao-da-9-feira-internacional-do-livro-2013-em-foz-do-iguacu

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5º Concurso de Poesia "Poetizar o Mundo" (Prazo: 15 de Outubro)

Modalidade: Poesia Minimalista

Organizadora: escritora e poeta Isabel F. Furini, autora de “Os Corvos de Van Gogh”.

1) O Concurso de Poemas tem como objetivo estimular a produção literária e é destinado a todas as pessoas maiores de 18 anos que apresentem um poema minimalista inédito e escrito em português.

2) O tema é livre, a inscrição é gratuita e poderá ser feita de 15 de agosto/13 até 15 de outubro/13.

3) Cada concorrente poderá participar com apenas um poema minimalista (até 5 versos ou linhas).

4) O poema deverá ser inédito (ou seja, ainda não impresso em papel, nem publicado na internet), que não tenha sido premiado em outro concurso. Enviado no corpo do e-mail: isabelfurini@hotmail.com, sem anexo, escrito em língua portuguesa, digitado em espaço 2 (dois), com fonte Arial, tamanho 12 (doze).

5) Consideram-se inscritas as obras enviadas pelo e-mail: isabelfurini@hotmail.com
Em “assunto”: 5º Concurso de Poesia: “Poetizar o Mundo”.

6) Deverá constar no final: o título do poema, nome completo do autor, seu endereço, e-mail, telefone e 4 ou 5 linhas de currículo.

7) A comissão julgadora será composta por três jurados: o editor do Instituto Memória, escritor Anthony Leahy, a poeta Andreia Carvalho Gavita, editora da revista literária Mallarmargens e editora multimídia em Revista Zunái e o poeta, escritor e gestor cultural Daufen Bach, editor da revista virtual Biografias.

8) Premiação: o primeiro lugar receberá troféu e diploma. O segundo e terceiro lugares receberão diplomas. Poderão ser escolhidas até três Menções Honrosas, que também receberão diplomas.

9) O resultado do concurso será divulgado em sites literários da Internet e no blog: http://www.isabelfurini.blogspot.com/ – e Falando de Literatura, do Bonde News.

10) O resultado será divulgado no mês de novembro/13. Na ocasião, também serão homenageados com medalhas comemorativas três personalidades que trabalham em prol da cultura, Jô de Oliveira, fundadora do grupo Artes sem Fronteira, o poeta e contista Benilson Toniolo (Secretário de Cultura de Campos do Jordão) e o jornalista e escritor Willy Schumann.

11º) O encaminhamento dos trabalhos na forma prevista neste regulamento implica concordância com as disposições nele consignadas.

Fontes:
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1º Prêmio Internacional de Literatura Cartonera/PE (Prazo: 31 de agosto)

REGULAMENTO

 
1.
Objetivo:

1.1.
O objetivo da atribuição do I Prêmio Internacional de Literatura Cartonera é a publicação através do formato cartonero de autores pernambucanos (residentes ou não no estado) e não pernambucanos residentes há pelo menos um ano.

2.
Inscrições:

2.1.
Cada autor poderá participar apenas com uma obra, sendo que esta deverá ser inédita em livro, podendo ter sido publicada em blogs ou similares.

2.2.
A este Prêmio poderão concorrer apenas texto do gênero conto
.
2.3.
A inscrição será efetivada a partir do momento de envio dos textos para o contato abaixo mencionado.

2.4.
Apenas serão aceitos os textos enviados entre 1 de Agosto às 0:00 e 31 de Agosto às 0:00 para a caixa postal mencionada.

2.5.
Juntamente com a obra o autor deverá enviar uma declaração de autoria e de cessão dos direitos autorais [consultar anexo II].

2.6.
A partir do momento de envio da obra não poderá ser feita nenhuma alteração, acréscimo, troca ou exclusão a posteriori , mesmo que ainda esteja dentro do prazo de recebimento.

2.7.
O autor deverá incluir uma folha de identificação onde constem os dados pessoais, pseudônimo a utilizar (se for o caso) e contatos.

2.8.
O texto deverá ser digitado a Times New Roman, tamanho 12, estilo normal, espaçamento duplo e 2 cm em todas as margens. O texto não deverá ultrapassar 10 páginas A4. O arquivo deverá ser enviado em formato pdf.

3.
Atribuição do Prêmio

3.1.
A escolha do texto vencedor caberá a um comitê de leitura vinculado à área literária e será realizado entre o dia 1 de Setembro e o dia 15 de Setembro.

3.2.
Caberá ao comitê de leitura indicar 3 obras finalistas e eleger entre si a obra vencedora.

3.3.
O comitê de leitura pode optar por atribuir também uma menção honrosa caso se justifique.

3.4.
O resultado será anunciado em ocasião oportuna durante a IX Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.

4.
Premiação:

4.1.
O autor será publicado pela Editora Cephisa Cartone ra, sediada em Clermont-Ferrand, França tendo em conta o formato de livro com as capas em papelão.

4.2.
O texto será traduzido para francês pela Editora Babel Cartonera, criada em Bagnéres-de-Louchon, França e atualmente sediada em Cochabamba, Bolívia.

4.3.
A edição será bilíngue. A confecção artesanal do livro ficará a cargo de Severina Catadora, outra editora cartonera, sediada em Garanhuns, estado de Pernambuco.

4.4.
O autor receberá 20 exemplares (o equivalente a 10% da primeira tiragem do livro), a título de direitos autorais.

4.5.
Todos os direitos da tradução serão cedidos ao autor para uso livre em outras publicações posteriores, desde que citada a tradução original realizada por Babel Cartonera.

5.
Prazos:

1 de Agosto de 2013 a 31 de Agosto de 2013 –

Recepção dos textos
1 de Setembro a 15 de Setembro –

Escolha e tradução do texto vencedor

6.
Direitos de autor: O autor vencedor compromete-se a ceder os direitos de autor às editoras cartoneras que se irão encarregar da publicação, tradução, confecção e difusão do texto. Tendo em conta as características editoriais desses selos, sempre que um autor publica um texto, o mesmo terá que ficar acessível para circular entre todos demais, podendo ser publicado através das diversas editoras cartoneras localizadas pelo mundo inteiro. O nome do autor constará sempre das publicações realizadas.

7.
Contactos:
premioliteraturacartonera@gmail.com

8.
Comité de Leitura:

8.1.
Duas representações da Editora Cephisa Cartonera;

8.2.
Uma representação da Universidade Blaise-Pascal, Clermont-Ferrand (França);

8.3.
Uma representação da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco;

9.
Disposições finais: O concurso poderá ser revogado em qualquer uma das suas fases, caso o comitê de leitura assim o entenda e existam motivos de força maior, devidamente justificados, sem que caiba aos participantes direito a alguma indenização.

10.
Anexos

10.1.

Anexo I – Declaração de autoria e de cessão dos direitos autorais

10.2.
Anexo II – Contextualização do Movimento Cartonero

Recife, 31 de Julho de 2013
Conselho Editorial Cephisa Cartonera

Regulamento:
http://www.bienalpernambuco.com/1o-premio-internacional-de-literatura-cartonera/

Organização:
Cephisa Cartonera

Contato – Informações e Dúvidas:
premioliteraturacartonera@gmail.com

ANEXO
Declaração de autoria e de cessão de direitos autorais

Eu ________________________________________________________, de nacionalidade __________________, residente em _____________________________________________, portador do documento de identidade nº________________________________ e CPF nº ______________________ declaro por minha honra ser o único e legítimo autor da obra_________________________________________________________________, bem como aceito ceder os direitos autorais da referida obra à Editora Cephisa Cartonera, sediada em Clermont-Ferrand, França, a qual autorizo a distribuir o texto pelas demais cartoneras, sempre que haja manifestações de interesse.
Declaro ainda que a obra referida não se encontra publicada em nenhuma editora, nem foi objeto de nenhum contrato de publicação e difusão.

Por ser verdade, assino o seguinte documento,
____/____/____, ________________________
_______________________________________________________________

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9º Prêmio Maximiano Campos de Literatura (Prazo: 20 de Setembro)

REGULAMENTO

O Instituto Maximiano Campos – IMC é uma organização que presta relevantes serviços em favor da cultura literária e artística popular contribuindo para o engrandecimento do valor intelectual no Estado e no País. O Prêmio Maximiano Campos de Literatura está em sua nona edição e tornou-se uma ferramenta estimuladora, potencializando o desenvolvimento de jovens e adultos. É um processo de introdução da transformação da leitura numa atividade lúdica e prazerosa. O concurso é dirigido a adultos e pessoas com formação média concluída.

1. Objetivo:

1.1. Estimular e premiar novos talentos a partir da criação em língua portuguesa dos gêneros literários conto e micro conto.

2. Condições:

2.1. Poderão participar brasileiros natos ou estrangeiros naturalizados, com escolaridade média concluída.

2.2. Poderão participar apenas autores inéditos ou que tenham até dois livros publicados individualmente (não serão consideradas as antologias).

2.3. Cada concorrente poderá participar com apenas um texto original, rigorosamente inédito, nunca antes publicado nem na imprensa nem na forma de livro físico e/ou digital.

2.4. Os textos não poderão ser divulgados por quaisquer meios, total ou parcialmente, até a data da publicação, que será definida pelo IMC.

3. Inscrições:

3.1. As inscrições devem ser feitas até 20 de setembro de 2013. Os interessados devem acessar a fan page da instituição na rede social, compartilhar, curtir e preencher o formulário com os dados pedidos da maneira correta.

3.2. O preenchimento incorreto do cadastro resultará na anulação da inscrição sem aviso prévio.

3.3. O concurso dar-se-á em 2 categorias:

Categoria CONTO:

à Os textos devem ser escritos em português e ter no máximo 8 (oito) mil caracteres contanto com os espaços (aproximadamente 2 páginas).

Categoria MICRO CONTO:

à Os textos devem ser escritos em português e ter no máximo 1500 (mil e quinhentos) caracteres contanto com os espaços (aproximadamente ½ página).

4. Seleção:

4.1. Independente do número total de inscritos, serão escolhidos 10 (dez) textos de cada categoria para publicação no livro de antologia do concurso, no entanto, apenas o primeiro colocado da categoria Conto e os três primeiros colocados da categoria Micro Conto serão premiados financeiramente.

4.2. A seleção será feita por uma comissão julgadora composta por pessoas capacitadas na área: uma mestra em língua portuguesa e um professor ou crítico de literatura com parecer final do escritor, advogado e presidente da instituição proponente do concurso.

4.3. O parecer da comissão julgadora é irrecorrível.

4.4. Qualquer outro processo/etapa de seleção incluso no concurso ou mudança no desenvolvimento do mesmo não poderá ser questionado.

5. Critérios:

5.1. Os textos serão analisados a partir dos seguintes critérios:

a. Correção ortográfica;

b. Criatividade;

c. Inovação;

d. Singularidade.

6. Premiação:

6.1. Na categoria Conto os classificados serão premiados da seguinte maneira:

1º Lugar R$ 4.000,00 (Quatro Mil Reais) e certificado.

6.2. Na categoria Micro Conto a premiação se dará da seguinte forma:

1º Lugar R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) e certificado.

2º Lugar R$ 750,00 (setecentos e cinquenta reais) e certificado.

3º Lugar R$ 500,00 (cinquenta reais) e certificado.

6.3. A premiação dos classificados restantes será dez exemplares da obra que reúne os contos escolhidos pela comissão julgadora e será lançada pelo instituto, com data da premiação a ser definida pelo presidente do IMC até dezembro do ano corrente.

6.4. A divulgação dos 10 selecionados será através do site e redes sociais do IMC até o dia 25 de outubro de 2013.

7. Publicação e direitos autorais:

7.1. Os candidatos assumem total responsabilidade pela autenticidade dos trabalhos inscritos.

7.2. A inscrição no concurso implica, automaticamente, cessão dos direitos do autor ao IMC e à Editora Carpe Diem, a título gratuito, ficando o IMC e a Editora Carpe Diem autorizados a reproduzir, em qualquer lugar, tempo ou meio de comunicação, textos ou partes dele, com a devida identificação do seu autor.

Informações:

Leila Teixeira, coordenadora do concurso e gerente do IMC.
Contatos: (81) 3441-9080 ou premio@imcbr.org.br.

