Lino Mendes (Maria Albertina Dordio: "Os Galegos")


O Correio trouxe-nos mais uma preciosidade literária, aliás, pela maneira compreensível como escreve, a mensagem da poesia e não só de Maria Albertina Dordio entra facilmente no nosso coração.

Este seu novo livro, um espaço de afectos e de memórias de infância, tem sem favor lugar em toda a boa Biblioteca.

Deste livro intitulado “Lembras-Te Mãe ?”,um poema;

Os Galegos

O jantar terminou e, na travessa,

Há ainda comida a gritar

Pelas bocas famintas que, à pressa,

Acorrem quando as vou chamar.

São muitos e não têm que comer!

São muitos e nãpo têm que vestir!

Andam magros, descalços, a sofrer,

São tristes,nem sequer sabem sorrir.

Lá vêm com o prato aceitar,

Num alvoroço grande,com esperança

De poderem na sopa saciar

Aquela fole adulta de criança.

A boca pouco afeita ao sorriso,

Abre-se sem sorrir, num feio esgar…

O olhar, sem estrelas, com preciso

Apenas de alimento, pra brilhar.

A sopa cobre todo o barranhão

Que dois ou três agarram, com cuidado,

Não vá algum deixá-lo ir ao chão…

Nem lembram de dizer, –“muito obrigado”.

Recolhendo a casa, em algazarra,

Na ânsia impaciente de comer,

Deixam-me a mim, ficar na triste amarra

Da injusta razão de tal sofrer.

Maria Albertina Dordio no livro “Lembras-Te,Mãe?”

Fonte:

Texto enviado pelo autor

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