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Arquivado em Concurso Literário, Inscrições Abertas

I Festival de Haicais de Petrópolis (Resultado Final)

Tema: A influência das estações do ano nas paisagens petropolitanas.
Categoria: Poetas adultos Nacional (exceto Petrópolis)
1º Colocado

Sob o sol de inverno
A abelha zumbe nas horas.
– Relógio de Flores
(Paulo Cezar Tótora – RJ)

2º Colocado

Quadro impressionista,
Quitandinha sob o ruço
Natureza artista.
( Elenir Moreira Teixeira – Niterói – RJ)

3º Colocado

Brisa serrana,
de que fome de vida
sua voz emana?
( Eder Luís Tomakazu Kamitani – Florianópolis – SC)

4º Colocado

Sereno ruço…
Acolhendo vidraças,
tu… choras cristais!
(Cris Dakinis – São Pedro da Aldeia – RJ)

5º Colocado

O capim dobrado
presta reverência ao vento
solene submissão.
(Guilherme Lessa Bica Machado – Porto Alegre – RS)

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Arquivado em Concurso Literário, Resultado Final

8º Prêmio Escriba de Contos (Resultado Final)

1º Lugar:
Domino gratias
Zulmar José Lopes de Vasconcellos
Rio de Janeiro – RJ

2º Lugar:
Colecionador de pedras
Elias Araújo
Américo Brasiliense – São Paulo – SP

3º Lugar:
O terno
André Telucazu Kondo
Jundiaí – SP

– Melhor trabalho de Piracicaba:

Ao Crepúsculo
Sebastião Aparecido Ferreira

– Menções Honrosas:

1 – A cartomante e as probabilidades
Davi Menossi Gonzales
São Caetano do Sul – SP

2 – O botão e o sobretudo
Elda Nympha Cobra Silveira
Piracicaba – SP

3 – Pele
Vera Lúcia Valim Beernhard
Porto Alegre – RS

4 – Avarina e o Andina
Célia Maria da Conceição Chamiça Pereira
Odivelas – Portugal

5 – A farinha e o sonho
Luis Pimentel
Rio de Janeiro – RJ

6 – O homem virado música
Marcelo Ribeiro de Souza
Rio de Janeiro – RJ

7 – Ceias
Vanessa Maranha
Franca – SP

Selecionados:

1 – Vagalumes
Emir Ross
Porto Alegre – RS

2 – Enfado
Rui Trancoso de Abreu
Limeira – SP

3 – Como um quadro de Dalí
Didiane Vally Figueiredo Chinalli
Santos – SP

4 – La vida és sueno
Henrique Pedro Queiros Veludo Gouveia
Rio de Janeiro – RJ

5 – O poço
Alberto Arecchi
Cidade Pávia – Itália

6 – Castanho café
Valentina Silva Ferreira
Portugal

7 – Flor de novembro
Leopoldo Kempinski Mezzomo
Pinhais – PR

8 – A calamidade
Danito Gimo da Graça Avelino
Província de Sofala – Moçambique

9 – O rio
Lygia Roncel de Rodrigues Ferreira
São Paulo -SP

10 – O barulho da chuva
Wesley de Andrade Ferreira
Maringá – PR

Fonte:
http://golp-piracicaba.blogspot.com.br/2013/08/resultado-do-8o-premio-escriba-de.html

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Isabel Furini (Rosas)

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24 de agosto de 2013 · 02:36

José Feldman (Universo de Versos n. 105)


Uma Trova do Paraná

Nilsa Alves de Melo

Se alguém vires paradão,
não vás fazendo premissa.
Anemia, amarelão,
se confundem com preguiça.
========================
Uma Trova sobre Esperança, do Rio de Janeiro

EDGAR BARCELOS CERQUEIRA

A esperança é o quem-me-dera,
o Deus-te-ouça, a oração;
une a vida ao que se espera,
como um traço de união.
========================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo “fotografia
de chuva”…por “dois cruzeiro”…
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de São Paulo

MARINA BRUNA

Quem faz poemas alcança
todo o brilho do Universo
pondo estrelas de esperança
nas rimas de cada verso!
=======================
Uma Trova Humorística, de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO

Nos bailes não dava trela,
e a todos dizia não;
mas no fim foi a donzela
quem “dançou”: ficou na mão!
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO 
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

Fiz a “pergunta ao espelho”
que para não me ofender :
disfarçou, ficou vermelho
e não quis me responder!
========================
Uma Trova Hispânica do Mexico

CRISTINA BONILLA

 Ella navega esa barca
 se pierde en negro misterio
 busca al extraño  monarca
 ¡Que la tiene en cautiverio!
===================
Uma Trova sobre Sinceridade, de Cantagalo/RJ

RUTH FARAH NACIF LUTTERBACK

Num arbítrio de questão,
é amigo de verdade
quem, de fato, dá razão
usando sinceridade.
========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADELIR MACHADO
São Gonçalo/RJ (1928 – 2003) Niterói/RJ

A empregada de hoje em dia
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as cantadas do patrão!!!
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Lar vazio… o “nada” em tudo…
a vida sem mais porquê…
– E na sala, o piano mudo,
como fala de você!…
========================
Um Haicai do Rio de Janeiro

ANTONIO CABRAL FILHO

Seu laço de fita
Abalou meu coração:
Paixão virtual.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

Minhas trovas sem beleza,
se as dizes, são divinais!
Só por isso, com certeza,
elas serão imortais.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
======================
Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem…
======================
O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia
========================
O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES
(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

Cantar
Cantar de beira de rio:
Agua que bate na pedra,
pedra que não dá resposta.

Noite que vem por acaso,
trazendo nos lábios negros
o sonho de que se gosta.

Pensando no caminho
pensando o rosto da flor
que pode vir, mas não vem

Passam luas – muito longe,
estrelas – muito impossíveis,
nuvens sem nada, também.

Cantar de beira de rio:
o mundo coube nos olhos,
todo cheio, mas vazio.

A água subiu pelo campo,
mas o campo era tão triste…
Ai!
Cantar de beira de rio.
======================
O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Maria das Quimeras
(do CD “A Flor de Florbela”)

Maria das quimeras me chamou
Alguém.. pelos castelos que eu ergui
P’las flores d’oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.

Maria das quimeras me ficou;
Com elas na minh’alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh’alma, alguém, tudo levou!

Maria das quimeras, que fim deste
Às flores d’oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?

Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das quimeras, sem quimeras?
================================
O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Janeiro

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.
==============================
Uma Poesia do Rio Grande do Norte

DJALMA MOTA

Não Precisa Sonhar
Dorme… Dorme querida!
Repousa o seu cansaço.

Sonhar?
Não precisa sonhar!
Talvez o sonho seja tentador.

Apenas ao acordar, lembre de mim!
Por quê?…
Estarei sempre torcendo por você!
=================
O Universo Poético de Francisca

FRANCISCA JÚLIA
(1871, Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP – 1920, São Paulo/SP)

Noturno

Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso
Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo
Se arrasta em direção ao negro cemitério…
À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.

E o cortejo caminha. Os cantos do saltério
Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;
Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;
Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.

Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha
Da noite se ilumina ao resplendor da lua…
Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.

E enquanto paira no ar esse rumor das calmas
Noites, acima dele, em silêncio, flutua
O lausperene mudo e súplice das almas.
========================
Velhas Lengalengas e Rimas do Arco-da-Velha Portuguesas

FUI…
Fui a Viana
A cavalo(*) numa cana.

Fui ao Porto
A cavalo de um burro morto.

Fui a Braga
A cavalo de uma cabra.

Fui ao Douro
A cavalo de um touro.

[(*) “a cavalo” = montado em cima de algo]

Fonte:
E-book da equipa do Luso-Livros]
http://luso-livros.net/

==============================
O Universo Poético de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Flor do Campo

Moça ingênua e formosa,
Ó doce filha do sertão agreste!
O teu olhar celeste
Tem o fulgor da Noite luminosa.

Guarda a mesma doçura,
O mesmo encanto feito de esperanças
Dos olhos das crianças,
Ninho de sonho e ninho de ternura.

A luz do Paraíso,
Quando a alegria tua boca enflora,
Resplende como a aurora
Na graça virginal de um teu sorriso.

É’s inocente e boa
Como a Quimera que em teu seio canta
Tens a beleza santa
Da pomba amiga que no Espaço voa.

Jamais alguém te disse
Que tens o rosto branco como o gelo,
A noite no cabelo
E o sorriso tão cheio de meiguice.

Por isso inda é mais bela
A tua fronte cândida e tranqüila,
E o fogo que cintila
No teu olhar é como o de uma estrela.

Angélica e suave,
É tua voz que as almas adormece,
Um ciciar de prece,
Embalando a saudade de algum’ave.

Hoje tu’alma ignora
Toda a magia deste rosto puro;
Mas, olha, no futuro
Lembrar-te-ás do que não vês agora.

E, então, com que saudade
Recordarás esse passado morto
Em triste desconforto,
Chorando os sonhos da primeira idade.

Ó lindo malmequer,
Anjo que vives a sonhar com Deus…
Põe os olhos nos meus
E ouve bem séria o que te vou dizer:

Um dia, talvez cedo,
Teu coração palpitará inquieto
E, transbordando afeto,
Há de afagar um íntimo segredo.

Para tu’alma honesta
O Céu inteiro, iluminado, ó flor!
Com a luz de um puro amor
Há de brilhar como uma Igreja em festa.

E assim, risonha e calma,
Conduzirá ao porto da aliança,
Na barca da Esperança,
Como um troféu, o noivo de tu’alma.

E Deus há de baixar
Sobre estas duas mãos que o padre estreita,
A bênção mais perfeita,
O seu mais doce e mais divino olhar.

Feliz, muito feliz,
A tua vida correrá de manso
No plácido remanso
De quem adora o Céu e o Céu bem-diz.

Depois, do Paraíso,
Jesus há de enviar-te uma filhinha,
Formosa criancinha
Que embalarás cantando n’um sorriso.

E ela há de ser bonita
E boa como tu, anjo terrestre,
Ó linda flor silvestre,
Minha singela e casta margarida!

E após anos e anos,
Quando ela ficar moça e no teu rosto
A sombra do sol posto
For desdobrando o manto dos enganos.

N’um dia de verão,
Sentado à porta, à hora do descanso,
Sorrindo, bem de manso,
Há de dizer, pegando-te na mão.

O velho esposo amigo:
– Repara como é linda a nossa filha!
Seu riso como brilha!
Eras assim quando casei contigo.

E tu hás de evocar,
Entre saudades trêmulas e ais,
Aquele tempo que não volta mais!

E no gracioso olhar
De tua filha os olhos mergulhando,
Deixarás a tu’alma ir flutuando

Sobre a onda bendita
Daquele mar puríssimo e dolente…

E, então, murmurarás saudosamente:
Ah! como fui bonita!
=======================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Aquela que mora ali
E que ali está à janela
Se um dia morar aqui
Se calhar não será ela.
========================
Uma Poesia de Portugal

EUGÉNIO DE ANDRADE

Poema à mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos…

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha – queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
   “Era uma vez uma princesa
    no meio de um laranjal…”

Mas – tu sabes! – a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu…

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas…

Boa noite. Eu vou com as aves!
========================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro (1923 – 2012)

Meu sonho é mixo;
                     Ter a felicidade
                     Que os outros põem no lixo
======================
O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Hoje, Estou Triste…

Amor… Hoje estou triste… Nesses dias
a vida de repente se reduz
a um punhado de inúteis fantasias…
… Sou uma procissão só de homens nus…

Olho as mãos, minhas pobres mãos vazias
sem esperas, sem dádivas, sem luz,
que hão semear vagas melancolias
que ninguém vai colher, mas que compus…

Amor, estou cansado, e amargo, e só…
Estou triste mais triste e pobre do que Jó,
– por que tentar um gesto? E para quê?

Dê-me, por Deus, um trago de esperança…
Fale-me, como se fala a uma criança
do amor, do mar, das aves… de você!
============================
Um Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI

Sol
Hoje estás escondido. Olhando para fora,
em meio à névoa densa, em vão eu te procuro.
Que falta fazes quando, ao se esboçar a aurora,
vejo o céu carrancudo e tão cinzento e escuro!

És tu que trazes vida, a ausência eu te censuro.
Sem ti sofre a semente a emergir para a flora,
falta a luz dos teus raios ao trigo maduro,
esmaecem os tons quando te vais embora.

De repente, através de uma nesga apareces…
Com que força vital a alma da gente aqueces
e afastas tão depressa as nuvens de tristeza!

És dono do universo, a nada te comparas;
e ao sentir teu calor reconfortando as searas,
feliz volta a sorrir, de novo, a Natureza!
========================
O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN (1934)

Sei que existe desamor
mas somos a espécie eleita,
e, para o viver bem,
Deus nos ensina a receita,
por isso creio que, um dia,
este mundo inda se ajeita.
===============================
Uma Poesia Além Fronteiras

AIRES DE ALMEIDA SANTOS
Angola (Benguela)

Meu amor da Rua Onze
     Tantas juras nos trocamos,
     Tantas promessas fizemos,
     Tantos beijos roubamos,
     Tantos abraços nos demos.

          Meu amor da Rua Onze,
          Meu amor da Rua Onze,
          Já não quero
          Mais mentir.

          Meu amor da Rua Onze,
          Meu amor da Rua Onze,
          Já não quero
          Mais fingir.

     Era tão grande e tão belo
     Nosso romance de amor
     Que ainda sinto o calor
     Das juras que nos trocamos.

     Era tão bela, tão doce
     Nossa maneira de amar
     Que ainda pairam no ar
     As promessas que fizemos.

     Nossa maneira de amar
     era tão doida, tão louca
     Qu’inda me queimam a boca
     Os beijos que nos roubamos.

     Tanta loucura e doidice
     Tinha o nosso amor desfeito
     Que ainda sinto no peito
     Os abraços que nos demos.

          E agora
          Tudo acabo.
          Terminou
          Nosso romance.

     Quando te vejo passar
     Com o teu andar
     Senhoril,
     Sinto nascer

     E crescer
     Uma saudade infinita
     Do teu corpo gentil
     De escultura
     Cor de bronze,
     Meu amor da Rua Onze.
=====================
O Universo Poético de Olavo Bilac

Olavo Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)

Os Pobres

Aí vêm pelos caminhos
Descalços, de pés no chão,
Os pobres que andam sozinhos,
Implorando compaixão.
Vivem sem cama e sem teto,
Na fome e na solidão:
Pedem um pouco de afeto,
Pedem um pouco de pão.
São tímidos? São covardes?
Têm pejo? Têm confusão?
Parai quando os encontrardes,
E dá-lhes a vossa mão!
Guia-lhes os tristes passos!
Dá-lhes, sem hesitação,
O apoio de vossos braços,
Metade de vosso pão!
Não receies que, algum dia,
Vos assalte a ingratidão:
O prêmio está na alegria
Que tereis no coração.
Protegei os desgraçados,
Órfãos de toda a afeição:
E sereis abençoados
Por um pedaço de pão …
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
========================
UniVersos Melodicos

Custódio Mesquita e Sadi Cabral

MULHER
(fox-canção, 1940)

Considerado avançado para a sua época, Custódio Mesquita (foto) tem em “Mulher” uma de suas composições mais elaboradas. Talvez se possa considerar que este seria um prenúncio da melhor fase de sua carreira (1943-1945), que o credenciou como um precursor da moderna música brasileira, principalmente por seu sofisticado jogo harmônico.

Em “Mulher” as modulações, os surpreendentes acordes menores e o final fora da tônica são bem representativos de suas concepções musicais. Apoiado por um arranjo sóbrio e elegante, este fox foi gravado por Sílvio Caldas em disco que traz na outra face a valsa “Velho Realejo”, também de Custódio e Sadi Cabral.

Não sei
Que intensa magia
Teu corpo irradia
Que me deixa louco assim
Mulher

Não sei
Teus olhos castanhos
Profundos, estranhos
Que mistérios ocultarão
Mulher

Não sei dizer
Mulher
Só sei que sem alma
Roubaste-me a calma
E a teus pés eu fico a implorar

O teu amor tem um gosto amargo . . .
Eu fico sempre a chorar nesta dor
Por teu amor
Por teu amor . . . .mulher

Fonte:
http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/04/mulher.html

==========
Uma Cantiga Infantil de Roda

A canoa virou

É uma roda de crianças, todas de mãos dadas…. e assim cantam:

   A canoa virou
Pois deixaram ela virar
Foi por causa de Maria
Que não soube remar
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu tirava Maria
Do fundo do mar

Siri pra cá,
Siri pra lá
Maria é bela
E quer casar.

Quando as meninas dizem Fulana, (Maria, por exemplo), esta se vira para fora da roda e continua de mãos dadas, em sentido contrário. Cantam novamente o quarteto, mudando apenas o nome de outra menina, que igualmente vira para fora da roda. E assim sucessivamente, até a última. Depois, todas batem palmas e pulam.

Fonte:
Veríssimo de Melo. Rondas infantis brasileiras. São Paulo, Departamento de Cultura, 1953.

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Varal de Trovas n 37 – Amália Max (Ponta Grossa/PR) e Wanda de Paula Mourthé (Belo Horizonte/MG)

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José Feldman (Universo de Versos n. 104)


Uma Trova do Paraná

ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA

 

Por que tamanho barulho,
de um alarme por tão pouco?
Tocou tanto o tal bagulho…
que acabou ficando rouco!
========================
Uma Trova sobre Esperança, de Piranguçu/MG

ANTONIO MARTINS

Nasci pobre e, na pobreza,
desconheci a abastança…
Mas sempre tive a riqueza
de possuir a esperança.
========================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

Eu sou príncipe tristonho
porque, na história real,
não há, na escada do sonho,
sapatinhos de cristal!…
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de Belém/PA

SARAH RODRIGUES

Perguntei para uma estrela
que encontrei à beira-mar:
– O que faço para tê-la
se você pertence ao mar?
=======================
Uma Trova Humorística, de Fortaleza/CE

OLGA ROSÁLIA SILVA PEDROSA

Fui pegada bem de jeito…
para dançar o baião.
Nem olhei para o sujeito…
mas, reconheci a mão.
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO 
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

Hoje na terceira idade,
eu, de amores já vazio,
voltei ao mar da saudade
para ancorar meu navio.
========================
Uma Trova Hispânica do México

MARIA ELENA ESPINOSA MATA

Quiero amarte hasta el delirio
y no hallo mi corazón
¡Quererte tanto es martirio
que me nubla mi razón!
===================
Uma Trova sobre Sinceridade, de Niterói/RJ

ALBA HELENA CORRÊA

Se existe sinceridade,
dói menos a aceitação
quando se diz a verdade,
seja qual for… a um irmão!
========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADERBAL MELO
Recife/PE (1910 – 1931)

Por mais que eu viva desperto,
meu porvir não descortino;
o destino é tão incerto,
que também não tem destino.
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO

Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Enfrentando tantas provas,
ao desenrolar dos anos,
vou tirando da alma Trovas,
e enchendo-a de desenganos…
========================
Um Haicai de Curitiba/PR

ALICE RUIZ

Fim de tarde
Depois do trovão
O silêncio é maior.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

Por te amar de alma inditosa,
não quero paga nenhuma:
o vento desfolha a rosa,
mesmo assim ela o perfuma.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

quero a vitória
do time de várzea

valente
covarde

a derrota
do campeão

5 X 0
em seu próprio chão

circo
dentro
do pão
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Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu…
======================
O Universo de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Feliz

Dizes-me que a ventura te foi dada
E contente tu’alma jamais chora:
Vives sorrindo à luz de uma alvorada
E a noite para ti é cor da aurora…

Não creio nessa dita, me perdoa.
Ninguém na terra pode ser feliz.
Até o sino que na torre soa
Tem sua dor, nem sempre ele bem-diz.

Longe… distante… Pelo azul chalrando,
A modular uns hinos tão suaves,
Pássaros meigos lá se vão cantando…
Mas tu crês na ventura d’essas aves?

Repara bem naquela que ficou
Pousada lá no cimo da aroeira:
Ela chora, coitada, pois deixou
Muito longe perdida a companheira.

Aves da terra, em tímidos adejos,
Também alegres como as rolas mansas,
Rostos corados, recendendo beijos,
Correm cantando grupos de crianças.

E enquanto passa, em revoada louca,
Este dourado batalhão de arcanjos,
Eu quero ouvir-te da risonha boca
Se é eterna a ventura desses anjos.

A moça também sofre… Um áureo cofre
Guarda-lhe os prantos e o martírio duro,
E, de todas, aquela que mais sofre
É a que tem o coração mais puro.
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O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Tem visita que nem senta
tem visita que acampa
visita que seca avenca
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O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES
(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

Fantasma

Para onde vais, assim calado,
de olhos hirtos, quieto e deitado,
as mãos imóveis de cada lado?

Tua longa barca desliza
por não sei que onda, límpida e lisa,
sem leme, sem vela, sem brisa…

Passas por mim na órbita imensa
de uma secreta indiferença,
que qualquer pergunta dispensa.

Desapareces do lado oposto
e, então, com súbito desgosto,
vejo que teu rosto é o meu rosto,

e que vais levando contigo,
pelo silêncioso perigo
dessa tua navegação,

minha voz na tua garganta,
e tanta cinza, tanta, tanta,
de mim, sobre o teu coração!
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O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Amar
(do CD “A Flor de Florbela”)

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui…além…
Mais este e aquele, o outro e toda a gente….
Amar!Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar…
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O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Passado

Esse olhar ferido,
tão contra a flor que ele encontra
no livro já lido!
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Uma Poesia de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS

Pode haver uma guerra de condores
para ver sobre os Andes qual é o ás.
Numa antiga batalha já se viu
Oliveiros matanto Ferrabraz,
mas não pode haver guerra de poetas,
que a poesia é sinônimo de paz.
=================
Uma Poesia de Bilac

Olavo Bilac
(Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac)
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)

O Universo
A Lua:

Sou um pequeno mundo;
Movo-me, rolo e danço
Por este céu profundo;
Por sorte Deus me deu
Mover-me sem descanso,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

A Terra:

Eu sou esse outro mundo;
A lua me acompanha,
Por este céu profundo…
mas é destino meu Rolar, assim tamanha,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

O Sol:

Eu sou esse outro mundo,
Eu sou o sol ardente!
Dou luz ao céu profundo…
Porém sou um pigmeu,
Que rolo eternamente
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.

O Homem:

Porque, no céu profundo,
Não há-de parar mais
O vosso movimento?
Astros! qual é o mundo,
Em torno ao qual rodais
Por esse firmamento?

Todos os Astros:

Não chega o teu estudo
Ao centro d’isso tudo,
Que escapa aos olhos teus!
O centro d’isso tudo,
Homem vaidoso, é Deus!
========================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Puseste por brincadeira
A touca da tua irmã.
Ó corpo de bailadeira,
Toda a noite tem manhã.
========================
Uma Poesia de Portugal

ANTÓNIO GEDEÃO

Poema épico
O rapagão da camisola vermelha sacode a melena da testa
e retesa os braços num bocejo como um jovem leão voluptuoso.
Dorme a sesta
o involuntário ocioso.

A filha do alfaiate atirou a tesoura e o dedal pela janela
e sumiu-se na noite escura do mundo.
Quis respirar mais fundo
e isso de ser coitada é lá com ela.

O homem da barba por fazer conta os filhos e as moedas
e balbucia qualquer coisa num tom inexpressivo e roufelho.
Súbito chamejam-lhe os olhos como labaredas;
– Eu já venho!

O da face doente,
o que sofre por tudo e por nada, sem querer,
abana a cabeça negativamente:
– Isto não pode ser! Isto não pode ser!

Sentados às soleiras das portas,
mordendo a língua na tarefa inglória,
com letras gordas e por linhas tortas
vão redigindo a História.
========================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
Rio de Janeiro (1923 – 2012)

Pelo prado
Vai o touro
Aposentado
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O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Eterno Drama
Por que esse desencontro tão constante?
Por que tão raro o amor completo, inteiro?
Sempre uma alma a se dar toda, exultante,
e um frio coração por companheiro.

Sempre um a querer mais, a cada instante,
o desejo a queimar como braseiro;
e o outro apenas seguindo, ao lado, e adiante,
quase como um estranho caminheiro.

Um, tranqüilo, confiante, satisfeito;
o outro, o ciúme a levar no coração
como um cão a rosnar dentro do peito;

eis, a toda hora, o drama que desponta:
– há sempre um que ama, escravo da paixão,
e o que se deixa amar… sem se dar conta.
============================
Um Soneto de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Não é Proibido Sonhar
Eu consegui driblar a realidade:
Fui visitar um certo antigamente
que me convida, às vezes insistente,
a aparecer, de braços com a saudade.

Saí voando, em plena liberdade…
Chamei a infância! Ela se fez presente,
falou comigo, a cirandar, contente,
com o mesmo riso, a mesma ingenuidade.

Sem me importar com dúvidas e medos,
cantei duetos com velhos folguedos,
do tempo azul que voa como um triz.

Mas prometi voltar. Pois livre sou
para acordar o sonho que passou,
quando eu quiser lembrar de ser feliz.
========================
O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN (1934)

Feliz quem tem a alegria
de trabalhar bem disposto
e dizer, e fronte erguida:
graças a Deus, sinto o gosto
dos frutos bons que consigo
com o suor do meu rosto!
===============================
Uma Lengalenga Portuguesa Cantada

TÃO-BALALÃO
Lengalenga é um texto com frases curtas que normalmente rimam e com muitas repetições que permitem decorá-lo com muita facilidade. Geralmente, as lengalengas estão associadas a brincadeiras e jogos.
  
Esta lengalenga, muito antiga, era cantada durante uma brincadeira, em que uma criança era segurada pelos braços de outras mais velhas (ou mesmo por adultos) e “baloiçado” como um sino ou um badalo – um pequeno sino que se punha ao pescoço dos animais. «Tão-balalão» seria a onomatopeia (som) do “sino”.
Tão-balalão
Soldado ladrão,
Menina bonita
Não tem coração.

***

Tão-balalão
Senhor capitão,
Espada na cinta
Sineta na mão.

***

Tão-balalão,
Cabeça de cão,
Cozida e assada
No meu caldeirão.

***

Tão-balalão,
Senhor Capitão
Orelha de porco
Pra comer com feijão.

OUTRO TÃO BALALÃO

(Versão mais extensa)

Tão balalão
Cabeça de cão
Orelhas de gato
Não tem coração

Não tem coração
Nem voz, nem talento
Orelhas de gato
Cabeça de vento

Cabeça de vento
Orelhas de gato
Pescoço de bruxa
Rabo de macaco
==========================
Uma Poesia Além Fronteiras

ARLINDO BARBEITOS
(Angola)

Esperança

Por entre as margens da esperança e da morte
meteste a tua mão
e
eu vi alongados nas águas
os dedos que me agarram

em lagoa de um sonho
corpo de jacaré
é soturna jangada de palavras secas
por entre as margens da esperança e da morte
=====================
O Universo Poético de Francisca

FRANCISCA JÚLIA
(1871, Xiririca (atual Eldorado Paulista)/SP – 1920, São Paulo/SP)

Egito

No ar pesado, nenhum rumor, o menor grito;
Nem no chão calvo e seco o mais pequeno adorno;
Um velho ibe somente arranca um raro piorno
Que cresce pelos vãos das lájeas de granito.

A aura branda, que vem do deserto infinito,
Arrepia, ao de leve, a água do Nilo, em torno.
Corre o Nilo, a gemer, sob um calor de forno
Que, em ondas, desce do alto e invade todo o Egito.

Destacando na luz, agora o vulto absorto
De um adelo que passa, em caminho da feira,
Dá mais um tom de mágoa ao vasto quadro morto.

Bate na areia o sol. E, num sonho tranqüilo,
Pompeia, ao largo, a alvura uma barca veleira,
A tremer, a tremer sobre as águas do Nilo.
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Deus é triste

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.
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UniVersos Melodicos

Dorival Caymmi
O SAMBA DA MINHA TERRA
(samba, 1940)

Conta Dorival Caymmi que “‘O Samba de Minha Terra’ foi inspirado nos sambas de roda da Bahia, onde se cantam versos referentes ao ‘bole-bole’ e ao ‘requebrado’, sugestões nascidas do movimento sensual das ancas das sambistas”. São de sua segunda-parte os famosos versos: “Quem não gosta de samba / bom sujeito não é / é ruim da cabeça/ ou doente do pé”.

Pertencente à fase inicial da carreira do autor, seria lançado pelo Bando da Lua em sua visita ao Brasil em 1940. Foi, aliás, o último fonograma registrado pelo Bando no Brasil. “O Samba de Minha Terra” foi regravado por João Gilberto em seu elepê de 1961, com o conjunto de Valter Wanderley, num arranjo que se inicia com uma marcante introdução de João, imitando um tamborim, numa demonstração inequívoca de que a bossa nova era fortemente enraizada no balanço do samba. João ainda gravaria “O Samba de Minha Terra”, ao vivo, no Carnegie Hall, em 1964.

Samba da minha terra
Deixa a gente mole
Quando se dança
Todo mundo bole
Quem não gosta de samba
Bom sujeito não é
É ruim da cabeça
Ou doente do pé
Eu nasci com o samba
No samba me criei
E do danado do samba
Nunca me separei

Fonte:
http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/04/o-samba-da-minha-terra.html

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Uma Cantiga Infantil de Roda

A COBRA

A cobra não tem pé, a cobra não tem mão
como é que a cobra sobe no pezinho de limão?
como é que a cobra sobe no pezinho de limão?

A cobra vai subindo, vai, vai, vai
Vai se enrolando, vai, vai, vai

A cobra não tem pé, a cobra não tem mão
Como é que a cobra desce do pezinho de limão?
Como é que a cobra desce do pezinho de limão?

A cobra vai descendo, vai, vai, vai
Vai desenrolando, vai, vai, vai

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Aparecido Raimundo de Souza (Cena Urbana I)

– Maria – grita a patroa lá da garagem enquanto acaba de tirar as coisas de dentro do carro. – Ponha a Regininha no berço e o resto da mamadeira na gaveta da geladeira.

– Tá legal, dona Camila.

Uma hora depois, a patroa apavorada, surge, na sala, à procura da recém nascida. A serviçal está com os olhos grudados na televisão, um saco de pipocas de um lado, uma latinha de refrigerante do outro:

– Maria, Maria, por tudo quanto é mais sagrado! Onde está minha filha?

– Ué! No berço…

– Meu Deus, Maria, no berço encontrei a mamadeira!

– Credo em cruz, dona Camila! Valha-me Jesus Nossa Senhora! Na pressa para aprontar o jantar e ver o capítulo de hoje, da novela, acho que troquei as bolas. Corre na gaveta da geladeira.


Fonte:
SOUZA, Aparecido Raimundo de. O Vulto da Sombra. São Paulo: Ed. Sucesso, 2009.

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Guilherme de Azevedo (A Alma Nova)

Obs: – o significado de algumas palavras (que possuem asterisco ao lado)  foram colocadas ao final da postagem, sob o título notas. 
– foi mantida a grafia original do poeta português.
———————-
INTRODUÇÃO

Eu poucas vezes canto os casos melancólicos,
Os letargos* gentis, os êxtases bucólicos
E as desditas cruéis do próprio coração;
Mas não celebro o vício e odeio o desalinho
Da musa sem pudor que mostra no caminho
A liga à multidão.

A sagrada poesia, a peregrina eterna,
Ouvi dizer que sofre uma afeção moderna,
Uns fastios* sem nome, uns tédios ideais;
Que ensaia, presumida, o gesto romanesco
E, vaidosa de si, no colo ebúrneo* e fresco,
Põe cremes triviais!

Oh, pensam mal de ti, da tua castidade!
Deslumbra-os o fulgor dos astros da cidade,
Os falsos ouropéis* das cortesãs gentis,
E julgam já tocar-te as roçagantes* vestes
Ó deusa virginal das cóleras celestes,
Das graças juvenis!

Retine a cançoneta alegre das bacantes*,
Saudadas nos vagões, nos cais, nos restaurantes,
Visões de olhar travesso e provocantes pés,
E julgam já escutar a voz do paraíso,
Amando o que há de falso e torpe no sorriso
Das musas dos cafés!

Oh, tu não és, decerto, a virgem quebradiça
Estiolada* e gentil, que vem depois da missa
Mostrar pela cidade o seu fino desdém,
Nem a fada que sente um vaporoso tédio
Enquanto vai sonhando um noivo rico e nédio*
Que a possa pagar bem!

Nem posso mesmo crer, arcanjo, que tu sejas
A menina gentil que às portas das igrejas
Enquanto a multidão galante adora a cruz,
A bem do pobre enfermo à turba pede esmola
Nas pampas ideais da moda, que a consola
Das mágoas de Jesus!

E nas horas de luta enquanto os povos choram
E a guerra tudo mata e os reis tudo devoram,
Não posso dizer bem se acaso tu serás
A senhora que espalha os lânguidos fastios*
Nos pomposos salões, sorrindo a fazer fios
À viva luz do gás!

Tu és a aparição gentil, meia selvagem,
De olhar profundo e bom, de cândida roupagem,
De fronte imaculada e seios virginais,
Que desenha no espaço o límpido contorno
E cinge na cabeça o virginal adorno
De folhas naturais.

Teus a linha ideal das cândidas figuras;
As curvas divinais; as tintas sãs e puras
Da austera virgindade; as belas correções;
E segues majestosa em teu longo caminho
Deixando flutuar a túnica de linho
Às frescas virações!

Quando trava batalha a tua irmã Justiça
Acodes ao combate e apontas sobre a liça
Uma espada de luz ao Mal dominador:
E pensas na beleza harmónica das cousas
Sentindo que se move um mundo sob as lousas
No gérmen duma flor!

Num sorriso cruel, pungente de ironia,
Também sabes vibrar, serena, altiva e fria,
O látego febril das grandes punições;
E vendo-te sorrir, a geração doente,
Sentir cuida, talvez, a nota decadente,
Das mórbidas canções!

Oh, voa sem cessar traçando nos teus ombros
O manto constelado, ó deusa dos assombros,
Até chegar um dia às regiões de luz,
Aonde, na poeira aurífera dos astros,
Contrito, Satanás enxugará de rastos,
As chagas de Jesus!

Lugar à minha fada ó lânguidas senhoras!
E vós que amais do circo as noites tentadoras,
Os flutuantes véus, os gestos divinais,
Podeis vê-la passar num turbilhão fantástico,
Voando no corcel febril, nervoso, elástico,
Dos novos ideais!

Eu vi passar, além, vogando sobre os mares
O cadáver de Ofélia: a espuma da voragem
E as algas naturais serviam de roupagem
À triste aparição das noites seculares!

Seguia tristemente às regiões polares
Nos limos das marés; e a rija cartilagem
Sustinha-lhe tremendo aos hálitos da aragem,
No peito carcomido, uns grandes nenúfares*!

Oh! Lembro-me que tu, minha alma, em certos dias
Sorriste já, também, nas vagas harmonias
Das cousas ideais! Mas boje à luz mortiça

Dos astros, caminhando; apenas as ruínas
Das tuas criações fantásticas, divinas,
De pasto vão servindo aos lírios da justiça!

VELHA FARSA

Rufa ao longe um tambor. Dir-se-ia ser o arranco
Dum mundo que desaba; aí vai tudo em tropel!
Vão ver passar na rua um velho saltimbanco
E uma fera que dança atada a um cordel.

Ó funâmbulos* vis, comediantes rotos,
O vosso riso alvar agrada à multidão!
E quando vós passais o arcanjo dos esgotos
Atira-vos a flor que mais encontra à mão!

Lá vai tudo a correr: são as grotescas danças
Duns velhos animais que já foram cruéis
E agora vão sofrendo os risos das crianças
E os apupos da turba a troco de dez réis.

Conta um velho histrião*, descabelado e pálido,
Da fera sanguinária o instinto vil e mau,
E vai chicoteando um urso meio inválido
Que lambe as mãos ao povo e faz jogo de pau.

Depois inclina a face e obriga a que lha beije
A fera legendária olhada com pavor:
E uma deusa gentil, vestida de barege*,
Anuncia o prodígio a rufo de tambor!

E as mães erguem ao colo uns filhos enfezados
Que nunca tinham visto a luz dos ouropéis*:
E acresce à multidão a turba dos soldados,
— ao hilota* da cidade o escravo dos quartéis.

E o funâmbulo* grita; impõe qual evangelho
À turba extasiada a grande narração.
E sobre um cão enfermo um orangotango velho
Passeia nobremente os gestos de truão*.

Correi de toda a parte, aligeirai o passo,
Deixai a grande lida e vinde à rua ver
As prendas duma fera, as galas dum palhaço,
E um arcanjo que sua e pede de beber!

A tua imagem tens, ó povo legendário
No cómico festim que mal podes pagar,
Pois tu ainda és no mundo o velho dromedário
Que a vara do histrião* nas praças faz dançar.
===============
Notas:
Bacantes = (Fig)Mulher sem pudor, de costumes dissolutos
Barege = tecido fino de lã combinada com seda ou algodão, usado no vestuário feminino
Ebúrneo = Que é branco e/ou liso como o marfim
Estiolada = enfraquecida, debilitada
Fastio = falta de apetite, enfado, aborrecimento
Funâmbulo = indivíduo que muda facilmente de opinião ou partido
Hilota = em Esparta, escravo que cultivava o campo; pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da miséria, da servilidade ou da ignorância
Histrião = bufão, comediante
Letargo = que possui incapacidade de reagir e de expressar emoções; apatia, inércia e/ou desinteresse
Nédio = brilhante
Nenúfar = lótus
Ouropéis = Lâminas de metal amarelo que imitam o ouro
Roçagante = se arrasta pelo chão
Truão = pessoa que diverte as outras; palhaço, saltimbanco

Fontes:
http://luso-livros.net/
Dicionário Caudas Aulete. Aulete Digital.

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Arquivado em Poesias, Portugal

Eliana Jimenez (Trova-Legenda até 30 de agosto. Participe!!!)

http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br/

Vejam algumas alterações na Trova-legenda:

Trova-legenda é uma proposta para publicação de trovas no blog inspiradas em uma imagem e no vídeo que a acompanha com periodicidade de 10 ou 15 dias.

A trova deve servir de legenda para a imagem sem ser descritiva, a imagem é inspiração apenas. Não é necessário que seja uma trova inédita, porém, deve atender à métrica e se adequar ao tema.

Nem todas as trovas serão publicadas, haverá uma seleção prévia.

Envio das trovas para o e-mail: elianarjz@gmail.com
até 30 de Agosto


Participe!

Eliana Jimenez

Fonte:
Eliana Jimenez (http://poesiaemtrovas.blogspot.com)

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Arquivado em participação, trova-legenda

Conhecendo o Mundo Acadêmico (Diferenças entre palestra, curso, workshop, simpósio, seminário e congresso)

O mundo acadêmico possui uma infinidade de eventos técnicos e/ou científicos aos quais participamos para aprender sobre um assunto ou atualizar-se sobre determinado tema.

Entretanto, é importante conhecer as diferenças entre as várias modalidades de eventos. Pode-se observar atualmente uma despreocupação, de forma até irresponsável, por parte daqueles que promovem eventos acadêmicos, em classificar o evento na categoria correta.

Os organizadores devem, sobretudo, pensar nos profissionais que se deslocam e pagam para participar desses eventos e, muitas vezes, saem frustrados. Da mesma forma, ao conhecer as características de cada evento, é possível tomar a decisão de inscrever-se, ou não, em determinado evento, com base em suas necessidades.

Vamos então às diferenças:

Palestra:
Tem o objetivo de apresentar de forma sucinta alguma novidade, por isso possui curta duração. Pode-se dizer que a palestra é como a capa de um jornal: tem-se acesso apenas às manchetes.

Cursos:
Consiste no detalhamento de determinado assunto ou conjunto de temas com o foco de “treinar” ou “ensinar a fazer”. É composto de exposições de pessoas normalmente com formação acadêmica que procuram passar seu conhecimento aos participantes. O foco está mais na teoria que na prática, porém não a exclui. É indicado para pessoas que têm baixo ou nenhum conhecimento sobre o assunto, com exceção dos cursos de especialização, cujo objetivo é o aperfeiçoamento daqueles que já dominam o assunto.

Workshop:

Tem o caráter de treinamento. Seu objetivo consiste em aprofundar a discussão sobre temas específicos e, para isso, apresenta casos práticos. O público participa intensamente. Objetiva-se detalhar, aprofundar um determinado assunto de maneira mais prática. Normalmente possui um moderador e um ou dois expositores. A dinâmica da sessão divide-se em três momentos: exposição, discussão em grupos ou equipe e conclusão.

Mesa-redonda:
É uma reunião do tipo clássica, preparada e conduzida por um coordenador, que funciona como elemento moderador, orientando a discussão para que ela se mantenha sempre em torno do tema principal. Os expositores têm um tempo limitado para apresentar suas ideias e para o debate posterior. Normalmente, a mesa-redonda está inserida em eventos mais abrangentes. É utilizada quando o assunto ainda não está consolidado e suscita discussões.

Simpósio:
Reunião para a discussão de um determinado tema (uma nova técnica, por exemplo). Aqui não são apresentadas as conclusões de uma pesquisa, mas sim impressões sobre um determinado assunto que é colocado em debate. Vários oradores debatem o tema na mesa, muitas vezes com a participação do auditório. A diferença fundamental entre o simpósio e a mesa-redonda é que no simpósio os expositores não debatem entre si os temas apresentados.

Seminário:
Reunião na qual “semeiam-se” ideias. O objetivo é suscitar o debate sobre determinados temas, até então pouco estudados. Caracteriza-se pela exposição de um orador seguida de debate com o auditório. A dinâmica do seminário divide-se em três momentos: a fase de exposição, a de discussão e a de conclusão. Trata-se de um produto informativo mais focado, porém parcial. A informação tem normalmente uma única fonte – o orador ou expositor – e, por consequência, pode apresentar certo viés. Usualmente, o orador é um guru ou expert no assunto que está sendo exposto.

Congresso:
Reunião de especialistas em determinada área do conhecimento (Genética, por exemplo) para a apresentação de pesquisas e estudos científicos. Geralmente de manhã e/ou à noite são realizadas conferências com professores convidados e à tarde há apresentações (na forma oral ou em pôsteres) de comunicações inscritas previamente pelos participantes (resumos) e aprovadas pela comissão organizadora do evento.

Fontes:
http://www.posgraduando.com/blog/quais-sao-as-diferencas-entre-palestra-curso-workshop-simposio-seminario-e-congresso

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Nilton Manoel (São Paulo é Esperança Todos os Dias)

 

Estação da Luz

450 ANOS DE SÃO PAULO

O sonho da vida está na vida do sonho.
(Nilton Manoel, em Grilos na ponta do lápis)

1
No meu antigo toca discos,
ouço com muita atenção,
lindas canções de outrora:
– “São Paulo  Quatrocentão”,
da “Rapaziada do  Brás”…
O “Trem das Onze me traz”,
saudade e muita emoção.
2
O trem pelos velhos trilhos,
a história do povo escreve!
e a cidade em seu cenário
sempre arrojada se atreve
a plantar modernidade;
sofra a gente com a saudade,
o progresso não é breve.
3
São Paulo, não perde tempo,
inova, protege, acolhe,
quer sua gente contente
não há garoa que molhe,
o entusiasmo dessa sina;
quem vence sua rotina
dá vida aos sonhos que escolhe.
4
O povo quer movimento,
quer cenário, quer ação,
quer futuro e conforto
pela glória da nação…
Todo mundo quer ter paz,
como é bom sonhar no Brás,
há poesia nesse chão!
5
Sou paulista do interior
e passo a vida na estrada,
quem gosta de movimento
quer vida facilitada:
– ao modernismo dou fé,
por todo lado dá pé,
se a cidade é bem cuidada…
6
Quando estou na capital
tenho eficiente o transporte;
seguro, rápido, alegre,
em toda estação o bom porte
que, nem posso imaginar
sem metrô pra trabalhar…
Ser pontual é ser forte!
7
A inspiração não me falta
e até me lembro que, a gente,
há trinta e cinco anos tem,
esse serviço excelente
que movimenta a cidade
e dá ao povo a vontade,
de viver mais… felizmente!
8
São estações variadas
espalhadas pela cidade,
elevados, com plataformas
e na sua versatilidade,
põe no cenário, poesia,
integra-se com a ferrovia,
caminho de prosperidade.
9
Entre fixas e rolantes,
gente que faz movimento
no ganha pão habitual…
paro, olho e  meu pensamento
cola imagens que, resumo
para as falas de consumo…
Reportagens do momento!
10
Quem tem vida solidária
dá valor à cortesia:
por favor… muito obrigado…
dá licença… que poesia,
nas convenções sociais;
todos nós somos serviçais,
pelo pão de cada dia.
11
Jânio Quadros fez história
melhorou a imagem do Brás.
com novas edificações
e o povo cheio de paz,
se orgulha a todo o instante,
por ser sempre o Bandeirante,
de eras que não voltam mais…
12
Nossa vida que é cíclica,
deve a Anchieta, o jesuíta,
que nem sabia, Senhor!
a vida rica e catita
que sua instalação
da história da fundação,
seria plena e bonita.
13
Na sequência do transporte
o tempo não segue à toa
e o cenário num instante
de São Paulo da garoa
vai e volta com o metrô
rápido como um alô
de celular… Coisa boa!
14
Na integração, a saudade
que traz Maria Fumaça
é recompensa gostosa
é vida cheia de graça
é tempo cheio de glória
é povo que faz a história
nas estações em que passa.
15
Sertanejo, deslumbrado,
da capital do Interior,
Paro e olho como poeta
e fotografo com amor,
a cidade velha e a nova…
Faço haicai, cordel e trova,
São Paulo em tudo tem cor.
16
Fora e dentro da paisagem
do metrô, pelas estações,
a moda que inventa moda
tem espaço de emoções,
nos projetos culturais,
além de artes visuais
concertos e belas canções
17
Viajando, cheio de sonhos,
o usuário com vigor,
faz a vida mais contente,
tem no metrô, o esplendor,
do minuto brasileiro.
Sabe que tempo é dinheiro
e dinheiro é vida e valor.
18
Nestes bons trinta e cinco anos
dos quais dez Companhia
de Trens Metropolitanos.
São Paulo que é poesia.
tem seus pontos cardeais
movimentos cordiais,
na vida do dia a dia…
19
Entre túneis e superfícies.
neste cenário bacana,
paz pelas quatro estações
com as vitrines de Ikebana…
Esculturas e poesia…
O jornal de todo o dia…
É obra que de Deus emana.
20
Nesse progresso incomum
de terra quatrocentona
dos cafezais à indústria
ao comércio em maratona
o povo que se desdobra…
O imigrante tudo cobra
da cidade que emociona.
21
Cenário amigo é o Metrô!
solidário,  nada esconde…
Relembre através da história
a vida dura do bonde,
no meu relógio de ponto…
Todo mês quanto desconto!
A rapidez corresponde.
22
“São Paulo dos meus amores”
treze listras das bandeiras
progressista a todo o instante
de vida gentil de ordeira
cidade que se desdobra,
urbanidade que sobra
pela pátria brasileira.
23
Nesta vida, coisa boa,
meu trem das onze, é fulgor,
corre até a meia-noite;
é transporte de valor
é segurança de fé
é sorriso que dá pé
é verso de cantador…
24
Vai-e-volta, gente bonita,
da pátria do bom cidadão
em sua faina diária,
carteira assinada ou não
que, São Paulo que é formiga
também é cigarra e abriga
a saga da Educação.
25
Neste  mundo transversal
temas escolares tantos,
em seu cenário tem vida…
Num programa, com encantos
comunitários, o fascínio,
dá a todos tirocínio
da grandeza em todos cantos.
26
No “Ação Escolar” projeta
a influência, positiva,
do metrô pela cidade…
Movimento que motiva,
no urbanismo, novos lares,
é nos bancos escolares,
consagra-se em voz ativa.
27
Os conceitos cidadãos
são plenos em toda parte
faz da cultura de então
dar vivas a vida com arte
que o visual é fartura
que encanta, fascina e apura,
É saber que se reparte…
28
Como patrimônio público
paisagístico e de transporte
Metrô é riqueza da história,
trouxe à vida a melhor porte,
é tudo que o povo queria…
Foguete de todo o dia
do meu trabalho, o suporte.
29
São Paulo é renovação,
canteiro da arquitetura,
pátria de nossos estados
onde se sonha fartura…
Ambição a luz do dia
de noite sonho e poesia…
Vive-se bem… A vida é dura!
30
Por todas as linhas que passo,
por todos sonhos que planto
a trabalho ou a passeio
O metrô tem seu encanto
viajo em paz, sossegado,
feliz e cheio de agrado
e meus limites suplanto.
31
Recordo dos velhos tempos
do transporte e nossa história…
Museu Gaetano Ferolla
têm muito da trajetória…
O bondinho da novela
se à saudade dá trela?
Metrô é conforto e glória!
32
Salve os metroviários. Viva!
gente amiga e de paz!
quem trabalha por São Paulo,
é ordeiro em tudo que faz.
Viva minha gente de fé,
em Sampa tudo da pé!…
Viva o Metrô!  Viva o Brás!

Fonte:
O Autor

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Amadeu Amaral (Memorial de Um Passageiro de Bonde) Capítulo Final: Rufina e o Soneto

Pobre Rufina! Tão juvenilmente graciosa e linda ainda há dois meses… Parecia arder em mocidade e beleza como uma pedra preciosa. Agora, dá-me a idéia de uma pérola moribunda.

É assim este mundo; um resfriado, uma pleurisia, três semanas de cama – e eis um corpo e uma alma completamente modificados, e uma vida clara e leve como um regato da montanha mudada num ribeirão turvo do vale triste!

Viajei hoje com ela. Descorada e descarnada, metida num vestido escuro e pobre, era apenas uma sombra da outra Rufína. Disse-me coisas graves sobre a vida. Queixou-se das suas ilusões malucas, que a conduziram até há pouco através das almas e das coisas como através de uma festa, para, de repente, a abandonarem entre essas duas megeras – a Solidão e a Necessidade.

Chegou a falar-me de Deus, e, entre dois acessos de tosse, perguntou-me, com a simplicidade suprema de quem pedia uma informação:

-“Será que ele me aceita?”

Em que embaraço me pôs: Pedir a mim, pecador encoscorado, um raio de esperança e
consolação -porque era evidentemente o que pedia, na simplicidade triste daquela pergunta! Valeria o mesmo querer refrescar os lábios em febre com o suco de uma pêra de campainha elétrica.

Tive ímpetos de endereçar ao vigário da nossa paróquia. Mas o santo homem estava já tão acostumado a lidar com almas em pena! Era possível que não lhe desse maior atenção, que a tratasse com desdenhosa bonomia, como fazem certos médicos, excepcionalmente, com os clientes pobres: “Isso não é nada. Está nervoso. -Dor no cogote, Há de ser mau jeito. -Febre, é? Uhn… – Qual! não tem importância. Apareça um dia lá no consultório”.

Não, não a mandaria ao vigário, poderia vir de lá com as feridas banhadas em bálsamo suavíssimo, e poderia vir com elas envenenadas de despeito e de revolta.

Eu estava para lhe dizer que sim, que Deus a receberia nos seus braços com paterno carinho, porque nada pode ser mais agradável ao Senhor de toda a sabedoria e de toda a misericórdia do que uma alma despojada de mundanidades, nua, na plena e corajosa nudez da humildade, do desengano e do arrependimento.

Quando, porém, decidia estas dúvidas de consciência e preparava esta resposta, Rufina ergueu-se, fez soar a campainha, despediu-se e esgueirou-se. Fiquei a vê-la do bonde, que estacionara por um momento. Reprochava-me com raiva as minhas eternas indecisões de animal imprestável.

Ela foi para a calçada, e pôs-se a caminhar de um jeito meio automático, direita, impassível, num passo miúdo e rígido de boneca mecânica, a cabeça pensa para um lado -como quem caminha com indiferença, de alma vazia, para a última renúncia ou para a morte…

Pude saber depois que ia à costureira.

Somos todos horrendamente egoístas. Nunca tive como hoje a sensação do que valem todas essas florescências admiráveis da vida nobre, as belas idéias, os ideais formosos, os sentimentos altos e delicados.

Nem bem Rufina desaparecera de minhas vistas, aquilo de eu a ter comparado mentalmente a uma alma despojada de mundanidades, nua, inteiramente nua, voltou a borboletear-me no espírito como um remorso gostoso. E lembrei-me logo daquele meu soneto parado entre os andaimes; como uma dessas igrejas que levam anos a construir e ficam anos à espera de recursos.

Agora, concluiria a obra. Aferrei-me a ela pelo resto da viagem.

Rufina, de passagem por mim tocando-me de leve, pusera-me em movimento a engenhoca da poesia, como quem toca inadvertidamente num pé de “mimosa pudica”, ou como quem sacode sem o querer um relógio engasgado, fazendo-o trabalhar.

É essa a finalidade dos outros, no sistema especial da nossa vida de cada um: pôr em
movimento algum dos relógios engasgados que temos conosco.

O caso é que concluí o soneto. A bem dizer não o concluí no bonde: acabei de concluir na repartição, apesar de um parecer urgente que me atenazou o dia. Mas a inspiração é assim: quando vem, vem de fato, e não há urgências que se lhe oponham.

Agradeci ao destino o ter-me deparado Rufina, não só porque daí proveio a conclusão do soneto, como porque me permitiu banir dele a tal Gabriela. Eu já andava seriamente implicado com essa negrinha vagabunda, caçada na sarjeta do noticiário. Decididamente, não dava nada. Logo o primeiro verso:

Já não tens ilusão, oh Gabriela! era de uma inépcia absoluta. Que é que tinha o público que ver com esse nome próprio. E, além do mais, um decassílabo frouxo, -que é ainda pior do que uma frouxidão de bom senso. Pude substituí-lo com vantagem. E o resto – foi uma sopa:

A UMA TUBERCULOSA

Já nenhuma ilusão tua alma estrela;
Nenhuma abrolha em teu caminho triste.
Tudo te é negro: e em tudo quanto existe,
só o que existe de mau se te revela.

Um dia a Vida apareceu-te à ourela
da estrada, e te sorriu. Tu lhe sorriste,
E a seus braços voaste. E assim te viste
entre as garras da bruxa horrenda e bela.

Hoje… Ah! hoje, aí vais por tua estrada
como uma doida que vagasse nua…
Não és mais do que uma alma – alma despida;

E tão indiferente, tão gelada,
tão tristonha e remota como a lua,
refletindo de longe o sol da Vida.

Finis truncat opus

Fonte:
Domínio Público

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Mustafá Ali Kanso (André Carneiro: O Da Vinci Brasileiro)

Não existem muitos artistas como ele. Com 86 anos de idade André Carneiro parece ter a energia de uma criança de dois anos. Depois de Leonardo Da Vinci´, André é o artista mais prolífico do qual você já teve notícia. Espere aí, Da Vinci fez cinema?

André foi escritor da primeira geração de ficção científica do Brasil. Ele criou a primeira publicação da América do Sul de ficção científica chamada de Introdução ao Estudo da Science Fiction.

A prosa e a abordagem literária de André Carneiro apelam simultaneamente aos sentidos e ao intelecto, nas 27 narrativas deste livro. São contos e novelas que vão da ficção científica ao horror e ao suspense literário, todos narrando a intrusão do inusitado no cotidiano.

A prosa e a abordagem literária de André Carneiro apelam simultaneamente aos sentidos e ao intelecto, nas 27 narrativas deste livro. São contos e novelas que vão da ficção científica ao horror e ao suspense literário, todos narrando a intrusão do inusitado no cotidiano.

É considerado um dos precursores do modernismo na fotografia, destacando-se entre outras obras sua célebre foto “Trilhos” tirada em São Paulo na década de 40 caracterizando, pela robustez da abordagem, a independência do motivo. Sendo uma obra quase abstrata pontua a fotografia como suporte da arte em si mesma.

A foto foi exposta em diversas bienais e o direto de reprodução tem sido vendido por um Merchant no Brasil e nos EUA por U$ 500,00, passando a compor em 2007 o acervo fotográfico da renomada Tate Gallery, em Londres.

André foi escultor, hipnólogo, pintor, fotógrafo, cineasta, diretor de propaganda, comerciante, etc. Nem ele lembra todas as suas profissões. Foi o criador da pintura dinâmica e um dos primeiros fotógrafos artísticos do modernismo brasileiro.

André tem 17 livros publicados versados nos gêneros poesia, conto e romance, além de dois livros técnicos sobre hipnose. Embora seja mais conhecido no Brasil como escritor de ficção científica, André considera a poesia a sua principal atividade literária.

Um de seus contos mais famosos, “Darkness”, a “A escuridão”, publicado em 12 países diferentes, e atualmente está sendo adaptado para o cinema na Espanha.

    “‘Darkness’ não só é um dos maiores trabalhos escritos na ficção científica, mas também da literatura mundial. Não é apenas ficção científica de ação superficial, mas literatura no seu melhor sentido. André Carneiro merece a mesma audiência de um Kafka ou Albert Camus.” A.E. Van Vogt (EUA)

Como romancista, sua arte centra-se em um enfoque psicossocial, em que a crítica à estrutura vigente mostra-se sempre aguda e sutil.

Em 1949 André decidiu publicar um jornal literário na cidade de Atibaia-SP, sua terra natal. Seu pequeno jornal literário teve a apresentação de nada menos que Oswald de Andrade e, por este motivo começou em grande estilo.

Sabe a ingenuidade do jogador que não sabe jogar poker e ganha?”, ele disse. “Como eu não conhecia, naquela época, a complexidade de se fazer um jornal literário no Brasil, eu fiz um e fui entrevistando todo mundo e, de repente, eu tinha colaboradores como o Graciliano Ramos e Vinícius de Moraes. O primeiro time escrevia no meu jornal!

Ele conta que em 2006 o seu jornal foi reeditado em fac-símile numa ação conjunta da prefeitura de Atibaia e do Arquivo Público do Estado de São Paulo, compondo o livro “A Geração 45 através do jornal Tentativa”, contendo as principais edições impressas na época.

Existem muitos estudos e teses sobre a sua obra destacando-se a dissertação de mestrado do especialista em literatura Ramiro Giroldo, sobre o romance Amorquia (A ditadura do prazer – Ficção científica e literatura utópica em Amorquia, de André Carneiro – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Brasil), e a dissertação de mestrado de Oswaldo Duarte sobre sua obra poética (O Estilo de André Carneiro: sua expressão, temas recorrentes e aproximações com a geração de 45 – Unesp – Universidade Estadual Paulista – Assis).

André possui vários contos publicados em livros do pelo mundo todo junto com autores como Arthur C. Clarke, H. G. Wells, Isaac Asimov.

Você poderá encontrar nas livrarias seu livro de contos “Confições do Inexplicável (Editora Devir, 2007) e duas antologias “Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Editora Devir, 2007) e “Histórias de Ficção Científica” (Editora Ática, 2005).

Sobre sua vocação como escritor, André disse:

    “Eu comecei a escrever com 17 ou 18 anos porque eu tinha uma paixão ligada à importância do escritor, algo ligado à vaidade. Eu lembro que achava que ser escritor seria uma coisa extraordinária. Naturalmente que eu era um leitor e desde muito menino eu li bastante. Eu comecei a escrever em um jornal de Atibaia que critiquei falando que o jornal estava sem graça e que eu podia fazer melhor. Alguém da equipe do jornal disse ‘Faz, faz então, por favor’. Eu fiz umas piadinhas melhor do que aquelas lá, porque aquelas estavam muito ruins. Então o dono de outro jornal de uma cidade próxima, que dava notícias de Atibaia, pediu um artigo para mim e eu disse ‘Eu tenho um artigo’. Eu tinha três ou quatro artigos escritos a troco de nada e dei um para ele. Eu comentei isso com o editor de outro jornal e ele reclamou ‘Pô, você deu para o jornal de Bragança, porque não deu para mim?’. eu disse ‘Não é por isso, eu tenho outro aqui’, e dei para ele uma cópia. Saí com dois artigos no mesmo dia em dois jornais diferentes.

    “Isso seguiu na minha vida. Eu nunca busquei editor, os editores sempre me buscaram. Por coincidência, eu não considero que foi porque eu seja muito importante.

Atualmente André está com um novo livro de contos pronto, esperando, como de costume, que uma editora bata na sua porta.

Ele conta que recentemente um editor insistiu que ele escrevesse um romance, e ele respondeu:

    “Ah! Romance não. Eu tenho contos. E ele os levou para a editora e logo aprovaram o livro.

    De último momento eu escrevei mais um conto que gostei muito e chama-se ‘O Mapa da Estrada’. [O problema é que] na última hora o editor que estava lá saiu da editora e outro camarada ficou lá tomando conta da edição mas mesmo assim eu mandei mais esse outro conto de 40 páginas. É uma loucura! Um livro de contos de 600 páginas, mas o dono da editora gostou e publicou.”

O próprio André ilustrou os originais com colagens. Todas foram publicadas no livro que é o maior livro de contos já publicado no Brasil.

    “Eu fiz muitas capas de livros de outros autores. Depois que saiu a notícia de que eu era um dos pioneiros do modernismo na fotografia, um editor me escreveu encomendando várias capas abstratas, eu peguei aquele quadro ali e tchín, tchín, tchín. Em 10 minutos tirei 20 fotografias, mandei e ele publicou meia dúzia de livros com essas capas.”
O quadro ao qual o André se refere é uma pintura dinâmica no qual camadas de vários líquidos imiscíveis de diferentes cores se sobrepõem dentro de lâminas de vidro. O resultado é uma obra que permite a interação do público e que se transforma a cada segundo.

Dentro do apartamento do André qualquer um se sente na casa do Professor Pardal. Para todo o lado que você olha tem uma peça de arte que é um misto de tecnologia steampunk com todo o tipo de esculturas feitas com sucata mecânico-eletrônicas formando máquinas extremamente malucas, algumas até com aparência sinistra, que têm a simples função de deleitar os viciados em tecnologia.
 

Em Amorquia, um de seus mais inquientantes romances, é questionado o papel dos sexos na sociedade humana. Uma sociedade onde o amor exclusivo é uma doença. O tempo não existe e a maternidade é um detalhe irrelevante. O sexo é ensinado praticamente nas escolas. A fidelidade é o primeiro indício de insanidade.

André foi diretor de propaganda da Cacique Alimentos e muitas personalidades de destaque, como Emerson Fitipaldi e Pelé, só para citar alguns exemplos, estrelaram em suas peças publicitárias. Ele também contribui, nessa época, na criação e divulgação de famosa marca “Café Pelé”.

Em 1969, quando foi presidente do maior Simpósio Internacional de Ficção Científica, chegou a assistir o filme ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’ ao lado do próprio Arthur C. Clarke, no Rio de Janeiro e também, no mesmo simpósio, assistiu um outro cult do gênero – o filme Metrópolis – ao lado de Fritz Lang.

Mas seu trabalho nunca se limitou à sua produção artística. Vários escritores muito respeitados foram gestados em suas oficinas de literatura em São Paulo. Hoje ele realiza essas oficinas em Curitiba, onde reside atualmente. 

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Aluísio Azevedo (O Coruja) Parte 26

CAPÍTULO XVIII

Enquanto Teobaldo dançava, ouvia música e conversava em casa docomendador Rodrigues de Aguiar, o pobre Coruja via-se em papos de aranha com os nervos da Ernestina, cuja crise não fora tão passageira como afiançara aquele. De mais a mais, o Caetano havia saído logo em seguida ao amo e nessa noite recolhera-se mais tarde que de costume; teve André por conseguinte de servir de enfermeiro à rapariga, sem licença de abandoná-la um só instante, porque as convulsões histéricas e os espasmos se repetiam nela quase que sem intermitência.

Foi uma noite de verdadeira luta para ambos; o rapaz, apesar da riqueza dos seus músculos, nem sempre lhe podia conter os ímpetos nervosos. A infeliz escabujava como um possesso; atirava-se fora da cama, rilhando os dentes, trincando os beiços e a língua, esfrangalhando as roupas, em um estrebuchamento que lançava por terra todos os objetos ao seu alcance. No fim de algumas horas o Corja sentia o corpo mais moído do que se o tivessem maçado com uma boa carga de pau. Além de que, a sua nenhuma convivência com mulheres e o seu natural acanhamento, mais penosa e critica tornavam para ele aquela situação. Ernestina cingia-se-lhe ao corpo, peito a peito, enterrando-lhe as unhas na cerviz, mordendo-lhe os cabelos, refogando-lhe com ânsia sobre o rosto, como em um supremo desespero de amor. E André, tonto e ofegante, sentia vertigens quando seus olhos topavam as trêmulas e agitadas carnes da histérica, completamente desvestidas nas alucinações do espasmo.

Às quatro horas da madrugada, quando Teobaldo chegou do baile, ele ainda estava de pé e a enferma parecia ter afinal sossegado e adormecido.

— Que! Exclamou aquele. Pois ainda trabalhas?

— Schit! Qual trabalho… Respondeu Coruja, pedindo silêncio com um gesto.

Passei a noite às voltas com a Ernestina… Ah! Não imaginas… Ataques sobre ataques!… Pobre rapariga! Não faças bulha… Creio que ela agora está dormindo…

— Impressionou-se naturalmente com o que eu lhe disse à tarde… Ora! Não fosse importuna!

— Coitada!

— Bem, disse Teobaldo, mas recolhe-te ao quarto e trata de descansar; eu fico aqui. Vai.

— Mas não te deitas?

— Tenho ali aquele sofá; não te incomodes comigo. Vai para a cama, que deves estar caindo de cansaço. Adeus.

O Coruja notou que o amigo trazia qualquer preocupação.

— Sentes alguma coisa? perguntou-lhe.

— Ao contrário: há muito tempo não me acho tão bem disposto.

— Então boa noite.

— Até amanhã.

Coruja recolheu-se ao quarto e o outro pôs-se a passear na sala, enquanto se despia; depois chegou à porta da alcova, encarou com um gesto de tédio o prostrado de Ernestina e voltou logo o rosto, como se tivesse medo de acordá-la com o seu olhar.

Todo ele era só uma idéia: — A filha do comendador. Branca não lhe saía da imaginação; tinha ainda defronte dos olhos aquele sorriso que ela lhe deu à janela; sentia ainda entre as suas a sua tremula mãozinha e nos ouvidos a música das últimas palavras que lhe ouviu.

— Adorável! Adorável! Repetia ele.

E foi para a mesa em mangas de camisa e começou a escrever versos sentimentais.

Ouviam-se, no silêncio fresco da madrugada, o bater inalterável do relógio e os bufidos suspirados de Ernestina, que parecia dormir um sono de ébrio.

— Que mulher impertinente!… Considerou ele, atirando com a pena e deixando pender para trás a cabeça a fitar o teto.

E pensou:

— Quando eu me lembro que a esta criatura nada falta — Casa, rendimentos, criados, e que ela se vem meter aqui, possuída de esperanças injustificáveis… Nem sei que juízo forme a seu respeito!… Será isto o verdadeiro amor?… Talvez, mas, se assim é, arrenego dele, porque não conheço coisa mais insuportável!… Ainda se ela não fosse tão desengraçada!… Tão tola!… Mas, valha-me Deus! Nunca vi mulher mais ridícula quando tem ciúmes; ainda não vi ninguém fazer cara tão feia para chorar!… Se ela fosse jeitosa ao menos; mas não tem gosto para nada, não sabe pôr um vestido, não sabe por um chapéu; e, em vez de endireitar com o tempo, parece que vai ficando cada vez mais estúpida! Não! Definitivamente é uma mulher impossível, apesar de toda a sua dedicação! E, para se divertir, pôs-se a lembrar as asneiras dela. Ernestina não dizia nunca “eu fui”, era “eu foi”; pronunciava pãos, razães, tostãos e gostava muito de preceder com um a certos verbos, como divertir, divulgar, reunir, retirar e outros; como também não pronunciava as letras soltas no meio da palavra. “Obstáculo” em sua boca era ostáculo, “obsta” era osta e assim por diante. E a respeito dos tempos do verbo? Se ela queria dizer “entremos”, dizia entramos e vice-versa; perguntava — “tu fostes? — Tu fizestes?” Uma calamidade!

Além disso, ultimamente dera para engordar, por tal forma que parecia ainda mais baixa e mais desairosa. Não era feiazinha de rosto, isso não; mas em toda a sua fisionomia, como no resto, não se encontrava um só traço original, distinto, impressionável. Vestia-se, calçava-se e penteava-se como toda a gente, e só conversava a respeito de vulgaridades, sem ter nunca uma frase própria; rindo quando repetia uma pilhéria já muito estafada, e desconfiando sempre que lhe diziam qualquer coisa que ela não entendesse. Uma lesma!

E Teobaldo a fazer estas considerações; e ela lá dentro a ressonar, agitada de vez em quando pelo sonho; ora gemendo, ora articulando palavras incompletas e destacadas.

— O bonito será se ela adoece deveras aqui em casa!… Considerou ele. Era só o que faltava!

E, notando que amanhecia, ergueu-se da mesa, lavou-se, mudou de roupa e tomou um cálice de conhaque. Já de chapéu e de bengala, ia a sair, quando Ernestina se remexeu na cama, depois assentou-se e perguntou com a voz muito quebrada e fraca:

— És tu, Teobaldo?

— Que deseja? interrogou ele secamente.

— Não te recolhes?

— Não, porque me tomaram a cama.

— Não sejas mau.

— Ora!

— Para que me tratas desse modo?… Estou tão incomodada, tão doente… Se soubesses como tenho sofrido!…

— Sofre por teima! A senhora podia perfeitamente estar em sua casa, feliz e tranqüila.

— É exato; a culpa é minha. Que horas são?

— Amanhece.

— Que? Pois já se passou a noite inteira? Ah! Agora me recordo que estive sem sentidos.

— Adeus.

— Vais sair?

— Vou.

— Por que não te demoras um pouco? Faze-me um bocado de companhia…

— Não, filha, preciso sair. Adeus.

— Escuta: foste sempre ao baile?

— Fui.

— Divertiste-te muito?

— Sim.

— Namoraste?

— Adeus.

— Vem cá.

Ele se aproximou dela com má vontade.

— Acho-te tão aborrecido, meu amor; não me trates com essa indiferença.

— Se lhe parece!

— Que?

— Que não devo estar aborrecido.

— Por minha causa?

— Naturalmente.

— Pois então vai-te embora, vai! Nunca mais te aborrecerei!

Teobaldo apertou-lhe a mão. Ela pediu-lhe um beijo, ele negou-lho e saiu cantarolando um trecho de ópera.

Logo que se perdeu no corredor a voz do moço, Ernestina ergueu-se e foi, amparando-se aos móveis e à parede, até à mesa, onde estavam, ao lado do candeeiro de petróleo ainda aceso, os versos há pouco escritos por Teobaldo. Leu-os,  chorou e, assentando-se no lugar em que ele estivera, tornou da pena e lançou em uma folha de papel o seguinte, pouco mais ou menos: Declaro que sou a única autora de minha morte e declaro também que reconheço por meu legitimo herdeiro o Sr… Teobaldo Henrique de Albuquerque, morador nesta casa. O meu testamento, no qual lego-lhe todos os meus bens, achase nas notas de tabelião Ramos.

Datou, assinou, pôs a folha de papel sobre a cômoda e, tornando à mesa, agarrou o candeeiro, desatarrachou-lhe a griseta, lançou esta para o lado sem lhe apagar a torcida e, julgando-se cheia de resolução, levou aos lábios o reservatório de querosene.

Mal, porém, encheu a boca com o primeiro trago fugiu-lhe a coragem de suicidar-se e, já arrependida de tal propósito, arremessou de uma golfada sobre a mesa o venenoso líquido, que foi ter à torcida e logo se inflamou.

Ernestina, assustada com isto, arremessou nervosamente o candeeiro que tinha ainda nas mãos, e o petróleo derramou-se, inundando-a. Então levantou-se uma grande chama que a envolveu toda. Ela soltou um grito e procurou ganhar a porta da sala; a chama recresceu com o deslocamento do ar.

A desgraçada conseguiu todavia chegar até onde estava André. O Coruja ergueu-se de pulo e viu, sem compreender logo, aquela enorme labareda irrequieta, que lhe percorria o quarto, a berrar desesperadamente.

Correu a socorrê-la; mas Ernestina acabava nesse momento de cair por terra, agonizante. Embalde ele procurava com os próprios punhos apagar-lhe as chamas do vestido.

Da sala até ali, por onde ela atravessava de carreira, viam-se na parede, de espaço em espaço, a forma de sua mão, desenhada com gordura derretida e pequenos pedaços de carne. Três vizinhos haviam acudido do andar de baixo e procuraram esclarecer o fato; a carta, encontrada sobre a cômoda, tudo explicou. Em breve a casa encheu-se de gente do povo e empregados da Polícia. Puxou-se o sofá para o meio da sala e nele se depois o corpo de Ernestina; não foi possível despi-lo totalmente dos farrapos que o cobriam, porque estes se tinham grudado às enormes feridas abertas pelo fogo. Toda ela, coitadinha, apresentava urna triste figura negra e esfolada em muitos pontos. Estava horrível; o cabelo desaparecera-lhe; os olhos eram duas orlas vermelhas e ensangüentadas; a boca, totalmente deslabiada, mostrava os dentes cerrados com desespero; e dos ouvidos sem orelhas e do nariz sem ventas escorria-lhe um líquido gorduroso e amarelento.

Um dos vizinhos, que era médico, passou logo o atestado de óbito e o Coruja tratou de dar as providencias para o enterro.

Teobaldo, ao entrar da rua às três da tarde, parou, sem ânimo de penetrar na sala, e, muito lívido, perguntou ao companheiro:

— Que é isto? Ela morreu?.

— Matou-se.

E André, carregando com ele para o seu quarto, narrou-lhe minuciosamente o ocorrido e disse-lhe depois:

— E o seu herdeiro és tu.

— Eu?!

— É exato. Deixou-te o que possuía. coitada!

E limpou as lágrimas.

— Diabo! Exclamou Teobaldo, soltando um murro na cabeça. Diabo! Maldito seja eu!

O outro não queria consentir que ele visse o cadáver, mas Teobaldo repeliu-o e correu para junto de Ernestina. Atirou-se de joelhos ao lado dela e abriu a soluçar como um perdido.

— Desgraçado que eu sou! Desgraçado que eu sou!

E ergueu a cabeça para lhe dar um beijo na testa.

— Quem sabe, pensou ele, inundando-a de lágrimas, quem sabe se este mesmo beijo um pouco antes não teria te poupado à morte!… Criminoso que sou! Enquanto morrias aqui, abandonada e repelida por mim, que te não merecia; enquanto me lançavas com o teu último suspiro a tua benção e o teu perdão, eu te amaldiçoava e maldizia o teu afeto, sem ao menos compreende-lo!

Coruja veio arrancá-lo dali à força, e tão acabrunhado o achou depois do enterro que, para o consolar, lhe disse:

— Então, então, meu Teobaldo! O que está feito já não tem remédio! Nada lucras com ficar neste estado! Vamos! No fim de contas não tens culpa do que sucedeu!…

— Não é verdade, meu André? Volveu o outro, apoderando-se das mãos do Coruja. Não é verdade que não sou um assassino perverso?… Não é verdade que, se a matei…

— Oh! Tu não a mataste!.

— Sim, matei-a! Sei perfeitamente que fui a causa de sua morte; mas eu também não podia adivinhar que a minha indiferença a levasse a tal extremo!

— Decerto, decerto!

— Ah! Sou um desgraçado! Sou um ente maldito! Todos me cercam de carinhos e bondades, eu só os retribuo com o mal e com a ingratidão. Reconheço que sou amado demais! Reconheço que nada mereço de ninguém porque nada produzo em benefício de quem quer que seja! Deviam dar cabo de mim como se faz com os animais daninhos!

Enlouqueceste, Teobaldo! Estás a dizer tolices!

— Não! Replicou este, não! E em ti mesmo vejo a confirmação do que estou dizendo. És trabalhador, és perseverante, és digno de toda a felicidade, e, só por minha causa, não consegues ser feliz!

— Ao teu lado não posso ser infeliz, meu amigo.

— Ao meu lado és sempre tão desgraçado como eu! Ainda não conseguiste o teu casamento, ainda não conseguiste fazer o teu pecúlio, e tudo por quê?… Porque eu aqui estou! Já hoje não foste à tua obrigação; ontem gastaste o dia inteiro a cuidar desta pobre mulher que eu matei…

Coruja percebeu que eram inúteis as suas palavras de consolação, porque o desespero de Teobaldo estava ainda no período agudo, e, para distraí-lo, resolveu procurar casa no dia seguinte e tratar logo da mudança.

Aqueles fatos serviram para redobrar a irregularidade da vida de Teobaldo, porque vieram modificar as teorias deste sobre o amor da mulher e aqueceram-lhe durante algum tempo as algibeiras.

Foi por seu próprio pé à procura de Leonília que, não conseguindo realizar a premeditada viagem, havia tornado à existência primitiva e achava-se luxuosamente instalada como dantes. Contou-lhe todo o ocorrido e acabou pedindo-lhe perdão de se ter mostrado até aí tão indiferente grosseiro também com ela.

A cortesã estranhou a visita, mas não menos a estimou por isso, abençoando instintivamente do fundo da alma a morte da outra, que lhe restituía o amante. Foi assim que Teobaldo voltou aos braços dela, entregando-se como por castigo, como para cumprir uma penitência, em honra à memória de Ernestina.

Todavia não se esqueceu de Branca; era esta a idéia verdadeiramente boa e consoladora de sua vida; era sua doce estrela de esperanças, o grande lago azul onde o seu pensamento ia descansar, quando votava desiludido dos prazeres ruidosos e prostrado pelo tédio da ociosidade.

Agora assistia à casa do comendador com mais freqüência e, uma vez em que se achou a sós com Branca, tomou-lhe as mãos e disse-lhe:

— Ah! Se eu pudesse lhe falar com franqueza…

— Mas…

— Sei que não tenho esse direito: a senhora nunca me autorizou a tal; muito me custa, porém, esconder por mais tempo o meu segredo… Oh! É um desgosto tão grande… tão profundo.

— Um desgosto? creia que me penaliza essa notícia…

— Obrigado, no entanto…

— Mas, qual é o desgosto?

— Consente que lho confesse?

— Sim.

— Promete não ficar zangada comigo?

— Diga o que é.

— É o seu casamento.

— Com meu primo? Ora, isso ainda não está decidido.

— Mas estará em breve…

— Crê?

— É a vontade do comendador… e a senhora como filha dócil e obediente.

— Meu pai não seria capaz de casar-me contra a minha vontade…

— E é contra a sua vontade este casamento?

— O senhor já sabe que sim; mas não vejo onde esteja a causa do seu desgosto.

— É porque sou amigo de seu primo… E desejava vê-lo casado comigo?…

— Ao contrário, e por isso que me desgosto.

— E por que não deseja vê-lo casado comigo?

— Por que…

— Diga.

— Porque a amo.

Branca estremeceu toda e quis fugir.

— Ouça-me, acrescentou Teobaldo, segurando-a pelos braços. Ouça e perdoe, minha doce esperança, minha vida! A senhora foi o meu bom anjo, foi a salvadora de minha alma; eu já me sentia perdido, gasto, morto; desde que a vi, reanimei-me como por encanto! Adoro-a, Branca, e basta uma palavra sua, uma única, para que eu seja o mais feliz ou o mais desgraçado dos homens!.

— Cale-te, Teobaldo!

— Não! Quero que me responda!…

— Mas que lhe hei de eu dizer?.

— Diga-me se devo ou não ter esperanças de ser amado pela senhora.

Ela quis escapar-lhe de novo; ele não deixou.

— Vamos! Fale.

— Sim… disse Branca afinal, corando muito e fugindo.
–––––––––-
continua…

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José Feldman (Universo de Versos n. 103)


Uma Trova do Paraná

SONIA MARIA DITZEL MARTELO
(Ponta Grossa)

Entre todos os recantos
é aqui que me sinto bem:
– o meu lar tem tais encantos
que outros lugares não têm!
========================
Uma Trova sobre Esperança, de Pouso Alegre/MG

GERALDO PIMENTA DE MORAES

Esperança – bem que enleva
nossa vida, no presente;
– um raio de luz na treva
do incerto amanhã da gente.
========================
Uma Trova do Izo

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS 1932 – 2013 São Paulo/SP

És um arbusto florido…
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois… te abraça..
===================================
Uma Trova Lírica/ Filosófica de Pindamonhangaba/SP

JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA

Sou, no retorno ao passado,
– meu teatro de deslizes,
um mero ator fracassado
no palco dos infelizes!
=======================
Uma Trova Humorística, de São Paulo/SP

SELMA PATTI SPINELLI

Com a bagunça rolando,
sem ter mais o que falar,
chilique, de vez em quando,
bota tudo no lugar!!!
======================
Uma Trova do Ademar

ADEMAR MACEDO 
Santana do Matos/RN 1951 – 2013 Natal/RN

Eu, numa peça que fiz
no palco da minha Fé,
fiquei deveras feliz…
Fui aplaudido de Pé!
========================
Uma Trova Hispânica da Argentina

MARIA CRISTINA FERVIER

Luna que en la dicha o pena
a los poetas acompaña
que escriben sobre la arena
de las letras su hazaña.
===================
Uma Trova sobre Temperança, de Parede/Portugal

OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO

A vida, com temperança,
vinda desde pequenino,
é rumo de confiança,
ensinamento divino.
========================
Trovadores que deixaram Saudades

ADAUTO GONDIM
Pedra Branca/CE (1915 – 1980) Fortaleza/CE

No teu jardim, entre flores,
feliz estou ao teu lado
meu calendário de dores
hoje marcou feriado.
========================
Uma Trova do Príncipe dos Trovadores

LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP

Saudade – brisa tristonha…
e o meu coração magoado
desprende Trovas… e sonha…
é um rosal despetalado…
========================
Um Haicai de Belo Horizonte/MG

Haruko

(pseudônimo haicaistico de Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

A crosta de gelo
Camisa de força, branca,
A conter o lago.
================
Uma Trova da Rainha dos Trovadores

LILINHA FERNANDES
(Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva)
Rio de Janeiro 1891 – 1981

És de beleza um portento,
no perfil, nas formas puras.
Mas beleza sem talento
é um palácio às escuras.
====================
O Universo de Leminski

PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR (1944 – 1989)

O inseto no papel insiste
Traço um círculo em volta
Só o círculo existe
======================
Uma Trova do Rei dos Trovadores

ADELMAR TAVARES
Recife/PE 1888 – 1963 Rio de Janeiro/RJ

Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
======================
O Universo de Auta

Auta de Souza
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Pelo Passado

Era um dia de maio… Encheu-se o Templo
De grande multidão;
Só rezavam aquelas que queriam
A paz do coração.

Eu era desse número: ajoelhei-me,
Fiz o sinal da Cruz…
Estava muito triste e desejava
Conversar com Jesus.

Ao pé de seu santo Tabernáculo
Comecei a chorar…
Lembrava-me da infância que fugira
Para nunca voltar.

E repassei na mente atribulada,
Assim, nessa atitude,
Os sonhos liriais e perfumosos
De minha juventude.

Porém, se o triste lábio murmurava
Sentidas orações,
Eu ouvia o soluço angustiado
De minhas ilusões.

De minhas ilusões que se partiam,
Dolentes e chorosas,
Como os anjos voando d’este mundo
Às plagas luminosas.

E enquanto assim aos pés do Redentor
Choviam meus lamentos…
Já no Templo de todo se extinguia
A luz dos círios bentos.
======================
O Universo Triverso de Pellegrini

DOMINGOS PELLEGRINI
(Londrina/PR)

Aquela tigela
aquela faca
e uma bela jaca
========================
O Universo Poético de Cecília

CECÍLIA MEIRELES

(Cecília Benevides de Carvalho Meireles)
Rio de Janeiro/RJ (1901 – 1964) Rio de Janeiro/RJ

Improviso do amor-perfeito

Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insônia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.

Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe,
atrás do oceano que nos meus se alteia
entre pálpebras de areia…

Longe, longe… Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.
======================
O Universo Melódico de Assumpção

MARCOS ASSUMPÇÃO

(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Mentiras
(do CD “A Flor de Florbela”)

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito teu?

Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais,
O gelo do teu peito de granito…

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
================================
O Universo Haicaista de Guilherme

GUILHERME DE ALMEIDA

(Guilherme de Andrade de Almeida)

Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Lembrança

Confete. E um havia
de se ir esconder, e eu vir
a encontrá-lo, um dia.
==============================
Uma Poesia de Itapema/SC

PEDRO DU BOIS

Hora

A hora da batalha no sorriso nervoso
com que olha entre lágrimas a certeza
de que a morte espreita nas balas
perdidas do inimigos

faz da conquista profissão e a fé esmaece
sua força e físico ao saber das razões
do início e do dinheiro que lhe é pago

as posições definidas antes do início
em que os amigos estão ao lado
e na outra face a mesma angústia
que a espera encerra no antegozo
do momento

a perda perpassa a mente
e seus olhos turvam
e as mãos tremem
sua morte capturada em duras realidades
famintas
sedentas nas políticas
extremadas de discursos foscos
(paredes em que tiros entranham
a carne que não é sua)

do nada ao extremo gesto
no empunhar a arma
apontar
e disparar o tiro
no inimigo
que também dispara
contra você atento
ao sibilar da bala
que lhe atravessa o uniforme
e explode o corpo
em ossos e vísceras

é você o soldado errôneo
nesta guerra (estúpida)
em que os sentidos se perdem
antes dos tiros e cabeças feridas
não se entendem e violam leis
no aguardar os instantes
finais do embate
em que se perdem vidas
(por nada).
=================
Uma Poesia de Alegrete/RS

MÁRIO QUINTANA

A Torre Azul

É preciso construir uma torre
– uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
– um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto-mar perdida.

É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…
========================
O Universo de Pessoa

FERNANDO PESSOA

(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal   1888 – 1935

Na praia de Monte Gordo.
Meu amor, te conheci.
Por ter estado em Monte Gordo
É que assim emagreci.
========================
Uma Poesia de Portugal

ANTÓNIO GEDEÃO

Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
========================
O Universo Triverso de Millôr

MILLÔR FERNANDES

(Milton Viola Fernandes)

Rio de Janeiro (1923 – 2012)
Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua.
======================
O Universo de J. G.

J.G. DE ARAÚJO JORGE

(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Desabafo Fraterno

Deixem que fale um pouco de mim, que eu
não falo de mim mesmo, estou falando
de tantos que sem voz carregam ânsias
surdas angústias, grávidas tormentas.

Por Deus não é egoísmo esse meu canto
que sou irmão do homem humilde e só
sem Deus, sem liberdade, sem amor,
a quem sirvo este canto de esperança.

Tanto quis e sonhei, cantei com a vida,
– porque trouxe essa luz que Deus me deu?
e essa força de ser, que realizada
tanto faria além de mim talvez?

O mais triste é sentir que estou morrendo
carregando comigo, intatos, puros,
todos os cantos que esperei, e a força
que seria capaz, e levo ainda.

Em que palavras poderei me achar?
Como batizarei tanto sonhar
que se agita, a esperdiça inutilmente
como algo vivo que morreu sem ser?

Ver as dias pesados, como os anos
passando, e as circunstâncias quase sempre
se armarem conspirando contra o sonho
como um fruto distante a balançar.

No íntimo a carregar os mesmos lances
que fariam do anônimo um herói,
e a sentir como um vento o tempo frio
levando tudo, enquanto fecho os olhos.
============================
Um Soneto de Pernambuco

VINÍCIOS GREGÓRIO

Eu e o Galo de Campina

Triste sina de um Galo-de-Campina
Que era alegre bem antes da prisão,
Mas foi preso nas grades do alçapão
E hoje chora no canto a triste sina.

Eu também tive a sina repentina,
Pois um dia fui livre e hoje não.
Na tristeza, esse Galo é meu irmão:
Minha sina da dele é copia fina.

Hoje a casa do Galo é a gaiola.
Notas tristes no canto é que ele sola.
A saudade do Galo – a vastidão.

O meu canto é um canto de lamento.
A gaiola é o meu apartamento.
E a saudade que eu sinto é do sertão.
========================
O Universo das Sextilhas do Zé Lucas

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN (1934)

Não há justiça perfeita
no seio da humanidade…
O desacerto na vida
do homem não tem idade,
e é mais feliz, velho ou novo,
quem só erra sem maldade.
===============================
Uma Poesia Além Fronteiras

JULIÃO SOARES SOUSA
(Guiné-Bissau/África)

Cantos do Meu País

Canto as mãos que foram escravas
nas galés
corpos acorrentados a chicote
nas américas

Canto cantos tristes
do meu País
cansado de esperar
a chuva que tarde a chegar

Canto a Pátria moribunda
que abandonou a luta
calou seus gritos
mas não domou suas esperanças

Canto as horas amargas
de silêncio profundo
cantos que vêm da raiz
de outro mundo
estes grilhões que ainda detêm
a marcha do meu País
=====================
Uma Poesia de Natal/RN

ADEMAR MACEDO

Não pode nunca morrer
nesse nordeste da gente,
nem o coco de zambê
nem cantador de repente;
e da cultura popular
não vou deixar se apagar
o fogo da lamparina,
do fogão nem da fogueira,
pra iluminar a bandeira
da cultura nordestina.
=====================
O Universo de Drummond

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

A um Bruxo, com amor

Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-te; e me recebes
na sala trajestada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.

Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.

Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.

E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosidade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?

O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurar alguma coisa
que não se estende logo
a parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
É Flora,
com olhos dotados de um mover particular
ente mavioso e pensativo;
Marcela, a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu, abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
e delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de mulher nova…
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?

Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.

Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eternas exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.
========================
Uma Setilha de Natal/RN

FRANCISCO MACEDO

Do sertão sou oriundo…
Aprendiz de agricultor,
no meu “roçado” eu cultivo,
a semente, o fruto, a flor.
Colhendo em cada leirão,
dentro do meu coração,
os doces frutos do amor!
======================
UniVersos Melodicos

Vicente Celestino

SERENATA
(canção, 1940)

Na Guanabara um barco a vela navegava
Dentro de um raio de luar franjado de prata
Em um bandolim, lá no barquinho alguém tocava
A mais sublime e deliciosa serenata

Segui o barco em outro barco para ver
Quem manejava o bandolim com tanto ardor
E uma sereia oiço cantando assim dizer:
– Onde estará meu grande amor ?

Meu bandolim, leva tua voz
Ao coração que não me quer
Chama-o de cruel e de atroz
Que quem te pede é uma mulher

Diga que o amo e que o adoro
Tu que conheces o meu padecer
Meu bandolim, vai com tua voz
Ao meu amor, falar por mim,
Porque sem ele eu vou morrer…

Do meu barquinho respondi:
Igual a ti eu vivo em solidão
E ela de lá me respondeu:
Se teu amor é igual ao meu
Te entrego inteiro, o coração.
==========
Uma Cantiga Infantil de Roda

A MACHADINHA
Outra versão

Ah! Ah! Ah! Minha Machadinha !
Ah! Ah! Ah! Minha Machadinha !
Quem te pos a mão, sabendo que és minha ?
Quem te pos a mão, sabendo que és minha ?

– Se tu és minha, eu também sou tua.
Se tu és minha, eu também sou tua.
– Pula, Machadinha, para o meio da rua.
Pula, Machadinha, para o meio da rua.

No meio da rua, não hei de ficar.
No meio da rua não hei de ficar.
– Pula, Machadinha, para o seu lugar.
Pula, machadinha, para o seu lugar.

Falando:

Esta é a rosa,
Este é o portão,
Esta é a chave
Do meu coração.

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